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Informativo 840 stf

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Informativo 840-STF (03/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
Processo excluído deste informativo por não ter sido concluído em virtude de pedido de adiamento: RE 441280/RS. 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
COMPETÊNCIA 
 Mandado de segurança contra decisões negativas do CNJ. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
SERVIDORES PÚBLICOS 
 Inconstitucionalidade de norma estadual que amplie as hipóteses do art. 19 do ADCT da CF/88. 
 
AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA 
 Inconstitucionalidade de lei que preveja plantão criminal para escritório de prática jurídica da Universidade 
estadual. 
 
DIREITO CIVIL 
FILIAÇÃO 
 Direito de ter reconhecida a filiação biológica prevalece sobre a presunção legal de paternidade. 
 Paternidade socioafetiva não exime de responsabilidade o pai biológico. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
COMPETÊNCIA 
 Ação proposta contra a Administração Pública por servidor que ingressou como celetista antes da CF/88 e cuja lei 
posteriormente transformou o vínculo em estatutário. 
 Mandado de segurança contra decisões negativas do CNJ. 
 
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR 
COMPETÊNCIA 
 Crime praticado por militar da ativa contra militar na mesma situação durante atividade militar no interior da 
caserna. 
 
DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 
COMPETÊNCIA 
 Ação proposta contra a Administração Pública por servidor que ingressou como celetista antes da CF/88 e cuja lei 
posteriormente transformou o vínculo em estatutário. 
 
 
 
 
 
 
Informativo 840-STF (03/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
NOVIDADE LEGISLATIVA 
 
Lei nº 13.344/2016: dispõe sobre o tráfico interno e internacional de pessoas (IMPORTANTE). 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
COMPETÊNCIA 
Mandado de segurança contra decisões negativas do CNJ 
 
Não cabe mandado de segurança contra ato de deliberação negativa do Conselho Nacional de 
Justiça, por não se tratar de ato que importe a substituição ou a revisão do ato praticado por 
outro órgão do Judiciário. 
Assim, o STF não tem competência para processar e julgar ações decorrentes de decisões 
negativas do CNMP e do CNJ. Como o conteúdo da decisão do CNJ/CNMP foi “negativo”, o 
Conselho não decidiu nada. Se não decidiu nada, não praticou nenhum ato. Se não praticou 
nenhum ato, não existe ato do CNJ/CNMP a ser atacado no STF. 
Em razão do exposto, não compete ao STF julgar MS impetrado contra decisão do CNJ que 
julgou improcedente pedido de cassação de um ato normativo editado por vara judicial. 
STF. 2ª Turma. MS 33085/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/09/2016 (Info 840). 
 
Veja comentários em Direito Processual Civil. 
 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
Inconstitucionalidade de norma estadual que amplie as hipóteses do art. 19 do ADCT da CF/88 
 
O art. 19 do ADCT da CF/88 previu que os servidores públicos que estavam em exercício há 
pelo menos 5 anos quando a Constituição Federal foi promulgada, deveriam ser considerados 
estáveis, mesmo não tendo sido admitidos por meio de concurso público. Desse modo, quem 
ingressou no serviço público, sem concurso, até 05/10/1983 e assim permaneceu, de forma 
continuada, tornou-se estável com a edição da CF/88. 
É inconstitucional Constituição estadual ou lei estadual que amplie a abrangência do art. 19 do 
ADCT e preveja estabilidade para servidores públicos admitidos sem concurso público mesmo 
após 05/10/1983 (5 anos antes da CF/88). 
STF. Plenário. ADI 1241/RN, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/09/2016 (Info 840). 
 
Imagine a seguinte situação: 
A Lei 6.697/94, do Estado do Rio Grande do Norte, previu que os servidores da Universidade do Rio 
Grande do Norte admitidos em caráter temporário, sem concurso público, entre 8 de janeiro de 1987 a 17 
de junho de 1993, tornar-se-iam estáveis e permaneceriam nos quadros da Instituição. 
 
Essa previsão é compatível com a CF/88? 
NÃO. O STF julgou procedente ADI para declarar a inconstitucionalidade dos arts. 1º e 2º da Lei 6.697/94, 
do Estado do Rio Grande do Norte, por violarem o princípio da ampla acessibilidade aos cargos públicos 
por meio de concurso público (art. 37, II, da CF/88). 
 
Informativo 840-STF (03/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
 
Art. 19 do ADCT da CF/88 
O ADCT da CF/88 previu que os servidores públicos que estavam em exercício há pelo menos 5 anos 
quando a Constituição Federal foi promulgada, deveriam ser considerados estáveis mesmo que não 
tivessem sido admitidos por meio de concurso público. 
Desse modo, quem ingressou no serviço público, sem concurso, até 05/10/1983 (5 anos antes da CF/88) e 
assim permaneceu, de forma continuada, tornou-se estável com a edição da CF/88. 
Trata-se, contudo, de regra excepcional e que somente vigorou para esses casos. 
Veja a redação do dispositivo: 
Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, da 
administração direta, autárquica e das fundações públicas, em exercício na data da promulgação da 
Constituição, há pelo menos cinco anos continuados, e que não tenham sido admitidos na forma regulada 
no art. 37, da Constituição, são considerados estáveis no serviço público. 
(...) 
§ 2º — O disposto neste artigo não se aplica aos ocupantes de cargos, funções e empregos de confiança ou 
em comissão, nem aos que a lei declare de livre exoneração, cujo tempo de serviço não será computado 
para os fins do "caput" deste artigo, exceto se se tratar de servidor. 
§ 3º — O disposto neste artigo não se aplica aos professores de nível superior, nos termos da lei. 
 
Constituições e leis estaduais tentaram ampliar a abrangência do art. 19 do ADCT 
Algumas Constituições e leis estaduais, assim como aconteceu com a Lei de RN acima explicada, tentaram 
ampliar a abrangência do art. 19 do ADCT prevendo a estabilidade para servidores admitidos sem 
concurso público mesmo que admitidos após o prazo fixado pelo art. 19 do ADCT, ou seja, conferindo 
estabilidade a quem ingressou mesmo depois de 05/10/1983. 
O STF, contudo, declarou que tais previsões violam a CF/88: 
 
(...) A exigência de concurso público para a investidura em cargo garante o respeito a vários princípios 
constitucionais de direito administrativo, entre eles, o da impessoalidade e o da isonomia. O constituinte, 
todavia, inseriu no art. 19 do ADCT norma transitória criando uma estabilidade excepcional para 
servidores não concursados da União, Estados, Distrito Federal e dos Municípios que, quando da 
promulgação da Carta Federal, contassem com, no mínimo, cinco anos ininterruptos de serviço público. 
2. A jurisprudência desta Corte tem considerado inconstitucionais normas estaduais que ampliam a 
exceção à regra da exigência de concurso para o ingresso no serviço público já estabelecida no ADCT 
Federal. (...) 
STF. Plenário. ADI 100/MG, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 09/09/2004. 
 
Dessa feita, no caso da Lei do Estado de RN, o STF reiterou o entendimento acima exposto. 
 
Modulação dos efeitos 
O STF decidiu, contudo, modular os efeitos da decisão. 
A Lei 6.697/94, do RN, foi declarada inconstitucional. Logo, como consequência dessa decisão, todos os 
servidores públicos que estivessem nessa situação deveriam ser exonerados imediatamente. 
Ocorre que o STF entendeu que isso iria gerar graves consequências para o funcionamento da 
Administração Pública estadual que, de uma hora para outra, ficaria privada de centenas de servidores. 
Diante disso, a Corte decidiu que a decisão somente teria eficácia a partir de 12 meses contados da data 
da publicação da ata de julgamento. Nesse período, haverá tempo hábil para a realização de concurso 
público, nomeação e posse de novos servidores, evitando-se, assim, prejuízo à prestação do serviço 
públicode ensino superior na URRN. 
Além disso, o STF ressalvou dos efeitos da decisão os servidores que já estejam aposentados e aqueles 
que, até a data de publicação da ata do julgamento, tenham preenchido os requisitos para a 
 
Informativo 840-STF (03/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
aposentadoria. Em outras palavras, se a pessoa se aposentou (ou reuniu os requisitos para se aposentar 
com base na Lei 6.697/94), ela terá direito de continuar aposentada (ou se aposentar) mesmo essa lei 
tendo sido declarada inconstitucional. 
 
Onde está prevista a possibilidade de modulação dos efeitos da decisão? 
No julgamento de ADI, ADC ou ADPF, o art. 27 da Lei nº 9.868/99 prevê expressamente que o STF poderá 
modular os efeitos da decisão que julga determinado ato contrário à CF. 
Em outras palavras, a Lei permite que o STF determine que os efeitos da declaração de 
inconstitucionalidade somente valham a partir da decisão proferida (ex nunc) ou, ainda, a partir de 
determinada data futura (efeitos prospectivos). 
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança 
jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços 
de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de 
seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. 
 
Mesma regra pode ser encontrada no art. 11, da Lei nº 9.882/99. 
 
Regra: efeitos EX TUNC (retroativos) 
Excepcionalmente o STF pode, pelo voto de, no mínimo, 8 Ministros (2/3): 
* restringir os efeitos da declaração; ou 
* decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado; 
ou 
* de outro momento que venha a ser fixado; 
desde que haja razões de: 
* segurança jurídica ou; 
* excepcional interesse social. 
 
 
 
 
AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA 
Inconstitucionalidade de lei que preveja plantão criminal para 
escritório de prática jurídica da Universidade estadual 
 
É inconstitucional lei estadual que preveja que o escritório de prática jurídica da Universidade 
Estadual deverá manter plantão criminal nos finais de semana e feriados para atender pessoas 
hipossuficientes que sejam presas em flagrante. 
Esta lei viola a autonomia administrativa, financeira, didática e científica assegurada às 
universidades no art. 207 da CF/88 (inconstitucionalidade material). 
Além disso, contém vício de iniciativa (inconstitucionalidade formal), na medida em que foi 
usurpada a iniciativa privativa do Governador. 
STF. Plenário. ADI 3792/RN, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/09/2016 (Info 840). 
 
Foi editada uma lei estadual prevendo que o escritório de prática jurídica da Universidade Estadual do Rio 
Grande do Norte (UERN) deveria manter plantão criminal, nos finais de semana e feriados, para atender 
pessoas hipossuficientes que fossem presas em flagrante. 
 
Essa previsão é constitucional? 
NÃO. 
 
 
 
Informativo 840-STF (03/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
Autonomia universitária 
Essa lei viola a autonomia universitária, prevista no art. 207 da CF/88: 
Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e 
patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. 
 
A autonomia universitária é dividida em três dimensões: 
a) Autonomia didático-científica: consiste na liberdade conferida à Universidade para ensinar, divulgar 
suas ideias, comunicar seus pensamentos etc. 
b) Autonomia administrativa: consiste na liberdade para administrar seus assuntos internos e para 
disciplinar suas relações com os professores, alunos e funcionários. 
c) Autonomia financeira: trata-se do direito que as Universidades possuem de gerir, dispor e aplicar seus 
próprios bens e recursos. 
 
Essa autonomia não significa, obviamente, independência, atributo que é próprio dos Poderes 
constituídos. No entanto, a autonomia assegura às Universidades a garantia de que não haverá indevida 
ingerência no âmago (essência) de suas funções. 
 
A determinação imposta pela lei para que o escritório de prática jurídica preste serviço aos finais de 
semana, para atender hipossuficientes presos em flagrante delito, implica necessariamente a criação ou, 
ao menos, a modificação das atribuições conferidas ao corpo administrativo do curso de Direito da 
Universidade. 
 
Além disso, como os atendimentos são realizados pelos acadêmicos de Direito matriculados no estágio 
obrigatório, para atender a Lei, a Universidade teria que alterar as grades curriculares e horárias dos 
estudantes para que estes pudessem desenvolver essas atividades em regime de plantão, ou seja, aos 
sábados, domingos e feriados. 
 
Assim, a referida lei fere a autonomia administrativa, financeira e didático-científica da instituição, pois 
não há anuência para criação ou modificação do novo serviço a ser prestado. 
 
Tentativa de suprir as deficiências da Defensoria Pública 
Vale ressaltar, ainda, que o objetivo desta legislação é resolver, ainda que parcialmente, a deficiência do 
poder público em assegurar aos hipossuficientes o direito à assistência judiciária integral e gratuita, bem 
como o amplo acesso à justiça. 
Em outras palavras, com esta Lei busca-se mitigar as deficiências da Defensoria Pública em desempenhar 
seu dever fundamental (art. 134 da CF/88) impondo essa função a estudantes de universidades estaduais. 
Desse modo, em vez de fortalecer a Defensoria Pública, o legislador procurou transferir parcela de suas 
atribuições para a Universidade. Tal instituição tem como objetivo principal as atividades de ensino 
superior e não pode ser obrigada a desempenhar, por meio de seu corpo de alunos e professores, funções 
de assistência jurídica integral e gratuita aos hipossuficientes. 
 
Assistência jurídica pelas Universidades é permitida, mas se trata de matéria ligada à sua autonomia 
Vale ressaltar que o STF não proíbe o exercício do serviço de assistência jurídica gratuita aos necessitados 
por meio dos escritórios de prática jurídica, o que é uma realidade de relevante valor social. Ressalte-se, 
no entanto, que se trata de atividade desenvolvida pelos acadêmicos do Curso de Direito em decorrência 
do estágio curricular obrigatório, e, por isso, diz respeito à autonomia didático-científica da universidade, e 
não como imposição pelo Estado. 
Importante também esclarecer que não há impedimento que o Estado-Membro realize convênio com a 
universidade para viabilizar a prestação de serviço de assistência judiciária aos necessitados. O que não se 
pode é transferir o exercício prioritário dessa atividade à universidade. 
 
 
Informativo 840-STF (03/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
Inconstitucionalidade formal 
Além de tudo que já foi exposto, a norma impugnada contém vício de iniciativa (inconstitucionalidade 
formal), considerando que a iniciativa para propor leis que imponham atribuições para órgãos ou 
entidades públicas estaduais é privativa do Governador do Estado e, no caso, a lei foi proposta por um 
Deputado (iniciativa parlamentar). 
Houve, portanto, violação ao art. 61, § 1º, II, "c", da CF/88, aplicável ao âmbito estadual por força do 
princípio da simetria: 
Art. 61 (...) 
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: 
II - disponham sobre: 
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e 
aposentadoria; 
 
Em suma: 
É inconstitucional lei estadual que preveja que o escritório de prática jurídica da Universidade Estadual 
deverá manter plantão criminal para atender pessoas hipossuficientes que sejam presas em flagrante. 
Esta lei viola a autonomia administrativa, financeira, didáticae científica assegurada às universidades no 
art. 207 da CF/88 (inconstitucionalidade material). 
Além disso, contém vício de iniciativa (inconstitucionalidade formal), na medida em que foi usurpada a 
iniciativa privativa do Governador. 
STF. Plenário. ADI 3792/RN, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/09/2016 (Info 840). 
 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
FILIAÇÃO 
Direito de ter reconhecida a filiação biológica prevalece sobre a presunção legal de paternidade 
 
O filho tem direito de ter reconhecida sua verdadeira filiação. 
Assim, mesmo que ele tenha nascido durante a constância do casamento de sua mãe e de seu 
pai registrais, ele poderá ingressar com ação de investigação de paternidade contra o suposto 
pai biológico. 
A presunção legal de que os filhos nascidos durante o casamento são filhos do marido não 
pode servir como obstáculo para impedir o indivíduo de buscar a sua verdadeira paternidade. 
STF. Plenário. AR 1244 EI/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/09/2016 (Info 840). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética (diferente do caso concreto): 
João e Maria eram casados. 
Durante um desentendimento no matrimônio, Maria teve um rápido relacionamento extraconjugal com 
Pedro, ficando grávida dele. 
Maria e João se reconciliaram e ele, mesmo sabendo que não era o pai do bebê, decidiu registrá-lo como 
se fosse seu filho, sendo chamado de Vitor. 
Vitor foi criado normalmente como sendo filho de João. 
Ocorre que, 25 anos depois, Pedro, que se tornou um rico empresário, faleceu. Maria contou, então, a 
Vitor que o falecido era seu pai biológico. 
Diante dessa revelação, Vitor ajuizou ação de investigação de paternidade cumulada com petição de 
herança contra os herdeiros de Pedro. Na ação, pediu que fosse reconhecido como filho de Pedro e tivesse 
participação na herança do de cujus. 
 
Informativo 840-STF (03/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
 
Contestação 
Os herdeiros de Pedro alegaram que o Código Civil prevê que apenas João (o marido) poderia questionar o 
vínculo de filiação, conforme preconizado pelo art. 1.601: 
Art. 1.601. Cabe ao marido o direito de contestar a paternidade dos filhos nascidos de sua mulher, sendo 
tal ação imprescritível. 
 
Assim, se o marido não questiona a filiação, deve-se presumir que os filhos nascidos durante o casamento 
são filhos do marido, nos termos do art. 1.597, I, do CC, que prevê a presunção de paternidade do marido 
(pater is est quem nuptiae demonstrant). Confira: 
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: 
I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; 
 
Em suma, como o autor nasceu na constância do casamento, caberia privativamente ao marido o direito 
de contestar a legitimidade dos filhos nascidos de sua mulher. 
 
Essa tese defendida na contestação é aceita pela jurisprudência? 
NÃO. 
 
O filho tem direito de ter reconhecida sua verdadeira filiação. 
Assim, mesmo que ele tenha nascido durante a constância do casamento de sua mãe e de seu pai 
registrais, ele poderá ingressar com ação de investigação de paternidade contra o suposto pai biológico. 
A presunção legal de os filhos nascidos durante o casamento são filhos do marido não pode servir como 
obstáculo para impedir o indivíduo de buscar a sua verdadeira paternidade. 
STF. Plenário. AR 1244 EI/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/09/2016 (Info 840). 
 
Raciocinar em sentido diverso seria contrariar os princípios da razoabilidade e da dignidade da pessoa 
humana e tornar o processo mero ato de força formalizado em palavras sem forma de Direito e sem 
objetivo de Justiça. Além disso, o fim de todos os procedimentos judiciais aos quais as partes se submetem 
é a realização da Justiça, razão pela qual o procedimento, mais do que ser legal, deve ser justo. 
 
 
 
FILIAÇÃO 
Paternidade socioafetiva não exime de responsabilidade o pai biológico 
 
Importante!!! 
A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o 
reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os 
efeitos jurídicos próprios. 
Ex: Lucas foi registrado e criado como filho por João; vários anos depois, Lucas descobre que 
seu pai biológico é Pedro; Lucas poderá buscar o reconhecimento da paternidade biológica de 
Pedro sem que tenha que perder a filiação socioafetiva que construiu com João; ele terá dois 
pais; será um caso de pluriparentalidade; o filho terá direitos decorrentes de ambos os 
vínculos, inclusive no campo sucessório. 
STF. Plenário. RE 898060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21 e 22/09/2016 (Info 840). 
 
 
 
Informativo 840-STF (03/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
NOÇÕES GERAIS SOBRE ADOÇÃO À BRASILEIRA 
O que é a chamada “adoção à brasileira”? 
“Adoção à brasileira” ou “adoção à moda brasileira” ocorre quando o homem ou a mulher declara, para 
fins de registro civil, um menor como sendo seu filho biológico, sem que isso seja verdade. 
 
Exemplo 
Carla tinha um namorado (Bruno), tendo ficado grávida desse rapaz. Ao contar a Bruno sobre a gravidez, 
este achou que era muito novo para ser pai e “sumiu”, não deixando paradeiro conhecido. 
Três meses depois, Carla decide se reconciliar com André, seu antigo noivo, que promete à amada que irá se 
casar com ela e “assumir” o nascituro. No dia em que nasce a criança, André vai até o registro civil de 
pessoas naturais e, de posse da DNV (declaração de nascido vivo) fornecida pela maternidade, declara que o 
menor recém-nascido (Vitor) é seu filho e de Carla, sendo o registro de nascimento lavrado nesses termos. 
 
Por que recebe esse nome? 
Essa prática é chamada pejorativamente de “adoção à brasileira” porque é uma espécie de “adoção” 
realizada sem observar as exigências legais, ou seja, uma adoção feita segundo o “jeitinho brasileiro”. 
Tecnicamente, contudo, não se trata de adoção, porque não segue o procedimento legal. Consiste, em 
verdade, em uma perfilhação simulada. 
 
A “adoção à brasileira” é permitida? 
NÃO. Formalmente, esta conduta é até mesmo prevista como crime pelo Código Penal: 
Parto suposto. Supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido 
Art. 242. Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou 
substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: 
Pena — reclusão, de dois a seis anos. 
Parágrafo único — Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza: 
Pena — detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena. 
 
Vale ressaltar, entretanto, que, na prática, dificilmente alguém é condenado ou recebe pena por conta 
desse delito. Isso porque, no caso concreto, poderá o juiz reconhecer a existência de erro de proibição ou, 
então, aplicar o perdão judicial previsto no parágrafo único do art. 242 do CP. 
É preciso, no entanto, que seja investigada a conduta porque, embora a “adoção à brasileira”, na maioria 
das vezes, não represente torpeza de quem a pratica, pode ela ter sido utilizada para a consecução de 
outros ilícitos, como o tráfico internacional de crianças. 
 
AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE CONTRA O PAI BIOLÓGICO SEM ANULAÇÃO DO REGISTRO NO QUAL CONSTA 
OUTRO PAI 
Voltando ao exemplo dado: 
Vitor foi criado e educado por André com todo amor e carinho e, perante a família e amigos, Vitor é 
conhecido como filho de André, sendo poucos os que sabem que não existe vínculo biológico entre eles. 
Quando o rapaz completou 18 anos, Carla decide contar a ele que André não é seu pai biológico, mas sim 
Bruno, narrando toda a história vivenciada. 
Vitor descobre no Facebook que Bruno, seu pai biológico, é um rico empresário, sendo possível observar 
pelas fotos postadas que ele passa férias em lugares incríveis ao redor do mundo.Enquanto isso, Vitor 
teve que trancar a faculdade que cursava por não conseguir pagar as mensalidades e, atualmente, 
trabalha como chapeiro em uma lanchonete do bairro. 
Vitor procura a Defensoria Pública, explica a situação, afirma que deseja ser reconhecido como filho de 
Bruno, ter todos os direitos inerentes a essa condição, mas, ao mesmo tempo, ama muito André e não 
quer deixar de ser seu filho. 
 
 
Informativo 840-STF (03/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
O Defensor Público ajuíza ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos contra Bruno 
pedindo que ele seja reconhecido como pai biológico de Vitor e que, ao mesmo tempo, André continue 
também figurando como pai do autor. Em suma, na certidão de nascimento de Vitor constariam dois pais: 
Bruno e André. Além disso, pede-se a fixação de alimentos a serem pagos por Bruno a fim de que Vitor 
consiga custear sua faculdade. 
O réu contestou a ação afirmando que o Direito brasileiro não admite a dupla filiação e que a paternidade 
socioafetiva deve prevalecer em detrimento da biológica. Assim, como o autor não deseja anular a filiação 
socioafetiva, não se deve reconhecer a filiação biológica. 
 
O pedido formulado pelo autor pode ser acolhido? É possível que o indivíduo busque ser reconhecido 
como filho biológico de determinado pai e, ao mesmo tempo, continue como filho socioafetivo de outro? 
É possível que uma pessoa tenha dois pais: um biológico e outro socioafetivo e receba de ambos os 
direitos relacionados a essa filiação? 
SIM. 
 
A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do 
vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios. 
STF. Plenário. RE 898060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21 e 22/09/2016 (Info 840). 
 
Dignidade da pessoa humana e proteção dos modelos de família diversos do tradicional 
A dignidade da pessoa humana, prevista no art. 1º, III, da CF/88, é classificada por alguns doutrinadores 
como sendo um "sobreprincípio", porque atua "sobre" outros princípios. 
A dignidade humana compreende o ser humano como um ser intelectual e moral, capaz de determinar-se 
e desenvolver-se em liberdade. No campo do direito de família, a dignidade da pessoa humana confere ao 
indivíduo a possibilidade de que ele escolha o formato de família que ele quiser, de acordo com as suas 
relações afetivas interpessoais, mesmo que elas não estejam previstas em lei. 
 
Direito à busca da felicidade 
O chamado "direito à busca da felicidade" está estritamente ligado à dignidade da pessoa humana. Alguns 
dizem que ele deriva deste sobreprincípio e outros afirmam que ele é o próprio cerne (núcleo) da 
dignidade da pessoa humana. 
A origem histórica do direito à busca da felicidade está em 4 de julho de 1776, na Filadélfia, Pensilvânia, 
quando foi publicada a declaração de independência dos Estados Unidos da América. Em seu preâmbulo, o 
documento exibe a seguinte frase atribuída a Thomas Jefferson: 
“Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, 
dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da 
felicidade.” 
O direito à busca da felicidade faz com que o indivíduo seja o centro do ordenamento jurídico-político que 
deverá reconhecer que ele tem a capacidade de autodeterminação, de autossuficiência e a liberdade de 
escolher seus próprios objetivos. O Estado deve atuar para garantir que essas capacidades próprias sejam 
respeitadas. 
O Min. Luiz Fux narra que a primeira vez em que a Suprema Corte dos Estados Unidos reconheceu a força 
normativa do direito à busca da felicidade foi no caso Meyer v. Nebraska, de 1923 (262 U.S. 390). Havia 
uma lei do Estado de Nebraska de 1919 que proibia as pessoas de estudaram idiomas estrangeiros. O 
objetivo da lei, denominada "Siman Act", era perseguir os imigrantes alemães por conta da 1ª guerra 
mundial. Um professor de alemão chamado Robert T. Meyer questionou a constitucionalidade da lei. A 
Suprema Corte acolheu o pedido e declarou a lei inconstitucional, afirmando que o direito à busca da 
felicidade seria uma norma constitucional implícita e que a lei seria inválida porque interferiu na vocação 
de professores, nas oportunidades dos alunos de adquirirem conhecimento e na prerrogativa dos pais de 
controlar a educação de seus descendentes. Segundo o Min. Fux, "a lição mais importante a ser extraída 
do caso é a de que sequer em tempos de guerra, excepcionais por natureza, poderá o indivíduo ser 
 
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reduzido a mero instrumento de consecução da vontade dos governantes". 
Transportando-se para o Direito de Família, o direito à busca da felicidade funciona como um escudo do 
ser humano em face das tentativas do Estado de enquadrar a sua realidade familiar em modelos pré-
concebidos pela lei. "É o direito que deve se curvar às vontades e necessidades das pessoas, não o 
contrário, assim como um alfaiate, ao deparar-se com uma vestimenta em tamanho inadequado, faz 
ajustes na roupa, e não no cliente." 
Dois exemplos de aplicação do direito à busca da felicidade pela Suprema Corte dos EUA em casos 
envolvendo direito de família: 
 Loving v. Virginia, de 1967 (388 U.S. 1): uma mulher negra e um homem branco foram condenados a 
um ano de prisão por terem se casado em descumprimento ao Racial Integrity Act, de 1924, lei que 
proibia casamentos entre pessoas de "raças diferentes". A Suprema Corte reverteu a condenação do 
casal adotando, dentre outros fundamentos, o de que o direito à liberdade de casamento é um dos 
direitos individuais vitais e essenciais para a busca ordenada da felicidade por homens livres; 
 Obergefell v. Hodges, de 2015: este foi o julgado por meio do qual a Suprema Corte dos EUA permitiu 
o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Fico decidido que a Constituição reconhece a 
possibilidade de casamento de casais homoafetivos porque o direito a casar é uma decorrência 
essencial do direito à busca da felicidade. “A Constituição promete liberdade a todos aqueles sob seu 
alcance, uma liberdade que inclui certos direitos específicos que permitem a pessoas, dentro de um 
âmbito legal, definir e expressar sua identidade” (trecho do voto do Justice Anthony Kennedy). 
 
Alguns Ministros do STF, em seus votos, já invocaram o direito à busca da felicidade em temas de direito 
de família. Confira: 
“O princípio constitucional da busca da felicidade, que decorre, por implicitude, do núcleo de que se 
irradia o postulado da dignidade da pessoa humana, assume papel de extremo relevo no processo de 
afirmação, gozo e expansão dos direitos fundamentais, qualificando-se, em função de sua própria 
teleologia, como fator de neutralização de práticas ou de omissões lesivas cuja ocorrência possa 
comprometer, afetar ou, até mesmo, esterilizar direitos e franquias individuais. 
- Assiste, por isso mesmo, a todos, sem qualquer exclusão, o direito à busca da felicidade, verdadeiro 
postulado constitucional implícito, que se qualifica como expressão de uma idéia-força que deriva do 
princípio da essencial dignidade da pessoa humana.” 
(RE 477.554-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, DJe de 26/08/2011) 
 
“Reconhecimento do direito à preferência sexual como direta emanação do princípio da ‘dignidade da 
pessoa humana’: direito a auto-estima no mais elevado ponto da consciência do indivíduo. Direito à busca 
da felicidade. Salto normativo da proibição do preconceito para a proclamação do direito à liberdade 
sexual.” 
(ADPF 132, Rel. Min. Ayres Britto, DJe de 14/10/2011) 
 
Em suma, tanto a dignidade humana como o direito à busca da felicidade asseguram que os indivíduos sejam 
senhores dos seus próprios destinos, condutas e modos de vida, sendo proibidoque o Estado, seja por meio de 
seus governantes, seja por intermédio dos legisladores, imponha modelos obrigatórios de família. 
Deve-se garantir também que a pessoa seja feliz com suas escolhas existenciais. Isso inclui a proteção e o 
reconhecimento, pelo ordenamento jurídico, de modelos familiares diversos da concepção tradicional. 
 
Não há hierarquia entre a filiação biológica e a afetiva 
O Direito deve acolher tanto os vínculos de filiação originados da ascendência biológica (filiação biológica) 
como também aqueles construídos pela relação afetiva (filiação socioafetiva). 
Atualmente, não cabe estabelecer uma hierarquia entre a filiação afetiva e a biológica, devendo ser 
reconhecidos ambos os vínculos quando isso for o melhor para os interesses do descendente. 
Como afirma o Min. Fux: 
 
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"Não cabe à lei agir como o Rei Salomão, na conhecida história em que propôs dividir a criança ao meio 
pela impossibilidade de reconhecer a parentalidade entre ela e duas pessoas ao mesmo tempo. Da mesma 
forma, nos tempos atuais, descabe pretender decidir entre a filiação afetiva e a biológica quando o melhor 
interesse do descendente é o reconhecimento jurídico de ambos os vínculos. Do contrário, estar-se-ia 
transformando o ser humano em mero instrumento de aplicação dos esquadros determinados pelos 
legisladores. É o direito que deve servir à pessoa, não o contrário." 
 
Obs: vale ressaltar que a filiação socioafetiva independe da realização de registro, bastando a consolidação 
do vínculo afetivo entre as partes ao longo do tempo, como ocorre nos casos de posse do estado de filho. 
Assim, a "adoção à brasileira" é uma das formas de ocorrer a filiação socioafetiva, mas esta poderá se dar 
mesmo sem que o pai socioafetivo tenha registrado o filho. 
 
Pluriparentalidade 
O conceito de pluriparentalidade não é novidade no Direito Comparado. Nos Estados Unidos, onde os 
Estados têm competência legislativa em matéria de Direito de Família, a Suprema Corte de Louisiana 
possui jurisprudência consolidada quanto ao reconhecimento da “dupla paternidade” (dual paternity). 
Essas decisões da Suprema Corte fizeram com que, em 2005, houvesse uma alteração no Código Civil 
estadual de Louisiana e passou-se a reconhecer expressamente a possibilidade de dupla paternidade. Com 
isso, Louisiana se tornou o primeiro Estado norte-americano a permitir legalmente que um filho tenha dois 
pais, atribuindo-se a ambos as obrigações inerentes à parentalidade. 
O fato de o legislador no Brasil não prever expressamente a possibilidade de uma pessoa possuir dois pais 
(um socioafetivo e outro biológico) não pode servir de escusa para se negar proteção a situações de 
pluriparentalidade. Esta posição, agora adotada pelo STF, já era reconhecida pela doutrina: 
“Não mais se pode dizer que alguém só pode ter um pai e uma mãe. Agora é possível que pessoas tenham 
vários pais. Identificada a pluriparentalidade, é necessário reconhecer a existência de múltiplos vínculos de 
filiação. Todos os pais devem assumir os encargos decorrentes do poder familiar, sendo que o filho 
desfruta de direitos com relação a todos. Não só no âmbito do direito das famílias, mas também em sede 
sucessória. (...)” (DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 6ª ed. São Paulo: RT, 2010, p. 370). 
Em suma, é juridicamente possível a cumulação de vínculos de filiação derivados da afetividade e da 
consanguinidade. 
 
Paternidade responsável 
Haveria uma afronta ao princípio da paternidade responsável (art. 226, § 7º, da CF/88) se fosse permitido 
que o pai biológico ficasse desobrigado de ser reconhecido como tal pelo simples fato de o filho já ter um 
pai socioafetivo. 
Todos os pais devem assumir os encargos decorrentes do poder familiar, e o filho deve poder desfrutar de 
direitos com relação a todos, não só no âmbito do direito das famílias, mas também em sede sucessória. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
COMPETÊNCIA 
Ação proposta contra a Administração Pública por servidor que ingressou como celetista antes 
da CF/88 e cuja lei posteriormente transformou o vínculo em estatutário 
 
Tema polêmico! 
Compete à Justiça do Trabalho julgar causa relacionada com depósito do Fundo de Garantia do 
Tempo de Serviço (FGTS) de servidor que ingressou no serviço público antes da Constituição 
de 1988 sem prestar concurso. 
STF. Plenário. CC 7.950/RN, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/09/2016 (Info 839). 
Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar demandas propostas contra órgãos da 
Administração Pública, por servidores que ingressaram em seus quadros, sem concurso 
público, antes da CF/88, sob regime da CLT, com o objetivo de obter prestações de natureza 
trabalhista. 
STF. Plenário. ARE 906491 RG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 01/10/2015 (repercussão geral). 
Reconhecido que o vínculo atual entre o servidor e a Administração Pública é estatutário, 
compete à Justiça comum processar e julgar a causa. 
É a natureza jurídica do vínculo existente entre o trabalhador e o Poder Público, vigente ao 
tempo da propositura da ação, que define a competência jurisdicional para a solução da 
controvérsia, independentemente de o direito pleiteado ter se originado no período celetista. 
STF. Plenário. Rcl 8909 AgR/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado 
em 22/09/2016 (Info 840). 
 
SITUAÇÃO 1 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Em 1982, João foi contratado pela Administração Pública estadual, sem concurso público, para atuar na 
função de auxiliar de serviços gerais de um órgão público. 
Vale ressaltar que João foi contratado para ocupar um emprego público, sendo seu vínculo jurídico 
celetista, ou seja, regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). 
Nessa época, era permitida a vinculação de servidores à Administração Pública sob regime da CLT. 
Com o advento da Constituição Federal de 1988, João adquiriu estabilidade, nos termos do art. 19 do ADCT: 
Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, da 
administração direta, autárquica e das fundações públicas, em exercício na data da promulgação da 
Constituição, há pelo menos cinco anos continuados, e que não tenham sido admitidos na forma regulada 
no art. 37, da Constituição, são considerados estáveis no serviço público. 
 
Foi editada uma lei estadual transformando o emprego ocupado por João em cargo público, tendo seu 
regime jurídico mudado de celetista para estatutário. 
Logo em seguida, João percebeu que a Administração Pública não recolheu as parcelas do FGTS a que ele 
teria direito. 
Diante disso, ele procurou um advogado para ajuizar ação contra o Estado-membro pedindo o pagamento 
das parcelas do FGTS que não foram recolhidas. 
 
Surgiu, no entanto, uma dúvida quanto à competência: esta demanda deverá ser proposta na Justiça 
Estadual (pelo fato de atualmente ele ser servidor estatutário) ou na Justiça do Trabalho (em razão de a 
verba pleiteada ser trabalhista)? 
Justiça do Trabalho. 
 
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Por que o STF decidiu assim? 
O art. 114, I, da CF/88 prevê o seguinte: 
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: 
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da 
administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; 
 
O STF, ao analisar este dispositivo, decidiu que: 
Regime celetista: Justiça do Trabalho Regime estatutário: Justiça comum 
O art. 114, I, aplica-se apenas para as causas 
propostas porempregados públicos (regime 
celetista) contra a Administração Pública. 
A competência, neste caso, é da Justiça do Trabalho. 
O art. 114, I, não se aplica para as causas 
propostas por servidores públicos estatutários 
contra a Administração Pública. 
Se envolver servidores estatutários, a competência 
não é da Justiça do Trabalho, mas sim da Justiça 
comum (estadual ou federal). 
 
Veja a ementa do leading case: 
(...) O disposto no art. 114, I, da Constituição da República, não abrange as causas instauradas entre o 
Poder Público e servidor que lhe seja vinculado por relação jurídico-estatutária. 
STF. Plenário. ADI 3395 MC, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 05/04/2006. 
 
O STF também entende que a Justiça competente para julgar litígios envolvendo servidores temporários (art. 
37, IX, da CF/88) e a Administração Pública é a JUSTIÇA COMUM (estadual ou federal). A competência NÃO é 
da Justiça do Trabalho, ainda que o autor da ação alegue que houve desvirtuamento do vínculo e mesmo que 
ele formule os seus pedidos baseados na CLT ou na lei do FGTS (STF. Plenário. Rcl 4351 MC-AgR/PE, rel. orig. 
Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 11/11/2015. Info 807). 
 
Caso de João 
No caso de João, não se alega a existência de vínculo estatutário nem de trabalho temporário. Trata-se de 
contrato de trabalho celebrado em 1982, época na qual se admitia a vinculação de servidores à 
Administração Pública sob regime da CLT. 
A verba pleiteada é de natureza celetista e está relacionada com período anterior à CF/88, de empregado 
público que ingressou no serviço público sem concurso. Em tais situações, o STF possui diversos 
precedentes, inclusive um em sede de repercussão geral, afirmando que a competência é da Justiça do 
Trabalho, mesmo tendo havido alteração por meio de lei para o vínculo estatutário do servidor: 
 
Compete à Justiça do Trabalho julgar causa relacionada com depósito do Fundo de Garantia do Tempo 
de Serviço (FGTS) de servidor que ingressou no serviço público antes da Constituição de 1988 sem 
prestar concurso. 
STF. Plenário. CC 7.950/RN, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/09/2016 (Info 839). 
 
Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar demandas propostas contra órgãos da Administração 
Pública, por servidores que ingressaram em seus quadros, sem concurso público, antes da CF/88, sob 
regime da CLT, com o objetivo de obter prestações de natureza trabalhista. 
STF. Plenário. ARE 906491 RG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 01/10/2015 (repercussão geral). 
 
O Supremo Tribunal Federal decidiu que os precedentes formados na ADI 3.395-MC não se aplicam ao 
julgamento de ação envolvendo direitos de servidor público contratado sem concurso, pelo regime 
celetista e anteriormente à atual Constituição. 
STF. 1ª Turma. Rcl 17654 ED, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 15/03/2016. 
 
 
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(...) É pacífica a jurisprudência da Corte de que é da Justiça do Trabalho a competência para processar e 
julgar o feito em que se discute o direito a verbas remuneratórias relativas ao período em que o servidor 
mantinha vínculo celetista com a Administração, antes, portanto, da transposição para o regime 
estatutário em decorrência do regime jurídico único. 
2. No caso dos autos, não se discute a existência, a validade ou a eficácia das relações entre servidores e o 
poder público fundadas em vínculo jurídico-administrativo, mas tão somente o direito ou não da ora 
agravante ao ressarcimento de verbas pagas aos agravados à época em que esses eram regidos pelo 
regime celetista. (...) 
STF. 1ª Turma. RE 649995 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 21/10/2014. 
 
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. TRABALHISTA. SERVIDOR 
CELETISTA. CONTRATO DE TRABALHO ANTERIOR À CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988. 
INOCORRÊNCIA DE MUDANÇA AUTOMÁTICA PARA O REGIME ESTATUTÁRIO. DIREITO AO RECEBIMENTO 
DE VERBAS TRABALHISTAS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. JURISPRUDÊNCIA REAFIRMADA: 
ARE N. 906.491-RG. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DO CONTRATO DE TRABALHO: SÚMULA N. 284 DO 
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. 
STF. 2ª Turma. ARE 913070 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/11/2015. 
 
TST 
O TST possui OJ sobre relativamente semelhante e que é importante conhecer. Confira: 
OJ-SDI1-138 
Compete à Justiça do Trabalho julgar pedidos de direitos e vantagens previstos na legislação trabalhista 
referente a período anterior à Lei nº 8.112/90, mesmo que a ação tenha sido ajuizada após a edição da 
referida lei. A superveniência de regime estatutário em substituição ao celetista, mesmo após a sentença, 
limita a execução ao período celetista. 
 
Tudo parecia tranquilo e calmo, mas eis que, alguns dias, depois o STF profere uma decisão 
aparentemente contraditória com a sua jurisprudência e que será explicada na situação 2 logo abaixo: 
 
SITUAÇÃO 2 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Em 1982, Maria foi contratada pela Administração Pública estadual para um emprego público em regime 
celetista. 
Em 1990, foi editada uma lei estadual transformando o emprego ocupado por Maria em cargo público, 
tendo seu regime jurídico mudado de celetista para estatutário. 
Posteriormente, ela ajuizou ação na Justiça pedindo diferenças remuneratórias decorrentes de reajustes 
promovidos entre 1987 e 1988, período em que ainda era celetista. 
 
Quem será competente para julgar esta ação? 
Justiça Comum (estadual). 
 
Segundo decidiu o STF neste caso concreto: 
Reconhecido que o vínculo atual entre o servidor e a Administração Pública é estatutário, compete à 
Justiça comum processar e julgar a causa. 
É a natureza jurídica do vínculo existente entre o trabalhador e o Poder Público, vigente ao tempo da 
propositura da ação, que define a competência jurisdicional para a solução da controvérsia, 
independentemente de o direito pleiteado ter se originado no período celetista. 
STF. Plenário. Rcl 8909 AgR/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado em 
22/09/2016 (Info 840). 
 
 
Informativo 840-STF (03/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
Se você perceber bem, esta conclusão da Rcl 8909 contraria os precedentes do STF listados na situação 1 e 
vai de encontro, inclusive, ao que a Corte decidiu no ARE 906491/RG. 
 
Por que houve essa contradição entre os julgados? 
Penso que isso ocorreu por duas razões: 
1ª) a composição da Corte não estava completa; 
2ª) o Min. Teori Zavascki entendeu que a verba pleiteada pela servidora era de caráter estatutário (e não 
celetista). 
 
Composição 
O resultado da votação foi o seguinte: 
Competência da Justiça comum: 5 votos Competência da Justiça do Trabalho: 4 votos 
Min. Cármen Lúcia 
Min. Dias Toffoli 
Min. Teori Zavascki 
Min. Ricardo Lewandowski 
Min. Celso de Mello 
Min. Marco Aurélio 
Min. Rosa Weber 
Min. Luiz Fux 
Min. Edson Fachin 
 
Ausentes: Ministros Roberto Barroso e Gilmar Mendes. 
Percebam, portanto, que dois Ministros não participaram da votação e, se tivessem atuado, poderiam ter 
alterado o resultado do julgamento. Nesse sentido, vale destacar que o Min. Roberto Barroso geralmente 
tem uma preocupação muito grande em reafirmar os entendimentos da jurisprudência do STF, razão pela 
qual penso que reafirmaria o que foi decidido no ARE 906491/RG. 
 
Posição do Min. Teori Zavascki 
O Min. Teori Zavascki afirmou que a autora pediu verbas que eram próprias de servidor público 
estatutário, mesmo sendo referentes a um período em que ela ainda não era servidora estatutária (e sim 
empregada pública celetista). Diante disso, para o Ministro, nos termos em que a demanda foi proposta, a 
competência seria da Justiça comum e o juiz deveria julgar o pedido improcedente. Noentanto, se o 
pedido da autora se referisse a verbas celetistas, o Min. Teori teria votado em sentido contrário, ou seja, 
em favor da competência da Justiça do Trabalho. Logo, o Min. Teori continua entendendo da mesma 
forma que ele decidiu no ARE 906491/RG. 
 
Posição para concursos 
O tema, como visto, está polêmico. Caso seja cobrado nas provas, penso que será exigida a redação literal 
daquilo que foi divulgado nos informativos ou nas ementas oficiais. Portanto, memorize essas duas 
conclusões que, se aparecerem nas provas, estarão corretas: 
 
Compete à Justiça do Trabalho julgar causa relacionada com depósito do Fundo de Garantia do Tempo 
de Serviço (FGTS) de servidor que ingressou no serviço público antes da Constituição de 1988 sem 
prestar concurso. 
STF. Plenário. CC 7.950/RN, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/09/2016 (Info 839). 
 
Reconhecido o vínculo estatutário entre o servidor público e a Administração, compete à Justiça comum 
processar e julgar a causa. 
É a natureza jurídica do vínculo existente entre o trabalhador e o Poder Público, vigente ao tempo da 
propositura da ação, que define a competência jurisdicional para a solução da controvérsia, 
independentemente de o direito pleiteado ter se originado no período celetista. 
STF. Plenário. Rcl 8909 AgR/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado em 
22/09/2016 (Info 840). 
 
 
 
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COMPETÊNCIA 
Mandado de segurança contra decisões negativas do CNJ 
 
Não cabe mandado de segurança contra ato de deliberação negativa do Conselho Nacional de 
Justiça, por não se tratar de ato que importe a substituição ou a revisão do ato praticado por 
outro órgão do Judiciário. 
Assim, o STF não tem competência para processar e julgar ações decorrentes de decisões 
negativas do CNMP e do CNJ. Como o conteúdo da decisão do CNJ/CNMP foi “negativo”, o 
Conselho não decidiu nada. Se não decidiu nada, não praticou nenhum ato. Se não praticou 
nenhum ato, não existe ato do CNJ/CNMP a ser atacado no STF. 
Em razão do exposto, não compete ao STF julgar MS impetrado contra decisão do CNJ que 
julgou improcedente pedido de cassação de um ato normativo editado por vara judicial. 
STF. 2ª Turma. MS 33085/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/09/2016 (Info 840). 
 
De quem é a competência para julgar mandados de segurança impetrados contra o CNJ e o CNMP? 
Do STF, nos termos do art. 102, I, “r”, da CF/88. 
 
Decisões “negativas” do CNJ ou CNMP 
Algumas vezes o interessado provoca o CNJ ou o CNMP pedindo a revisão disciplinar de algum ato 
administrativo praticado por membro do Judiciário ou do MP, mas tais Conselhos rejeitam o pedido e 
recusam-se a tomar qualquer providência no caso concreto porque alegam que: 
a) não têm competência para aquela situação; ou 
b) que o ato atacado não possui qualquer vício ou ilegalidade que mereça ser reparado. 
 
Nessas hipóteses, dizemos que a decisão do CNJ ou CNMP foi “negativa” porque ela nada determina, nada 
aplica, nada ordena, nada invalida. 
 
Nesses casos, a parte interessada poderá impetrar MS contra o CNJ/CNMP no STF? 
NÃO. O STF não tem competência para processar e julgar ações decorrentes de decisões negativas do 
CNMP e do CNJ. 
Se a parte impetrar MS neste caso, o STF não irá conhecer da ação. 
Segundo entende o STF, como o conteúdo da decisão do CNJ/CNMP foi “negativo”, ele não decidiu nada. 
Se não decidiu nada, não praticou nenhum ato. Se não praticou nenhum ato, não existe ato do CNJ/CNMP 
a ser atacado no STF. 
Na deliberação negativa, o CNJ/CNMP não substitui nem desconstitui qualquer ato administrativo. Assim, 
se existe algum ato a ser atacado é o originário (e não o do Conselho). 
 
Veja as seguintes ementas que bem explicam esse entendimento do STF: 
(...) O pronunciamento do Conselho Nacional de Justiça que consubstancie recusa de intervir em 
determinado procedimento, ou, então, que envolva mero reconhecimento de sua incompetência, ou, 
ainda, que nada determine, que nada imponha, que nada avoque, que nada aplique, que nada ordene, 
que nada invalide, que nada desconstitua, não faz instaurar, para efeito de controle jurisdicional, a 
competência originária do Supremo Tribunal Federal. 
— O Conselho Nacional de Justiça, em tais hipóteses, considerado o próprio conteúdo negativo de suas 
resoluções (que nada proveem), não supre, não substitui nem revê atos ou omissões eventualmente 
imputáveis a órgãos judiciários em geral, inviabilizando, desse modo, o acesso ao Supremo Tribunal 
Federal, que não pode converter-se em instância revisional ordinária dos atos e pronunciamentos 
administrativos emanados desse órgão de controle do Poder Judiciário. Precedentes. (...) (STF. 2ª Turma. 
MS 31453 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 28/10/2014). 
... 
 
Informativo 840-STF (03/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
(...) A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que as deliberações negativas do Conselho 
Nacional de Justiça não estão sujeitas a revisão por meio de mandado de segurança impetrado 
diretamente no Supremo Tribunal Federal. (...) (STF. Plenário. MS 28202 AgR, Rel. Min. Ricardo 
Lewandowski, julgado em 24/03/2011). 
 
Neste caso, o que a parte deverá fazer? 
A parte terá que impugnar na Justiça o ato originário que gerou seu pedido no CNJ/CNMP. 
Ex.: a parte ingressou com pedido de providência no CNMP contra ato administrativo praticado pelo 
Procurador-Geral de Justiça. O CNMP entendeu que não cabia sua intervenção no caso, julgando 
improcedente o pedido. O CNMP proferiu, portanto, uma decisão “negativa”. Contra este pronunciamento 
do CNMP não cabe MS. Somente restará à parte propor um MS contra o ato do Procurador-Geral de 
Justiça, ação esta que será de competência do TJ. 
 
Resumindo: 
Não cabe mandado de segurança contra ato de deliberação negativa do Conselho Nacional de Justiça, 
por não se tratar de ato que importe a substituição ou a revisão do ato praticado por outro órgão do 
Judiciário. 
Assim, o STF não tem competência para processar e julgar ações decorrentes de decisões negativas do 
CNMP e do CNJ. Como o conteúdo da decisão do CNJ/CNMP foi “negativo”, o Conselho não decidiu 
nada. Se não decidiu nada, não praticou nenhum ato. Se não praticou nenhum ato, não existe ato do 
CNJ/CNMP a ser atacado no STF. 
Em razão do exposto, não compete ao STF julgar MS impetrado contra decisão do CNJ que julgou 
improcedente pedido de cassação de um ato normativo editado por vara judicial. 
STF. 2ª Turma. MS 33085/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/09/2016 (Info 840). 
 
 
 
DIREITO PENAL / 
PROCESSUAL PENAL MILITAR 
 
COMPETÊNCIA 
Crime praticado por militar da ativa contra militar na mesma situação 
durante atividade militar no interior da caserna 
 
Compete à Justiça Militar julgar crime cujo autor e vítima sejam militares, desde que ambos 
estejam em serviço e em local sujeito à administração militar. 
O mero fato de a vítima e de o agressor serem militares não faz com que a competência seja 
obrigatoriamente da Justiça Militar. O cometimento de delito por militar contra vítima militar 
somente será de competência da Justiça Castrense nos casos em que houver vínculo direto com 
o desempenho da atividade militar. 
STF. 1ª Turma. HC 135019/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 20/09/2016 (Info 840). 
 
Competências da Justiça Militar 
Compete à Justiça Militar processar e julgar os crimes militares, assim definidos em lei (art. 124 da CF/88). 
A lei que prevê os crimes militares é o Código Penal Militar (Decreto-Lei 1.001/1969). 
 No art. 9º do CPM são conceituados os crimes militares, em tempo de paz. 
 No art. 10 do CPM são definidos os crimes militares em tempo de guerra. 
 
Assim, para verificar se o fato podeser considerado crime militar, sendo, portanto, de competência da 
Justiça Militar, é preciso que ele se amolde em uma das hipóteses previstas nos arts. 9º e 10 do CPM. 
 
Informativo 840-STF (03/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
 
Situação 1. Durante uma festa depois do serviço, João, soldado do Exército, subtraiu R$ 300,00 de Pedro, 
também soldado, dinheiro que estava na carteira da vítima. Este crime será de competência da Justiça 
Militar? 
NÃO. O mero fato de a vítima e de o agressor serem militares não faz com que a competência seja 
obrigatoriamente da Justiça Militar. 
A Justiça Militar não é competente para julgar crimes praticados por militares, mas sim para julgar "crimes 
militares". Crime praticado por militar não é o mesmo que crime militar. 
Embora o agente e a vítima ostentem a condição de militares, o crime não foi praticado em lugar sujeito à 
administração militar nem durante o horário de expediente e não há qualquer elemento que comprove a 
intenção de praticar delito contra a instituição militar. 
A única circunstância de conexão militar do episódio é a qualidade do réu e da vítima, o que se revela 
insuficiente para que a competência seja da Justiça Militar. 
 
(...) A orientação do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que a condição de militar da vítima e do 
agressor não é suficiente para atrair a competência da Justiça Militar. (...) 
STF. 1ª Turma. HC 122302, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/05/2014. 
 
Situação 2. Durante o serviço no quartel, João, soldado do Exército, subtraiu R$ 300,00 de Pedro, também 
soldado, dinheiro que estava no armário da vítima. Este crime será de competência da Justiça Militar? 
SIM. Neste caso, o crime foi praticado por militar contra outro militar, estando ambos em serviço e dentro 
de local sujeito à administração militar. 
Além disso, o crime de furto, embora crime militar impróprio, atinge não só o patrimônio material da 
vítima, mas vulnera, sobretudo, a disciplina militar, traduzida na rigorosa observância e no acatamento 
integral das leis, regulamentos, normas e disposições que fundamentam o organismo militar (STF. 2ª 
Turma. HC 122.537/RJ, Rel. Min. Teori Zavascki, DJe 29.10.2014). 
 
Em suma: 
Compete à Justiça Militar julgar crime cujo autor e vítima sejam militares, desde que ambos estejam em 
serviço e em local sujeito à administração militar. 
O mero fato de a vítima e de o agressor serem militares não faz com que a competência seja 
obrigatoriamente da Justiça Militar. O cometimento de delito por militar contra vítima militar somente 
será de competência da Justiça Castrense nos casos em que houver vínculo direto com o desempenho da 
atividade militar. 
STF. 1ª Turma. HC 135019/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 20/09/2016 (Info 840). 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL 
DO TRABALHO 
 
COMPETÊNCIA 
Ação proposta contra a Administração Pública por servidor que ingressou como celetista antes 
da CF/88 e cuja lei posteriormente transformou o vínculo em estatutário 
 
Compete à Justiça do Trabalho julgar causa relacionada com depósito do Fundo de Garantia do 
Tempo de Serviço (FGTS) de servidor que ingressou no serviço público antes da Constituição 
de 1988 sem prestar concurso. 
STF. Plenário. CC 7.950/RN, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/09/2016 (Info 839). 
 
Informativo 840-STF (03/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar demandas propostas contra órgãos da 
Administração Pública, por servidores que ingressaram em seus quadros, sem concurso 
público, antes da CF/88, sob regime da CLT, com o objetivo de obter prestações de natureza 
trabalhista. 
STF. Plenário. ARE 906491 RG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 01/10/2015 (repercussão geral). 
Reconhecido que o vínculo atual entre o servidor e a Administração Pública é estatutário, 
compete à Justiça comum processar e julgar a causa. 
É a natureza jurídica do vínculo existente entre o trabalhador e o Poder Público, vigente ao 
tempo da propositura da ação, que define a competência jurisdicional para a solução da 
controvérsia, independentemente de o direito pleiteado ter se originado no período celetista. 
STF. Plenário. Rcl 8909 AgR/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado 
em 22/09/2016 (Info 840). 
 
Veja comentários em Direito Processual Civil. 
 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
Julgue os itens a seguir: 
1) (Promotor MP/AL 2012 FCC) O regime jurídico das empresas públicas que executam atividade de 
natureza econômica em sentido estrito admite a estabilidade excepcional de seus empregados, nos 
termos do art. 19 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. ( ) 
2) A jurisprudência do STF tem considerado inconstitucionais normas estaduais que ampliam a exceção à 
regra da exigência de concurso para o ingresso no serviço público já estabelecida no ADCT Federal ( ) 
3) Lei estadual poderá instituir plantão criminal nos finais de semana e feriados para atendimento a 
pessoas carentes a ser exercido pelo escritório de prática jurídica da Universidade Estadual. ( ) 
4) A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do 
vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios. ( ) 
5) O pronunciamento do Conselho Nacional de Justiça que consubstancie recusa de intervir em 
determinado procedimento não faz instaurar, para efeito de controle jurisdicional, a competência 
originária do Supremo Tribunal Federal. ( ) 
6) Compete à Justiça Militar julgar crime cujo autor e vítima sejam militares. ( ) 
 
Gabarito 
1. E 2. C 3. E 4. C 5. C 6. E 
 
 
OUTRAS INFORMAÇÕES 
 
R E P E R C U S S Ã O G E R A L 
DJe de 19 a 23 de setembro de 2016 
REPERCUSSÃO GERAL NO ARE N. 957.842-AL 
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI 
Ementa: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. IMPOSTO DE RENDA PESSOA JURÍDICA (IRPJ) E 
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO (CSLL). BASE DE CÁLCULO. INCLUSÃO DOS CRÉDITOS ESCRITURAIS DA 
CONTRIBUIÇÃO AO PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO SOCIAL (PIS) E DA CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA 
SEGURIDADE SOCIAL (COFINS). MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. 
 
Informativo 840-STF (03/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
1. Possui natureza infraconstitucional a controvérsia relativa à inclusão, na base de cálculo do IRPJ e da CSLL, dos créditos escriturais apurados no 
regime não cumulativo da contribuição ao PIS e da COFINS. 
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando 
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608-RG, Rel. Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009). 
3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 1.035 do CPC/2015. 
 
REPERCUSSÃO GERAL NO RE N. 765.320-MS 
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI 
Ementa: ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SERVIDOR PÚBLICO CONTRATADO POR TEMPO DETERMINADO PARA 
ATENDIMENTO DE NECESSIDADE TEMPORÁRIA DE EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO. REQUISITOS DE VALIDADE (RE 
658.026, REL. MIN. DIAS TOFFOLI, DJE DE 31/10/2014, TEMA 612). DESCUMPRIMENTO. EFEITOS JURÍDICOS. DIREITO À 
PERCEPÇÃO DOS SALÁRIOS REFERENTES AO PERÍODO TRABALHADO E, NOS TERMOS DO ART. 19-A DA LEI 8.036/1990, AO 
LEVANTAMENTO DOS DEPÓSITOS EFETUADOS NO FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO – FGTS. 
1. Reafirma-se, para fins de repercussão geral, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que a contratação por tempo determinado 
para atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse público realizada em desconformidade com os preceitos do art. 37, IX, daConstituição Federal não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos em relação aos servidores contratados, com exceção do direito à percepção dos 
salários referentes ao período trabalhado e, nos termos do art. 19-A da Lei 8.036/1990, ao levantamento dos depósitos efetuados no Fundo de Garantia 
do Tempo de Serviço – FGTS. 
2. Recurso extraordinário a que se dá parcial provimento, com o reconhecimento da repercussão geral do tema e a reafirmação da jurisprudência sobre 
a matéria. 
 
REPERCUSSÃO GERAL NO ARE 723.307-PB 
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES 
Constitucional e Previdenciário. 2. Execução contra a Fazenda Pública. Obrigação de fazer. Fracionamento da execução para que uma parte seja paga 
antes do trânsito em julgado, por meio de Complemento Positivo, e outra depois do trânsito, mediante Precatório ou RPV. Impossibilidade. 3. 
Repercussão geral da questão constitucional reconhecida. 4. Reafirmação de jurisprudência. Precedentes. 5. Conhecimento do agravo e provimento do 
recurso extraordinário para afastar o fracionamento da execução. 
 
Decisões Publicadas: 3 
 
C L I P P I N G D O D JE 
19 a 23 de setembro de 2016 
AG.REG. NA PET N. 6.164-DF 
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI 
Ementa: PENAL. PROCESSO PENAL. COLABORAÇÃO PREMIADA. PEDIDO DE ACESSO AO CONTEÚDO DE DEPOIMENTOS 
COLHIDOS. DECLARAÇÕES RESGUARDADAS PELO SIGILO NOS TERMOS DA LEI 12.850/2013. 
1. O conteúdo dos depoimentos prestados em regime de colaboração premiada está sujeito a regime de sigilo, nos termos da Lei 12.850/2013, que 
visa, segundo a lei de regência, a dois objetivos básicos: (a) preservar os direitos assegurados ao colaborador, dentre os quais o de “ter nome, 
qualificação, imagem e demais informações pessoais preservados” (art. 5º, II) e o de “não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, 
nem ser fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização por escrito” (art. 5º, V, da Lei 12.850/2013); e (b) “garantir o êxito das investigações” 
(arts. 7º, § 2º). 
2. O sigilo perdura, em princípio, enquanto não “(…) recebida a denúncia” (art. 7º, § 3º) e especialmente no período anterior à formal instauração de 
inquérito. Entretanto, instaurado formalmente o inquérito propriamente dito, o acordo de colaboração e os correspondentes depoimentos permanecem 
sob sigilo, mas com a ressalva do art. 7º, § 2º da Lei 12.850/2013, a saber: “o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao 
delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos 
elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes às 
diligências em andamento” (Rcl 22009-AgR, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, DJe de 12.5.2016). 
3. Assegurado o acesso do investigado aos elementos de prova carreados na fase de inquérito, o regime de sigilo consagrado na Lei 12.850/2013 
guarda perfeita compatibilidade com a Súmula Vinculante 14, que garante ao defensor legalmente constituído “o direito de pleno acesso ao inquérito 
(parlamentar, policial ou administrativo), mesmo que sujeito a regime de sigilo (sempre excepcional), desde que se trate de provas já produzidas e 
formalmente incorporadas ao procedimento investigatório, excluídas, consequentemente, as informações e providências investigatórias ainda em 
curso de execução e, por isso mesmo, não documentados no próprio inquérito ou processo judicial” (HC 93.767, Relator(a): Min. CELSO DE 
MELLO, Segunda Turma, DJe de 1º.4.2014). 
4. É certo, portanto, que a simples especulação jornalística a respeito da existência de acordo de colaboração premiada ou da sua homologação 
judicial ou de declarações que teriam sido prestadas pelo colaborador não é causa juridicamente suficiente para a quebra do regime de sigilo, 
sobretudo porque poderia comprometer a investigação. 
5. Agravo regimental a que se nega provimento. 
 
ACO N. 924-PR 
RELATOR: MIN. LUIZ FUX 
Ementa: CONSTITUCIONAL. CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES ENTRE MINISTÉRIOS PÚBLICOS. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA PROMOVER A TUTELA 
COLETIVA DE DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS DOTADOS DE RELEVÂNCIA SOCIAL. POSSIBILIDADE DE ATUAÇÃO DO 
PARQUET EM FAVOR DE MUTUÁRIOS EM CONTRATOS DE FINANCIAMENTO PELO SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. 
QUESTÃO PRELIMINAR. ALCANCE DO ARTIGO 102, INCISO I, ALÍNEA F DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. DISPOSITIVO 
DIRECIONADO PARA ATRIBUIR COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA AO STF EM CASOS DE CONFLITO FEDERATIVO. REVISITAÇÃO DA 
JURISPRUDÊNCIA ASSENTADA PELA CORTE (ACO 1.109/SP E PET 3.528/BA). MERO CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES QUANTO À 
ATUAÇÃO ENTRE DIFERENTES ÓRGÃOS MINISTERIAIS DA FEDERAÇÃO. SITUAÇÃO INSTITUCIONAL E NORMATIVA INCAPAZ 
DE COMPROMETER O PACTO FEDERATIVO AFASTA A REGRA QUE ATRIBUI COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA AO STF. NÃO 
CONHECIMENTO DA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA E REMESSA DOS AUTOS AO PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA (PGR) – 
(PRECEDENTE FIXADO PELA ACO 1.394/RN). 
 
Informativo 840-STF (03/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
1. In casu: (i) cuida-se de conflito negativo de atribuições entre diferentes órgãos do ministério público para se definir a legitimidade para a 
instauração de Inquérito Civil em investigação de possível superfaturamento na construção de conjuntos habitacionais no Município de 
Umuarama/PR; e (ii) há suspeita de que construtoras obtiveram, por intermédio da Caixa Econômica Federal, verbas do Sistema Financeiro de 
Habitação, em valor superior ao necessário para a construção dos conjuntos habitacionais, excesso esse que teria sido repassado aos mutuários da 
CEF. 
2. Em sede preliminar, o tema enseja revisitação da jurisprudência assentada por esta Corte (ACO 1.109/SP e, especificamente, PET 3.528/BA), para 
não conhecer da presente Ação Cível Originária (ACO). Nesses precedentes, firmou-se o entendimento no sentido de que simples existência de 
conflito de atribuições entre Ministérios Públicos vinculados a entes federativos diversos não é apta, per si, para promover a configuração de típico 
conflito federativo, nos termos da alínea f do Inciso I do art. 102 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/1988). O caso dos 
autos remete, consectariamente, a mero conflito de atribuições entre órgãos ministeriais vinculados a diferentes entes federativos. 
3. Em conclusão, essa situação institucional e normativa é incapaz de comprometer o pacto federativo e, por essa razão, afasta a regra que, em tese, 
atribui competência originária ao STF. Ademais, em consonância com o entendimento firmado por este Tribunal no julgamento da ACO 1.394/RN, o 
caso é de não conhecimento da ação cível originária, com a respectiva remessa dos autos ao Procurador-Geral da República para a oportuna resolução 
do conflito de atribuições. 
*noticiado no Informativo 707 
 
AG. REG. NO MS N. 26.125-DF 
RELATOR: MIN. EDSON FACHIN 
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. URP. DEVOLUÇÃO DE PARCELAS RECEBIDAS POR FORÇA DE 
DECISÃO JUDICIAL. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTE ESPECÍFICO DO PLENÁRIO PARA SITUAÇÃO IDÊNTICA. PRINCÍPIOS DA 
BOA-FÉ E DA SEGURANÇA JURÍDICA. 
1. Quando do julgamento do MS 25.430, o Supremo Tribunal Federal assentou, por 10 votos a 1, que as verbas recebidas em virtude de liminar 
deferida por este Tribunal não terão que ser devolvidas por ocasião do julgamento final do mandado de segurança, em função dos princípios da boa-fé 
e da segurança jurídica e tendo em conta expressiva mudança de jurisprudência relativamente à eventual ofensa à coisa julgada de parcela 
vencimental incorporada à remuneração por força de decisão judicial. Precedentes. 
2. Agravo regimental a que se nega provimento. 
 
ADI N. 4.509-PARELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA 
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DELIBERAÇÃO SOBRE PARCELA REMUNERATÓRIA POR 
CONVOCAÇÃO PARA SESSÃO LEGISLATIVA EXTRAORDINÁRIA. EMENDA CONSTITUCIONAL N. 47/2010 DA CONSTITUIÇÃO DO 
PARÁ. VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL: ART. 57, § 7º, C/C ART. 27, § 2º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 
1. A remissão expressa do art. 27, § 2º, da Constituição da República ao seu art. 57, § 7º, estende aos deputados estaduais a proibição de percepção de 
qualquer parcela indenizatória por convocação extraordinária. 
2. Confirmação da medida cautelar deferida à unanimidade. 
3. Ação julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade da Emenda Constitucional n. 47/2010 da Constituição do Pará. 
*noticiado no Informativo 622 
 
HC N. 130.502-RJ 
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO 
PRESO – SAÍDAS TEMPORÁRIAS – CRIVO. Uma vez observada a forma alusiva à saída temporária – gênero –, manifestando-se os órgãos 
técnicos, o Ministério Público e o Juízo da Vara de Execuções, as subsequentes mostram-se consectário legal, descabendo a burocratização a ponto 
de, a cada uma delas, ter-se que formalizar novo processo. A primeira decisão, não vindo o preso a cometer falta grave, respalda as saídas posteriores. 
Interpretação teleológica da ordem jurídica em vigor consentânea com a organicidade do Direito e, mais do que isso, com princípio básico da 
República, a direcionar à preservação da dignidade do homem. 
*noticiado no Informativo 831 
 
Acórdãos Publicados: 381 
 
TRANSCRIÇÕES 
 
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais 
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham 
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica. 
 
OAB e competência jurisdicional 
 
(v. Informativo 837) 
 
RE 595.332/PR* 
 
RELATOR: Ministro Marco Aurélio 
 
EMENTA: COMPETÊNCIA – ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – ANUIDADES. Ante a natureza jurídica de autarquia 
corporativista, cumpre à Justiça Federal, a teor do disposto no artigo 109, inciso I, da Carta da República, processar e julgar ações em que 
figure na relação processual quer o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, quer seccional. 
 
Relatório: Adoto, como relatório, as informações prestadas pelo assessor Dr. Alexandre Freire: 
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu, por maioria, no julgamento do agravo de instrumento nº 2008.04.00.003786-1/PR, 
caber à Justiça estadual processar execuções ajuizadas pela Ordem dos Advogados do Brasil – OAB contra inscritos inadimplentes quanto ao 
pagamento das anuidades. Consignou que, consoante dispõe a Lei nº 8.906/1994 (Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil), a anuidade 
devida à Ordem constitui título executivo extrajudicial e a cobrança submete-se ao regime do Código de Processo Civil. Ressaltou o caráter 
 
Informativo 840-STF (03/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
nacional da advocacia como função essencial à Justiça. Citou o entendimento assentado pelo Supremo a respeito da dimensão nacional do 
Poder Judiciário. Afastou possível analogia com as ações de mandado de segurança. Destacou que a competência da Justiça Federal é atraída, 
tão somente, caso o Conselho Federal da Ordem dos Advogados figure como autoridade coatora. 
 
O acórdão impugnado encontra-se assim ementado: 
 
EXECUÇÃO FISCAL DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. OAB. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 
Se a profissão da advocacia é função essencial à justiça, conforme o art. 133 da Constituição, ela o é a todas as espécies da Justiça 
brasileira – estadual, do trabalho, federal, militar. Recorde-se que o STF, recentemente, ressaltou o caráter nacional do Poder Judiciário, de que 
as distintas justiças era, em realidade, repartições de competência para melhorar a apreciação dos feitos. Ademais, tal serviço fiscalizatório, 
essencial à manutenção de uma democracia, e mais essencial à manutenção de um dos Poderes da República – o Judiciário – ele o é nas esferas 
da autonomia dos Estados-membros, tanto que a fiscalização, a ordenação dos inscritos e a cobrança das anuidades se fazem no âmbito 
estadual. 
A esfera, pois, de competência de tais feitos é, nos termos da Constituição Federal, da Justiça Estadual. 
 
Os embargos de declaração interpostos foram desprovidos. 
 
No extraordinário, protocolado com alegada base na alínea “a” do permissivo constitucional, a recorrente aponta ofensa ao artigo 109, inciso I, 
da Carta Federal. Consoante argui nas razões recursais, afirma ser a Ordem dos Advogados do Brasil prestadora de serviço público federal, 
especializado e permanente, mostrando-se impossível qualificá-la como entidade de direito privado. Requer a admissão e provimento do 
extraordinário, para assentar-se que cumpre à Justiça Federal processar e julgar a ação de execução de título extrajudicial. 
 
Sob o ângulo da repercussão geral, anota que o pressuposto de admissibilidade revela-se no fato de o acórdão recorrido contrariar a 
jurisprudência deste Tribunal. Sustenta haver relevância política, social e jurídica, pois a matéria atinente às contribuições e anuidades devidas pelos 
inscritos a entidade de classe repercute em toda a categoria profissional. 
 
Não houve apresentação de contrarrazões. 
 
Em 18 de março de 2010, o Supremo concluiu pela repercussão geral do tema, sob os seguintes fundamentos: 
 
COMPETÊNCIA – ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – JUSTIÇA FEDERAL VERSUS ESTADUAL – REPERCUSSÃO 
GERAL. Surge com repercussão geral a discussão de tema alusivo à competência para julgar ação em que envolvida a Ordem dos Advogados 
do Brasil. 
 
O Ministério Público Federal opina pelo não conhecimento do recurso, ante a inexistência de pressuposto de de desenvolvimento válido 
e regular do processo, porquanto não houve a devida sucessão processual após o falecimento do executado. 
 
Admitiu-se a participação, como terceiro, do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. 
 
É o relatório. 
 
Voto: Na interposição deste recurso, atendeu-se aos pressupostos gerais de recorribilidade. A peça, subscrita por profissional da advocacia 
credenciado mediante a procuração de folha 59, foi protocolada no prazo legal. Disponibilizado o acórdão atacado em 20 de maio de 2008 (terça-
feira), foi publicado no dia 4 de junho seguinte. Formalizou-se o extraordinário no dia 12 imediato (quinta-feira). Conheço. 
 
O não conhecimento suscitado pela Procuradoria-Geral da República não procede. Até aqui, tem-se acórdão do Tribunal Regional Federal da 
4ª Região no qual confirmada a sentença que implicou o deslocamento do processo para a Justiça comum. A questão atinente ao óbito do recorrido – 
possível sucessão – não foi analisada pelo Juízo. Há o interesse jurídico do recorrente na continuidade do julgamento do processo, mostrando-se 
necessário elucidar-se a competência para apreciá-lo. 
 
A Ordem dos Advogados do Brasil, quer sob o ângulo do Conselho Federal, quer das seccionais, não é associação, pessoa jurídica de direito 
privado, em relação à qual é vedada a interferência estatal no funcionamento – inciso XVIII do artigo 5º da Carta da República. Consubstancia órgão 
de classe, com disciplina legal – Lei nº 8.906/1994 –, cabendo-lhe impor contribuição anual e exercer atividade fiscalizadora e censória. É, por isso 
mesmo, autarquia corporativista, o que atrai, a teor do artigo 109, inciso I, do Diploma Maior, a competência da Justiça Federal para exame de ações – 
seja qual for a natureza – nas quais integre a relação processual. Surge impróprio estabelecer distinção considerados os demais conselhos existentes. 
 
Provejo o recurso interposto para assentar a competência da Justiça Federal, devendo o processo retornar à Quinta Vara Federal de Curitiba 
para que enfrente,

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