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DIREITO DAS COISAS
CONCEITO
“É o complexo de normas reguladoras das relações jurídicas referentes às coisas suscetíveis de apropriação pelo homem. Tais coisas são, ordinariamente, do mundo físico, porque sobre elas é que é possível exercer o poder de domínio”. 
 Clóvis Beviláqua 
Gonçalves: Coisa é o gênero do qual bem é espécie. Coisas são bens corpóreos: existem no mundo físico e hão de ser tangíveis pelo homem. Bens são coisas que, por serem úteis e raras, são suscetíveis de apropriação exclusiva pelo homem, sobre as quais possa existir um vínculo jurídico, que é o domínio. As que existem em abundância, como o ar atmosférico e a água dos oceanos, por exemplo, deixam de ser bens em sentido jurídico. 
A palavra coisa, ainda que, sob certas relações, corresponda, na técnica jurídica, ao termo bem, todavia dele se distingue. Há bens jurídicos que não são coisas: a liberdade, a honra, a vida, por exemplo. E, embora o vocábulo coisa seja, no domínio do direito, tomado em sentido mais ou menos amplo, podemos afirmar que designa, mais particularmente, os bens que são, ou podem ser, objeto de direitos reais. Nesse sentido, dizemos direito das coisas. 
CONTEÚDO 
Gonçalves: o CC regula o direito das coisas no Livro III de sua Parte Especial. Trata primeiramente da posse e, em seguida, dos direitos reais. Destes, o mais importante e mais completo é o direito de propriedade, que constitui o título básico (III) desse Livro. 
DIREITO OBRIGACIONAL X DIREITO REAL
1. DIREITO OBRIGACIONAL
Gonçalves: O direito pessoal consiste numa relação jurídica pela qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação. Constitui uma relação de pessoa a pessoa e tem, como elementos, o sujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação. Os direitos pessoais têm, como elementos, o sujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação. 
Elementos constitutivos: 
Sujeito ativo – Credor
Sujeito passivo – Devedor
Objeto - Prestação
2. DIREITO REAL
Gonçalves: Segundo concepção clássica, o direito real consiste no poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos. No polo passivo incluem-se os membros da coletividade, pois todos devem abster-se de qualquer atitude que possa turbar o direito do titular. No instante em que alguém viola esse dever, o sujeito passivo, que era indeterminado, torna-se determinado. Os direitos reais têm, por outro lado, como elementos essenciais: o sujeito ativo, a coisa e a relação ou poder do sujeito sobre a coisa, chamado domínio.
Elementos constitutivos: 
Sujeito ativo – Titular da coisa
Sujeito passivo – Coletividade
Objeto – Coisa
TEORIAS
1. MONISTA OU UNITÁRIA: Não diferencia direito pessoal de direito real
Gonçalves: as teses unitárias não aceitam o dualismo e procuram integrar ambos os grupos de normas num só sistema. Dividem-se elas em duas teorias opostas: a personalista e a realista ou impersonalista:
Unitária personalista: Baseia-se na existência de um sujeito passivo universal. Para essa corrente não existem diferenças substanciais entre os direitos reais e pessoais, uma vez que os primeiros não seriam senão direitos obrigacionais, nos quais a prestação consistiria sempre em uma abstenção que estaria a cargo de todas as pessoas. O direito das obrigações é, desse modo colocado no centro de todo o direito civil, abrangendo todas as relações jurídicas civis, inclusive o direito real. A relação jurídica não pode existir entre pessoa e coisa, mas somente entre pessoas. O direito real, como os demais direitos, pressupõe sujeito ativo, sujeito passivo e objeto. Constitui, pois, relação jurídica estabelecida entre o sujeito ativo (o proprietário, no caso do direito real de propriedade) e os sujeitos passivos, que são todas as pessoas do universo, que devem abster-se de molestar o titular. Essa relação é de natureza pessoal, como as demais obrigações, mas de conteúdo negativo.
Crítica: os direitos pessoais, e em geral os direitos relativos, só podem ser violados pela pessoa particularmente obrigada e não por terceiros. Ademais, a obrigação passiva universal é fundamentalmente diferente da obrigação comum que liga um devedor a seu credor, pois esta é um elemento do passivo daquele; ora, ninguém pensaria em inscrever no passivo de seu patrimônio a obrigação de respeitar os direitos reais de outrem; na realidade, pois, a obrigação passiva universal não é uma obrigação no sentido da palavra; é uma regra de conduta. A aceitação da teoria personalista, em suas consequências ultimas, conduziria à supressão da categoria dos direitos reais, pois todos os direitos seriam pessoais, dado que ficariam reduzidos a vínculos obrigacionais. 
Unitária realista ou impersonalista: Procura unificar os direitos reais e obrigacionais a partir do critério do patrimônio, considerando que o direito das coisas e o direito das obrigações fazem parte de uma realidade mais ampla, que seria o direito patrimonial. Segundo esse critério, os denominados direitos pessoais não recaem sobre a pessoa do devedor, mas sobre o seu patrimônio. A tese sustentada encontraria apoio no princípio geral segundo o qual o patrimônio do devedor constitui a garantia comum nos credores e responde por suas obrigações. 
Crítica: Em primeiro lugar, não é adequado, para pesquisar a essência de um direito, analisá-lo no momento anormal do seu incumprimento. Em segundo lugar, os direitos reais somente incidem sobre coisas determinadas, enquanto o patrimônio, em que se assenta o direito pessoal, é uma abstração que se compõe de coisas e de bens que não são coisas, e que está integrado não só por um ativo, senão também por um passivo. Em terceiro lugar, a máxima de que o patrimônio do devedor é a garantia comum de seus credores não passa de uma expressão metafórica, que não deve, portanto, ser tomada ao pé da letra, sob risco de incorrer em graves erros, pois a palavra “garantia” não está aqui empregada em seu verdadeiro sentido técnico-jurídico. Por fim, pretender despersonalizar o direito pessoal constitui um contrassenso, mais inadmissível ainda cuidando-se de obrigações de fazer ou de não fazer e, sobretudo, se se trata de obrigações intuito personae. 
2. DUALISTA OU CLÁSSICA
A diversidade de princípios que orientam os direitos reais e os direitos pessoais dificulta sua unificação num só sistema. A doutrina denominada dualista ou clássica mostra-se, com efeito, mais adequada à realidade, tendo sido por isso acolhida no direito positivo brasileiro, que consagra e sanciona a clássica distinção entre direitos reais e pessoais, isto é, direitos sobre as coisas e direitos contra as pessoas. 
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS DIREITOS REAIS
1. ADERÊNCIA, INERÊNCIA OU ESPECIALIZAÇÃO
Gonçalves: Estabelece um vínculo, uma relação de senhoria entre o sujeito e a coisa, não dependendo da colaboração de nenhum sujeito passivo para existir. O direito real gera, pois, entre a pessoa e a coisa, uma relação direta e imediata. Esta característica é alheia aos direitos pessoais, nos quais o vínculo obrigacional existente entre credor e devedor confere ao primeiro somente o direito de exigir a prestação prometida. 
No direito pessoal o vínculo se refere a uma pessoa. Até mesmo quando se visa alcançar uma coisa que deve ser prestada pelo devedor, o que se encontra em primeiro plano não é a coisa, mas sim o devedor. Se este transferi-lo a terceiro, o credor não terá outro recurso senão cobrar do devedor perdas e danos. Não pode reivindica-lo do terceiro que adquiriu, tendo de se contentar com a indenização a ser reclamada do devedor. No direito real, todavia, a pessoa deste, se existe, é secundária ante a primordial importância da res. É com esta que o vínculo jurídico se apega, de tal sorte que o titular do direito pode perseguir a coisa, onde quer que ela se encontre, seja quem for o devedor. 
A aderência do direito real à coisa não é senãoa constatação do fato de que o direito real permanece incidindo sobre o bem, ainda que este circule de mão em mão e se transmita a terceiros, pois o aludido direito segue a coisa (jus persequendi), em poder de quem que ela se encontre. Em consequência, a tutela do direito real é sempre mais enérgica e eficaz que a do direito de crédito. 
2. ABSOLUTISMO: ERGA OMNES
Gonçalves: Os direitos reais exercem erga omnes, ou seja, contra todos, que devem abster-se de molestar o titular. Surge, daí, o direito de sequela ou jus persequendi, isto é, de perseguir a coisa e de reivindicá-la em poder de quem quer que esteja (ação real), bem como o jus praeferendi ou direito de preferência. 
Os obrigacionais, por não estabelecerem vínculo dessa natureza, resolvem-se em perdas e danos e não se exercem contra todos, mas em face de um ou de alguns sujeitos determinados. Dispõem de ação pessoal. 
3. PUBLICIDADE OU VISIBILIDADE
Gonçalves: Os direitos reais sobre imóveis só se adquirem com o registro, no Cartório de Registro de Imóveis, do respectivo título; os móveis, só depois da tradição. Sendo oponíveis erga omnes, faz-se necessário que todos possam conhecer os seus titulares, para não molestá-los. O registro e a tradição atuam como meios de publicidade da titularidade dos direitos reais. 
Os pessoais ou obrigacionais seguem o princípio do consensualismo: aperfeiçoam-se com o acordo de vontades. A relatividade que os caracteriza faz com que dispensem a publicidade. 
4. TAXATIVIDADE OU NUMERUS CLAUSUS
Gonçalves: O número dos direitos reais é limitado, taxativo, sendo assim considerados somente os elencados na lei (numerus clausus). 
O art. 1225 do CC limita o número de direitos reais, indicando, além da propriedade, a superfície, as servidões, o usufruto, o uso, a habitação, o direito do promitente comprador do imóvel, o penhor, a hipoteca e a anticrese. 
5. PERPETUIDADE
Gonçalves: A propriedade é um direito perpétuo, pois não se perde pelo não uso, mas somente pelos meios e formas legais: desapropriação, usucapião, renúncia, abandono etc. 
Já os direitos obrigacionais, pela sua natureza, são eminentemente transitórios: cumprida a obrigação, extinguem-se. Não exigido o seu cumprimento dentro de certo lapso de tempo, prescrevem. 
Obs.: Em realidade, a característica da perpetuidade dos direitos reais não é absoluta, embora tenham mais estabilidade do que os direitos obrigacionais, pois também se extinguem em determinadas circunstâncias, como mencionado. 
6. EXCLUSIVIDADE
Gonçalves: Não pode haver dois direitos reais, de igual conteúdo, sobre a mesma coisa. Duas pessoas não ocupam o mesmo espaço jurídico, deferindo com exclusividade a alguém, que é o sujeito do direito real. Assim, não é possível instalar-se direito real onde outro já exista. No condomínio, cada consorte tem direito a porções ideais, distintas e exclusivas.
É certo que, nos direitos reais sobre coisas alheias, há dois sujeitos: o dono e o titular do direito real. Mas, em razão do desmembramento da propriedade, cada um deles exerce, direta e imediatamente, sobre a coisa, direitos distintos, vale dizer, sem a intermediação do outro. No caso do usufruto, por exemplo, o usufrutuário tem direito aos frutos, enquanto o nu-proprietário conserva o direito à substância da coisa. Os direitos pessoais, todavia, admitem amplamente a unidade ou a pluralidade de seus sujeitos, tanto ativos como passivos. 
CLASSIFICAÇÕES
1. QUANTO AO OBJETO SOBRE QUE RECAEM
Coisa própria
Coisa alheia 
2. QUANTO À FINALIDADE 
Gozo ou fruição 
Aquisição
Garantia
POSSE
1. TEORIAS (POVA!!!)
Subjetiva – Savigny 
Viviane: Para a teoria subjetiva, para que exista a posse, faz-se necessário dois elementos: corpus e animus. Corpus é o elemento material que consiste no poder fático ou físico sobre a coisa. Animus é o elemento psicológico, ou seja, a vontade da pessoa sobre a coisa, que consiste no querer ter a coisa para si e se tornar o proprietário do bem. 
Gonçalves: Para Savigny, a posse caracteriza-se pela conjugação de dois elementos: o corpus, elemento objetivo que consiste na detenção física da coisa, e o animus, elemento subjetivo, que se encontra na intenção de exercer sobre a coisa um poder no interesse próprio de defendê-la contra a intervenção de outrem. Não é propriamente a convicção de ser dono, mas a vontade de tê-la como sua, de exercer o direito de propriedade como se fosse o seu titular. 
Os dois citados elementos são indispensáveis, pois, faltando um, não existe posse, mas mera detenção. Não constituem relações possessórias, portanto, na aludida teoria, aquelas em que a pessoa tem a coisa em seu poder, ainda que juridicamente fundada (como na locação, no comodato, penhor etc.), por lhe faltar a intenção de tê-la como dono. 
Objetiva – Ihering
Viviane: Para essa teoria, o elemento essencial para que exista posse é o corpus, que é o elemento material. Aqui o animus não é considerado distinto do corpus, porque está implícito/inserido no corpus. O corpus é o único elemento essencial porque é o único passível de comprovação. Aqui é um comportar-se como se proprietário fosse, independentemente do poder físico e independentemente da vontade de ter a coisa. Aqui não precisa desse contato físico e nem a intenção de ter, basta agir como se proprietário fosse. Aqui existe o animus, porque ele está inserido no corpus, mas o foco é dado no elemento material. 
Qual teoria o CC adotou? Teoria objetiva, em regra. Mas quando trata de usucapião de propriedade há uma mitigação dessa teoria. 
Gonçalves: Denominada objetiva porque considera o animus já incluído no corpus e da ênfase, na posse, ao seu caráter de exteriorização da propriedade. Para que a posse exista, basta o elemento objetivo, pois ela se revela na maneira como o proprietário age em face da coisa. 
Basta o corpus para a caracterização da posse. Tal expressão, porém, não significa contato físico com a coisa, mas sim conduta de dono. Ela se revela na maneira como o proprietário age em face da coisa, tendo em vista sua função econômica. Tem posse quem se comporta como dono, e nesse comportamento já está incluído o animus. O elemento psíquico não se situa na intenção de dono, mas tão somente na vontade de agir como habitualmente faz o proprietário, independentemente de querer ser dono. 
A conduta de dono pode ser analisada objetivamente, sem a necessidade de pesquisar-se a intenção do agente. A posse, então, é a exteriorização da propriedade, a visibilidade do domínio, o uso econômico da coisa. Ela é protegida, em resumo, porque representa a forma como o domínio se manifesta. 
2. POSSE X DETENÇÃO (FÂMULOS DA POSSE)
Possuidor: interesse próprio – art. 1196
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
Detentor: interesse de outrem – art. 1198
Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário.
Viviane: A diferença básica é que o possuidor age em interesse próprio, e o detentor em interesse de outrem. A posse gera efeitos para o possuidor, e para a detenção não, isto é, não gera nenhuma relação jurídica referente em relação ao bem em si. 
Gonçalves: Embora a posse possa ser considerada uma forma de conduta que se assemelha à de dono, não é o possuidor servo na posse, aquele que a conduta a conserva em nome de outrem ou em cumprimento de ordens ou instruções daquele em cuja dependência se encontre. O possuidor exerce o poder de fato em razão de um interesse próprio; o detentor, no interesse de outrem. É o caso típico dos caseiros e de todos aqueles que zelam propriedades em nome do dono. Tais servidores não têm posse e não lhes assiste o direito deinvocar, em nome próprio, a proteção possessória. São chamados de “fâmulos da posse”. 
3. ATOS DE MERA PERMISSÃO OU TOLERÂNCIA – art. 1208 CC
A mera permissão e a tolerância não geram vínculo, ou seja, não formam qualquer relação jurídica. A diferença é que naquela o consentimento é expresso, e nesta o consentimento é tácito. Diante de um ato de mera permissão ou tolerância não há posse. Se não há posse, existe detenção. 
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância (...)
Cuidado com isso porque teoricamente o art. 1208 não deixa nenhuma dúvida, mas vamos imaginar a seguinte situação: você tem um sítio e quase não vai lá, daí um dia você vai e alguém pede pra limpar o local pra você. Depois de uns dias a pessoa vai lá e faz de novo, e depois de um tempo a pessoa já até tá dormindo lá. Só que você decide vender o sítio, e essa pessoa diz que tem o direito de ficar lá porque ela que cuida do sítio, e não você que quase nunca vai lá. Na condição de julgador você reconheceria ou não a posse dessa pessoa? Na maioria dos casos a jurisprudência reconhece a posse desse indivíduo, porque o problema é provar a mera permissão ou a tolerância. 
4. OBJETO DA POSSE
A posse é uma aparência de propriedade. É uma exteriorização da propriedade. 
Com base nesse conceito, o que pode ser objeto da posse? Historicamente houve uma discussão ampla para se chegar ao entendimento doutrinário e jurisprudencial de que é tudo aquilo que puder ser apropriado e exteriormente demonstrado. 
5. NATUREZA JURÍDICA
Fato – Beviláqua 
A posse é uma situação de fato que a lei protege por ser uma exteriorização da propriedade.
Direito – Ihering
A posse é um direito porque é um interesse juridicamente protegido. 
Fato e Direito – Savigny
A posse considerada em si mesma é um fato. Em relação aos efeitos que ela gera (as suas consequências) ela é um direito. 
O entendimento predominante é de que a posse é um direito, e a partir daí temos outra discussão. Se a posse é um direito, que direito é a posse? A posse é um direito pessoal obrigacional ou um direito real? Se o nosso legislador entendesse a posse como direito real, teria incluído a posse nesse rol. Daí porque há a dicotomia real x coisas. Se você entende a posse como um direito real, temos um tratamento igual. Se você entende o contrário, temos o direito das coisas e os direitos reais. Temos uma discussão infindável na doutrina. Para Beviláqua, trata-se de um direito de natureza especial. 
Hoje o entendimento predominante é que a posse não é um direito real. 
6. ESPÉCIES DE POSSE
6.1 Posse Direta X Posse Indireta – art. 1197 CC
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.
As posses direta e indireta também são chamadas de posses paralelas porque uma não anula a outra. Tanto o possuidor direto pode defender a sua posse contra o indireto como o indireto pode defender a sua posse contra o direto. 
Indireto: concede a posse a outrem, sem anular a sua.
O indireto concede a posse ao direto, mas continua sendo o possuidor. Assim a posse se “desdobra”. 
Direto: tem a coisa em seu poder em virtude de um direito real ou pessoal. Também é chamada de posse derivada ou subordinada�. 
É o desdobramento da posse. O possuidor direto tem a posse decorrente de um direito real ou pessoal. 
6.2 Composse – art. 1199
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores.
Pluralidade de sujeitos + coisa indivisa: para que exista a composse é preciso que exista mais de um sujeito exercendo a posse sobre coisa indivisa. 
É o exemplo das áreas comuns do condomínio; os bens pertencentes ao casal na comunhão etc. 
6.3 Posse Justa X Posse Injusta – art. 1200 CC
Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.
Violenta: posse adquirida mediante violência. Só passa a ser posse quando a violência tiver cessado. 
Clandestina: de forma sorrateira. Só surge a posse quando cessa a clandestinidade. Se se tornou público e notório, já saiu da clandestinidade�. 
Viviane: Enquanto perdurar a violência ou a clandestinidade não haverá posse. Cessada a prática de tais ilícitos, surge a posse injusta, viciada, assim considerada em relação ao precedente possuidor. 
Gonçalves: A violência e a clandestinidade podem cessar. Enquanto não findam, existe apenas detenção. Cessados, surge a posse, porém injusta, em relação a quem perdeu.
Precária: é uma quebra de confiança. Quando a pessoa tem o deve de restituir o bem e não o faz. A precária nasce justa, e quando ocorre uma quebra de confiança é que ela passa a ser injusta. A precariedade não cessa para efeitos de posse. Para que a posse seja precária, é preciso que permaneça a quebra de confiança. 
Gonçalves: A precariedade difere dos vícios de violência e da clandestinidade quanto ao momento de seu surgimento. Enquanto os fatos que caracterizam estas ocorrem no momento da aquisição da posse, aquela somente se origina de atos posteriores, ou seja, a partir do instante em que o possuidor direto se recusa a obedecer à ordem de restituição do bem ao possuidor indireto. Enquanto não chegado o momento de devolver a coisa, o possuidor tem posse justa, mas no instante em que se recusa a restituí-la, sua posse torna-se viciada e injusta, passando à condição de esbulhador. 
Obs.: Caráter da posse injusta�: relativo. Ela só vai ser injusta para o proprietário ou legítimo possuidor. 
6.4 Posse de Boa-Fé X Posse de Má-Fé – art. 1201 CC
Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa.
Boa-fé: Decorre da consciência de se ter adquirido a posse por meios legítimos. O seu conceito, portanto, funda-se em dados psicológicos, em critério subjetivo. É de suma importância, para caracterizar a posse de boa-fé, a crença do possuidor de se encontrar em uma situação legítima. Se ignora a existência do vício na aquisição da posse, ela é de boa fé; se o vício é de seu conhecimento, a posse é de má-fé. 
Má-fé: Aquela que o sujeito sabe que há um vício, mas mesmo assim adquire a posse. 
Se quando houve a aquisição da posse havia um vício, mas o sujeito ignorava (não tinha conhecimento), essa posse é de boa-fé, ainda que ele tome conhecimento depois. Mas a boa-fé do possuidor cessa no momento que ele tomar conhecimento de algum vício. 
Obs.: Para efeitos práticos, a jurisprudência entende que a boa-fé cessa na data da citação, isto é, quando o possuidor toma conhecimento de alguém conhecendo a sua posse. 
Obs.: Boa-fé e Má-fé X Posse justa e Posse injusta: A análise da boa ou má-fé é subjetiva, enquanto na justa e injusta é objetiva: examina-se a existência ou não dos vícios apontados (clandestinidade, violência e precariedade). 
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.
O justo título presume a boa-fé, salvo prova em contrário. Então é uma presunção relativa: até que se prove o contrário, o justo título presume a boa-fé, exceto se a lei assim não o considerar. O justo título, embora ele receba essa denominação de “Justo”, ele contém um vício ignorado (desconhecido) por quem o possui, por isso há uma presunção de boa-fé.
Mas o que é justo título? Dois conceitos:
Conceito 01: configura estado de aparência que permite concluir estar o sujeito gozando de boa posse.
Conceito 02: título hábil para conferir ou transmitir direito a posse se proviesse do verdadeiro possuidorou proprietário. 
Assim, pode ser um documento ou não, dependendo do objeto da posse. Se for um bem imóvel, é natural que esse justo título seja um documento. O justo título contém um vício, mas aparentemente está todo perfeito, e quem o possui acredita que está todo correto, e por isso traz em si a presunção da boa-fé. 
Gonçalves: Justo título, em suma, é o que seria hábil para transmitir o domínio e a posse se não contivesse nenhum vício impeditivo dessa transmissão. Uma escritura de compra e venda, devidamente registrada, por exemplo, é um título hábil para a transmissão de imóvel. No entanto, se o vendedor não era o verdadeiro dono ou se era um menor não assistido por seu representante legal, a aquisição não se perfecciona e pode ser anulada. Porém a posse do adquirente presume-se ser de boa-fé, porque estribada em justo título. Essa presunção, no entanto, é juris tantum e, como tal, admite prova em contrário. De qualquer forma, ela ampara o possuidor de boa -fé, pois transfere o ônus da prova à parte contrária, a quem incumbirá demonstrar que, a despeito do justo título, estava o possuidor ciente de não ser justa a posse. 
6.5 Posse nova X Posse velha 
Não está no CC 02, mas constava no CC 16, e a doutrina ainda trata do assunto. 
Leva em consideração o tempo de posse que esse possuidor tem. Se exerce a posse menos de 1 ano e dia, essa pessoa tem uma posse nova. Se exerce a posse mais de 1 ano e dia, então tem uma posse velha.
O CC 16 adotava como critério, para manter alguém na posse, alguém que tinha posse velha. Assim, quando mais de uma pessoa discutia a posse, era mantida provisoriamente aquela que tinha posse velha.
Esse não é mais o critério adotado pelo legislador, que diz em seu art. 1211:
Art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a obteve de alguma das outras por modo vicioso�.
Não há qualquer menção ao tempo. O critério adotado pelo legislador é o que a doutrina chama de “melhor posse”: mantém-se provisoriamente aquele que já estiver, desde que não tenha obtido por modos viciosos.
Obs.: Não confundir com “ação de força nova” e “ação de força velha”. Estes ainda estão previstos na nossa legislação, no CPC (art. 924). “Ação de força” leva em conta o tempo que o possuidor levou para defender a sua posse, a contar da data da agressão. Se for menos de 1 ano e dia: ação de força nova; se for mais de 1 ano e dia: ação de força velha. Se ação é de força nova, o rito é sumário. Se a ação é de força velha, o rito é ordinário. 
6.6 Posse ad interdicta X Posse ad usucapionem 
Interdicta: É aquela que pode ser defendida pelas ações possessórias ou interditos possessórios. Sempre que o possuidor puder defender a sua posse pelas ações possessórias, ele terá uma posse ad interdicta. 
Gonçalves: é a que pode ser defendida pelos interditos, isto é, pelas ações possessórias, quando molestada, mas não conduz à usucapião. O possuidor, como o locatário, por exemplo, vítima de ameaça ou de efetiva turbação ou esbulho, tem a faculdade de defendê-la ou de recuperá-la pela ação possessória adequada até mesmo contra o proprietário. Para ser protegida pelos interditos basta que a posse seja justa. 
Usucapionem: é aquela prolongada no tempo, associada a longos requisitos, capaz de gerar a aquisição de propriedade ou outros direitos reais. Em suma, é a que gera a usucapião. 
Gonçalves: é a que se prolonga por determinado lapso de tempo estabelecido na lei, deferindo a seu titular a aquisição do domínio. É, em suma, aquela capaz de gerar o direito de propriedade. Como se percebe, embora seja suficiente a ausência de vícios para que a posse se denomine ad interdicta, torna-se necessário, para que dê origem à usucapião (ad usucapionem), que, além dos elementos essenciais à posse, contenha outros, como o decurso do tempo exigido na lei, o exercício de maneira mansa e pacífica, o animus domini e, em determinados casos, a boa-fé e o justo título. 
Dependendo de quem vocês estiverem lendo, podem encontrar outras classificações além dessas. Mas essas são as principais. 
7. AQUISIÇÃO DA POSSE – art. 1204 CC
Gonçalves: O CC, coerente com a teoria objetiva de Ihering, não fez discriminação dos modos de aquisição da posse, limitando-se a proclamar:
Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
7.1 Classificação dos modos de aquisição 
A) Quanto à origem 
Originário: não há qualquer vínculo entre o possuidor anterior e o atual, não há relação de causalidade entre a posse anterior e a atual. Quando não há nenhuma relação de causalidade entre a posse anterior e a atual. Quando não há vínculo entre o possuidor anterior e o atual. Assim, é possível que já tenha existido posse sobre o bem, mas em razão de não existir nenhum vínculo entre o possuidor e o atual, essa aquisição também acontecerá do modo originário. É o exemplo da coisa abandonada. 
Derivado: há uma relação jurídica entre a posse anterior e a atual. Assim, sempre que existir a transferência da posse, estamos tratando de uma posse derivada. Ex.: locação, empréstimo etc. 
Qual é a importância disso pra gente? O caráter de continuidade da posse: art. 1203 CC.
Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida.
Se a aquisição é pelo modo derivado, essa posse vai continuar da mesma forma como ela existia anteriormente, salvo prova em contrário. Se a minha posse é justa, vai continuar justa. Se é de boa-fé, vai continuar de boa-fé. 
Agora se a aquisição se deu pelo modo originário isso também ocorre? Não, porque pelo modo originário não há nenhum vínculo com a posse anterior, então, para todos os efeitos, é sempre uma nova posse. 
B) Quanto à manifestação de vontade
Ato unilateral: res nullius ou res derelictae. Se a vontade é única, é por ato unilateral. Mas não significa que seja necessariamente a vontade de uma só pessoa, porque podem ser várias pessoas com a mesma vontade. 
Ato bilateral: vontades com sentidos contrapostos (sinalagmáticos). Dentro da aquisição por ato bilateral, o exemplo mais característico é a tradição. 
A tradição é a entrega da coisa. Espécies de tradição: 
- Efetiva ou material: com a entrega propriamente dita do bem; 
- Simbólica: atos representativos da entrega;
- Constituto possessório: é a tradição ficta. Ocorre a inversão do animus da posse. O proprietário aliena o bem, mas continua na posse a um outro título. É como se fosse uma “economia” dos da tradição. Ex.: A vende o imóvel para B, mas continua na posse a título de locatário. Antes ele era o proprietário, agora ele é o locatário. Mudou o título: o motivo pelo qual ele tem a posse. 
Obs.: A doutrina (como Maria Helena Diniz) afirma que constituto possessório é o “ato pelo qual aquele que possuía em seu nome passa a possuir em nome de outrem”. Analisando o exemplo e o conceito comentados, é possível afirmar que eles correspondem? No exemplo ele era proprietário, e nas duas situações ele é possuidor, e para ser possuidor é necessário que exerça a posse em nome próprio. O locatário não passa a possuir em nome de outrem: ele continua a exercer a posse em nome próprio. Esse conceito só se aplicaria se o que alienasse se tornasse caseiro, e não locatário. Carlos Roberto Gonçalves fofiho traz esse conceito, mas com o exemplo do caseiro, e não locatário, o que faz sentido. Já Maria Helena Diniz é louca. 
C) Quanto ao objeto
Título universal: Universalidade de bens ou de direitos. Quando se faz uma aquisição a título universal, é porque o objeto é um conjunto de bens. 
Título singular: O objeto da aquisição é coisa certa e determinada ou coisas certas e determinadas.
Mas por que isso nos interessa? Diz o art. 1.206 CC:
Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres.
Esse art. é uma reprodução do1.203, dando destaque para o herdeiro e legatário. Em regra, os herdeiros sucedem a título universal e o legatário a título singular. 
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.
O sucessor universal sempre vai aproveitar a posse do seu antecessor. Se é uma posse justa, continua justa, se é boa-fé, continua de boa-fé. Se o tempo de posse anterior era de 5 anos, ele continua essa posse.
O sucessor singular pode ou não unir o tempo de posse do seu antecessor, porque lhe é facultado. 
7.2 Quem pode adquirir a posse – art. 1205 CC
Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:
I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante;
II - por terceiro sem mandato�, dependendo de ratificação.
8. PERDA DA POSSE – art. 1223 CC
Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196.
Quando cessam os poderes inerentes a propriedade, deixa-se de exercer a posse. 
Obs.: Vamos encontrar na doutrina vários exemplos que o CC anterior enumerava de forma exemplificativa. Mas ao invés de enumerar você pensa: está exercendo os poderes inerentes à propriedade em nome próprio? Se sim, há posse. 
9. EFEITOS DA POSSE
Proteção possessória
Percepção dos frutos
Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa
Indenização por benfeitorias e o direito de retenção 
Usucapião 
9.1 Proteção possessória – art. 1210
Viviane: São os meios de proteção da posse. O que o possuidor pode fazer para defender a sua posse. Essa defesa pode ser direta ou através das ações possessórias. 
Gonçalves: A proteção conferida ao possuidor é o principal efeito da posse. Dá-se de dois modos: pela legítima defesa e pelo desforço imediato (autotutela, autodefesa ou defesa direta), em que o possuidor pode manter ou restabelecer a situação de fato pelos próprios recursos; e pelas ações possessórias, criadas especificamente para a defesa da posse. 
A) Ações possessórias 
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
Esbulho: A ação cabível é a “Reintegração de Posse” – O esbulhado tem direito a ser restituído. Ocorre o esbulho quando o possuidor é injustamente privado do exercício da sua posse. Ele perde a posse ainda que temporariamente. 
Obs.: É comum se querer fazer uma associação do esbulho com atos de violência, mas nem sempre há violência. 
Turbação: A ação cabível é a “Manutenção da Posse” – O turbado tem direito de manter a posse. Ocorre o “embaraço” do exercício da posse. Há uma perturbação no exercício da posse. O possuidor sofre essa perturbação, mas sem perder a posse. Essa é a diferença básica entre esbulho e turbação: no esbulho ocorre a perda da posse, ainda que temporariamente. Essa turbação pode ser total ou parcial, direta ou indireta.
Ameaça: A ação cabível é o “Interdito Proibitório”. Ainda não ocorreu a turbação e nem o esbulho: está em vias de ocorrer a turbação e o esbulho. Essa ameaça se equipara aos atos preparatórios do Direito Penal. 
Obs.: As ações tipicamente possessórias (manutenção, reintegração e interdito proibitório) são também denominadas interditos possessórios. Não confundir interdito proibitório com “interditos possessórios”, pois este é o gênero do qual aquele é espécie. 
Obs.: Ação possessória X Ação petitória:
	Possessória
	Petitória
	A ação possessória (ius possessionis) é a defesa da posse baseada numa situação de fato. Quem tem legitimidade é todo e qualquer possuidor, e a matéria a ser discutida é unicamente a posse. 
	Reivindicação da defesa da posse baseada no direito de propriedade (ius possidendi). A matéria a ser discutida é a propriedade – quem tem o direito de propriedade. 
	A ação possessória tem um caráter dúplice. Quando a gente fala em caráter dúplice, temos as mesmas características e finalidades da reconvenção. O que muda é o procedimento: aqui na ação possessória, o é possível fazer na própria contestação. Assim, para a maioria da doutrina, não cabe a reconvenção em ações possessórias porque a sua finalidade pode ser obtida na contestação.
	
	Admite-se a fungibilidade entre as ações possessórias. Trata-se da possibilidade que o juiz tem de aproveitar uma ação pela outra. O juiz não indefere no pedido em razão da nomenclatura errada da ação. 
	
	O rito pode ser ordinário ou sumário. 
	O rito vai ser sempre ordinário
A ação possessória é o meio de tutela da posse perante uma ameaça, turbação ou esbulho. A sua propositura instaura o juízo possessório, em que se discute o ius possessionis (posse autônoma formal). A ação petitória é o meio de tutela de direito reais, de propriedade ou outro. No juízo petitório se invoca o ius possidendi. 
Preceitua o art. 1210, §2º do CC:
§ 2o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.
A teor dessa concepção, no juízo possessório não adianta alegar domínio porque só se discute posse. Por outro lado, no juízo petitório a discussão versa sobre o domínio, sendo secundária a questão daquela.
Ademais, segundo o art. 923 do CPC:
Art. 923. Na pendência do processo possessório, é defeso, assim ao autor como ao réu, intentar a ação de reconhecimento do domínio.  
Enquanto estiver tramitando a ação possessória, nem o réu nem o autor podem ajuizar, paralelamente, a ação petitória para obter a declaração do seu direito à posse. A consequência prática da proibição é que poderá o possuidor não proprietário, desde que ajuíze ação possessória, impedir a recuperação da coisa pelo legítimo dono, pois este ficará impedido de recorrer à reivindicatória até que a possessória seja definitivamente julgada. 
De acordo com as demais regras procedimentais, somente haverá rito sumário se ação for ajuizada no prazo de ano e dia da turbação ou do esbulho, caso em que a possessória será considerada “ação de força nova”. Passado esse prazo, o rito será o ordinário e a ação de “força velha”.
É interessante para o proprietário, então, entrar com uma ação dentro de um ano e dia – a contar da turbação ou do esbulho – com a possessória, porque o rito será sumário, que dará uma resposta mais rápida. É interessante para o proprietário quando ele puder se valer do rito sumário, mas passado esse prazo é melhor discutir a propriedade através da petitória/reivindicatória. 
B) Defesa Direta
À turbação se dá o nome de “legítima defesa”, e ao esbulho “desforço imediato”. É um resquício da autotutela. A lei autoriza que o possuidor se defenda pelos seus próprios meios e, para isso, a lei enumera alguns requisitos: art. 1210, §1º. 
§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
Requisitos: 
Própria força: exclui o Estado. Para ser defesa direta, não pode ter intervenção do Estado, seja na forma administrativa (polícia), seja na forma judicial. 
Que se faça logo: imediatamente à agressão ou ao conhecimento da turbação ou esbulho? Pela lógica é pelo conhecimento�. Mas parte da doutrina entende que, dependendo do tempo que esse possuidor levar para tomar conhecimento dessa turbação e desse esbulho, poderá parecer uma agressão ou uma defesa. O fato é que não se estabelece nenhum prazo em lei. Quando estamos tratando da turbação é mais fácil, porque a turbação o possuidor ainda está na posse, então essa defesa direta é no calor dos acontecimentos. Na dúvida, o recomendável é que se valha das ações possessórias para não incorrer em nenhum tipo penal. 
Meios empregados proporcionais à agressão: Essa análise é feita sempre no caso concreto e nunca de um ponto de vista subjetivo.
Obs.: Detentor tem legitimidade para propor uma ação possessória? Não,só o possuidor. Mas o detentor pode se valer da defesa direta? Sim, em benefício do possuidor ou representado. Embora não tenha o direito de invocar, em seu nome, proteção possessória, não se lhe recusa, contudo, o direito de exercer a autoproteção do possuidor, consequência natural do seu dever de vigilância. 
Obs.: 1212 – Adquirente de má-fé: contra o adquirente de má-fé cabe a reintegração e/ou indenização. 
Art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era.
Obs.: Adquirente de boa-fé: A interpretação é a contrario sensu do que diz o 1212, isto é, contra terceiro adquirente de boa-fé, só cabe a reivindicatória ou petitória. A lei protege o adquirente de boa-fé, mas não pode deixar sem proteção o proprietário. Então aqui só cabe discutir a propriedade.
Obs.: 1213 – Posse das Servidões: 
Art. 1.213. O disposto nos artigos antecedentes� não se aplica às servidões não aparentes, salvo quando os respectivos títulos provierem do possuidor do prédio serviente, ou daqueles de quem este o houve.
Servidão pode existir sobre várias coisas, a depender da finalidade/comodidade que um prédio oferece ao outro. Então a servidão é constituída em razão da localização/situação que um prédio tem em relação ao outro, e as partes são livres para estabelecê-las. Não é necessidade, mas sim comodidade.
 O prédio dominante é o que tem essa comodidade; e o serviente é o que vai sofrer a restrição. 
A proteção possessória é cabível nas servidões aparentes. O titular do prédio dominante pode defender a sua posse contra o serviente e vice versa. 
Uma vez aparente, goza da proteção possessória. Quando não é aparente, vai se valer da proteção possessória quando estiver no título.
Obs.: se você não entendeu muito bem essa parte que eu não digitei direito porque fiquei com preguiça, saiba que Carlos Roberto Gonçalves trabalha isso no Capítulo IX, Título IV do seu livro de Direito das Coisas. Não resumi aqui já que, obviamente, veremos isso mais a frente com Viviane.  
9.2 Percepção dos frutos
São utilidades periodicamente produzidas pela coisa. Na classificação de bens, são acessórios. 
Classificação dos frutos:
A) Quanto à origem:
Naturais: se originam da natureza. 
Industriais: originados pela intervenção do homem.
Civis: originados das relações jurídicas; originados pela utilização da coisa por uma outra pessoa que não o seu proprietário. Ex.: rendimentos de um modo geral são frutos civis. 
B) Quanto ao seu estado:
Pendentes: estão vinculados à sua origem. 
Percebidos/colhidos: já foram desvinculados da sua origem. 
Estantes: já foram colhidos e se encontram armazenados. 
Percipiendos: deveriam ter sido colhidos e não foram. 
Consumidos: já alcançaram a sua finalidade/destinação. 
Obs.: 1214 – Possuidor de boa-fé 
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação.
Obs.: 1216 – Possuidor de má-fé 
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.
O mesmo tratamento para os frutos pendentes é dado para os frutos colhidos por antecipação. 
Quando cessa a boa-fé do possuidor? Quando ele toma conhecimento do vício/obstáculo que impede a aquisição da coisa. Para efeitos práticos, é o momento da citação.
O que fundamenta o direito do possuidor de má-fé de ser indenizado pelas despesas de custeio e produção? Vedação do enriquecimento seu causa (locupletamento ilícito). 
9.3 Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa – arts. 1217 e 1218 
A perda atinge o bem como um todo (o bem deixa de existir ou deixa de ter utilidade); e a deterioração atinge apenas parte do bem, reduzindo a sua utilidade ou seu valor econômico. Para efeitos da posse, o tratamento é o mesmo. Tanto faz se perda ou deterioração, o tratamento é o mesmo. 
Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa.
É o mesmo que dizer: o possuidor de boa-fé responde pela perda ou deterioração quando ele der causa. E o que é esse dar causa a alguma coisa? Quando se age com dolo ou culpa. 
Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante.
Ainda que acidentais? Caso fortuito ou força maior. Estes, em regra, excluem a responsabilidade. Mas aqui o legislador onera o possuidor de ma-fé, porque ele terá que provar que isso ocorreria com qualquer um. 
9.4 Indenização por benfeitorias e o direito de retenção 
São obras ou despesas feitas na coisa com a finalidade de conservá-la, melhorá-la ou embelezá-la. 
A) Classificação de benfeitorias
Necessárias: conservação ou manutenção da coisa
Úteis: melhorar, facilitar a utilidade, aumentar a utilidade. 
Voluptuárias: embelezamento ou mero deleite. 
Quando vocês forem se utilizar dessa classificação, busquem sempre a finalidade. Tenham em mente também que a benfeitoria é em razão da coisa, e não da pessoa. 
Se ela perguntar para vocês que tipo de benfeitoria é o ar condicionado do carro numa cidade quente, a resposta é “útil”, e não necessária. Isso porque, repetindo, deve ser levada em consideração a coisa. 
Art. 1219 – Boa-fé – direito de retenção
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
O possuidor de boa-fé tem direito de ser indenizado por TODAS as benfeitorias. 
Obs.: cabe direito de retenção às benfeitorias voluptuárias? Não, minha gente. Se não tem como retirar sem causar dano ao bem, o possuidor de boa-fé deve entrar com uma ação de indenização. Só cabe direito de retenção pelas benfeitorias necessárias e úteis. 
Art. 1220 – Ma-fé 
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
Somente tem direito de ser indenizado pelas benfeitorias necessárias; mas não cabe direito de retenção.
Obs.: Quando vocês se depararem com um contrato, vale o que estiver no contrato. O CC é subsidiário ao contrato e a lei do inquilinato. 
Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem.
Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual.
O posicionamento jurisprudencial é que deve ser avaliada a benfeitoria no estado em que ela se encontra. Independentemente da boa-fé ou ma-fé. Avalia-se a benfeitoria no estado em que ela se encontra e é o valor a ser pago pelo proprietário.
Tchau posse. 
Exercícios
1. Diferencie direito pessoal (obrigacional) de direito real.
	Real 
	Pessoal
	O direito real gera entre a pessoa e a coisa, uma relação direta e imediata. Assim, direito real permanece incidindo sobre o bem, ainda que este circule de mão em mão e se transmita a terceiros, pois o aludido direito segue a coisa em poder de quem que ela se encontre. 
	O vínculo obrigacional existente é entre credor e devedor, e confere ao primeiro somente o direito de exigir a prestação prometida.
	Os direitos reais exercem erga omnes, ou seja, contra todos, que devem abster-se de molestar o titular. Surge, daí, o direito de perseguir a coisa e dereivindicá-la em poder de quem quer que esteja (ação real), bem como o direito de preferência. 
	Resolvem-se em perdas e danos e não se exercem contra todos, mas em face de um ou de alguns sujeitos determinados. Dispõem de ação pessoal. 
	Taxativos
	
	A propriedade é um direito perpétuo, pois não se perde pelo não uso, mas somente pelos meios e formas legais: desapropriação, usucapião, renúncia, abandono etc. 
	São eminentemente transitórios: cumprida a obrigação, extinguem-se. Não exigido o seu cumprimento dentro de certo lapso de tempo, prescrevem. 
2. Discorra sobre as principais teorias que procuram explicar o conceito de posse, identificando a adotada pelo Código Civil vigente.
Existem duas teorias que procuram explicar o conceito de posse: a subjetiva, proposta por Savigny, e a objetiva, proposta por Ihering. A primeira propõe que para que exista a posse são necessários dois elementos: corpus, que seria o poder fático ou físico sobre a coisa, e o animus, que seria o elemento psicológico, ou seja, a vontade da pessoa sobre a coisa, que consiste no querer ter a coisa para si e se tornar o proprietário do bem. A segunda, que foi a adotada, em regra, pelo Código Civil brasileiro, considera o animus já incluído no corpus e da ênfase, na posse, ao seu caráter de exteriorização da propriedade. Para que a posse exista, basta o elemento objetivo, pois ela se revela na maneira como o proprietário age em face da coisa. 
3. Diferencie posse de detenção.
O possuidor exerce o poder de fato em razão de um interesse próprio; o detentor, no interesse de outrem. Tais servidores não têm posse e não lhes assiste o direito de invocar, em nome próprio, a proteção possessória. Isso porque a posse gera efeitos para o possuidor, e para a detenção não, isto é, não gera nenhuma relação jurídica referente em relação ao bem em si. 
4. Explique a possibilidade do convalescimento da posse precária
Há o convalescimento da posse precária a partir do instante em que o possuidor direto se recusa a obedecer à ordem de restituição do bem ao possuidor indireto, pois enquanto não chegado o momento de devolver a coisa, o possuidor tem posse justa. Se o proprietário revalidar a situação e permitir que a pessoa ficar mais tempo, haverá o convalescimento da posse precária, para TARTUCE. Mas pensem: se o vício cessou, não há mais posse precária (art. 1208) – ela precisa do vício para que seja precária 
5. Aponte os requisitos indispensáveis para a existência da composse 
São estes: a pluralidade de sujeitos possuindo coisa indivisa. 
6. Comente o caráter relativo da posse injusta
A posse será injusta em face do legítimo possuidor. Mesmo viciada, porém, será justa, suscetível de proteção em relação às demais pessoas estranhas ao fato. 
7. Discorra sobre os efeitos da posse originaria e derivada 
Na posse originária não há qualquer vínculo entre o possuidor anterior e o atual. Na posse derivada, ao invés, há sim essa relação jurídica. A consequência disso é que se a aquisição é pelo modo derivado, essa posse vai continuar da mesma forma como ela existia anteriormente, salvo prova em contrário. Contudo, se a aquisição se deu pelo modo originário, isso não ocorrerá, e, então, para todos os efeitos, é sempre uma nova posse. 
8. Relacione as principais ações possessórias e suas respectivas causas
Cabe a “reintegração da posse” diante do esbulho, pois o esbulhado tem direito a ser restituído. Cabe a “manutenção da posse” quando há turbação, pois o turbado tem direito de manter a posse. Cabe o “interdito proibitório” quando ainda não ocorreu a turbação e nem o esbulho - ameaça.
9. Comente o direito de retenção em face das posses.
O direito de retenção consiste em reter o bem até que lhes sejam pagas as benfeitorias. Somente o possuidor de boa fé tem direito de retenção, e só em relação às benfeitorias necessárias e úteis.
10. Comente sobre o justo titulo 
Justo título é o que seria hábil para transmitir o domínio e a posse se não contivesse nenhum vício impeditivo dessa transmissão. A posse presume-se ser de boa-fé, porque estribada em justo título. Essa presunção, no entanto, é júris tantum e, como tal, admite prova em contrário. 
11. João comprou um imóvel de Maria, tendo esta lhe emitido um recibo de compra e venda, em razão de não ser a proprietária do bem, mas ter somente a posse, oriunda de um esbulho praticado por seu marido, fato este que é de conhecimento de João. Analise a questão, e comente sobre o caráter da posse de João e sobre as providencias que poderia tomar o proprietário para reaver seu imóvel. 
Trata-se de uma posse de má fé, pois João tinha consciência do vício. Ademais, a posse é derivada, e o vício do esbulho permanece, cabendo, portanto, ação de reintegração da posse proposta pelo proprietário para reaver seu imóvel.
Art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era.
Se o proprietário não quisesse propor a reintegração, ele poderia propor uma ação reivindicatória? Sim. Ele o proprietário. Se ele quiser discutir a posse, ele propõe a reivindicação. Se ele quiser discutir a propriedade, propõe a reivindicação. 
Mas se João fosse um possuidor de boa fé, somente caberia a reivindicatória. 
12. Pedro invadiu a propriedade de Jose. Passado algum tempo, aquele promoveu uma ação de manutenção da posse para continuar na posse. José em sua defesa apresentou o registro do imóvel, comprovando sua propriedade. Com base nesses dados, pode-se afirmar que o pedido de manutenção será julgado improcedente diante da comprovação de propriedade de José? Comente sua resposta. 
Art. 1.210, 2o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.
Alegar propriedade numa ação possessória não vai interferir em nada. Jose deveria, em sua defesa, utilizar-se do caráter dúplice das ações possessórias. O juiz pode, na mesma ação, indeferir o pedido de Pedro e deferir o pedido de José para ser reintegrado. 
PROPRIEDADE 
É o principal direito real; o direito real por excelência. 
1. SENTIDO ETIMOLÓGICO 
Proprietas – proprius: aquilo que pertence à pessoa. 
Domare – domus: aquilo que está sujeito à pessoa. 
Historicamente há uma diferença entre domínio e propriedade. Mas o legislador trata como sinônimos. 
2. CONCEITO
Nosso legislador não formula um conceito. 
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha�.
A doutrina apenas acresce os sujeitos para completar: é direito que a pessoa (física ou jurídica) tem, dentro dos limites normativos, de usar, gozar, dispor e reaver o bem de quem injustamente possua ou detenha. 
3. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS
Ou poderes inerentes à propriedade. 
Direito de usar (jus utendi): servir-se da coisa, e, em regra, conforme a sua destinação. 
Direito de gozar ou fruir (jus fruendi): tirar os proveitos que essa coisa tem. Ex.: frutos, produtos. 
Direito de dispor: está no sentido de alienar. 
Direito de reaver: está associado ao direito de sequela, ou seja, seguir e perseguir a coisa nas mãos de quem quer que esteja. Também é fundamento para a ação reivindicatória/petitória. 
4. BREVE HISTÓRICO DA PROPRIEDADE
Sociedades primitivas
Antes mesmo do direito romano. Estava relacionado aos utensílios pessoais, como instrumentos de caça e pesca. 
Lei das XII tábuas
A noção de propriedade imóvel surgiu com a lei das XII tábuas, segundo a maioria dos historiadores. Mas não tinha essa noção privativa da propriedade – era coletiva.
Idade média – poder
Com a idade média, a propriedade imóvel passou a ser sinônimo de poder. Quanto mais terras, maior o poder de decisão e influencia perante a sociedade. 
Século XVIII – código de Napoleão
O código de Napoleão traz uma visão individualista, privativa da sociedade. O código de 16 tem uma influencia desse código. Uma vez proprietário,faz aquilo que quiser com aquilo que lhe pertence. 
Século XIX – doutrinas socializantes
Já se critica essa visão individualista da propriedade e se busca um sentido social, mas de uma forma muito singela. 
Século XX, XXI – moradia 
Com o crescimento populacional, a moradia passa a ser a grande preocupação. O aproveitamento racional do solo, dos espaços urbanos para garantir a moradia ao individuo, dessa preocupação surge a função social da propriedade. No nosso ordenamento, está previsto na CF.
5. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE
De um modo geral, a função social da propriedade consiste em equacionar ou equilibrar o interesse individual com o interesse coletivo. Ao mesmo tempo em que atende ao anseio do proprietário, também atende ao anseio social. 
À propriedade, tem que ser dada uma destinação. 
Para sabermos quando essa propriedade está cumprindo a sua função social, a CF classifica a propriedade em urbana e rural. 
Em relação à propriedade urbana, a propriedade vai estar cumprindo com sua função social quando estiver cumprindo as finalidades estabelecidas em lei.
Em relação à propriedade rural, esses requisitos devem ser atendidos simultaneamente. 
O CC é o código mais privativo do ordenamento. Mas mesmo assim ele estabelece que a propriedade deve atender à sua função social. 
Art. 5º, XXII e XXIII; 170, 182 e 186 – CF
Propriedades urbanas:
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes.
§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
§ 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.
§ 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
§ 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
Propriedades rurais:
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Lei federal 10.257/01 – Estatuto da cidade
Lei municipal 4.669/06 – Plano Diretor do Município de São Luís 
6. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DE PROPRIEDADE
Todas as características que tratamos sobre os direitos reais se aplicam aqui, e não somente esses três:
Absoluto: muito cuidado quando encontrarem com a explicação de que é absoluto porque “o proprietário pode fazer o que quiser com aquilo que lhe pertence”. Isso porque existem limites normativos, além do fato de que a propriedade deve atender as funções sociais.
Exclusivo: não existem direitos reais de igual conteúdo sobre a mesma coisa. A mesma coisa não pode pertencer com exclusividade e simultaneamente a uma ou mais pessoas. O direito de um sobre determinada coisa exclui o direito de outro sobre essa mesma coisa. Então quando aparentemente tiver mais de um proprietário sobre o bem, na verdade cada um é proprietário de uma quota parte – os condôminos são, conjuntamente, titulares de direito; o condomínio implica divisão abstrata da propriedade. 
Perpétuo: muito cuidado quando encontrarem que é um direito perpétuo porque não se acaba com seu uso. Isso porque à propriedade tem que ser dada uma função. Assim, apesar de o direito de “usar” estiver como uma faculdade, na verdade está mais para uma obrigação. Esse perpétuo deve ser entendido como algo duradouro, mas que pode deixar de existir pela vontade do seu titular ou por disposição legal. Em suma, a propriedade é irrevogável ou perpétua no sentido de que subsiste independentemente de exercício, enquanto não sobrevier causa legal extintiva. 
Obs.: tem uma característica chamada de “elasticidade”, que consiste na possibilidade do desmembramento das faculdades da propriedade – dos seus elementos constitutivos – sem que o proprietário deixe de ser seu titular. 
7. CLASSIFICAÇÃO 
A) Quanto à extensão 
Plena: quando o proprietário usa, usufrui, pode dispor ou reaver – quando todos os elementos constitutivos se concentram na mão do proprietário. 
Restrita: quando faltar ao menos um desses elementos.
B) Quanto a duração do domínio 
Perpétua: é a regra. É constituída para durar por prazo indefinido (prazo duradouro). 
Resolúvel: quando a sua duração estiver sujeita a um termo ou condição ou causa superveniente. 
8. LIMITES AO DIREITO DE PROPRIEDADE DO SOLO
Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las.
É até onde vai o justo interesse do proprietário dentro dos limites normativos. Dependendo de onde esse imóvel estiver situado, ele não vai poder construir acima de determinada altura, por exemplo. 
Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais.
Exceção ao art. 1.230:
Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não submetidos a transformação industrial, obedecido o disposto em lei especial.
9. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL
9.1 Classificação 
Vimos isso dentro de posse. O mesmo significado, pois o que muda é que agora é propriedade. 
A) Quanto à origem
Originária: quando não há relação entre a atual propriedade e anterior. 
Derivada: há um vínculo entre o proprietário anterior e o atual. 
B) Quanto ao objeto
Universal: quando o objeto é um conjunto; uma universalidade de bens. 
Singular: quando o objeto da aquisição é uma coisa certa/determinada/especificada ou coisas certas/determinada/especificadas. 
AQUISIÇÃO POR USUCAPIÃO
O termo “usucapião” pode ser utilizado tanto na forma feminina quanto masculina. As duas formas estão corretas. 
Capio – capere = tomar
Usu = uso
Pelo sentido etimológico da palavra, significa tomar pelo uso. 
Usucapião é o modo de aquisição da propriedade e de outros direitos reais através da posse mansa, pacífica e contínua por um determinadotempo fixado em lei. 
O usucapião também pode ser denominado de “prescrição aquisitiva”: o decurso do tempo traz o direito, associado a outros requisitos. 
Tanto bens móveis quanto imóveis podem ser objetos de usucapião. 
1. PRESSUPOSTOS 
A) Coisa hábil ou suscetível de usucapião 
Tudo que for passível de apropriação. Tudo que puder ser objeto de propriedade, também poderá ser objeto de usucapião. 
Exceção: bens inalienáveis – fora do comércio (água do mar, luz solar etc.); bens públicos. 
Obs.: há uma discussão na doutrina sobre os bens de família. Parte da doutrina entende que não cabe usucapião em relação ao bem de família por conta da sua natureza. Outra parte defende que há essa possibilidade quando o bem não está sendo utilizado para essa finalidade. Então se a família deixa de utilizar o bem a ponto de outra pessoa se encaixar nos requisitos para usucapir, significa que a família não está usando o bem para a finalidade a qual se destina. 
Gonçalves: preliminarmente, é necessário verificar se o bem que se pretende usucapir é suscetível de prescrição aquisitiva (res habilis), pois nem todos se sujeitam a ela, com os bens fora de comércio� e os bens públicos. 
O art. 1.244 do CC manda aplicar a usucapião os preceitos relativos às causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição. Desse modo, não corre prescrição extintiva nem aquisitiva contra as pessoas mencionadas nos arts. 197 e 198 do CC. Não se pode usucapir, por exemplo, coisa móvel ou imóvel de propriedade de pessoa absolutamente incapaz. 
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Art. 197. Não corre a prescrição:
I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal.
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.
Art. 198. Também não corre a prescrição: 
I - contra os incapazes de que trata o art. 3º; 
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios; 
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra. �
Os bens na situação do art. 199 do CC, a seu turno, não podem ser usucapidos, justamente por não correr lapso prescricional, faltando, pois, condição básica ao exercício da prescrição. Os bens públicos também não podem ser objetos de usucapião. 
Art. 199. Não corre igualmente a prescrição: 
I - pendendo condição suspensiva; 
II - não estando vencido o prazo; 
III - pendendo ação de evicção. 
B) Posse
Ad usucapionem – animus domini: quando falamos das teorias da posse, abordamos a teoria objetiva e subjetiva. A teoria adotada predominantemente foi a objetiva: para existir posse, basta que o possuidor se comporte como se proprietário fosse. Nesse ponto, houve uma mitigação da teoria objetiva: não basta apenas agir como se proprietário fosse, pois, aqui, o animus da pessoa é de se tornar o proprietário do bem. É em razão desse animus de dono que toda posse decorrente de uma relação jurídica exclui a possibilidade de usucapião. Isso porque quando se tem uma relaça jurídica, o animus vai sempre decorrer dessa relação jurídica, e não o animus. 
Obs.: Para modificar esse animus, não basta apenas a vontade do possuidor. Tem que ocorrer uma mudança também no comportamento do proprietário. Tanto a vontade do possuidor quanto do proprietário tem que ser modificada. 
Gonçalves: posse ad usucapionem é a que contém os requisitos exigidos pelos arts. 1.238 a 1.242 do CC, sendo o primeiro deles o ânimo de dono. Requer-se, de um lado, atitude ativa do possuidor que exerce poderes inerentes à propriedade; e, de outro, atitude passiva do proprietário, que, com sua omissão, colabora para que determinada situação de fato se alongue no tempo. Exigem os aludidos dispositivos, com efeito, que o usucapiente possua o imóvel “como seu”. Não tem ânimo de dono o locatário, o comodatário, o arrendatário e todos aqueles que exercem posse direta sobre a coisa, sabendo que não lhe pertence e com reconhecimento do direito dominial de outrem, obrigando-se a devolvê-la. 
Mansa e pacífica: Gonçalves: o segundo requisito da posse ad usucapionem é que seja mansa e pacífica (termo utilizado pela doutrina), isto é, exercida sem oposição. Se o possuidor não é molestado, durante todo o tempo estabelecido na lei, por quem tenha legítimo interesse, ou seja, pelo proprietário, diz-se que a sua posse é mansa e pacífica. Todavia, se este tomou alguma providência na área judicial, visando quebrar a continuidade da posse, descaracterizada fica a ad usucapionem. Providências extrajudiciais não significam, verdadeiramente, oposição. 
Obs.: se o possuidor defendeu a sua posse em juízo contra invectivas de terceiros e evidenciou seu ânimo de dono, não se pode falar em posição capaz de retirar da posse a sua característica de mansa e pacífica. 
Contínua: Como terceiro requisito, deve a posse ser contínua, isto é, sem interrupção. O possuidor não pode possuir a coisa a intervalos, intermitentemente. É necessário que tenha conservado durante todo o tempo até o ajuizamento da ação de usucapião. O fato de mudar-se para outro local não significa, necessariamente, abandono da posse, se continuou comportando-se como dono em relação à coisa. 
Viviane disse que, nesse ponto, há um entendimento jurisprudencial no seguinte sentido: A pratica um esbulho contra B. B move uma ação de reintegração de posse contra A. Aqui temos só uma relação de posse. Quando B ingressa com a reintegração de posse, ele consegue uma liminar para que seja reintegrado. Para a jurisprudência, esse período entre a data do esbulho e a data que ele foi restituído, não se considera como uma interrupção da posse. Detalhe: tem que ser liminarmente. 
Gonçalves, a seu turno, diz coisa que diversa: para evitar interrupção da posse, em caso de esbulho, deve o usucapiente procurar recuperá-la imediatamente pela força, se ainda for possível (art. 1210, §1º CC), ou ingressar em juízo com a ação de reintegração de posse. 
Segundo o autor, o CC brasileiro não prevê prazo para que a posse seja interrompida pelo esbulho praticado por terceiro, mas o TJSP já decidiu que, “se o esbulhado interpõe, dentro de um ano e dia, interdito possessório, e vence, conta-se em seu favor o tempo em que este esteve privado da posse”. Se o interdito for julgado em favor da outra parte, reconhecendo-se melhor posse, a do usucapiente será considerada descontínua. 
Ocorrerá interrupção natural, assim, quando o possuidor esbulhado deixar passar um ano sem intentar a ação de esbulho ou quando abdicar da posse. Já a interrupção civil ocorre na hipótese de promover o proprietário a reivindicação antes de findo o prazo prescricional, o que se dará com a citação inicial e mediante protesto contra prescribente junto à autoridade competente. Verificar-se-á ainda quando reconhecer o possuidor o direito do proprietário ou quando sobrevier uma das hipóteses previstas no art. 1244 do CC. 
A interrupção natural não produzirá efeito se, como foi dito, dentro de ano e dia o possuidor tiver recuperado a posse por meio dos interditos. Esse prazo, entretanto, em se tratando de esbulho praticado clandestinamente, será contado a partir da data de seu conhecimento. Por outro lado, em se tratando de interrupção civil, a citação do possuidor para a demanda perde, como igualmente já foi afirmado, o seu efeito interruptivo da prescrição aquisitiva desde que a ação reivindicatória seja julgada improcedente.
A interrupção acarreta o reinício da contagem do prazo prescricional, com observância dos demais requisitos, sem aproveitamento do tempo antes decorrido. 
Embora exija a continuidade da posse, admite o CC, no art. 1243, que o possuidor acresce à sua posse a dos seus antecessores para o fim de contar o tempo exigido para a usucapião, contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1242, com justo título e de boa-fé. 
A junção das posses pode decorrer, ainda, da successio possessionis (aquisição a título universal),quando o herdeiro se reputa na continuação da posse do falecido (art. 1207 CC). Na sucessão a título universal, o herdeiro sucede nas virtudes e nos vícios da posse do defunto, prosseguindo nesta obrigatoriamente. A soma das posses na sucessão a título singular (accessio possessionis) não é, todavia, obrigatória, mas facultativa, ou seja, utilizada somente quando lhe aproveitar (art. 1207 CC).
C) tempo – fixado em lei
Para cada espécie de usucapião, a lei fixa um prazo. 
Assim, toda e qualquer espécie de usucapião vai ter que preencher esses pressupostos – esses elementos devem estar contidos. 
2. ESPÉCIES
É uma construção doutrinária. 
Obs.: de forma não abordada por Viviane, Carlos Roberto Gonçalves classifica assim: 
♥ Extraordinária
♥ Ordinária		- Rural (pro labore)
♥ Especial/Constitucional 	 - Individual
	- Urbana - Coletiva
	- Familiar
A) Extraordinária – art. 1.238 CC
Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Então os requisitos são: 15 anos, posse com animus de dono, sem oposição, sem interrupção, independente de título e boa-fé.
Essa espécie de usucapião é a que traz o prazo mais amplo, e, portanto, é a que exige menos requisitos. 
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.
Gonçalves: Corresponde à espécie de usucapião mais comum e conhecida. Basta o ânimo de dono e a continuidade e tranquilidade da posse por 15 anos. O usucapiente não necessita de justo título nem de boa-fé, que sequer são presumidos: simplesmente não são requisitos exigidos. O título, se existir, será apenas reforço de prova, nada mais. O conceito de “posse-trabalho”, quer se corporifique na construção de uma residência, quer se concretize em investimentos de caráter produtivo ou cultural, levou o legislador a reduzir para 10 anos a usucapião extraordinária, como consta no PU. 
Obs.: art. 2.028
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.
CC/16 – 20 ANOS
CC/02 – 15 ANOS
Jan/2003 – 11 anos
11 anos (mais da metade do tempo exigido na lei anterior) - aplicar-se-á a lei anterior.
Agora se tivesse 9 anos de posse sem oposição e interrupção e com animus de dono, tendo menos da metade, aplica-se o CC atual. 
B) Usucapião Especial Rural ou pro labore - Art. 1.239 CC e 191 CF. 
Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Quanto menor o tempo, mais requisitos. 
Então os requisitos são: 5 anos; posse com animus domini, sem oposição, sem interrupção; área em zona rural não superior a 50Ha; não ser proprietário de outro imóvel rural ou urbano; produção e moradia. 
Gonçalves: a usucapião especial rural não se contenta com a simples posse. O seu objetivo é a fixação do homem no campo, exigindo a ocupação produtiva do imóvel, devendo deste morar e trabalhar o usucapiente. Tais requisitos impedem que a pessoa jurídica requeira usucapião com base no dispositivo legal em apreço porque ela não tem família nem morada. (Não entra PJ)
O benefício é instituído em favor da família. Por essa razão, a morte de um dos cônjuges, de um dos conviventes ou do pai ou da mãe que dirige a família monoparental não prejudica o direito dos demais integrantes. 
A doutrina e a jurisprudência não agasalham, todavia, a soma ou adição da posse, denominada acessio possessionis. Não pode, assim, o possuidor acrescentar à sua posse a dos seus antecessores, uma vez que teriam que estar presentes as mesmas qualidades das posses adicionadas, o que seria difícil de ocorrer, visto que há requisitos personalíssimos incompatíveis com a aludida soma, como produtividade do trabalho do possuidor ou de sua família e morada no local. É afastada até mesmo a hipótese de adicionamento quando o sucessor a título singular faz parte da família e passa a trabalhar a terra e a produzir, nela residindo. 
C) Usucapião Especial Urbana, pro misero ou pro moradia – Art. 1.240 CC; 183 CF
CC, Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
Requisitos: área urbana de até 250m²; 5 anos, ânimo de dono, sem oposição, sem interrupção; não ser proprietário de outro imóvel rural ou urbano; moradia. 
§ 1o O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2o O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
Gonçalves: tal espécie não se aplica à posse de terreno urbano sem construção, pois é requisito a sua utilização para moradia do possuidor ou de sua família. Tem legitimidade para usucapir o possuidor como pessoa física. 
Quanto à extensão do imóvel, a área urbana de 250m² representa um tamanho máximo, fixado pelo legislador como suficiente à moradia do possuidor ou de sua família. Tal metragem abrange tanto a área do terreno ou a construção, vedado que uma ou outra ultrapasse o limite assinalado. Ademais, não se soma a área construída à do terreno. 
Em princípio, não é possível ao usucapiente, que exercer posse sobre área urbana com metragem superior, pretender usucapir área igual ou menor a de 250m², situada dentro de área maior, fundando sua pretensão no art. 183 CF ou 1240 CC. O proprietário poderia ser surpreendido pela repentina redução da pretensão, uma vez que a usucapião de toda a área possuída só se consumaria em prazo maior. Poderia ele, por essa razão, ter deixado a adoção de providencias visando à recuperação de seu imóvel para ocasião mais oportuna, dentro daquele prazo maior. 
Nada obsta, todavia, que se adquira pela usucapião especial imóvel urbano inserido em área maior, delimitada a posse ao limite de 250m². decidiu o TJ/SP ser possível incidir a usucapião especial sobre um lote de terreno existente em área que seria objeto de um loteamento, enfatizando: “estando o imóvel usucapiuendo bem descrito e identificado, tendo a requerente juntado a planta do loteamento a que pertence, impõe-se o prosseguimento da ação de usucapião especial, pois o imóvel acha-se individualizado, porquanto o condômino pode usucapir, desde que exerça posse pro sua, com exclusividade, em área delimitada, demonstrando inequivocamente o animus domini, pelo prazo mínimo previsto em lei. Não há impossibilidade de usucapir área destacada em imóvel urbano, desde que, por suas características de localização e metragem, possa ser desmembrada. 
D) Usucapião familiar – Art. 1240-A CC
Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 
Requisitos: 2 anos, sem oposição, sem interrupção; posse direta, com exclusividade; imóvel urbano de até 250m²; ex-cônjuge ou ex-companheiro; não ser proprietário de outro imóvel rural ou urbano. 
A finalidade é que esse proprietário se torne o proprietário exclusivo.

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