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�PAGE � UNIVERSIDADE DE SOROCABA Curso de Letras Língua Portuguesa: Teoria Gramatical Origem e processo evolutivo da língua portuguesa CONCEITO DE LATIM CLÁSSICO E DE LATIM VULGAR O latim, um dos nove ramos do indo-europeu (protolíngua), era falado no Lácio - região à margem do rio Tibre, hoje território de Roma. Aos poucos, o latim foi se estilizando e se aprimorando nas obras dos grandes escritores; depois de algum tempo, passa a ter dois aspectos distintos: -o clássico (sermo urbanus) e o vulgar ( sermo vulgaris) Latim Clássico Conceito Era o latim da língua escrita, literária; artificial e conservador, tende a fixar-se e a servir de modelo aos intentos artísticos. Características a) língua dos escritores ( Vergílio, César, Ovídio, Horácio, Cícero) b) elegância de estilo (urbanitas) c) correção gramatical d) escolha de vocabulário e) língua sintética f) liberdade na colocação das palavras Vocabulário - uso de palavras cultas: equus, ignis, auris, ludus, ager - uso das palavras segundo as terminações casuais: Liber Petri (livro de Pedro) Discipuli sunt boni (Os alunos são bons). 1.4 Fonologia - predomínio de vocábulos proparoxítonos: cathedram, ponere, alacrem, attonitum - acentos breve ( ˘ ) ou longo ( ˉ ) - consoantes duplas: flamma, gutta, effectu - apenas os ditongos ae, oe, au: caelu, foedum, tauru 1.5 Morfologia a) cinco declinações: 1ª - a, ae - hora, horae 2ª - us, i - lupus, lupi 3ª - is, is - ovis, ovis 4ª -us, us - cantus, cantus 5ª -es, ei - dies. diei b) seis casos: - nominativo - dativo - vocativo - ablativo - genitivo - acusativo c) três gêneros: - feminino (1ª declinação) - masculino (2ª declinação) - neutro (4ª declinação) d) formas sintéticas do grau superlativo: - justissimus, acerrimus, facilimus e) ausência de artigos e preposições discipuli magistrae f) quatro conjugações verbais: - are ( amare - ere ( vendere - ere ( ponere - ire ( partire 1.6 Sintaxe - ordem livre das palavras na frase magister amat suos liberos / suos liberos magister amat 2 Latim Vulgar 2.1 Conceito Era o latim falado pelo povo, que transmite suas ideias espontaneamente, sem se preocupar com os conceitos gramaticais. Primeiramente, era usado pelas classes inferiores da sociedade romana; depois, por todo o império romano. Características a) língua falada: marca da indisciplina, mobilidade, simplicidade b) rica em neologismos c) sem preocupação com a gramática ou com o estilo d) tendência à ordem direta e) tendência ao analitismo amatus est, em vez de amaris Liber de Petrus, em vez de Liber Petri Vocabulário - uso de palavras mais populares: caballus em vez de equus focus em vez de ignis grandis em vez de magnus jocus em vez de ludus campus em vez de ager - preferência pelo emprego de sufixos diminutivos (- ulus, - ula): auricula em vez de auris genuculu em vez de genu - emprego de termos pejorativos: Perna, em vez de crus; bucca em vez de os (oris) 2.4 Fonologia - alterações fonéticas, regulares e constantes; os chamados metaplasmos 2.5 Morfologia a) declinação - três declinacões: 1ª, 2ª e 3ª - a 5ª declinação confundiu-se com a 1ª e a 3ª; a 4ª, com a 2ª declinação, pela semelhança de suas terminações dies, diei (5ª) ( dia, diae (1ª); fructus, fructus (4ª) ( fructus, fructi (2ª) - redução dos casos: na Península Ibérica, predominou o caso acusativo (caso lexicogênico no português) causam (1ª declinação) pinum (2ª declinação) mensem (3ª declinação) - vestígios de outros casos: nominativo - em nomes próprios: Apolo, Eneias, Maria, Carlos vocativo - ave-Maria genitivo - nos patronímicos: Fernandes, Mendes, Lopes, Antunes - nos compostos: terrae + motu, aquae + ductus, agri + cultura, maior + domus dativo - em substantivos compostos: cruci + fíxu, Deo + datu - nas formas pronominais: mihi — tibí — sibi — illi > mim — ti — si — lhe ablativo - em nomes próprios de lugares: Chaves (Flaviis), Sagres (Sacris) b) gênero - o feminino a vem do acusativo da 1ª declinação: casam > casa. - o masculino o vem do acusativo da 2ª declinação: ferrum > ferru > ferro Obs.: No português arcaico, os substantivos e adjetivos terminados em or, es, ol, nte, eram uniformes; hoje, por analogia, têm a terminação a do feminino. - espanhol, portugues, pastor, infante. O neutro latino desapareceu; o neutro plural (a) passou para feminino e o neutro singular (u > o), para o masculino. - ferramenta, vestimenta, lenha ( conservam a ideia de plural. c) número - o acusativo plural (caso lexicogênico) deu a terminação do plural dos nomes: s- plural sigmático rosas, lupos, menses - marca de plural pelo timbre da vogal : focu > fogo ( focos > fogos d) conjugações Verbais - de 4 conjugações do latim clássico, para 3 no latim vulgar: 1ª are > ar ( amare > amar 2ª ere > er ( vendere > vender 3ª ere > er ( legere > legere > ler 4ª ire > ir ( partire > partir e) terminações nasais - as terminações nasais do singular simplificam-se numa única, dando origem ao ditongo ão no português. manum > mão - sunt > são panem > pão - multitudinem > multidão leonem > leão - no plural, porém, não houve tal analogia. manos > mãos - panes > pães leones > leões - multitudines > multidões f) redução de ditongos e hiatos a simples vogais - mulierem > mulher - coena > cena - dodecim > doze g) paroxitonização cathedra > cadeira - dominus > dono h) criação do artigo - pelo uso intenso do pronome demonstrativo com o substantivo, como reforço, surgiu o artigo. illum > illu > ilu > ilo > lo > o illam > illa > ila > la > a illam filiam > a filha i) abandono de alguns tempos verbais do latim clássico - particípio presente: merentis (merecendo), imitantis (imitando) - particípio futuro: futurus, nasciturus - supino: imitatum (para imitar) Vestígios no português: substantivos: lente, crente, futuro preposições: mediante, durante j) analitismo - forma composta do futuro do presente e futuro do pretérito dos verbos amare habeo > amarei amare habebam > amaria - forma composta da voz passíva amatus sum, amatus es, amatus est, amatus sumus, amatus estis, amatus sunt - forma composta do grau superlativo absoluto sintético multum altum (altissimus) multum facilis (facilimus) multum celeber (celeberrimus) - forma composta dos advérbios hoc ano ( ogano (arcaico) ad noctem (heri) ( ontem hac hora (nunc) ( agora ad manianam (cras) (amanhã 2.6 Sintaxe O desaparecimento das terminações causais provocou: estabelecimento da ordem direta das palavras na oração: sujeito / verbo / complemento b) uso intenso de preposições: in, ad, cum,de, ex c) acúmulo de preposições: de ex de > desde; cum mecum > comigo 3 Fontes do Latim Vulgar O latim, embora língua predominantemente falada, teve, naturalmente, seus documentos, seus registros. Principais informações do latim vulgar: - trabalho dos gramáticos na correção de formas errôneas - obras de comediógrafos (na fala de pessoas do povo) - inscrições de artistas plebeus - cochilos de copistas-erros ocasionais dos próprios escritores cultos - obras de escritores da decadência romana, que tinham estilo simples, sem preocupação com a gramática - Appendix Probi, obra de gramático desconhecido, de Roma, séc. III, apresenta uma relação de 227 palavras escritas conforme eram usadas pelo povo e corrigidas pelo autor - speculum non speclum - oculus non oclus - vobiscum non voscum REFERÊNCIAS BUENO, Francisco da Silveira. Formação histórica da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1958. COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica. 17 ed. rev. Rio de Janeiro: Livro Técnico, 2000. �PAGE � � PAGE \* MERGEFORMAT �1�
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