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TEXTO 1 SENSACAO

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A presente obra compõe-se de quatro volumes, a saber:
I. Introdução Evolucionista à Psicologia
lI. Sensações e Percepção
rIT. Atenção e Memória
IV. Linguagem e Pensamento
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A. R. Luria
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~" Curso de Psicologia Geral
Volume 11
Sensações e Percepção
Psicologia dos Processos Cognitivos
..,
Tradução de
PAULO BEZERRA
Revisão técnica de
HELMUTH R. K.RÜGER
Professor de Psicologia da
UFRJ e da UERJ
civilizacão
brasileira
Métodos de estudo da percepção visual falsa
Desenvolvimento da percepção material
Patologia da percepção material
Percepção do espaço
Percepção auditiva
Bases fisiológicas e morfológicas da audição
Organização psicológica da percepção auditiva
Patologia da percepção auditiva
Percepção do tempo
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75
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86
86
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93
96 I
Sensações
o problema
A~ SENSAÇÕES constituem a fonte básica dos nossos
conhecimentos atinentes ao mundo exterior e ao nosso pró-
prio corpo. Elas representam os principais canais, por onde
.a informação relativa aos fenômenos do mundo exterior e
ao estado do organismo chega ao cérebro, permitindo ao
homem compreender o meio ambiente e o seu próprio cor-
. po. Se esses canais estivessem fechados e os órgãos dos sen-
tidos não fornecessem a informação necessária, nenhuma
atividade consciente seria possível.
Há fatos conhecidos segundo os quais o homem, pri-
vado da, afluência .constante de informação, cai em estado
de sonolência. Esses casos se verificam quando o homem
perde subitamente a visão, a audição e o olfato e quando
suas sensações táteis são limitadas. por algum processo
patológico.
1
Obtém-se resultado semelhante quando, durante algum
tempo, coloca-se o homem numa câmara à prova de som
e luz, que o isola do contato com o mundo exterior e ele
se mantém na mesma posição (deitado) durante certo
tempo. Essa situação a princípio provocava sono, toman-
do-se mais tarde dificilmente suportável para os sujeitos
experimen tais *.
Inúmeras observações demonstraram que a interrupção
da afluência de informação na tenra infância, suscitada por
surdez e cegueira, provoca bruscas contenções do desenvol-
vimento psíquico. Se as crianças que nasceram cegas e sur-
.das ou perderam a audição e a visão em idade tenra não
receberem educação por métodos especiais, que compensem
esses defeitos à custa do tato, tornar-se-á impossível seu de-
senvolvimento psíquico normal e elas não conseguirão desen-
volver-se com autonomia. .
A sensação como fonte de conhecimento
Wolf, filósofo racionalista alemão). A essência dessa filo-
sofia consiste em que os processos psíquicos não são um
produto do complexo desenvolvimento histórico e seus adep-
tos interpretavam erroneamente a consciência e a razão não
como o resultado de uma complexa evolução histórica mas co-
mo uma propriedade primária e inexplicável do "espírito"
humano. É fácil perceber que todos os dados da ciência
.moderna, antes referidos, rejeitam radicalmente essa tese.
Mas os filósofos idealistas e psicólogos a eles afetos ten-
taram reiteradamente refutar uma tese que pareceria eviden-
te - a tese segundo a qual as sensações colocam o homem
em contato com o mundo exterior - e demonstrar uma
tese oposta e paradoxal, segundo a qual as sensações sepa-
.ram o homem do mundo exterior por serem uma muralha
íntransponível entre ele e esse mundo.
Essa tese partiu de filósofos idealistas como G. Ber-
keley, D. Hume e E. Mach e psicólogos como H. Helmholtz
e Johannes Müller, que formularam a teoria da "energia
específica dos órgãos dos sentidos".
Segundo essa teoria, os órgãos dos sentidos (o olho, o
ouvido, a língua e a pele) não refletem a influência do mun-
dó exterior nem informam acerca dos processos reais que
ocorrem no meio ambiente, limitando-se a receber das ações
exteriores os impulsos que lhes estimulam os seus próprios
processos. Para essa teoria, cada órgão dos sentidos possui
sua própria "energia específica", que é estimulada por qual-
quer ação procedente do mundo exterior. Assim sendo, bas-
ta pressionar - o olho, agindo sobre ele através de choque
elétrico, para ele ter a sensação de luz; é bastante uma ex-
citação mecânica ou elétrica do ouvido para surgir a sen-
sação do som. Logo, os órgãos dos sentidos não refletem
as influências exteriores mas são apenas excitados por elas
é o homem não percebe os objetos do mundo exterior mas
somente os seus próprios estados subjetivos, que refletem a
atividade dos órgãos dos sentidos. Noutros termos, isto sig-
nifica que os órgãos dos sentidos não põem o homem em
contato com o mundo exterior mas, ao contrário, o separam
deste. Percebe-se facilmente que essa teoria levou à afirma-
ção: "o homem não pode perceber o mundo exterior e a
única realidade são os processos subjetívos.: que refletem a
atividade dos órgãos dos sentidos, estes sim criadores dos
'elementos do mundo' subjetivamente perceptíveis".
As sensações permitem ao homem perceber os sinais e
refletir as propriedades e os indícios dos objetos do mundo
exterior e dos estados do organismo. Elas ligam o homem
··ao mundo exterior e tanto representam a fonte principal do
conhecimento quanto a condição fundamental do desenvol-
vimento psíquico do indivíduo.
N o entanto, apesar da evidência dessa tese, essa afirma-
ção fundamental foi reiteradamente posta em dúvida nahls-
tória da filosofia idealista.
Os filósofos idealistas expressavam freqüentemente a
idéia segundo a qual a fonte autêntica da nossa vida cons-
ciente não é constituída pelas sensações mas pelo estado inte-
rior da consciência e pela capacidade do conhecimento racio-
nal, que são dados pela natureza e independentes da afluên-
cia da informação que chega do mundo exterior.
Essas concepções serviram de base à filosofia do "ra-
cionalísmo" (eles tiveram expressão nítida em Cristían
• Em testes psicológicos empregaremos sempre o termo "sujeito", suben-
tendendo "sujeito experimental". (N. do T.)
2
3
Todas essas teses foram tomadas. por base da filosofia
'do "idealismo subjetivo", por afirmarem que o homem só
pode conhecer a si mesmo e não dispõe de nenhuma prova'
-de que existe alguma coisa além dele. Essa teoria idealista
recebeu o nome àe "solipsismo" (do latim solus, só, e ipse•.
eu próprio: existo só [um] eu próprio).
A teoria do idealismo subjetivo, inteiramente oposta às
concepções materialistas da possibilidade de representação
objetiva do mundo (particularmente a "teoria do reflexo"
de Lênin) foi a fonte de um profundo equívoco cuja essên-
.cia se torna 'cada vez mais evidente com as sucessivas con-
quistas da ciência.
O estudo' atento da evolução dos órgãos dos sentidos
mostra de modo convincente que, no processo de um longo
desenvolvimento histórico, formaram-se órgãos especiais de
percepção (órgãos dos sentidos ou receptores), que se espe-
cializaram em refletir tipos especiais de formas objetivamen-
te existentes de movimento da matéria (ou "energias"); re-
ceptores da pele; que refletem as influências mecânicas;
.receptores auditivos, que refletem as oscilações sonoras; re-
ceptores visuais, que refletem certos diapasões das oscila-
ções eletromagnéticas, etc.
Examinemos os dados atinentes à elevadíssima especia-
lização dos órgãos receptores e aos tipos concretos de mo-
vimento da matéria que cada um deles percebe.
A tabela 1 apresenta dados gerais.
Vemos que entre todos os possíveis tipos de movimen-
to da matéria, dispostos em ordem de redução do compri-
,mento da onda e aumento do número de oscilações por
.segundo, apenas alguns são refletidos por aparelhos altamen-
te especializados dos órgãos dos sentidos. Assim, ondas me-
cânicas de determinado diapasão são percebidas pela pel6,·
provocando sensações de tato ou pressão; oscilações sono:"
ras com onda acima de 12mm de comprimento e freqüência
inferior a 20-30 oscilações por segundoe com onda de mais.
de 12mm de comprimento, freqüência superior a 30000 os-
cilações, não são percebidas, ao passo que oscilações sono-
ras com onda de 12-13mm de comprimento e freqüência de
20 a 20000 oscilações por segundo são percebidas pelo ouvi-
do humano e provocam sensações auditivas.
TABELA 1
Característica das influências objetivas,
dos aparelhos perceptivos .e das sensações
.'.,
SensaçãoProcessos
físicos
Compri-
mento das
ondas em
mm
Número de
oscilações
por segundo
Órgão per-
ceptivo
mecânicos
oscilações
sonoras acima de
12
12-13
abaixo de
12 .
até 0,1 .
0,1-0.004
0,008-0.004
ultra-som
ondas elétri-
cas
ondas lumino-
IJ?S
ondas radio-
Iõgicas
0.004- .
0.00001
0.0000008-
0.0000005
até 1,5 mil
abaixo de
20
20-20000
acima de
30000
30.1012
8.1014
4.1014
8.1014
8.1014-
5.1015
4.107
6.1010
pele
ouvido in-
terno
pele
retina
olhos
tátil
auditiva
calor
luz, cor
~
Oscilações elétricas com onda de O,lmm de compri-
mento e 30.1014 de freqüência também não são percebidas,
embora a pele. perceba como calor as mesmas oscilações
com onda de 0.1 a 0:004ínm de comprimento e freqüência de
~t1014 oscilações por segundo. E sobretudo interessante o
quadro que' surge' em relação à percepção das ondas sono-
ras: a retina do olho humano percebe ondas sonoras de
O~()08-0.004mm de comprimento com freqüência de 4.1014-
8.1014 oscilações por segundo, provocando sensaçõeS de luz
e cor. No entanto ela não percebe ondas luminosas
de 0.004 a O.OOOOlmm de comprimento e freqüência de
8.1014-5.1015 oscilações por segundo; as ondas radiológicas
também não . têm .receptores especializados nem ~ovocam
sensação no' homem. Uma análise atenta desses dados mos-
tra que os nossos aparelhos perceptivos se especializaram em
distinguir apenas algumas .influências e continuam imunes a
outras' influências. Isto tem fundamento biológico. Se a re-
tina vpercebesse influência abaixo e acima do referido .dia-
1-
.5
pasão, o homem perceberia o calor do seu próprio corpo
como sensação visual e transformaria em sensações visuais
as influências que para ele não têm importância biológica.
O mesmo se refere ao funcionamento dos analisadores audi-
tivos: se o homem percebesse com o ouvido oscilações ultra-
sonoras, suas percepções auditivas seriam acrescidas de mui-
tos ruídos excessivos que dificultariam a distinção de exci-
tações sonoras essenciais para ele.
É característico o fato de que os animais têm outros
limites de sensações: o morcego, por exemplo, ao voar na
escuridão e enfrentar obstáculos, o faz através do reflexo
de ondas ultra-sonoras, seu aparelho auditivo lhe serve de
radar e ele percebe oscilações ultra-sonoras que o.l.lpmem
não percebe. .
Assim, na evolução dos organismos surgiram aparelhos
especializados na percepção de diversos tipos de movimento
da matéria (diferentes "energias") e nós, em realidade, não
possuímos" "energias 'específicas dos órgãos dos sentidos"
mas órgãos específicos que refletem objetivamente diver-
sos tipos de energia. ,
O fato de que, quando estímulos inadequados ao olho
ou ao ouvido agem sobre esses órgãos, surge uma sensação
"específica" (visual ou auditiva), alude apenas à alta espe-
cialização desses .dispositivos perceptivos e à incapacida-
de de refletir as influências em cuja recepção eles não
são especializados.
Corno veremos adiante, a alta especialização de diversos
órgãos receptores se baseia não só nas peculiaridades da es-.
trutura dos "receptores" periféricos (órgãos dos sentidos).
mas também na elevadíssima especialização dos neurônios
que integram a composição dos aparelhos nervosos centrais,
aos quais chegam os sinais percebidos pelos órgãos perifé-'
ricos dos sentidos. Este fato será novamente focalizado'
quando abordamos os tipos especiais de sensações.
Teorias receptora e rejlectora das sensações
Formou-se na Psicologia clássica a concepção segundo
a qual um órgão dos sentidos (receptor) reage passivamente
às influências dos estímulos sendo essa reação passiva
6
constituída pelas sensações correspondentes. Chamava-se a
essa concepção teoria receptara das sensações, segundo
.a qual a sensação enquanto processo passivo se opunha ao
movimento que era visto como processo ativo.
Hoje essa teoria é considerada inconsistente e refutada
pela maioria dos estudiosos, que a ela opõem a concep-
ção da sensação como processo ativo. Essa concepção
serve de base a outra teoria, denominada teoria rejlecto-
ra das sensações.
Ao examinar as sensações dos animais já observamos o
fato de que estas não têm caráter passivo, indiferente e que
os animais distinguem ativamente entre as influências do
mundo exterior somente aquelas de grande importância bio-
lógica para eles. Já dissemos que a abelha reage a cores mis-
tas de modo bem mais ativo do que a cores puras; observa-
mos que o esmerilhão reage aos cheiros de podre, ignorando
os cheiros de relva e grãos, ao passo que o pato revela pe-
culiaridades opostas em suas reações; o gato distingue ativa-
mente o ruído do rato mas não reage aos sons do diapa-
são que lhe são indiferentes. Este fato indica o caráter ativo
e seletivo das sensações.
Os fatos posteriores mostram que, em termos fisioló-
gicos, a sensação não é absolutamente um processo pas-
sivo mas sempre incorpora à sua composição componen-
tes motores.
Assim, as observações realizadas pelo psicolólogo ame-
ricano Neff, há mais de quarenta anos, deram oportunidade
para que nos convencêssemos de que, se observarmos pelo
microscópio a parte da pele irritada por uma agulha, pode-
remos ver que o momento do surgimento da sensação é
acompanhado por reações reflectoras motoras dessa área da
pele. Posteriormente, foi estabelecido 'através de inúmeras
pesquisas que a composição de cada sensação é integra-
da por um movimento, às vezes em forma de reação vege-
tativa (compressão dos vasos, reflexo cutâneo-galvânico) , às
vezes em forma de reações musculares (virada de olhos, ten-
são dos nervos do pescoço,· reações motor as do braço, etc.).
Foi estabelecido que as sensações complexas, que exi-
gem. a distinção ou identificação de um objeto, são possíveis
sem movimentos ativos. Assim, para distinguir, de olhos fe-
chados, um objeto, é necessário apalpá-lo ativamente; até
indícios como os aspecto plano ou rugoso de um objeto,
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suas dimensões, etc., são percebidos apenas se a mão' que
os apalpa é ativa; as sensações que surgem do objeto da
superfície passiva 'da pele, são extremamente imperfeitas.
O mesmo foi estabelecido em relação à percepção, vi-
sual. Setchenov já indicara que, para perceber visualmente
o objeto, é necessário que o olho o "apalpe". Ultimamente
foi estabelecido que cada percepção visual se realiza de fato
'com a participação ativa dos movimentos dos olhos,' que, às
vezes têm caráter de grandes "movimentos de apalpação",
tomando às vezes o aspecto de pequenos movimentos dos
'olhos. Ainda abordaremos especialmente o fato de que a
sensação auditiva ocorre com a participação imediata dos
componentes motores tanto no próprio aparelho auditivo
como no aparelho oral a ela' relacionado. É sabido que para
definir um, som é necessário cantá-Io e só neste caso o som
será suficientemente preciso e separado dos sons semelhan-
tes a ele.
Tudo isto mostra que as sensações não são absoluta-
mente processos passivos, que elas têm caráter ativo e a
participação de componentes motores na sensação 'pode ser
'efetuada em nível variado, ocorrendo, às vezes, .como pro-
-cesso rejlector elementar (por exemplo, na redução dos va-
sos ou das tensões musculares que surgem em resposta a
'cada excitação sentida), às vezes como um complicado pro-
-cesso de atividade receptoraintensa (por exemplo, durante
a palpação ativa do objeto ou a contemplação de uma' ima-
gem complexa). ' ,
A teoria reflectora das sensações consiste justamente em
indicar o caráter ativo de todos esses processos.
Ainda veremos a grande importância dessa teoria tan-
10 para a teoria dos processos cognitivos do homem quanto
para a análise das mudanças que ocorrem na sensação e na
percepção durante os estados patológicos do cérebro.
Classificação das sensações
Há muito tempo costuma-se distinguir. cinco tipos bãsí-
-cos (modalidades) de sensações, distinguindo-se o tato, °
olfato, o paladar, a audição e a visão.
.8
.' Para urp.a .resposta suficientemente completa ao. proble-.
ma' das modalidades principais de sensações, devemos con-
siderar .que, sua classificação pode ser feita pelo menos .se:-
gundo dois princípios básicos: o princípio sistemático e o.
genético, noutros termos, pelo princípio da modalidade, porum lado, e pelo princípio da complexidade ou do nível de,
sua construção, por outro.
Classificação sistemática das sensações
Ao distinguirmos os grupos maiores e mais importantes
de sensações, podemos dividi-Ias em três tipos principaís: .
sensações interoceptivas, proprioceptivC{S e extraceptivas. As
primeiras reúnem os sinais que nos chegam do meio interior
do organismo e garantem a regulação das inclinações ele-
mentares; as proprioceptivas garantem a informação sobre o,
corpo no espaço e a posição do aparelho de apoio e movi-
mento, assegurando a regulação dos nossos movimentos; as
extraceptivas constituem o maior grupo e asseguram a re-
cepção de sinais do mundo exterior, criando a base do nosso
comportamento consciente.
Examinemos separadamente os três tipos básicos de
sensações.
As sensações interoceptivas, que produzem sinais acerca
do estado dos processos internos do organismo, fazem che-
gar ao cérebro as excitações procedentes das paredes do in-,
testino e do estômago; do coração e do sistema sanguíneo,
bem como 'de outros órgãos viscerais. Esse grupo constitui
Q grupo mais antigo e mais elementar de sensações. Os apa-
relhos receptores dessas sensações estão dispersas- nas pa-
redes dos órgãos internos que 'acabamos. de citar. Os
impulsos que surgem passam pelos filamentos que integram
parcialmente a composição do sistema vegetativo, particular-
mente a composição das colunas laterais da medula espi-
nhal. O aparelho central, que recebe os impulsos interocep-
tívos, é constituído parcialmente pelos núcleos das formações
subcorticais (núcieo medial do tálamo ótico)" parcialmente
pelos órgãos do córtex antigo, (límbico) do encéfalo. É
a isto que se deve o fato de que as sensações intero-.
céptivas estão entre as formásmenos conscientes e, mais
',2
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dijusas e sempre conservam sua semelhança com os es-
tados emocionais.
O caráter elementar e difuso dessa modalidade de sen-
sações manifesta-se no fato de que, na Psicologia, não exis-
te uma classificação precisa desses fenômenos. Situam-se en-
tre as interoceptivas a sensação de fome, a "sensação de des-
conforto", que pode surgir como sintoma inicial de doença
dos órgãos internos, "a sensação de tensão" que surge com
frustração de uma necessidade qualquer e "a sensação de
calma" ou "conforto" que indica a satisfação das necessida-
des ou o desenvolvimento normal dos processos viscerais.
Vemos que, em todos esses casos, as sensações intero-
ceptivas se manifestam como o ponto intermediário entre as
sensações autênticas e as emoções; apesar de a Psicologia
ainda ter estudado de modo muito insuficiente as manifes-
tações subjetivas dessas sensações, incluindo-as no campo das
"sensações obscuras", o conhecimento destas é necessário
tendo em vista que a sua mudança pode desempenhar pa-
pel decisivo para a descrição do "quadro interior da doen-
ça" que surge nos estados patológicos dos órgãos interiores
e desempenha papel considerável no diagnóstico das doen-
ças interiores (A. R. Luría), Essas sensações não-conscien-
tizadas podem manifestar-se muito cedo, podendo sua ex-
pressão assumir formas originais: elas podem aparecer em
forma de "pressentimentos" que o homem não pede for-
mular, podem manifestar-se nos sonhos que, às vezes. é
como se anunciassem a doença que está em início (em es-
sência, elas apenas refletem mudanças que começaram cedo
e foram pouco conscientizadas, ou seja, mudanças das sen-
sações interoceptivas, que surgem em fases iniciais da doen-
ça) . Elas se··manifestam na mudança, do estado de espírito
e nas reações emocionais, provocando na criança freqüentes
manifestações singulares no comportamento. Sabe-se, por
exemplo, que uma criança doente, que ainda não tem cons-
ciência das mudanças interoceptivas, apresenta indícios de
mudança geral de comportamento, ou começa a acalentar e
dar remédio a uma boneca "doente", refletindo deste modo
mudanças em suas próprias sensações interoceptivas.
A importância objetiva das sensações interoceptivas é
muito grande: elas' são fundamentais na regulação da balan-
ça dos processos internos de metabolismo ou daquilo a que
se chama homeostase dos processos de troca no organismo.
t
Os sinais que surgem por via interoceptiva provocam um'
comportamento voltado para a satisfação de inclinações ou
para a eliminação dos estados de tensão ("stress") que po-
dem manifestar-se em decorrência de fatores que perturbam
o funcionamento equilibrado dos órgãos internos. Por isto
a consideração das sensações interoceptivas. desempenha pa-
pel decisivo na parte da medicina denominada "psicossomá-
tica", que estuda a correlação dos processos somáticos e Vis-
cerais e dos estados psíquicos.
Os mecanismos fisiológicos, com a participação da in-
terocepção, foram minuciosamente estudados por K. M. Bi-
kov e V. N. Tchernigovsky, que descreveram os mecanismos
da atividade reflectora condicionada, que surgem à base de
sensações interoceptivas.
O segundo grande grupo é constituído pelas sensações
proprioceptivas, que asseguram os sinais referentes à posi-
ção do corpo no espaço e, em primeiro lugar, à posição do
aparelho de apoio e movimento no espaço. Elas represen-
tam a base aferente dos movimentos do homem e desempe-
nham papel decisivo na regulação destes.
Os receptores periféricos da sensibilidade propriocepti-
va ou profunda encontram-se nos músculos e superfícies ar-
ticulatórias (tendões, ligamentos) e apresentam formas de
corpos nervosos especiais (corpos de Paccini). As excitações
que surgem nesses corpos refletem as mudanças que ocor-
rem na distensão dos músculos e na mudança da posição das
articulações, passam pelos filamentos que compõem as co-
lunas posteriores da substância branca da medula espinhal.
As excitações irrornpem nas zonas inferiores dos núcleos de
Holl e Burdach e, passando para o lado oposto, avançam,
atingindo QS nós subcorticais (do sistema talâmico-estriado)
e terminando na região parietal do córtex do hemisfério. opos-
to (particularmente na região pós-central). Por isto o inter-
valo entre os condutores da sensibilidade proprioceptiva ou
profunda, em qualquer ponto desta via (afecção das colu-
nas posteriores dos núcleos de HoU e Burdach, das .vias con-
dutoras ou do córtex da circunvolução pós-central), sem per-
turbar a sensibilidade superficial (tátil), leva a perturbações
da sensibilidade proprioceptiva ou profunda cujos sintomas
são perfeitamente conhecidos pelos neuropatologistas. A pes-
soa doente não é capaz de determinar a posição do seu braço
(ou perna) no espaço, sente às vezes indícios de mudança do,
10 u
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Highlight"esquema do corpo" (o tamanho dos membros. ou do corpo
começa a lhe. parecer incomum, às vezes imensamente gran-
de). É natural que em decorrência da perturbação ou queda
da sensibilidade proprioceptiva (ou profunda), ela comece a
experimentar grandes dificuldades nos movimentos: os im-
pulsos que costumam partir dos receptores muscular-articula-
tórios e constituem .a base aferente dos movimentos, neste
caso são perturbados e os movimentos, privados do .apoio
sensorial, tornam-se incontroláveis.
Na fisiologia e psicofisiologia modernas, o papel da pro-
priocepção como base aferente dos movimentos nos animais
foi detalhadamente estudado por A. A. Orbeli, P. K. Ano-
khin; em relação ao homem, o problema foi estudado por
N. A. Bernstein.
Ainda voltaremos à análise do papel da sensibilidade
proprioceptiva na construção dos movimentos 'quando exa-
minarmos, em caráter especial, a psicofisiologia dos processos
motores.
O grupo de sensações, que indica a posição do corpo no
espaço, tem entre seus componentes uma modalidade espe-
cial de sensibilidade, denominada sensação de equilíbrio ou
sensação estática. Os receptores periféricos dessas sensações
estão situados nos canais semicirculares do ouvido interno,
que estão distribuídos em três superfícies mutuamente per- I
pendiculares: o líquido que enche esses canais muda de. po-
sição dependendo da posição do corpo, particularmente da
cabeça, excita células "capilares" específicas que se mistu-
ram sob a influência do fluxo desse líquido (endolinfa) e,
deste modo,· anuncia as mudanças da posição da cabeça no
espaço.' A. excitação, que surge como resultado dessas esti-
, mulações, é transmitida iatravés dos filamentos que çornpõem
o nervo auditivo como parte especial deste (o chamado ner-
vo vestibular) e se dirige às regiões têmpo-parietais do cór-
tex cerebral .e do aparelho do cerebelo.
Ao contrário dos aparelhos da sensibilidade sinestésica
(profunda) , os aparelhos da sensibilidade vestibular estão
estreitamente relacionados com a visão, que também parti-
cipa do processo de orientação no espaço. Por isto o cons-
tante 'vislumbramento de excitações visuais (por exemplo,
quando se passa de carro ao longo de uma floresta densa)
pode provocar a sensação de perda do equilíbrio e enjôo.
Sensação análoga (acompanhada da mudança do esquema
do corpo) pode ser, provocada também durante um vôo com
rápidas mudanças da posição do corpo no espaço. As mes-
mas perturbações da sensação de· equilíbrio podem ser pro-
vocadas também por processos patológicos. (inchações, por
exemplo) localizados nas regiões têmporo-parietais do cére-
bro ou :no cerebelo,
O terceiro - e maior - grupo de sensações é consti-
tuído pelas sensações exteroceptivas, Estas fazem chegar ao
homem a informação procedente do mundo exterior e são o
principal grupo de sensações que colocam o homem em con-
tato com o meio exterior. É justamente entre esse grupo que
se situa o olfato, o paladar, o tato, a visão e a audição.
Convencionou-se dividir todo o grupo de sensações ex-
teroceptivas em dois subgrupos: as sensações de contato e
distância. .
Entre as sensações de contato, situam-se aquelas nas
quais a ação que provoca. a sensação deve ser aplicada ime-
diatamente à superfície de um corpo e ao respectivo órgão
perceptivo. O exemplo típico da sensação de contato pode
ser visto no tato e no paladar. É perfeitamente compreensí-
vel que os dois tipos de sensação possam ser provocados por
ações à distância. '
Entre as sensações de distância, ao contrário, situam-se
.aquelas nas quais o estímulo provoca sensações que atuam
sobre os órgãos dos sentidos a partir de certa distância. A
estas pertencem o olfato, e especialmente a visão e a audi-
ção. O estímulo situado às vezes à grande distância do
sujeito (por exemplo, o som de uma campainha, a luz de
uma lâmpada) pode provocar sensações mesmo que a fonte
destas esteja distante e as respectivas ações (por exemplo,
ondas sonoras ou luminosas) devam percorrer uma grande
distância antes de que possam atuar sobre os respectivos ór-
gãos dos sentidos.
A classificação de todos os tipos de sensações é repre-
sentada no seguinte esquema:
Sensações interoceptivas
Sensações propriocepüvas
Sensações exteroceptivas de contato
(paladar, tato)
de distância
(olfato, visão, audição)
J,2- ',JJ
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