Buscar

Capítulo 33 Questões Intertemporais

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

33. QUESTÕES INTERTEMPORAIS
33. QUESTÕES INTERTEMPORAIS
0
33. QUESTÕES INTERTEMPORAIS
SUMÁRIO: 33.1 Mudança do regime de bens – 33.2 Regime da
separação de bens – 33.3 Aval – 33.4 Proibição de sociedade entre
cônjuges – 33.5 Nome – 33.6 Alimentos – 33.7 Prescrição – 33.8 Fim
da separação: 33.8.1 Divórcio judicial; 33.8.2 Divórcio extrajudicial;
33.8.3 Separação judicial; 33.8.4 Reconciliação; 33.8.5 Conversão da
separação em divórcio; 33.8.6 Estado civil; 33.8.7 Nome; 33.8.8
Alimentos – Leitura complementar.
Sempre que entra em vigência uma nova Constituição, um novo
Código ou uma nova Lei surgem questionamentos a respeito de qual
norma aplicar diante de situações constituídas na vigência da
legislação pretérita e que perpassam para o tempo da nova lei.
Quando do advento da Constituição Federal, muito se questionou
sobre sua aplicabilidade, apesar da expressa determinação de
vigência imediata das normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais (CF 5.º § 1.º). Com o Código Civil, que entrou em vigor
em 2003, o tema voltou à baila.
Em princípio, a lei nova vem para disciplinar as relações futuras,
devendo ser preservados a coisa julgada, o direito adquirido e o ato
jurídico perfeito (CF 5.º XXXVI). A irretroatividade é a regra geral,
pois a lei só se torna obrigatória depois de ser publicada. Assim,
estender a sua ação para o passado é obrigar o cidadão a obedecer a
lei que ainda não existe. Seria tornar vacilantes e incertas todas as
relações jurídicas.1
Nas disposições finais e transitórias do Código Civil, apenas duas
regras dizem respeito ao direito das famílias:
Quanto ao regime de bens, a previsão é de todo dispensável. Por
demais óbvio que as regras sobre o regime de bens só podem ser as
vigorantes por ocasião do casamento. Ainda assim está explicitada a
aplicação da legislação pretérita quanto ao regime de bens do
casamento celebrado anteriormente à sua vigência (CC 2.039).
O Código Civil pretérito (CC/16 418 e 827 IV) determinava a
hipoteca legal de imóveis do tutor. A imposição servia também à
curatela (CC 1.774 e 1.781). O Código Civil atual silenciou, ao
evidenciar que foi abolida a necessidade de especialização de bens.
Tanto é assim que é autorizado o cancelamento do ônus (CC 2.040).
No entanto, pode o juiz, se assim entender necessário, em face do
vulto do patrimônio do tutelado ou do curatelado, determinar a
prestação de caução. A garantia passou a ser um ônus facultativo.
Quanto ao mais, tudo é silêncio.
Em sede de direito intertemporal, há alguns princípios bem
definidos: as leis que definem o estado das pessoas aplicam-se
imediatamente a todos que se achem nas novas condições previstas.2
A maioria dos institutos do direito das famílias se constitui de normas
de ordem pública, sujeitando todos às modificações legislativas
supervenientes. Assim, em face da natureza das normas que os
disciplinam, os vínculos familiares submetem-se à nova lei e às
alterações que ocorrem por vontade do legislador.
Uma assertiva é incontestável: não há direito adquirido a um
estatuto legal. Quando se está diante de situação posta na lei, pouco
espaço sobra para a noção de direito adquirido.3 Tem prevalecido o
princípio tempus regit actum, ou seja, se a causa geradora do direito é
anterior ao preceito, não se estendem à causa os efeitos previstos no
direito.4 Caso contrário, haveria uma “traição” à norma.5
Com o auxílio dessas precisões cabe analisar algumas questões
pontuais, quando surge uma nova legislação.
33.1 Mudança do regime de bens
Este foi o ponto que, em sede de direito intertemporal, mais
empolgou. A regra anterior era a absoluta imutabilidade do regime.
Adotado um regime de bens quando do casamento, ele se
perpetuava. No Código atual, foi introduzida a possibilidade de
mudança do regime de bens (CC 1.639 § 2.º), gerando muitos
questionamentos com referência aos casamentos celebrados antes da
sua vigência.
O tema ganhou especial interesse porque, nas disposições finais e
transitórias (CC 2.039), de forma singela, é estabelecida a
permanência do regime de bens dos casamentos celebrados na
vigência do Código Civil de 1916. Ora, o que foi determinado foi a
mantença do regime que existia, e não a sua imodificabilidade. A
mutabilidade representa, em verdade, característica do regime
matrimonial de bens no casamento, e não efeito do regime.6 A
alegação de que se estaria desrespeitando o ato jurídico perfeito e o
direito adquirido acaba por reconhecer, ao fim e ao cabo, a aquisição
não de um direito, mas de restrição a um direito. Tal é desarrazoado,
até pelo princípio da vigência da lei mais benigna, que, no direito
penal, tem assento na Constituição (CF 5.º XL). Assim, ainda que o
casamento tenha sido celebrado antes da atual lei, consolidou-se a
jurisprudência de terem os cônjuges o direito de buscar a alteração do
regime.
33.2 Regime da separação de bens
A regra sempre foi a indispensabilidade da concordância de ambos
os cônjuges para dispor ou gravar de ônus real os bens imóveis.
Igualmente, era vedada a prestação de fiança, bem como a doação
de bens comuns sem a vênia conjugal. No entanto, o Código Civil
(1.647) dispensou ditas exigências no regime da separação absoluta.
O questionamento surge com referência aos casamentos realizados
sob o regime da separação de bens, antes da alteração legal.
Mesmo que persista vigorando o mesmo regime (CC 2.039), as
novas diretrizes concessivas de direitos dispõem de eficácia
imediata. A autorização do cônjuge, para o exercício da capacidade
civil, é efeito jurídico do casamento, de caráter patrimonial,
relacionado ao regime de bens.7 Assim, a partir da vigência da nova
lei, os casados, quer pelo regime da separação convencional, quer
pelo inconstitucional regime da separação legal de bens, estão
dispensados de obter a vênia conjugal.
Quanto ao regime da separação obrigatória de bens, houve a
majoração da idade de 60 para 70 anos (L 12.344/10). Deste modo,
quem casou pelo regime legal por ter mais de 60 anos, mas menos de
70, pode buscar a alteração do regime.
33.3 Aval
Além de persistir a proibição de alienar, comprometer bens imóveis
e prestar fiança, o atual Código acrescentou mais uma vedação: não
podem os cônjuges, em qualquer dos regimes de bens (com exceção
do regime da separação absoluta), prestar aval sem a autorização do
outro (CC 1.647 III). Como se trata de regra que diz com os efeitos do
casamento, tem aplicação imediata.8 Não importa se o casamento foi
celebrado antes ou depois do novo Código. Nenhum cônjuge pode
mais prestar aval sozinho. Porém, a garantia prestada anteriormente
tem plena eficácia, não se sujeitando à restrição legal (CC 2.035). A
desobediência a essa limitação gera a nulidade da garantia.
No entanto, melhor atende à necessidade de segurança das
relações jurídicas reconhecer somente a ineficácia da penhora com
relação à meação do cônjuge não avalista, ressalvado sempre o
direito do terceiro de boa-fé. Assim, pelo aval responde o signatário,
responsabilizando somente o seu patrimônio particular e sua
meação. Em face da vedação legal, o cônjuge resta com seu
patrimônio preservado. Não se pode negar vigência à norma do
Estatuto da Mulher Casada, que gera a incomunicabilidade das
dívidas firmadas por só um dos cônjuges (EMC 3.º).
33.4 Proibição de sociedade entre cônjuges
É vedado aos cônjuges casados pelo regime da comunhão
universal ou pelo regime da separação obrigatória ser sócios entre
si ou com terceiros (CC 977). Ainda que injustificável dita proibição, o
fato é que, sendo norma que diz com o casamento, dispõe de efeito
com referência às núpcias celebradas antes da entrada em vigor da
lei.9 Como se trata de restrição à qualidade dos sócios, e não à opção
do regime de bens, os cônjuges dispuseram de prazo até 11.01.200710
para promover as necessárias adaptações (CC 2.031).
33.5 Nome
Outra alteração foi a possibilidadede qualquer dos cônjuges adotar
o sobrenome do outro. Antes, somente a mulher tinha a faculdade de
assumir o nome do marido se assim quisesse. O Código Civil (1.565 §
1.º) abriu a possibilidade, também ao varão, de fazer uso do
sobrenome da mulher. Celebrado o casamento antes de existir tal
faculdade, possível ao homem, a qualquer tempo, solicitar a alteração
de seu nome. Afinal, se trata de um novo direito, inexistente ao tempo
da celebração do matrimônio. Basta contar com a concordância do
par. Mesmo que a mulher tenha, no casamento, adotado o nome do
varão, ainda assim este pode adotar o nome dela. Não há vedação
legal.
33.6 Alimentos
Em sede de alimentos, algumas modificações introduzidas
merecem ser consideradas. Quanto à redução da maioridade, de 21
para 18 anos, em nada afeta a obrigação alimentar dos pais com
relação aos filhos. A maioridade não faz cessar, por si só, a obrigação
de prestar alimentos, pois esta não está condicionada exclusivamente
ao poder familiar, persistindo mesmo depois da maioridade do filho,
em face da solidariedade entre os parentes. O Código Civil não
vincula a obrigação alimentar entre parentes a qualquer limite etário
(CC 1.696).11 Aliás, a jurisprudência, de forma bastante tranquila,
sempre manteve os alimentos para além da maioridade: basta estar o
filho estudando.
Consagra a lei civil a obrigação de prestar alimentos, mesmo em
favor do cônjuge responsável pela separação (CC 1.704 parágrafo
único). Cabe questionar: se no passado os alimentos deixaram de ser
fixados em razão da culpa de um dos cônjuges, há a possibilidade de
este buscar agora a fixação de alimentos? Sim, a resposta afirmativa
parece ser a mais adequada.12
Assegurado o direito a alimentos mesmo ao responsável pela
situação de necessidade, ainda que declarada a culpa e indeferido o
direito, é possível buscá-los, pois afastada a causa excludente do
direito. Não há como falar em coisa julgada, uma vez que o conteúdo
da decisão acobertada pela imutabilidade foi o reconhecimento da
culpa. Afastada essa, para o efeito de concessão de alimentos,
floresce o direito de buscá-los em juízo. Existia um impedimento à
pretensão. Desaparecendo o impedimento, a pretensão pode ser
exercida.13
Agora os alimentos são irrenunciáveis. A lei nova nega eficácia à
renúncia. Ainda que tenha o cônjuge renunciado quando da separação
ou do divórcio, a manifestação de vontade deixou de ter força para
extinguir o direito a alimentos. Superveniente a vedação de renúncia,
é possível a busca dos alimentos depois da vigência da nova lei.
Consagrada a irrenunciabilidade, a manifestação feita no passado não
impede o exercício da pretensão alimentar assegurada pela lei. Essa,
no entanto, não é a posição nem da doutrina.14
33.7 Prescrição
O Código Civil (206 § 2.º)– de forma para lá de injustificada –
reduziu de cinco para dois anos o prazo prescricional da obrigação
alimentar. Tratando-se de obrigação de trato sucessivo, o direito não
prescreve, somente sua exigibilidade, que pode ser reconhecido até
de ofício pelo juiz (CPC 219 § 5.º).
Como houve a redução do prazo, transcorrido mais da metade do
tempo, persiste o lapso prescricional da lei velha (CC 2.028). Questão
mais tormentosa surge quando não ultrapassados 50% do prazo
prescricional, isto é, quando da entrada em vigor da nova lei não havia
parcelas vencidas há mais de dois anos e meio. Nem a doutrina, nem
a jurisprudência conseguem encontrar um critério único. No entanto,
deve prevalecer a tese que parece ser a mais justa, pois se está em
sede de dívida alimentar. Assim, impõe-se a contagem proporcional
do período. Pelas parcelas vencidas há mais de dois anos e meio, é
necessário quantificar qual o percentual de tempo que falta para o seu
término. Ao resultado dessa operação aplica-se o novo prazo.
33.8 Fim da separação
Com a aprovação da EC 66/10, a separação desapareceu do
sistema jurídico. Ainda que permaneçam no Código Civil os
dispositivos que regiam o instituto (CC 1.571 a 1.578), não mais existe
possibilidade de ser buscada a separação. Só é possível pleitear a
dissolução do casamento via divórcio.
A quem não quer se divorciar o jeito é fazer uso da separação de
corpos, que põe fim aos deveres do casamento, rompe o regime
patrimonial, mas mantém hígida a sociedade conjugal. O pedido pode
ser levado a efeito de modo consensual ou por iniciativa de somente
um dos cônjuges. Por mútuo acordo, não se trata da medida cautelar,
mas de procedimento de jurisdição voluntária. Não havendo filhos
menores ou incapazes, a separação de corpos pode ser levada a
efeito através de escritura pública.
A nova matriz constitucional entrou imediatamente em vigor, não
carecendo de regulamentação. Até porque o divórcio está regrado no
Código Civil, e a Lei do Divórcio (40 § 2.º) manda aplicar ao divórcio
consensual o procedimento da separação por mútuo consentimento.
A novidade atingiu as ações em andamento. Todos os processos
de separação perderam o objeto por impossibilidade jurídica do
pedido (CPC 267 VI). Não podem seguir tramitando demandas que
buscam uma resposta não mais contemplada no ordenamento
jurídico. Uma vez que o pedido de separação se tornou juridicamente
impossível, ocorreu a superveniência de fato extintivo ao direito objeto
da ação, que deve ser reconhecido de ofício (CPC 462).
Ninguém duvida que a pretensão do autor, ao propor a ação de
separação, era pôr fim ao casamento, mas era utilizado o
procedimento da separação por exigência legal. Desse modo, no
momento em que o instituto deixou de existir, em vez de extinguir o
processo de separação deve o juiz transformá-lo em ação de divórcio
e decretá-lo de imediato. Nem mesmo os aspectos patrimoniais
carecem de definição, eis ser possível a concessão do divórcio sem
partilha de bens (CC 1.581).
Não há a necessidade de a alteração ser requerida pelas partes,
que nem precisam proceder à adequação do pedido. Cabe ao juiz
deferir um prazo para se manifestarem caso discordem do decreto do
divórcio. Se os cônjuges silenciam, tal significa concordância com sua
decretação. A discordância de uma das partes – seja do autor, seja do
réu – não impede a dissolução do casamento. Somente na hipótese
de haver expressa oposição de ambos os separandos à concessão do
divórcio deve ser decretada a extinção do processo por
impossibilidade jurídica do pedido, pois não há como o juiz proferir
sentença chancelando direito não mais previsto na lei.
Encontrando-se o processo de separação em grau de recurso,
descabe ser julgado o mérito da demanda. Não é sequer necessário o
retorno dos autos à origem, para o divórcio ser chancelado pelo juízo
singular. Deve o relator intimar as partes e, não havendo a expressa
irresignação de ambas, cabe-lhe decretar o divórcio, o que não fere o
princípio do duplo grau de jurisdição.
33.8.1 Divórcio judicial
Com o fim do instituto da separação as pessoas, ainda que
casadas ou separadas de fato, de corpos, separadas judicial ou
extrajudicialmente, podem pedir imediatamente a decretação do
divórcio sem haver a necessidade de aguardar o decurso de qualquer
prazo.
Nenhum fundamento precisa ser declinado para a propositura da
ação de divórcio. O juiz pode decretar liminarmente o divórcio, mesmo
antes da citação do réu. Afinal, trata-se de direito potestativo. A
expedição do mandado de averbação é que deve aguardar o decurso
do prazo de resposta do réu.
Inexistindo filhos menores ou incapazes, não é necessária a
realização da audiência de conciliação, pois a intervenção do
Ministério Público não é obrigatória e o juiz não pode negar a
homologação do pedido. Não persiste a chamada cláusula de
dureza, que autorizava o juiz a negar a separação (CC 1.574
parágrafo único).
Na hipótese de ser designada audiência, as partes podem ser
representadas por procurador. A procuração precisa ser lavrada por
escritura pública com poderes especiais.Apesar de o divórcio
somente competir aos cônjuges (CC 1.582), é possível contrabandear
dispositivo da Resolução do CNJ.15
Na via extrajudicial, onde é lavrado o divórcio consensual, basta a
presença dos cônjuges acompanhados de advogado para a lavratura
da escritura.
Os separados judicialmente podem buscar o divórcio, não mais se
justificando pleitear a conversão da separação em divórcio.
33.8.2 Divórcio extrajudicial
A Lei 11.441/07 que autorizou o divórcio extrajudicial entrou em
vigor quando de sua publicação. Na hipótese de estar tramitando ação
judicial de divórcio – quer amigável, quer litigiosa –, têm as partes o
direito de optar pela forma extrajudicial. Mas para isso precisam
desistir da ação. Não há possibilidade de ser lavrada a escritura antes
de a desistência da ação ser devidamente homologada pelo juiz.
Assim, o tabelião somente deve lavrar a escritura pública de divórcio
se as partes declararem inexistir ação em andamento. Basta a
afirmativa, não é necessária a juntada de certidões negativas para a
comprovação de tal assertiva.
Apesar da expressão legal poderão ser realizados por escritura
pública, há quem sustente não mais caber o uso da via judicial, se os
nubentes não tiverem filhos menores ou incapazes e inexistir conflito
quanto a qualquer ponto. Faltaria interesse de agir a quem
pretendesse a dissolução amigável do casamento, pois todos os
efeitos pretendidos podem ser obtidos extrajudicialmente. Ainda que
tal orientação melhor atenda aos interesses da própria Justiça, para
desafogá-la, não vingou.
Existindo filhos menores ou incapazes, ainda que haja consenso
com referência a todos os pontos, o casal não pode optar pelo uso da
via administrativa para buscar a dissolução do casamento.
Estando em andamento o procedimento extrajudicial da separação,
cabe ao notário certificar as partes da impossibilidade de ser lavrada a
escritura. Não havendo a concordância de ambos com divórcio, não
pode o tabelião elaborar a escritura da separação. O ato é nulo.
33.8.3 Separação judicial
Como o instituto da separação judicial foi banido do sistema
jurídico, não podem continuar tramitando as ações de separação.
Deve o juiz dar ciência às partes de que o pedido de separação não
pode ser acolhido, concedendo um prazo para se manifestarem. A
discordância de somente um dos cônjuges não impede a concessão
do divórcio, pois a vontade do outro em se divorciar merece ser
respeitada, seja ele o autor ou o réu da ação. A discordância do autor
significaria desistência da ação, para a qual precisa concordar o réu
(CPC 267 § 4.º). Assim, manifestada resistência de qualquer dos
cônjuges, basta que o outro se mantenha em silêncio para que ocorra
a decretação do divórcio.
33.8.4 Reconciliação
Como persiste íntegra a sociedade conjugal de quem está
separado judicialmente, nada impede a reconciliação, com o retorno
ao estado de casado.
Desimporta se a separação foi judicial ou administrativa,
consensual ou litigiosa. O casal mantém o direito de buscar, a
qualquer tempo, o restabelecimento do casamento (CC 1.577).
Mesmo que haja filhos menores ou incapazes – o que impõe o uso
da via judicial para a concessão da separação –, o pedido de reversão
pode ser levado a efeito extrajudicialmente.
33.8.5 Conversão da separação em divórcio
Com o desaparecimento do instituto da separação, com ele
também acabou a possibilidade de sua conversão em divórcio (CC
1.580). Cabível somente a decretação do divórcio, não sendo preciso
aguardar o decurso de qualquer prazo.
Encontrando-se em andamento o procedimento de conversão da
separação em divórcio, em vez da extinção de plano do processo,
cabe ao juiz simplesmente decretar o divórcio. Desimporta se o pedido
de conversão é consensual ou litigioso. Tendo um dos separados
buscado a via judicial para a decretação do divórcio, nada justifica
obstaculizar sua concessão, ainda que não haja a concordância do
demandado.
Do mesmo modo, em se tratando de procedimento perante o
tabelião, em vez de ser lavrada escritura de conversão, impositivo que
o ato notarial seja de divórcio.
33.8.6 Estado civil
Quem se encontra separado judicialmente deve continuar assim se
qualificando.
As pessoas que já se encontravam separadas judicialmente antes
da alteração constitucional permanecem com essa mesma condição,
uma vez que não houve a transformação automática do estado civil de
separado para divorciado.
33.8.7 Nome
Com o fim do instituto da separação também acabou a odiosa
prerrogativa do titular do nome impor que o cônjuge que o adotou seja
condenado a abandoná-lo. Não mais continuam em vigor os arts.
1.571 § 2.º e 1.578 do Código Civil.
Como não há mais espaço para a discussão de culpa, não é
possível ser buscada a exclusão do nome por parte de quem o
“cedeu” ao outro quando do casamento. Logo, nenhuma justificativa
precisa ser declinada por quem “adotou” o nome do par para continuar
a usá-lo depois do divórcio. Basta manifestar qual é o seu desejo.
Ainda que na demanda de separação em andamento, sob o
fundamento da culpa, buscasse o titular do nome que fosse afastado o
direito do cônjuge de continuar a usar o “seu” nome, a discussão caiu
por terra. A pretensão esvaiu-se, e a questão do nome resta ao livre
arbítrio de quem o adotou. O outro em nada pode interferir.
Caso o cônjuge tenha sido declarado culpado na separação, e por
isso tenha sido excluído o sobrenome que havia adotado, possível
buscar o restabelecimento do nome que adquirira ao casar.
33.8.8 Alimentos
Quer seja objeto de ação autônoma, quer esteja atrelada à
demanda dissolutória do casamento, a pretensão alimentar sujeitou-se
a alguns reflexos em face do fim da separação que levou consigo o
instituto da culpa.
A culpa pelo descumprimento dos deveres conjugais ou por alguma
das hipóteses que ensejavam o pedido de separação (CC 1.572 e
1.573) não cabe mais ser questionada. Sequer persiste a possibilidade
de ocorrer o achatamento do valor dos alimentos, pois não cabe mais
questionar a “culpa” pela situação de necessidade (CC 1.694 § 2.º).
Tramitando a ação de separação cumulada com os alimentos,
impositivo o decreto do divórcio, havendo a possibilidade de
prosseguir a demanda alimentícia.
Estando derrogados os arts. 1.702 e 1.704 do Código Civil, não é
possível invocar a obrigação dos parentes e a eventual ilegitimidade
do cônjuge para a ação de alimentos.
Leitura complementar
AMARAL, Guilherme Rizzo. Estudos de direito intertemporal e
processo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.
CAHALI, Francisco José. Direito intertemporal no livro de família
(regime de bens e alimentos) e sucessões. In: PEREIRA, Rodrigo da
Cunha (coord.). Anais do IV Congresso Brasileiro de Direito de
Família. Afeto, ética e família e o novo Código Civil brasileiro. Belo
Horizonte: Del Rey, 2004. p. 199-216.
DELGADO, Mário Luiz. Problemas de direito intertemporal no
Código Civil: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 2004.
LACERDA, Galeno. O novo direito processual civil e os feitos
pendentes. Rio de Janeiro: Saraiva, 2000.
SILVA, Paulo Lins e. O direito intertemporal no novo Código Civil.
Casamento, dissolução, filiação e união estável. In: PEREIRA, Rodrigo
da Cunha (coord.). Anais do IV Congresso Brasileiro de Direito de
Família. Afeto, ética e família e o novo Código Civil brasileiro. Belo
Horizonte: Del Rey, 2004. p. 491-503.
1.
Mário Luiz Delgado, Problemas de direito intertemporal no Código Civil:…, 21.
2.
Silvio Rodrigues, Direito civil: direito de família, 379.
3.
Sérgio Gischkow Pereira, Estudos de direito de família, 122.
4.
Francisco José Cahali, Direito intertemporal no livro de família…, 199.
5.
Sérgio Gischkow Pereira, Estudos de direito de família, 122.
6.
Francisco José Cahali, Direito intertemporal no livro de família…, 20.
7.
Idem, 205.
8.
Idem, 204.
9.
Idem,203.
10.
Lei 11.127, de 28/06/2005.
11.
Mário Delgado, Problemas de direito intertemporal no Código Civil:…, 121.
12.
Francisco José Cahali, Direito intertemporal no livro de família…, 207.
13.
Idem, 208.
14.
Yussef Said Cahali, Renúncia dos alimentos…, 83.
15.
Resolução 35 do CNJ: Art. 36. O comparecimento pessoal das partes é dispensável à
lavratura de escritura pública de separação e divórcio consensuais, sendo admissível
ao(s) separando(s) ou ao(s) divorciando(s) se fazer representar por mandatário
constituído, desde que por instrumento público com poderes especiais, descrição das
cláusulas essenciais e prazo de validade de trinta dias.

Outros materiais