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MERCADORIA, PREÇO E LUCRO

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O CAPITAL
MERCADORIA, PREÇO E LUCRO
PROF. ANDRÉ MOURÃO
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MERCADORIA, PREÇO E LUCRO
A Economia Política trata do modo pelo qual os homens procuram os bens dos quais têm necessidade para viver. Nos Estados capitalistas modernos, os homens procuram esses bens unicamente pela compra e venda de mercadorias; eles tomam posse delas, comprando-as com dinheiro, que constitui sua renda. Há formas bastante diversas de renda, que podem todavia ser classificadas em três grupos: o capital rende cada ano ao capitalista um lucro, a terra rende ao proprietário rural uma renda fundiária, e a força de trabalho - em condições normais e enquanto permaneça útil - rende ao operário um salário. Para o capitalista, o capital; para o proprietário rural, a terra e, para o operário, sua força de trabalho, ou mais ainda seu próprio trabalho, aparecem
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como fontes diferentes de suas rendas: lucro, renda fundiária e salário. E essas rendas lhes aparecem como frutos, para consumir anualmente, de uma árvore que não morre jamais, ou mais exatamente de três árvores; essas rendas constituem as rendas anuais de três classes: a dos capitalistas, a dos proprietários rurais e a dos operários. É, pois, do capital, da renda fundiária e do trabalho que parecem decorrer, como de três fontes independentes, os valores que constituem essas rendas.
O montante de renda das três classes desempenha um papel essencial na determinação da medida pela qual os homens têm acesso aos bens econômicos; mas, por outro lado, está claro que o preço das mercadorias não é menos essencial. 
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Assim, a questão saber sobre o que se fixa o montante dos preços tem, desde o início, ocupado consideravelmente a Economia Política.
Em uma primeira abordagem, essa questão não parece apresentar dificuldade especial. Consideremos um produto industrial quer; o preço é estabelecido pelo fabricante que acrescenta ao preço de custo o lucro habitual de seu ramo. Quer dizer que o preço depende do montante do preço de custo e do lucro.
No preço de custo o fabricante faz entrar tudo o que despendeu para a fabricação da mercadoria. Estão em primeiro lugar as despesas de matéria-prima e as matérias auxiliares da fabricação (por exemplo, algodão, carvão etc.), depois as despesas relativas às máquinas, 
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aos aparelhos, às construções; além disso, o que deve pagar em renda fundiária (por exemplo, o aluguel) e enfim o salário do trabalho. Pode-se, pois, dizer que o preço de custo para o fabricante se divide em três parcelas:
1) os meios de produção (matéria-prima, matérias auxiliares, máquinas, aparelhos, construções);
2) a renda fundiária a pagar (que entra igualmente em conta mesmo quando a fábrica se acha construída em um terreno pertencente ao fabricante);
3) o salário.
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Mas examinando-se essas três parcelas um pouco mais de perto, dificuldades insuspeitáveis não tardam a aparecer. Tomemos, para começar, o salário. Quanto mais baixo ou elevado, tanto mais baixo ou elevado será o preço de custo; tanto mais baixo ou elevado será então o preço da mercadoria fabricada. Mas o que determina o montante do salário? Digamos que é a oferta e a procura da força de trabalho. A procura da força de trabalho advém do capital que tem necessidade de operários para seu empreendimento. Uma forte demanda de força de trabalho equivale, pois, a um grande acúmulo de capital. Mas de que se compõe o capital? De dinheiro e mercadorias. Ou melhor, sendo o próprio dinheiro uma mercadoria, o capital se
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comporá simples e unicamente de mercadorias. Quanto mais essas mercadorias têm valor, tanto maior é o capital, e tanto maiores a demanda de força de trabalho e a influência dessa demanda sobre o montante do salário, da mesma forma que – em consequência - sobre o preço dos produtos fabricados. Mas o que é que determina o valor (ou o preço) das mercadorias que constituem o capital? O montante do preço de custo, isto é, os gastos necessários para a sua fabricação. Ora, entre esses gastos de fabricação figura já o próprio salário! É, pois, em última análise, explicar o montante do salário ... pelo montante do salário, ou o preço das mercadoria ... pelo preço das mercadorias! 
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Em outras palavras, não adianta fazer intervir a concorrência (oferta e procura de forças de trabalho). A concorrência faz sem dúvida aumentar ou diminuir os salários. Mas suponhamos que a oferta e a procura de forças de trabalho se equilibrem. O que determinará o salário?
Deve-se admitir, ao contrário, que o salário é determinado pelo preço dos meios de subsistência dos operários. Esses meios de subsistência não são senão as próprias mercadorias; na determinação de seu preço, o salário desempenha também um papel. O erro é evidente.
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Uma segunda parcela, nos elementos do preço de custo, era representada pelos meios de produção. Não são necessárias longas considerações para mostrar que o algodão, as máquinas, o carvão etc. são igualmente mercadorias às quais se aplica exatamente o que já foi dito daquelas que constituem os meios de subsistência do operário ou o capital do capitalista.
A tentativa que consistia em explicar o montante do preço a partir do preço de custo fracassou, lamentavelmente. Limita-se simplesmente a explicar o montante do preço por ele mesmo. Ao preço de custo o fabricante acrescenta o lucro usual. Aqui todas as dificuldades parecem afastadas porque o tanto por cento (a taxa) do lucro que ele se deve atribuir é conhecido
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pelo fabricante, sendo a taxa de uso geral no ramo. Naturalmente isso não exclui absolutamente que, em consequência de circunstâncias particulares, um fabricante, em certos casos, ganhe mais ou menos que o lucro habitual. Mas, em média geral, a taxa de lucro é mesma em todos os negócios do mesmo ramo. Existe, portanto, em cada ramo uma taxa média de lucro.
Não somente isso. As diversas taxas de lucro, nos diferentes ramos, se acham estipuladas de acordo com a concorrência. Não pode, com efeito, ocorrer outra coisa. Porque, desde que os particularmente altos existam em certo ramo, os capitais em outros ramos em que eles não estejam tão favoravelmente colocados se apressam a afluir para o ramo favorecido. Ou seja, os capitais que
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não cessam de nascer e que procuram aplicações vantajosas dirigem-se de preferência para tais ramos, particularmente proveitosos; a produção nesses ramos não tardará a desenvolver-se e, para escoar as mercadorias cujo volume aumentou consideravelmente, será preciso reduzir os preços consequentemente, os lucros. O contrário aconteceria se um ramo qualquer não desse senão lucros particularmente baixos: os capitais abandonariam esse ramo rapidamente, a produção aí decresceria bastante, o que acarretaria um aumento dos preços e dos lucros.
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Assim, a concorrência tende a um equilíbrio geral da taxa de lucro em todos os ramos, e pode-se falar mesmo de uma taxa média geral de lucros, taxa que, em todos os ramos da produção, sem ser rigorosamente idêntica é ao menos aproximada. Todavia, está longe de saltar aos olhos de que modo ocorre o equilíbrio da taxa de lucro dentro de um mesmo ramo, visto que nos diversos ramos os gastos gerais, o uso e a manutenção das máquinas etc. podem ser extremamente diferentes. Para compensar essas diferenças, ocorre que o lucro bruto - isto é, o tanto por cento efetivamente acrescido ao preço de custo pelo fabricante - seja, em tal ramo, bastante mais elevado ou mais baixo que nos outros. Circunstância que encobre a verdadeira realidade. 
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Mas, deduzindo-se dos diversos gastos, permanece, todavia nos diferentes ramos um lucro líquido aproximadamente
idêntico.
Existindo, pois, uma taxa média geral de lucro, o montante do lucro efetivamente dado por um negócio depende da importância de seu capital. Sem dúvida - como já foi dito - não é totalmente indiferente que a empresa fabrique canhões ou meias de algodão e que a taxa de lucro varie segundo a segurança do empreendimento, a facilidade dos transportes etc. Mas essas diferenças não são tão importantes. Suponhamos que a taxa média geral de lucro se eleve a 10%; fica claro então que um capital de um milhão de reais deva render dez vezes mais que um capital de 100.000 reais
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(naturalmente com a condição de que a empresa seja conduzida convenientemente, ressalvando-se acidentes e acasos que podem ocorrer em um negócio).
Acrescente-se a isso que não somente as empresas industriais - as empresas que produzem mercadorias - engendram um lucro, mas também as empresas comerciais, as quais se limitam a transferir o produto do produtor ao consumidor; assim também, os bancos, as empresas de transportes, as estradas de ferro etc. E em todas essas empresas o lucro, ressalvando-se que os negócios sejam aí feitos convenientemente, depende do montante do capital que ali foi colocado. O espantoso é que na consciência daqueles que se ocupam praticamente desses negócios se estabeleça a convicção de que o lucro
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nasce dele mesmo, a partir do capital; ele nasce daí, acredita-se então, como as frutas nascem de uma árvore bem cultivada. O lucro, na medida em que não é considerado como um dos aspectos naturais do capital, é tido como o fruto do trabalho do capitalista. E de fato devemos sempre supor uma administração conveniente da empresa. A competência pessoal da gerência da indústria é das mais importantes. Se ela falha, o lucro da empresa cairá facilmente abaixo da taxa média geral de lucro, ao passo que uma gerência competente da indústria poderá fazê-lo subir acima daquela média.

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