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Execução e Tutela de Urgência Daniel Assunção

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PROCESSO CIVIL 
Execução e Tutela de Urgência 
Nathália Moreira Nunes de Souza 
 
Daniel Assumpção 
Curso Fórum TV – Carreiras Jurídicas 2015 
 
 
1 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Execução ...................................................................................................................... 7 
Teoria Geral da Execução ......................................................................................... 7 
Formas Executivas ................................................................................................ 7 
Introdução .......................................................................................................... 7 
Processo Autônomo de Execução e Fase Procedimental Executiva .................. 8 
Execução por Sub-rogação e Execução Indireta .............................................. 12 
Fixação das astreintes nos Juizados Especiais ............................................. 17 
Beneficiário da multa ................................................................................... 18 
Fazenda Pública ........................................................................................... 18 
Valor consolidado da multa .......................................................................... 19 
Intimação da decisão que fixa astreintes ..................................................... 20 
Executabilidade da multa ............................................................................. 20 
Espécies de Obrigação ..................................................................................... 21 
Obrigação de Pagar Quantia ........................................................................ 21 
Obrigação de Entregar Coisa ....................................................................... 23 
Obrigação de fazer ou não fazer .................................................................. 24 
Princípios da execução ........................................................................................ 26 
Nulla Executio Sine Titulo ................................................................................ 26 
Nulla Titulus Sine Lege .................................................................................... 26 
Patrimonialidade .............................................................................................. 27 
Princípio do Desfecho ou Resultado Único ....................................................... 30 
Princípio da Disponibilidade ............................................................................. 31 
Princípio da Menor Onerosidade ...................................................................... 33 
Princípio da Boa-Fé e da Lealdade Processual ................................................. 36 
Ato atentatório à dignidade da justiça (art. 774 NCPC) ............................... 36 
Princípio da Atipicidade das Formas Executivas .............................................. 37 
Sujeitos Processuais ............................................................................................ 39 
Introdução ........................................................................................................ 39 
Intervenção de Terceiros .............................................................................. 39 
Legitimação Ativa ............................................................................................ 42 
Credor a quem a lei atribui título executivo ................................................. 42 
Ministério Público ......................................................................................... 43 
Espólio, herdeiros e sucessores ................................................................... 45 
Cessionário ................................................................................................... 46 
Sub-Rogado .................................................................................................. 46 
 
 
2 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Legitimação Passiva ........................................................................................ 47 
Sujeito que figura no título como devedor ................................................... 47 
Espólio, herdeiros e sucessores ................................................................... 47 
Novo Devedor............................................................................................... 47 
Fiador do débito constante em TEE ............................................................. 48 
Responsável titular do bem dado em garantia real para o pagamento do 
débito ........................................................................................................... 49 
Responsável tributário ................................................................................. 49 
Competência ....................................................................................................... 51 
Competência para o Cumprimento de Sentença (TEJ) ..................................... 51 
Competência executiva dos Tribunais ......................................................... 51 
Juízo que decidiu a causa em primeiro grau ................................................ 52 
Competência do Processo de Execução (TEE) ................................................. 56 
Título Executivo ................................................................................................... 59 
Requisitos da obrigação exequenda ................................................................ 59 
Certeza ......................................................................................................... 59 
Liquidez ........................................................................................................ 59 
Exigibilidade ................................................................................................. 60 
Título Executivo Judicial (TEJ) ........................................................................... 61 
Sentença proferida no processo civil que reconheça a exigibilidade de uma 
obrigação ..................................................................................................... 61 
Decisão homologatória de autocomposição judicial .................................... 63 
Decisão homologatória de autocomposição extrajudicial ............................ 63 
Formal e certidão de partilha ....................................................................... 64 
Decisão Judicial que tem como objeto a fixação de custas, honorários ou 
emolumentos do serventuário da justiça, perito, intérprete ou tradutor ..... 64 
Sentença penal condenatória transitada em julgado ................................... 65 
Sentença arbitral .......................................................................................... 68 
Sentença estrangeira homologada pelo STJ ................................................. 68 
Decisão interlocutória estrangeira após expedição do exequatur pelo STJ . 69 
Título Executivo Extrajudicial (TEE) ................................................................. 71 
Rol exemplificativo ....................................................................................... 71 
Títulos de crédito: cheque, duplicata, nota promissória, letra de câmbio e 
debênture ..................................................................................................... 71 
Escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor ........ 72 
Documento particular .................................................................................. 72 
 
 
3 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Instrumento de transação ............................................................................73 
Contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese, qualquer outra 
garantia real e caução ................................................................................. 74 
Contrato de seguro de vida em caso de morte ............................................ 75 
Crédito decorrente de foro e laudêmio ........................................................ 76 
Crédito documentalmente comprovado referente a aluguel ....................... 76 
Certidão da Dívida Ativa (CDA) .................................................................... 76 
Documento que comprove crédito referente a contribuição condominial ... 77 
Certidão da serventia notarial ou de registro relativa a valores e 
emolumentos devidos por ato praticado pelo cartório................................. 77 
Cumprimento Provisório da Sentença ................................................................. 78 
Conceito ........................................................................................................... 78 
Carta de Sentença ........................................................................................... 79 
Caução ............................................................................................................. 80 
Função .......................................................................................................... 80 
Natureza Jurídica .......................................................................................... 81 
Requisitos ..................................................................................................... 81 
Procedimento ............................................................................................... 83 
Momento ...................................................................................................... 84 
Dispensa ....................................................................................................... 84 
Responsabilidade Objetiva do Exequente ....................................................... 87 
Multa ................................................................................................................ 88 
Cumprimento Provisório de Sentença contra a Fazenda Pública..................... 90 
Responsabilidade Patrimonial ............................................................................. 93 
Introdução ........................................................................................................ 93 
Bens do responsável patrimonial que respondem pela dívida ........................ 94 
Responsabilidade patrimonial secundária ....................................................... 97 
Sucessor a título singular ............................................................................. 97 
Sócio ............................................................................................................. 98 
Devedor ...................................................................................................... 105 
Cônjuge e companheiro ............................................................................. 105 
Bem alienado em fraude à execução ......................................................... 109 
Bem alienado ou onerado em fraude contra credores ............................... 109 
Fraudes do Devedor....................................................................................... 112 
Fraude contra Credores .............................................................................. 112 
Fraude à Execução ..................................................................................... 116 
 
 
4 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Liquidação de Sentença .................................................................................... 123 
Introdução ...................................................................................................... 123 
Título Executivo ............................................................................................. 123 
Vedação à sentença ilíquida .......................................................................... 125 
Fim da liquidação de sentença ...................................................................... 126 
Natureza jurídica ............................................................................................ 129 
Competência .................................................................................................. 132 
Espécies ......................................................................................................... 133 
Introdução .................................................................................................. 134 
Liquidação de Sentença por Arbitramento ................................................. 141 
Liquidação pelo Procedimento Comum ...................................................... 143 
Liquidação de Sentença Imprópria ............................................................. 144 
Cumprimento de Sentença ................................................................................... 146 
Cabimento ......................................................................................................... 146 
Procedimento Comum ....................................................................................... 146 
Processo de Execução .......................................................................................... 157 
Petição Inicial .................................................................................................... 157 
Averbação ......................................................................................................... 159 
Citação .............................................................................................................. 161 
Citação: 1ª via do mandado .............................................................................. 165 
2ª via do mandado ............................................................................................ 166 
Moratória Legal .............................................................................................. 166 
Penhora ............................................................................................................. 170 
Efeitos da penhora ......................................................................................... 170 
Efeitos processuais ..................................................................................... 170 
Efeitos Materiais ......................................................................................... 172 
Ordem da Penhora ......................................................................................... 173 
Penhora Online .............................................................................................. 175 
Penhora pelo BACENJUD (art. 854 NCPC) ................................................... 176 
Expropriação do Bem ........................................................................................ 182 
Introdução – O Levantamento do Dinheiro .................................................... 182 
Adjudicação ................................................................................................... 183 
Alienação por Iniciativa Particular ................................................................. 186 
Procedimento ............................................................................................. 187 
Leilão Público ................................................................................................. 189 
 
 
5 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Edital .......................................................................................................... 190Publicidade ................................................................................................. 191 
Arrematação ............................................................................................... 192 
Defesas do Executado .......................................................................................... 196 
Embargos à Execução ....................................................................................... 196 
Cabimento ..................................................................................................... 196 
Cognição ........................................................................................................ 196 
Natureza jurídica ............................................................................................ 200 
Prazo .............................................................................................................. 201 
Termo inicial do prazo ................................................................................ 201 
Efeito suspensivo ........................................................................................... 203 
Procedimento ................................................................................................. 204 
Impugnação ....................................................................................................... 207 
Cabimento ..................................................................................................... 207 
Natureza jurídica ............................................................................................ 207 
Matérias alegáveis ......................................................................................... 207 
Garantia do juízo ............................................................................................ 213 
Prazo .............................................................................................................. 213 
Efeito suspensivo ........................................................................................... 213 
Procedimento ................................................................................................. 214 
Exceção de Pré-Executividade .......................................................................... 216 
Cabimento ..................................................................................................... 216 
Procedimento ................................................................................................. 216 
Tutela Provisória ....................................................................................................... 220 
Introdução ............................................................................................................. 220 
Disposições Gerais (arts. 294 a 299 NCPC) .......................................................... 224 
Momento ........................................................................................................... 224 
Efetivação .......................................................................................................... 225 
Provisoriedade ................................................................................................... 226 
Fundamentação................................................................................................. 232 
Competência ..................................................................................................... 232 
Tutela Provisória de Urgência (arts. 300 a 302 NCPC).......................................... 236 
Comparação: Natureza Jurídica ......................................................................... 236 
Diferenças ...................................................................................................... 237 
Identidades .................................................................................................... 238 
 
 
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PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Requisitos para concessão da tutela de urgência ...................................... 238 
Caução ....................................................................................................... 240 
Responsabilidade objetiva ......................................................................... 242 
Concessão de Ofício ................................................................................... 243 
Audiência de Justificação............................................................................ 244 
Fungibilidade .............................................................................................. 244 
Tutela Antecipada ................................................................................................. 246 
Objeto ................................................................................................................ 246 
Processos e procedimentos em que cabe a tutela antecipada ......................... 246 
Requisito negativo ............................................................................................. 249 
Legitimação ....................................................................................................... 251 
Momento ........................................................................................................... 251 
Antecedente .................................................................................................. 251 
Estabilização da tutela antecipada ............................................................ 253 
Incidental ....................................................................................................... 257 
Concessão liminar ...................................................................................... 257 
Sentença ........................................................................................................ 258 
Tutela Cautelar ..................................................................................................... 260 
Características ................................................................................................... 260 
Autonomia ..................................................................................................... 260 
Sumariedade .................................................................................................. 261 
Poder Geral de Cautela .................................................................................. 261 
Procedimento .................................................................................................... 262 
Conversão em Pedido Principal ......................................................................... 265 
Tutela da Evidência .............................................................................................. 266 
 
 
 
 
7 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Aula 01 – 26/08/2015 – pt. 01 
Execução 
Teoria Geral da Execução 
Formas Executivas 
Introdução 
 
Para cada espécie de crise jurídica, o sistema cria uma espécie de tutela 
jurisdicional. Para uma crise de incerteza, há a tutela cognitiva meramente 
declaratória. Para crise de perigo, a tutela acautelatória ou de urgência. 
Quando falamos em tutela executiva, ela é criada pelo sistema para resolver 
uma espécie de crise: a crise de satisfação do direito. 
Invariavelmente, tutela executiva é chamada de execução. São expressões 
praticamente utilizadas como sinônimas. 
A tutela executiva pode ter outros nomes, com o que não muda a sua 
natureza. A natureza da tutela é definida pela espécie de crise. O art. 297, p. 
único NCPC trata da execução da decisão que concede tutela antecipada. Mas 
não usa a palavra “execução” e sim efetivação. 
Fala em efetivação da tutelaantecipada. Se tenho uma tutela antecipada, 
preciso satisfazer o direito reconhecido. Há uma crise de satisfação, então se 
trata de uma execução. 
O mesmo vale para a execução de sentença, chamada pelo NCPC de 
cumprimento de sentença. Esse nome nasceu em 2005 e agora em 2015 
se popularizou, constando inclusive no sumário do NCPC. 
A sentença se executa. A correlação entre tutela executiva e crise de 
satisfação nos prende: se estamos satisfazendo um direito, então estamos 
executando. 
Convém utilizar a nomenclatura da lei, sobretudo em provas discursivas e 
orais. Não custa nada falar em efetivação da TA ou em cumprimento de 
sentença, mas se alguém questionar se isso é execução, a resposta é 
afirmativa. São todas atividades voltadas à solução de uma mesma crise 
jurídica, a crise de satisfação do direito. 
A tutela executiva pode se desenvolver de diferentes formas. 
 
 
 
8 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Processo Autônomo de Execução e Fase Procedimental Executiva 
 
Essa distinção decorre de dois sistemas processuais diferentes. Já houve por 
muito tempo um sistema de autonomia das ações: para cada espécie de 
tutela, uma ação específica. 
Por muito tempo, justificamos que havendo diferentes tutelas, havia 
diferentes objetivos (cada tutela resolve uma espécie de crise) e ao mesmo 
tempo havia diferentes procedimentos. Cada tutela reclama um 
procedimento específico. 
Tínhamos a ideia de que juntar diferentes tutelas não seria adequado pelas 
diferenças procedimentais e de objetivo. Nesse sistema, toda execução exigia 
um processo autônomo. Sempre que precisássemos de tutela executiva, seria 
necessário uma ação específica, surgindo então um processo autônomo de 
execução. 
A esse sistema de contrapõe o sistema do sincretismo processual. 
Basicamente, o sincretismo processual sugere que é plenamente possível que 
eu tenha diferentes espécies de tutela reunidas todas num mesmo processo. 
Não estamos falando numa fungibilidade de tutelas, porque as tutelas não 
são fungíveis. A tutela de conhecimento não é fungível com a de execução ou 
a cautelar, porque isso significaria haver crises fungíveis. Cada tutela está 
destinada a resolver uma crise. 
Continuo tendo diferentes crises e diferentes tutelas, mas poderíamos reuni-
las todas num mesmo processo. Aí nasce o sincretismo processual. 
 
Diante de um título executivo extrajudicial (TEE), precisaremos sempre de um 
processo autônomo de execução. Portanto, o processo autônomo de 
execução nunca nos deixará, constando inclusive do NCPC. 
Neste processo autônomo de execução, podemos ter cautelares de forma 
incidental, sendo desnecessário um processo cautelar para isso. 
Podemos falar que é um processo sincrético porque tem duas formas de 
tutela dentro dele. Mas a autonomia processual da execução é inevitável. 
 
No que toca ao título executivo judicial (TEJ), anteriormente a 1994 o sistema 
executivo brasileiro substancialmente tinha como regra o processo autônomo 
de execução. Com o processo de conhecimento, formava-se o TEJ. E para 
executá-lo seria necessário outro processo, o processo executivo. 
 
 
9 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Mesmo nessa época, ainda que como exceção, já tínhamos a execução que 
hoje passou a se chamar cumprimento de sentença. Nada mais é do que a 
execução por mera fase procedimental. 
O cumprimento de sentença é uma fase procedimental de execução. Ela já 
existia excepcionalmente antes de 1994. Ex.: ação de despejo e ações 
possessórias. 
A ação de despejo nunca gerou um processo de execução de despejo. O juiz 
determinava o despejo em sentença e ele se realizava no mesmo processo. 
Sincretismo processual e ações sincréticas já estão entre nós há muito 
tempo. É um equívoco dizer que o sincretismo é uma novidade do sistema. 
O que tivemos foi uma mutação do sistema para transformar a exceção em 
regra. Não descobrimos agora a ação sincrética, ela já existia há muito 
tempo. O que fizemos foi popularizar/ generalizar as ações sincréticas aos 
poucos. Em 1994, dois artigos do CPC 1973 contribuíram de maneira 
significativa para essa alteração do sistema: art. 273 (tutela antecipada, que 
fala em sua “efetivação”) e art. 461. 
O art. 273 usa o termo efetivação para que a doutrina concluísse que a 
execução de tutela antecipada não se dá por processo autônomo. Nunca 
existiu processo autônomo para execução de tutela antecipada. 
Independentemente da espécie de obrigação (fazer, não fazer, pagar, 
entregar) em tutela antecipada haverá o cumprimento de sentença. Isso 
mostra inclusive a inadequação do nome, já que invariavelmente a tutela 
antecipada se dá mediante decisão interlocutória e não mediante sentença. 
Portanto, o cumprimento de sentença pode se referir ao cumprimento de uma 
decisão interlocutória. 
O art. 461 CPC passa a consagrar o processo sincrético em qualquer 
obrigação de fazer ou não fazer. A partir de 1994, toda sentença que 
condenava o réu a obrigação de fazer ou não fazer passou a ser executada 
mediante cumprimento de sentença, embora ainda não se usasse essa 
expressão. De todo modo, a execução era em fase procedimental, e não 
processo autônomo. 
Em 1995, vem a Lei 9099. Nos Juizados Especiais, não existe processo de 
execução de sentença. Lá, existe processo de execução referente a título 
extrajudicial. Mas não existe o processo de execução do título judicial. 
Nesse procedimento diferenciado do JEC, qualquer espécie de obrigação 
poderá ser alvo de cumprimento de sentença. 
Pt. 02 
 
 
10 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Em 2002, veio o art. 461-A CPC/73, que levou a ação sincrética para as 
obrigações de entregar coisa. 
A Lei 12.232/2005 levou o processo sincrético para a obrigação de pagar 
quantia. Essa lei versou apenas a respeito do processo comum de execução. 
O processo de execução não vive apenas do procedimento comum. Temos no 
CPC as execuções especiais. Tratam-se de execuções com procedimento 
especial. No CPC 73, tínhamos 3: 
1) Execução de pagar contra a Fazenda Pública 
2) Execução de alimentos 
3) Execução contra devedor insolvente 
Obs.: o procedimento de fazer, não fazer ou entregar coisa contra a Fazenda 
é execução comum, então já há cumprimento de sentença desde 1994. A 
grande especificidade é a impenhorabilidade dos seus bens, o que só 
interessa à obrigação de pagar quantia. No mais, a Fazenda é executada tal 
como um particular. 
O NCPC/2015 suprimiu do sistema a execução contra devedor insolvente, que 
era a falência da pessoa natural, que não é utilizada na prática. Como 
execuções especiais, sobraram a execução contra a Fazenda e a execução de 
alimentos. Em ambos os casos, o legislador foi expresso na opção pelo 
cumprimento de sentença. 
Esse cumprimento de sentença mantém o procedimento especial. O 
que o legislador fez foi adaptar o procedimento especial para o cumprimento 
de sentença. 
Contra a Fazenda Pública se tem um procedimento específico. Na execução 
de alimentos, igualmente haverá um procedimento específico (com prisão 
civil). 
Com relação à execução de alimentos, o art. 528, §8ª NCPC consagra que o 
exequente pode abrir mão do procedimento especial e adotar o procedimento 
comum. É uma escolha dele (afinal nem todo exequente quer que o devedor 
seja preso, até por envolver questões familiares). Independentemente dessa 
escolha, a execução se dará pelo cumprimento de sentença (seja pelo 
procedimento especial, seja pelo procedimento comum). 
Todo título executivo judicial levará a cumprimento de sentença. 
 TEE -> processo de execução 
 TEJ -> cumprimento de sentença11 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Art. 515, §1º NCPC -> esse dispositivo seleciona quatro previsões dos títulos 
executivos: 
 Sentença arbitral 
 Sentença penal 
 Homologação de sentença estrangeira 
 Decisão interlocutória estrangeira após expedição de exequatur pelo 
STJ 
Nesses casos, o executado será citado para pagamento em 15 dias. Se você 
está CITANDO o executado, é porque o está integrando ao processo. Se você 
está integrando o executado ao processo, é porque está dando início a um 
novo processo. Para que se dê início a um novo processo, necessariamente 
deverá haver uma petição inicial. 
 
Nos casos em epígrafe, existe processo autônomo de execução, não obstante 
existir um TEJ. Por isso, haverá necessidade de petição inicial e citação. 
Se você adota o procedimento do processo autônomo de execução, criará 
uma distinção injustificável de tratamento entre os títulos judiciais. O 
cumprimento de sentença é muito melhor para o exequente que o processo 
de execução, em termos procedimentais. 
Se dizemos que os títulos X, Y e Z vão pelo cumprimento de sentença 
enquanto A, B, C vão pelo processo de execução, há um tratamento 
heterogêneo não justificado. 
antes de 1994 
• regra: execução 
por processo 
autônomo 
• exceção: 
cumprimento de 
sentença 
(possessória e 
despejo) 
1994 
• art. 273 CPC 73 -
> tutela 
antecipada por 
cumprimento de 
sentença 
(qualquer 
espécie de 
obrigação) 
• art. 461 CPC 73 
(obrigação de 
fazer ou não 
fazer mediante 
cumprimento de 
sentença) 
1995 
• Lei 9099 -> não 
há processo de 
execução de 
sentença 
2002 
• Art. 461-A -> 
obrigações de 
entregar coisa 
2005 
• Lei 12.232 -> 
obrigação de 
pagar quantia 
2015 
• NCPC 
• TEJ => 
cumprimento de 
sentença 
• Exceção 
(híbrido): 
• Sentença 
arbitral 
• Sentença penal 
• Homologação 
de sentença 
estrangeira 
• Decisão 
interlocutória 
estrangeira 
após 
expedição de 
exequatur pelo 
STJ 
 
 
12 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
A partir da citação, adotaremos nessa execução o procedimento do 
cumprimento de sentença. 
A partir de citação, haverá 15 dias para pagar, que já é cumprimento 
de sentença. Se continuasse sendo processo de execução, seriam 3 
dias. A defesa é impugnação, aplica-se a multa se não houver 
pagamento. Portanto, nesses casos passamos a ter uma execução 
híbrida. 
É híbrida porque começa como processo autônomo, mas a partir da citação 
passa a ser um cumprimento de sentença. 
 
Execução por Sub-rogação e Execução Indireta 
 
São diferentes formas executivas. Sempre que há uma crise de satisfação do 
direito, teremos o seguinte cenário: de um lado a vontade do direito no 
sentido de que a obrigação seja satisfeita; doutro, a vontade do executado, 
no sentido de não cumprir a obrigação. 
 
Nesse choque de vontades, deve prevalecer a vontade do Direito. Para tanto, 
temos duas técnicas. 
A primeira delas é a EXECUÇÃO POR SUB-ROGAÇÃO, que trabalha com 
uma característica tradicionalíssima da jurisdição: seu caráter substitutivo. 
O Estado-Juiz, por meio de atos materiais de execução, substituirá a 
vontade do executado pela vontade do Direito. Nesse tipo de execução, 
não há colaboração do executado. 
vontade do direito 
e do exequente 
•obrigação seja 
satisfeita 
vontade do 
executado 
•não cumprir a 
obrigação 
 
 
13 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
A colaboração do executado é irrelevante, porque mesmo contra a sua 
vontade iremos satisfazer o Direito, sobrepondo a vontade do Direito à 
vontade do executado. Ex.: penhora / expropriação1; busca e apreensão. 
Basicamente, é uma “execução que vai na marra”, uma “execução de força”. 
Por isso, alguns a chamam de execução forçada. 
Pt. 03 
 
Na EXECUÇÃO INDIRETA, o Estado-Juiz exerce uma pressão psicológica 
sobre o devedor executado. 
Essa pressão psicológica tem um objetivo: convencer o executado a cumprir 
sua obrigação. Se isso ser certo, a vontade do executado terá mudado e 
passará a ser a vontade do Direito, qual seja, o cumprimento da obrigação. 
A pressão psicológica busca adequar a vontade do executado à vontade 
do Direito. 
Aqui, precisamos da colaboração do executado, porque se busca o 
cumprimento voluntário da obrigação exequenda pelo executado. 
Voluntário ≠ Espontâneo  estou cumprindo porque estou sendo 
pressionado, mas estou cumprindo. As motivações do ato externo são 
irrelevantes para a voluntariedade. Ou seja, não interessa se o sujeito está 
feliz, triste, raivoso. Nada disso interessa, desde que o executado entregue o 
bem / quantia. Não buscamos aqui a espontaneidade, mas a voluntariedade. 
Quais são as formas de pressão? 
 Oferta de melhora na situação da parte. Ex.: art. 827, §1º NCPC; 
isenção de custas e honorários na ação monitória. O NCPC chama isso 
de medida indutiva . Ou seja, você induz o executado a cumprir a 
obrigação com essa oferta. Parcela da doutrina fala em sanção premial 
ou sanção premiadora. Obs.: O problema dessa denominação é 
confundir pressão com sanção. Afinal, pressão é o que vem antes, 
sanção é o que vem depois. Ou seja, eu te pressiono para você não 
fazer; se mesmo assim você fizer eu te sanciono. Não há como 
confundir os dois termos. 
 
 Ameaça de piora na situação da parte. O NCPC chama de 
medida coercitiva . 
 
 
1
 A penhora sozinha ainda não satisfazer ninguém. O sujeito não quer pagar, o Estado-Juiz 
pega um bem no patrimônio do executado, aliena e entrega o dinheiro ao exequente. 
 
 
14 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
o Protesto da sentença. Art. 517 NCPC. Cumprimento de 
sentença definitivo (portanto, com trânsito em julgado da 
sentença) -> intima-se o executado para pagar em 15 dias. Se 
ele não pagar nesses 15 dias, caberá o protesto extrajudicial da 
sentença. Durante a elaboração do NCPC, constatou-se que mais 
de 60% dos títulos apresentados a protesto eram pagos, o que 
faz do protesto boa medida coercitiva para pagamento. 
Protestar o título é piorar a situação do devedor e, segundo os 
dados apresentados, é uma medida que funciona bem. 
 
o Prisão civil. Também é uma execução indireta, diferentemente 
da prisão penal, que não envolve cumprimento de obrigação, 
nem pagamento de débito. O sujeito continua devendo e além 
disso ainda será preso. Trata-se de uma medida de pressão 
psicológica e não de uma pena que substitua a dívida. A prisão 
civil é uma forma executiva limitada a dívida alimentar dos 
alimentos genuínos (parentesco, casamento, união estável), 
portanto excluídos os alimentos de responsabilidade civil, 
honorários advocatícios, verbas trabalhistas, etc. 
Ademais, é preciso que exista um inadimplemento inescusável. 
Se houver uma justificativa plausível, o executado não pode ser 
preso (ex.: desempregado, despejado, morando de favor no 
puxadinho do primo, etc.). O STJ, no HC 128.229/SPi, pela sua 3ª 
T, entendeu que a prisão civil depende de pedido expresso do 
exequente. Embora o juiz tenha liberdade para adotar os meios 
executivos que entender adequados, não pode determinar a 
prisão civil ex officio, sobretudo pela questão pessoal da prisão. 
Pt. 04 
Quando é determinada a prisão civil, tem-se uma decisão 
interlocutória. 
Sendo uma decisão interlocutória, o recurso cabível é o agravo 
de instrumento (art. 1015, p. único, NCPC2). Cabe também o 
habeas corpus. 
STF, 1ª T, HC 87.134/SP ii -> tem um procedimento sumário 
documental. Portanto, há uma limitação probatória. Embora 
caiba o HC contra a decisão que manda prender,a via é mais 
restrita em virtude da limitação probatória. É melhor usar o HC 
para questões meramente de direito. Se você quer discutir se 
 
2
 Toda decisão interlocutória proferida em execução (processo autônomo ou cumprimento) é 
impugnável via AI. E a decisão interlocutória que determina a prisão civil sempre se dá numa 
execução se alimentos, de modo que será recorrível via AI. 
 
 
15 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
houve uma justificação adequada ou não, o HC seria 
inapropriado porque se está discutindo uma questão fática. Já o 
excesso de prazo envolve questão fática provada 
documentalmente, de modo que poderia ser levantada via HC. 
Qual o prazo máximo de prisão? Havia uma divergência entre a 
Lei de Alimentos (60d) e o CPC 73 (1 a 3 meses). Nos termos do 
art. 528, §3º NCPC, esse prazo fica fixado de 01 a 03 meses. 
Embora o NCPC não tenha revogado o art. 19 da Lei de 
Alimentos, que fixa o prazo de 60 dias (apesar de ter revogado 
diversos outros artigos dessa lei), aplicar-se-á o NCPC por se 
tratar da lei superveniente regulando a mesma matéria. 
Art. 528, §7º NCPC -> consagra a S. 309 STJ. O que justifica a 
prisão civil são as 3 prestações vencidas anteriores à propositura 
da ação mais as prestações vincendas. 
Não permitiremos que o credor de alimentos eternize a dívida e 
depois a cobre com ameaça de prisão. O sujeito fica 2 anos sem 
pagar. Ao entrar com a execução, o valor devido será 
estratosférico para o devedor se livrar da prisão. Não podemos 
onerá-lo dessa forma. E se os alimentos são para subsistência 
digna, não se justifica a demora na cobrança, o que só 
demonstra que o alimentado conseguiu viver sem a quantia. 
Imagine que são devidos 8 meses de alimentos, só então se 
propondo a ação. 5 meses somente poderão ser cobrados 
mediante procedimento comum, sem prisão. Já os 3 meses 
anteriores são passíveis de cobrança através da prisão. 
Durante o processo, demora mais 6 meses para prender o 
executado. Estas são as prestações vincendas. Então para se 
livrar da prisão o devedor deve pagar 9 meses (3 anteriores à 
propositura + 6 que se venceram ao longo do processo). 
Não se está condicionando o exercício da ação. não é preciso 
esperar os 3 meses para executar. Mas se demorar muito a 
propor a execução, haverá prestações que não poderão ser 
executadas mediante procedimento especial e, portanto, não 
ocasionarão a prisão civil. 
STJ, 4ª T, RHC 23.040/MG iii -> são cabíveis prisões sucessivas 
numa mesma execução. O STJ apenas exige o inadimplemento 
superveniente. A ideia é que não se pode prender o mesmo 
sujeito duas vezes pela mesma dívida. Pressionei, não adiantou, 
não posso enviar “em cana” de novo. Imagine que o sujeito deve 
 
 
16 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
9 parcelas, é preso, não paga. Essas 9 parcelas serão jogadas 
para o procedimento comum, já que a prisão civil não funcionou. 
Nesse 1 mês preso, o sujeito já fica 1 mês devendo novamente. 
Já podemos pedir a prisão de novo, pelo mês que ele não pagou. 
Afinal, o mês que ele ficou preso não está computado nessas 9 
parcelas, então já enseja nova prisão. 
 
o Astreintes 
Pode-se falar também em multa cominatória, encontrando previsão no art. 
537 NCPC. 
Astreintes são uma MULTA. O art. 537 foi feliz ao deixar de qualificar esta 
multa, porque o art. 461, §5º CPC 73 fala expressamente em “multa diária”, o 
que é um erro. Na verdade, essa multa pode ter qualquer periodicidade. Pode 
ser por hora, semanal, mensal, por ato praticado... 
Imagine que o sujeito é condenado a não exibir o comercial, porque é 
enganoso. Num dia, são veiculadas 55 vezes o comercial; no dia seguinte, 
nenhuma. Não faz sentido a multa ser diária, afinal a decisão foi descumprida 
55 vezes num único dia. O juiz pode trabalhar com qualquer periodicidade. 
Ademais, não há qualquer problema nas astreintes serem uma MULTA FIXA e 
não periódica. Para a obrigação instantânea, a multa é fixa, como seria o caso 
de o sujeito ser condenado a não comparecer num determinado evento e 
descumprir tal decisão. É uma astreinte, embora fixa, porque incide numa 
única ocasião. 
Por isso, é feliz a opção do legislador em não qualificar a multa. Ela pode ser 
diária, periódica ou mesmo fixa. 
A multa pode ser fixada de ofício pelo juiz, que não depende da provocação 
do exequente. 
Art. 537, §1º NCPC  permite a alteração do valor e da periodicidade da 
multa, independentemente da provocação do exequente. 
A multa pode ser fixada na fase de conhecimento, no cumprimento de 
sentença, no processo autônomo de execução e na tutela provisória. Ou seja, 
ela pode ser fixada a qualquer momento. 
A multa na fase de conhecimento pode vir numa decisão interlocutória de 
tutela antecipada ou na sentença. Quando a multa vem fixada na sentença e 
esta transita em julgado, a multa não faz coisa julgada material. 
 
 
17 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
A multa é apenas meio executivo, não faz parte do conteúdo da decisão que 
resolve o conflito. Mesmo que o juiz condene o réu na fase de conhecimento, 
a decisão transite em julgado, nada obsta que o magistrado reconsidere isso 
na fase de execução e resolva revogar, diminuir o valor ou alterar a 
periodicidade da astreinte, até de ofício. 
Qual o valor dessa multa? O CPC 73 é omisso e o NCPC também. Não há 
qualquer elemento para fixar esse valor. O juiz deve pensar que o valor não 
pode ser irrisório (porque um valor irrisório não cumpre sua função de 
pressionar psicologicamente o devedor, que passa a fazer um cálculo de 
custo-benefício) e nem exorbitante (porque causa desestímulo ao 
cumprimento da obrigação. 
STJ, 1ª T, REsp 770.753/RS iv -> o STJ corretamente dissocia o valor da 
multa com o valor da obrigação principal (obrigação que estamos 
pressionando para ser cumprida). A multa não tem natureza reparatória e 
nem sancionatória, mas sim executiva. 
Se estivéssemos tratando de uma sanção, é óbvio que teria um valor atrelado 
ao da obrigação. Se fosse uma reparação, idem. Como a multa tem natureza 
executiva, se a obrigação é entregar um telefone que custa R$ 90, nada 
obsta que o juiz fixe uma multa diária de R$ 100, por exemplo. 
 
Aula 02 – 26/08/2015 – pt. 01 
Fixação das astreintes nos Juizados Especiais 
Não há dúvida de que cabe tal multa nos Juizados Especiais, mas se indaga a 
respeito do seu valor. 
Nos juizados, temos um limite de valor. No JEC estadual, por exemplo, são 40 
salários mínimos. E será que o valor da multa pode superar esses 40 s.m. ou 
como há uma alçada nos JEC haveria tal limitação? 
Segundo o Enunciado 144 FONAJE, não há limitação. O valor da causa está 
associado à pretensão material do autor. Não posso ir ao juizado pretendendo 
bem da vida de valor superior a este. Mas a pretensão de direito material 
nada tem a ver com a multa. 
Assim, reconhece-se que a multa tem natureza executiva e, portanto, está 
dissociada do objeto da demanda. Ninguém pode querer mais de 40 s.m. no 
JEC como objeto da pretensão, mas a multa não é objeto da pretensão e sim 
uma medida executiva. 
 
 
 
 
18 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Beneficiário da multa 
Há na doutrina discussão sobre se o destinatário dessa multa deve ser a 
parte contrária ou o Estado. Algumas legislações preveem isso 
expressamente, como em Portugal, onde é meio-a-meio. 
Não tínhamos previsão expressa, mas já vínhamos entendendo que o 
beneficiário seria a parte contrária. 
O art. 537, §2º NCPC é expresso no sentido de que é credor desta multa a 
parte contrária. 
 
Fazenda PúblicaA Fazenda Pública pode sofrer aplicação de astreintes. 
STJ, 2ª T, AgReg no AREsp 7.869/RS 
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR CIVIL. REVISÃO DE PENSÃO. 
OBRIGAÇÃO DE FAZER E ENTREGAR COISA. COMINAÇÃO DE MULTA DIÁRIA CONTRA A 
FAZENDA PÚBLICA. POSSIBILIDADE. 
O entendimento do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de ser possível ao juiz, 
de ofício ou a requerimento da parte, fixar multa diária cominatória - astreintes -, 
ainda que seja contra a Fazenda Pública, em caso de descumprimento de obrigação 
de fazer. 
Agravo regimental improvido. 
(AgRg no AREsp 7.869/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, 
julgado em 09/08/2011, DJe 17/08/2011) 
 
A multa contra a Fazenda Pública abstratamente não é tão efetiva, porque 
quem pagará esta conta é a pessoa jurídica de direito público e não o agente 
público que descumpriu a decisão. 
A Fazenda Pública é um ser inanimado, então quando há descumprimento de 
obrigação, ele não parte da Fazenda, mas de pessoa humana. A partir disso, 
poderíamos pegar o agente público e lhe aplicar a multa? Não. O agente 
público não é parte no processo. A astreinte só pode ser aplicada para 
pressionar a parte a cumprir a obrigação. 
STJ, 1ª T, REsp 679.048/RJv 
O STJ entende que esse agente público não pode ser pressionado, 
então não cabe astreinte. Contudo, ele pode sofrer multa, que não é 
astreinte, porque sua natureza será sancionatória (art. 77 NCPC). 
Trata-se de ato atentatório à dignidade da justiça. 
A conduta do agente público que não cumpre a obrigação é qualificada como 
ato atentatório à dignidade da justiça, cabendo a aplicação da multa 
 
 
19 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
sancionatória, de até 20% do valor da causa. Essa sanção pode ser aplicada a 
terceiros. O art. 77 descreve condutas que incluem terceiros. 
 Astreinte (multa com natureza executória) -> apenas para as partes, 
inclusive Fazenda Pública. 
 Multa por ato atentatório à dignidade da jurisdição -> inclusive para 
terceiros, o que abrange o agente público. 
 
Valor consolidado da multa 
É o valor que se apura quando a multa não está mais sendo aplicada, ou seja, 
o valor final. 
Não interessa por que a multa não está mais sendo aplicada. Pode ser porque 
foi cumprida tardiamente, ou porque o exequente desistiu. 
O valor consolidado pode ser diminuído? Há uma tese defendida inclusive 
pelo Alexandre Câmara e que conta com a simpatia da Nancy Andrighi que 
fala em direito adquirido. Essa tese diz que durante a aplicação da multa se 
criou direito adquirido ao crédito. Não se pode retirar o direito adquirido da 
parte, por mais que o valor tenha ficado estratosférico. Essa teoria diz que o 
valor é de culpa exclusiva da inércia da parte, por isso não caberia a 
diminuição. 
STJ, Inf. 485, 3ª T, Resp 1.019.455/MTvi 
O STJ entende que cabe a diminuição, com escopo de evitar o enriquecimento 
sem causa. 
De um lado, temos a raiva do executado, um pilantra que não cumpre sua 
obrigação. Do outro lado, não podemos permitir que essa astreinte vire uma 
poupança para o exequente, que não pode ficar apenas em silêncio se 
beneficiando da situação, de modo que o inadimplemento do executado vire 
um bom investimento, até mais lucrativo que o cumprimento espontâneo do 
direito. Incide aqui até mesmo o duty to mitigate the loss, ou seja, vendo que 
a astreinte não está surtindo efeito para que se cumpra o direito, o 
exequente tem obrigação de se mover e tentar mitigar seu próprio prejuízo, 
tentando outras medidas junto ao magistrado. 
A diminuição pode ser realizada de ofício pelo juiz. Por exemplo, o 
exequente pede a execução dos R$ 100 mil de astreintes e o juiz manda 
intimar para pagar R$ 50 mil. Outrossim, o juiz pode ser provocado, seja por 
meio da impugnação (sou intimado a pagar em 15 dias 1,5 milhão e 
apresento a impugnação, pedindo a redução do valor consolidado) ou mesmo 
a exceção de pré-executividade. 
 
 
20 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
S. 393 STJ -> para usar execução de pré-executividade, a matéria precisa 
ser conhecível de ofício e dispensa de instrução probatória. Ora, aqui o juiz 
poderia reduzir a astreinte de ofício e a matéria é jurídica. Por isso o STJ 
admite que se provoque o juiz para redução do valor consolidado mediante 
exceção de pré-executividade. 
 
Intimação da decisão que fixa astreintes 
S. 410 STJ => é necessária uma decisão que tenha como objeto o 
cumprimento da obrigação com a pressão psicológica da multa. O juiz precisa 
proferir decisão de que a parte tem 24 horas para entregar o laptop, por 
exemplo, fixando-se multa diária de 100 reais. A multa vem atrelada ao 
cumprimento de uma obrigação, que sempre é fixada mediante decisão. A 
decisão fixa a obrigação e condiciona a multa. 
Dessa decisão, é preciso realizar a intimação. Essa intimação é na pessoa do 
advogado ou é pessoal, na pessoa do executado? Na S. 410 STJ, o STJ fixou 
que se trata de uma intimação pessoal. 
O ato de cumprir a obrigação não é postulatório, mas um ato da parte. 
Quando intimo a parte na pessoa do advogado, é para atos postulatórios, que 
só o advogado pode praticar. É o caso de intimar da sentença, porque é o 
advogado que interporá eventual recurso. Mas cumprir a obrigação é um ato 
que a parte deve cumprir, e por isso a intimação da decisão deve ser 
pessoal (na parte). Não basta a publicação no Diário Oficial, senão a 
multa não poderá incidir. 
Pt. 02 
Executabilidade da multa 
A multa é fixada por uma decisão. Parte da doutrina (p.e., Dinamarco) diz que 
a partir do momento em que a decisão se tornar eficaz, já cabe a execução 
da multa. Se é dada TA em decisão interlocutória, fixando astreintes, mesmo 
que a parte agrave, como não há efeito suspensivo já há eficácia, de modo 
que a multa é executável. Esse posicionamento tem como base a efetividade 
da multa. 
Quanto mais rápido a multa puder ser executada, maior será a sua força de 
pressão. 
Outra parte da doutrina defende que só podemos executar esta multa quando 
a decisão se tornar definitiva, o que só ocorre no trânsito em julgado. Caso a 
astreinte seja fixada em decisão interlocutória, por exemplo, por mais que já 
produza efeitos só poderemos executá-la depois do trânsito em julgado da 
sentença, porque só aí vem a definitividade. Este entendimento tem evidente 
preocupação com a segurança jurídica. 
 
 
21 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Quer-se assim evitar a execução fundada em decisão que venha a ser 
reformada ou anulada. Esta é a opinião do Marinoni. 
Nesse embate, o STJ toma partido pelo primeiro entendimento. 
STJ, 1ª T, RESp 1.098.028/SPvii 
Art. 537, §3º, NCPC -> diz que a executabilidade é imediata. A ideia é 
prestigiar a efetividade da multa, com seu caráter coercitivo. Entretanto, o 
levantamento do dinheiro obtido nesta execução só poderá ocorrer após o 
trânsito em julgado. 
Tira-se o dinheiro do executado imediatamente. Mas por questões de 
segurança esse dinheiro só vai para a parte contrária após o trânsito em 
julgado. Se o executado, que já sentiu a perda do dinheiro, conseguir reverter 
a decisão, então receberá o dinheiro de volta. 
 
Espécies de Obrigação 
 
Independentemente da espécie de obrigação, teremos processo autônomo de 
execução (PAE) e cumprimento de sentença (CS). 
Veremos aqui como essas diferentes espécies de obrigação trabalham com a 
execução por sub-rogação e com a execução indireta. 
 
Obrigação de Pagar Quantia 
Fundamentalmente, a execução se dará mediante sub-rogação. A obrigação 
de pagar quantia essencialmente é hoje uma execução por sub-rogação, 
posto que fundada no binômio penhora-expropriação.Na execução de alimentos, há uma execução por sub-rogação que não é 
penhora-expropriação, mas sim o desconto em folha de pagamento. 
O art. 529, §3º NCPC diz que esse desconto em folha de pagamento serve 
para prestações vincendas e vencidas. A única exigência é que o 
desconto não supere 50%. 
De todo modo, é uma execução por sub-rogação, porque o executado não 
quer pagar, mas paga na marra. O juiz expede ofício ao empregador, que tem 
o risco de incorrer em crime de desobediência se não efetuar o pagamento 
correto. 
Há uma sub-rogação, embora não seja a tradicional penhora-expropriação. 
 
 
22 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
 
A execução de obrigação de pagar quantia contra a Fazenda Pública também 
não se dá mediante penhora e expropriação, mas por meio do precatório e 
RPV (requisitório de pequeno valor). De todo modo, também se trata de uma 
execução por sub-rogação, porque feita contra a vontade do devedor. 
Estamos tirando do orçamento da Fazenda Pública quantia para pagar os 
credores. 
Há uma exceção a essa execução por sub-rogação, que é o art. 827, §1º, 
NCPC (técnica de execução indireta). 
 
No cumprimento de sentença, o art. 523, §1º NCPC mantém o prazo de 15 
dias. Se não houver o pagamento, incide a multa de 10%. 
Essa multa é uma astreinte? Apesar de haver uma corrente doutrinária 
dizendo que se trata de astreinte (p.e., Tereza Arruda Alvim Wambier), outra 
parcela da doutrina (p.e., Marinoni), diz que a natureza jurídica desta multa é 
de sanção processual. 
Há várias decisões do STJ reconhecendo an passand que se trata de uma 
sanção processual. 
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO PROVISÓRIA. MULTA. CPC, ART. 475-J. 
DESCABIMENTO. 
I. A multa prevista no art. 475-J do CPC não se aplica à execução provisória. 
II. Recurso especial conhecido e provido. 
(REsp 1059478/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Rel. p/ Acórdão Ministro 
ALDIR PASSARINHO JUNIOR, CORTE ESPECIAL, julgado em 15/12/2010, DJe 
11/04/2011) 
 
A primeira razão é que esta multa tem valor fixo. Ainda que seja em 
percentual, é um percentual fixo. Multas que têm função de pressionar não 
podem ter valor fixo, porque não há como garantir abstratamente que tal 
valor pressionará efetivamente. 
As astreintes não têm valor fixado em lei justamente para que o juiz o adéque 
ao caso concreto. Já o valor de 10% é imutável. Trata-se em verdade de uma 
sanção pelo descumprimento da decisão do juiz. 
A multa serve para pressionar, então é óbvio que não cabe astreinte para 
cumprimento impossível de obrigação. Se o laptop que deve ser devolvido foi 
furtado, não adianta fixar uma astreinte diária porque a obrigação é 
impossível. Um devedor sem patrimônio não consegue pagar, nem que 
queira. 
 
 
23 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Leonardo Greco defende que esses 10% são para pressão psicológico, mas 
ele defende que se o executado provar que não tem como pagar, não se 
aplica a multa. 
Na prática, porém, nenhum executado escapa dessa multa, tendo ou não 
patrimônio, justamente porque não é uma pressão psicológica, mas uma 
sanção processual. 
Sendo sanção processual, é irrelevante saber se o executado tem ou não 
patrimônio. O importante é que ele descumpriu a decisão do juiz. 
Pt. 03 
O STJ hoje é pacificado no sentido de que na obrigação de pagar não 
cabem astreintes. 
Para manter este entendimento, o STJ muitas vezes diz que uma obrigação 
de pagar na verdade é uma obrigação de fazer, consistente em efetuar 
crédito, entregar dinheiro, etc. Isso tudo para poder aplicar as astreintes sem 
admitir que é uma aplicação de astreintes em obrigação de pagar. 
Art. 139, IV, NCPC -> fala de cumprimento de ordem judicial, prevendo a 
utilização de qualquer medida indutiva, coercitiva, sub-rogatória e 
mandamental, inclusive nas obrigações que tenham por objeto prestação 
pecuniária. 
Portanto, esse artigo se aplica nas obrigações de pagar. Entretanto, há que se 
recordar que nem toda decisão é ordem; para ser ordem, deve possuir 
caráter mandamental. 
Pode-se interpretar esta expressão de maneira restritiva, de modo que 
apenas englobaria as decisões mandamentais, excluindo-se as decisões 
condenatórias. 
Também é perfeitamente possível entender que por cumprimento de ordem 
judicial se interpreta decisão judicial. Ainda que tecnicamente nem toda 
decisão seja uma ordem, existe um componente comum: imputar a alguém o 
cumprimento de uma obrigação. 
Esse artigo tem sido considerado como aquele artigo que consagra a 
tipicidade dos meios executivos. Não está na parte da execução, mas sim na 
parte da teoria geral do processo. 
 
Obrigação de Entregar Coisa 
Na obrigação de entregar coisa, temos a concomitância de sub-rogação e 
execução indireta. 
 
 
24 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Na verdade, haverá possibilidade de trabalhar com essas duas formas 
executivas. Na sub-rogação, se o bem for móvel, faz-se uma BUSCA E 
APREENSÃO. Se o bem for imóvel, faz-se a IMISSÃO NA POSSE. 
Na execução indireta, trabalhamos com as astreintes. 
Não há prevalência entre as formas executivas. Não há que se falar que 
só se aplica uma forma executiva se a outra não der certo. A adequação da 
forma cabe ao juiz no caso concreto. 
Outrossim, é plenamente possível a concomitância dessas duas 
formas executivas. 
 
Obrigação de fazer ou não fazer 
Nesse tipo de obrigação, devemos realizar a seguinte distinção: 
a) Obrigação fungível (que pode ser cumprida por alguém além do 
devedor – ex.: pintar um quarto): 
i. Sub-rogação -> contratação de terceiro para cumprir a 
obrigação no lugar do devedor (art. 817 ss NCPC). 
ii. Execução indireta -> aplicação de astreintes. 
b) Obrigação infungível (que só pode ser cumprida pelo devedor; 
obrigação personalíssima) -> é inviável a execução por sub-rogação, 
porque se só o devedor pode cumprir, não há como substituir essa 
vontade. Só resta a execução indireta, com aplicação das astreintes. 
 
 
fazer / não 
fazer 
obrigação 
fungível 
sub-rogação 
contratação 
de terceiro 
indireta astreinte 
obrigação 
infungível 
indireta astreinte 
 
 
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PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
 
 
 
26 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Princípios da execução 
 
Nulla Executio Sine Titulo 
 
Sem título executivo não há execução. 
O título executivo é uma condição sine qua non, indispensável para a 
execução. 
Sempre que se tem uma execução, coloca-se o executado numa posição de 
desvantagem. É natural, parte do jogo: o executado fica em situação de 
desvantagem na execução. 
Essa desvantagem se dá no aspecto processual (“a execução é o processo do 
credor”), uma vez que a tutela executiva foi feita para satisfazer o direito do 
credor. A grande função do executado é evitar abusos. 
Em regra, o executado nem busca a tutela jurisdicional. Ele é citado para 
cumprir a obrigação. No processo de conhecimento, ele é citado para 
conversar, apresentando a sua versão através da contestação. Na execução, 
há uma predisposição de que ele é culpado, devedor, ainda que de fato não o 
seja. 
A situação processual já começa de forma diferenciada na própria citação. 
Igualmente, existe uma desvantagem material, porque é na execução que 
são adotadas a constrição de bens e as medidas restritivas de direitos. 
A justificativa para essa situação de desvantagem é a grande probabilidade 
de o direito do exequente existir. Essa grande probabilidade de o direito 
existir advém do título executivo. 
O título me dá a grande probabilidade de o direito existir, o que justifica a 
desvantagem do executado,natural da tutela executiva, ou seja, 
naturalmente gerada pela tutela executiva. 
 
Nulla Titulus Sine Lege 
 
Só a lei pode criar espécie de título executivo. 
O rol legal de títulos executivos é exauriente. Nem a vontade das partes pode 
criar título executivo que não exista (p.e., as partes não podem inserir num 
 
 
27 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
contrato cláusula de que valerá como título executivo, sem que haja duas 
testemunhas assinando junto). 
O art. 475-N CPC 73 falava em “sentença”, levantando indagação a respeito 
de decisão interlocutória de tutela antecipada. 
O art. 515, I, NCPC substituiu o termo “sentença” pelo termo “decisão”, 
encerrando a discussão. O que o legislador fez foi mudar a espécie pelo 
gênero, de forma inteligente. 
 
Patrimonialidade 
 
O devedor tem seu corpo e o seu patrimônio. O que responde por suas 
dívidas é o seu patrimônio, mesmo no caso da prisão civil. 
A prisão civil é medida que recai sobre o corpo do devedor, mas ela não é 
medida de satisfação da obrigação. Se a prisão civil satisfizesse a obrigação, 
ele estaria respondendo com o corpo, mas não é esse o caso. 
A prisão civil não é medida de satisfação, mas medida coercitiva de pressão 
psicológica. 
Isso resulta do processo de humanização da execução. Já houve tempo em 
que era admitida a morte do devedor (na Lei das XXII Tábuas). Havendo mais 
de um credor, o devedor deveria ser esquartejado e os seus pedaços, 
entregues aos credores. 
Depois, ao invés da morte veio a previsão da escravidão do devedor. No 
começo, vendia-se esse sujeito como escravo para povos inimigos. Era uma 
escravidão eterna. 
Depois, passaram a criar a escravidão meramente temporária, dentro da 
própria sociedade. 
Passaram a perceber que o corpo responder não era uma boa alternativa, 
porque era desumana e inútil, até porque com a morte do devedor o credor 
não ganhava nada com isso. Criou-se então a regra do patrimônio. 
No início, trabalhava-se com a ideia de patrimônio integral. Não havia 
correlação entre o valor da dívida e o valor do patrimônio. De uma dívida de 
R$ 10, se o devedor tivesse um patrimônio de R$ 1000, ele perderia os R$ 
1000. 
Ainda que se tenha mudado a responsabilidade corporal para patrimonial, 
mantivemos nessas três formas executivas a ideia da vingança privada. Por 
 
 
28 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
que sendo a dívida de 10 o sujeito perde patrimônio de 1000? Por punição. O 
credor está se vingando, punindo o executado. 
Passamos então a reconhecer que deveria ser afetado o patrimônio no limite 
da dívida. Se tenho dívida de 10 e patrimônio de 1000, perco 10 e mantenho 
990. 
Nessa forma executiva, todo o patrimônio no limite da dívida responderia por 
ela. Se eu tenho um patrimônio de 10 e a minha dívida é de 10, ficaria com a 
roupa do corpo e olhe lá. 
Mais a frente, mantemos a correlação do valor da dívida com o valor que 
pode ser executado, mas passamos a aplicar o p. do patrimônio mínimo, 
decorrente do p. da dignidade da pessoa humana. 
A ideia é a manutenção do mínimo necessário para a sobrevivência 
digna do devedor. 
Isso é feito com sacrifício do direito do credor. Afinal, ao aplicarmos o p. do 
patrimônio mínimo, por opção política estamos impedindo a satisfação do 
crédito do credor. 
Materializamos esse princípio criando impenhorabilidade de bens. 
Art. 833 NCPC + Lei 8.009/90 (Lei do Bem de Família) 
Merece destaque o inc. IV desse art. 833 NCPC, dispositivo que trata da 
impenhorabilidade do salário. Na verdade, é uma impenhorabilidade 
quanto a todos os ganhos que derivam do trabalho, não só o salário. Verbas 
geradas pela remuneração lato sensu pelo trabalho são impenhoráveis, assim 
como a pensão. 
Essa impenhorabilidade encontra exceções: 
1) Dívida alimentar 
2) Art. 14 da Lei de Ação Popular3 
3) Art. 833, §2º, NCPC4 
Obs.: o p. do patrimônio mínimo não serve para manter o padrão de vida do 
devedor, e sim para garantir que ele tenha uma subsistência digna. 
Aula 03 – 02/09/2015 – pt. 01 
 
3
 Na ação popular, se o condenado for agente público, pode haver desconto na sua folha de 
pagamento, que é uma penhora no salário. Na ideia de microssistema coletivo, essa parece 
ser uma regra aplicável a todas as ações coletivas. 
4
 Quando o salário superar 50 salários mínimos. O que extrapolar esses 50 s.m. poderá 
ser penhorado. 
 
 
29 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Apesar de muito polêmico, há decisões do STJ
viii
 em que, apesar da vedação 
legal, admitem a penhora de um percentual do salário, independentemente 
do seu valor. 
O que o STJ disse é que se o sujeito ganha salário de X e consegue sobreviver 
dignamente com Y% desse salário, então é possível a penhora do restante. 
Mas com a nova lei admitindo a penhora a partir de certo valor, pode haver 
um “tiro no pé”, porque o STJ dificilmente conseguirá abrir esse tipo de 
brecha, porque estaria infringindo a regra que estabelece o limite mínimo 
para que haja a penhora. 
REsp 1.330.567/RS ix => saldo mensal do salário. O saldo serve para 
manter o devedor ao longo do mês; tudo o que não for gasto naquele mês se 
torna penhorável no mês seguinte. Essa tese encontra resistência no próprio 
STJ, conforme REsp 1.164.037/RSx, reconhecendo que não é o fato de você 
não ter gastado que desprotege o dinheiro. Você deve poupar, não gastar 
todo o seu salário. Se ele economiza para ter um caixa, tudo o que for 
economizado vai ser penhorado?Você está incentivando o gasto alucinado. O 
que não for gasto, mas for depositado em poupança continua sendo 
protegido contra a penhora. 
 
O crédito consignado admite que 30% do salário seja destinado na fonte de 
pagamento para o banco. Há uma ordem para o empregador, que a partir do 
momento em que tem crédito consignado paga 70% ao empregado e 30% 
destina à instituição concedente do crédito. 
O STJ, 3ª T, AgReg no REsp 1.284.388/MT, diz que se por algum problema a 
consignação na fonte não for realizada, cabe a penhora de 30% do salário. 
Isso porque houve um ato de vontade. Eu voluntariamente compareci ao 
banco e aceitei perder 30% do meu salário. Se não for feito este pagamento 
em consignação, então em juízo é possível estabelecer tal penhora. 
Surge uma corrente doutrinária defendendo que se o banco pode reter 30% 
do salário, por que o Estado-juiz não pode fazer o mesmo? O banco tem mais 
poder que o juiz? Entretanto, existe uma diferença óbvia, como reconheceu o 
STJ, 4ª T, RMS 37.999/DF: o crédito consignado deriva de ato de vontade; a 
penhora deriva de ato de império. Uma coisa é eu aceitar ficar com apenas 
70% do meu salário; o que é possível porque é algo patrimonial e disponível. 
Coisa diversa é o juiz, contra a vontade do devedor, invadir o salário dele. O 
STJ não aplica essa teoria do crédito consignado para admitir a penhora de 
salário. 
 
 
30 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Com a criação do NCPC de penhora nos salários a partir de 50 s.m., a 
tendência é que este tema goze de inovações, modificando o que vimos até 
aqui. 
 
 
Princípio do Desfecho ou Resultado Único 
 
Quando temos um processo ou uma fase de conhecimento, trabalharemos 
com resultado normal e resultado anormal. O fim normal do processo de 
conhecimento (fim esperado pelo legislador) é a decisão de mérito; o fim 
anormal é a decisão terminativa. 
O julgamento de mérito pode tutelar o autor ou réu. Se o juiz acolher o 
pedido, tutelará o autor; se rejeitar o pedido, tutelará o réu. Portanto, num 
resultado normal tanto o autor quanto o réupodem ser tutelados num 
processo de conhecimento. É tão normal a procedência quanto a 
improcedência. 
Na execução, também trabalhamos com um resultado normal e um resultado 
anômalo / atípico. O resultado atípico continua sendo a decisão terminativa, 
que por vezes é inevitável. 
Como a execução foi criada para resolver uma crise de satisfação do direito, 
resolve-se isso por meio da satisfação ao direito. Logo, o fim normal do 
processo de execução é a satisfação do direito, que é a tutela exclusiva do 
exequente (diferente da decisão de mérito, que pode tutelar tanto autor 
quanto réu). 
Na execução, o resultado normal, que é a satisfação de mérito, só tutela o 
autor-exequente. 
A ideia clássica da execução é que nela só o exequente pode ser tutelado. Só 
há tutela jurisdicional para o exequente, de modo que o resultado normal é 
conceder tal tutela ao exequente. 
E se o executado quiser uma tutela jurisdicional, classicamente? Ele deve 
propor uma nova ação, porque na execução ele não tem como conseguir a 
tutela. Essa nova ação é chamada de embargos à execução. 
O sistema jurídico passou a admitir defesas incidentais do executado. A 
clássica lição de que para se defender o executado precisa de uma nova ação 
não é mais uma verdade absoluta. No cumprimento de sentença, admite-se a 
 
 
31 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
IMPUGNAÇÃO, que é defesa incidental (não tem natureza de ação). Admite-se 
ainda a EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE (igualmente incidental). 
Imagine que essa defesa seja de mérito, a qual seja acolhida. Se a defesa 
incidental de mérito for acolhida, teremos tutela jurisdicional para o 
executado na própria execução. 
O sistema não admite isso, a defesa incidental de mérito? Sim. Ora, se o 
sistema admite esse tipo de defesa, o resultado gerado pelo seu acolhimento 
é um resultado normal (e não atípico). O que seria inadmissível é que se 
previsse uma defesa que não seria acolhida. Quando se prevê uma defesa, é 
porque ela pode ser acolhida ou rejeitada. E se é acolhida, obtemos um 
resultado normal ao processo. 
Nesse caso, destarte, temos dois resultados normais: rejeitar a defesa e 
satisfazer o direito; acolher a defesa e extinguir o processo. 
Isso coloca em crise o princípio do desfecho ou resultado único. Na 
circunstância de haver defesa incidental, há dois desfechos distintos: a tutela 
do exequente satisfazendo o direito; ou o acolhimento da defesa, extinguindo 
o processo. 
Pt. 02 
Princípio da Disponibilidade 
Desistência da Execução 
Como tem forte vinculação com o p. do desfecho único, com a crise deste 
princípio, também entra em crise o p. da disponibilidade. 
O p. da disponibilidade significa que o exequente pode a qualquer tempo 
desistir da execução. Ele pode desistir apenas de alguns atos processuais 
(continua executando, mas não por aqueles atos), ou pode desistir de todo o 
processo de execução / fase executiva. 
Essa desistência não depende da anuência do executado. Ou seja, o juiz 
homologará a desistência sem nem mesmo ouvir o executado. Como sua 
anuência é dispensável, realizar a intimação e abrir prazo é inútil. O juiz 
recebe o pedido, homologa e acaba com a execução. 
E se já tivermos embargos à execução em trâmite? A execução será extinta 
de toda maneira. A questão é saber como a desistência da execução afeta os 
embargos. Se eles tiverem apenas matéria processual, os embargos serão 
extintos. Os embargos restarão prejudicados. 
 
 
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PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Se minha defesa é processual, na melhor das hipóteses eu conseguirei uma 
extinção terminativa da execução. A extinção terminativa eu já tenho em 
razão da desistência. Ou seja, o máximo que eu poderia ter nesses embargos 
eu já tenho, de modo que os embargos perderam seu objeto (perda 
superveniente do interesse de agir). Que interesse de agir eu tenho em 
conseguir aquilo que já tenho? 
Mas se o executado alegou nos seus embargos matéria de mérito, o 
executado pode obter mais do que já tem. Até agora, ele tem sentença 
terminativa pela desistência; se ele ganhar os embargos, terá decisão de 
mérito a seu favor. 
Nesse caso, continua a existir interesse de agir nos embargos. O embargante 
pode obter mais do que já tem (decisão terminativa >> decisão de mérito 
favorável). Depende da vontade do embargante: o juiz intimará o 
embargante, informando que o exequente discutiu da execução e indagando 
se o embargante deseja prosseguir na ação de embargos ou extingui-la 
também. Quem escolhe é o embargante. Se ele quiser, concorda com a 
extinção e esta será promovida. Mas se quiser, pode dar seguimento aos 
embargos (para o professor, deveríamos apenas parar de chamar de 
“embargos”, já que não existe mais a respectiva execução). 
Art. 775 NCPC 
 Embargos apenas com matéria processual -> extinção (prejudicados) 
 Embargos com matéria de mérito -> escolha do embargante: (a) 
extinguir os embargos; (b) dar seguimento. 
 
E se houver o pedido de desistência da execução quando já há uma defesa 
incidental em trâmite? Se houver matéria processual alegada nessas defesas, 
é óbvio que com a extinção da execução também será extinta a defesa. Tudo 
o que poderíamos conseguir com essa defesa processual é uma extinção da 
execução, que já foi obtida em razão da desistência. 
Agora vamos imaginar que a defesa incidental tenha matéria de mérito. Não 
temos como manter a defesa incidental com a extinção da execução. Quando 
há embargos à execução, temos 2 ações, uma de execução e uma de 
embargos. Extinguir uma delas e continuar com a outra não causa problemas, 
porque são duas ações. Mas agora estamos falando de uma defesa que se dá 
dentro da execução. 
Se a execução acaba, a defesa acaba junto. Para manter a defesa viva, não 
se pode extinguir a execução. 
 
 
33 
PROCESSO CIVIL | Execução e Tutela de Urgência 
Neste caso, não aplicaremos o p. da disponibilidade. A extinção da 
execução dependerá de anuência do executado. 
Estamos aplicando uma regra do processo de conhecimento, em que só cabe 
a desistência da ação após o oferecimento da defesa se o réu anuir. 
Ao admitirmos uma defesa incidental no processo de execução, estamos 
aproximando muito do processo de conhecimento, tanto que só admitiremos 
a desistência do processo com a concordância da parte contrária, uma vez 
que encerrar a execução implicará encerrar também a defesa incidental. 
Isso era apenas doutrinário, mas é reconhecido no NCPC para a impugnação 
(art. 775 NCPC). Não fala nada a respeito da execução de pré-executividade, 
mas pelo simples fato de que o CPC nunca fala em exceção de pré-
executividade (é uma construção doutrinária e jurisprudencial). 
Apesar de o art. 775 NCPC falar da impugnação, a regra também vale para a 
exceção de pré-executividade de mérito, por serem ambas defesas 
incidentais. 
 
Princípio da Menor Onerosidade 
 
Fundamentalmente, este princípio busca evitar a vingança privada. É normal 
que o credor não goste do devedor, procurando feri-lo. 
A ideia fundamental, para evitar a vingança privada, é criar um binômio, 
constatando que haverá sacrifício do executado, mas esse sacrifício deve 
ser imposto nos estritos limites do necessário para a satisfação do 
direito. 
Ou seja, “você sofrerá o estritamente necessário para eu me satisfazer”. 
Qualquer sacrifício que não contribua para a satisfação é vingança 
privada, porque é um sacrifício a toa. Em termos jurisdicionais, é um 
sacrifício inútil. 
Qualquer coisa que não gere satisfação está vedada pelo p. da menor 
onerosidade. É o caso de uma medida executiva inapta para gerar satisfação. 
Se constatarmos que a

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