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Scheila Maria 2016 1 GASTRO – CÂNCER ESOFÁGICO Primeiramente leia a anatomia do esôfago, relembre lá no outro resumo. O esôfago é um órgão tubular que cumpre a função de conduzir o bolo alimentar da boca, passando pela faringe, ao estômago. Qualquer formação tumoral em seu trajeto tem o potencial de prejudicar a alimentação do paciente, podendo se manifestar por desconforto, dor, engasgo, ou mesmo não causar sintomas, sendo encontrada fortuitamente em exames com outro propósito. CA que predomina no sexo masculino (3:1 no escamoso e 15:1 no adenocarcinoma) O CA de células escamosas predomina na raça negra e o adenocarcinoma em brancos Geralmente se apresenta a partir dos 40 anos de idade (maior incidência entre 50 a 60 anos) Tipos histológicos de CA de esôfago: Carcinoma escamoso (ou epidermoide): é derivado do epitélio estratificado não queratinizado, característico da mucosa normal do esôfago; é o tipo de CA de esôfago mais comum; em 70% dos casos se origina do terço médio e superior do esôfago; tem como principais fatores de risco o etilismo e o tabagismo; bebidas muito quentes também são consideradas fator de risco (aprox. 65ºC); outros fatores de risco são: alimentos contendo nitrosaminas (conservantes e defumados), contaminação com fungos produtores de toxina, deficiência de selênio, molibdênio, zinco e vitamina; doenças esofágicas (acalasia, síndrome de Plummer-Vinson, estenose caustica risco 16x maior); fatores genéticos (tilose palmar e plantar - excesso de queratina nas mãos e nos pés); Adenocarcinoma: derivado do epitélio de Barrett (metaplasia intestinal), que complica alguns pacientes com esofagite grave de refluxo (principal fator de risco para este tipo de CA); localizado no terço distal do esôfago e, eventualmente, se confunde com o adenocarcinoma da cardia (junção esofagogástrica); além do refluxo, a obesidade e o tabagismo são possíveis fatores de risco; Esquema: DRGE metaplasia displasia carcinoma esofágico. Manifestações clínicas: Sintomas inicias inespecíficos: dor retroesternal mal definida ou queixas de “indigestão” A principal manifestação clínica é a disfagia quando este sintoma se apresenta, geralmente se tem envolvimento tumoral de mais de 60% da circunferência do órgão Odinofagia Regurgitação Vômitos Perda ponderal (de evolução rápida - é considerada fator de prognóstico sombrio quando ultrapassa 10% da massa corporal) Scheila Maria 2016 2 Lesões mais avançadas: halitose, tosse após ingestão de líquidos (isso indica que o lúmen já foi quase completamente comprometido ou, menos comumente, indica a formação de uma fístula traqueobrônquica); rouquidão, hematêmese, sangue oculto nas fezes (anemia ferropriva) O aparecimento de sintomas em geral ocorre quando há obstrução de 2/3 da luz esofágica. Nestes casos, acometimento esofágico transmural e metástase linfonodal é a regra, e o tratamento curativo é realizado de forma excepcional. A incidência de metástase linfática é de aproximadamente 25% quando existe invasão da camada submucosa do órgão. Perda de peso, estado clinico deteriorado, acometimento tumoral transmural e formação de fístula esofagobrônquica, por sua vez, são determinantes de mau prognóstico. Diagnóstico: são mais bem diagnosticados pela análise conjunta da Esofagografia Baritada (no exame é nítida a irregularidade da mucosa e há súbita transição entre esôfago normal e a obstrução – sinal do degrau; outro sinal clássico é o sinal da maçã mordida ; mostra falha de enchimento e/ou estenose da luz esofágica, desvio do eixo esofágico e fístula esofagobrônquica quando presente) e da endoscopia digestiva alta (Esofagoscopia – o diagnóstico é feito com mais exatidão) com biopsia (pelo menos 7 biopsias) e escovados (citologia) da área afetada. Aspectos endoscópicos do CA de esôfago: polipoide exofítico (60% dos casos); escavado ou ulcerado (25% dos casos); plano ou infiltrativo (15% dos casos). O CA de esôfago se caracteriza por ter um comportamento extremamente agressivo: dissemina-se localmente e à distância. A disseminação estende-se do epitélio para a mucosa, submucosa, muscular e linfonodos regionais. Obs: O CA de esôfago se dissemina com facilidade porque o órgão não possui serosa, mas apenas uma fina camada adventícia, o que facilita a disseminação para linfonodos regionais e para órgãos adjacentes. Disseminação dos tumores: Tumores do terço superior (cervicais) e médio invadem a arvore traqueobrônquica, a aorta e o nervo laríngeo recorrente; e drenam para linfonodos cervicais profundos (supraclaviculares), paraesofagicos, mediastínicos posteriores e traqueobrônquicos. Tumores do terço distal avançam sobre diafragma, pericárdio e estomago; e drenam para os linfonodos paraesofagicos, celíacos e do hilo esplênico. Obs: As metástases a distancia mais importantes são fígado, pulmão e osso. Estadiamento O estadiamento clínico, que considera a extensão da doença antes do tratamento, é baseado em história clínica, exame fisico, com especial atenção aos gânglios supraclaviculares e cervicais, biopsia, exames laboratoriais, endoscopia e métodos de imagem como o ultrassom endoscópico, tomografia computadorizada e tomografia por emissão de pósitron. Exames utilizados: o TC de tórax e abdome: avalia a espessura da parede esofágica (normal é de até 5mm), os linfonodos mediastinais e as metástases à distancia. É mais eficaz para a detecção de metástases; o Raio X de tórax: quando realizado, está alterado em 50% dos pacientes; pode mostrar adenopatia mediastinal, derrame pleural e mestástases pulmonares. o Ultrassom endoscópio de alta frequência (USE): melhor exame para estadiamento T e N, deve ser solicitado caso a TC não evidencie metástases à distância, afim de complementar o estadiamento T e N nos pacientes com proposta de tratamento potencialmente curativo. Pode ser utilizado ainda para guiar a biópsia de linfonodos suspeitos. o Tomografia por emissão de pósitrons (PET): caso disponível, é capaz de avaliar a presença de metástase à distância com melhor sensibilidade que a TC. Também é capaz de avaliar linfonodos Scheila Maria 2016 3 mediastinais, caso positiva, deve ser complementada por biópsia dos sítios suspeitos. *Mas ainda não faz parte do estadiamento do CA de esôfago segundo os principais guidelines. o Broncofibroscopia: mostra a invasão traqueobrônquica; indicada nos canceres dos terços superior e médio. o Torocoscopia e Laparoscopia com biópsia: avalia linfonodos e metástases a distância. REVISÃO DAS CAMADAS DO ESOFAGO MUCOSA Formada por epitélio escamoso, exceto nos 1 a 2 cm distais, que são constituídos por epitélio colunar juncional. Abaixo do epitélio encontramos a lâmina própria (fina camada de tecido conjuntivo) e a camada muscular da mucosa. SUBMUCOSA É uma camada espessa e rica em gordura, que permite ampla mobilidade da mucosa. Contém vasos sanguíneos e linfáticos. MUSCULAR Constituída por 2 camadas, uma mais interna com fibras circulares e outra mais externa com fibras longitudinais. ADVENTÍCIA Camada mais externa do esôfago, constituída por tecido fibroalveolar frouxo – o que facilita a disseminação de tumores, pois não existe serosa. Estadiamento TNM do CA de esôfago T = Tumor N = Linfonodo M = Metástase à distância TX - Tumor não pode ser avaliado. NX - Linfonodo regional não pode ser avaliado. MX - Metástase à distância não pode ser avaliada. T0 - Ausência de tumor. N0 - Ausência de linfonodo comprometido. M1 - Metástase à distância. Tis – Carcinoma in situ. N1 - Até 2 linfonodos regionais comprometidos.T1 – Invade a lâmina própria ou submucosa. T1a - O tumor se desenvolveu na lamina própria ou mucosa. T1b - O tumor se desenvolveu nas outras camadas e dentro da submucosa N2 - De 3 a 6 linfonodos regionais comprometidos. T2 - O tumor invadiu a muscular própria. N3 – Mais de 7 linfonodos regionais comprometidos. T3 - O tumor está crescendo na adventícia. T4 - O tumor está crescendo nas estruturas adjacentes. T4a - O tumor está crescendo na pleura, no Scheila Maria 2016 4 pericárdio ou no diafragma. O tumor pode ser retirado cirurgicamente. T4b - O tumor não pode ser removido cirurgicamente porque está crescendo na traqueia, aorta, espinha dorsal ou outras estruturas importantes. Grau GX - O grau não pode ser avaliado. G1 - As células são bem diferenciadas. G2 - As células são moderadamente diferenciadas. G3 - As células são pouco diferenciadas. G4 - As células são indiferenciadas. Prognóstico: de uma forma geral, o prognóstico é ruim, sendo que menos de 5% dos pacientes sobrevivem após o diganóstico. A sobrevida em 5 anos do CA de esôfago, de acordo com o estadiamento final (clínico + cirúrgico), é a seguinte: estágio I – 60%; estágio II – 30%; estágio III – 20%; estágio IV – 4%. São indicadores independentes de mau prognóstico: a) presença de disfagia; b) perda de mais de 10% da massa corporal; c) tumores muito grandes; d) idade avançada; e) micrometástases linfonodais. TRATAMENTO o Terapia curativa: quando restrito apenas a mucosa (T1a) ou que invadem apenas a camada superficial da submucosa – faz mucosectomia endoscópica definitiva, com margens livres ou terapia fotodinâmica; quando atinge a submucosa o tto de escolha é a cirurgia. No momento, o tto padrão é a radioterapia (RT) durantes 5 semanas + quimioterapia (QT) na primeira e última semanas (terapia neoadjuvante – a terapia neoadjuvante é atrativa, uma vez que é capaz de promover redução do tamanho tumoral e no número de linfonodos acometidos, aumentando a incidência de ressecções completas), seguida pela cirurgia. Pacientes em razoável estado geral e sem comorbidades preocupantes (cardiopatia, pneumopatia grave, etc.) são candidatos a cirurgia curativa, a ser realizada preferencialmente entre 4 e 6 semanas após o termino do tto neoadjunvante. o Cirurgia curativa: deve ser a esofagectomia + linfadenectomia regional com margens de segurança de pelo menos 8 cm. *A reconstrução do trânsito sempre que possível deve ser com o estomago. A interposição com o colon tem a desvantagem de requerer 3 anastomoses (coloesofagostomia, colojejunostomia e colocolostomia), sendo uma cirurgia de maior morbimortalidade. As 3 técnicas mais utilizadas para a esofagectomia são: 1. Esofagectomia transtorácica: o principal risco da cirurgia é a deiscência da anastomose intratorárica (abaixo da clavícula), que leva a mediastinite grave, sepse e óbito em 50% dos casos; muitos pacientes evoluem com problemas pulmonares nos pós-operatório, decorrentes da torocotomia prolongada; outra complicação é a esofagite de refluxo; 2. Esofagectomia trans-hiatal: não há incisão torácica, ela é executada através de uma incisão abdominal e outra cervical. O esôfago torácico inteiro (independente do nível de tumor), desde as clavículas até a cardia, utilizando os acessos cervical e trans-hiatal (pelo hiato diafragmático); vantagens: não faz torocotomia, evita-se uma anastomose intratorácica, bem como risco de mediastinite; reduz a chance de refluxo gastroesofagico; desvantagem: risco de hemorragia mediastinal incontrolável no perioperatório e a incapacidade de realizar a dissecção incompleta dos linfonodos mediastínicos; 3. Esofagectomia em 3 campos (tri-incisional ou técnica de Mckeown modificada): mistura as duas técnicas anteriores, sendo que os tempos torácico e abdominal também são passíveis de Scheila Maria 2016 5 realização por videolaparoscopia; mas é uma cirurgia mais agressiva e mais longa o que pode aumentar a morbimortalidade perioperatória. Permanece discutivel qual a melhor via de acesso cirúrgico para o tratamento dos tumores esofágicos, se transtorácica ou transiatal. Na primeira, realizada por meio de toracotornia direita, é possível melhor identificação das estruturas mediastinais, dissecção por visão direta da lesão, ressecção tumoral em monobloco e linfadenectomia intratorácica alargada. Na ressecção transiatal, a linfadenectornia intratorácica, especialmente das cadeias linfonodais mais craniais, é limitada e a dissecção dos tumores de esôfago médio, não é, na maioria das vezes, realizada por visão direta o Terapia adjuvante: geralmente reservada para os pacientes que não receberam tto neoadjuvante. O objetivo é a redução das micrometastases, aumentando-se a chance de cura. Esquema QT mais utilizado é 5-fluoracil + cisplatina. o Terapia paliativa: indicada para pacientes com tumor irressecável; dilatadores esofágicos ou stents permite a reconstituição do trânsito alimentar por um período curto; a terapia fotodinâmica utiliza uma substancia sensibilizadora por via venosa seguida pela aplicação do laser (a obstrução é cedida após necrose do tumor, com fragmentos retirados na endoscopia). A radioterapia é um excelente método paliativo, alivia a disfagia durante alguns meses (fistula traqueoesofagica contraindica a radioterapia); nos casos mais difíceis ou refratários, uma gastrostomia ou jejunostomia pode ser necessária; QT paliativa.
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