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1 Caso 1 – JULIANO Leia o caso e preencha a tabela com os sintomas, funções e áreas do ego e a tabela do diagnóstico multiaxial: Juliano Moreira, 25 anos, é modelo e veio para consulta psicológica após alguns dias de internação em uma clínica particular. Havia passado mal depois de um desfile. Mostrava-se bem vestido e penteado, um comportamento sedutor em relação à terapeuta, colaborativo. Veio acompanhado da namorada. A família mora em uma cidade do interior. Seguem fragmentos da entrevista com o paciente. História Pregressa: - Me conta um pouco sobre a tua vida? - Eu sempre fui sem problemas. Agora é que aconteceu isso, acho que foi uma bobagem, sem maiores problemas, mas como o pessoal da agência que eu trabalho quis eu vim. Eu sou de uma cidade do interior, perto de Caxias. Sou filho de italiano e sempre fui bonito. Minha mãe dizia que eu era a criança mais linda do berçário. Comecei a fazer uns trabalhos de modelo quando eu tinha uns 7 anos. Minha primeira foto foi rindo e sem dente, pra ti ver que até desdentado eu sou lindo! (risos). Depois os trabalhos foram aumentando, quando eu tinha 14 anos eu mudei pra Santa Maria e depois com 18 eu fui para São Paulo, fiz Japão e França e Alemanha. Agora, eu tava aqui por uns 3 meses pra ver a família e fazer uns exames. A agência tem uma filial aqui e a promoter tá me monitorando. Fiz uns trabalhos, mas devo voltar mesmo no mês que vêm. (...) Sobre o meu trabalho? Sim, gosto muito. Gosto que as pessoas me olhem e me achem bonito. Gosto de ver um monte de mulher babando por mim. Quando eu tinha uns 18 anos eu saia e ficava testando quantas eu conseguia pegar num dia. Ia no shopping, parava, perguntava uma informação boba ou falava uma bobagem para uma mulher bonita e dava em cima, só pra ver se elas iam no papo. Ficava com ela e depois fazia de novo. Meu recorde foram 23 em 5 horas. E olha que eu só gosto de mulher bonita... (...) - Se eu tenho manias? Sim, tenho mania de ficar arrumando as coisas em casa. Principalmente, meu material de trabalho. As roupas são todas colocadas por cor e por estação dentro do guarda-roupa. Os produtos de beleza que eu tenho, guardo em caixas separadas. Ninguém pode mexer. Parece estranho, mas se alguém coloca a mão, já tenho que limpar com álcool. (1) Aliás, sempre, e é sempre mesmo, limpo o banheiro com álcool antes de tomas banho ou de fazer as necessidades.(2) Minha cabeça fica cheia de pensamentos estranhos e nojentos, ficam se repetindo dentro da cabeça até eu fazer essas coisas de limpar. Parece que tá cheio de germes e se pego algum deles, pode estragar minha pele, ou uma micose nas unhas.. (...) Não relata nada mais significativo sobre sua adolescência ou entrada na vida adulta. 2 História Atual: (...) - O que aconteceu foi o seguinte... (suspira) Eu estava no Japão há uns 10 meses. Foi muito ruim. (3) (começa a falar muito rápido) A gente ganha grana, mas não fala nada, só com o pessoal da agência. Não dá pra sair muito.. E o povo que tava comigo lá era muito ruim, tudo uns egoístas. Fui ficando meio mal, meio pra baixo. Às vezes não dormia, Acordava com pesadelos no meio da noite. Sentia um aperto no peito. (4) Comecei a ficar meio irritado com tudo. Tava com saudades de casa, do sol do Brasil, das mulheres, de tudo. Comecei a comer muito. Ficava triste e ia ao MacDonalds. Uma vez comi 06 Bigmac, 08 refri grandes e 4 tortas de maçã. Passei mal. Vomitei tudo, um horror. O pessoal da agência me chamou, foi um saco. Depois disso, comecei a fazer o seguinte. Comia muito, mas muito mesmo, e, discretamente, ia para o banheiro e “devolvia” tudo. Malhava bastante pra compensar. Sentava num restaurante, qualquer um, porque a agência era que pagava, lotava o prato, comia correndo e fazia tudo de novo. Acho que eu tava com um ódio deles e não sabia o que fazer, fazia isso. Eu comia de tudo, almoço e janta a mesma coisa. Foi isso uns 06 meses. A agência fingia que não sabia e eu fazia. Tinha medo de engordar, mas queria comer e não queria engordar. Foi um ciclo. Um dia desmaiei e me hospitalizaram, era anemia profunda. Fui mandado de volta pra o Brasil. Pra piorar quando eu cheguei aqui para um check-up, encontraram um nódulo no testículo. Foi por isso que eu voltei para SM. (fala mais rápido ainda) O pior aconteceu foi há 10 dias. Foi onde começou tudo. Eu fui transar com a minha namorada e o “negócio” não subiu. Comecei a achar que eu tava tomado de câncer. Fiz um monte de coisa. Tentei sair de noite. Fui pro Eventual, queria ficar com todo mundo. Uma hora eu tava me achando o gostoso, tava com duas ao mesmo tempo. Fiquei virando o fim-de-semana todo, sem dormir. Saía da casa de uma e já ía pra casa da outra. Chegava, agarrava a mulher e transava sem parar. Parecia que eu ia morrer ou que o câncer ia me comer por dentro e eu não ia mais transar. Teve uma louca que eu agarrei num elevador, quando vi tavam abrindo a porta e eu com a calça arriada. Já não transava nem por prazer, (5) era porque eu não coordenava mais as idéias, meu pensamentos tavam confuso, não tinham lógica nenhuma...Tudo me irritava...se elas diziam não, saía batendo a porta... Eu não sou assim.. mas sei lá, acabei ficando... Fui pra clínica.. Ainda tô assim..acho que eu não to mais porque tô medicado... Foi o pessoal de casa e a minha namorada que me levaram lá pra clínica. Eles falavam que eu não tava normal, que eu tava pirando. Acharam melhor eu ser internado antes de fazer umas bobagens maiores. 3 Caso 2 – ARIOVALDO Leia o caso e preencha a tabela com os sintomas, funções e áreas do ego e a tabela do diagnóstico multiaxial: Ariovaldo, 32 anos, separado, classe média baixa, desempregado atualmente, está internado no setor psiquiátrico do Hospital regional e veio para a consulta por indicação psiquiátrica. Veste-se com roupas muito coloridas, mostra-se inquieto e movimentando-se sempre. Relato da sessão: - Muito bem, Ariovaldo, me diga o que está acontecendo? - Eu não sei bem porque que eu tô aqui... na verdade, minha irmã e a minha ex-mulher é que me trouxeram. Eu tava um pouco mais agitado, mas acontece que eu tô com uns planos aí e elas não compreendem muito bem... - Quem sabe tu me contas como foram esses teus dias e que planos são esses? - Vou contar porque tu é doutor, mas não conta para elas, tá bem? O que aconteceu foi o seguinte: eu comecei a receber umas mensagens. Umas mensagens de uns homenzinhos, bem pequenininhos... Eles vinham pela tomada da luz. Vou te contar como começou... (pensa um pouco) (1) Eu tava em casa ontem, ( o paciente está internado há 2 semanas) e comecei a ver que a tomada da luz ficava diferente. (2) Foi ficando de uma cor verde e depois foi aumentando de tamanho, até ficar assim, ó (mostra uma altura de uns 50 centímetros). Era a tomada da luz só que tava bem grande, bem diferente, um tomadão... Depois disso (3) eu vi que tinha uns homenzinhos ali, ele eram bem pequenininhos, do tamanho da palma da mão. No início eles me olhavam, pareciam meio brabos, mas ficavam me olhando.. fiquei com medo... depois eles sumiram... mas foi bem pouco tempo...depois eles voltaram e eu vi eles dizendo pra mim que eu tinha que fazer umas coisas... (4) diziam que eu tinha que quebrar todos os copos da casa e enterrar lá no fundo da casa... que se eu fizesse isso, eu ia ficar mais poderoso, mais forte, que eu ia virar o super homem, de tão forte...eu ouvi, fiquei com medo e fui lá e fiz... (5)Vou lhe dizer que eu fiz, naverdade eu sentia uma vontade louca de fazer isso, não tava conseguindo me controlar... eu ficava com uma vontade louca de quebrar qualquer coisa que tava em volta de mim...só queria quebrar, quebrar... os homenzinhos tavam lá, parecia que me perseguindo e dizendo que eu tava fazendo tudo certo...(6) foi aí que eu comecei a sentir uma coisa estranha, tava sentindo o meu corpo ficar diferente, senti que eu tava voando, que eu tava subindo, como se o meu corpo fosse ficando mais leve, como o do super homem... - E o que foi que aconteceu então? - (7) Não me lembro... Eu lembro só dos homenzinhos, de quebrar os copos e depois quando eu vi, eu tava aqui no hospital. Nem sei quem me trouxe nem nada. - E o que mais que aconteceu? 4 - Sabe, hoje quando eu acordei, aconteceu uma coisa estranha, eu tava tentando falar mas não conseguia.(8) Parecia que as minhas idéias tavam tudo atrapalhadas. Eu pensava as coisas e não me lembrava de dizer e quando eu dizia ninguém me entendia. A Enfermeira ficava me olhando com uma cara estranha, de quem não compreendia o que eu tava falando... isso foi de manhã. Eu tava na cama e me veio a lembrança da minha ex-mulher. Ex- nada, ela ainda é minha.. sabe, ela me deixou por causa de um vizinho, quase matei os dois. Foi por um triz que eu não fiz isso. Me pegaram na hora. (9) Eu amo ela, mas eu quero matar ela, ela me traiu, mas eu também não consigo viver sem ela.... - Bem, estamos no final da consulta. Amanhã continuarem a conversar.. - Tá bom doutor, eu vou, mas amanhã eu volto. O paciente, levanta-se da cadeira e acaba caindo.(10) As pernas ficaram repentinamente sem movimento, ocasionado o tombo. Não foi diagnosticado causa orgânica ou medicamentosa para o evento. 5 Caso 3 - HELENA Leia o caso e preencha a tabela com os sintomas, funções e áreas do ego e a tabela do diagnóstico multiaxial: Helena, 35 anos, advogada, casada, sem filhos, veio para consulta psicológica encaminhada pelo setor de psiquiatria do hospital da Ulbra. Veio acompanhada do marido, mas preferiu fazer a entrevista sozinha. Mostra-se ativa, um pouco agitada e com movimentos rápidos. Relato da Entrevista: - Oi, Helena, me conta por que é que te encaminharam para o atendimento? - Na verdade, não sei. Por mim nem estava aqui...mas já que todo mundo insiste, eu vim para provar que eu não sou louca.. Pois tô aqui... (silêncio). Aconteceram umas coisas estranhas, eu não nego, mas nada assim tão gritante que não possa acontecer com qualquer um... - Quem sabe tu me contas o que aconteceu? - O negócio é o seguinte: começou faz umas duas semanas, (1) eu comecei a sentir umas coisas estranhas no gosto das coisas.. para falar a verdade, eu sentia que o gosto ficava mais intenso, mais forte.. se tinha sal, eu sentia que tava chupando uma pedra de sal, se era açúcar, parecia que eu tava comendo mel, todos os gostos estavam muito fortes, nunca tinha sentido isso antes... Depois disso, tu sabe que começaram a acontecer umas coisas estranhas. Teve um dia que eu cheguei na cozinha e enxerguei uma coisa grande, no início estranhei,(2) mas parecia um rato, uma coisa peluda, fiquei olhando, mas o bicho não se movimentava, achei estranho, peguei uma vassoura e fui andando, cheguei bem perto – e olha que eu enxergo muito bem! – dei uma vassourada e quando eu vi era um Kiwi. Imagina que eu enxerguei um rato, era de verdade, tinha horas que o bicho até balançava o rabo . Até aí, tudo bem, mas depois... uns dois dias depois eu comecei a ouvir o telefone tocar, fui atender e enxerguei a minha avó.(3) Ela tava sentada no sofá de casa, bem do jeitinho que ela sempre ficava, com as pernas cruzadas. Ela me olhou e riu, parecia que ela queria me dizer alguma coisa. Não fiquei com medo, mas eu sei o que ela queria me dizer, mas não disse. Não sei se tu como psicóloga vai acreditar, mas eu sou espírita e sei que as vezes os espíritos mandam mensagens de várias formas.(4) Depois que ela apareceu eu tava vendo televisão, o programa da Ana Maria Braga e tu sabe que eu vi ela falando comigo. Isso, sim, foi estranho. Eu sei que a televisão não é individual, nem que a Ana fala só pra mim, mas ela tava falando sim.! Me dizia que eu tinha que sair, tinha que fazer umas coisas, senão eu ia me ferrar. É louco, eu sei... Eu tenho curso superior, sei que os aparelhos não falam com a gente, mas a TV falou comigo. E, depois disso, eu (5) (fica subitamente em silêncio por uns 4 minutos)...me desculpa, mas do que era mesmo que eu tava falando, não consigo me lembrar... - Você me havia contado da tv e ia comentar algo mais... - Hã, sim... Tu sabes que depois disso eu comecei a sentir umas coisas diferentes com a tv. Eu tenho até medo de passar por essas coisas eletrônicas. 6 De celular, não consigo nem chegar perto. (6) Tenho a impressão que o celular vai captar as minhas ondas mentais, que vão conseguir mudar os meus pensamentos com isso. Sei de gente que foi controlada por uns micro- chips que inseriram na cabeça e que controlam o comportamento das pessoas. Eu, depois dessa da tv, acabei acreditando nisso. Tem dias que olho o meu marido e sei que ele leu o meu pensamento. Tenho certeza. Acho que ele arranjou alguma maneira de pegar meu pensamento por meio do celular. O meu era um Nokia novinho, tinha ganho de Páscoa...Joguei fora, não quero mais saber. Esse aparelho é só pra me controlar, tenho certeza. (muda a expressão facial e começa a falar em tom mais alto): (7) Buceta, caralho, cocô cabeludo!! (repete a frase três vezes durante a entrevista) - O que você disse? - Eu não sei, só que eu preciso dizer essas palavras, preciso descarregar a raiva e aí eu acabo falando isso. Já aconteceram várias vezes, eu fico repetindo, mesmo sem sentido. Eu fico com vergonha, mas eu digo...(8) é que se eu não digo, eu fico pensando nisso o tempo todo, é como se o meu pensamento ficasse inundado disso. O pensamento fica se repetindo o tempo todo, vai e volta, mas nunca para. - (9) (Começa a rir de maneira descontrolada) É que eu acho muito engraçado isso...(ri novamente). (A expressão começa a mudar e subitamente começa a chorar. Chora durante uns 10 minutos)... Eu estou assim agora. Fico chorando e rindo, não consigo me controlar. - Bem, estamos no fim da sessão, poderemos nos ver amanhã de novo... - (10) É sempre assim, de uns dias pra cá, eu sinto em tudo o que tudo que eu faço que o tempo voa, não dá mais tempo pra nada. Não consigo mais controlar o tempo como antes... Fico muito angustiada com isso. Parece que o tempo ficou mais rápido, é uma sensação muito estranha e ruim... Será que a minha vida vai ficar voando sempre assim? Amanhã nos vemos de novo... 7 Caso 4 – MARIA Leia o caso e preencha a tabela com os sintomas, funções e áreas do ego e a tabela do diagnóstico multiaxial: Maria é uma mulher de 53 anos, magra, estatura mediana, solteira, mora com 02 sobrinhos que ajudou a criar. Veio para consulta por apresentar um comportamento depressivo. Segundo o relato de um dos sobrinhos acompanhantes, Maria sempre foi muito ligada à igreja católica, freqüentando a missa quase diariamente e grupos de oração e trabalho de catecismo. Maria é a filha mais nova de 04 irmãs, sendo a única que nunca se casou. Cuidou dos pais até sua morte. O pai faleceu há04 anos e a mãe à 02 anos aproximadamente. A mãe teve uma doença degenerativa e nos últimos tempos ficava permanentemente na cama e inspirava cuidados constantes. Maria a cuidava, limpava e aplicava injeções de morfina. Por ocasião da morte da mãe, os sobrinhos não relatam maiores anomalias no comportamento da tia, nada além do luto esperado. Após esse período, Maria ficou mais religiosa e mostrava-se consolada com a perda dos pais. Sua atividade diária foi retomada e voltou-se mais para os sobrinhos. A mudança de comportamento iniciou há um ano, no período em que o sobrinho mais novo ingressou no quartel e passou a ficar mais tempo fora de casa. O mais velho, passa grande parte do tempo no trabalho e na casa da noiva. Inicialmente, mostrava-se mais abatida, dormindo bastante além do normal. Depois começou a negar-se a comer, alegando falta de apetite e a ficar na cama sem vontade de executar qualquer atividade. Entrevista com a paciente: Quando questionada sobre a sua situação atual e como isso estava acontecendo, após alguns minutos de hesitação, iniciou o relato a seguir: - Sabe, doutor, fiquei meio assim desde que minha mãezinha morreu. Era eu que cuidava dela. Foi uma tristeza só. Ela ali definhando e eu não podia fazer nada. Foi morrendo, se apagando. Eu sempre fiz tudo para ela, tudo mesmo e não pude ajudar no sofrimento dela; Não sei porque que Deus fez isso comigo... Sabe, eu já rezei muito, já sofri muito. Um dia eu tive uma visão. Não sei o senhor vai acreditar, mas vou contar. (1) Eu tava na igreja rezando, tava rezando muito, muito concentrada aí eu senti uma coisa quente, um clarão e eu olhei para a imagem do Jesus Cristo e vi ele me dizendo que eu não me preocupasse que eu ia logo também, que Ele ia me buscar para eu ficar junto dos meus pais. Eu vi ele falando, via a boca se mexendo. Sabe, aquilo me deu um alívio tão grande fiquei tão aliviada que parecia que nada de ruim tinha me acontecido. O clarão sumiu e eu fiquei rezando mais ainda, até de noite. Depois eu levantei e como já era inverno, tava escuro eu fui pra casa. Na hora que eu botei o pé pra fora da Igreja, me bateu um vento no rosto e eu fiquei meio tonta, tentei me agarrar na parede e quase caí. E sabe que eu não conseguia quase andar, fiquei parada, fiquei assim sem saber o que fazer. (2) Eu olhava para a rua, para a Igreja e não sabia onde eu tava. Eu não sabia para que lado era a minha casa – e olha que eu moro 8 bem pertinho dali, conheço todas as ruas, todo mundo. Mas fiquei ali parada, sem me mexer. Achei que era Jesus que vinha me buscar. Achei que eu tava morrendo e que na morte a gente esquecia tudo. Eu olhava para as casa, para as pessoas e não lembrava de nada. (3) Sabe, na hora eu só me enxergava como quando eu era uma criança, com um vestido cor de rosa que eu tinha e pensava na minha mãe. Eu lembrava da minha casa, de quando eu era guria, lembrava da cerca, dos bichos, da porta de madeira pintada. Era em outra cidade isso, faz mais de 30 anos que eu vim para cá... (fica em silêncio) Depois, sem saber o que fazer, fiquei ali parada até que uma colega de grupo de oração veio falar comigo.(4) Eu olhava para ela e não reconhecia. (5)Ela falava comigo, me chamava de Maria, mas eu não sabia que era eu, não lembrava que o meu nome era Maria. Acho que ela ficou assuntada e chamou mais alguém... Só lembro que acordei aqui no pronto-socorro. Tava deitada com soro e os meus sobrinhos em volta. Devagarinho eu fui lembrando das coisas. Não falei nada pra ninguém. Depois me levaram para casa. (6)Eu fiquei sem vontade de fazer nada. Ficava lembrando da promessa de Jesus. Ficava em casa deitada, sem fome. A casa suja, as roupas por lavar e eu não tinha forças. Só ficava mais triste. Ficava esperando que Jesus me levasse. Teve uma dia de muita chuva que eu achei que ia ser o meu dia. (7)O vento batia na janela, bem forte e eu ouvia, mas ouvia mesmo, bem nítido, como se fosse uma voz num rádio “hoje é o dia‟. Eu tava com medo ,mas tava feliz que essa coisa ruim que eu tenho ia passar. (8)Chorava e ria ao mesmo tempo, Chorava pensando nos meninos e quem ia ficar cuidando deles, mas ria porque eu ai ficar junto da minha mãezinha. Eu acho que os meninos se viram sozinhos, já tão grandes, um tá no quartel, o outro quase casado, eles vão ficar bem se eu me for. (silêncio...chora). 9 Caso 5 – SUZANA Leia o caso e preencha a tabela com os sintomas, funções e áreas do ego e a tabela do diagnóstico multiaxial: Suzana é uma jovem de 19 anos, diabética, filha única, mora com a mãe e a avó. Veio encaminhada para o serviço de triagem pelo clínico que a atendeu em casa, em situação de emergência. Durante a consulta foi solícita, porém mostrava-se ansiosa, falando rápido: Entrevista com a paciente: - Conta-me o que foi que aconteceu contigo... - Sabe, eu tava tri bem, não tinha nada..até acontecer aquilo..ai, só de me lembrar eu fico furiosa, fico com vontade de matar ele, o Rafael. O Rafael é o meu namorado, Era!! Era!!! ..Que ódio! (as mãos tremem, ela começa a chorar, mas não para de falar...) Eu tava no cursinho, eu faço cursinho de manhã, ali no centro. Eu sempre saio ao meio- dia e o Rafael vai lá me buscar, sai do serviço e vai lá. Só que ontem, eu não tive o último período e fiquei esperando ali na praça, num banco no meio do caminho que eu sei que ele sempre passa pra ir me buscar. Fiquei ali parada... Quando foi quase meio- dia eu vi ele vindo. Desgraçado! Tava ele ali vindo, todo sorridente – e eu achando que era pra mim – só que ele tava de papo com uma vagabunda, uma idiota que eu odeio... Dei um passo pra trás e ele não me viu. Ele tava falando com ela, teve uma hora que eu até vi ele falando bem perto do ouvido dela. Aquela vagabunda, eu sei quem ela é. Ela mora perto da casa dele e já tentou ficar com ele, mas ele disse que nunca ficou. Eu até acreditei, mas agora não sei mais... Eu segui ele.. Eles foram para o cursinho, mas quando ele chegou na esquina, deu três beijinhos nela e ela foi embora. Tenho certeza que eu a vi rindo, provavelmente rindo da minha cara, imaginando que eu sou uma idiota. E ele foi até o cursinho, vi quando ele entrou e depois saiu. Tava com um ódio. Não atendi o toque dele... Nenhuma vez... Ele tocou umas dez vezes. Comecei a chorar. (1)Não me saia da cabeça ela rindo. Rindo de mim, tenho certeza. (baixa a cabeça...) Fiquei com nojo... Fiquei o resto do tempo imaginando ele de beijo e agarrado com aquela guria, uma VADIA! Fiquei com nojo dele, imaginando ele me tocando com aquela mão suja daquela xexelenta... E ela rindo. O rosto dela rindo não me saía da cabeça...Eu chorava, ela ria da minha cara. (2) Eu amo ele, ele é tudo pra mim, mas eu tenho vontade de matar ele. Me traindo... (3) Perdi a noção de tudo, fiquei parada num muro perto do cursinho. As pessoas passavam, me olhavam chorando e eu sem saber mais nada. Só enxergava ele beijando ela e o rosto dela rindo. Foi ficando escuro, eu só vi isso. Quando vi tava escuro. Aí eu fui pra casa... Comecei a ficar com raiva dele, dela, de mim por ser tão boba. Fui pra casa e não tinha ninguém ainda. Minha vó tava na minha tia e minha mãe tinha ido no centro espírita. (4)Fui na geladeira e peguei um pote de sorvete e sentei na sala, comi um pote de 2 litros quase todo. Chorei muito, não queria falar com ninguém... quando a minha mãe chegou eu tava passando mal, tonta, não conseguia nem falar direito...Aí ela me levou no P.A. e depois eu acabei vindo aqui... Não me saida cabeça aqueles dois... Não consigo nem ouvir a voz dele... Ele nem sabe que eu tô aqui... Acho que eu tô ficando louca. 10 Caso 6 – REGINALDO Leia o caso e preencha a tabela com os sintomas, funções e áreas do ego e a tabela do diagnóstico multiaxial: Reginaldo, 37 anos, casado há 15 anos, um casal de filhos, alcoolista em recidiva, veio para atendimento no ambulatório do Hospital da Ulbra acompanhado pela esposa. O paciente apresentava-se abatido, ombros caídos e uma constante ansiedade. A mão direita apresentava um corte com uma atadura, feita pelo serviço de emergência do hospital. Solicitou para falar a sós com o psicólogo da triagem. - E então, Reginaldo, o que aconteceu? - Não sei bem doutor. Foi uma coisa estranha. Fiquei meio agitado sabe, umas coisinhas aí.. não sei direito.... - Que coisinhas, Reginaldo? - Umas idéias meio estranhas sabe. Eu tava bem, mas aconteceu de repente... - E você pode me contar que idéias são essas? - Olha...vou contar porque o senhor é doutor....Foi assim... eu tava em casa, tinha chegado do trabalho mais cedo.. larguei a bicicleta no pátio e fui pra frente esperar a minha mulher. Fiquei esperando ali no pátio. (1) De repente começou a me passar umas coisas na cabeça... fiquei pensando que o meu vizinho tava de olho na minha casa... o meu vizinho é meu primo, nós nos criamos juntos, ele até ajuda a minha mulher quando eu tenho uns problemas outros aí.... Mas eu comecei a pensar nisso, que ele tava querendo me derrubá pra ficar com a minha casa. No início, tentei tirar esses pensamentos, mas não saía, fiquei pensando e parecia que o pensamento ficava mais forte,. Fiz tudo, sacudi a cabeça, molhei no chuveiro, até dei uns tapas para o pensamento sair, mas continuava. Foi ficando forte... Aí eu fui para a janela... e comecei a olhar para a casa dele... Comecei a sentir umas coisas por dentro, parecia um comichão... Aí eu fui beber um pouco sabe, pra dar uma aliviada... Fui no mercado e voltei com uma pinguinha pra relaxar... Pra beber só um pouco....E sabe que foi aliviando mesmo... fui ficando calmo... - Sim, mas na sua ficha diz que houve uma agressão... como foi isso? - È que depois eu fui ficando meio alto, sabe... tava sozinho, a minha mulher tava fora, trabalhando....Eu fui ficando mais ruim, fui ficando com mais necessidade, a pinga tava acabando...eu bebi meia garrafa de álcool.. Desespero, né, doutor... Eu peguei a garrafa e misturei com Tang... fazia um tempo que eu não botava uma gota na boca, mas não deu mais...Mas vou jurar para o senhor que é só dessa vez.... Bebi tudo... Foi aí que começou a acontecer.. (olha para baixo, envergonhado. Fica hesitante em falar) Eu comecei a sentir umas coisas estranhas.. Tava ficando meio escuro, eu tava sozinho. Fiquei pensando no meu primo, nele rido de mim e ficando com a minha casa. Me chamando de maricas – Ele fazia isso quando a gente era pequeno – e fui ficando com raiva... (2) Mas fiquei sentindo uma coisa estranha no meu corpo, como se o meu corpo fosse ficando de mulher, como o meu peito ficasse como umas tetas de mulher...( fica envergonhado). Eu me apalpava mas não conseguia tirar essa idéia. Como se eu fosse ficando 11 uma mulher mesmo. Comecei a gritar, a dizer que eu ia matar ele.(3) Joguei uma cadeira na parede. Eu tava com raiva mesmo. (4) Sabe eu botei as mãos no meu saco, queria sentir as bolas e não sentia nada. Botei a mão por dentro da calça e puxei, eu não enxergava nada, não sentia nada. Fui no espelho e não enxerguei nada, só enxergava o meu corpo mudado... (5)Foi ai que eu dei um soco no espelho... Cortei a mão... Saltou sangue para tudo quanto é lado, mas eu continuava não sentindo nada na mão... depois disso eu apaguei... eu não lembro de nada... nada mesmo... - Não lembra nada? Você sabe como chegou aqui? - (6) Me lembro só um pouco... Me lembro que eu tava na rua, caminhando, perdido. Eu queria voltar para a minha casa, mas não queria aquela. Parecia que aquela não era mais minha...Eu nem sabia muito onde eu tava, só via as pessoas... uma vizinha, que mora do outro lado da rua falou comigo, mas eu nem sabia que era ela. Foi ela que ligou para a minha mulher... disse pra ela que eu tava estranho, que não tinha reconhecido ela e que tava todo ensangüentado...(7) Na hora, nem reconheci a minha mulher...eu só deixei ela ficar perto porque ela disse que ia cuidar do meu corte, mas eu não lembrava que ela era ela mesmo... vê só, doutor.. casado há tanto tempo e não lembrar da mulher.. foi aí que ela me trouxe pra cá... as enfermeiras me costuraram a mão e o outro doutor me deu um remédio, mas mandaram que eu viesse aqui pra falar com o senhor... Monte o quadro das funções do ego e responda as perguntas: 1 – Em “recidiva” significa que ele não ingere álcool há quanto tempo? 2 – Cite alguns sintomas emergentes importantes para a compreensão do quadro psicológico do paciente; 3 – Qual o grau de AGF do paciente? Justifique. 12 Caso 7 - GERALDO Geraldo, 35 anos, estudante de psicologia procurou a Clínica da Ulbra para acompanhamento psicológico. Veio encaminhado pelo clínico que o avaliou no Pronto Atendimento, duas semanas antes. Relato da História: - Oi, eu vim aqui porque o Doutor do P.A. me encaminhou. Ele disse que eu tava precisando. A minha mãe e a minha namorada também acham que sim. Eu não sei, mas resolvi vir para elas pararem de incomodar. Aconteceram umas coisas aí... Umas bobagens. Coisa de estudante, mas elas estão preocupadas. T: - Você pode me relatar o que aconteceu, desde o início? - Ta bem! Tudo começou faz um mês, mais ou menos. (1) Teve um dia que eu fiquei meio estranho, fiquei me sentindo meio no ar... Pareci que eu não tava nem acordado, nem dormindo. Não conseguia saber bem onde eu tava, não entendia direito o que estava acontecendo. Parecia meio dormindo, meio acordado. Via as pessoas e não conseguia interagir com elas, parecia que tava meio de porre, só que eu não tinha bebido... Depois passou. Isso foi durante um dia todo. Depois desse dia começaram a acontecer coisas um pouco diferentes. Vou contar pra ti, mas só para ti. (2)Eu fiquei muito poderoso! Uma sensação muito estranha, muito diferente. Era uma sensação de muita alegria, de muita felicidade. Parecia que eu podia tudo, que eu era o cara mais poderoso do mundo . (3) Sabe, se eu tinha que fazer uma coisa, eu fazia. Eu ficava super-ligado, parecia que eu só enxergava aquilo no mundo. Eu lembro que fiz um trabalho e a sensação que eu tinha era que só existia eu e o computador. Não tirava o olho dele, podiam falar comigo que eu nem percebia. Mas daí aconteceu algo estranho, muito estranho mesmo. (4) Eu comecei a olhar pra mim e parecia que não era eu. Eu olhava para as minhas mãos e pareciam que elas não eram minhas, parecia que elas funcionavam sozinhas. Parecia que eu era um filme de mim mesmo. Um dia me olhei no espelho e achei que o reflexo era de outra pessoa, que aquela não era a minha cara. Eu sei que parece uma coisa de louco, mas isso passou, isso foi durante um tempo, só. T: - E hoje, como você se sente? - Vou falar pra ti... Depois disso aconteceu mais uma coisa. Não sei se o senhor viu na ficha, mas eu sou técnico de eletrônica. Eu trabalho fazendo uns consertos de máquinas. (5) Depois desse dia, eu me esqueci de tudo... tudo não, só não lembro de nada no meu trabalho. Eu olho aqueles fios, olhos as máquinas e não sei mais nada. Lembro de todo o resto, mas me esqueci de tudoque é do meu trabalho. Vou te contar uma coisa. Eu sei que os outros iam achar estranho, mas como o senhor é doutor e estuda ciência, vou contar... (6) Eu fui abduzido! Fui, enquanto eu dormia, dominado por extra-terrestres. Eu tenho certeza que eles colocaram alguma coisa na minha cabeça, um chip, uma coisa assim, pra eu esquecer esse meu trabalho e eu poder fazer o que eles mandam. Sim, porque eles sabem que eu sei mexer no computador e posso modificar e mandar mensagens malignas para outros. Assim, eles tiram o que eu sei e depois eles vão me mandar fazer o que eles querem.Eu agora tenho medo que eles comecem a me mandar fazer coisas, acho até que isso pode estar já acontecendo... (7) Eu sei disso porque eu agora tenho muita, muita vontade de comer. Como tudo o que aparece na frente, nem fome eu tenho, mas fico comento muito, não consigo me controlar. Isso deve ser desse chip... (8) outra coisa que eu tenho é muito sono... Durmo muito. Há dias 13 eu só durmo, chego a dormir umas 14 horas por dia. Acho que dormindo eles recarregam o chip... Eu não sou de dormir muito, mas tem acontecido... (O terapeuta, durante essa última parte da fala observa que Geraldo, (9) além de intensificar o ritmo da fala, falando muito mais rápido que no início da conversa (10) apresenta uma exagerada forma de expressão facial e na mímica corporal. Exagera na gesticulação e na manifestação e intensidade das suas expressões .) - Sabe, eu ainda tenho umas coisas que me incomodam. Eu tenho (11) o hábito de roer as unhas, isso é desde que eu era novo. Só que agora ta mais forte. Tem dias que eu até tiro sangue, de tanto que eu rôo. E tem uma outra coisa que eu também quero falar que é (12) (o paciente interrompe a fala). Eu esqueci, não consigo me lembrar, to fazendo força mas não consigo... Isso acontece com freqüência... Pois é, acho que vou ter que voltar para continuar a consultar, acho que estou precisando. Podemos nos encontrar na próxima semana? 14 Caso 8 - MARGARIDA Partindo de uma notícia veiculada na internet, foi construída uma versão de uma entrevista psicológica. Você deve analisar os sintomas marcados e preencher a tabela em anexo. A babá Maria Margarida, 44 anos, confessou na manhã desta segunda-feira o assassinato de um bebê de um ano e oito meses ocorrido em 20 de fevereiro deste ano, na região de Sapopemba, zona leste de São Paulo. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, ela sufocou Giovanna ainda no chiqueirinho e depois a jogou numa banheira para simular um acidente. Os vizinhos tentaram ressuscitar a menina, em vão. Apesar da versão oficial de que a criança havia sido encontrada morta na banheira, a polícia continuou investigando. Hoje, enquanto era realizada a reconstituição dos fatos, Maria não agüentou a confessou o crime. A acusada alegou que ouvia vozes que a mandavam matar o bebê. (Redação Terra) Margarida foi encaminhada para avaliação das funções mentais. Durante a entrevista, relatou os seguintes fatos: Psicóloga: - Margarida, você pode me contar o que aconteceu naquele período? Margarida: - Eu estou um pouco nervosa, algumas coisas eu não me lembro, mas eu vou contar o que eu lembro... Eu gostava muito da Giovana, muito mesmo, ela era como uma filha pra mim...até que aconteceu aquela coisa horrorosa. Eu cuidei dela desde que ela chegou do hospital. Ajudava no banho, dava papinha, segurava na mão para ela caminhar. Eu vivia na casa da família. Eles me tratavam bem. Em julho do ano passado eu arranjei um namorado, ele era evangélico. Ele era bom comigo, ele me visitava todo fim de semana. Acabei me convertendo. (5) Ssssshhhhh (faz um pequeno chiado constante). Eu já tinha tido um marido que me batia muito e minha mãe também, era uma pessoa muito má, me deixava sem comer e me obrigava a fazer de tudo na casa. O Adelmo, meu namorado era muito bom pra mim. Desde que eu me converti, minha vida mudou. Eu vi os demônios da minha vida, vi que o diabo controlava o que eu fazia. (1) Lembro de uma vez que eu tava dormindo e senti que o demônio estava por perto, senti que ele vinha na minha cabeça e que ele colocava uma coisa lá dentro.Eu não conseguia me mexer com aquilo. Fiquei paralisada, o corpo todo. Era como se eu tivesse dentro de mim um controle remoto do mal. Como se todos os botões das coisas ruins se ligassem e eu tivesse que fazer uma coisa ruim. O Adelmo me levou para a Igreja, o Pastor me fez um exorcismo. Ele lutou contra o Diabo e venceu. Fiquei como que curada. (5) Ssssshhhhh (faz um pequeno chiado constante). Depois disso, o diabo voltou outras vezes, ele nunca se cansava. (2) Eu vi ele na casa duas vezes. Vi o chifre e o rabo atrás da porta. (3) Quando eu não via, sentia o cheiro de enxofre por perto. Era sinal de que ele estava lá. Eu corria e protegia a Giovana. Uma vez até pedi para o pastor aparecer quando os meus patrões não estavam lá. (4) Outro sinal de que o diabo estava lá, é que eu sentia um aperto no peito, uma coisa estranha. Nunca tinha sentido esse sentimento, não sei explicar o que era, era algo muito diferente de todos os sentimentos que eu já tive na vida. (5) Ssssshhhhh (faz um pequeno chiado constante). Teve um dia que eu olhei para mim e senti que eu não era eu. (6) Olhei para mim e 15 parecia que era um corpo estranho. Não era deformado, mas parecia que eu não me sentia eu.Eu sabia o meu nome, sabia tudo da minha história, onde eu tava, só que não era eu... Nesse período eu fiquei sem vontade de fazer nada, eu só caminhava de um lado para outro. (7) Ficava caminhando sem rumo, sem paradeiro. Um dia saí de casa e caminhei por seis horas. Quando eu vi, estava do outro lado da cidade. (5) Ssssshhhhh (faz um pequeno chiado constante). Foi quando eu voltei que aconteceu essa coisa horrível... Eu cheguei em casa e a Giovana estava no berço, dormindo, como sempre. Era hora do banho. Preparei o banho e comecei a vestir ela. Foi quando eu senti o cheiro. O cheiro estava na Giovana. Tava saindo da boca da criança. Eu sabia que o diabo estava dentro dela. Eu vi os olhos dela. Vi os olhos ficarem vermelhos, Vi o nariz crescer. Eu lutei contra o demônio. Coloquei ela no chiqueirinho para ligar para o Pastor, para ele me ajudar. (8) Foi quando eu ouvi ela chorando, mas de dentro da boca saíam palavras do demônio. Ele me ofendia, queria se apossar de mim. Falava coisas ruins. (9) A última coisa que eu me lembro foi de ter tentado calar a boca do diabo com o travesseiro.Só lembro de mim na porta da casa, sem saber porquê ao certo. Depois eu me lembro que eu gritei e tinha umas pessoas estranhas na volta, acho que eram da vizinhança. Eu corri. Depois não lembro de nada, só que eu fiquei numa praça, sentada, parece que fiquei dias assim. (10) Eu não conseguia caminhar. Parecia que eu não coordenava as minhas pernas. Era como se tivesse atrofiado, mas não tava. Eu não conseguia me levantar, nem colocar um pé na frente do outro. Eu sentia as pernas, os músculos, mas não caminhava... Eu não quero mais falar disso agora... a gente continua amanhã. 16 Caso 9 – ALICE Leia o caso e preencha a tabela com os sintomas, funções e áreas do ego e a tabela do diagnóstico multiaxial: Alice é uma jovem de 24 anos, casada há 02 anos, com um filho de 08 meses. Veio ao consultório após sucessivas crises de choro e dificuldadespara o trabalho e cuidar do filho pequeno. O relacionamento com o marido por vezes mostra-se difícil, com brigas sem um motivo definido ou específico, segundo ele “por pequenas coisas, até por uma toalha pendurada nós já brigamos”. Relato de Alice: - Sabe, eu vim procurar porque ninguém me agüenta, nem eu mesma me agüento... Foi depois que o meu filho nasceu.. Antes era tudo bem, eu tava sempre bem, difícil ficar chateada ou irritada, mas agora... tudo me irrita...O meu médico ginecologista me perguntou se não era o meu filho, se eu realmente queria ser mãe? Eu disse que sim, que queria, foi uma decisão nossa, mais minha do que do meu marido.. Eu até tirei o DIU para poder engravidar... (suspira). - E quando começou isso? - Faz uns 06, 07 meses... Eu tenho essa sensação só às vezes, em alguns dias do mês, mais perto da menstruação... Eu fico uma fera! Começa a me doer o corpo, a cabeça vai latejando e começa a ficar pior com o passar dos dias, três dias antes de menstruar, parece que a cabeça – a cabeça só não – parece que eu vou explodir inteira. O meu peito incha, fica dolorido e só de pensar que eu tenho que dar de mamar 4 vezes ao dia eu tenho vontade de chorar. Eu amo meu filho, mas eu morro de ódio só de pensar que ele vai ficar ali chupando, mamando em mim. A dor é quase insuportável, fico rezando para parar logo. - E é só com o seu filho que você fica irritada? - Não, eu voltei a trabalhar depois da licença e tem dias que eu tô bem.. Eu sou vendedora de uma loja. Tem dias que eu vendo que é uma beleza, tenho paciência, faço tudo que precisa, mas nesses dias que eu tô assim, eu fico azeda. Minhas colegas já perceberam... Elas dizem que eu fico com uma cara, que nem as freguesas chegam perto de mim. Teve um dia, no mês passado que eu briguei com uma cliente por uma bobagem... Ela queria uma coisa que não tinha na loja e eu perdi a cabeça e destratei a mulher... Só não fui despedida porque a dona da loja me conhece há muito tempo. Disse que eu tinha que melhorar, procurar ajuda. Aí eu procurei esse serviço aqui. - E o que mais de sintomas você percebe nesse período? - Eu choro muito, por qualquer coisa. Eu também tenho muita fome, fome de chocolate e vontade de ficar sozinha. Não gosto nem que o meu marido me toque. Depois passa, em geral, vem a menstruação e passa. Mas não posso ficar sempre assim, né? Tenho que ficar boa logo, voltar a ser o que era antes. Já mudei até o anticoncepcional, mas não adiantou. 17 Caso 10 – ROSA Leia o caso e preencha a tabela com os sintomas, funções e áreas do ego e a tabela do diagnóstico multiaxial: Rosa, viúva, 52 anos, vem encaminhada para o Serviço de Saúde Mental da Clínica da ULBRA pelo médico psiquiatra. Na entrevista inicial, comparecem junto com a paciente, a filha e a irmã. Segundo dados colhidos junto com os familiares, a história pregressa de Rosa, relata os fatos a seguir: História Pregressa: Rosa é a segunda filha, caçula da família. Os pais moravam no interior de santa Maria, até a idade de 10 anos da filha, depois se mudaram para a cidade para que as filhas pudessem estudar. Rosa, segundo a irmã “sempre foi uma menina quieta. Brincava com algumas bonecas, sempre em casa, com poucos amigos. Dificilmente saía de perto da mãe e sempre parecia que tua a assustava. Quando entrou na escola, teve dificuldades, principalmente porque não queria ficar sozinha. A mãe acompanhou a Rosa em sala de aula até quase as férias de julho. No ano seguinte foi tudo de novo .Foi assim por uns 3 anos”. Na adolescência, Rosa fez novos amigos. Mudou de escola, estudou em uma escola secundária, no curso de magistério. Sempre foi mais reservada, tinha poucas amigas. Preferia ficar em casa, saía acompanhada principalmente da mãe, em geral para ir ao centro para fazer compras. Do pai, tinha um medo “enorme”, dizia que ele era muito brabo e que ela tinha medo de apanhar. Mesmo com medo, tinha certa devoção, atendendo aos pedidos do pai e mostrando-se sempre disponível para ajudá-lo. Nunca deixou a irmã mais velha reclamar do pai retrucando que ele era muito bom para elas e que dava o necessário para todos viver. Aos 18 anos, em uma festa, Rosa conheceu Carlos, seu primeiro namorado. Ficou apaixonada, segundo a irmã. Temendo represálias do pai, começou a encontrar-se as escondidas com o rapaz. Ele a buscava na saída da escola e a acompanhava até em casa. Nos fins-de-semana, em companhia da irmã, iam ao centro onde o rapaz a esperava. Os pais não sabiam de nada. Rosa segredava o namoro com medo das represálias parentais. A irmã, em algumas ocasiões convidava Rosa para ir aos bailes. Depois do início do romance, Rosa começou a ir, com o intuito de ver Carlos. Em um desses bailes, tendo decidido de última hora, encontrou Carlos conversando com outra moça. Chorou, correu para casa e terminou o romance. Segundo a irmã, “foi aí que as coisas começaram a modificar. Rosa ficou muito tempo em casa. Não queria ir para a aula, não queria sair pra nada. Ficou em casa. Emagreceu. Parecia um zumbi. A mãe desconfiou que era alguma coisa e pressionou a Rosa e ela contou. Chorou muito. O pai nunca ficou sabendo. Depois disso, nunca mais foi a mesma.” Rosa ficava em casa, saindo apenas para poucas atividades de rotina como mercado, farmácia e médico. Nesse período tentou vestibular, mas foi reprovada. Aos 24 anos, conheceu Jorge, seu marido. Era um colega do pai, 15 anos mais velho que Rosa. Jorge freqüentava a casa com regularidade e acabou se afeiçoando a Rosa. Pediu ao pai para namorar com a filha e Rosa acabou por aceitar. A irmã relata: “Ela gostava dele, mas só gostava. Paixão, paixão, não era. Acho que ela era magoada com o Carlos. Mas acabou por gostar do Jorge. Viviam bem. Tiveram filhos. A Rosa 18 cuidava da casa e em outro turno, dava aula na escola do município. Não sei se ela era feliz, feliz, mas nunca eu vi ela reclamando do Jorge. Uma vez me disse: - Ele é um homem bom, cuida de nós, da casa, não tem vícios. Eu acabei por gostar e me acostumar com ele. Para mim, tá mais que bom.” Tiveram 2 filhos, moravam em uma residência nos fundos da casa dos pais. Os problemas começaram há aproximadamente 2 anos, quando o pai de Rosa teve problema de saúde, ficando internado 1 mês e depois ficando na cama até a morte. A doença degenerativa atingiu várias áreas e Rosa cuidava do pai, junto com a mãe. Segundo relato da filha: “A minha avó tá muito velhinha. A mãe é que acabava fazendo tudo. Comida, limpeza, banho, remédio. Acho que ela pegou uma estafa. Começou a esquecer das coisas, a ficar muito irritada. Qualquer coisa que a gente fazia ela já gritava. Meu pai as vezes chegava perto e ela já mandava ele sair, que parasse de se roçar nela. Nem com a gente ela tinha paciência. As vezes ela ficava na sala acordada, olhando para a TV. A gente via que ela não via nada, mas ficava lá, sozinha. Foi um sacrifício. Ela pediu licença na escola e quase não saía de casa. Eu e o meu irmão que fazíamos as coisas da rua. Banco, mercado, farmácia essas coisas. Ela só ficava em casa e piorava de humor. Tentamos tirar ela de casa várias vezes, mas ela dizia que não. Foi ai que aconteceu o pior de tudo. O meu avô morreu. E ela afundou de vez” Com a morte do pai, Rosa acentuou seu retraimento. Não comia, não dormia direito, ficava parada em um canto da casa, na cozinha ou no quarto. Deixou de acompanhar os filhos em atividades escolares ou sociais. Chorava muito no início, mas depois de algum tempo, começou a chorar escondido, frente às reclamações dos demais pelo seu estado. Jorge, preocupado, levou Rosa para um atendimentomédico. Rosa foi medicada com anti-depressivos e ansiolíticos. Apresentou um melhora nas atividades sociais, voltou a lecionar, mas segundo a filha “Não tinha uma vontade de viver. Tava indo, mas assim, assim...”. No ano seguinte, Jorge ficou doente. Teve câncer de intestino e após uma cirurgia e tratamento de quimioterapia, acabou por falecer. Rosa teve uma piora no seu estado mental, culpando-se pela morte do marido. Dizia: “se eu tivesse cuidado dele, nada disso teria acontecido. Fiquei muito descuidada dele, ele ficou muito abandonado e acabou por pegar essa doença. Dizem que se a pessoa fica deprimida ela acaba por ter câncer. Foi isso, foi desleixo meu ...(sic)” A irmã acabou ficando mais próxima nesse período, cuidando dos sobrinhos. Rosa voltou ao comportamento de descuido da casa, dos filhos e de si mesma. A irmã resolveu levar a outro médico, um psiquiatra que acabou por indicar o acompanhamento psicológico. Viúva há um ano, Rosa agravou sintomas nos últimos 6 meses aproximadamente. Em entrevista com a paciente, ela relata seu sofrimento e descreve sua percepção sobre a situação atual. Entrevista com a paciente: No dia da consulta, Rosa compareceu vestida de preto, com mangas compridas, apesar do calor. Cabelo preso, parecia abatida. Olheiras, olhos sempre voltados para o chão, ombros curvados. Mostrou-se colaborativa durante toda a consulta, apesar de parecer não se importar muito com sua situação. Recordava de datas mais recente, as vez com pequenas confusões que foram verificadas junto à família. 19 Segue o relato: - Rosa, conversei com a sua filha e com sua irmã e elas me contaram que você não está muito bem....Poderia me contar o que está acontecendo? - Pois é... Tenho andado meio triste, meio abatida. Eu até tendo ficar melhor, mas não consigo. Foi muita coisa para uma pessoa só. Morreu o meu pai, depois o meu marido. Fiquei só eu com as crianças. Eles são uns moços, mas sabe como é mãe, né...são sempre crianças pra gente. (silêncio). Eu não queria dar trabalho pra ninguém , mas tô assim. Sem vontade de nada. (lágrimas correm pelo rosto). Eu não queria, mas sinto muita falta deles. As vezes eu acho que eu deveria Ter feito mais, ter feito alguma coisa para que eles não morressem. Eu cheguei a falar com ele, com o Jorge. Tinha umas visões que eu pedia desculpa. - Você pode me explicar melhor essas visões? - Depois que o meu pai morreu eu sonhava muito com ele. Até que um dia eu ouvi ele me chamar. Virei e não tinha ninguém, mas eu ouvi ele me chamar. Passou uns dias e eu tava na sala de casa e ouvi ele me chamar de novo, virei e nada. Depois eu ouvi ele dizer “porque você não me ajudou minha filha, agora eu estou aqui sozinho”. Eu ouvi. Era a voz dele. Chorei muito. Depois eu ouvi outras coisas, mas não lembro bem o que foi. Na época não contei para o Jorge nem para minha mãe. Rezei muito, mas eu sempre me lembrava. (silêncio). Eu acabei por esquecer o dia do velório e do meu pai naquele dia. Lembra de antes e depois, mas apaguei o dia do enterro. Acho que foi o calmante que me deram. Depois foi o Jorge. Ele urrava de dor pela doença. Quando ele morreu, aconteceu a mesma coisa. Depois de uma semana ele apareceu pra mim. Eu tava sozinha e ele apareceu de pé do meu lado, levantou a mão, acenou e foi desaparecendo. Eu comecei a gritar para ele voltar...chorei. ele apareceu pra mim mais umas 4 vezes. Na última vez eu tava na cama e ele apareceu nos pés da cama. Eu pedi que ele me ajudasse, que eu não ia conseguir sozinha. Ele falou que ia dar tudo certo, que no aniversário da minha filha, que foi um mês depois da morte dele, ele voltava. (silêncio) No dia do aniversário, eu tava na cozinha e ouvi a voz dele, dizendo que ia embora pra sempre que eu cuidasse das crianças. Eu juro que ouvi a voz dele. Depois disso, nunca mais... mas eu não consigo fazer nada. Prometi para o Jorge e não consigo cumprir a promessa. Eu não como, não durmo direito, não tenho vontade de fazer nada. Tô de laudo da escola, não posso nem pensar em voltar para lá. Meus filhos estão abandonados, mas eu não faço nada. Faz mais de dois meses que eu tô assim. Eu tomo remédio, mas não tá adiantando. Cheguei a pensar em me matar, peguei a faca, mas na hora eu pensei nos meus filhos, na minha mãe que mora comigo. Pensei que eles iriam sofrer muito, por isso não fiz. (silêncio) Sabe, teve um período, logo depois que morreu o Jorge que eu fiquei muito mal...não falava coisa com coisa...parecia que as palavras ficavam perdidas, não juntava uma idéia com outra. Eu tentava falar uma coisa e não conseguia, parecia que o meu pensamento tava todo fora de ordem. Acho que o remédio ajudou e também as conversas com o padre que teve lá em casa. Mas mesmo assim, o resto ficou igual. Eu acho que vou ficar assim pra sempre... (chora)... 20 Caso 11 – RITA (A) Leia o caso e preencha a tabela com os sintomas, funções e áreas do ego e a tabela do diagnóstico multiaxial: Relato de Caso: Rita, 20 anos, filha adotiva de um casal classe média. O pai é professor da UFSM e a mãe farmacêutica. A menina foi adotada aos 3 meses e ficou sabendo da adoção aos 10 anos. Segundo a mãe, „foi aí que começaram os problemas”. A paciente veio encaminhada para a avaliação diagnostica. Entrevista com Rita – 1ª consulta ( fragmentos) - Rita, nós estamos aqui para fazer uma avaliação diagnóstica. Eu sei que você teve alguns problemas, será que você poderia me contar o que está acontecendo? - Umas histórias aí... Tá bom, vou te contar.. Parece que tu é bem legal, que vai me ajudar...Vou contar do início, tá bom? Foi assim... (pensa um pouco). Eu sempre quis saber da minha mãe verdadeira, sempre quis e nunca me deixaram procurar direito... Bom, eu tive que arranjar um meio de me encontrarem com a minha história, eu precisava saber... O meu pai e a minha mãe sempre foram contra, acho que eles tinham medo... Desde que eu fiquei sabendo eu queria ir atrás disso... Ficava imaginando como era essa minha outra família, se eram parecidos comigo.. Tem horas que eu fico imaginando que a minha família me doou porque não podia me criar, que eram pobres... Sei lá.. mas eu fico pensando também que eu acho que eles não me quiseram, que me botaram no lixo e essa família me pegou... quando eu tô triste eu penso que se eu tivesse lá, mesmo que fossem mais pobres, sem condições eu tava com eles... A minha mãe adotiva briga muito comigo, diz que eu não faço nada, diz que eu sou um estorvo, que só dou incomodo para o meu pai... (suspira) eu fico com um vazio aqui no peito, fico angustiada, me dá uma vontade de quebrar tudo... uma vez eu quebrei uma estante do meu quarto de tanta porrada e chutes... Eu briguei com a minha mãe nesse dia e ela disse que não era para eu sair, daí fui para o quarto e quebrei tudo... fiquei com uma raiva, um ódio...quase quebrei o meu pé chutando...Fico pensando que ninguém me quer nessa vida... que uma mãe não quis e a outra também não quer.. fica uma sensação de que ninguém gosta de mim... Já aconteceu muito disso lá em casa... fico com raiva e quebro uma coisa... já quebrei uma dúzia de copos só de raiva... Às vezes eu já nem sei mais quem eu sou... fico me perguntando, fico me olhando no espelho e parece que não reconheço aquela que tá lá refletida... a minha mãe diz que eu sou louca e as vezes eu acho que eu tô ficando mesmo... (olha para o lado...) sabe, eu tinha umas amigas quando eu era pequena, mas depois elas foram me abandonando... É sempre assim, eu começo a ficar bem amiga delas – vou na casa, durmo na casa delas, as vezes a gentese empresta roupa, fico adorando essa amiga, até que depois ela vai sumindo... todo mundo me abandona.. primeiro fica bem amigo, a gente se adorando e depois elas vão embora, me abandonam. Teve uma amiga que eu ia lá, telefonava, mandava mensagem, mas ela, 21 simplesmente, me abandonou. Comecei a odiar ela também. Todo mundo é assim comigo... Começa bem, eu gostando um monte e depois acabam se mostrando o inverso, umas cobras, que não estão nem aí pra mim... - Estou percebendo umas marcas nos teus braços. O que são? - É que as vezes eu ficava com tanta raiva que eu acabava me ferindo, até sangrar. Sentir o sangue escorrendo, me acalma. Ele é tão quentinho, parece que ele vai escorrendo e em acariciando ao mesmo tempo. No início eu fazia aqui nas coxas, mas depois foi ficando em outras partes do corpo também... sabe essa angústia é terrível... tem dias que eu tenho que fazer alguma coisa.. parece que é uma vontade sem fim....Já teve vezes que eu fiz coisas muito loucas por causa disso.. Lembro que quando eu era pequena eu tinha que ficar pulando ou me sacudindo pra passar... Ninguém entendia isso... Depois foi ficando mais forte e eu ia fazendo coisas diferentes... Uma vez eu ganhei uns duzentos reais de presente de aniversário de 15 anos... Tive essa vontade e comecei a gastar em bobagem... Entrei numa loja de chocolate e comprei 50 barras de chocolate e balas. Sentei e comi tudo... Fiquei vomitando uns dois dias...Quando passou o vômito, fui lá e fiz isso de novo.... Depois foi com meu namorado...a gente briga muito, sou muuito ciumenta! Teve uma vez, uma vez não.. mais de uma vez... que eu não conseguia parar de transar com ele... o guri tava podre e eu queria mais.. não era que eu queria mais, mas é que parecia que só isso ia acalmar...parece que quando eu tenho isso eu tenho que fazer muito alguma coisa...comprar, gastar, transar, tudo em muita quantidade...parece que eu não me controlo...Mas aí, vem esse troço, eu me desespero, faço alguma coisa para acabar com isso e isso some... desde que eu me conheço por gente é assim... - E agora, como estão as coisas? - De uns tempos pra cá, tipo um mês eu tô meio pra baixo. Foi por isso que eles me trouxeram aqui... Fico trancada em casa, sem vontade de fazer nada, me corpo parece que tá um chumbo, só quero dormir...parece que a minha vida parou...fico pensando que eu não presto para nada, que eu nunca vou ser nada, porque se nem a minha mãe me quis, imagina o resto...Fico com uma vontade de morrer, de que me esqueçam... Não sou mais a Rita de antes, mas também não quero ser mais nada, nada mesmo.... 22 Caso 12 – RITA (B) Leia o caso e preencha a tabela com os sintomas, funções e áreas do ego e a tabela do diagnóstico multiaxial: Relato de caso: Rita, 20 anos, filha adotiva de um casal classe média. O pai é professor da UFSM e a mãe farmacêutica. A menina foi adotada aos 3 meses e ficou sabendo da adoção aos 10 anos. Segundo a mãe, „foi aí que começaram os problemas”. A paciente veio encaminhada para a avaliação diagnostica. Parece ansiosa e agitada. Veio conduzida pelos pais que acham seu comportamento atual muito diferente dos anteriores. Relatam tê-la encontrado na rua após 3 dias sumida. Não relatam comportamento similar antes. Entrevista com Rita – 1ª consulta ( fragmentos) - Rita, nós estamos aqui para fazer uma avaliação diagnóstica. Eu sei que você teve alguns problemas, será que você poderia me contar o que está acontecendo? - Umas histórias aí... Tá bom, vou te contar.. parece que tu é bem legal, que vai me ajudar...Vou contar do início, tá bom? Foi assim... (pensa um pouco). Eu sempre quis saber da minha mãe verdadeira, sempre quis e nunca me deixaram procurar direito... Bom, eu tive que arranjar um meio de me encontrarem com a minha história, eu precisava saber...O meu pai e a minha mãe sempre foram contra, acho que eles tinham medo... desde que eu fiquei sabendo eu queria ir atrás disso... Ficava imaginando como era essa minha outra família, se eram parecidos comigo.. Tem horas que eu fico imaginando que a minha família me doou porque não podia me criar, que eram pobres...sei lá.. mas eu fico pensando também que eu acho que eles não me quiseram, que me botaram no lixo e essa família me pegou... quando eu tô triste eu penso que se eu tivesse lá, mesmo que fossem mais pobres, sem condições eu tava com eles... A minha mãe adotiva briga muito comigo, diz que eu não faço nada, diz que eu sou um estorvo, que só dou incomodo para o meu pai... (suspira) eu fico com um vazio aqui no peito, fico angustiada, me dá uma vontade de quebrar tudo... Uma vez eu quebrei uma estante do meu quarto de tanta porrada e chutes... Eu briguei com a minha mãe nesse dia e ela disse que não era para eu sair, daí fui para o quarto e quebrei tudo... fiquei com uma raiva, um ódio...quase quebrei o meu pé chutando...Fico pensando que ninguém me quer nessa vida... que uma mãe não quis e a outra também não quer.. fica uma sensação de que ninguém gosta de mim... Já aconteceu muito disso lá em casa... Fico com raiva e quebro uma coisa... já quebrei uma dúzia de copos só de raiva... Às vezes eu já nem sei mais quem eu sou...fico me perguntando, fico me olhando no espelho e parece que não reconheço aquela que tá lá refletida... a minha mãe diz que eu sou louca e as vezes eu acho que eu tô ficando mesmo... (olha para o lado..) sabe, eu tinha umas amigas quando eu era pequena, mas depois elas foram me abandonando... é sempre assim, eu começo a ficar bem amiga delas – vou na casa, durmo na casa delas, as vezes a gente se empresta roupa, fico adorando 23 essa amiga, até que depois ela vai sumindo... todo mundo me abandona.. primeiro fica bem amigo, a gente se adorando e depois elas vão embora, me abandonam. Teve uma amiga que eu ia lá, telefonava, mandava mensagem, mas ela, simplesmente, me abandonou. Comecei a odiar ela também. Todo mundo é assim comigo... Começa bem, eu gostando um monte e depois acabam se mostrando o inverso, umas cobras, que não estão nem aí pra mim... (fica agitada, levanta-se e anda pela sala, parece ansiosa) - Estou percebendo umas marcas nos teus braços. O que são? - É que as vezes eu ficava com tanta raiva que eu acabava me ferindo, até sangrar. Sentir o sangue escorrendo, me acalma. Ele é tão quentinho, parece que ele vai escorrendo e em acariciando ao mesmo tempo. No início eu fazia aqui nas coxas, mas depois foi ficando em outras partes do corpo também... sabe essa angústia é terrível... tem dias que eu tenho que fazer alguma coisa.. parece que é uma vontade sem fim....Já teve vezes que eu fiz coisas muito loucas por causa disso.. Lembro que quando eu era pequena eu tinha que ficar pulando ou me sacudindo pra passar.. ninguém entendia isso... depois foi ficando mais forte e eu ia fazendo coisas diferentes... Uma vez eu ganhei uns duzentos reais de presente de aniversário de 15 anos... Tive essa vontade e comecei a gastar em bobagem... Entrei numa loja de chocolate e comprei 50 barras de chocolate e balas. Sentei e comi tudo... Fiquei vomitando uns dois dias...Quando passou o vômito, fui lá e fiz isso de novo.... Depois foi com meu namorado...a gente briga muito, sou muuito ciumenta! Teve uma vez, uma vez não.. mais de uma vez... que eu não conseguia parar de transar com ele... o guri tava podre e eu queria mais.. não era que eu queria mais, mas é que parecia que só isso ia acalmar...parece que quando eu tenho isso eu tenho que fazer muito alguma coisa...comprar, gastar, transar, tudo emmuita quantidade...parece que eu não me controlo...Mas aí, vem esse troço, eu me desespero, faço alguma coisa para acabar com isso e isso some... desde que eu me conheço por gente é assim... (levanta-se da cadeira) - E agora, como estão as coisas? - Agora estão diferentes... na verdade, os outros é que dizem que estão diferentes...eu tô bem...tô ótima pra dizer a verdade...sinto que eu posso conquistar o mundo... Na verdade, aconteceram umas coisas, acabei por estourar o limite do cartão do meu pai..ele ficou uma fera! (risos exagerados). É que eu só quero fazer festa... Faz 4 dias que eu emendo uma festa na outra.. acho até que é por isso que eu tô meio distraída assim sabe... começo a falar e me esqueço, parece que os meus pensamentos vão correndo mais que eu (risos)...Parece comigo, ontem até peguei o carro e viajei para a praia pra tomar banho de mar.. fui e voltei voando, voando mesmo.. (risos)..mas tô ótima...É como se eu fosse a rainha do mundo... 24 Caso 13 – LUCIANO Leia o caso e preencha a tabela com os sintomas, funções e áreas do ego e a tabela do diagnóstico multiaxial: Homem confessa assassinato da esposa em Blumenau Claudete Apolinário foi esfaqueada na frente da filha do casal, de seis anos. Luciano Antunes, de 32 anos, confessou na terça, dia 19, o assassinato da ex-mulher, Claudete Apolinário, na quinta-feira, em Blumenau. A filha do casal, de seis anos, presenciou o crime. A confissão foi feita à delegada da Criança, Mulher e Adolescente, Adriana Brunato de Souza. Antunes estava foragido desde a madrugada do crime e, no sábado, deu entrada no Hospital Santa Isabel com ferimentos provocados por uma tentativa de suicídio. Ele teve alta na terça e foi logo encaminhado para a delegacia. Após uma hora de conversa com a policial, sem a presença de nenhum advogado, ele foi encaminhado para o Presídio Regional de Blumenau por 30 dias. A operária Claudete Apolinário, de 36 anos, morreu com 23 facadas, a maioria nas costas e peito desferidos pelo ex-companheiro. Ela e Antunes estavam separados. No dia do crime, Claudete foi surpreendida pelo ex-marido quando tomava café. Segundo testemunhas, o homem carregou a mulher pelos cabelos para fora da casa e a matou. Com informações do Jornal de Santa Catarina. Notícia retirada do site www. Clicrbs.com.br em 29.10.04 ATIVIDADE: O advogado de defesa de Luciano Antunes lhe procura e pede para fazer uma avaliação psicológica judicial, alegando insanidade mental do réu. Partindo de uma entrevista fictícia do réu, na qual ele relata os momentos que antecederam o acontecido, você deve fazer um diagnóstico multiaxial, justificando os critérios apontados no diagnóstico principal, os mecanismos de defesa do eixo II, eixo III, IV e V quando possível, o prognóstico e uma indicação terapêutica. Em anexo, um relato de entrevista com o réu e elementos para a confirmação da entrevista. Relato da Entrevista: - Luciano, estou aqui para fazer uma avaliação diagnóstica para o seu processo. Vou precisar da sua colaboração. Preciso saber o que estava acontecendo antes do ocorrido. Você pode me contar? - Posso sim. Meu advogado disse que eu devo contar tudo para o senhor. Eu tava louco... para fazer aquilo só tando louco... Vou contar tudo para o senhor ver como é que foi... Foi uma calamidade, se ela tivesse feito diferente, nós tavamos junto ainda.... (silêncio).. Eu conheci a Claudete quando eu era um guri. Ela morava no fim da minha 25 rua, tinha o cabelo comprido e era muito direita. Acho que me apaixonei porque ela era diferente, não era dada que nem as outras... Sempre foi decente. Naquela época, não dava confiança pra ninguém... Eu era amigo do primo dela e foi num aniversário que nós falamos pela primeira vez. Tinha um sorriso lindo. Levei quase uns dois anos para chegar nela. Fui para o quartel e quando eu voltava, se ela me via, me abanava. Ficamos de conversa um ano. Depois fui na casa pedir ela em namoro para o pai dela. Só podia namorar em casa, com a mãe junto. Se saía, a irmã ia junto ou as tias. Acabamos nos casando há uns 8 anos. Ia fazer 8 anos, agora em dezembro. (fica um pouco abatido...) mas aconteceu essas coisas... (Levanta e caminha pela sala. Volta para a cadeira) - Eu sempre trabalhei num hospital. Fazia plantão por escala, eu era serviços gerais. Sempre gostei do trabalho, faço tudo certo. Meu patrão até veio me visitar, disse que não podia acreditar que eu tinha feito aquilo...Eu tava possuído, só pode.... (silêncio)... Bom, as coisas começaram já faz um tempo. Eu sempre fui meio ciumento, a Claudete até achava bom no início, dizia que era “amor‟. Depois ela começou a reclamar, a ficar chateada, mas é que eu não tava conseguindo controlar. Depois da nossa filha, eu fiquei menos ciumento dela e mais da menina. Sempre foi uma doçura de menina... (silêncio)... Depois, as coisas começaram a apertar, o dinheiro ficou curto, a menina tava indo para a escola e não tava mais dando, né? Foi aí que a Claudete resolveu que ia trabalhar... Botou essa droga de idéia na cabeça e não tirava mais... dizia que ia ser diarista, que a tia ia conseguir um emprego para ela, que tava tudo certo... Eu disse que não, que ela não ia ficar andando pela rua para os outros ficarem mexendo com ela, que eu trabalhava e ela ficava em casa. Começamos a brigar mais e mais. Eu falava e ela não me obedecia... Um dia dei um tapa.. foi fraquinho, mas ela ficou muito magoada. Pedi desculpa, disse que ela era o que mais importava, que eu fazia tudo aquilo porque eu amava ela. E como eu amava – e amo – ela... Pra sempre... (chora)... Mas ela ficou mais braba e aí começou a me desafiar... Comecei a ficar desconfiado... Comecei a ficar de olho nas roupas dela.. Queria saber onde ela tava, que horas ela ia e vinha... Ela começou a ficar irritada, brigava comigo o tempo todo.. Não percebia que eu fazia isso porque amava ela... depois disso começou a ficar amiga de uma vizinha.. Foi uma influência terrível para ela... Não fazia as coisas da casa, nem cuidava da menina direito... Comecei a desconfiar que ela tava tendo um outro cara... Mulher não vira a cabeça sozinha... Acho que ela tava me corneando... Não sou homem de levar chifre, né? Fui atrás... Vi ela conversando com um cara do mercado. Na hora me caiu a ficha. O cara todo sorridente, falando com ela, maior intimidade... Ela até riu para ele. Me subiu o sangue... Peguei o cara e dei umas porradas, dentro do mercado. Os outros apartaram, mas eu prometi que ia acabar com os dois. Ficava imaginando ela rindo pra ele... (contrai-se todo, como se sentisse dor) ... Foi muito ruim... Fiquei odiando eles, mas amava ela ... Não queria que ela fosse embora, mas ela chegou em casa, disse que bastava e foi para casa da mãe dela... Eu resolvi que não ia ficar na casa...Não podia, ficava imaginando ela com outro cara, talvez até na minha cama... Fui morar na casa do meu tio... Mas eu fiquei cuidando ela... Entre essas coisas dela querer trabalhar e o ocorrido foi pouco tempo... Foi depois do aniversario dela, faz uns 3 meses... Como é que alguém pode mudar tanto em tão pouco tempo...Uma mulher decente, me fazendo aquilo... Teve um dia que eu até senti o cheiro do maldito no corpo dela. O cheiro entranhou em mim...Não conseguia afastar de mim... (fica em silêncio). Depois que eu saí de casa, ela voltou com a menina. Eu fiquei cuidando, umas vezes até bati na porta, quebrei o vidro.. queria ver quem era o safado que tava com ela.. nuncapeguei, mas tenho certeza que era o safado do mercado... Só que depois aconteceu o ocorrido... (fica em silencio, constrangido) 26 Eu vi, juro que vi... tava na rua e vi um cara na janela do quarto... O safado tava lá...Perdi a cabeça... Entrei em casa, uma fúria... A Claudete tava na cozinha, de costas... Agarrei ela pelos cabelos e levei ela pela casa, arrastada.. Ela gritava.. A menina acordou e começou a gritar também...Eu tava cego, tava cego.. Como eu não encontrei o safado, achei que ele tinha fugido para o fundo do pátio... Ameacei ela, que ela tinha que contar...ela gritava que não tinha ninguém...mas eu sentia que tinha, que ela tava mentindo... Foi aí que eu perdi o controle... (chora intensamente)... se ela não tivesse feito aquilo, se ela não tivesse se oferecido, nós íamos ser uma família decente... Porque ela fez isso comigo, hein? Depois eu acabei me escondendo, sabe... Me dei conta que fiz uma bobagem com ela.. Nem sei se anossa filha vai nos perdoar nunca... tentei me matar, mas me encontraram e me levaram para o hospital e agora eu tô aqui... Entrevistas Complementares (trecho): A mãe relata que a filha teve um casamento bom, até que o marido começou a ficar muito desconfiado, principalmente, nos últimos meses. Ficava dizendo que ela tinha outro, que ela tava ficando muito leviana, implicava com a roupa... Disse que uma vez ele havia perguntado se a filha era dele mesmo.. Ela estava muito magoada e depois de uma violenta briga, foi ficar uns dias com a mãe. A mãe relata que a filha nunca teve envolvimento nenhum, fora o marido. A vizinha confirma as afirmações da mãe e diz que o marido ficou mais violento e agressivo nos últimos meses. Ela ouvia os gritos e as brigas do casal nesse período. 27 Caso 14 – ALINE Leia o caso e complete a tabela com o diagnóstico multiaxial: Aline, 27 anos, estudante de Psicologia da Ulbra, vem ao serviço por encaminhamento do clínico geral. Segue relato da entrevista e da História Pregressa, colhida junto da paciente e de seus familiares. História Pregressa: Segundo relato da mãe, Aline sempre foi uma criança de muitos “dotes”. Sempre gostou de “fazer teatrinho, de brincar e cantar na frente do outros”. Desde muito pequena, dançava e cantava quando as visitas chegavam e, quando contrariada, chorava muito. A família acabou por se acostumar com os seus comportamentos. Tinha ciúmes da irmã, pois achava que ela era mais bonita e acabavam convidando ela mais para fazer coisas do que ela (Aline). Na adolescência, sempre preferiu o estilo “exagerado, com roupas justas e cores fortes. Nunca estava simplinha, parecia que ela sempre precisava mostrar que estava lá, que havia chegado” (relato da mãe). Relata ainda que sempre “estava falando de como estava bem, de como os meninos a queriam ficar com ela e acabavam correndo atrás dela. Ela dizia que isso incomodava, mas no fundo todo mundo sabia – inclusive ela – que ela adorava isso”. Segundo a irmã, “as coisas começaram a piorar quando ela começou a namorar o Fábio. Ela tinha uns 20 e ele tinha uns 17. Ele era um malandro, maconheiro, sem-vergonha, que ficava dando voltas pela quadra. Ela no início achava ridículo, mas acho que ela acabou gostando dele. Ele sumiu. Pouco tempo depois ela viu ele de amasso com outra, se sentiu trocada e aí começou tudo”. Relato da mãe: “ Ela começou a exagerar mais ainda. Botava umas roupas muito provocantes, muito justas. No casamento da prima, usou uma lingerie e por cima um vestido todo transparente. Parecia que se não olhassem para ela, se não a achassem ela a mais gostosa de todas as mulheres, ela não tava satisfeita. As vezes, quando os outros olhavam muito, com olhar de reprovação ela ficava abalada. Corria para o banheiro e chorava. Parecia que ela fazia para chamar a atenção e os outros tinham que aplaudir, mas se alguma coisa desse errado ela sentia como se fosse o fim do mundo”. A mãe ainda relata: “Teve um tempo que teve uma amiga tão louca quanto ela. A amiga falava e a Aline fazia tudo. A outra tinha uma influência sobre ela, como se ela fosse comandada pela opinião da outra. Quando era pequena e na adolescência isso acontecia também, mas com essa amiga era mais ainda”. Completa ainda: “Ficava amiga de todo mundo. Parecia que todo mundo era amigo. Falava dois minutos e já tava íntima. Emprestava coisas, levava pra casa. Nem sabia quem era e parecia que era amiga desde criancinha”. História Atual: Aline relata em sua entrevista: - Fiquei muito estranha de uns tempos pra cá. Eu tenho motivo, é claro. Há uns 2 meses eu tava na rua, voltando pra casa e um cara veio por trás de mim e me agarrou, 28 me arrastou para o pátio de uma casa e tava tentando me violentar. Me rasgou a blusa e me botou a mão por dentro do top que eu usava. Com a outra mão ele tapava a minha boca. Eu fiquei desesperada, sem ter o que fazer. Ele era muito grande e forte. Achei que ele ia me matar. Tava escuro, muito escuro. Só sei que uma hora ele foi abrir a calça dele e a mão dele que tava na minha boca ficou mais afastada. Dei uma mordida. Mordi com força, com tanta força que acho até que sangrou. Fiquei com gosto de sangue na boca, não sei se dele ou se da minha boca machucada. Consegui sair e gritar. Um carro parou e eu fui pra polícia. Pegaram o cara umas 2 semanas depois, mas eu fiquei muito estranha. Fica toda hora aquilo passando na minha cabeça. Cada coisa que eu vou fazer na rua, tá sempre aquela imagem lá. Não passo mais por aquela rua, não tava mais nem querendo ir pra Universidade. Eu caminho na rua e parece que vai acontecer. Tô toda hora me assustando com alguma coisa, um vulto, uma pessoa, até um som mais alto me deixa assim. Tenho pesadelos todas as noites, nem consigo dormir direito por causa disso. Acabei por me afastar dos meus amigos, fico envergonhada parece que fui eu a culpada. Não saio mais, não quero estudar, não quero nem ficar perto de ninguém. Nunca mais fui à festas, nada, nunca mais. Tem outra coisa também, depois dessa situação eu comecei a fazer algo terrível, mas que eu não consigo parar. Quando eu como, principalmente, carne ou outra coisa que tem que mastigar, eu mastigo mas tenho que cuspir fora. Só consigo comer sopas ou cremes. Líquidos também. Perdi peso, tô ficando fraca, mas não consigo engolir, tranca tudo. Tenho medo de acabar doente por causa disso, mas não sei como fazer. Tô disposta a me tratar, a tomar remédio. Só passando por essa situação é que a gente sabe como se sofre, como é quase impossível sair disso. Será que tem como eu sair dessa? 29 Caso 15 – LUCIANA (A) Leia o caso e classifique o diagnóstico multiaxial: Luciana, 28 anos, irmã mais velha de três filhos, veio para atendimento encaminhada pelo HUSM. Apresentava um comportamento resistente e negativista, num primeiro momento. Veio acompanhada pela mãe e pelo pai. Junto aos pais, foram colhidas informações da história pregressa da paciente. História Pregressa: Segue relato da mãe: - A Luciana sempre foi um bebê meio rebelde. No início não queria mamar no peito, depois aceitou, mas eu sempre tinha a sensação que era meio forçada. Ela mamava porque precisava. Sempre inquieta. Parecia que não gostava de ficar perto da gente. Depois, quando cresceu isso foi mudando. Ficava perto, às vezes até grudava demais. Tinha um ciúme dos outros filhos.
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