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Governo prepara queima de café contaminado por toxina B. Ble

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GOVERNO PREPARA QUEIMA DE CAFÉ CONTAMINADO POR TOXINA
(Ministério da Agricultura deve destruir 400 mil sacas contaminadas)
Bruno Blecher
(editor do Agrofolha)
	O Ministério da Agricultura está preparando um grande ato público para queimar, na próxima semana, diante das câmeras de TV, cerca de 400 mil sacas de café dos estoques oficiais contaminadas por ocratoxina, apurou a Folha.
	Esse café, que corresponde a quase 7% dos estoques do governo (6 milhões de sacas), contém nível de toxina acima de 5 ppb (parte por bilhão), segundo laudos do Laboratório de Micotoxinas do Ministério da Agricultura.
	O objetivo desse “jogo de cena” do governo é mostrar sua eficiência no saneamento dos estoques de café, tendo em vista principalmente o público externo – os importadores e as autoridades da União Européia.
	Composto tóxico produzido por fungos, a ocratoxina causa danos aos rins e há suspeita que possa causar também alguns tipos de câncer.
	Na Europa, os compradores de café estão se tornando cada vez mais restritivos a produtos que apresentem níveis acima de 5 ppb de ocratoxina. Isso significa que cada 1.000 quilos de café pode conter no máximo 5 g da toxina.
	Denúncia no Conselho
	Desde setembro, o governo vem analisando amostras de todo o estoque de café no Laboratório de Micotoxinas de Belo Horizonte, após denúncia apresentada pelo empresário Sérgio Coimbra, presidente da Companhia Cacique de Café Solúvel.
	Coimbra mostrou, no dia 19 de setembro último, na reunião do Conselho Deliberativo de Política Cafeeira (CDPC), em Brasília, testes que realizou no laboratório de sua empresa com amostras dos estoques do governo.
	Alguns desses testes revelaram elevados índices de ocratoxina. As análises foram solicitadas por uma empresa multinacional sediada na Europa, cliente da Cacique, que também teria detectado a presença da toxina em cafés provenientes do Brasil.
	Metodologia
	O Ministério da Agricultura, porém, contestou os testes realizados pela Cacique.
	Segundo Paulo César Samico, secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura, a metodologia utilizada pela Cacique para analisar o nível de toxina não seria a mais adequada.
	Para Samico, o presidente da Cacique, impedido de importar café no sistema “draw back” pelo Ministério da Agricultura, estaria interessado em desmoralizar os estoques do governo.
	Mesmo assim, atendendo à solicitação dos membros do conselho, o governo decidiu promover análises laboratoriais de todo o estoque de café, avaliado em 6,5 milhões de sacas (número de setembro), em uma operação que custou até agora R$ 600 mil aos cofres públicos.
	Foram analisadas 1.200 amostras de café provenientes de 30 armazéns, a maioria deles localizados no Paraná.
	A operação foi cercada de sigilo. O governo temia que a suspeita de contaminação dos estoques pudesse derrubar as cotações do café no mercado internacional.
FUNGO PODE PROVOCAR CÂNCER E DANOS NOS RINS
(da Redação)
	A ocratoxina ocorre naturalmente, produzida por fungos Aspergillus e Penicillium, que podem crescer em cereais e outros alimentos como frutas e café.
	Geralmente esses fungos surgem por causa de uma secagem inadequada ou do mal armazenamento do alimento, segundo explica Marta Taniwaki, pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL).
	Na Europa há muita contaminação de cereais, vinho, cerveja e embutidos por ocratoxina.
	Como as pesquisas indicam que a ocratoxina provoca danos aos rins, além da suspeita de causar câncer, a União Européia quer reduzir ao máximo o nível dessa toxina nos alimentos.
	A proposta da Comissão Científica Européia é limitar a presença da toxina em 4 ppb nos produtos torrado, moído e solúvel e em 8 ppb para o café verde.
	Algumas empresas européias, que importam café solúvel, estão estabelecendo em 3 ppb como limite máximo permitido de ocratoxina no produto que adquirem.
	A Organização Mundial da Saúde (OMS) admite como seguro o consumo diário de 100 nanogramos da ocratoxina por quilo corpóreo por semana. Uma pessoa que bebe seis xícaras de café por dia atinge apenas 15% do nível considerado como pernicioso à saúde.
SUSPEITA DE CONTAMINAÇÃO NÃO EVITA O CONSUMO DE 300 MIL SACAS
(da Redação)
	Apesar da suspeita de contaminação do café, o governo não suspendeu os leilões dos seus estoques.
	Desde o dia 19 de setembro último, quando foi apresentada a denúncia no Conselho Deliberativo de Política Cafeeira, foram realizados três leilões, onde foram vendidas 321.706 sacas.
	A maior parte do café vendido em leilão (95%) é destinada a torrefadoras que atendem ao mercado interno. Os 5% restantes são utilizados pelas empresas de café solúvel, sendo parte exportada.
	“Não houve riscos aos consumidores. Só vendemos cafés já analisados nos leilões”, disse à Folha Roberto Abreu, diretor de café do Ministério da Agricultura.
	Sem análise
	Entre janeiro e setembro últimos, antes de iniciar as análises laboratoriais de seus estoques, o governo realizou nove leilões, quando foram vendidas 984.427 sacas.
	O governo manteve sigilo sobre o exame laboratorial do seu estoque durante dois meses.
	Na semana passada, diante dos boatos que surgiram no mercado, decidiu romper o silêncio.
	Em nota divulgada à imprensa, o Ministério da Agricultura afirmou estar verificando os estoques oficiais de café, adquiridos na década de 1980, “no exercício de suas atribuições de zelar pela segurança agroalimentar e buscando assegurar a sanidade do café vendido nos leilões mensais”.
	Na verdade, o que levou o governo a checar os seus estoques foi a suspeita levantada na reunião do CDPC e a pressão dos membros do conselho (produtores e industriais).
	Até a semana passada, na Secretaria de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura, toda essa operação era encarada como “dinheiro perdido”.
(Texto transcrito da Folha de São Paulo. Dinheiro, 29.11.2000, p. B3)

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