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Classe, estratificação e desigualdade social 29 de setembro e 04 de outubro Dias, cap. 10 A estratificação social A igualdade plena é possível? Depende. Antes de responder a esta pergunta é preciso perguntar: igualdade de que e entre quem? Em que parte do mundo? Se a igualdade for entre indivíduos ela é utópica porque existem diferenças individuais que se desenvolvem com o tempo baseadas em habilidades “inatas” específicas. Desigualdades são sempre ruins • Perspectiva funcionalista Desigualdade é parte de uma ordem social natural. A estratificação não é problemática. • Perspectiva do conflito Há divisões e conflitos dentro da sociedade. Preocupa-se com processos de exploração adotando um paradigma relacional Qual igualdade é possível? Igualdade de direitos: Direitos iguais para todos independentes de sua condição social, sexual, de raça, de etnia, credo religioso, altura, peso, et cetera. O atendimento das necessidades básicas deve integrar os direitos fundamentais da existência humana. A inevitável desigualdade “Sempre existirá algum grau de diferenciação social, pois sempre haverá aqueles que se identificam com um determinado nível da hierarquia social, no qual terão mais afinidade com aqueles que ocupam determinada posição, e consequentemente formar-se-ão camadas sociais hierarquizadas” (Dias, p. 188) Fluidez da desigualdade O conceito de igualdade também de altera e possui um certo dinamismo temporal já que os direitos fundamentais do ser humano, assim como a inclusão de grupos antes excluídos, se ampliam. Exemplo: 1) Conceito de democracia; 2) acesso ao transporte público para todos (deficientes físicos ou não); 3) acesso a determinadas profissões. A desigualdade social Condição na qual os membros de uma sociedade possuem quantias diferentes de riqueza, prestígio ou poder. Desigualdade social Condição na qual os membros de uma sociedade possuem quantias diferentes de riqueza, prestígio ou poder Existem em todas as sociedades, aparecendo em diferentes graus de desigualdade Igualdade entre indivíduos vs. Igualdade de oportunidades Heterogeneidades individuais observáveis e não observáveis sempre existirão: beleza, inteligência, acuidade visual e auditiva, sexo, idade, força, diligência, esforço. A igualdade, para ser possível, precisa acontecer no âmbito das oportunidades. No âmbito da equidade social, ou seja, no “direito a participar da atividade política, econômica, e de contar com os recursos e com o acesso a serviços públicos que permitam manter um nível adequado de vida” (Wolfe 1991: 21, em Dias 2010: 188). O desafio Fazer com que processos de mudança que catalisam o aumento da desigualdade sejam mitigados por iniciativas e esforços capazes de contrabalancear estas forças. Exemplo: globalização-> restruturação produtiva-> mudanças tecnológicas-> aumento do desemprego. Processos inerentes ao sistema capitalista. O papel do Estado Amenizar a desigualdade inerente ao sistema capitalista (o Estado do Bem-Estar Social), e rearticular o sistema social como um todo. Lidar com uma questão ética Lidar com os conflitos entre políticas universais e políticas específicas focadas. O conceito de estratificação social “Divisão da sociedade em camadas ou estratos sociais”, na qual os ocupantes de cada classe possuem acesso diferenciado ou desigual a oportunidades sociais e “recompensas” (taxas de retorno?). Estrato = conjunto de pessoas que detêm o mesmo ‘status’ ou posição social Sociedades estratificadas são organizadas em ‘castas’, ‘estamentos’ ou ‘classes sociais’. O que leva a estratificação social? Divisão social do trabalho, especialização, competição. Diferenças biológicas (idade, sexo, raça e etnia) Esforço, circunstâncias (oportunidades) e sorte. Barreiras socias • Fatores que dificultam o acesso a determinado grupo ou camada social: Endogamia, etnia, exclusivismos profissionais, religiosos, nacionais ou raciais. Barreiras sociais institucionalizadas: Apartheid em 1948 na África do Sul até o final da década de 80. Proibição do casamento fora do grupo social: Índia e Nepal de forma explícita. Estratificação social em Karl Marx • Estratificação ligada à dimensão econômica. Desigualdade se estabelece nas relações de produção entre os que exploram e os que são explorados. Fonte de desigualdade: mais-valia • Classes sociais fundamentais: 1) burguesia, proprietários dos meios de produção; e 2) proletariado, não dispõem dos meios de produção e portanto têm que vender ao mercado sua força de trabalho. Pluralismo de classe VS. classes fundamentais em Marx • Marx reconhece a existência de outras classes em períodos distintos da história(patrícios, vassalos, plebeus, servos, escravos, artesãos, camponeses, pequenos industriais), mas segundo ele estas estavam condenadas ao desaparecimento ou relegadas a um segundo plano do ponto de vista das forças política e social. Outras classes em Marx • Lumpesinato ou lumpemproletariado: camadas mais baixas da sociedade, marginalizadas do processo produtivo • Classe média: pequenos comerciantes, pequenos fabricantes, artesãos e camponeses. Classes conservadoras que combateriam a burguesia quando esta lhes compromete o interesse como classe. Estratificação social em Max Weber Diferentemente de Marx, que conceituou classes sociais bipolares sobretudo a partir das relações de produção, Weber afirmava que classes sociais se estratificam em função não só de suas relações de produção, mas também de prestígio (status), poder (politico) e aquisição de bens (economico). A estratificação ocorre por estas três vias de forma independente, mas com um caráter de complementariedade. A formação de classes e multidimensional. Estratificação social comparada Estratificação social em Marx Ligada a dimensão econômica Classes sociais social em Weber Estratificação social em Weber Ligada às dimensões 1)econômica, 2) social e 3) política Classes sociais, grupos de status e partidos políticos (poder) Estratificação Weberiana baseada em relações de produção e posse de bens Diferenciação de classes se dá pelos rendimentos, bens e serviços possuídos, estando portanto relacionada as possibilidades de acesso que grupos possuem a estes. A posição de mercado do indivíduo exerce forte influência sobre suas “oportunidades de vida” Estratificação Weberiana baseada em prestígio É função do status e do consenso de reconhecimento estabelecido a alguém por coletividades. Hierarquia com base em status firma-se em critérios aceitos de prestígio social em uma determinada sociedade. Grupos de status são reconhecidos segundo seus modos de vida: costumes, instrução, prestígio do nascimento ou da profissão, lugares que frequentam, forma de falar, de gastar, de ler, comprar e se comportar na sociedade. Estratificação com base no poder político Partidos políticos, para Weber, asseguram visam assegurar o poder a um grupo de dirigentes, a fim de obter vantagens materiais para seus membros. O poder político, via de regra, é institucionalizado e representa interesses determinados pelas outras ordens de estratificação – a econômica e a social – mas não necessariamente coincidem com as classes sociais ou grupos de status. Estes partidos também são hierarquizados internamente. Líder do partido versus militante. Sociedades estamentais • Estamentos são situações compartilhadas de privilegiamento, positivo ou negativo, com base no modo de vida, de educação, e no prestígio obtido hereditariamente ou profissionalmente. Exemplo: França doséculo XVIII composta por três “estados”. 1) Nobreza, 2) clero, 3) o resto (os comuns, o povo). Curiosidade: No parlamento francês o povo sentava-se a esquerda. Dai a expressão contemporânea. Castas sociais Sistema rígido de estratificação com fortes barreiras sociais de mobilidade entre os níveis sociais. Castas estruturam o tipo de contato que pode ocorrer entre membros de diferentes status sociais. Casamento entre castas é proibído. Alguem que nasce em uma casta deve permanecer na mesma até o fim da vida para renascer em castas melhores. Sistema de castas foi abolido da India em 1949, mas na prática ainda existe. Vide “Caminho das Índias” Curiosidade: urina da vaca, sagrada, serve para purificar Giddens, cap. 10 A teoria de Erik Olin Wright (1978, 1985, 1997) • Argumenta que há classes intermediárias entre os capitalistas e os proletários (ex. Gerentes, supervisores) que não detêm controle pleno (mas sim algum controle) sobre meios de produção e mão-de-obra e que encontram-se em situações de classe contraditórias. • Para diferenciar posições de classe deve-se levar em conta ligações com a autoridade e a posse de aptidões ou de especialização. Esquema de classes de Wright Mensuração de classe Como operacionalizar ou mensurar algo tão abstrato como o conceito de classe? Não há consenso universal quanto a melhor forma para se mensurar empiricamente a definição de classe. Consenso sociológico Consenso sociológico é que a ocupação, ou tipo de emprego, é um dos fatores críticos na posição social do indivíduo, nas oportunidades de vida e no nível de conforto material. Pressuposto é que pessoas com a mesma ocupação tendem a experimentar graus semelhantes de vantagem ou desvantagem social, manter estilos de vida comparáveis e compartilhar oportunidades semelhantes na vida. Exemplo: Registar General Social Class (RGSC) britânico 6 categorias ocupacionais: 1) Profissional; 2) intermediária; 3) não manual profissionalizada; 4) manual profissionalizada; 5) parcialmente profissionalizada; 6) não profissionalizada. Há mais de 500 ocupações para serem distribuídas entre estas. CBO, PME e PNAD no Brasil. Esquema de classes de Goldthorpe Baseado nas situações 1) de mercado e 2) de trabalho. 1. A primeira relaciona-se ao nivel de pagamento, establidade e progressão de carreira (denominação) 2. A segunda diz respeito ao grau de autonomia no local de trabalho e as relações de trabalho que afetam o empregado (regulação) Críticas aos esquemas de classes ocupacionais 1. Esquemas de classe são dificeis de serem aplicados aos economicamente inativos (aposentados, estudantes, crianças, pessoas que nao trabalham) 2. Pessoas com história de trabalho esporádico ou variável, e o aparecimento de novas ocupações. 3. Não consideram riqueza ou posse de bens no construto analitico empírico. Colocam a elite rica junto com pessoas diferentes que possuem a mesma ocupação, não diluindo portanto o peso relativo das relações de propriedade na estratificação social. Outros indicadores de classe Capital cultural e estilos de vida: Savage et al (1992) criaram uma tipologia de classes baseada em gostos culturais e “bens”. Eles identificaram três setores: 1) Profissionais do setor público: alto capital cultural, baixo capital econômico, estilos de vida saudáveis, ativos e participação em atividades culturais e comunitárias. Outros indicadores de classe Eles identificaram três setores: 2) Gerentes e burocratas “indistintos”: médios ou baixos padrões de exercício, pouco empenho em atividades culturais e uma preferência por estilos tradicionais de móveis e moda; 3) Pós-modernos: elementos que não fazem parte do gosto tradicional. Exemplo: andar a cavalo, ouvir musica clássica, fazer esportes radicais, ir a Igreja, ir a raves e gostar de Ecstasy. Renda como proxy para classe • Problemas: Qual renda? Omissão, sub-declaração, precisão, Caráter provisório Vantagens: Fácil de ser declarada e operacionalizada Disponível em várias fontes de coleta de dados Bom indicador de acesso, status, prestígio, poder Mobilidade Social Deslocamento de indivíduos e grupos entre posições socioeconômicas diferentes. Conceitos-chave • Mobilidade vertical: ascendente, descenente • Mobilidade lateral: migração • Mobilidade intergeracional • Mobilidade intrageracional Importancia do tema Estudos de mobilidade social são importantes porque indicam o quanto individuos talentosos nascidos em extratos mais baixos conseguem subir na escala socioeconomica. É uma medida de fluidez social. Isso pode ser mensurado ao longo do tempo e entre regiões geográficas diferentes, ou entre qualquer outra fonte de heterogeneidade socioeconomica. Fatores de mobilidade • Ascendente: ganhos de escolaridade, choques estruturais macroeconômicos, casamento • Descendente: problemas psicológicos e ansiedades, desemprego, casamento, choques estruturais macroeconomicos, re-estruturação empresarial, nascimento do filho, divórcio Estudo clássico da área • Blau e Duncan (1960): amostra de 20 mil homens americanos • Conclusão principal: a maior parte da mobilidade ocorre entre classes sociais (ocupacionais) proximas entre si e em deslocamentos ascendentes. Por que? Porque em sociedades industriais a tendência à criação de empregos gerenciais e de supervisão é maior do que a criação de empregos de “produção”. Logo há maior chance de mobilidade operário “de colarinho-branco”. O que faz os ricos ricos? Marcelo Medeiros (2004) e suas conclusões: Principais fatores associados a riqueza do 1%mais rico da distribuição está associados a fatores não observáveis e diferentes da raça, idade, sexo, ocupação, e localização geográfica. Classes sociais e estratificação social Rodolfo Stavenhagen (1970) Em Foracchi e Martins (2008: 237-249), capitulo 18 Problemas na análise de estratificação social a. “Quais são as bases do prestígio de certas posições socias?” Prestigio pode ser auto- atribuido, atribuido por terceiros, ou de forma coletiva. Concepçao permeada por subjetividade. b. Aceitando-se que há critérios objetivos, o desafio passa então ser definir e conhecer estes critérios. Problemas na análise de estratificação social (cont.) c. Conhecer a unidade de estratificação: indivíduo ou grupo social. A posição de um indivíduo no sistema de classificação é considerada o seu status social. d. Criticas argumentam que estudos de estratificação são simples descrições estáticas e que conduzem a estereótipos e nao à compreensão das estruturas.
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