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A regulamentação do direito autoral na sociedade em rede

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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
A REGULAMENTAÇÃO DO DIREITO AUTORAL NA SOCIEDADE EM REDE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BLUMENAU 
2016 
FABRICIO ESPERANDIO LOZ 
FABRICIO ESPERANDIO LOZ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A REGULAMENTAÇÃO DO DIREITO AUTORAL NA SOCIEDADE EM REDE 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado para obtenção do grau de 
Bacharel em Direito pela Universidade 
Regional de Blumenau - FURB. 
 
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal – Orientador 
 
 
 
 
 
BLUMENAU 
2016 
FABRICIO ESPERANDIO LOZ 
 
 
 
 
A REGULAMENTAÇÃO DO DIREITO AUTORAL NA SOCIEDADE EM REDE 
 
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado 
com nota 9,5 como requisito parcial para a 
obtenção do grau de Bacharel em Direito, 
tendo sido julgado pela Banca Examinadora 
formada pelos professores: 
 
 
 
 
____________________________________________________________ 
Presidente: Prof. Alejandro Knaesel Arrabal – Orientador, FURB 
 
 
 
____________________________________________________________ 
Membro: Prof. Patricia Rodrigues Lopes de Souza, FURB 
 
 
 
Blumenau, 06 de Julho de 2016 
DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE 
 
Por meio deste instrumento, isento meu Orientador e a Banca Examinadora de 
qualquer responsabilidade sobre o aporte ideológico conferido ao presente trabalho. 
 
________________________________________ 
FABRICIO ESPERANDIO LOZ 
AGRADECIMENTOS 
Os meus agradecimentos a todos aqueles que lutam pelo Estado 
Democrático de Direito e igualitário, por uma sociedade justa e contra a 
desigualdade social, pela emancipação e construção de um futuro livre, humanitário 
e progressista, em especial àqueles que direta ou indiretamente contribuíram na 
minha vida pessoal e acadêmica. 
Agradeço a todos os professores da Universidade Regional de Blumenau e 
Universidade do Vale do Itajaí, Campus de Balneário Camboriú e Itajaí, que de 
forma direta ou indireta se apresentaram em algum momento dessa caminhada e 
proporcionaram conhecimento, que dedicaram o tempo de sua vida à tarefa de 
ensinar, provocando assim questionamento, dúvida, ou então produzindo e 
reproduzindo conhecimento, que sem dúvida é pré-requisito essencial para aptidão à 
elaboração deste trabalho. 
Agradecimento especial ao meu orientador Alejandro Knaesel Arrabal, que 
com seu conhecimento singular e de grande valia, exerceu com paciência seu papel 
na orientação para elaboração e conclusão do presente trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 O grande rio tem seu trajeto, antes do mar imenso. Copiando-
lhe a expressão, a alma percorre caminhos variados e etapas 
diversas, recebe afluentes de conhecimentos, avoluma-se em 
expressão e purifica-se em qualidade, antes de encontrar o 
oceano eterno da sabedoria. André Luiz [psicografado por 
Francisco Cândido Xavier] 1 
1 XAVIER, Francisco Cândido. Nosso lar. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, [200-]. 
Disponível em: <http://www.espiritoimortal.com.br/espirito_imortal/nosso-lar.pdf>. Acesso em: 12 
jun. 2016. p. 8 
 
RESUMO 
Esta monografia trata da Sociedade em Rede e das implicações que esse sistema, 
aliado à constante modificação e aperfeiçoamento das tecnologias de informação e 
comunicação, pode trazer ao direito autoral como sistema positivado de normas que 
garantem a tutela do autor, em particular sobre as transformações que a tecnologia e 
informática vêm trazendo por meio dos diversos arranjos e relações sociais 
possibilitados por esses meios, tais como o compartilhamento de arquivos na 
internet e a existência de um ambiente colaborativo, o que implica no conceito de 
autoria. Estruturado através do método dedutivo, o estudo foi realizado por meio de 
pesquisa bibliográfica. O texto evidencia a impossibilidade de o direito positivado, 
mais precisamente o direito autoral atual, acompanhar as constantes e rápidas 
modificações que a tecnologia vem trazendo, bem como que a regulamentação está 
muito aquém de abarcar a tutela individual do direito de autor, tendo em vista a 
ubiqüidade na criação e difusão de conteúdo protegido por esse direito, que vem se 
afastando da concepção tradicional de individualidade para uma nova concepção de 
criação pautada na colaboração. 
Palavras-chave: Direito Autoral. Sociedade em Rede. Internet. Tecnologia de 
Informação e Comunicação 
ABSTRACT 
This term paper deals with the Network Society and the implications of this system, 
combined with the constant modification and improvement of information and 
communication technologies can bring to copyright as legal standards system to 
ensure the author’s supervision, particularly on the transformations technology and 
information technology have brought through the various arrangements and social 
relations made possible by these means, such as file sharing on the internet and the 
existence of a collaborative environment, which implies the concept of authorship. 
Structured through the deductive method, the study was conducted by bibliographic 
research. The text tells about the impossibility of the Law, more precisely the 
copyright law, to follow the constant and rapid changes that technology is bringing, 
and shows that the rules are far short of covering the protection of copyright, with a 
view to ubiquity in the creation and diffusion of individual content protected by this 
law, which is moving away from the traditional concept of individuality to a new 
conception of creation guided by the collaboration. 
Keywords: Copyright. Network Society. Internet. Information and Communication 
Technology. 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 9 
2 FUNDAMENTOS DO DIREITO AUTORAL ............................................................. 11 
2.1 NOÇÕES DE DIREITO AUTORAL ........................................................................................ 11 
2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ......................................................................................................... 14 
2.3 FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL E LEGAL .................................................................. 22 
2.4 MODALIDADES DE OBRAS PROTEGIDAS: INDIVIDUAL, COAUTORIA E 
COLETIVA ................................................................................................................................... 25 
3 SOCIEDADE EM REDE ............................................................................................. 29 
3.1 BREVE HISTÓRICO DA INTERNET ..................................................................................... 29 
3.2 CIBERCULTURA, INTELIGÊNCIA COLETIVA E WEB COLABORATIVA .................... 32 
3.3 CONCEITO DE PIRATARIA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS ................ 38 
3.4 AUTORIA DIFUSA: PROCESSOS DE CRIAÇÃO EM REDE .......................................... 45 
4 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 49 
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 51 
 
 
 
 9 
1 INTRODUÇÃO 
O objeto desta monografia consiste na análise das implicações do conceito 
de sociedade em rede na tutela do direito autoral. 
Com o advento do Século XX, e sua transição para o século XXI, a 
humanidade se viu rodeada das mais variadas criações, sobretudo no campo das 
Tecnologias da Informaçãoe Comunicação (TIC’s). Diante disso, as possibilidades 
de interação e troca de informações cresceram exponencialmente, tendo para isso 
concorrido o desenvolvimento da informática, dos computadores pessoais, e da 
Internet. 
A Internet, como uma rede mundial de computadores, passou a ter grande 
importância na sociedade, de forma que todos estão cada vez mais interconectados. 
Trouxe modificações na forma das pessoas se relacionarem socialmente, bem como 
propiciou a criação de ambientes, tanto de difusão quanto de criação de 
conhecimento e informação, possibilitando assim uma grande circulação de criações 
protegidas pela tutela individual do direito autoral. 
A pesquisa, base deste trabalho monográfico, foi desenvolvida considerando 
o seguinte questionamento: Quais são as implicações que o compartilhamento de 
arquivos apresenta para o Direito Autoral, no contexto do que se convencionou 
denominar Sociedade em Rede? 
Para equacionar este problema de investigação, foi considerada a hipótese 
de haver uma possível relativização do Direito Autoral, decorrente da emergência de 
novas tecnologias e da crescente socialização em rede, proporcionada por 
plataformas de comunicação colaborativas cada vez mais integradas. 
Em decorrência desta abordagem, o objetivo geral foi verificar as 
implicações que o conceito de Sociedade em Rede e compartilhamento pode trazer 
para o Direito Autoral e no que podem contribuir para uma possível releitura deste. 
 Por sua vez, os objetivos específicos foram: Fazer uma análise dos 
fundamentos do direito autoral, por meio de noções sobre a tutela do direito de autor 
e sua evolução histórica, bem como a visão dos fundamentos constitucionais e 
legais vigentes e a diferenciação entre as modalidades de obra, com enfoque no 
conceito jurídico de obra coletiva. Analisar o conceito de Sociedade em Rede por 
 10 
meio de uma visão histórica da Internet, análise dos conceitos de cibercultura, 
inteligência coletiva e web colaborativa, bem como o conceito de pirataria e 
compartilhamento de arquivos. E por fim considerações acerca da criação difusa e 
processos de criação em rede. 
Por opção metodológica, o texto da monografia foi estruturado em quatro 
unidades. A primeira corresponde a esta introdução que contém a descrição do 
objeto de investigação, os objetivos gerais e específicos e a metodologia 
empregada. A segunda unidade aspectos acerca dos fundamentos do direito autoral, 
no qual compreende as noções de direito autoral, sua evolução histórica, os 
fundamentos constitucionais e legais vigentes e as modalidades de obras 
protegidas. A terceira unidade contém a análise do conceito de Sociedade em Rede, 
onde é dissertado acerca da Internet e seu histórico, bem como os conceitos de 
cibercultura, inteligência coletiva e Web Colaborativa. Por fim, na última unidade são 
apresentadas as conclusões da pesquisa, com o resgate dos problemas de 
investigação e a descrição sucinta dos conteúdos que permitiram cotejar as 
hipóteses inicialmente formuladas. 
Para o desenvolvimento da pesquisa, foi empregado o método dedutivo. 
Assim, foram abordadas questões gerais partindo do pressuposto de existência de 
uma Sociedade em Rede, conceito este que contêm outros como a Internet e 
compartilhamento de arquivos, por onde se pode chegar às situações particulares, 
tais como as implicações na tutela individual do autor. 
 
11 
 
2 FUNDAMENTOS DO DIREITO AUTORAL 
2.1 NOÇÕES DE DIREITO AUTORAL 
A humanidade, passando por seus diversos estágios de evolução, tem como 
marca histórica a criatividade, que não encontra limites, e foi capaz de impulsionar o 
surgimento de inúmeras criações, desde a antiguidade até as criações da 
contemporaneidade, como a internet e o desenvolvimento de estruturas tecnológicas 
que desenvolvem a chamada globalização e encaminham para integração da 
consciência coletiva. 
A fim de estabelecer parâmetros de domínio sobre a criação surge a 
regulamentação do Direito Autoral, que na atualidade pode ser definido como um 
ramo do Direito que visa à proteção das prerrogativas patrimoniais e morais ao 
criador, incidentes sobre expressões de cunho intelectual. Essas prerrogativas 
asseguram o direito de exclusividade no uso, fruição e disposição da obra, haja vista 
seu caráter potencial de exploração econômica. 
O Direito Autoral é parte integrante do conceito de Propriedade Intelectual, e 
faz referência ao rol dos direitos dos autores e de suas obras, sejam elas literárias, 
artísticas e científicas. A doutrina clássica fez a divisão desses direitos em Direitos 
Morais – de natureza pessoal – e direitos patrimoniais – que envolvem os atos de 
dispor, fruir e utilizar a obra sob qualquer forma.2 
Segundo Abrão: 
No início, criação e idéia se confundem no intelecto do autor, etapa 
inicial de um longo processo que vai resultar na obra. Do intelecto 
passa para um papel, uma fita magnética, uma tela ou outro suporte, 
mas ainda não passa de um projeto, de um esboço, de um ensaio. 
Até esse momento a obra só existe na órbita privada do autor: uma 
espécie de nascituro, gestado longa e cuidadosamente até o 
momento do nascimento, isto é, de sua publicação. A publicação 
marca a etapa final do processo de criação, é o momento de a obra 
vir ao conhecimento de uma ou mais pessoas, com as mesmas 
2 MARCIAL, Fernanda Magalhães. Os direitos autorais, sua proteção, a liberalidade na internet e o 
combate à pirataria. Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 75, abr 2010. Disponível em: 
<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7307>. 
Acesso em: 8 fev 2016.. 
 
 
12 
 
características com que vai ganhar o grande público. A partir daí, 
autor é um nome, porque a obra passa a ter vida própria.3 
O objeto protegido pelo Direito Autoral pode ser definido como bem 
intelectual, que é a fixação de uma criação legalmente protegida em um meio 
tangível ou intangível4. 
Pode-se dizer que esse bem intelectual pouco se diferencia do conceito de 
informação, uma vez que pode ser reduzido a informações transmitidas pelo titular 
do bem ao seu destinatário, e justamente o valor dessa informação, em última 
análise, é que interessa ao sistema jurídico de proteção dessa propriedade 
intelectual.5 
Segundo Gama e Garcia: 
[...] a informação é um bem cultural e social, um valor de progresso e 
cultura e, assim como o conhecimento, enriquece-se mediante o 
intercâmbio. O direito que a regulamenta não deve se ocupar 
somente dos interesses comerciais e de curto prazo, mas deve 
buscar o sutil equilíbrio entre os titulares dos direitos (o benefício da 
criação e/ou do investimento econômico) e os possíveis usuários da 
informação.6 
Barbosa defende a ideia de que a cada espécie de informação, com suas 
peculiaridades intrínsecas, pode ser atribuída uma categoria diferenciada do direito 
de propriedade intelectual, e que a informação dotada de características estéticas 
deve ser tutelada pelo direito autoral.7 
3 ABRÃO, apud ARAYA, Elizabeth Roxana Mass. Informação na Web Colaborativa: olhar para o 
direito autoral e as alternativas emergentes. 2009. 138 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Pós-
Graduação em Ciência da Informação, Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual 
Paulista Júlio de Mesquita Filho, Marília, 2009. Disponível em: 
<https://www.marilia.unesp.br/Home/Pos-Graduacao/CienciadaInformacao/Dissertacoes/araya_ 
erm_me_mar.pdf>. Acesso em: 6 jun. 2016. 
4 BARBOSA, Cláudio R. Propriedade intelectual: introdução à propriedade intelectual como 
informação. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, p. 12 
5 BARBOSA, 2009, p. 56. 
6 GAMA Janete Gonçalves de Oliveira; GARCIA,Leonardo Guimarães. Direito à Informação e 
Direitos Autorais: desafios e soluções para os serviços de informação em bibliotecas 
universitárias. João Pessoa, Informação & Sociedade: Estudos, v. 19, n. 2, p. 151-162, 
maio/ago. 2009. Disponível em: <http://www.ies.ufpb.br/ojs/index.php/ies/article/download/ 
1781/3031>. Acesso em: 6 jun. 2016.. 
7 BARBOSA, 2009, p. 61. 
 
 
13 
 
Nesse sentido, informação é uma simples conversa sobre a previsão 
do tempo ou dados sobre processos de fabricação de um 
determinado produto, o conteúdo de um filme, características 
técnicas de produtos, notícias, livros, bases de dados, propagandas, 
histórias, folclore, marcas, patentes. Enfim, tudo pode ser entendido 
como informação, desde que contenha alguns elementos básicos 
como, por exemplo, ser inteligível, relevante, completa, oportuna e 
confiável.8 
Sendo assim, a obra artística, por exemplo, “é o meio de comunicação de 
uma informação estética”9. Barbosa também afirma que “a informação pode ser 
considerada sob o prisma econômico um bem público porque pode ser consumida 
por várias pessoas, simultaneamente, sem qualquer atenuação de suas 
características”10. 
Para que a criação se efetive o autor na verdade não começa 
completamente do zero, mas dispõem de um amplo acervo cultural de conteúdo 
intelectual preexistente, informações essas que hoje estão disponíveis em meio 
eletrônico através da Internet, o que torna justo a limitação temporal dos direitos 
patrimoniais decorrentes da tutela do autor.11 
A criatividade é um dos alicerces de sustentação do Direito Autoral, uma vez 
que “a tutela extensa do direito de autor só é justificada pela criatividade, pelo que, 
se não houver uma base de criatividade, nenhuma produção pode franquear os 
umbrais do Direito de Autor”.12 
No ensinamento de Varela: 
[...] os direitos exclusivos dão ao titular o poder de impedir que 
terceiros usem comercialmente, sem autorização, o conhecimento 
protegido, criando assim barreiras a sua difusão e uso. Os direitos de 
propriedade intelectual acarretam insuficiência de conhecimento, 
apesar de serem, por sua própria natureza, um bem não-
concorrencial.13 
8 BARBOSA, 2009, p. 66. 
9 BARBOSA, 2009, p. 66. 
10 BARBOSA, 2009, p. 11. 
11 BITTAR, Carlos Alberto. Direito de autor. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 2000. 
12 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito autoral. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1997, p. 3. 
13 VARELLA, Marcelo Dias (Org). Propriedade intelectual e desenvolvimento. São Paulo: Lex 
Editora, 2005, p. 35. 
 
 
14 
 
A regulamentação do Direito de autor visa resguardar a exclusividade da 
expressão intelectual e produção criativa humana, sendo assim, o Direito Autoral “é 
justificado pela tutela da criação e não pela repressão à imitação”14. Essa 
delimitação é importante, pois o que aqui está em discussão é a proteção à criação, 
uso e divulgação, e não a sua repressão, que tem lugar no meio do ramo de Direito 
Penal. 
Segundo Bittar: 
As relações regidas por esse Direito nascem com a criação da obra, 
exsurgindo, do próprio ato criador, direitos respeitantes à sua face 
pessoal (como os direitos de paternidade, de nominação, de 
integridade da obra) e, de outro lado, com sua comunicação ao 
público, os direitos patrimoniais (distribuídos por dois grupos de 
processos, a saber, os de representação e os de reprodução da 
obra, como, por exemplo, para as músicas, os direitos de fixação 
gráfica, de gravação, de inserção em fita, de inserção em filme, de 
execução e outros). 
Originalmente aquele que ostenta a qualificação de autor geralmente é o 
criador da obra artística, literária ou científica, no entanto a titularidade do direito 
patrimonial referente a essa obra pode ser assumida por terceiros, por vias 
derivadas, tal como a lei (sucessão civil), ou até mesmo por vontade do autor, 
decorrente de um vínculo contratual. Enfim, por princípio o suporte fático desse 
Direito é a criação, definida como “[...] a atividade intelectual que acrescenta obra 
não-existente ao acervo da humanidade. É o impulso psíquico que insere no mundo 
exterior forma original, geralmente pelo esforço intelectual de uma só pessoa”.15 
2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
O estudo da evolução histórica do direito autoral é importante, sobretudo, 
para compreender o momento e o contexto histórico em que a criação humana 
passou a ser considerada propriedade de uma pessoa, pois a partir daí podemos 
compreender o seu desenvolvimento e, quem sabe, antever os próximos passos e 
até mesmo propor soluções diante da análise do contexto histórico contemporâneo. 
14 ASCENSÃO, 1997, p. 3. 
15 BITTAR, 2000, p. 32-33. 
 
 
15 
 
Ao longo da história, o Direito Autoral como regulamentação não existia em 
tempos antigos, na Grécia Clássica e Roma, muito embora existisse a consciência 
da existência desses bens incorpóreos e de abundante produção artística16: 
A antiguidade não conheceu o sistema de direitos autorais como ele 
é concebido contemporaneamente. De fato, “das monumentais 
civilizações antigas que floresceram, anterior ou 
contemporaneamente à formação dos estados gregos, pouco nos 
revela a ciência a respeito das possibilidades de existência dos 
direitos de autor”.17 
Em Roma, as obras eram reproduzidas por meio de cópias manuscritas, e 
apenas os copistas eram remunerados pelo seu trabalho, considerados verdadeiras 
criações artísticas. Os autores nada recebiam: só lhes eram reconhecidas a glória e 
as honras, quando lhes respeitavam a paternidade e a fidelidade ao texto original.18 
Complementando o pensamento anterior, Barbosa corrobora a informação 
de que no período antigo não havia regulamentação, bem como nos diz que havia 
certa forma de proteção ou limitação das informações, notadamente em razão de 
interesses estatais: 
Na antiguidade a transmissão de informações privilegiadas não 
implicava necessariamente a existência de um sistema jurídico que 
as protegesse. Muitas das informações eram limitadas aos guerreiros 
ou sacerdotes, sendo conservada como segredo, não pelas 
características da informação em si, mas em função de seu objetivo 
e utilização. Assim, certa forma de proteção às informações sempre 
existiu, ainda que inicialmente limitada às questões religiosas ou 
estatais, ou seja, apenas se atribuía a importância às informações 
que desempenhavam ou consubstanciavam uma característica 
pública19 
Embora não regulamentado, algumas bases sociais e materiais que vieram a 
possibilitar o surgimento do Direito de Autor, na Modernidade, de certa forma, 
estavam presentes já desde os tempos mais primórdios da escrita humana, 
passando pela época das civilizações clássicas, Grécia e Roma antiga, bem como 
16 MENEZES, Elisângela Dias. Curso de direito autoral. Belo Horizonte: Del Rey, 2007. p. 21. 
17 BRANCO JÚNIOR, Sérgio Vieira. Direitos autorais na internet e o uso de obras alheias. Rio 
de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 11. 
18 GANDELMAN, Henrique. De Gutenberg à internet: direitos autorais na era digital. 4. ed.. Rio de 
Janeiro: Record, 2001, p. 29. 
19 BARBOSA, 2009, p. 21. 
 
 
16 
 
não se pode deixar de mencionar a existência de sociedades orientais. No entanto, a 
problemática e a discussão da proteção e regulamentação do Direito de autor surgiu 
com a invenção da impressão gráfica. No século XV, Gutemberg revolucionou a 
comunicação e a expressão humana com a invenção dos tipos móveis e a 
possibilidade de fixar-se a escrita, de tal forma que as ideias e suas mais diversas 
expressões puderam ser reproduzidas e difundidasem escala industrial.20 
Pois bem, se a invenção da imprensa de tipos móveis foi um 
elemento chave para essa transformação na literatura e nas formas 
de transmissão de um tipo de conhecimento, é porque ela marca o 
início de uma lenta transição de uma cultura oral para a cultura 
escrita.21 
Cumpre observar que “a invenção da tipografia e da imprensa, no Século 
XV, revolucionou os direitos autorais porque os autores passaram a ter suas obras 
tornadas disponíveis de maneira muito ampla”.22 E a por conta da facilidade da 
reprodução da escrita e possibilidade de difusão de ideias “começa então a surgir 
também certa forma de censura, que se dava por meio da concessão dos privilégios 
pelos governantes, que eram temporários e estavam sujeitos a ser revogados, de 
acordo com os interesses dos próprios concedentes.” 23 
Devido a essa possibilidade que se tinha de espalhar ideais contrários ao 
bem de regimes absolutistas, vigentes à época, os Estados europeus, bem como a 
Igreja, não viam com bons olhos a facilitação que a imprensa possibilitava no 
domínio da escrita, tanto é que o seu uso sem permissão poderia causar pena de 
morte e perseguições, na época eram voltadas aos livreiros, que eram uma classe 
econômica emergente formada e organizada no artifício da impressão e à venda de 
livros.24 
20 GANDELMAN, 2001, p. 30. 
21 CRUZ, Leonardo Ribeiro. Internet e direito autoral: o ciberespaço e as mudanças na 
distribuição cultural. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Faculdade de Filosofia e 
Ciências da Universidade Estadual Paulista. São Paulo, 2008, p. 23. 
22 BRANCO JÚNIOR, 2007, p. 13. 
23 BRANCO JÚNIOR, 2007, p. 30. 
24 CESAR, Daniel Jorge Teixeira. A cultura da cópia: estudo sobre o compartilhamento de 
arquivos e a prática da pirataria virtual. 2013. 107 f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - 
Universidade de Brasília, Brasília, 2013., p. 22. 
 
 
17 
 
Para fugir da perseguição do Estado, a solução foi a criação de um mercado 
ilegal de livros piratas, e a adaptação dos maquinários a formas móveis para que 
pudessem fugir com mais facilidade dos oficiais do governo, mantendo assim esse 
ofício na clandestinidade.25 
No Século XVII, com o crescimento da demanda pelos livros oferecidos 
nesse mercado, que lucrava com o a distribuição da filosofia iluminista, as guildas – 
como eram chamadas as associações dos profissionais livreiros, foram se 
estabelecendo economicamente e ganhando influência sobre o poder instituído, ou 
seja, Igreja e Estado, sendo posteriormente conquistada legitimidade e a criação de 
Leis para proteção de seu ofício.26 
No início, após a invenção da imprensa, a tutela do direito autoral era 
direcionada à empresa, segundo Ascensão, “Dá-se um privilégio, ou monopólio, ao 
impressor. O que significa que a ratio da tutela não foi proteger a criação intelectual 
mas sim, desde o início, proteger os investimentos.”27 
Diante disso percebe-se o papel do Estado regulador das atividades de 
criação e reprodução de conteúdo, com a finalidade de evitar que a propagação de 
informações e ideias possibilitassem conflitos ideológicos. “Desta maneira, exercia-
se sutilmente, também, uma forma de censura prévia, pois só eram licenciados 
aqueles livros que não ofendessem os interesses (políticos, principalmente) dos 
licenciadores.”28 
Em que pese essa informação de que havia a intenção de propagar 
ideologias por meio da impressão de livros, Cesar nos diz que: 
Não se pode afirmar com certeza que a impressão de livros proibidos 
era realizada com base em ideologia, porém, mais provavelmente, 
para alimentar a demanda de mercado. Mas a importância do 
crescimento da atividade foi tal que, sem a difusão da prensa de 
tipos móveis a reforma protestante não seria possível, bem como o 
25 CESAR, 2013, p. 22. 
26 CESAR, 2013, p. 22. 
27 ASCENSÃO, 1997, p. 4. 
28 ASCENSÃO, 1997, p. 31. 
 
 
18 
 
iluminismo, que teve suas idéias espalhadas pela Europa graças à 
facilidade em reproduzir textos e enviá-los para outros países.29 
Foi na Inglaterra, com o Estatuto da Rainha Ana (Statute of Anne), em 1709, 
que passou a existir propriamente uma regulamentação legal para o Direito de Autor, 
quando foi eliminada a censura e reconhecido então como “copyright”. Mas trata-se 
essa regulamentação de uma concessão de privilégio. Esse privilégio real (royalty) 
dava direito e proteção por 21 anos para obras impressas, e 14 anos para obras não 
impressas.30 
Conforme doutrina de Alves e Pontes31: 
A origem do sistema inglês moderno de proteção autoral ou copyright 
remonta, em termos legais, ao Estatuto da Rainha Ana (Statute of 
Anne), datado de 1709. Esse estatuto, aprovado pelo Parlamento 
inglês e considerado o primeiro texto legislativo moderno a organizar 
o tema, acabou com a perpetuidade (limitando o tempo de proteção 
da obra), eliminou a censura ou controle prévio (permitindo a 
qualquer um ser editor e impressor) e fez do copyright um direito não 
mais dos editores, mas dos autores. 
Com a Revolução Francesa, que pretendia a abolição dos privilégios reais, 
buscando a consolidação de um novo modelo de Direito pautado na lei, e com seus 
reflexos nos direitos individuais, o sistema de privilégios começaria a deixar de 
existir, juntamente com o Antigo Regime.32 
A partir de então houve uma mudança de concepção na primazia da obra, 
que passou a ser do autor sobre a obra. Dessa forma, o “droit d’auteur” francês 
propunha um enfoque também nos aspectos morais, direito ao ineditismo, 
paternidade e integridade da obra. Essa proteção se estendia por toda vida do autor, 
inclusive após a morte, quando se transferia para seus sucessores os direitos morais 
e patrimoniais.33 
29 CESAR, 2013, p. 22. 
30 ASCENSÃO, 1997, p. 31. 
31 ALVES, Marco Antônio Sousa; PONTES, Leonardo Machado. O direito de autor como um direito 
de propriedade: um estudo histórico da origem do copyright e do droit d'auteur. XVIII Congresso 
Nacional do CONPEDI, São Paulo, 2009, p. 9870-9890. Disponível em <http://www. 
publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/sao_paulo/2535.pdf>. Acesso em: 21 fev. 
2016. 
32 MENEZES, 2007, p. 23. 
33 GANDELMAN, 2001, p. 32. 
 
 
19 
 
No plano internacional a regulamentação inglesa veio a ter influência no 
direito dos Estados Unidos, onde serviu de modelo para a legislação norte-
americana de 1790, bem como para outros estatutos, e inclusive veio a fazer parte 
da Constituição dos Estados Unidos, na cláusula do progresso das artes e das 
ciências, que entende o copyright como instrumento criado para “promover o 
progresso da ciência e das artes úteis, garantindo, por tempo limitado, aos autores e 
inventores o direito exclusivo aos seus escritos ou descobertas”.34 
Assim, coexistem no plano internacional dois sistemas de direito autoral, de 
origem inglesa e francesa: o sistema continental europeu é o chamado direito de 
autor “droit d’ auteur”, assentado na tutela da criação com enfoque no autor, e o 
sistema anglo americano do copyright, que é centrado na tutela do exemplar.35 
Percebe-se que o início do direito autoral pode ser resumido na composição 
de interesses econômicos e políticos, e que não se queria proteger prioritariamente a 
obra em si, mas os lucros que dela eram fruto.36 
Nas palavras de Branco Júnior: 
Vê-se, com clareza, que o alvorecer do direito autoral nada mais é 
que a composição de interesses econômicos e políticos. Não se 
queria, então, proteger prioritariamente a “obra” em si, mas sim os 
lucros que dela podem advir. É evidente que ao autor interessava 
também ter a obra protegidaem razão da fama e da notoriedade de 
que poderia vir a desfrutar, mas essa preocupação vinha, sem 
dúvida, por via transversa.37 
Em 1886, num contexto de insatisfação dos autores por conta de diversos 
problemas de ordem prática advindos das criações legais que regulamentavam o 
direito de autor, que representantes de diversos países se reuniram em Berna, na 
Suíça, com a finalidade de estabelecer padrões mínimos de proteção aos direitos 
dos autores de obras literárias, artísticas e científicas. Dessa forma, a Convenção de 
34 ALVES; PONTES, 2009, p. 9870. 
35 ASCENSÃO, 1997, p. 5. 
36 BRANCO JÚNIOR, 2007, p. 15. 
37 BRANCO JÚNIOR, 2007, p. 15. 
 
 
20 
 
Berna veio a servir de base para a elaboração das legislações sobre direito autoral 
no mundo.38 
No Brasil, a história da regulamentação do Direito Autoral é relativamente 
recente, e data do Brasil Imperial. Anteriormente, no período colonial a imprensa era 
proibida e não havia estímulo à evolução da impressão gráfica, sendo que a 
legislação era submetida ao ordenamento jurídico português, e mesmo após a 
independência, durante o período regencial, o direito autoral era baseado no antigo 
sistema de privilégios reais.39 
Segundo aponta Barbosa, foi a Lei de criação das Faculdades de Direito de 
Olinda e de São Paulo, em 11 de agosto de 1827, que definiu o marco de referência 
em termos de direitos de autor no Brasil40 e o início das primeiras discussões 
relacionadas ao assunto, uma vez que essa Lei concedeu aos professores 
universitários o direito sobre a sua obra, conforme se verifica no art. 7º: 
Art. 7.º - Os Lentes farão a escolha dos compêndios da sua 
profissão, ou os arranjarão, não existindo já feitos, contanto que as 
doutrinas estejam de acordo com o sistema jurado pela Nação. estes 
compêndios, depois de aprovados pela Congregação, servirão 
interinamente; submetendo-se porém à aprovação da Assembléia 
Geral, e o Governo os fará imprimir e fornecer às escolas, 
competindo aos seus autores o privilégio exclusivo da obra, por dez 
anos 
Embora houvesse referência, bem como o Código Criminal de 1830 previsse 
o crime de violação dos direitos autorais, a primeira regulamentação que tratava 
especificamente sobre a proteção autoral foi a Lei 496/1898, chamada de Lei 
Medeiros e Albuquerque. 
Até o advento dessa lei, no Brasil, a obra intelectual era terra de 
ninguém. Tanto era assim que Pinheiro Chagas, escritor português, 
reclamava ter no Rio de Janeiro um ‘ladrão habitual’, que ainda tinha 
a audácia de lhe escrever dizendo: ‘Tudo que V. Exª publica é 
admirável! Faço o que posso para o tornar conhecido no Brasil, 
reimprimindo tudo!’ O que ocorria é que, na época, era comum 
38 BRANCO JÚNIOR, 2007, p. 18. 
39 MENEZES, 2007, p. 25. 
40 BARBOSA, Denis Borges. Uma introdução à propriedade intelectual. [2001-?] Disponível em: 
<http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/138491/course/section/56497/Texto%2001.pdf>. 
Acesso em: 21 fev. 2016, p. 9. 
 
 
21 
 
pensar-se que a obra estrangeira, ainda mais do que a nacional, 
podia ser copiada indiscriminadamente.41 
Posteriormente, o direito autoral passou a integrar o Direito Civil, regulado 
pelo Código Civil de 1916, que revogou a Lei anterior, e regulamentou o Direito 
Autoral em capítulo da Propriedade em Geral, no seu artigo 524, parágrafo único, 
que tratou da propriedade literária, científica e artística; e assim o Direito Autoral 
permaneceu dentro do campo civilista, onde foi posteriormente modificado por leis 
esparsas, até que após a renovação dos Códigos, decidiu-se editar uma lei 
específica que regulamentou a matéria. 
Foi em 1973 que foi editada no Brasil a primeira Lei que tratou 
especificamente de Direitos Autorais, que acabou por derrogar completamente os 
artigos que tratavam da matéria no Código Civil. Essa Lei era uma compilação das 
normas anteriores e estava em conformidade com as diretrizes da Convenção de 
Berna, que ocorreu na Suíça, em 1886.42 
Desde a Lei Medeiros de Albuquerque até a promulgação da lei de direitos 
autorais em 1973, surgiram várias regulamentações legais que visavam não só o 
direito autoral, mas também temas correlatos, tais como organização das empresas 
de diversão e locação de serviços teatrais, dentre inúmeros outros. Essa lei de 1973 
vigorou até a promulgação da Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que atualmente 
regula em todo território nacional os direitos autorais.43 
De acordo com Cesar podemos concluir que: 
Esse é um modelo que predominou até o final do século XX, quando 
a indústria, que ainda controlava o modo como a informação era 
produzida e reproduzida, pois tinha o poder de determinar como e 
quando bens intelectuais poderiam ser acessados, perdeu o controle 
sobre os modos de produção, com o avanço da tecnologia. Com 
inovações como o computador pessoal e o desenvolvimento das 
TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação), grupos de 
indivíduos criaram a possibilidade de, por meio de copiadoras de 
disco, ou qualquer outra forma de input de dados, e uma conexão 
com a internet, reproduzir a informação nas mídias e estabelecer 
uma rede de troca de informações e bens culturais e intelectuais, 
41 BRANCO, Sérgio; PARANAGUÁ, Pedro. Direitos autorais. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009, 
p. 18. 
42 MENEZES, 2007, p. 26. 
43 BRANCO JÚNIOR, 2007, p. 20. 
 
 
22 
 
formando comunidades de internet baseadas no compartilhamento 
de arquivos.44 
2.3 FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL E LEGAL 
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, podemos observar 
que houve uma especial atenção no domínio das relações civis, a começar pelos 
próprios fundamentos da República Federativa do Brasil, onde se situa o princípio da 
dignidade da pessoa humana, bem como o comentado artigo 5º, onde são 
consagrados preceitos civis fundamentais, como por exemplo, a propriedade privada 
e sua função social.45 
O direito autoral recebeu especial tutela na Constituição Federal de 1988, 
uma vez que assegura no seu artigo 5º, inciso XXVII, que “aos autores pertence o 
direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, 
transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar”. 
A matéria consta do art. 5º, XXVII, que contém duas normas bem 
distintas. A primeira e principal confere aos autores o direito 
exclusivo de utilizar, publicar e reproduzir suas obras, sem 
especificar, como faziam as Constituições anteriores; mas, 
compreendidos e, conexão com o disposto no inciso IX do mesmo 
artigo, conclui-se que são obras literárias, artísticas, científicas e de 
comunicação. Enfim, aí se asseguram os direitos do autor de obra 
intelectual, reconhecendo-lhe, vitaliciamente, o chamado “direito de 
propriedade intelectual”, que compreende direitos morais e 
patrimoniais [...]46 
A tutela constitucional do direito de autor não busca fundamento somente no 
artigo 5º, pois o artigo 215 prevê que cabe ao Estado garantir a todos “o pleno 
exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e 
incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais” e o artigo 216 diz 
que “constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, 
tomados individualmente ou em conjunto [...]” 
44 CESAR, 2013, p. 10-11. 
45 REALE, Miguel. A Constituição e o Código Civil. 2003. Disponível em: 
<http://www.miguelreale.com.br/artigos/constcc.htm>. Acesso em: 11. jun. 2016. 
46 SILVA apud OLIVEIRA, 2011. 
 
 
23 
 
Colhe-se de julgado do Superior Tribunal de Justiça: 
Relevante salientarque o direito autoral está inserido no rol dos 
direitos e garantias constitucionalmente protegidos (art. 5º, XXVII, 
Constituição Federal). Dessa forma, a sua violação extrapola a 
individualidade do prejudicado, devendo ser tratada como ofensa ao 
Estado e a toda a sociedade. A proteção à propriedade intelectual e 
o combate à pirataria vão muito além da proteção individual, porque 
a produção descontrolada de obras individuais acarreta a diminuição 
na arrecadação de impostos, diminui a oferta de empregos formais, 
além de fortalecer o poder paralelo e a prática de atividades 
criminosas. Por isso, é de mister estimular a formação de uma 
consciência coletiva de respeito aos direitos autorais.47 
No Brasil, foi editada a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 (também 
referida neste trabalho como LDA), que atualmente rege o direito autoral pátrio. 
Segundo o art. 1º da Lei autoral brasileira, essa regula os direitos de autor, bem 
como os que lhes são conexos. 
Os direitos autorais são protegidos tanto na área cível, como penal. 
Importante ressaltar que além das sanções civis previstas na Lei 9.610/98, o Código 
Penal Brasileiro também prevê no seu artigo 184 a punição na esfera criminal para 
aquele que comete o crime de violação dos direitos de autor e os que lhe são 
conexos. 
A Lei de direitos autorais define no seu artigo 11, traz de forma resumida, 
que o autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica, 
podendo ser concedida proteção às pessoas jurídicas nos casos previstos na lei.48 
Ascensão nos diz que: 
O princípio deve ser fixado com toda a clareza: o autor é o criador 
intelectual da obra. A obra literária ou artística exige uma criação, no 
plano do espírito: autor é quem realiza essa criação. Há exceções, 
como veremos, mas nem por isso o princípio deve deixar de ser 
proclamado com nitidez.49 
47 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial Nº 1.525.230, Brasília, DF, 27 maio 
2015. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/decisoes/toc.jsp?processo=1.525.230&&b= 
DTXT&thesaurus=JURIDICO> Acesso em: 30 maio 2016 
48 OLIVEIRA, 2011. 
49 ASCENSÃO, 1997, p. 70. 
 
 
24 
 
Segundo ensinamento de Abrão, temos que o autor será sempre uma 
pessoa física, enquanto que o titular do direito autoral poderá ser pessoa física ou 
jurídica: 
O sujeito de direito autoral criador de uma obra estética é sempre 
uma pessoa física, não importando sua condição pessoal, social, 
política ou jurídica, ou sua crença espiritual. O titular do direito 
deverá ser uma pessoa física ou jurídica, que adquiriu essa condição 
por transferência contratual ou decorrência natural (morte do autor). 
Autor como pessoa jurídica originária, é qualidade adquirida por 
presunção legal, caso da obra coletiva.50 
A questão da distinção entre autor e titular da obra é importante, já que a lei, 
atendendo a princípio lógico, estabeleceu que apenas a pessoa física poderá ser 
autora, pois apenas o ser humano seria capaz de criar. Dito isto, podemos afirmar 
que a pessoa jurídica não pode criar, exceto por meio das pessoas físicas que fazem 
parte dos seus quadros, nesse caso então os autores são pessoas físicas. Já a 
titularidade pode ser atribuída tanto à pessoa física, quanto à pessoa jurídica, e tanto 
uma como a outra poderão transferir sua titularidade para qualquer terceiro, 
legitimando-o a exercer direitos sobre a obra.51 
Conforme o artigo 12 da LDA: 
Para se identificar como autor, poderá o criador da obra literária, 
artística ou científica usar de seu nome civil, completo ou abreviado 
até por suas iniciais, de pseudônimo ou qualquer outro sinal 
convencional. 
Diante disso, podemos assumir que o autor não precisa identificar seu nome 
verdadeiro, podendo substituí-lo por pseudônimo, bem como por sinais gráficos, e 
para isso basta que o autor assim se apresente, conforme dispõe o artigo 13 da 
LDA: 
Considera-se autor da obra intelectual, não havendo prova em 
contrário, aquele que, por uma das modalidades de identificação 
referidas no artigo anterior, tiver, em conformidade com o uso, 
indicada ou anunciada essa qualidade na sua utilização. 
50 ABRÃO apud OLIVEIRA, 2011. 
51 BRANCO; PARANAGUÁ, 2009, p. 39. 
 
 
25 
 
2.4 MODALIDADES DE OBRAS PROTEGIDAS: INDIVIDUAL, COAUTORIA E 
COLETIVA 
O artigo 7º da Lei de direitos autorais dispõe que são “obras intelectuais 
protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em 
qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro 
[...]”52. Nesse sentido, não é levado em consideração aonde a obra venha a ser 
fixada, podendo ser em qualquer meio, existente ou que venha a existir.53 
Nos dizeres de Poli: 
A definição da LDA se mostra confusa e, em princípio, redundante 
uma vez que tenta justapor as nomenclaturas francesa (criação do 
espírito) e italiana (criação do intelecto). Por outro lado, pode-se 
considerar existir uma sutileza na definição legal: a de que tudo o 
que é produzido pelo intelecto humano é obra intelectual, mas nem 
toda obra intelectual poderia ser considerada uma criação do 
espírito. Logo, só receberiam a tutela autoral as obras intelectuais 
que puderem ser consideradas criações do espírito.54 
Tais obras podem ser classificadas, de acordo com a legislação vigente, em 
obras de autoria individual, coautoria ou obras coletivas, uma vez que podem ser 
criadas por uma só pessoa (autor individual), por mais de um autor (coautoria) ou 
por uma terceira pessoa ou organização, que faz a compilação das contribuições 
individuais para criar uma terceira obra (coletiva).55 
A obra individual leva esse nome justamente pelo fato de que existe apenas 
um autor, sendo que para as obras com mais de um autor é prevista a figura da 
coautoria. A esse autor individual pertencem os direitos morais e patrimoniais 
decorrentes da criação. Nesse sentido, podemos observar que o nosso 
ordenamento jurídico, o que compreende a regulamentação do direito de autor: 
52 BRASIL. Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação 
sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm> Acesso em: 12 Jun. 2016. 
53 OLIVEIRA, Jane Resina F. de. Considerações sobre a proteção dos direitos autorais nas obras 
multimídia, coletiva e sob encomenda. Migalhas, out, 2012. Disponível em: 
<http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI166368,71043>. Acesso em: 12 jun. 2016. 
54 POLI, Leonardo Macedo. Direito autoral: parte geral. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. p.107. 
 
 
26 
 
[...] possui bases na tutela individual, ou seja, o cidadão, verificando 
desobediência de seus direitos, busca o Poder Judiciário a fim de ver 
obter suas garantias legais. Entretanto, a disparidade entre as 
pretensões legislativas e a realidade dos cidadãos, que leva a baixa 
efetividade da tutela jurisdicional, levou a construção de um sistema 
processual que permitisse a justiça social, muito embora sofra 
acirradas críticas e rejeições por parte dos clássicos operadores do 
direito. 56 
Enquanto que na Lei anterior que regia os direitos autorais no Brasil, ao falar 
das modalidades de obras, fazia referência à obra em colaboração, nesse sentido 
entendia-se que o termo colaboração prestava-se a diferentes interpretações, 
podendo o colaborador ser apenas um auxiliar técnico, que nesse caso não seria 
considerado autor, conforme o parágrafo único do artigo 14 da Lei nº 5.988, de 14 de 
dezembro de 1973, que previa: 
Não se considera colaborador quem simplesmente auxiliou o autor 
na produção da obra intelectual,revendo-a, atualizando-a, bem como 
fiscalizando ou dirigindo sua edição ou sua apresentação pelo teatro, 
cinema, fotografia ou radiodifusão sonora ou audiovisual.57 
Já na Lei vigente temos as figuras da coautoria e da obra coletiva, que 
vieram em substituição ao termo colaboração.58 
A coautoria verifica-se, como a própria lei diz, quando uma ou mais 
pessoas participam de um mesmo trabalho criativo. Dois 
profissionais podem, em conjunto, a quatro mãos , elaborar um 
tratado, um texto indivisível. A obra coletiva é diferente. Ela é criada 
a partir da "iniciativa, organização e responsabilidade de uma pessoa 
física ou jurídica, que a pública sob seu nome ou marca e que é 
constituída pela participação de diferentes autores, cujas 
contribuições se fundem numa criação autônoma." O exemplo mais 
expressivo seria um dicionário ou enciclopédia. É, também, o caso 
55 ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA. Tipos de obras (individual, 
coautoria, coletiva). Disponível em: <http://www6.ensp.fiocruz.br/repositorio/node/368247> 
Acesso em: 11 Jun. 2016 
56 BASTOS, Roseli Quaresma. Tutela dos direitos coletivos frente ao enfoque individualista 
encontrado no ordenamento jurídico brasileiro. Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 93, out 
2011. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_ 
leitura&artigo_id=10467>. Acesso em: 8 jun. 2016. 
57 BRASIL. Lei nº 5.988, de 14 de dezembro de 1973. Regula os direitos autorais e dá outras 
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5988.htm> Acesso em: 
12 jun. 2016. 
58 CABRAL, Plínio. A nova lei de direitos autorais: comentários. Disponível em: 
<http://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/2566-2560-1-PB.pdf>. Acesso em: 11 jun. 
2016. p. 24-25. 
 
 
27 
 
em que a pessoa jurídica pode ser titular originaria de direitos 
autorais. No caso das obras em coautoria há mudança significativa 
de uma palavra.59 
A diferença entre o instituto da coautoria e da obra coletiva está no fato de 
que, quando há participação de mais de um autor no processo criativo de uma obra, 
podemos falar em coautoria, sendo que ambos os autores recebem de forma 
igualitária os direitos atinentes a ela. Já na obra coletiva há a centralização da 
autoria na figura de uma pessoa física ou jurídica, que é o organizador da obra, e a 
publica em seu nome ou marca.60 Assim, o conceito de obra coletiva é definido 
como sendo a criação por pessoas diferentes, mas tendo organização de uma 
pessoa singular ou coletiva. 
O artigo 5º, inciso VIII, alínea “h”, a Lei nº 9.610/98 deu a seguinte redação 
que define obra coletiva como sendo 
[...] a criada por iniciativa, organização e responsabilidade de uma 
pessoa física ou jurídica, que a publica sob seu nome ou marca e 
que é constituída pela participação de diferentes autores, cujas 
contribuições se fundem numa criação autônoma;61 
Diante disso, temos a seguinte disposição no artigo 15 da LDA: “Quando se 
tratar de obra realizada por diferentes pessoas, mas organizada por empresa 
singular ou coletiva e em seu nome utilizado, a esta caberá sua autoria.” 
O artigo 5º, inciso XXVIII, da Constituição Federal de 1988, dispõe que são 
assegurados, nos termos da lei: a proteção às participações individuais em obras 
coletivas e o artigo 17 da LDA estabelece que: 
Art. 17. É assegurada a proteção às participações individuais em 
obras coletivas. 
§ 1º Qualquer dos participantes, no exercício de seus direitos morais, 
poderá proibir que se indique ou anuncie seu nome na obra coletiva, 
sem prejuízo do direito de haver a remuneração contratada. 
§ 2º Cabe ao organizador a titularidade dos direitos patrimoniais 
sobre o conjunto da obra coletiva. 
59 CABRAL, 2016, p. 24-25. 
60 OLIVEIRA, 2012. 
61 BRASIL. Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação 
sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm> Acesso em: 12 jun. 2016. 
 
 
28 
 
§ 3º O contrato com o organizador especificará a contribuição do 
participante, o prazo para entrega ou realização, a remuneração e 
demais condições para sua execução. 
Com base no conceito legal, podemos dizer que o instituto da obra coletiva, 
embora reconheça a participação de várias pessoas no desenvolvimento de uma 
obra, ainda assim, pressupõe também a figura de um dirigente, organizador, ao qual 
se atribui de forma centralizada os direitos autorais patrimoniais. Nesse sentido, 
pode-se entender que a tutela da obra coletiva tem uma visão voltada à atividades 
empreendedoras. Nesse sentido Ascensão ensina que: 
A obra coletiva é a obra de empresa: resulta de uma organização de 
meios para o efeito da criação. A criação é manifestação exclusiva 
do espírito humano, mas a obra final resultante não pode sem 
artifício ser atribuída a nenhuma pessoa física interveniente, mas sim 
à própria empresa. A obra coletiva vem prevista especificamente no 
art. 17 LDA, mas de maneira insuficiente. A preocupação principal foi 
a de assegurar a proteção das participações individuais na obra 
coletiva, no seguimento aliás da previsão do art. 5.XXVIII a da 
Constituição, mas ficam muitos outros aspectos por regular.62 
Com relação ao regime da obra coletiva tratado na legislação vigente, 
podemos perceber que este instituto não regula os direitos do organizador sobre o 
conjunto, ao contrário da tutela dos direitos econômicos das participações individuais 
em obras coletivas, notadamente no que se refere aos casos de reutilização do 
conteúdo, ou seja, quando há reprodução parcial ou total da obra coletiva. 
Embora o caput do artigo 17 da referida Lei estabeleça a proteção das 
participações individuais em obras coletivas, ela só regula efetivamente os aspectos 
de direito moral do autor, estabelecendo que cabe ao organizador a titularidade dos 
direitos patrimoniais sobre o conjunto da obra coletiva.63 
62 ASCENSÃO, José de Oliveira. O direito autoral numa perspectiva de reforma. In: WACHOWICZ, 
Marcos; SANTOS, Manoel J. Pereira dos (Orgs.).Estudos de direito de autor: a revisão da lei 
de direitos autorais. Florianópolis: Boiteux, 2010. 
63 SANTOS, Manoel J. Pereira dos. Principais tópicos para uma revisão da lei de direitos autorais 
brasileira. In: WACHOWICZ, Marcos; SANTOS, Manoel J. Pereira dos (Orgs.). Estudos de 
direito de autor: a revisão da lei de direitos autorais. Florianópolis: Boiteux, 2010. 
 
 
29 
 
3 SOCIEDADE EM REDE 
3.1 BREVE HISTÓRICO DA INTERNET 
Estamos atualmente em uma etapa da evolução da humanidade 
notadamente marcada pela rápida e crescente transformação e expansão 
tecnológica. Esse período tem como característica a transformação de nossa cultura 
material por meio de um novo paradigma organizado em torno das Tecnologias de 
Informação e Comunicação (TICs). Essa expansão é oportunizada por uma 
linguagem digital comum, “na qual a informação é gerada, armazenada, recuperada, 
processada e transmitida”.64 
O sociólogo Manuel Castells defende a ideia de que estamos vivenciando 
uma nova ordem econômica e social, onde o centro dessas transformações está na 
revolução tecnológica concentrada nas TICs, sendo que “a difusão da tecnologia 
amplifica seu poder de forma infinita, à medida que os usuários apropriam-se dela e 
a redefinem”.65 Essa amplificação se justifica, segundo o autor, pois os 
computadores, sistemas de comunicação e decodificação podem ser considerados 
extensões da mente humana.66 
Nessa lógica,as novas tecnologias foram rapidamente difundidas a partir de 
meados dos anos 70 e se constituíram no eixo da revolução técnica e científica da 
informação.67 
O paradigma da tecnologia da informação é baseado na flexibilidade, uma 
vez que seus processos são reversíveis, suas organizações e instituições podem ser 
modificadas e até mesmo fundamentalmente alteradas, bem como seus 
componentes podem ser reorganizados. Essa capacidade de reconfiguração é um 
64 CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra. 1999. 
65 CASTELLS, 1999, p. 51. 
66 CASTELLS, 1999, p. 51. 
67 CASTELLS, 1999, p. 52. 
 
 
30 
 
aspecto decisivo justamente em uma sociedade caracterizada por constante 
mudança.68 
Ao desenvolver o conceito de sociedade em rede, não há como não associá-
lo ao que hoje conhecemos como Internet. Castells acredita que a integração 
potencial de textos, imagens e sons, no mesmo sistema e interagindo a partir de 
pontos múltiplos, em uma rede global de acesso aberto e preço acessível, pode 
mudar de forma fundamental o caráter da comunicação e com ela a própria 
cultura.69 
A Internet tem a capacidade de expandir seu alcance por meio da 
descentralização da estrutura dos meios de produção e distribuição da informação, 
cultura e do conhecimento.70 O seu surgimento data do final dos anos 50, em um 
contexto de tensão política e militar, quando o Departamento de Defesa dos Estados 
Unidos assumiu diversas iniciativas ousadas, algumas delas vieram a mudar a 
história da tecnologia e estabeleceram a chamada era da informação.71 
Segundo Araya: 
A internet, uma das principais TICs da contemporaneidade, propiciou 
a criação do ambiente informacional Web, gerador de mudanças 
significativas na sociedade quanto às formas de criação, recriação, 
compartilhamento, uso e reuso da produção intelectual registrada 
como conteúdo textual, imagético estático, em vídeo, ou áudio e 
quanto ao acesso e a disseminação da informação.72 
O embrião do que hoje conhecemos como Internet se deu por meio da 
criação de dois experimentos feitos em larga escala, chamados de “tecnologias da 
liberdade”, que foram induzidos pelo Estado: o MINITEL francês e a ARPANET 
norte-americana, esta que veio a ser sucedida pela internet. Tais projetos tinham 
68 CASTELLS, 1999, p. 78. 
69 CASTELLS, 1999, p. 354. 
70 BENKLER, Yochai. The Wealth of Networks: How Social Production Transforms Markets and 
Freedom. Yale University Press, New Haven and London, 2006. Disponível em: 
<http://www.benkler.org/Benkler_Wealth_Of_Networks.pdf>. Acesso em: 24 mar. 2016, p. 30. 
71 CASTELLS, 1999, p. 375. 
72 ARAYA, Elizabeth Roxana Mass. Informação na Web Colaborativa: olhar para o direito autoral 
e as alternativas emergentes. 2009. 138 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Pós-Graduação 
em Ciência da Informação, Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista 
Júlio de Mesquita Filho, Marília, 2009. Disponível em: <https://www.marilia.unesp.br/Home/Pos-
Graduacao/CienciadaInformacao/Dissertacoes/araya_erm_me_mar.pdf>. Acesso em: 6 jun. 2016 
 
 
31 
 
inicialmente uma finalidade militar de estratégia: possibilitar a operabilidade das 
redes de comunicação em caso de possível ataque nuclear.73 
Em 1969 foi então criada a ARPANET, uma rede entre centros de pesquisa 
científica que cooperavam com o Departamento de defesa dos EUA.74 A expansão 
dessa rede se deu também por consequência do resultado da interligação autônoma 
e alternativa75, facilitada pela tecnologia e pela integração. 
De certa forma, é possível afirmar que a internet é o resultado de uma “[...] 
uma rara mistura de estratégia militar, grande cooperação científica e inovação 
contracultural”. 
Nas origens da internet está o trabalho de uma das instituições de 
pesquisa mais inovadoras do mundo: a Agência de Projetos de 
Pesquisa Avançada do Departamento de Defesa dos Estados Unidos 
(DARPA). Quando, no final dos anos 50, o lançamento do primeiro 
Sputinik alarmou o establishment militar norte-americano de alta 
tecnologia, a DARPA assumiu várias iniciativas ousadas, algumas 
das quais mudaram a história da tecnologia e estabeleceram a era 
da informação em grande escala76. 
O conceito de Internet como conhecemos hoje em dia não somente foi 
possível com a criação das redes, mas a sua abrangência mundial se deve à World 
Wide Web, uma aplicação criada pelo programador inglês Tim Berners-Lee, que na 
época, década de 1990, quando era funcionário do CERN.77 
Não podemos deixar de considerar a importância da criação do modem, por 
dois estudantes de Chicago, que possibilitou a expansão e interligação das redes 
excluídas da ARPANET.78 
Apesar da Internet já ser uma realidade na mente de pessoas ligadas à 
informática desde os princípios dos anos 60, e desde o final dos anos 70, por terem 
se formado inúmeras comunidades interativas de cientistas, para as pessoas, 
73 CASTELLS, 1999, p. 366. 
74 CASTELLS, 1999, p. 375. 
75 CASTELLS, 1999, p. 28-29. 
76 CASTELLS, 1999, p. 375. 
77 CASTELLS, 1999, p. 31. 
78 CASTELLS, 1999, p. 377. 
 
 
32 
 
empresas e para a sociedade em geral a internet se tornou realidade a partir do ano 
de 1995.79 
Podemos considerar que o surgimento e desenvolvimento do conceito de 
computador pessoal, entre os anos de 1960 e 1970 se deu no mesmo contexto 
histórico da internet, e tanto a sua invenção como o desenvolvimento da informática, 
segundo dissertação de mestrado de Daniel J. Teixeira Cesar é resultado de uma 
pirataria tecnológica, em uma lógica de contravenção, assim como ocorreu no 
cinema, ou seja, da apropriação de conceitos e ideias, do qual é exemplo o mouse, 
que era uma interface que foi desenvolvida pela empresa Xerox, integrada pela 
Apple para clicar nos objetos que apareciam na tela do computador pessoal.80 
Com a difusão da internet, da World Wide Web, e do desenvolvimento dos 
computadores pessoais (PCs), houve uma apropriação da capacidade de ligação em 
rede por parte de redes sociais de todos os tipos, processo esse que conduziu, por 
assim dizer, à reinvenção da sociedade e à formação de uma cultura da Internet, 
construída sobre a crença do progresso humano por meio da tecnologia.81 
A “cultura hacker, com sua paixão pela descoberta, ideal de 
compartilhamento e de livre acesso ao conhecimento, também foi fator propulsor da 
Internet”, aliada à liberdade de criação e difusão de informações e ideias, o que 
possibilitou o desenvolvimento de projetos de pesquisa, experimentação e solução 
tecnológica.82 
3.2 CIBERCULTURA, INTELIGÊNCIA COLETIVA E WEB COLABORATIVA 
A transição da fixação da informação dos suportes analógicos para o meio 
digital transformou de maneira definitiva as formas de criação intelectual de 
conteúdo, pois as tecnologias de informação e comunicação (TICs), com suas 
79 CASTELLS, 1999, p. 33. 
80 CESAR, 2013, p. 25. 
81 CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre internet, negócios e sociedade. 
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, p. 82-84. 
82 ROCHA, Maria Célia Furtado; PEREIRA, Gilberto Corso. De consumidor a produtor de 
informação: participação pública no contexto da nova cultura tecnológica. Cadernos PPG-
AU/UFBA, v. 9, edição especial, 2010. Disponível em: <http://www.portalseer.ufba.br/ 
index.php/ppgau/article/view/5113>. Acesso em: 12 jun. 2016. p. 76. 
 
 
33 
 
diversas interfaces e seus múltiplos instrumentos, interferem nos modos de 
produção da informação, tornando homens e máquinas em um novo sistema 
hibridizado pelas formas de interação.83Sobre informação digital, Araya diz que: 
A informação digital, comparada com a informação analógica, é 
aquela codificada em um formato que o computador pode interpretar 
(codificação binária), portanto a computabilidade, a necessidade de 
um computador acompanhado de um software ou um algoritmo 
preciso, constitui-se em uma das propriedades. Qualquer morfologia 
de informação textual, imagética ou sonora é representada por esse 
único tipo de linguagem (bits: série de zeros e uns) que além de lhe 
atribuir a característica de virtualidade possibilita a multimídia, ou 
seja, a combinação de pelo menos um tipo de media estática (texto, 
fotografia, gráfico), com um tipo de mídia dinâmica (vídeo, áudio, 
animação). 
O desenvolvimento da tecnologia e da informática, que veio a se fundir com 
as telecomunicações, possibilitou primeiramente essa digitalização na produção e 
gravação de músicas, bem como a criação de novas formas de comunicação 
interativa. Essas tecnologias surgidas no final dos anos 80 e início dos anos 90 são, 
como aponta Lévy, como a infra-estrutura do cyberespaço, um novo espaço de 
comunicação, de sociabilidade, de organização e de transação, mas também novo 
mercado de informação e conhecimento.84’ 
Lévy propõe os seguintes conceitos ciberespaço e cibercultura: 
[...] O ciberespaço (que também chamarei de “rede”) é o novo meio 
de comunicação que surge da interconexão mundial dos 
computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura 
material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de 
informações que ele abriga, assim como os seres humanos que 
navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo 
“cibercultura”, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e 
intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de 
valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do 
ciberespaço.85 
O mesmo autor ainda aponta três princípios fundamentais que orientam o 
crescimento e desenvolvimento do ciberespaço: a interconexão, que podemos aqui 
83 ARAYA, 2009, p. 76. 
84 LÉVY, Pierre. Cybercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999, p. 32. 
85 LÉVY, 1999, p. 17. 
 
 
34 
 
entender como a ligação entre indivíduos por meio de computadores em rede e na 
internet; a criação de comunidades virtuais e a inteligência coletiva.86 
As comunidades virtuais são construídas com base em afinidades de 
interesses, conhecimentos, e projetos, em um contexto de cooperação ou troca de 
informações, independentemente de localização geográfica e de vinculação a 
instituições.87 
Por sua vez, a inteligência coletiva, que pode ser considerada como uma 
inteligência compartilhada que surge da colaboração de vários indivíduos. 
É uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente 
valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma 
mobilização efetiva das competências. Acrescentamos à nossa 
definição este complemento indispensável: a base e o objetivo da 
inteligência coletiva são o reconhecimento e o enriquecimento mútuo 
das pessoas [...]88 
No ensinamento de Lemos: 
Por cibercultura compreendemos as relações entre as tecnologias 
informacionais de comunicação e informação e a cultura, emergentes 
a partir da convergência informática/telecomunicações na década de 
1970. Trata-se de uma nova relação entre as tecnologias e a 
sociabilidade, configurando a cultura contemporânea.89 
A inteligência coletiva visa o reconhecimento de habilidades individuais 
distribuídas, com a finalidade de coordená-las para serem úteis em benefício da 
sociedade. Essa coordenação ocorre com a utilização das TICs. Podemos dizer que 
a interligação dos computadores em rede é um instrumento que possibilita o 
desenvolvimento da inteligência coletiva no ciberespaço, por meio da reunião e 
sinergia entre os indivíduos conectados, juntamente com as aplicações, que 
proporcionam diversas formas de interatividade.90 
86 LÉVY, 1999, p. 127. 
87 LÉVY, 1999, p. 127. 
88 LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Edições 
Loyola, 2007, p. 28-29. 
89 LEMOS, André. Ciber-cultura-remix. Seminário “Sentidos e Processos” dentro da mostra 
“Cinético Digital”. São Paulo, Itaú Cultural. ago. 2005. Disponível em: <http://www.facom. 
ufba.br/ciberpesquisa/andrelemos/remix.pdf > Acesso em: 30 maio 2016, p. 1. 
90 BEMBEM, Angela Halen Claro; SANTOS, Plácida. Leopoldina Ventura Amorim da Costa. 
Inteligência coletiva: um olhar sobre a produção de Pierre Lévy. Perspectivas em Ciência da 
 
 
35 
 
O’relly aponta o desenvolvimento da plataforma Web 2.0 e também se utiliza 
do conceito de inteligência coletiva. Essa plataforma é formada por um conjunto de 
práticas e princípios que interligam um “sistema solar” de sites, conectados por meio 
de uma estrutura de rede, em que os hiperlinks têm papel fundamental na indicação 
e interligação de um site ao outro. 
Os chamados Hiperlinks são textos formatados em links que apontam de 
uma página da Web ou arquivo para outro, sendo que o ponto de partida é 
denominado hiperlink. Essa ligação entre uma página ou arquivo e outros forma a 
hipertextualidade, caracterizada por ser uma forma de interatividade possibilitada por 
ambientes hipermídia, onde o próprio usuário é que define seu próprio caminho de 
acordo com os enlaces que realiza entre um texto e outro.91 
Assim, se entende que essas ligações se desenvolvem como as sinapses no 
cérebro, fortalecendo-se em razão da repetição ou da intensidade com que tais 
conexões são feitas. A rede cresce organicamente, como resultado da atividade 
coletiva de todos os usuários, proporcionada pelas ferramentas e aplicativos de 
rede, tais como Wikipedia, Podcasts, Youtube, Blogger, Fóruns de discussão, etc., 
tecnologias essas que estão disponíveis, em sua maior parte, de forma gratuita.92 
Para citar um exemplo de aplicação presente na cibercultura, bastante 
popular e disponível na internet, que possibilita a criação e larga difusão de 
conteúdo de forma colaborativa, temos nas palavras de André Lemos considerações 
sobre o podcast: 
O fenômeno mundial de emissões sonoras conhecido como podcast 
vai colocar em jogo as três leis da cibercultura. O sistema de 
produção e difusão de conteúdos sonoros surge no final de 2004. O 
nome é um neologismo dos termos “iPod” (tocador de MP3 da Apple) 
e “broadcasting” (transmissão, sistema de disseminação de 
informação em larga escala). Em menos de seis meses de 
existência, já podemos encontrar no Google mais de 4.940.000 
referências para a palavra podcasting. Estima-se que há mais de 6 
milhões de usuários do sistema no mundo. No Brasil, os podcasts 
Informação, v. 18, n. 4, p.142-144, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pci/ 
v18n4/10.pdf> Acesso em: 24 mar. 2016, p.142-144. 
91 ARAYA, 2009. 
92 O’REILLY, Tim. What is Web 2.0: design patterns and business models for the next generation of 
software. 2005. Disponível em: <http://facweb.cti.depaul.edu/jnowotarski/se425/What%20Is%20 
Web%202%20point%200.pdf> Acesso em: 24 mar. 2016.. 
 
 
36 
 
começam a surgir em 2005, e hoje podemos contar algumas 
dezenas, estando, também, em crescimento geométrico. Pesquisa 
realizada pela Forrester estima que existirá, até o fim do ano, mais 
de 300.000 podcasts e até 2009, 13 milhões.93 
Essas novas ferramentas são exemplos da modificação na forma de 
produção de conteúdo e do desenvolvimento de novas interações entre usuários e 
conteúdo, de forma que o conceito de colaboração e re-mixagem torna-se cada vez 
mais comum na culturade internet, um ambiente que passa a ser visto como Web 
Colaborativa. 
Os novos serviços e aplicações propiciados pela Web 2.0 vêm 
modificando ainda mais as formas de produção do conteúdo 
informacional. A colaboração e a re-mixagem são práticas presentes 
nesta Web e contribuem para o exponencial crescimento de 
produtores de informação, pois uma parcela importante da 
humanidade deixa de ser mero consumidor de bens simbólicos e 
passa a integrar-se em uma sociedade que vê na colaboração e no 
remix uma nova forma de criação, uso e disseminação de conteúdo 
informacional. No contexto desse ambiente, também denominao Web 
Colaborativa, colaboração refere-se ao que Juliano Spyer em seu 
livro Conectado define como sendo um processo dinâmico cujo 
objetivo consiste em chegar a um resultado novo partindo das 
competências particulares dos grupos ou indivíduos envolvidos [...]94 
Essa mudança na dinâmica do processo criativo proporcionada pelas 
ferramentas da chamada Web Colaborativa acaba provocando alterações nas 
concepções do direito autoral, modificando as noções tradicionais de autor, 
originalidade e obra: 
Cabe salientar que na Web Colaborativa o autor que desenvolve seu 
processo criativo não corresponde mais àquele autor que surge com 
a imprensa e o capitalismo a partir do século XIII: uma fonte de 
originalidade, um ser que tem o privilégio de criar obras de arte e 
literatura a partir de uma inspiração espontânea. A crise no mundo 
das artes (meados do século XX), quando o artista passa a buscar a 
quebra de fronteiras, modificou as noções de autor, original e obra. 
Um novo aspecto passa a ser enfatizado: o valor coletivo e livre das 
93 LEMOS, 2005, p. 4. 
94 ARAYA, Elizabeth Roxana Mass; VIDOTTI, Silvana Aparecida Borsetti Gregorio. Direito autoral e 
tecnologias de informação e comunicação no contexto da produção, uso e disseminação de 
informação: um olhar para as Licenças Creative Commons. Informação & Sociedade: estudos. 
João Pessoa, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), v. 19, n. 3, p. 39-51, 2009. Disponível 
em: <http://hdl.handle.net/11449/10564>. Acesso em: 10 abr. 2016, p. 39-40. 
 
 
37 
 
criações. Esse aspecto adquirirá uma dimensão ainda maior após o 
advento das novas tecnologias de informação e comunicação.95 
Lemos traz o conceito de remix, associado às transformações nos critérios 
de criação, criatividade e obra, potencializados pelas ferramentas digitais: 
Na cibercultura, novos critérios de criação, criatividade e obra 
emergem consolidando, a partir das últimas décadas do século XX, 
essa cultura remix. Por remix compreendemos as possibilidades de 
apropriação, desvios e criação livre (que começam com a música, 
com os DJ’s no hip hop e os Sound Systems) a partir de outros 
formatos, modalidades ou tecnologias, potencializados pelas 
características das ferramentas digitais e pela dinâmica da sociedade 
contemporânea. Agora o lema da cibercultura é “a informação quer 
ser livre”. E ela não pode ser considerada uma commodite como 
laranjas ou bananas. Busca-se assim, processos para criar e 
favorecer “inteligências coletivas” (Lévy) ou “conectivas” (Kerkhove). 
Essas só são possíveis, de agora em diante, por recombinações.96 
Podemos concluir, de acordo com os conceitos aqui já tratados, e por meio 
das palavras de Lemos, que: 
A nova dinâmica técnico-social da cibercultura instaura assim, não 
uma novidade, mas uma radicalidade: uma estrutura midiática ímpar 
na história da humanidade onde, pela primeira vez, qualquer 
indivíduo pode, a priori, emitir e receber informação em tempo real, 
sob diversos formatos e modulações, para qualquer lugar do planeta 
e alterar, adicionar e colaborar com pedaços de informação criados 
por outros.97 
Nas palavras de Araya: 
A produção de conhecimento propiciada por TICs como Internet e 
seus ambientes informacionais Web, que possibilitam informação sob 
novas formas e novos suportes, favorece o desenvolvimento de uma 
cultura baseada em práticas de colaboração e remix.98 
O conceito de Web 2.0, ou Web colaborativa, foi cunhado em 2004 pela 
empresa O’Reilly, após observarem que mesmo com o colapso da NASDAQ, que 
afetou as empresas de tecnologia, novas aplicações na Web continuavam a surgir, 
95 ARAYA; VIDOTTI, 2009, p. 39-40. 
96 LEMOS, 2005, p. 2. 
97 LEMOS, 2005, p. 2. 
98 ARAYA; VIDOTTI, 2009, p. 39-40. 
 
 
38 
 
sendo que, dentre outras competências, baseavam-se em: prover serviços, não 
pacotes de software; no controle sobre uma única fonte de dados, que seria 
enriquecida pelos próprios usuários conforme a utilizem; e a confiança nos usuários 
como co-desenvolvedores, bem como a possibilidade de valer-se da inteligência 
coletiva.99 
A Web 2.0 provê serviços que tornam mais ágil a interação entre o 
navegador e o próprio usuário, com impacto na popularização das 
interfaces Web. O surgimento de novas ferramentas (ou serviços) de 
fácil uso voltadas para a criação e gestão de conteúdo, através da 
agregação de informações de fontes publicadas em formato 
estandardizado, foi responsável, em grande medida, pela 
proliferação de informação na Internet.100 
3.3 CONCEITO DE PIRATARIA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS 
O conceito de pirataria vem sendo associado, nos diversos períodos da 
história da humanidade, a aspectos negativos de condutas humanas. O primeiro 
relato que se tem da palavra foi com Homero, em sua obra Odisséia, na qual se 
utiliza do termo para se referir àqueles que pilhavam navios e cidades costeiras.101 
Mas foi no período das grandes navegações que os piratas obtiveram visibilidade, 
uma vez que no Século XV, com as incertezas e perigos que faziam parte da 
realidade de exploração marítima, fez com que estes personagens ficassem 
reconhecidos como pessoas destemidas e impetuosas.102 
O termo pirataria tornou-se ambivalente ao longo da história, e chegou ao 
século XXI como uma construção cultural de associação com a imitação, a cópia, o 
falso e oportunismo parasitário, mas ao mesmo tempo com o sentido de 
99 ROCHA; PEREIRA, 2010, p. 77. 
100 ROCHA; PEREIRA, 2010, p. 77. 
101 DEPIZZOLATTI, Bruno. A pirataria contemporânea. Florianópolis. Monografia (Graduação em 
Ciência Econômicas), Departamento de Ciências Econômicas. UFSC. 2009. 
102 ARRABAL, Alejandro Knaesel; ENGELMANN, Wilson. O signo pirata na sociedade 
contemporânea: entre o oportunismo e o idealismo. Blumenau, Revista Jurídica, v. 19, n. 40, p. 
93-110, dez. 2015. Disponível em: <http://proxy.furb.br/ojs/index.php/juridica/article/view/5327>. 
Acesso em: 20 abr. 2016. 
 
 
39 
 
transgressão idealista, de proposição de valores que estimulem a garantia das 
liberdades individuais e a busca pela redução das desigualdades sociais.103 
Os piratas lutavam contra o princípio de um controle exclusivo e 
soberano sobre certos territórios, que viam como terreno comum 
para o benefício da sociedade em geral. E aqui temos um paradoxo 
cuja implicação não deveria ser subestimada: o sistema de estados 
nacionais conduziu a expansão do capitalismo por meio de 
monopólios, enquanto isso, os piratas defendiam idéias de livre 
mercado, para um bem maior de todos os povos, acima e além das 
fronteiras nacionais.104 
Tomando por base uma análise histórica, não é difícil compreender que 
parte do que veio a ser inovação tecnológica na reprodução de bens intelectuais 
desafiou, e ainda continua desafiando a Lei e o poder dominante, como é o caso da 
reprodução de livros, que foi considerada “pirata” no início.105 
Podemos encontrar no ordenamento jurídico pátrio um conceito legal para o 
que é pirataria. De acordo com o artigo 1º, §único, do Decreto nº 5.244, de

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