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Neurulação Karl Ernst von Baer (1828) • O mais eminente embriologista de sua época, anunciou: “Eu tenho dois pequenos embriões preservados em álcool, que esqueci de identificar. No momento, não consigo determinar o gênero ao qual pertencem. Eles podem ser lagartos, pequenas aves ou mesmo mamíferos”; • A figura a seguir ilustra seu dilema; Generalizações de Von Baer “As características gerais de um grande grupo de animais aparecem no embrião mais cedo do que os aspectos especializados”. Todos os vertebrados em desenvolvimento (peixes, répteis, anfíbios, aves e mamíferos) são muito semelhantes logo após a gastrulação. Somente mais tarde no desenvolvimento que as características especiais da classe, ordem e finalmente espécie aparecem. Todos os embriões de vertebrados possuem: Características do Filo Chordata - Notocorda (bastão esquelético) presente em algum estágio do desenvolvimento; - Tubo (cordão) nervoso dorsal (porção anterior alargada formando o encéfalo); - Bolsas (fendas) faríngeas presente em algum estágio do desenvolvimento; - Cauda pós-anal projetando-se além do ânus em algum estágio; Notocorda Cauda pós-analFendas faríngeas Tubo nervoso dorsal Características do Filo Chordata Notocorda: é um bastão semi-rígido de células envolvidas por uma bainha fibrosa, que se estende entre SNC e o tubo digestivo. Proporciona rigidez longitudinal ao eixo corpóreo, uma base para músculos do tronco e um eixo em torno do qual a coluna vertebral se desenvolve. Nas lampreias e feiticeiras a notocorda persiste por toda vida, mas em outros vertebrados ela é substituída pelas vértebras. Bainha fibrosa Bainha elástica Neurulação • “Talvez a mais intrigante de todas as perguntas é se o cérebro é suficientemente poderoso para resolver o problema da sua própria criação.” O processo pelo qual o embrião forma o tubo neural (rudimento do sistema nervoso central) é chamado neurulação, e um embrião sofrendo essas transformações é chamado nêurula. • A gastrulação é seguida pela neurulação, onde ocorre a formação do tubo neural, o precursor embrionário inicial do sistema nervoso central (SNC); • Nessa etapa o embrião então é chamado de nêurula; • O sinal visível da neurulação é a formação das dobras neurais, que se formam nas bordas da placa neural (uma área da ectoderme que se situa acima da notocorda); Neurulação • As dobras elevam-se, dobram-se em direção a linha média e fusionam-se pra formar o tubo neural, que submerge sob a epiderme; • As células da crista neural desprendem-se do topo do tubo neural de ambos os lados do sítio de fusão e migram por todo o corpo para formar várias estruturas; • O tubo neural anterior origina o cérebro; • O tubo neural sobre a notocorda originará a medula espinhal; • Ao final do processo o embrião se parece com um girino, e é possível reconhecer várias características de vertebrados; Neurulação Neurulação • Existem dois caminhos (modos) principais para a formação do tubo neural: – neurulação primária: o cordomesoderma (o primórdio da notocorda) estimula o ectoderma que o recobre, a se proliferar, invaginar e destacar-se da superfície formando um tubo oco; – neurulação secundária: o tubo neural se origina de um sólido cordão de células que se embebe no embrião e subsequentemente se torna oco (forma uma cavidade) que origina o tubo neural; Neurulação • O quanto essas formas de construção são usadas depende da classe de vertebrados: exemplo: • peixes é exclusivamente secundária; • aves, as porções anteriores do tubo neural são construídas por neurulação primária, ao passo que o tubo neural caudal é construído por neurulação secundária; • anfíbios a maior parte do tubo neural do girino é produzida por neurulação primária, mas o tubo neural caudal é derivado de neurulação secundária; • mamíferos, a neurulação secundária começa aproximadamente ao nível do somito 35 (em camundongos); Neurulação primária • Em vertebrados, a gastrulação cria um embrião com uma camada endodérmica interna, uma camada mesodérmica intermediária e um ectoderma externo; • A interação entre o mesoderma dorsal e o ectoderma que a ele se sobrepõe é uma das interações mais importantes em todo o desenvolvimento de tetrápodes, porque ela inicia a organogênese, a criação de tecidos e órgãos específicos; • Nessa interação, o cordomesoderma estimula o ectoderma acima dele a formar o tubo neural oco, que se diferenciará em cérebro e medula espinhal; Neurulação em anfíbios e amniotas. (A) Diagrama representativo da formação do tubo neural. As células ectodérmicas estão representadas como precursoras da crista neural (preto) ou como precursoras da epiderme (marrom). O ectoderma se dobra no ponto mais dorsal, formando a epiderme externa e um tubo neural interno conectados pelas células da crista neural; • Durante a neurulação primária, o ectoderma original é dividido em três conjuntos de células: – (1) o tubo neural posicionado internamente, que formará o cérebro e a medula espinhal; – (2) a epiderme posicionada externamente; – (3) as células da crista neural, as quais migram da região de conexão entre o tubo neural e a epiderme, e irão gerar os neurônios periféricos e as células da glia, as células pigmentadas da pele e vários outros tipos de células; Neurulação primária Neurulação em aves. (B) Fotomicrografias de neurulação em um embrião de galinha de 2 dias. (C) Formação do tubo neural vista em seções transversais do embrião de galinha na região do futuro mesencéfalo (setas em B). Cada fotografia em C corresponde à outra acima dela. (HF, prega cefálica; HP, processo cefálico; HN, nódulo de Hensen; M, mesencéfalo; NP, placa neural). Neurulação primária O processo de neurulação primária em embriões de rã está descrito na Figura abaixo e parece ser similar em anfíbios, aves e mamíferos Três vistas da neurulação em um embrião de anfíbio, mostrando em cada caso nêurulas precoce (esquerda), média (centro) e tardia (direita). (A) Seção transversal no centro do embrião. (B) A mesma seqüência olhando a superfície dorsal do embrião inteiro, de cima para baixo. (C) Seção sagital pelo plano mediano do embrião. Neurulação primária • A primeira indicação que uma região do ectoderma está destinada a se tornar tecido neural é uma mudança na forma celular (Figura a seguir). • As células ectodérmicas da linha média tornam-se alongadas, enquanto as células destinadas a formar a epiderme se tornam mais achatadas. O alongamento das células ectodérmicas dorsais causa a elevação dessas regiões neurais presuntivas acima do ectoderma circundante, criando assim, a placa neural. (A) Formação das pregas neurais ocorre quando as células epidérmicas presuntivas se movem para dentro, na direção da linha média do embrião. Essa epiderme presuntiva empurra a placa neural abaixo dela, enquanto se move. (B) Enquanto as células da linha média da placa neural (células da placa do assoalho) são ancoradas à notocorda, as pregas neurais são elevadas. Esses movimentos parecem continuar enquanto a epiderme, se movendo para o meio, puxa com ela a placa neural, resultando na justaposição das pregas neurais. (C) Nas três regiões de articulação, as células da placa neural mudam seu comprimento e sofrem uma constrição nos seus ápices MHP –ponto de articulação mediano DLHP –ponto de articulação dorsolateral A mecânica da neurulação primária • Etapas da neurulação primária: – (1) a formação da placa neural – (2) a formação do assoalho da placa neural – (3) a modelagem da placa neural – (4) o dobramento da placa neural para formar o sulco neural – (5) o fechamento do sulco neural para formar o tubo neural. (A) Sulco neural rodeadopor células mesenquimatosas. (B) Células neuroepiteliais alongadas formam um tubo, enquanto as células epidérmicas achatadas são trazidas à linha média do embrião. As células MHP formam uma articulação no fundo do tubo, enquanto as células da placa neural, ligadas à área basal do ectoderma da superfície formam as regiões de articulações dorsolaterais. Essas três articulações podem ser vistas como sulcos. (C) A formação do tubo neural é completada. As células que eram a placa neural estão agora dentro do embrião. A epiderme presuntiva se localiza acima do tubo, e o tubo neural é ladeado pelos somitos mesodérmicos e no fundo limitado pela notocorda. • A formação do tubo neural não ocorre simultaneamente ao longo do ectoderma. Isso pode ser melhor observado naqueles vertebrados (como aves e mamíferos) cujo eixo corporal se alonga antes da neurulação. • A Figura a seguir detalha a neurulação em um embrião de galinha com 24 horas. A neurulação na região cefálica (cabeça) está bastante adiantada, enquanto a região caudal (rabo) do embrião está ainda gastrulando. Embrião de galinha de 24 horas. As porções cefálicas estão terminando a neurulação enquanto as porções caudais estão ainda gastrulando; • A regionalização do tubo neural também ocorre como resultado de mudanças na forma do tubo. Na ponta cefálica (onde se formará o cérebro) a parede do tubo é larga e grossa. Aqui, uma série de inchaços e constrições definirão os vários compartimentos do cérebro. • Na parte caudal, o tubo neural permanece um simples tubo que se afina em direção à cauda. As duas pontas abertas do tubo neural são chamadas neuróporo anterior e neuróporo posterior. • O fechamento do tubo neural nos mamíferos ocorre de maneira diferente da galinha, pois tem inicio em vários locais ao longo do eixo ântero-posterior. Neurulação em embriões humanos. (A) Seções dorsal e transversal de um embrião humano de 22 dias, iniciando a neurulação. (B) Vista dorsal de um embrião humano em neurulação, um dia depois. A região do neuróporo anterior está se fechando, enquanto o neuróporo posterior permanece aberto. (C) Regiões de fechamento do tubo neural. • Falha no fechamento do tubo neural anterior resulta em uma condição letal, anencefalia. Aqui, o cérebro anterior permanece em contato com o líquido amniótico e em seguida degenera. O desenvolvimento do cérebro anterior fetal cessa, e a abóboda do crânio não se forma; • (D) Anencefalia devido a falta de fusão da placa neural na região 2. Vários defeitos no tubo neural são causados pelo não fechamento em alguns segmentos Anencefalia • Falha no fechamento na região posterior do tubo neural humano aos 27 dias (ou a ruptura subsequente do neuróporo posterior) resulta na condição denominada espinha bífida, cuja severidade depende de quanto da medula espinhal permanece aberta. • (E) Espinha bífida devida a falta de fusão na região 5 (ou pela falta de fechamento do neuróporo mais posterior). Vários defeitos no tubo neural são causados pelo não fechamento em alguns segmentos Espinha bífida Prevenção • O ácido fólico atua na prevenção de anomalias congênitas no primeiro trimestre da gestação. Ele é recomendado na prevenção primária da ocorrência de defeitos do fechamento do tubo neural; • Defeitos do tubo neural são malformações que ocorrem no início do desenvolvimento fetal, sendo os principais: anencefalia e espinha bífida; • Foi estimado que aproximadamente 50% dos defeitos do tubo neural poderiam ser evitados se as mulheres grávidas tomassem suplementos de ácido fólico (vitamina B12), e o Serviço de Saúde Pública dos EUA recomendam que todas as mulheres em idade fértil tomem 0.4mg diários de ácido fólico para reduzir o risco de defeitos do tubo neural durante a gravidez; Prevenção • O principal problema desta prevenção reside no fato de que grande parte das gestações não são planejadas e, assim, quando as mulheres descobrem que estão grávidas já é tarde para se fazer a suplementação com o ácido fólico; • Por este motivo o principal foco é que as mulheres em idade reprodutiva tenham uma alimentação balanceada que contenha alimentos ricos em ácido fólico; • As principais fontes deste nutriente são as vísceras, o feijão e os vegetais de folhas verdes como o espinafre, aspargo e o brócolis, além de abacate, abóbora, carne de vaca, carne de porco, cenoura, couve, fígado, laranja, leite, maçã, milho, ovo e queijo; • Essas anormalidades não são raras em humanos, pois estão presentes em aproximadamente um em cada quinhentos nascimentos viáveis. • Defeitos de fechamento do tubo neural podem freqüentemente ser identificados durante a gravidez por vários testes físicos e químicos. Neurulação secundária • A neurulação secundária envolve a formação do cordão medular e seu subsequente esvaziamento interno formando o tubo neural; • Na rã e na galinha, esse tipo de neurulação é geralmente identificado na formação das vértebras lombares e caudais; Formação do tubo neural secundário no embrião de galinha de 25-somitos. (A) A formação do cordão medular na ponta mais caudal do broto da cauda da galinha. (B) Cordão medular pouco mais anterior no broto da cauda. (C) Formação de cavidades do tubo neural e formação da notocorda. (D) Lumens coalescem para formar o canal central do tubo neural;