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A limitação voluntária dos direitos da personalidade

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A “LIMITAÇÃO” VOLUNTÁRIA DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE NO 
DIREITO CIVIL CONTEMPORÂNEO 
 
Iuri Bolesina1 
Helena Carolina Schroeder2 
 
RESUMO: Sob a lógica da constitucionalização do direito civil e através dos 
aportes da fenomenologia-hermenêutica, intenta-se um estudo jurídico e crítico 
acerca da possiblidade de renúncia total ou parcial do exercício dos direitos da 
personalidade como deferência à dignidade humana. Assim, no primeiro item 
realizou-se uma abordagem conceitual e histórica sobre a repersonalização do 
direito privado. Em seguida, o estudo dedicou-se a elucidar a posição jurídica 
dos direitos da personalidade no ordenamento legal brasileiro. Por fim, analisou-
se criticamente a possibilidade ou não de renúncia total ou parcial do exercício 
dos direitos da personalidade. Em conclusão, obteve-se, em termos gerais, 
como acertada a posição que vê na possibilidade de renúncia total ou parcial dos 
direitos da personalidade efetiva deferência à dignidade humana. Afinal, é a 
partir da renúncia total ou parcial do exercício de direitos da personalidade que 
uma pessoa pode ser o que ela é ou pretende ser (livre desenvolvimento da 
personalidade), sentindo-se bem consigo mesma, e buscar seus projetos de 
vida. Isto, todavia, merece ressalvas: a disponibilidade do exercício não pode se 
traduzir em autolesão à dignidade humana, tampouco atrofiamento das 
singularidades de cada fase do desenvolvimento humano. 
Palavras-chave: Direito civil constitucionalizado. Direitos da personalidade. 
Renúncia do exercício. Limitação voluntária. Dignidade humana. 
 
ABSTRACT: Under the logic of constitutionalization of private law and through 
the contributions of phenomenology, tries to be a legal and critical study of the 
possibility of full or partial waiver of the exercise of personal rights in deference 
to human dignity. Thus, the first item there was a conceptual and historical 
 
1 Doutorando e Mestre em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Especialista 
em Direito Civil pela Faculdade Meridional – IMED. Professor da faculdade de direito da 
Faculdade IMED. E-mail: iuribolesina@gmail.com 
2 Acadêmica da faculdade de direito da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Bolsista de 
iniciação científica - PUIC. Integrante do Grupo de Pesquisa “Intersecções jurídicas entre o 
público e o privado”, coordenado pelo Pós-Dr. Jorge Renato dos Reis, vinculado ao CNPq. E-
mail: helenacschroeder@hotmail.com 
approach to repersonalization of private law. Then, the study set out to clarify the 
legal position of the personality rights in the Brazilian legal system. Finally, it was 
examined critically whether or not to waive or partially waive the exercise of 
personal rights. In conclusion, we obtained, in general terms, as the right position 
to understand about the possibility of total or partial waiver of the rights of 
personality in effective deference to human dignity. After all, it is from the 
complete or partial waiver of the exercise of the personality rights that a person 
can be what it is or intends to be (free development of personality), feeling good 
about yourself, and get your life projects. This, however, deserves reservation: 
the availability of exercise can not be reflected in self-injury to human dignity, 
either atrophy of the singularities of each stage of human development. 
Keywords: Constitutionalized civil law. Personality rights. Waiver of exercise. 
Voluntary limitation. Human dignity. 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Com o advento da Constituição Federal de 1988 e, posteriormente, do 
Código Civil de 2002, o ordenamento jurídico brasileiro passou por mudanças de 
perspectiva no seu acontecer. Migrou de uma lógica individual e patrimonialista 
para uma lógica centrada na pessoa e na dignidade humana. Com efeito, 
positivaram-se direitos muito caros à pessoa e à sua dignidade, aos quais se 
denominou direitos da personalidade. Originalmente, tais direitos integravam o 
rol patrimonial do seu titular e serviam como bases de resistência aos abusos do 
Estado, dos particulares e do próprio titular destes direitos, abusos que, 
paradoxalmente, eram assinalados pelo próprio Estado, ou seja, um dos 
possíveis violadores. 
Em face disso, parte dos pesquisadores percebeu que o tratamento que 
estava sendo dedicado aos direitos da personalidade não se coadunava com as 
perspectivas contemporâneas. Foi nesse momento que se começou a cogitar, 
em deferência à própria dignidade humana expressada na condição de livre 
desenvolvimento da personalidade, a possibilidade de renúncia total ou de 
disponibilidade parcial no exercício dos direitos da personalidade. A hipótese 
permanece em aberto e é a partir dela que se busca desenvolver o estudo 
presente. 
Dito isso, arquiteta-se a estrutura do presente texto em três eixos. No 
primeiro, o foco recairá sobre a proteção da dignidade da pessoa humana no e 
pelo direito privado brasileiro, com ênfase nas disposições do Código Civil, a 
partir do que se convencionou denominar constitucionalização do direito privado. 
Nesse ínterim, portanto, almeja-se aclarar questões conectadas à 
repersonalização do direito privado e às teorias e práticas jurídicas que orbitam 
determinantemente esta temática. 
Na sequência, o segundo espaço do artigo dedicar-se-á a traçar um perfil 
acerca da posição jurídica dos direitos da personalidade no ordenamento legal 
brasileiro. Para tanto, centralizar-se-á no tratamento jurídico-legal dos direitos da 
personalidade, ou seja, nos debates que dizem respeito ao paralelismo que tais 
direitos possuem com os direitos fundamentais e, também, nas celeumas que 
envolvem a necessidade e utilidade prática entre optar-se por uma cláusula geral 
de tutela da personalidade ou entre um rol taxativo destes direitos. Vale observar 
que não se terá a intenção, pelo menos não neste momento, de observar a sua 
natureza jurídica e caracteres fundantes dos direitos da personalidade. 
Ao final, no terceiro item do desenvolvimento do estudo, tencionar-se-á 
agregar valor à discussão sobre a possibilidade ou não da renúncia ou da 
disponibilidade parcial do exercício dos direitos da personalidade ou mesmo dos 
direitos em si, como eventualmente cogita-se na doutrina. Destarte, a partir dos 
constructos dos dois primeiros itens e com o auxílio de alguns exemplos 
concretos buscar-se-á imergir no tratamento que o ordenamento jurídico 
brasileiro dedica a essa questão. 
 
2 A DIGNIDADE HUMANA E O DIREITO CIVIL CONTEMPORÂNEO 
 
A aceitação da dignidade humana como pilar central da ordem jurídica 
brasileira deve muito ao processo que se popularizou como “constitucionalização 
do direito” e, mais especificamente, no espaço do direito civil, como 
“constitucionalização do direito civil” (PERLINGIERI, 2008, p. 1; SARLET, 2008, 
p. 306). A alocação da dignidade humana no centro do ordenamento jurídico 
brasileiro deu-se com a Constituição Federal de 1988 (artigo 1º, III), a qual 
inaugurou, no documento público e oficial de maior relevância, o pensamento 
jurídico centrado na dignidade humana. Tal noção, que foi seguida pelo Código 
Civil de 2002 – todavia, não sem resistência neste âmbito –, trouxe notável 
transformação no códex que necessitou reformular-se, culminando no 
cadenciado enfraquecimento do excessivo individualismo e patrimonialismo que 
pautavam as relações desenvolvidas neste espaço, em prol de uma visão que 
privilegiasse a dignidade e a pessoa humana. 
Esse movimento jurídico consolidou fenômenos que foram resumidos nos 
títulos “despatrimonialização” e “repersonalização” do direito civil, os quais 
conduziram a inovações e à positivaçãode institutos neste cenário, dentre as 
quais o reconhecimento da solidariedade jurídica, da boa-fé objetiva (MARTINS-
COSTA, 1999), da função social, do patrimônio mínimo (FACHIN, 2006), dentre 
outros, os quais, em retroalimentação, serviram como mecanismos jurídicos de 
consolidação da dignidade humana como fundamento do direito privado 
constitucionalizado. Igualmente, é acertado asseverar que tais fenômenos 
edificaram os pilares fundacionais do Código Civil de 2002: rigor técnico e lógico, 
proximidade com as estruturas dos sistemas jurídicos de Portugal, Alemanha e 
Itália, eticidade, socialidade e operabilidade (TIMM, 2008, p. 53-55). 
Nesse contexto, a despatrimonialização e a repersonalização do direito 
privado servem como matriz que coloca a pessoa humana em primeiro lugar, 
mas não no sentido clássico liberal burguês presenciado nos anos que 
sucederam a Revolução Francesa (individualismo, atomismo e patrimonialismo 
ao extremo), e sim numa perspectiva crítica que torna a pessoa humana e sua 
dignidade o elemento principal do arranjo jurídico e o patrimônio, por seu turno, 
como coadjuvante (FACHIN, 2003, p. 218). Indo além, é possível afirmar que o 
grande desafio dos intérpretes do direito privado constitucionalizado é perceber 
que a pessoa humana passa a ser sujeito de direitos nascidos da dignidade 
humana e não mais sujeitos do direito, objetos de trabalho do direito, que sob a 
lógica do patrimonialismo eram tutelados. Em síntese: o patrimônio serve à 
dignidade e não o inverso (LÔBO, 1999, p. 103). 
Outra modificação deveras relevante para o direito privado trazida pela 
sua constitucionalização é o reconhecimento de uma nova lógica normativa. 
Agora percebe-se uma clara distinção em grau e gênero entre princípios, direitos 
fundamentais e regras que, apesar da diferenciação entre si, capitaneados pela 
dignidade humana conjugam forças para a harmonização e interpretação 
teológica do sistema jurídico. Ocorre, em síntese, uma circularidade simbiótica 
entre normogênese e densificação, ou seja, ao tempo que os princípios e/ou os 
direitos fundamentais dão vida a uma regra, esta regra evidencia em concreto o 
conteúdo daquele princípio ou direito fundamental que lhe deu razão de ser. De 
tal forma: 
A concepção principiológica do Direito Civil dá margem à revisão dos 
estatutos clássicos do Direito Civil, repondo o ser humano, e seu 
ambiente sustentável, no patamar de entes de máxima relevância ao 
ordenamento jurídico. Com isto se impõe uma releitura cabal das 
instituições de Direito Privado, ainda arcaicas em face do 
conservadorismo da dogmática reinante, de caráter patrimonialista. [...] 
O Código, como qualquer conjunto de regras, deve ser analisado como 
via concretizadora dos princípios aos quais densifica (ARONNE, 2013, 
p. 107-108) 
 
Em outra seara, o movimento de repersonalização do direito privado, no 
que tange à aplicação concreta dos institutos do direito privado, notadamente 
com o reconhecimento dos direitos da personalidade, fez com que o Código Civil 
de 2002 abandonasse as linhas interpretativas exegetas e liberais oitocentistas 
fundadas no conceitualismo (FACHIN, 2015, p. 26), o que culminou numa 
renovada visão da pessoa humana. Significa dizer, em termos práticos, que cada 
pessoa humana passa a ser vista como única, dotada de uma singularidade 
exclusiva, identicamente aos seus semelhantes, também dotados de suas 
singularidades exclusivas, o que não quer importar em individualismo e 
insulamento em si mesmo. 
Destarte, instala-se uma relação paradoxal: de um lado, a pessoa 
humana é considerada como igual, provida de igual dignidade humana como 
seus semelhantes e, portanto, titular e carecedora de tratamento isonômico; e, 
de outro lado, é reconhecida em sua individualidade concreta, carecedora de 
tratamento diferenciado. Tal paradoxo conduz o direito civil para além das 
teorizações e previsões legais abstratas, exigindo a sua interpretação nas 
relações existenciais únicas, ou seja, caso a caso (SILVA FILHO, 2007, p. 2783). 
Ao lado disso, a constitucionalização do direito, no que diz respeito à 
repersonalização do direito civil, trouxe consigo o reconhecimento e a 
intensificação da aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas, 
fazendo valer e fazendo-se valer das teses jurídicas oriundas da teoria dos 
direitos fundamentais. Neste sentido, a dignidade da pessoa humana é blindada 
por lógicas como força normativa da Constituição, eficácia irradiante e dever 
constitucional de proteção e promoção dos direitos fundamentais, bem como 
aplicação direita e imediata dos direitos fundamentais nas relações particulares 
(HESSE, 1991; CANARIS, 2003). 
Ademais, há renovação nas técnicas legislativas, onde a rigidez das 
regras é abrandada pela flexibilidade das disposições normativas de conteúdo 
aberto (clausulas gerais) (TEPEDINO, 2007, p. XIX). No mesmo sentido, a 
jurisdição constitucional (especialmente no controle difuso) tem poder-deveres 
renovados, visando o fiel cumprimento das previsões da Constituição Federal. 
Portanto, a alocação da dignidade da pessoa humana no seio do direito 
civil perpassou e ainda perpassa, por um processo de aceitação e absorção de 
novas racionalidades jurídicas. Essas racionalidades nada mais almejam que o 
livre e autônomo desenvolvimento da pessoa – logo, também nas relações civis. 
Trata-se do reconhecimento da materialidade existencial humana, a qual deve 
estar desprendida das amarras que o direito fruto da modernidade jurídica 
ingenuamente visava impor à realidade para contê-la (GROSSI, 2004, p. 53). 
 
3 A POSIÇÃO JURÍDICA DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE NO 
ORDENAMENTO BRASILEIRO 
 
O ponto de partida quando se pretende trabalhar os direitos da 
personalidade contemporaneamente deve ser sempre a complexidade da 
pessoa humana, da dignidade humana e do contexto existencial do tempo 
presente. Isso alerta àqueles que pretendem buscar um conceito definitivo ou 
neutro de direitos da personalidade, bem como àqueles que visam tipificar um 
rol exaustivo de direitos da personalidade, para a ingenuidade que tais esforços 
representam. Afinal, é fácil perceber como a cada momento novos riscos e 
desafios surgem à personalidade humana, demandando novos direitos e formas 
de tutela. 
De forma introdutória e fugaz, poder-se-ia dizer que os direitos da 
personalidade são um conjunto de direitos que todos possuem, mas que em 
cada pessoa manifestam especificidades distintas, sendo tão próprios de cada 
qual que por vezes chegam a confundir-se com o sujeito e expressar a sua 
personalidade a terceiros (BELTRÃO, 2014, p. 10)3. Assim, apenas para ilustrar, 
no Brasil, estariam pacificamente neste conjunto de direitos, por exemplo, a 
imagem, a integridade psicofísica, a privacidade e a honra. 
A concretização dos direitos da personalidade no Brasil, sob a égide do 
direito repersonalizado pela primazia da dignidade da pessoa humana, iniciou-
se com a Constituição Federal de 1988. No âmbito constitucional, sua tutela de 
modo direto ou conexo aparece claramente no artigo 1º, III (que prevê a 
dignidade humana como princípio fundamental); no artigo 3º, incisos I e IV (que 
tratam do desenvolvimento livre, isonômico e solidário); de forma direita e 
indireta ao longo dos artigos 5º, 6º e 12 (que trata dos direitos fundamentais de 
primeira e segunda dimensões, assim como dos direitos de nacionalidade, em 
todos os casos possibilitando o livre desenvolvimento da personalidade); e, ao 
longo de outros direitos fundamentais, esparsamente e implicitamente previstos 
na Constituição (como nos artigos 7º, 194, 205, 225, 226 e 227, para ficar apenas 
nestes). 
Vale destacar que o Brasil reconheceuno artigo 1º, III, da Constituição 
Federal, uma cláusula geral de tutela dos direitos da personalidade, a exemplo 
do que já se verificava no direito luso (SOUSA, 1995, p. 104-105) e no direito 
germânico (MIRANDA; RODRIGUES JUNIOR; FRUET, 2012, p. 20-21), por 
exemplo. A cláusula geral de tutela dos direitos da personalidade é uma previsão 
que tutela de modo amplo a personalidade, acolhendo todas as suas possíveis 
manifestações e agindo de modo a promover a personalidade e a reparar 
eventuais violações. Destarte, é uma anotação legislativa material 
jusfundamental que não limita a personalidade humana a uma ou outra das suas 
manifestações (como ocorre com as perspectivas pluralistas-tipificadoras 
(PERLINGIERI, 2007, p. 154)). 
Como é de se intuir, tal ideia é extremamente sedutora e, ao mesmo 
tempo, frágil. Sedutora porque possibilita uma abertura material de tutela da 
dignidade humana, na sua expressão dos direitos da personalidade, viabilizando 
e potencializando o livre desenvolvimento da personalidade através de direitos 
tipificados e não tipificados; frágil, pois relega o seu reconhecimento a uma 
 
3 Os direitos da personalidade, naquilo que é juridicamente possível, aplicam-se as pessoas 
jurídicas. Todavia, considerando as pretensões ora intentadas, deixar-se-á de lado o que tange 
as pessoas jurídicas. 
espécie de “boa vontade” – à discricionariedade – estatal, especialmente, do 
Poder Judiciário que, ao fim e ao cabo, é quem realiza a última salvaguarda 
jurídica. Logo, padeceria a cláusula geral de tutela da personalidade de um 
atrofiamento ingênito de suas possibilidades (ALMEIDA, 2012, p. 92-93). 
Mencionado atrofiamento ingênito acaba engendrando efeitos concretos 
no momento da tutela efetiva dos direitos da personalidade. Se de um lado é 
verdade que o reconhecimento irrefletido de direitos da personalidade significa 
banalizá-los, por outro lado e ao mesmo tempo, prender-se a um rol engessado 
é menosprezar a complexidade da pessoa e da dignidade humana. Assim: 
 
[...] mostra-se insuficiente qualquer construção doutrinária que, 
tipificando vários direitos da personalidade ou cogitando um único 
direito geral da personalidade, acaba por limitar a proteção da pessoa 
à atribuição de poder para salvaguarda meramente ressarcitória, 
seguindo a lógica dos direitos patrimoniais. Critica-se nesta direção, a 
elaboração corrente, que concebe a proteção da personalidade aos 
moldes (ou sob o paradigma) do direito de propriedade. A 
personalidade humana deve ser considerada antes de tudo como um 
valor jurídico [...] de modo a se proteger eficaz e efetivamente as 
múltiplas e renovadas situações em que a pessoa venha a se encontrar 
(TEPEDINO, 2007, p. XXIII). 
 
De qualquer forma, além do alcance material proporcionado pela 
cláusula geral de tutela dos direitos da personalidade há, ainda, a previsão do § 
2º, artigo 5º da Constituição Federal, na qual está a cláusula de abertura e 
recepção da Constituição aos direitos fundamentais. Tal elemento normativo 
possibilita que direitos que sejam reconhecidos como fundamentais em sentido 
material (e não obrigatoriamente em sentido formal) (SARLET, 2010, p. 74) 
advindos dos tratados internacionais de que o Brasil seja parte e/ou do regime 
ou princípios constitucionais possam ser anexados ao rol de direitos 
jusfundamentais tutelados pelo Estado brasileiro. 
Todos esses elementos confluem para a percepção de que a proteção 
da Constituição brasileira à personalidade humana é bastante ampla e dinâmica. 
Sem embargo dessas previsões, existem outras previsões em leis 
infraconstitucionais, tais como o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei de 
Biossegurança, o Estatuto da pessoa com deficiência, o Estatuto do Idoso, etc. 
Bastante especificamente, no Código Civil de 2002 – pioneiramente na história 
brasileira – tratou-se de positivar expressamente um rol de direitos da 
personalidade, ao longo dos artigos 11 a 21, elencando em formulações gerais 
basicamente o direito à integridade psicofísica (artigos 13 a 15), ao nome e ao 
pseudônimo (artigos 16 a 19), à imagem (artigo 20) e ao direito à privacidade 
(artigo 21). 
Diante disso, se por um lado a tipificação desses direitos apaziguou o 
debate acerca da existência e possibilidade de tutela destes direitos enquanto 
direitos subjetivos – celeumas geradas pelas teorias negativistas (SZANIAWSKI, 
2005, p. 43) –, por outro lado alimentou a discussão sobre a aparente 
perfunctoriedade destas positivações, uma vez que as previsões ali contidas 
expressamente já apareciam em maior medida na Constituição Federal. Daí 
porque exige-se, atualmente, uma harmonização do parco rol de direitos da 
personalidade da legislação infraconstitucional com as previsões mais amplas 
da Constituição Federal. Demanda-se, ao fim de tudo, o reconhecimento do rol 
aberto ou exemplificativo dos direitos da personalidade expressamente 
positivados (caráter de numerus apertus destes direitos) (BELTRÃO, 2014, p. 
59-60) Não fosse isso, estar-se-ia fadado ao não reconhecimento de novos 
direitos da personalidade ou, ao menos, ao trabalho hercúleo de demonstrá-los 
como integrantes do núcleo de um dos direitos já tipificados. 
Além disso, questionou-se que o trato dos direitos da personalidade 
como direitos subjetivos sob a lógica da modernidade jurídica os relegaria à 
qualidade de direitos patrimoniais exclusivamente, o que não se coaduna com a 
repersonalização do direito privado (DONEDA, 2007, p. 42-44). Logo, pertinente 
uma atuação preventiva e repressiva de tutela dos direitos da personalidade, 
vendo-os como direitos subjetivos, mas ao mesmo tempo como direitos 
objetivos, possibilitando não apenas o tratamento através das vias da 
responsabilização e reparação (civil ou penal), mas também a partir de ações 
como políticas públicas e ações/investimentos privados autônomas, 
impulsionando pautas impostas no aspecto objetivo destes direitos (TEPEDINO, 
2007, p. XXV). 
 
4 A DISPONIBILIDADE RELATIVA E VOLUNTÁRIA (NO EXERCÍCIO) DOS 
DIREITOS DA PERSONALIDADE COMO DEFERÊNCIA À DIGNIDADE 
HUMANA 
 
O tempo presente, marcado por tensões de perspectivas modernas e 
pós-modernas, facilmente ilustradas pelos paralelos dos destempos engessados 
do direito frente à fluidez dinâmica das novas tecnologias e mídias, demanda dos 
juristas uma revisão crítica dos conceitos tidos como uníssonos até pouco tempo. 
Tecnicamente, já a partir da Constituição Federal de 1988 e, posteriormente, 
com o advento do Código Civil de 2002, os direitos da personalidade deveriam 
ser lidos sob o viés que privilegia a dignidade humana em detrimento do 
excessivo patrimonialismo outrora reinante no âmbito do direito privado. Não 
obstante, há evidente resistência a isso sob argumentos que vão desde razões 
jurídicas (mais ou menos) vazias até moralismos e fundamentalismos. 
Logo, a clássica estrutura dos direitos da personalidade, estendida ao 
exercício desses direitos4, que os vê como inatos, absolutos, extrapatrimoniais, 
intransmissíveis, impenhoráveis, vitalícios, necessários e oponíveis erga omnes 
(BITTAR, 2008, p. 11), passa, no que diz respeito majoritariamente ao seu 
exercício, a ser alvo de reconsideração, tendente, se não a viabilidade de uma 
renúncia total (STANCIOLI, 2010, p. 97), ao menos de uma disponibilidade 
relativa (CANTALI, 2009, p. 259). Neste sentido, há clara distinção entre os 
“direitos” da personalidade e o “exercício” destes direitos. 
Efetivamente, os exemplos contemporâneos revelam que as bases 
clássicas dos direitos da personalidade são desafiadas rotineiramente por 
práticas socialmente aceitas, note-se: a plena e voluntáriaexposição (da 
imagem, do pensamento, da honra, etc) em redes sociais de toda espécie; a 
participação voluntária em programas televisivos como Big Brother, Casos de 
Família e Teste de Fidelidade (que não obstante haja certeza do conteúdo ficto 
deste último programa, há clara exposição dos atores); a participação em 
esportes violentos ou perigosos como boxe, MMA e Wing Walking; a 
manipulação genética; a prática de nudismo em praias convencionais ou em 
protestos; a transformação corporal para saciar o desejo de vaidade ou mesmo 
buscando adequação físico-identitária, e a lista continua indefinidamente e 
 
4 “Por um lado, a renúncia ao exercício de um direito da personalidade, no plano valorativo, é a 
afirmação da autonomia da vontade da pessoa natural. [...] Situação plenamente diversa 
encontra-se quando uma pessoa perde a titularidade do direito. Neste caso, o direito da 
personalidade é extirpado, não existindo mais condições de possibilidade para seu exercício. [...] 
a ratio de ambos os casos é muito diversa. Além disso, na renúncia ao exercício, a personalidade 
jurídica do agente fica intacta, enquanto na renúncia à titularidade, há uma afetação da 
personalidade da pessoa natural” (STANCIOLI, 2010, p. 98-99). 
exponencialmente no contexto globalizado e pós-moderno5 (SCHREIBER, 2014, 
p. 26-27). 
Fato é que, em que pese o Código Civil de 2002, em seu artigo 11, venha 
a expressar que “[...] os direitos da personalidade são intransmissíveis e 
irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária”; no artigo 
13 disponha que “[...] é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando 
importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons 
costumes”; e ao longo dos artigos 11 e 21 traga previsões de várias ordens que 
vedam total ou parcialmente a limitação voluntária dos direitos de personalidade, 
a disponibilidade relativa e voluntária dos direitos da personalidade no seu 
exercício é o que pauta as atuais relações entre sociedade e direito. 
Em outros termos, seus caracteres distintivos clássicos são postos à 
prova em situações concretas que aclaram a relatividade, a patrimonialidade, a 
transmissibilidade, a penhorabilidade, a temporalidade, a limitabilidade e a 
facultatividade no exercício voluntário destes direitos (CANTALI, 2009, p. 255-
256). Isso, porém, a partir de uma leitura civil constitucionalizada, tem menos a 
ver com interesses patrimoniais e mais a ver com a satisfação dos desejos de 
transformação e ratificação da personalidade. 
Isso porque, contemporaneamente, tem-se uma leitura da autonomia da 
vontade distanciada do “atomismo” e da sua subserviência à ordem pública já 
que, ao revés, passa aquela a ser elemento constitutivo desta. Nessa coerência, 
a renúncia total ou parcial no exercício dos direitos da personalidade conecta-se 
com o livre e autônomo desenvolvimento da personalidade humana ínsito de 
cada pessoa (STANCIOLI, 2010, p. 109/124). 
Em termos mais rasos, é a partir da renúncia total ou parcial do exercício 
de direitos da personalidade que uma pessoa pode ser o que ela é ou pretende 
ser, sentindo-se bem consigo mesma. É a partir disso que pode ela buscar seus 
projetos de vida, por mais estranhos que possam parecer, desde que, todavia, 
 
5 “Se tentarmos prolongar a reflexão sobre a globalização em termos de pensamento jurídico, 
nos depararemos com a problemática do pós-modernismo em direito. O fato de que as duas 
problemáticas não sejam frequentemente associadas deve-se simplesmente ao fato de que elas 
parecem dizer respeito a comunidades científicas diferentes: a globalização seria 
preferencialmente assunto dos economistas e dos cientistas políticos, enquanto que o pós-
modernismo diria respeito, ao contrário, aos filósofos, e até mesmo aos sociólogos. Eu estimo, 
no meu entender, como jurista, que os problemas suscitados por uma e por outra possuem 
aspectos que se relaciona intimamente” (ARNAUD, 1999, p. 195-196). 
não se configurem em (auto)lesão à dignidade humana, observadas as 
singularidades de cada fase do desenvolvimento humano (como, por exemplo, 
o trabalho artístico infanto-juvenil sobrecarregado e glamurizado em comparação 
com o trabalho artístico adulto em mesmas situações). 
Para ilustrar, cogite-se como o célebre caso francês do lançamento dos 
anões poderia ter um desfecho distinto se analisado em um cenário de direito 
civil constitucionalizado, afinal, seria incoerente tolerar violentas batalhas de 
MMA ou a objetificação da mulher em programas como Pânico na Band e, ao 
mesmo tempo, proibir alguém, devidamente protegido, de ser lançado como bola 
de boliche (SCHREIBER, 2014, p. 1-2/28). Aliás, mencionado programa 
televisivo possui em um de seus quadros algo semelhante ao lançamento de 
anões, só que em uma versão “melhorada”: com anões e panicats. 
Recorde-se, aliás, que os direitos da personalidade são direitos 
fundamentais. Assim, podem sofrer limitações voluntárias ou não. Ao lado disso, 
são dotados de dimensões defensiva e promocional: na primeira buscando o 
respeito e a proteção contra violações ou ameaças; e na segunda determinando 
ações em prol da concretização destes direitos. A confluência destas das ideias 
faz com que os direitos da personalidade sejam efetivos “direitos” e não apenas 
“deveres” que o titular deve, tão-somente, proteger ou esperar uma violação para 
que possa usufruí-los (TEPEDINO, 2007, p. XXIII). 
Ciente disso é que as Jornadas de Direito Civil (capitaneadas pelo 
Superior Tribunal de Justiça e pelo Conselho da Justiça Federal) buscaram uma 
interpretação dignificada dos direitos da personalidade. Para tanto, sugeriram, 
em relação aos artigos 11 a 21 do Código Civil vigente, a possibilidade de 
autolimitação do exercício dos direitos da personalidade, reservando a 
apreciação de eventual inadequação para a análise caso a caso (CJF, 2012). 
Em que pese o avanço, as mesmas jornadas asseguraram ao julgador um 
espaço de discricionariedade baseado em elementos como “bons costumes” e 
“ordem pública”, os quais, deve-se reconhecer, são espaços de entrada para 
“ismos” (moralismo, patrimonialismo, fundamentalismo, paternalismo, etc.). Em 
determinadas situações, tais elementos obstaculizam o livre desenvolvimento da 
personalidade. 
Isso porque, o exercício dos direitos da personalidade acontece em 
cenários corriqueiros da vida que, em tese, não deveriam ser solucionados pelo 
direito como primeira opção (mas sim pela educação ou psicologia ou medicina, 
etc.)6 e que, justamente por isso, contam com efêmeros e/ou mórbidos traços 
legislativos ou jurisdicionais para sua solução (como, por exemplo, “bons 
costumes”) (ARONNE, 2006, p. 24). Aparecem sérias dificuldades advindas de 
percepções imprecisas e, não raro, afirmações vagas que podem ser motivadas 
pela influência de noções também vagas e imprecisas sobre tecnologia, ciência, 
religião, moral, justiça, etc. (SCHREIBER, 2014, p. 34). 
De qualquer forma a cautela é sempre bem-vinda, pois, se de um lado é 
imperioso repensar a renúncia e/ou a disponibilidade relativa dos direitos da 
personalidade no seu exercício com vistas ao respeito e à promoção do livre 
desenvolvimento da personalidade, por outro lado carece-se estar atento aos 
limites destas disposições e renúncias com base na dignidade humana. É válido 
atentar, assim, para a crescente tensão entre liberdade no manejo dos direitos 
da personalidade e o risco de mercantilização desses direitos, o que culminaria 
na “coisificação” da pessoa humana (SANDEL, 2013, p. 9-20). 
 
5 CONCLUSÃO 
 
A constitucionalização do direito noBrasil, a partir da Constituição 
Federal de 1988, marcou oficialmente o início de um novo paradigma jurídico 
centrado na dignidade da pessoa humana. Seguindo essa pista, o Código Civil 
de 2002 pretendeu albergar o máximo respeito da dignidade humana e, para 
tanto, além de reformular-se em suas disposições normativas, dedicou-se a uma 
revisão na sua interpretação. Esse movimento foi iniciado pelo fenômeno da 
constitucionalização do direito privado e culminou na despatrimonialização e 
repersonalização do direito privado, ou seja, a pessoa humana e sua dignidade 
são o elemento central e principal de do direito privado contemporâneo, 
passando o patrimônio e a lógica patrimonialista a ser subsidiária e sempre 
deferente aos desideratos da dignidade humana. 
 
6 “[...] a palavra final sobre a sanidade ou paternidade de alguém, pode não vir de um médico 
nem de um geneticista. Pode vir de um juiz. Pode contrariar integramente a conclusão de um 
laudo. Seu preço? Um bom fundamento. Razão. Racionalidade. Seu meio? Sistema e discurso. 
Remédio? Recursos. Trajetória? Caótica. Medo? Indeterminação. Instabilidade. Alguém gostaria 
que fosse diferente? A história responde. [...] Medo? Vertigem? Não. Caos.” (ARONNE, 2006, p. 
24). 
No embalo da constitucionalização do direito privado, o Código Civil de 
2002 inovou ao tipificar direitos da personalidade ao longo dos artigos 11 a 21. 
Apesar de a novidade ter sido recebida como algo positivo, não passou imune 
de críticas, já que aparentou ser reducionista em relação às previsões da 
Constituição Federal. Por outro lado, elogiou-se, em parte, a iniciativa de tentar 
tipificar um rol aberto de direitos da personalidade, pois isso facultava maior 
certeza no tratamento jurídico desta categoria do que a cláusula geral de tutela 
dos direitos da personalidade contida no artigo 1º, III, da Constituição. 
Nesse contexto, porém, as tensões concretas entre as lógicas modernas 
e pós-modernas evidenciam práticas sociais que desafiam tanto a tipificação 
expressa dos direitos da personalidade quanto o tratamento via cláusula geral 
de tutela. A cada momento novos riscos à personalidade humana aparecem e 
demandam novos direitos da personalidade para seu tratamento ou, ao menos, 
novas perspectivas dos direitos da personalidade já reconhecidos. 
Contemporaneamente e a partir da repersonalização do direito privado, 
cogita-se a possibilidade de renúncia total ou de disponibilidade parcial do 
exercício dos direitos da personalidade. Destaca-se que tal possiblidade é 
própria do exercício destes direitos e não deles em si. Juridicamente, no Brasil, 
tais direitos não são passíveis de serem elididos (em situações normais), muito 
embora o seu não-exercício pelo titular possa ter efeitos aproximados à 
destruição. 
De qualquer sorte, entende-se como acertada a posição que reconhece 
a possibilidade de renúncia total ou parcial do exercício dos direitos da 
personalidade como efetiva deferência à dignidade humana. Afinal, é a partir de 
tais comportamentos que uma pessoa pode ser o que ela é ou pretende ser (livre 
desenvolvimento da personalidade), sentindo-se bem consigo mesma. É a partir 
disso que ela pode buscar seus projetos de vida. 
Tal aceitação, todavia, merece ressalvas: a disponibilidade do exercício 
não pode traduzir-se em autolesão à dignidade humana, tampouco atrofiamento 
das singularidades de cada fase do desenvolvimento humano. Efetivamente, há 
uma linha tênue entre as ações que dizem respeito ao livre desenvolvimento da 
personalidade e a autolesão à personalidade – como se viu dos exemplos acima 
indicados –, que demandam adequada interpretação civil-constitucionalizada 
 
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