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Aula 5 Analogias Eletromecânicas Ao longo dessa aula veremos que todo sistema mecânico admite um circuito elétrico equivalente cujas tensões e correntes satisfazem um conjunto de equações (modelo matemático) que é idêntico ao conjunto das equações de movimento do sistema mecânico. Dependendo do tipo de analogia que faremos com a força, se com tensões ou correntes, teremos dois tipos de circuitos diferentes, que serão duais. I) Analogia Força-Corrente Nessa analogia, as forças presentes no sistema mecânico irão corresponder a correntes fluindo pelos ramos do circuito elétrico equivalente. Quantidades Análogas Sistema Mecânico Circuito Elétrico Força ( f ) ___________ Corrente elétrica ( i ) Massa ( m ) ___________ Capacitância ( C ) Coeficiente de amortecimento viscoso ( b ) ___________ Inverso da resistência ( 1/R ) Rigidez ( k ) ___________ Inverso da Indutância ( 1/L ) Deslocamento ( x ) ___________ Fluxo magnético Velocidade ( dx/dt ) ___________ Voltagem ( v ) Aceleração ( d2x/dt2 ) ___________ ( dv/dt ) Regras de Conversão 1) Cada massa corresponderá a um capacitor aterrado. A tensão inicial no capacitor é igual à velocidade inicial da massa correspondente. 2) Molas são substituídas por indutores e amortecedores são substituídos por resistores. A conexão dos elementos é reproduzida no circuito elétrico. 3) Forças externas são substituídas por fontes de corrente. Passemos diretamente aos exemplos. Exemplo 1 No sistema mecânico ilustrado ao lado, u(t) representa uma força externa (entrada) aplicada à massa m, enquanto que y(t) é o deslocamento do bloco em relação à posição de equilíbrio. Queremos montar o circuito elétrico equivalente através da analogia força-corrente, e em seguida determinar a equação diferencial relacionando entrada e saída, comparando-a com a equação do sistema mecânico. Solução 1) Modelagem do sistema mecânico Com a hipótese de que a massa está se movendo para baixo (direção positiva de deslocamento), temos pela 2a Lei de Newton: Ou seja, , 1 de onde obtemos a primeira equação de movimento: (Eq. 1). 2) Modelagem via circuito elétrico equivalente Seguindo as regras de conversão, temos que: 1) a massa m é convertida em um capacitor aterrado, 2) a mola e o amortecedor são convertidos em um indutor e um resistor, respectivamente. Ambos possuem uma das extremidades ligada ao capacitor (massa m). Como a outra extremidade de ambos está presa à parede, o indutor e o resistor terão a outra extremidade ligada ao terra. 3) a força u(t) é convertida em uma fonte de corrente. Com isso, chegamos ao circuito elétrico equivalente mostrado abaixo: Vamos, agora, determinar a equação diferencial para a tensão sobre o capacitor. Pela LKC no nó superior: As correntes nos elementos são dadas por: Resistor: Capacitor: Indutor: Substituindo na equação da LKC, temos . Reorganizando, . Mas note que a tensão sobre o capacitor corresponde à velocidade da massa m (dy/dt): , ou seja, . Note que a equação acima corresponde exatamente à Eq. 1 que obtivemos pela modelagem do sistema mecânico, comprovando assim a validade da analogia eletromecânica. Considere, agora, o exemplo abaixo. Exemplo 2 No sistema mecânico ao lado, f(t) representa uma força externa (entrada) aplicada à massa m1, xP é o deslocamento vertical da massa e xQ o deslocamento vertical do ponto Q. Queremos montar o circuito elétrico equivalente força-corrente para esse sistema, e a partir do circuito determinar as equações de movimento (modelo matemático) para o sistema. Solução 1) Modelagem do sistema mecânico 2 Já modelamos esse sistema mecânico anteriormente. Na ocasião, o modelo matemático foi determinado como sendo constituído de duas equações diferenciais: (Eq. 1) (Eq. 2) 2) Modelagem via circuito elétrico equivalente Seguindo as regras de conversão, temos: i) a massa m1 é convertida em um capacitor aterrado, ii) a mola 1 e o amortecedor possuem um extremidade ligada à massa e a outra à parede. Logo, no circuito elétrico, corresponderão respectivamente a um indutor e a um resistor em paralelo com a massa. A mola 2 vira um indutor que terá uma extremidade ligada ao capacitor (massa 1) e a outra ligada ao resistor 2, que corresponderá ao amortecedor 2. iii) a força f(t) é convertida em uma fonte de corrente em paralelo com o capacitor. O circuito elétrico resultante, equivalente ao sistema mecânico do ponto de vista da analogia força-corrente, é mostrado abaixo: Equacionando: LKC - nó 1 As correntes nos elementos podem ser expressas como: Resistor 1: Capacitor: Indutor 1: Indutor 2: Substituindo as expressões acima na equação da LKC, temos . Reorganizando, . Novamente, note que a tensão sobre o capacitor corresponde à velocidade da massa m1 (dxP/dt), e que a tensão no ponto 2 (ponto Q) é igual à velocidade do ponto Q (dxQ/dt). Assim, na equação acima: , ou seja, . A equação diferencial acima é exatamente a Eq. 1 que achamos na modelagem do sistema mecânico. LKC - ponto 2 , onde as correntes são dadas por: 3 Indutor 2: Resistor 2: Substituindo as expressões das correntes na equação de continuidade de corrente: . E, desenvolvendo, . Já vimos que a tensão no ponto 2 (ponto Q) é igual à velocidade do ponto Q (dxQ/dt), e que a tensão sobre o capacitor corresponde à velocidade da massa m1 (dxP/dt). Na equação acima, temos então , ou seja, . Novamente, a equação diferencial acima correspondente perfeitamente à Eq. 2 encontrada na modelagem do sistema mecânico. II) Analogia Força-Tensão Quantidades Análogas Sistema Mecânico Circuito Elétrico Força ( f ) ___________ Tensão ( v ) Massa ( m ) ___________ Indutância ( L ) Coeficiente de amortecimento viscoso ( b ) ___________ Resistência ( R ) Rigidez ( k ) ___________ Inverso da Capacitância ( 1/C ) Deslocamento ( x ) ___________ Carga elétrica Velocidade ( dx/dt ) ___________ Corrente elétrica ( i ) Aceleração ( d2x/dt2 ) ___________ ( di/dt ) Regras de Conversão 1) Associamos uma letra (P, Q, S,...) a cada um dos seguintes pontos: • massas, • pontos de aplicação de forças • pontos de ligação entre amortecedores e molas 2) Cada ponto que recebeu uma letra corresponderá a uma malha no circuito elétrico. 3) Os diversos elementos do sistema mecânico são convertidos conforme a tabela acima. Exemplo 3 Voltemos ao sistema mecânico do Exemplo 1, ilustrado ao lado. Lembremos que u(t) representa uma força externa (entrada) aplicada à massa m, enquanto que y(t) é o deslocamento do bloco em relação à posição de equilíbrio. Queremos novamente determinar a equação diferencial relacionando entrada e saída mas dessa vez utilizando o circuito obtido através da analogia força-tensão. Solução 1) Modelagem do sistema mecânico Já foi realizada no Exemplo 1, onde obtivemos a equação de movimento: (Eq. 1). 4 2) Modelagem via circuito elétrico equivalente Seguindo a 1a regra de conversão, associamos uma letra à massa m, conforme a figura ao lado. Como só designamos uma letra, significa que o circuito elétrico equivalente só possuirá uma malha. No passo seguinte, todos elementos que estão ligados ao ponto P são convertidos e colocados em uma única malha. São eles a massa (indutância), a mola (capacitância), o amortecedor (resistência) e a força externa (fonte de tensão). O circuito obtido é mostrado abaixo: Note que não faz diferença a ordem em que são colocados na malha, pois em um circuito em série é possível intercambiar os elementos. Aplicando a LKT temos: As tensões sobre os elementos podem ser expressas em função da corrente i(t): Resistor: Capacitor: Indutor: Substituindo as expressões acimana equação da LKT, temos . Reorganizando, colocando à esquerda os termos em i(t), . Sabemos, entretanto, que a corrente passando pelo indutor corresponde à velocidade da massa m (dy/dt). Substituindo, então, na equação acima, temos: , ou seja, . Mais uma vez, obtivemos uma equação (modelo matemático) via circuito elétrico que corresponde exatamente à Eq. 1 obtida pela modelagem direta do sistema mecânico. Exemplo 4 Voltemos agora ao sistema mecânico do Exemplo 2. Relembremos inicialmente que f(t) representa a força externa (entrada) aplicada à massa m1, que xP é o deslocamento vertical da massa e xQ o deslocamento vertical do ponto Q. Queremos montar o equivalente elétrico via analogia força- tensão, a fim de determinar as equações de movimento (modelo matemático) para o sistema a partir do circuito. 5 Solução 1) Modelagem do sistema mecânico O modelo matemático foi determinado anteriormente como sendo o conjunto das duas equações diferenciais abaixo: (Eq. 1) (Eq. 2) 2) Modelagem via circuito elétrico equivalente De acordo com as regras de conversão, devemos associar uma letra a cada um dos seguintes pontos: i) a massa m1 (ponto P) ii) conexão entre a mola 2 e o amortecedor 2 (Ponto Q). Note que agora temos dois pontos, de modo que o circuito final possuirá duas malhas. Para montarmos a circuito elétrico equivalente, devemos começar pelos elementos que ficarão na interface entre duas malhas. Ou seja, o ramo do circuito que será compartilhado entre as malhas. No presente sistema, entre os pontos P e Q temos apenas a mola 2 (capacitor). A seguir, todos os outros elementos são convertidos e colocados cada um em sua malha respectiva. Ou seja, os elementos ligados à massa m1 pertencerão à malha 1, enquanto que os elementos ligados ao ponto Q pertencerão à malha 2. O circuito elétrico resultante é mostrado abaixo. Como no exemplo anterior, a ordem dos elementos na malha não importa. Apenas o elemento da interface deve ser preservado. Inicialmente, perceba que a corrente sobre C2 é i1-i2. Equacionando o circuito: LKT - malha 1 Expressando as tensões sobre os elementos temos: Resistor 1: Indutor: Capacitor 1: Capacitor 2: Substituindo as expressões acima na equação da LKC, temos . Colocando à esquerda todos os termos em i1, temos . Mas a corrente i1 passando pelo indutor corresponde exatamente à velocidade da massa m1 (i1=dxP/dt), enquanto que a corrente por R2 representa a velocidade da extremidade superior do amortecedor 2 (i2=dxQ/dt), ligada ao ponto Q . Assim, na equação acima: , ou . Novamente reencontramos a primeira equação diferencial (Eq. 1) determinada na modelagem do sistema mecânico. 6 LKT - ponto 2 Como o capacitor 2 e o resistor 2 estão em paralelo, temos , onde as tensões acima são dadas por: Capacitor 2: (determinado anteriormente) Resistor 2: Substituindo então essas expressões na equação da igualdade de tensões: . Desenvolvendo, . Mas já sabemos que a corrente passando por R2 corresponde à velocidade do ponto Q (dxQ/dt), e que a corrente i1 corresponde à velocidade da massa m1 (dxP/dt). Substituindo essas duas relações na equação acima temos , ou . A equação diferencial acima correspondente mais uma vez perfeitamente à Eq. 2 encontrada na modelagem do sistema mecânico. Seja a seguir nosso último exemplo Exemplo 5 Considere o sistema mecânico representado ao lado. Queremos determinar as equações de movimento para esse sistema através de análogos eletromecânicos. Solução Para uma comparação posterior, vamos inicialmente modelar o sistema mecânico diretamente. 1) Modelagem mecânica Seja x o deslocamento para cima do ponto P em relação à posição de equilíbrio, e seja y o deslocamento do ponto Q. Adotamos o sentido positivo para cima, fazemos as seguintes hipóteses: 1) o ponto Q está deslocado para cima. 2) o ponto P está se deslocando para cima mais rápido que o ponto Q. Ponto P Pelo equilíbrio de forças, temos Note que o amortecedor se opõe à força f. Substituindo a expressão da força do amortecedor no ponto P temos . E, reorganizando, (Eq.1) Ponto Q Aplicando a 2a Lei de Newton à massa m: Substituindo a expressão das forças do amortecedor e da mola, . Colocando os termos em x à esquerda, temos a segunda equação diferencial: 7 (Eq.2) Resumindo, nosso modelo é composta das equações (Eq.1) (Eq.2) 2) Analogia força-corrente Utilizando as regras de conversão, chegamos ao circuito elétrico mostrado abaixo: i) Lei de Ohm sobre R: Mas a tensão V1 corresponde à velocidade de deslocamento do ponto P (dy/dt), enquanto que V2 corresponde à velocidade de deslocamento do ponto Q (dx/dt). Assim, na equação acima, , ou Reencontramos, então, a Eq.1. ii) LKC no nó 2: . Expressando as correntes em função de V1 e V2: . Colocando os termos em V2 à esquerda, , e relembrando que a tensão V1 corresponde à velocidade de deslocamento do ponto P (dy/dt), e que V2 corresponde à velocidade de deslocamento do ponto Q (dx/dt), . Assim, , que é exatamente a Eq. 2. 3) Analogia força-tensão Aplicando as regras de conversão, chegamos ao circuito elétricos equivalente mostrado abaixo. i) LKT malha 1 8 Ou seja, . Como a corrente circulando pela malha 1 (i1) corresponde à velocidade do ponto P (dy/dt) e a corrente na malha 2 (i1) corresponde à velocidade do ponto Q (dx/dt), temos . Assim, reencontramos novamente a Eq. 1: . ii) LKT malha 2 , . Ou seja, . Visto que a corrente circulando pela malha 1 (i1) corresponde à velocidade do ponto P (dy/dt) e a corrente na malha (i2) corresponde à velocidade do ponto Q (dx/dt), temos , que pode ser reorganizada como . Note que a equação acima corresponde à Eq. 2 determinada anteriormente. 9
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