ou seja, o ancestral do civilizado. A partir dessa mudança de pensamento, a antropologia passa a ficar ligada ao conhecimento das nossas origens, das formas mais simples de organização social e mentalidade que evoluíram para as formais mais complexas. O ser humano passa a ser visto como aquele que se desenvolve em ritmos desiguais para alcançar um único fim: a civilização. O acesso às civilizações mais primitivas se dá através do conhecimento e da exploração dos parentescos estabelecidos e da religião, sendo que a religião terá mais atenção e se tornará a base do Evolucionismo. Entender as civilizações mais primitivas é compreender a existência das sociedades civilizadas. Diferentemente da Etnografia que busca a coleta de dados em uma única sociedade, a época evolucionista busca compreender, de forma extensa, todas as culturas. Por esse motivo, podemos considerar o evolucionismo pela origem da antropologia, mas não são por suas técnicas que tentaram explorar as sociedades de forma extensa, ao invés de focar na especialização. A antropologia da época apresenta uma grande dificuldade em explicar a universalidade e a diversidade dos comportamentos, das crenças, das práticas sociais. Além disso, apresenta a função de mostrar que as disparidades culturais são resultantes de situações econômicas e comparar as práticas sociais da população. A antropologia só entra no campo da ciência quando rompe com o segmento evolucionista, pois para existir conhecimento científico deve existir um modelo de organização, sistematização e processamento de dados. Capítulo 4 – Os pais fundadores da Etnografia: Boas e Malinowski “A etnografia propriamente dita só começa a existir a partir do momento no qual se percebe que o pesquisador deve ele mesmo efetuar no campo sua própria pesquisa, e que esse trabalho de observação direta é parte integrante da pesquisa.” (pg.57) No século XX, o pesquisador compreende que precisa sair do escritório para compartilhar a intimidade com os objetos de estudos (a sociedade/cultura que deverá ser estudada). Ele aprende não apenas a conviver entre eles, mas a viver com eles, a falar e pensar suas línguas, sentir suas emoções. A antropologia se torna uma atividade ao ar livre que terá como fonte de pesquisa o trabalho de campo. Boas (Naturalista): era, antes de tudo, o homem do campo. Boas, como um dos fundadores da Etnografia, acreditava que em trabalho de campo tudo, desde o material das casas até as melodias cantadas, deveria ser anotado de forma detalhada. Para ele, um costume só tem significado se for relacionado com o contexto no qual está inserido e um antropólogo/etnólogo consegue, por si, dar conta de uma microssociedade a partir do momento que tem acesso à língua da cultura estudada. A maneira como as sociedades classificam as suas atividades mentais e sociais deve ser levada em consideração, por isso o objeto da ciência para ele não será nobre nem indigno. A partir de Boas, o teórico e o observador se unem. Malinowski (Funcionalista): rompeu, ao máximo, os contatos com o mundo europeu. Malinowski propõe o isolamento completo da cultura que se pretende estudar para que o antropólogo esteja, exclusivamente, no trabalho de campo. Para ele, penetrar na mentalidade dos outros e compreender de dentro o que sentem os homens e mulheres pertencentes a determinada cultura é essencial para o trabalho da Antropologia. O costume ou mesmo um objeto, por mais simples que pareçam ser, apresentam o perfil do conjunto de uma sociedade. Além disso, para Malinowski a sociedade deve ser estudada em sua totalidade, tal como funciona no momento em que está sendo observada (Observação Participativa/Participante). Essa Antropologia desenvolvida por esse fundador da Etnografia acaba por virar as costas ao evolucionismo, que busca as reconstituições das origens da civilização, e procura se dedicar ao estudo das lógicas particulares de cada cultura, uma vez que cada uma apresenta a sua significação e coerência. Malinowski irá desenvolver o Funcionalismo que defende a ideia de que a cultura satisfaz as necessidades de seus membros através da elaboração de instituições econômicas, políticas, educacionais. A partir disso, o homem passa a ser estudado através de três articulações: social, psicológica e biológica. Capítulo 5 – Os primeiros teóricos da Antropologia: Durkheim e Mauss Durkheim e Mauss surgem para dar à Antropologia um verdadeiro objeto científico, a constituição de um quadro teórico, conceitos e modelos próprios da investigação social. Durkheim: acreditava que os materiais recolhidos pelos etnólogos nas sociedades primitivas eram necessários para o entendimento da sociedade atual. Segundo ele, existe uma especificidade social que foge das fronteiras psicológicas, biológicas, geográficas. Um fato social deve ser buscado em outros fatos sociais anteriores e não nos estados de consciência individual. “Os fatos sociais são “coisas” que só podem ser explicados sendo relacionados a outros fatos sociais.” (pg.68) Mauss: acreditava que a sociologia é uma parte da antropologia. Segundo ele, o fenômeno social é uma integração de diferentes aspectos constitutivos de uma dada realidade social: psicológicos, biológicos, históricos, religioso e por isso devemos observar o ser em sua totalidade para compreender o social. A consciência individual é parte do social e para compreender um fenômeno social em sua totalidade, é preciso enxerga-lo tanto com uma visão de etnólogo quanto com uma visão de ator social que vive aquele determinado fenômeno.