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MARÇO - 200680 REVISTA PROTEÇÃO MÁQUINAS Segurança na indústria da transformação de plásticos avança Esforços constantes O setor da economia brasileira que a- brange as atividades industriais de transformação de plástico registrou, na última década, avanços significativos no tocante à segurança de máquinas. Este que era conhecido no ano de 1992 como o segundo ramo de atuação da indústria nacional que mais gerava mutilações, es- trutura-se para colher os frutos das ações tomadas em prol da proteção dos trabalhadores. Embora ainda não seja possível consi- derar o assunto como solucionado, es- forços constantes para a redução dos índices de acidentes têm sido regis- trados e diversos atores como Ministé- rio do Trabalho (através de ações de fis- calização), sindicatos, organizações, as- sociações e profissionais de Saúde e Se- gurança do Trabalho estão exercendo de maneira intensiva a sua parcela de con- tribuição na busca do cumprimento da le- gislação, edição de normas e publicações de referência, divulgação de boas práticas, treinamento e capacitação de pessoas e empresas. Na caminhada pela oferta de condições mais seguras de trabalho, alguns passos importantes em termos de diretrizes para a tomada de ações concretas foram esta- belecidos nos últimos anos. O Art. 7º, XXII, da Constituição Federal de 1988, os Art. 184 e 186 da CLT, a Norma Regula- mentadora 12, da Portaria 3214/78 e a Convenção 119 da OIT, vigente na estru- tura jurídico-positiva brasileira a partir de abril de 1993, ainda se constituem como os principais diplomas legais no que tange à proteção de máquinas e equipamentos. Aliadas à estrutura existente, são dig- nas de referência a publicação de diversas normas técnicas da ABNT, a Convenção Coletiva do Estado de São Paulo que deu origem ao PPRPS (Programa de Preven- ção de Riscos em Prensas e Similares) e, mais recentemente, a Nota Técnica/DSST nº 37, expedida pelo Ministério do Trabalho em dezembro de 2004, estabelecendo ori- Paulo André Souto Mayor Reis - Engenheiro Químico e de Segurança do Trabalho, Professor do Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho da Unisinos, Auditor de Sistemas Integrados de Gestão de Qualidade, Meio Ambiente, Saúde e Segurança Ocupacional e Responsabilidade Social. psouto@terra.com.br Paulo André Souto Mayor Reis entações técnicas objetivas para que se possa implementar ações semelhantes às propostas pela Convenção de São Paulo, porém em nível nacional, harmonizando o que seria referência em termos da busca do “Estado da Arte” em prensas e similares. INJETORASINJETORASINJETORASINJETORASINJETORAS A indústria de transformação de plásti- cos utiliza diversos processos para a pro- dução de bens de consumo, tais como in- jeção, extrusão, sopro, termomoldagem e outros. Embora cada processo possua as suas peculiaridades em termos de ma- quinário, acessórios e processos comple- mentares, as estatísticas demonstram que historicamente o maior número de acidentes ocorre em máquinas injetoras. O processo de injeção é, sem dúvida, o mais importante processo de transforma- ção de plásticos, pelas características de possibilidades de automação, reprodutibi- lidade da produção, pouca ou nenhuma ne- cessidade de acabamento nas peças mol- dadas e gama de produtos que é capaz de produzir. Simplificadamente, as máquinas injeto- ras realizam uma operação de preenchi- mento pressurizado de cavidades de um molde com polímeros em estado fluido. Uma máquina injetora pode trabalhar de modo manual, onde cada etapa do ciclo de produção é comandado pelo operador; semi-automático, onde todas as etapas de um ciclo de produção são realizadas automaticamente mas para o início de um novo ciclo é necessária a intervenção do operador ou automático, onde os ci- clos ocorrem repetidamente até que se- ja realizada uma intervenção externa ou a máquina tenha sua operação interrom- pida por algum modo de falha. Os princi- pais perigos existentes em cada uma das partes de uma máquina injetora es- tão elencados no Quadro 1 - Perigos existentes em máquinas injetoras. As proteções, incluindo orientações sobre a distribuição dos dispositivos de segurança e medidas complementares de segurança exigidas neste tipo de má- quinas estão definidas na Norma ABNT NBR 13536, que tornou-se compulsória para fabricantes e importadores a partir da publicação da Portaria nº 9 de 30/03/ 2000, acrescentando o subitem 12.3.11 no texto da NR-12. Os dispositivos de segurança requeri- dos para as máquinas injetoras são classifi- cados em: elétricos, atuados pelo desloca- mento de uma proteção e produzem um sinal que é usado no circuito de comando da máquina; hidráulicos, através de uma válvula de segurança atuada eletricamente e ligada a um dispositivo acionado pelo deslocamento de uma proteção da máqui- na, causando o desvio do fluxo de alimenta- ção de óleo e impedindo o movimento de fechamento da área do molde; mecânicos, que quando ativados pela abertura de uma proteção, impedem mecanicamente o movimento de fechamento do molde. Ca- be frisar que estes dispositivos agem sem- pre associados a proteções fixas e móveis como tampas, portas e anteparos e são a- cionados por eventos como abertura de por- tas, acionamento de parada de emergência e outros. Para um aprofundamento no as- sunto, recomenda-se a consulta extensiva às Normas ABNT NBR 13536, NBR 13757, NBR NM ISO 13852, NBR 5410, Normas Regulamentadoras NR-10 e NR-12. EXTRUSORASEXTRUSORASEXTRUSORASEXTRUSORASEXTRUSORAS Também merece destaque o processo REVISTA PROTEÇÃO 81MARÇO - 2006 de extrusão, que, basicamente, consiste em moldar de forma contínua um polímero em estado fluido, através de uma ferramen- ta e a sua subseqüente solidificação no pro- duto desejado, que pode assumir a forma final de filmes planos, filamentos de seção regular ou irregular, perfis vazados ou não, de seções diversas, dentre outros. As máquinas extrusoras, diferentemen- te das injetoras, constituem parte do pro- cesso de fabricação de peças extrudadas e serão analisadas isoladamente, tendo em vista a infinidade de combinações, pro- cessos e ferramentas que podem dar ori- gem aos mais diversos produtos que se tem conhecimento atualmente. É comum utilizar-se o conceito de que uma extruso- ra produz um material “semi-acabado”, uma vez que a sua função está ligada, prin- cipalmente, à fluidificação do material ali- mentado. Os principais perigos existentes em cada uma das partes de uma máquina extrusora estão elencados no Quadro 2 - Perigos existentes em máquinas extruso- ras. Do mesmo modo que para as máquinas injetoras, as extrusoras também reque- rem proteções para que os riscos possam ser minimizados. Essas proteções podem ser fixas ou móveis e devem, sempre que possível, incorporar dispositivos de segu- rança que possibilitem intertravamentos elétricos, mecânicos ou eletromecânicos. Moinhos são normalmente utilizados para cominuição (fragmentação) de materiais, onde o objetivo é alcançar especificações dimensionais que resultem em tamanhos de partícula menores do que uma deter- minada situação inicial. As suas aplicações mais comuns nas indústrias de transforma- ção de plásticos são no preparo das maté- rias-primas para processamento ou redu- ção de volume de materiais considerados fora de especificação, para posterior des- tinação ou reaproveitamento. Os princi- pais riscos de acidentes envolvidos na ope- ração destes equipamentos são amputa- ções de membros superiores por acesso à zona perigosa (lâminas), aprisionamento em elementos rotativos expostos (moto- res e elementos de transmissão de força), projeção de partículas (falta de proteção no bocal de alimentação) e choque elétrico (fiação exposta e aterramento deficien- te). Para todos eles, com exceção do últi- mo, também é recomendável a adoção de proteções fixase/ou móveis, associadas aos dispositivos de segurança. PREOCUPPREOCUPPREOCUPPREOCUPPREOCUPAÇÕESAÇÕESAÇÕESAÇÕESAÇÕES Quando se trata de aquisição de equipa- mentos novos, nacionais ou importados, percebe-se que a grande maioria dos fa- Perigos existentes em máquinas injetoras QUADRO 1 ZONA DE PERIGO PROCESSOS PERIGOS Molde Movimentos de fechamento e Esmagamento de membros superiores abertura do molde Movimento das gavetas e Esmagamento de membros superiores machos rotativos Extração mecânica ou pneumática Ferimentos corto-contusos Injeção Queimaduras por projeção de plástico aquecido Desobstrução de cavidades do Ferimentos corto-contusos molde Unidade de injeção Movimentação do cilindro Ferimentos corto-contusos plastificador Esmagamento de membros superiores Choque elétrico Injeção Queimaduras por projeção de plástico aquecido Purga Queimaduras por projeção de plástico aquecido Mecanismo de Movimentos de fechamento e Esmagamento de membro superiores fechamento abertura Acionamento do sistema hidráulico Vazamento de óleo pressurizado (onde aplicável) Alimentação de Abastecimento da máquina Esmagamento de membros superiores material Queda por diferença de nível Poeiras geradas por material moído Extratores de peças Movimentação e exposição dos Ferimentos corto-contusos extratores Resistências de Fluidificação do material a ser Queimaduras por contato com partes aquecimento injetado aquecidas Choques elétricos Descarga de peças Liberação da peça injetada Queimaduras por contato com peças quentes Esmagamento de membros superiores por acesso à área do molde Corpo da máquina Operação Choque elétrico causado por aterramento inadequado ou inexistente MARÇO - 200682 REVISTA PROTEÇÃO MÁQUINAS bricantes está comprometida com as re- gulamentações no que diz respeito às pro- teções de máquinas. Também percebe- se uma preocupação no conteúdo dos manuais e documentações técnicas que contemplam capítulos dedicados exclusi- vamente ao detalhamento da localização das proteções, seu funcionamento e re- comendações para operação e manuten- ção em condições seguras, incluindo checklists para a verificação periódica de itens e dispositivos de segurança. Entretanto, é sabido que existem em- presas cujas máquinas ainda necessitam de adequações em relação à sua seguran- ça. Para tanto, é importante que se bus- que executá-las, obedecendo aos princí- pios técnicos, sob pena de não se obter uma proteção eficaz. Nestes casos, deve- se levar em consideração que apenas me- lhorias não bastam. É necessário que es- tas melhorias atendam aos critérios técni- cos e/ou normativos, sejam realizadas por profissionais ou empresas competentes e com responsabilidade técnica formaliza- da e que sua eficácia final seja assegurada. O primeiro passo para a adequação é o reconhecimento dos riscos que no caso das injetoras e extrusoras, obedece a um determinado padrão já abordado anteri- ormente neste artigo. Para situações que se diferenciem daquelas conhecidas ou que possuam outros níveis de complexida- de, é válido buscar referências tecnológi- cas com os fabricantes e, principalmente, fazer uso de normas técnicas. Desde a dé- cada de 1990, a proteção de máquinas no Brasil tem recebido significativo incenti- vo por parte do Fórum Nacional de Norma- lização – ABNT – através da publicação de normas técnicas baseadas, principalmen- te, em diretivas européias e norte-ameri- canas já consagradas. NORMASNORMASNORMASNORMASNORMAS De uma forma geral, no assunto de pro- teção de máquinas, consideram-se nor- mas técnicas do tipo “A” aquelas que tra- tam de questões genéricas ou concei- tuais, como as Normas ABNT NBR 14009 – Segurança de Máquinas - Princípios para Apreciação de Riscos e NBR NM 213 – Segurança de Máquinas – Conceitos Bá- sicos, Princípios Gerais para Projetos. Já as normas do tipo “B” classificam-se em normas de aspectos gerais de segurança e componentes e dispositivos usados na segurança, exemplificadas, respectiva- mente, pelas NBR NM ISO 13852 – Dis- tâncias Seguras para Impedir Acessos a Zonas de Perigo pelos Membros Superi- ores e NBR NM 273 – Segurança de Máquinas - Dispositivos de Intertrava- mento Associados a Proteções – Princí- pios para Projeto e Seleção e NBR NM 272 – Segurança de Máquinas – Prote- ções - Requisitos gerais para o Projeto de Proteções Fixas e Móveis. Por fim, as normas de nível “C” são direcionadas às máquinas específicas, como a NBR 13536 – Máquinas Injetoras para Plástico e Elas- tômeros – Requisitos Técnicos de Segu- rança para o Projeto, Construção e Utiliza- ção e a NBR 13930 – Máquinas de Molda- gem por Sopro Destinadas à Produção de Artigos Ocos de Termoplásticos – Requi- sitos Técnicos de Segurança para Projeto e Proteção. PROTEÇÃOPROTEÇÃOPROTEÇÃOPROTEÇÃOPROTEÇÃO A escolha das medidas de proteção deve incluir a prevenção de acesso à zonas peri- gosas, prevenção de movimentos perigo- sos, previsão para paradas de emergência, comportamento inercial de elementos móveis, forma de atuação dos dispositi- vos de segurança, entre outros, levando em consideração – evidentemente – os riscos envolvidos. Os sistemas de contro- le relacionados aos dispositivos de segu- rança são representados pela parte do sis- tema de controle da máquina que atua na prevenção da ocorrência de uma condição perigosa. Também nestes casos, será a análise dos riscos que identificará qual a categoria necessária para a garantia da confiabilidade do sistema: desde a simples prevenção de falhas até sistemas que efe- tuem a detecção de falhas em dispositivos de segurança como, por exemplo, siste- mas em redundância com auto monitora- mento. Critérios como robustez em relação às condições operacionais, confiabilidade, prevenção contra burlas e atendimento aos padrões normativos (certificação de produtos) também são fundamentais pa- ra os dispositivos de segurança a serem adotados em um projeto de proteção de máquinas. Freqüentemente, essa é uma questão que muitos empresários acabam por desconsiderar, em função de uma aná- lise que prioriza apenas custos, a despei- to de eficácia na prevenção de acidentes. Novamente, traz-se à memória os casos da execução de melhorias “bem intencio- nadas”, mas ineficazes. Há também que se considerar as má- quinas de grande porte, onde se faz ne- cessário o controle de acesso às áreas ou perímetros, onde a distância de segurança é avaliada através de cálculos padronizados e, dependendo da avaliação dos riscos ofe- recidos, podem ser adotadas soluções como cortinas de luz de segurança, scan- ners a laser para monitoramento ou tape- tes sensíveis à pressão. GERENCIAMENTOGERENCIAMENTOGERENCIAMENTOGERENCIAMENTOGERENCIAMENTO Como qualquer programa de gestão, o sucesso de um programa de prevenção de acidentes em máquinas depende de aspectos fundamentais como manuten- ção, uso das melhores tecnologias disponí- veis, treinamento e capacitação de pes- soal, provisão de recursos e, principalmen- te, auditorias periódicas e estruturadas nas condições de segurança do maquiná- rio. Não deve ser esquecida também a a- nálise crítica do programa e a manutenção de registros. Também deve ser incentivada a adoção de medidas complementares, como o uso de dispositivos que auxiliem o trabalhador a manter-se afastado de áreas e tarefas perigosas, exemplificadas pela adoção de robôs na remoção de peças injetadas, evi- tando assim necessidades de intervenção no interior da área do molde de máquinas injetoras, além de outras soluções espe- cíficas para casos particulares. Perigos existentes em máquinas extrusoras QUADRO 2 ZONA DE PERIGO PROCESSOS PERIGOS Alimentação de Abastecimento da máquina Esmagamento de membros superiores material Queda por diferença de nível Poeiras geradas por material moído Unidade de Fluidificação do material a ser Queimaduras por contatocom partes plastificação extrudado aquecidas Choques elétricos Purga Queimaduras por projeção de plástico aquecido Ferramenta Manutenção e desobstrução de Ferimentos corto-contusos ferramentas Queimaduras por projeção de plástico aquecido e contato com partes aquecidas Corpo da máquina Operação Choque elétrico causado por aterramento inadequado ou inexistente
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