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O IMPACTO DO LIFE COACHING NO ALCANCE DE OBJETIVOS, METACOGNIÇÃO E SAÚDE MENTAL1 Anthony M. Grant2 Universidade de Sydney, NSW, Australia Apesar do seu elevado impacto midiático e crescente popularidade, não houve investigações empíricas sobre o impacto do life coaching no alcance de metas, metacognição ou saúde mental. Esse estudo exploratório usou o life coaching como um meio de investigar os principais fatores metacognitivos envolvidos em como indivíduos se movem para a realização de objetivos. Em um estudo de delineamento intra-sujeito, vinte adultos realizaram um programa de life coaching. A participação no programa foi associada com saúde mental elevada, qualidade de vida e conquista de objetivos. Em termos de metacognição, os níveis de autorreflexão diminuíram e os níveis de insight aumentaram. O life coaching tem compromisso enquanto uma abordagem eficaz para o desenvolvimento pessoal e efetivação de metas, e pode provar ser uma plataforma útil para uma psicologia positiva e a investigação dos mecanismos psicológicos envolvidos na mudança proposital em populações normais, não clínicas. Palavras-chave: life coaching, autoconsciência privada, metacognição, a autorreflexão, introspecção, saúde mental, desenvolvimento pessoal, psicologia positiva, coaching de psicologia, bem-estar. Ao trabalhar com indivíduos para melhorar a qualidade de suas vidas, a psicologia tem tradicionalmente focado em aliviar disfuncionalidades ou tratar psicopatologias em populações clínicas ou de aconselhamento, em vez de melhorar a experiência de vida de populações adultas normais. No entanto, é claro que o público em geral tem uma sede de técnicas e processos que melhoram a experiência de vida e facilitam o desenvolvimento pessoal. O mercado de material de desenvolvimento pessoal tem crescido rapidamente em todo o mundo desde os anos 1950 (Fried, 1994). Embora psicólogos sejam pouco frequentes como produtores deste material, a psicologia tem uma contribuição genuína e importante a fazer em termos de adaptação e validação de modelos terapêuticos existentes para o uso com populações normais, e avaliar abordagens comercializadas para o desenvolvimento pessoal de forma a garantir a proteção dos consumidores e informar sobre a sua escolha. (Grant, 2001; Starker, 1990). Um avanço recente na modalidade de desenvolvimento pessoal é o surgimento do life coaching. Life coaching pode ser amplamente definido como uma solução colaborativa focada, orientada para resultados e um processo sistemático no qual o coach facilita o aumento da experiência de vida e realização de objetivos na vida pessoal e/ou profissional dos clientes não-clínicos. 1 Texto publicado na: SOCIAL BEHAVIOR AND PERSONALITY, 2003, 31(3), 253-264. © Society for Personality Research (Inc.). Traduzido pela psicóloga Letícia Lopes. 2 Anthony M. Grant, PhD, Unidade de Coaching Psicológico, Escola de Psicologia da Universidade de Sydney, Austrália. QUESTÕES NO CRESCIMENTO DA PRÁTICA DE LIFE COACHING A indústria de coaching, e particularmente life coaching, tem crescido substancialmente desde pelo menos 1998. Houve alegações de que o número de executivos e de life coaches está na casa das dezenas de milhares nos EUA, e o coaching tem recebido atenção generalizada na imprensa popular ocidental (Hall, Otazo, & Hollenbeck, 1999). Apesar das declarações muitas vezes mais otimistas quanto à sua eficácia, tem havido pouca pesquisa empírica sobre a efetividade do life coaching (Grant, 2000), com reivindicações anedóticas e de marketing da indústria de treinamento em si formando a maior parte das evidências. Uma visão geral da literatura de psicologia acadêmica submetida a revisão paritária sobre coaching, em populações normais de adultos, tal como representado no banco de dados PsycINFO, mostra que existem apenas 98 citações, com apenas 17 dessas sendo avaliações empíricas da eficácia das intervenções de coaching. Todas estas estão preocupadas com avaliações relacionadas ao trabalho ou ao coaching executivo dentro de ambientes organizacionais. Este é um estudo exploratório; o primeiro a investigar a eficácia do life coaching (isto é, coaching em uma configuração não-organizacional), e averiguar o impacto do life coaching cognitivo-comportamental focado em solução sobre os principais fatores socio e metacognitivos. UM MODELO DE COACHING COGNITIVO-COMPORTAMENTAL FOCADO EM SOLUÇÃO O programa de life coaching utilizado neste estudo é uma adaptação de um livro de auto-ajuda, Coach Yourself (Grant & Greene, 2001). Este programa é baseado em princípios extraídos da psicologia clínica e de aconselhamento cognitivo-comportamental (Beck, Rush, Shaw, & Emery, 1979), terapia breve focada em solução (O'Hanlon, 1998), e modelos de aprendizagem auto-regulada (Zimmerman, 1989). Abordagens cognitivo-comportamentais para o aconselhamento e psicologia de coaching reconhecem a reciprocidade quadrática entre os quatro domínios da experiência humana: comportamento, pensamentos, sentimentos e meio ambiente. Do ponto de vista cognitivo-comportamental, o atingimento de metas é melhor facilitado pela compreensão da relação entre estes quatro domínios e sua estruturação. No entanto, possivelmente por suas raízes estarem no modelo médico, a abordagem cognitivo-comportamental tende a enfatizar a psicopatologia, o que é muitas vezes alienante para populações não clínicas. Assim, o programa Coach Yourself incorpora aspectos da terapia breve focada em solução, a qual é uma abordagem construtivista e humanista que se concentra nos pontos fortes que os clientes trazem à terapia, e enfatiza a importância da construção de soluções em vez da análise de problemas. AUTORREGULAÇÃO, SOCIOCOGNIÇÃO, METACOGNIÇÃO E COACHING A autorregulação direcionada a objetivos consiste em uma série de processos nos quais um indivíduo apresenta um objetivo, desenvolve um plano de ação, executa-o, monitora o seu comportamento (através da autorreflexão), avalia sua performance em comparação com um padrão (obtém conhecimento), e com base nesta avaliação muda suas práticas para melhorar ainda mais o desempenho e o alcance dos seus objetivos. O papel do coach é facilitar o movimento do coachee através do ciclo de autorregulação no sentido de alcançar a meta. Assim, o coaching é um meio útil de aprofundar a nossa compreensão sobre os fatores sociocognitivos e metacognitivos envolvidos em uma mudança intencional de comportamento no momento em que as pessoas se movem através do ciclo de autorregulação. A Figura 1 apresenta um modelo genérico de autorregulação. Alguns dos principais fatores metacognitivos no ciclo de autorregulação são encontrados dentro da construção da autoconsciência privada (Fenigstein, Scheier, & Buss, 1975), especificamente os processos de autorreflexão e introspecção. Ambos os programas (clínicos e não clínicos) frequentemente incentivam os candidatos à mudança para despenderem tempo em autorreflexão sobre o pressuposto de que isso levará ao insight, facilitando assim o cumprimento de metas e mudança de comportamento (Sedikides & Skowronski, 1995). No entanto, é importante notar que a autorreflexão e o insight são logicamente dois processos separados. Pode-se gastar tempo em autorreflexão, sem necessariamente desenvolver discernimento. METACOGNIÇÃO E COACHING: PESQUISAS ANTERIORES AUTORREFLEXÃO, DISCERNIMENTO/INSIGHT E SAÚDE MENTAL Pesquisas sobre autoconsciência tem focado em como a autorreflexão e a percepção de estados internos (e o conceito associado de insight) estão relacionadas com saúde mental, ao invés de alcançar objetivos através do processo de coaching. Em geral tem sido encontrada correlação positiva entre autorreflexão e psicopatologias,o que significa que quanto mais há autorreflexão, mais mensuráveis se tornam as psicopatologias. Por outro lado, quanto mais consciência de estados internos, menos verifica-se psicopatologia (Creed & Funder, 1998). As investigações sobre a relação entre a autorreflexão e o insight por meio da escala de autoconsciência privada (Private Self-Consciousness Scale: PSCS;. Fenigstein et al, 1975) têm produzido resultados inconsistentes, e existem apelos para que ela (PSCS) seja revisada. Uma nova medida de autoconsciência privada, a Escala de Autorreflexão e Insight (Self-Reflection and Insight Scale: SRIS; Grant, Franklin, & Langford, 2002) é composta por duas sub-escalas ortogonais, a autorreflexão (SRIS-SR), e visão (SRIS-IN), e resultados iniciais sugerem que a SRIS é uma medida válida e confiável de autorreflexão e insight, a qual representa um avanço em relação a PSCS (Grant et al., 2002). Pouco se sabe sobre como os fatores metacognitivos de autorreflexão e insight mudam conforme os indivíduos se movem intencionalmente em direção ao atingimento de uma meta através de um programa de mudança. Grant et al. (2002) descobriram que os indivíduos que mantinham com regularidade anotações sobre suas experiências de vida tinham níveis mais elevados de autorreflexão, mas níveis mais baixos de insight do que aqueles que não mantinham diários. Grant et al. sugerem que os adeptos aos registros diários ficaram de alguma forma presos em um processo de autorreflexão, e eram essencialmente envolvidos na compreensão de suas reações comportamentais, cognitivas e emocionais, em vez de avançar para a realização de objetivos. Se este for o caso, então pode-se prever que os níveis individuais de insight devem aumentar conforme eles se movimentarem através do ciclo de autorregulação no sentido de atingir os objetivos que haviam evitado. O estudo também investigou o impacto do life coaching na habilidade dos indivíduos em atingir seus propósitos. A previsão era de que a participação no programa de life coaching estaria relacionada com o aumento de realizações. Fazer mudanças intencionais bem- sucedidas e alcançar seus objetivos pode ter um impacto positivo sobre a saúde mental dos indivíduos (Sheldon & Kasser, 2001). Dessa forma admitiu-se ainda a hipótese de que a participação no programa iria melhorar a saúde mental e aumentar a qualidade de vida dos participantes. MÉTODO PARTICIPANTES E MATERIAIS Vinte estudantes de pós-graduação das Faculdades de Ciências, Economia e Negócios de uma importante universidade australiana (15 mulheres e 5 homens, idade média = 35,6 anos) participaram deste estudo. O livro Coach Yourself (Grant & Greene, 2001) apresenta um programa de life coaching estruturado, o qual foi usado pelo presente estudo como base para um grupo de life coaching, tendo como facilitador um coach externo. MODELO, PROCEDIMENTO E O PROGRAMA DE COACHING O estudo utilizou um delineamento intra-sujeito. Inicialmente os participantes completaram um inventário de vida do programa Coach Yourself no qual eles examinaram as principais áreas de suas vidas (ex: trabalho, saúde ou relacionamentos) e então desenvolveram três metas específicas, tangíveis e mensuráveis, as quais poderiam ser atingidas ou ter um progresso significativo dentro de 13 semanas. Eles puderam selecionar qualquer objetivo do passado que não fora bem-sucedido. Eles reuniam-se em grupo para sessões de coaching de 10 a 50 minutos, e foram treinados na aplicação de técnicas de coaching cognitivo-comportamentais, incluindo a auto- monitorização, reestruturação cognitiva, modificação comportamental e estruturação do ambiente, e as técnicas focadas na solução, como "Miracle Question" (de Shazer, 1988). A "Miracle Question" é uma técnica que facilita a produção de opções e planos de ação. O cliente é convidado a responder questões tais como: "Se você acordasse amanhã, e um milagre tivesse acontecido e a solução estivesse presente, o que estaria acontecendo?". Embora seja relativamente uma nova modalidade, estudos preliminares mostraram que abordagens focadas em solução são eficazes em várias aplicações (Gingerish & Eisengart, 2000). O papel do coach foi facilitar este processo, e ajudar os coachees a trabalhar sistematicamente através do ciclo de autorregulação, monitorando e avaliando seu progresso na semana anterior, e desenvolvendo planos de ação para a próxima semana. Medidas Os participantes responderam aos questionários em grupo antes e após a conclusão do programa Coach Yourself. Escala de Alcance de Metas. Aos participantes foi solicitado identificar três metas, e pontuar cada uma conforme o grau de dificuldade (de 1 a 4; sendo 1 = muito fácil, a 4 = muito difícil), e também classificaram o grau de sucesso do passado na consecução dos objetivos em uma escala de 0% (sem sucesso) a 100% (realização total). As pontuações de cada um para essa escala foram calculadas multiplicando-se o grau de dificuldade pelo grau de sucesso, e dividindo pelo número de objetivos escolhidos para se encontrar uma pontuação média. Os participantes também avaliaram a quantidade de tempo que eles pediram para a realização destes objetivos. Escala de Depressão, Estresse e Ansiedade (The Depression Anxiety and Stress Scale - DASS-21). A DASS-21 (Lovibond e Lovibond, 1995) foi utilizada como uma medida de psicopatologia. Inventário de Qualidade de Vida (The Quality of Life Inventory - QOLI). O QOLI é um questionário autoaplicável que avalia a percepção da qualidade de vida dos indivíduos em 16 áreas: saúde, autoestima, objetivos e valores, dinheiro, trabalho, diversão, aprendizagem, criatividade, ajudar os outros, amor, amigos, filhos, parentes, casa, vizinhança e comunidade. Escala de Autorreflexão e Insight (The Self-Reflection and Insight Scale - SRIS). A SRIS (Grant et al., 2002) é uma escala de 20 itens de autorrelato que compreende duas sub- escalas: uma escala de autorreflexão (SRIS-SR) e uma escala de insight (SRIS-IN). A SRIS avalia a propensão das pessoas a refletir sobre o seu nível de discernimento, seus pensamentos, sentimentos e comportamento. Os itens de autorreflexão incluem: “É importante pra mim tentar entender o que meus sentimentos significam”, e “Eu frequentemente tenho um tempo para refletir sobre os meus pensamentos”. Os itens de insight incluem: “Normalmente eu sei o porquê me sinto de determinadas formas”, e “Meu comportamento muitas vezes me intriga” (pontuação inversa). RESULTADOS Para auxiliar a interpretação as dimensões dos resultados foram descritas e t testes foram usados para avaliar a significância estatística. Alfa foi fixado em 0,05. Os resultados da intervenção são apresentados na Tabela 1. A participação no programa de life coaching foi associado ao aumento da realização de metas, sendo o tamanho do resultado amplamente observado (d = 2,85; Cohen, 1992). A média de tempo que os participantes vinham tentando alcançar seus objetivos era de 23,5 meses. Níveis relatados pelos participantes de depressão, ansiedade e estresse foram significativamente reduzidos, com efeitos estatisticamente significativos de d = 0,82, 0,48 e 0,69, respectivamente. Os participantes relataram uma melhora significativa da qualidade de vida com um grande resultado observado de d = 1,62. Como previsto, os níveis de insight dos participantes aumentaram significativamente após o programa de life coaching com um resultado médio a ser observado (d = 0,59), e os níveis de autorreflexão dos participantes diminuíram significativamente (d = 0,76). Não houve correlação positiva e significativa entre a escala de autorreflexão da SRIS e a subescala de insight, tanto antes (r = .10) quanto depois do programa de life coaching (r = -.22). Uma correlação negativa significativa entre a pontuação apóso programa SR-SRIS e o alcance de objetivos foi encontrada (r = -.35, p = 0,03), e uma correlação positiva entre o IN- SRIS e realização das metas foi significativa com um teste unilateral (r = 0,28, p = 0,04; unilateral). DISCUSSÃO O IMPACTO NA CONQUISTA DE OBJETIVOS E BEM-ESTAR Este estudo exploratório fornece evidência empírica preliminar de que um programa de life coaching pode facilitar a realização de objetivos, melhorar a saúde mental e a qualidade de vida, assim como lança luz sobre os processos metacognitivos de autorreflexão e insight, e como eles mudam na sequência de um programa de mudança intencional direcionada. Parece que o life coaching foi de fato bem-sucedido no que diz respeito ao cumprimento de metas. Os participantes escolheram trabalhar no sentido de alcançar uma ampla gama de objetivos, tais como: estabelecer um novo negócio, ampliar a vida social, equilibrar vida e trabalho e cuidar de questões financeiras negligenciadas. Em média eles vinham buscando tais conquistas por 23,5 meses. O tamanho do efeito do êxito na escala foi grande (d = 2,85) e compara-se favoravelmente com relatórios meta-analíticos da eficácia de biblioterapia, na qual o tamanho médio estimado do efeito foi de d = 0,56 (Marrs, 1995). No entanto, deve-se ter em mente que a escala de realização de objetivo utilizada neste estudo foi de autorrelato. Embora não tenha sido possível ao investigador determinar objetivamente a veracidade do desfecho, verificou-se, no entanto, a partir das discussões nas sessões semanais coaching que os participantes estavam fazendo progresso genuíno em relação às suas metas. Por exemplo, vários dos objetivos dos participantes foram estabelecer novos negócios e conseguir clientes até o final do programa, e eles falavam com entusiasmo sobre o desenvolvimento de seus novos empreendimentos. O programa life coaching surgiu para melhorar a qualidade de vida e saúde mental, embora tais resultados não fossem especificamente um propósito. As dimensões dos efeitos observados para a saúde mental foram: d = 0,82 para depressão; d = 0,48 para ansiedade; e d = 0,69 para estresse. A magnitude do impacto desse estudo é notável dado que Ergene (2000) encontrou um efeito médio de d = 0,65 para tratamento psicológico cognitivo- comportamental para programas de ansiedade, e para tratamentos psicológicos para depressão a variação do efeito foi de d = 0,28 a d = 1,03 (e.g., Febbraro & Clum, 1998; Reinecke, Ryan, & DuBois, 1998). O programa também parece elevar a satisfação de vida. O QOLI (Frisch, 1994) acessa 16 áreas diferentes de vida e tem um grande efeito observável (d = 1,62). Este achado sugere que apesar do programa de life coaching ter sido direcionado a realização de metas específicas, os benefícios se generalizaram a experiências mais amplas da vida dos participantes, e isso fornece evidências preliminares do valor geral do life coaching na melhora do bem-estar, além de seu impacto mais específico sobre a realização de objetivo. IMPACTO NA AUTORREFLEXÃO E INSIGHT O estudo de life coaching também impactou sobre os níveis de autorreflexão e insight dos participantes, sendo que com o primeiro houve diminuição e com o segundo, aumento. Estes resultados dão suporte à ideia de que altos níveis de autorreflexão estão mais ligados a uma reflexão centrada em si, do que a um processo reflexivo associado ao alcance de metas. De fato, Lyubomirsky, Tucker, Caldwell, e Berg (1999) descobriram que a autorreflexão disfórica levou os participantes a avaliar os seus próprios problemas como graves e insolúveis, e a relatar uma probabilidade reduzida de realmente implementar soluções. Estas descobertas também sugerem que conforme os indivíduos agem através do ciclo autorregulatório para atingir suas metas, eles se tornam menos engajados em autorreflexão e vivenciam melhores insights. Isso indica que os conceitos medidos pelo SRIS podem ser maleáveis enquanto um resultado de coaching, e essa noção contradiz a pesquisa anterior que identificou autoconsciência privada como uma faceta característica (por exemplo, Trapnell & Campbell, 1999). Os itens do SRIS são atualmente expressos em um estilo global, peculiar. A exploração da maleabilidade da autorreflexão e do insight pode ser ainda mais facilitada pela inclusão de itens relacionados ao processo ou as metas específicas na SRIS. LIMITAÇÕES Há várias limitações no presente estudo que devem ser levados em consideração na interpretação desses achados. Foi usado em delineamento intra-sujeito, e a falta de um grupo controle significa que os efeitos podem ter ocorrido naturalmente, ao invés de terem sido causados pela intervenção. Além disso, os participantes eram estudantes universitários adultos, que podem não ser representativos da população em geral, e é possível que estivessem especialmente motivados a atingir suas metas. Além disso, o projeto pode ter induzido um efeito de demanda, isso é, os participantes podem ter sentido que deveriam relatar que fizeram progressos e um aumento de bem-estar, a fim de agradar ao experimentador. No entanto, este estudo já começou o processo de avaliação da eficácia do life coaching e desenvolveu ainda mais o nosso conhecimento de uma psicologia de life coaching. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA DO LIFE COACHING Esse estudo indicou que o foco na solução, life coaching cognitivo-comportamental pode facilitar a realização de objetivos, melhorar a saúde mental e a experiência geral de vida. Também foi possível constatar que ao longo da participação do programa os níveis de autorreflexão diminuíram e os de insight aumentaram, o que tem sido interpretado como um indício de que à medida que as pessoas se comportam através do ciclo autorregulatório para atingir seus objetivos elas se empenham menos em autorreflexão. As implicações dessa descoberta para os praticantes de life coaching enfatiza que um foco excessivo na autorreflexão pode ser contraproducente em termos de realização de objetivo. Utilização da abordagem focada na solução pode ser útil na contradição de tendências em se envolver em autorreflexões prolongadas, e podem ajudar a relembrar os coaches de garantir que o life coaching seja conduzido enquanto um processo focado em solução e direcionado ao objetivo. DIREÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS Pesquisas futuras devem empregar tarefas aleatórias para tratamento e controle. A construção de itens específicos do processo e itens específicos de objetivos para complementar os itens globais existentes nas sub-escalas de autorreflexão e insight do SRIS seria um passo importante em desenvolver uma compreensão do papel da metacognição em mudança proposital, e promoveria explorações da relação entre insight e alcance de metas. Dado o evidente impacto positivo sobre a saúde mental dos participantes, pesquisas futuras devem investigar também a utilidade do life coaching como um meio de aumentar o bem- estar. RESUMO Esse estudo iluminou os papéis da autorreflexão e do insight no ciclo autorregulatório. Parece que um engajamento extra em autorreflexão podem não facilitar a conquista de um objetivo. Esse achado serve para lembrar os coaches que o life coaching deve ser um processo orientado para resultados e focado em solução, ao invés de um empenho introspectivo, excessivamente filosófico. Foi possível mostrar que o life coaching cognitivo-comportamental focado em solução pode, de fato, ser uma abordagem efetiva para produzir mudanças positivas, melhorar a saúde mental e a experiência de vida, e facilitar a conquista de metas. Além desses aspectos terapêuticos, o life coaching e o coaching psicológico fornece uma estrutura útil da qual se desenvolve ainda mais nosso conhecimento dos processos psicológicos envolvidos em mudanças intencionais em populaçõesnormais, não clínicas. REFERÊNCIAS Beck, A., Rush, A., Shaw, B., & Emery, G. (1979). Cognitive therapy of depression. 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