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Psicopatologia da esfera Oro-alimentar - Capitulo 7 MARCELLI

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Capitulo 7 MARCELLI – Psicolatologia da Esfera Oro- alimentar
Generalidades: Além de a alimentação estar voltada para a sobrevivência, crescimento e desenvolvimento, esta é principalmente um ato de relacionamento do indivíduo com o mundo. Nesse sentindo, a associação que cada um estabelece com a alimentação ao longo da vida é fruto da dinâmica das primeiras relações que ele, enquanto bebê criou com a mãe, com a família e com tudo que estava ao seu redor. Em torno da alimentação, portanto, se fixa principalmente um eixo de interação entre mãe e filho, que irá constituir o núcleo referência das diversas fases de desenvolvimento posteriores, sendo uma fonte de experiências psíquicas socioculturais.
O recém-nascido possui desde o seu nascimento um equipamento neurofisiológico bem desenvolvido no nível do comportamento de sucção. Entretanto, nem por isso se deve concluir que todos os bebês apresentam o mesmo comportamento frente ao alimento. Por exemplo, alguns bebês mamam em um ritmo rápido, quase sem pausa; já outros mamam num ritmo mais lento e cortado por numerosas paradas. Mas esse comportamento de sucção, que já é diferente de um recém-nascido para outro, é acompanhado de um conjunto de manifestações também variáveis. Alguns bebês choram, agitam-se, outros esperaram mais calmamente a chegada do alimento; alguns mamam com os olhos abertos, outros com os olhos fechados. Seja como forem tais variações individuais, a alimentação de um bebê não se reduz apenas ao apaziguamento da fome fisiológica, mas representa um protótipo das interações humanas. Freud distinguiu, assim, a satisfação da própria necessidade alimentar (fome) e o prêmio de prazer (sucção), que o lactente daí retira. Em torno deste “prêmio de prazer”, não participa somente a satisfação da fome, mas também, como destaca Winnicott, os contatos corporais, palavras, olhares, carícias ou embalos maternais e a necessidade de apego (Bowlby). Sendo assim, a alimentação pode ser considerada o primeiro organizador da vida psíquica, pois proporciona ao bebê prazer, conforto, além de saciar sua fome, estabelecendo um elo entre o alimento e os sentimentos.
	Não se pode pensar que a agressividade esteja excluída da troca entre mãe e filho: engolir, fazer desaparecer, suprimir já é um movimento agressivo e, ainda se deve acolher com prudência a hipótese de fantasma agressivo precoce dirigido contra o seio materno (Klein), pois basta dizer que nutrir um bebê é também fazer desaparecer um estado de tensão. Se a troca alimentar não for bem sucedida, o bebê poderá sentir que existe uma ameaça ou até o perigo de aniquilamento.
	A atitude da mãe é função não apenas do comportamento de seu filho e de seus próprios afetos frente à oralidade, mas também de sua capacidade de aprendizagem ou de adaptação às novas situações. Poucas mães que tiveram seu primeiro filho encontram os gestos que devem fazer para segurar o bebê, manipulá-lo, acalmá-lo e satisfazê-lo de modo imediatamente gratificante. No princípio, o ritmo do processo de alimentação que impõe não corresponde ao ritmo próprio do bebê. Porém, a partir do quarto dia aproximadamente, produz-se uma espécie de adaptação recíproca. Além desse processo de adaptação recíproca, as mães reagem diferentemente às manifestações da criança: umas parecem assustadas com a avidez desta, outras se orgulham disso. Inversamente, algumas mães podem exprimir o receio de que uma sucção lenta e interrompida seja o indício de futuras dificuldades alimentares. Essas diversas atitudes despertadas pela criança provêm dos próprios fantasmas inconscientes ou pré-conscientes da mãe, fantasmas cuja reativação pode levar o par mãe e filho a uma situação patogênica tanto para um como para outro.
	A sociedade, por fim, intervém também de modo privilegiado na troca alimentar mãe e filho. Atualmente, com a alimentação livre e sem a orientação por vezes tranquilizadora dos conselhos e recomendações dietéticas para os bebês, práticas que eram muito comuns até certo tempo atrás existem o risco de a jovem mãe estar completamente desarmada frente a seus receios e fantasmas relacionados com a alimentação de seu filho.
Estudo Psicopatológico – Anorexia do segundo trimestre: Ocorre mas frequentemente entre 5 a 8 meses, surge quer progressiva quer brutalmente e as vezes por mudanças no regime alimentar (desmame ou ablactação – anorexia do desmame). Essa recusa esta relacionada a relação com a mãe surge então todos um comportamento cujo objetivo é o de fazer a criança comer (mãe ansiosa – essa anorexia não precisa estar ligada à perda de peso, é somente pela recusa). Nesse sentindo, a anorexia infantil ou falta de apetite é a condição na qual a criança não ingere espontaneamente a quantidade de alimento necessária para o seu crescimento e desenvolvimento normais, ou seja, há um desequilíbrio entre a satisfação da sua necessidade psíquica em se alimentar e a necessidade orgânica. A anorexia do segundo trimestre se apresenta isolada, o lactente continua crescendo e, muitas vezes, engordando. É raro que a anorexia seja tão profunda que provoque uma quebra na curva de ganho de peso e altura do bebê. Uma constipação pode acompanhá-la. Uma apetência viva por líquidos compensa, com frequência, a anorexia em relação a sólidos. Não é raro, por fim, que essa anorexia esteja centrada na relação com a mãe, e que o lactente coma perfeitamente com qualquer outra pessoa (pai, avó). A mãe sente essa conduta como uma recusa centrada diretamente sobre ela, fica angustiada, contrariada, não tem mais a disponibilidade necessária. Além disso, a mãe pode associar a recusa alimentar do bebê e sentimentos de insuficiência maternal, o que provoca uma baixa da autoestima e leva a que tenham atitudes que agravam as dificuldades da criança. 
A anorexia simples surge como um distúrbio essencialmente reacional (ao desmame, a uma doença intercorrente, a uma mudança no contexto da vida), passageira, conduta de recusa ligada frequentemente a uma atitude da mãe a forçar a criança. O problema é facilmente resolvido com uma mudança de comportamento da mãe, após ter sido tranquilizada, ou com alguns manejos práticos (refeição dada pelo pai, por exemplo).
A anorexia mental grave não difere em nada no princípio da precedente. Mas seja porque a reação anorética da criança esteja profundamente inscrita em seu corpo, seja porque a atitude maternal não seja suscetível de mudança, o comportamento anorético persiste. Outros distúrbios podem surgir como dificuldades no sono, cóleras intensas, espasmos do soluço. Diante do alimento, a criança mostra quer um total desinteresse, quer uma viva oposição. Nestes últimos casos, as refeições constituem batalhas entre uma mãe que tenta utilizar todos os ardis possíveis para introduzir um pouco de alimento na boca da criança (sedução, chantagem, ameaça, coerção) e uma criança que se debate, cospe, joga seu alimento por tudo, vira seu prato. Esse comportamento anorético pode ser entrecortado por períodos durante os quais a criança come melhor, mostrando-se, no entanto, ainda caprichosa: unicamente alimentos açucarados, ou laticínios, ou legumes. Os vômitos são frequentes e pontuam as poucas refeições que consentiu em realizar. Nessas condições, uma repercussão somática pode ocorrer: a criança empalidece, passa a ter um aspecto abatido sem, todavia, estar desenvolvendo uma verdadeira doença. 
Distinguem-se diferentes tipos de anorexia infantil, sendo eles: a anorexia essencial precoce, a anorexia do segundo trimestre e a anorexia da segunda infância. Ainda é importante destacar que, de acordo com o autor, em função da idade, o primeiro e o último tipo de anorexia infantil acontecem mais raramente. 
A abordagem psicopatológica: A atenção é a acercas das mães dos anoréticos. Toda a relação alimentar parece ser o eixo privilegiado de interação que mascara sob a necessidade de alimentar uma viva angustia de não ser uma boa mãe ou uma angustia de abandono ou de morte. 
A anorexia é compreendida de diferentes formas a partir de visões distintas,ela pode ser entendida de como tentativa de evitar a fase de repleção e de repouso que segue as refeições, vivida de forma perigosa pelo desaparecimento de qualquer tensão. Por sua vez, Spitz considerou que o afastar da cabeça para assinalar a saciedade representaria o protótipo do gesto semântico do “não” e que, nesse sentido, a anorexia seria uma conduta maciça de recusa na relação mãe e filho que como consequência, poderia entravar o acesso a uma simbolização. Em uma mesma ótica da visão anterior, Também, uma frequente e excessiva familiaridade dos lactentes anoréticos em relação aos estranhos, em um período em que normalmente há uma angústia frente aos mesmos. Essa familiaridade demonstra uma incapacidade de individualização do rosto materno. Dessa forma, a partir da recusa em alimentar-se, percebe-se uma “contaminação ansiosa” submetida na relação com a mãe que resulta na tentativa de domínio dessa relação. Com essa dificuldade de mentalização, há possibilidades de constituir a base futura de uma organização psicossomática. A atitude terapêutica deve voltar-se centralmente para a relação mãe e filho, a fim de buscar acalmar a angústia da mãe e reduzir atitudes mais nocivas e acentuadas. Partindo da ideia de que essas atitudes são originadas a partir de fantasmas pré-conscientes ou inconscientes da mãe no que concerne à relação de alimentação, a psicoterapia é de extrema importância.
Formas particulares de anorexia do lactante: Anorexia essencialmente precoce: A anorexia essencial precoce surge desde o nascimento, como se o bebê não demonstrasse nenhum interesse pela alimentação. Atitudes opositoras surgem secundariamente. Na anorexia precoce grave estes podem ser um dos primeiros sinais de autismo ou casos de psicose infantil, cujas demais manifestações surgem aos poucos durante o segundo ano de vida. A evolução da anorexia do segundo trimestre permite distinguir duas formas: a anorexia simples e a anorexia mental grave. A anorexia simples surge como um distúrbio essencialmente reacional (ao desmame, a uma doença intercorrente, a uma mudança no contexto da vida), passageira, conduta de recusa ligada frequentemente a uma atitude da mãe a forçar a criança. O problema é facilmente resolvido com uma mudança de comportamento da mãe, após ter sido tranquilizada, ou com alguns manejos práticos (refeição dada pelo pai, por exemplo). Anorexia da segunda infância: A anorexia da segunda infância ocorre com mais frequência à forma típica, mas pode se manifestar nessa idade a partir de atitudes de oposição e pela existência de caprichos alimentares variáveis ou não. 
Obesidade: Com resultado da precocidade do aparecimento da obesidade constitui um importante fator de prognostico. No plano clinico, a obesidade se define por um excedente de porcentagem de peso e altura. O inicio da obesidade pode ser precoce desde o primeiro ano de vida, existindo dois períodos de predileção para a constituição de uma obesidade: desde o primeiro ano de vida e quando o período pré puberal entre 10 e 13 anos. Distinguem-se as obesidades em primarias e secundarias. 
No plano alimentar, a obesidade se constitui após crises bulemicas após uma hiperfagia mantida pelo clima familiar, O excesso de aporte pode ser global ou se fazer em favor dos glicídios absorvidos, sobretudo a tarde após o retorno da escola.
 
Personalidade da criança obesa: As crianças obesas são descritas como moles, apáticas, tímidas, no entanto são capazes de reações de persistência sob a forma de cólera súbita. A apatia e a passividade não são constantes, certa atividade física pode ao contrario pode caracteriza-las. Outros sintomas que atestam o sofrimento psicológico associam-se são o fracasso escolar, enurese em maior ênfase no plano secundário. Quando a eficiência intelectual é normal ou superior a inibição e passividade entram em êxito. O mais frequente é que a obesidade não se inscreva em um quadro sindrômico claro que nem vezes se interage com quadros psicopatológicos como uma psicose. No seio da psicose a obesidade pode então se caracterizar por seu aspecto monstruoso e pos sua variabilidade realizando o que se denomina de obesidade deformante. Encontra-se também nos quadros de debilidade mental, a procura pela criança de satisfação imediatas, não simbolizadas, a duração das funções parentas a seu papel de nutridor mais que educativo são as explicações propostas. 
Criança obesa e a sua família: existem famílias de obesos nas quase se entrelaçam fatores genéticos e hábitos alimentares, do mesmo modo, a obesidade é frequentemente nas crianças de classe desfavorecidas que acabam de ter acesso a sociedade do consumo (investidas no simbolismo de boa saúde). Na constelação família, o comportamento excessivamente alimentador das mães que respondem a toda manifestação de seu bebe atrás de uma parte alimentar, isso perturbaria a sensação de fome da criança qualquer tensão posterior desencadearia uma necessidade de absorver alguma coisa. 
A criança obesa e seu corpo: o esquema corporal encontra-se muitas vezes perturbado. A representação de um corpo filiforme, aéreo não é rara. Na menina seria um meio ativo de afirmação viril de sue corpo negando sua castração ao passo que no menino a obesidade que sufoca o sexo na gordura pre pubiana apareceria como uma proteção passiva contra as angustias de castração, mascarando a própria existência desse sexo. 
Vida fantasmática da criança obesa: uma vivencia depressiva mais ou menos da qual o obeso tentar proteger: o vazio, a falta, a ausência intensamente sentidos. Uma vida fantasmática ligada a oralidade se encontra mobilizada a sustentar intensas angustias de devoração sendo o mundo exterior percebido como perigoso. Frente a esse perigo a regressão narcísica, se encontra no lugar de imagem do eu ideal. Assim, a obesidade teria constamtente esse duplo papel de por um lado de protetora contra o ambiente e por outro de garantia de integridade e do valor da imagem de si. 
O tratamento: dirige aos sintomas de obesidades em si, em geral, fonte de fracasso por conta dos regimes que é solicitado pelos pais. A restrição calórica deve ser acompanha por uma avaliação do papel psicossomático da obesidade de uma motivação da criança a esse tratamento Algumas consultas terapêuticas dão esse apoio necessário. Os tratamentos medicamentosos são desaconselhados e os anorexígenos anfetaminicos devem ser manejados com prudência. 
Comportamentos alimentares desviantes: Crises de bulimia: Podem ser vistas por adolescentes anoréticos ou crianças obesas ou que apresentam diversas estruturas mentais. São descritas como uma necessidade imperiosa de encher a boca mastigando mais ou menos verdadeiras fomes devoradas que podem durar um tempo variável de alguns minutos ou varias horas. Em condutas psicopáticas o alimento é o suporte de um investimento delirante.
Maneirismo e repulsa eletivas: Comportamentos muito frequentes na terna infância que alteram períodos anoréticos. Referem-se a certos gêneros de alimentos, quer no sentido da repulsa quer no desejo. Por exemplo, desejo eletivo por alimentos da cor branca, coisas açucaradas, aspargos. Alguns alimentos suscitam muitas vezes de reações vivas na criança quer seja pela cor, consistência entre outros. O desejo regressivo do seio traduz em seu contrario em forma de repulsa seria a expelição disso. 
Potomania: Necessidade de beber quantidades de agua ou em sua falta qualquer outro liquido e quando se limita crianças sentem prazer de beber sua própria urina. No plano psicológico, se alguma criança apresenta distúrbios de personalidade que se descrevem no quadro de psicose, ou pode ser uma perturbação de noção de sede com sua significação. (regressão – primeira alimentação do lactante é liquida). 
Pica: Ingestão de substancias não comestível além do perigoso normal até 10 meses. Situação ocorre em geral por carência afetiva profunda ou abandono, ou em crianças psicóticas.
Coprofagia: Não é comum na infância. Aquisição pelo asseio – gostar de comer suas fezes ou passa-la pelasparedes. As mães destes seriam frias, sem afeto, hostis e maltratam seus filhos. Quadro que lembra a psicose.

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