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Unidade II – Direitos da Personalidade 1) Generalidades: 1.1) Conceito: são aqueles que têm por objeto os atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e em suas projeções sociais. 1.2) Evolução legislativa: Novo CC/02: baseado na CR/88. CC/16: não disciplinava esses direitos por dois motivos: Visão patrimonialista e individualista. Só se preocupava com as pessoas em três aspectos: contratante, proprietário e membro de família. Muitos doutrinadores se recusavam a aceitar a categoria dos direitos à personalidade. Terminologia: alguns pensadores preferem adotar o termo “Direitos essenciais da pessoa humana” ao invés de Direitos da Personalidade. 2) Natureza jurídica: Corrente positivista: os direitos da personalidade são apenas aqueles reconhecidos pelo Estado. Corrente jusnaturalista: os direitos da personalidade são inatos. Nascem com o próprio homem e não dependem da intervenção do Estado. O Estado só deve estabelecer sanções pela violação desses direitos. 3) Características estruturais: A – Caráter absoluto: os direitos da personalidade ao invés dos direitos obrigacionais são oponíveis erga omnes. B – Generalidade: os direitos da personalidade são assegurados a todas as pessoas sem qualquer distinção. C – Intransmissibilidade: os direitos da personalidade não admitem modificação subjetiva. Observações: Exceções (art. 11, “1° parte”, CC): apenas uma lei poderia estabelecer exceções à intransmissibilidade do direito à personalidade. Ex: transmissão de órgãos. Transferência do direito de crédito. Ex: publicação de uma foto em uma revista. Indisponibilidade relativa (enunciado n° 4 do CJF): nomenclatura usada por alguns doutrinadores. D – Impenhorabilidade: é uma consequência da intransmissibilidade. E – Imprescritibilidade: por estarem ligados intrinsecamente à pessoa, os direitos da personalidade são imprescritíveis. É cabível a prescrição de um direito de crédito decorrente de um direito da personalidade. F – Vitaliciedade. G – Irrenunciabilidade: Regra geral (art. 11, CC): os direitos da personalidade são irrenunciáveis. Ex: não se pode contratar anões para que fiquem sendo jogados de um lado para o outro como acontece em muitas boates francesas. Exceções: Exceções previstas em lei; Condutas socialmente toleráveis, com base no princípio da adequação social. 4) Classificação dos direitos da personalidade: Os direitos da personalidade estão previstos no art. 5° da CR/88, nos artigos 11 a 21 do CC/02 e na Convenção Interamericana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica). 4.1) Direito à vida: o ordenamento garante o direito à vida e não o direito sobre a vida. Aborto: Definição: é a ação destrutiva do produto da concepção humana. Previsão legal (art. 124 e seguintes CP): crime, com duas exceções: Aborto terapêutico: Significado: praticado para salvar a vida da gestante. Conflito entre Direitos: direito à vida da gestante X direito à vida do nascituro. Aborto sentimental: ocorre quando reunidos dois requisitos: Autorização da gestante ou de seu representante legal; A gravidez deve resultar de estupro. Obs: embora não esteja previsto em lei os casos de aborto nas situações de crianças sem probabilidade de vida, já existem ações propostas. Eutanásia: Significado: supressão da vida alheia por piedade ou compaixão. Previsão legal: crime. Por maior que seja o desespero e a dificuldade, a pessoa não tem o direito sobre a vida. Conflito entre direitos: direito à vida X dignidade da pessoa humana. Fertilização In vitro: Definição: método de reprodução assistida que ocorre fora do claustro materno e se dá ante a extração do óvulo maduro para que se fecunde em um recipiente com sêmem do marido. Conservação criogênica de embriões: é o congelamento de embriões excedentários. 4.2) Direito à integridade moral: A – Direito à honra: Aspecto objetivo (honra objetiva): Significado: corresponde a forma como uma pessoa é vista em sociedade. Violação (arts. 138 e 139 CP): crimes de calúnia e difamação. Aspecto subjetivo (honra subjetiva): Significado: corresponde à forma de como uma pessoa promove a apreciação de si mesma. Violação (art. 140, CP): crime de injúria. B – Direito à imagem: Definição: a imagem corresponde à exteriorização da personalidade, englobando a um só tempo a reprodução fisionômica do titular e as sensações, bem, assim como, as características comportamentais que o tornam particular, destacado na sociedade. Espécies: Imagem-retrato: é a projeção física de uma pessoa. Imagem-atributo: é a projeção social de uma pessoa. Proteção jurídica (art. 20, CC e art. 5°, V e X, CR): veda a divulgação da imagem de uma pessoa em 3 hipóteses: Divulgação que atinja a integridade moral da pessoa. Exceção jurisprudencial: permite a divulgação de pessoas públicas realizando atos em locais públicos. Divulgação para fins comerciais sem autorização. Divulgação para fins comerciais com desvio de finalidade. Consentimento para a divulgação da imagem: pode ser expresso ou tácito. C – Direito à identidade: é o direito de possuir um elemento individualizador. 4.2.1) Dano moral: Evolução legislativa: CC/16: não regulamentava o dano moral. CC/02: em consonância com a CR/88 estabeleceu expressamente o dever de reparação de um dano ainda que exclusivamente moral. Divergências doutrinárias: Alcance do dano moral: Corrente extensiva: dano que provoque uma reação irreversível; aquele que é impossível retornar ao status quo ante. Corrente moderada: dano é qualquer violação a um direito da personalidade. Corrente restritiva: dano que provoque dor e sofrimento. Finalidade: 1ª Corrente: dano moral só tem finalidade indenizatória. 2ª Corrente: dano moral teria dupla finalidade: indenizatória e punitiva. Parâmetros de indenização: a lei não estabelece parâmetro de qual seria o valor da indenização. Os magistrados seguem três critérios: gravidade do fato, condição econômica do autor do dano e projeção social da vítima. 4.3) Direito à integridade psíquica: 4.3.1) Direito à liberdade: Significado: liberdade é uma faculdade assegurada a uma pessoa, faculdade de agir tão somente conforme a sua consciência, respeitados os direitos fundamentais das outras pessoas. Espécies: Liberdade de locomoção (art. 5°, XV, CR): é a liberdade de livremente transitar no território nacional, ressalvadas as limitações previstas em lei. Liberdade de pensamento (art. 5°, VI, CR): é a liberdade de estabelecer suas próprias convicções, fazendo suas opções políticas, religiosas, ideológicas etc. Liberdade de expressão (art. 5°, IX, CR): é a liberdade de manifestação científica, artística e de comunicação independentemente de qualquer censura. 4.3.2) Direito à privacidade (art. 21, CC e art. 5°, X, CR): Proteção legal: asseguram a inviolabilidade da vida privada. Violação (arts. 150 e 151, CP): Violação de correspondência e violação de domicílio. 4.4) Direito à integridade física: Significado: é o direito à incolumidade de qualquer lesão. Transplante de órgãos (Lei 9434/97 alterada pela Lei 10211/01): Vedação constitucional: não permite a comercialização de órgãos, apenas a doação. Doação em vida: Forma de consentimento (art. 9°, §4°, Lei 9434/97): o consentimento deve ser feito preferencialmente por escrito na presença de testemunha. Não indica a quantidade mínima de testemunha. Órgãos passíveis de doação (art. 9°, §3°, Lei 9434/97): órgãos duplos ou partes de órgãos que não acarretem perigo de vida. Destinatários (art. 9°, Caput, Lei 9434/97): Regra geral: cônjuge ou parente de até 4° grau. Exceção: pode haver doação para qualquer outra pessoa mediante autorização judicial. Doação “Post Mortem”: Autorização: pode decorrer tanto da vontade do doador quanto da vontade da família. Conflito entre a vontade do doador e a da família (art. 14, CC e enunciado 277 CJF): deve prevalecer a vontade do falecido. A família só será chamada a prestar esclarecimento em caso de silêncio em vidado doador. Destinatário: os órgãos deverão ser doados conforme a fila de transplante. Revogabilidade (art. 14, § único, CC e art. 9°, §5°, Lei 9434/97): pode revogar a qualquer momento antes do ato de doação. Intervenção cirúrgica (art. 15, CC): Dever de informar (art. 6°, III, Lei 8078/90): o médico tem o dever de informar os riscos e as chances de êxito. Princípio da autonomia do paciente (consentimento informado): o paciente não pode ser obrigado a se submeter a um tratamento se houver risco de vida. Convicções religiosas e intervenções médicas: Corrente majoritária: o paciente não pode se recusar a tratamento médico, já que o mesmo não tem direito sobre a vida. Corrente minoritária: admite a recusa, já que a liberdade de crença é um direito indisponível e imprescindível para uma vida digna. Direito à integralidade do corpo (art. 13, CC): Regra geral: veda a disposição de partes do corpo. Exceções: Transplante de órgãos; Quando houver exigência médica; Quando não acarretar redução permanente da integridade física. Submissão à perícia médica (art. 232, CC e art. 2°, A, §2°, Lei 8560/92): ninguém pode ser obrigado a se submeter à perícia médica por violação à integridade física e à privacidade. A legislação irá estabelecer uma presunção do fato. 5) Conflitos entre direitos da personalidade: Direitos absolutos: Regra geral: os direitos da personalidade não indicam aplicabilidade absoluta. Exceção: direito à vida. Princípio da personalidade: o juiz deve promover uma redução proporcional do alcance dos direitos em conflito para que prevaleça aquele de maior valor jurídico. 6) Titularidade: A – Nascituros: Teoria natalista: não são titulares, apenas detêm uma expectativa. Teoria concepcionista: são titulares. B – Pessoas naturais: toda e qualquer pessoa natural é titular dos direitos da personalidade. C – Pessoas jurídicas (art. 52, CC): sejam aplicáveis os direitos da personalidade às pessoas jurídicas compatíveis com sua natureza. Ex: não se aplica o direito à honra subjetiva, mas se aplica o à honra objetiva. 7) Falecido (“de cujus”): art. 12, § único, CC): Esfera cível: o falecido não tem direito aos direitos da personalidade. Lesados indiretos: Significado: são os familiares do falecido que passam a ter legitimidade de defender os direitos do falecido em juízo. Regra geral (art. 12, § único, CC): os familiares seriam: cônjuge, parentes na linha reta e na linha colateral até o 4° grau. Exceção (art. 20, § único, CC): apenas o cônjuge e os parentes de linha reta têm legitimidade para defender o direito à imagem do falecido. Interpretação doutrinária (enunciado 275 CJF): estende essa legitimidade dada aos cônjuges para os companheiros. Natureza da legitimidade: ordem para ser seguida. 1ª Corrente: a legitimidade é cumulativa, onde todos podem promover a ação, com ausência de restrição legal. 2ª Corrente: a legitimidade é sucessiva por analogia ao direito de herança. Esfera criminal (art. 212, CP): poderá ocorrer o crime de vilipêndio a cadáver. 8) Proteção aos direitos da personalidade: Preventiva: proteção que se confere a uma pessoa que se encontra na iminência de sofrer uma violação dos direitos da personalidade. Ex: Habeas corpus preventivo e astreinte (ação cominatória com fixação de multa diária). Punitiva: proteção dada a uma pessoa que já sofreu uma lesão a um direito da personalidade. Ex: Habeas corpus repressivo, mandado de segurança e habeas data.
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