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Capítulo 03 QEE Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br 4. DIMENSIONAMENTO DE TRANSFORMADORES COM CARGA NÃO LINEAR Dentro de uma instalação elétrica, o transformador de potência é um foco permanente de atenção, pois ele é a fonte de tensão para os demais equipamentos elétricos, e as características desta fonte devem ser as mais próximas possíveis das de uma fonte ideal. O dimensionamento (escolha) de um transformador depende da tensão, da potência, do local da instalação, do fator de demanda, das características de perdas em vazio e tensão de curto-circuito e do tipo das cargas (linear, não linear, intermitentes, pulsadas etc.). Caso todos estes parâmetros não sejam adequadamente avaliados os transformadores se tornarão uma fonte de distúrbios para a qualidade da energia elétrica, tanto gerando como disseminando. Para o dimensionamento de um transformador quando o mesmo alimenta cargas onde necessariamente a potência AC do secundário terá que ser retificada (tais como: retificadores controlados ou não controlados, inversores e fontes controladas de tensão ou corrente), deve-se considerar um novo e importante parâmetro, que é chamado fator de utilização do transformador (FUT), o qual depende da topologia do retificador, n° fases e tipo de filtro colocado no lado CC (link CC). O FUT é dado por (ver referência [08] para maiores detalhes): PotênciaMédiaCC FUT = PotênciaAparenteTrafo (4.1) Com o intuito de salientar este fato, foram feitas simulações computacionais de seis configurações de retificadores utilizando software Pspise. Em todas estas se deseja obter 10 kW no lado CC de potência média CC. Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br 4.1 Transformador Monofásico alimentando um retificador com Carga Resistiva Figura 4.1 – Retificador alimentado uma carga resistiva. Esta situação é pouco comum, mas serve de base de comparação para o que se deseja mostrar. Pode-se verificar através da corrente e tensão do secundário que o fator de potência é unitário o que poderia levar a concluir que um transformador de 10 kVA atenderia a carga. Vamos proceder ao calculo da potência aparente do transformador a partir da necessidade de fornecer 10 kW de potência CC. VS IL 10 kW VL TRANSFORMADOR RETIFICADOR CARGA CARGA c a r g a R X IS Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br - 1o Passo: Cálculo da resistência da carga: Vamos considerar que o transformador monofásico tem uma tensão de secundário de 220 V. Pcc = Vcc Icc (4.2) T cc L 0 1 V = V (t) dt T (4.3) Onde: VL(t) = tensão na carga T = período da onda cc cc V I = R (4.4) Assim: 2 cc cc V P = R (4.5) m cc V V = (4.6) R = 3.9 Ώ (4.7) - 2o Passo: Cálculo da corrente eficaz no secundário do transformador. rms rms V I = R (4.8) T 2 rms L 0 1 V = V (t) dt T (4.9) 2 Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br Fig. 4.2 – Resultado da simulação do retificador monofásico, tendo como carga uma resistência e sem filtro C rms 220 I = = 56,12 A 3,9 (4.10) Pela topologia do retificador podemos afirmar que a corrente eficaz na carga é a mesma que circula no secundário do transformador. Deste modo a potência aparente do transformador é: S = 220 56,12 = 12,4 kVA (4.11) Nesta simulação observa-se que a corrente e tensão no secundário do transformador são senoidais, e que a potência aparente do mesmo é cerca de 24% maior do que a potência CC solicitada pela carga. Observa-se ainda que a tensão retificada V(Vl,Vlr) tem uma forte ondulação (Ripple) a qual é da ordem de 48%. A pequena diferença que há entre o calculo e a simulação deve-se ao foto que no cálculo tudo é idealizado e na simulação as resistências internas dos diodos são consideradas. Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br 4.2 Transformador Monofásico alimentando um retificador com Filtro C Vamos supor agora que a ondulação de 48% seja considerada incompatível com as características da carga, e que se deseja uma ondulação menor ou igual a 5%. Nesta situação a solução mais barata costuma ser projetar um filtro C e instalar na saída do retificador. Resumindo, a carga continua sendo de 10 kW, mas com uma ondulação bem menor. Nesta situação foi simulado o circuito da fig.4.3 Como as formas de ondas, tanto da tensão como da corrente, já não são mais senoidais, os cálculos matemáticos tornam-se um pouco complicados. Assim, faremos uso apenas da simulação. Nesta simulação observa-se que a corrente e tensão no secundário do transformador não são mais senoidais, e agora a potência aparente do mesmo é cerca de 130% maior do que a potência CC solicitada pela carga. Observa-se ainda que a tensão retificada V(Vl,Vref) tem um ripple de aproximadamente 5%. VS IL 10kW VL TRANSFORMADOR RETIFICADOR FILTRO CARGA c a r g a R X IS Fig. 4.3 – Retificador com filtro capacitivo. C Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br Outro fator que deve ser analisado é o fator de crista. A definição do fator de crista é: S(pico) S I FC = I (4.12) Onde: Is(pico) = Corrente de pico no secundário do transformador Is = Corrente eficaz no secundário do transformador No caso de correntes senoidais o FC é 1.14, ou seja, a raiz quadrada de dois. Pelo resultado da simulação, o FC é de 2 . Como conseqüência, teremos a distorção da forma de onda da tensão no secundário do transformador e, se este alimenta outras cargas, haverá uma disseminação de um problema de qualidade da energia elétrica. Considerando o FUT para estimar a potência aparente do transformador, vamos calculá-lo para este caso: 48.0 15,21 2,10 kVA kW FUT (4.13) Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br Fig. 4.4 – Resultado da simulação do retificador monofásico, tendo como carga uma resistência e com filtro C.A interpretação do FUT nos diz que para cada 1 kW de potência CC com esta configuração são necessário 2,07 kVA de potência aparente do transformador. Time 670ms 675ms 680ms 685ms 690ms 695ms667ms 700ms AVG(V(VL)-V(Vref))* AVG(I(R1)) RMS(V(Vs))* RMS(I(R2)) 0W 10KW 20KW SEL>> Pcc = 10,2 kW S = 21,15 kVA V(VL)- V(Vref) I(R1) AVG(V(VL)-V(Vref)) 0 100 200 300 Icc = 34,60 A (688.518m,293.816) I(R2) RMS(I(R2)) V(Vs) -400 0 400 Is = 94A (686.922m,240.516) Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br 4.3 Transformador trifásico alimentando um retificador de Meia Onda com Carga Resistiva Fig. 4.6 – Resultado da simulação do retificador Trifásico tendo como carga uma resistência VS IL 10 kW VL TRANSFORMADOR RETIFICADOR CARGA c a r g a R X R X R X IS Fig. 4.5 – Retificador Trifásico com ponto neutro. Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br Nesta simulação observa-se que a tensão é senoidal no secundário do transformador mas a corrente é uma onda aproximadamente quadrada e não simétrica, e a potência aparente do mesmo é cerca de 55% maior do que a potência CC solicitada pela carga. A tensão na carga V(Vl) tem um forte ripple de cerca de 18%, mas utilizam-se apenas três diodos no processo de retificação trifásico. Esta topologia de retificador gera uma componente de corrente contínua no secundário do transformador o que pode causar saturação no núcleo. Além disso, temos uma corrente de neutro 73% maior que as correntes de fase. O FUT neste caso indica que para cada 1 kW de potência CC teremos 1,55 kVA de potência aparente solicitada do secundário do transformador. 4.4 Transformador Trifásico alimentando um retificador Meia Onda com Filtro C na Saída A ondulação na tensão de saída de 18% causada pela topologia inadmissível do retificador anterior é, em muitas situações, de utilização de potência CC. E como solução em muitos casos, é projetado e instalado um filtro C VS IL 10 kW VL TRANSFORMADOR RETIFICADOR FILTRO CARGA c a r g a R X R X R X IS Fig. 4.7 – Retificador trifásico com filtro capacitivo Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br capacitivo na saída. Sendo apenas esta a modificação, redução na ondulação, para valores em trono de 5%. O circuito da figura 4.7 foi simulado e o resultado é mostrado na fig.4.8. A análise dos resultados mostra que o FC é de 3,9, o que com certeza vai causar problemas na tensão de secundário e, por conseguinte, disseminar tensões harmônicas para os demais equipamentos que forem alimentados por este mesmo transformador. O FUT é de 0,35. Logo, para cada 1 kW de potência CC com esta configuração teremos 2,82 kVA de potência aparente solicitada do secundário do transformador. Fig. 4.8 – Resultado da simulação do retificador trifásico com ponto neutro tendo como carga uma resistência. Time 550ms 555ms 560ms 565ms 570ms 575ms 580ms 585ms 590ms 595ms 600ms AVG(V(VL))* AVG(I(R1)) 3* RMS(I(D1))* RMS(V(Va)) 0W 20KW 40KW S = 29,7 kVA Pcc = 10,2 kW V(VL) AVG(V(VL)) AVG(I(R1)) 0 200 400 SEL>> Vcc = 294 V Icc = 34.9 A I(D1) V(Va) RMS(I(D1)) -400 0 400 I(D1) = 212 A ( pico) Is = I(D1) 45 A Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br 4.5 Transformador Trifásico alimentando uma Carga Resistiva Esta topologia de retificador trifásico é a mais utilizada na geração de potência CC, quando esta é da ordem de centenas de kW. A mesma apresenta uma baixa ondulação na tensão retificada, não tem corrente de neutro e nem componente CC nas fases. Fig. 4.9 – Retificador trifásico em ponte com carga resistiva. Fig. 4.10 – Resultado da simulação: retificador trifásico tipo ponte, carga resistiva VS IL 10k W VL TRANSFORMADOR RETIFICADOR CARGA c a r g a R X R X R X IS Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br Nesta simulação observa-se que a tensão é senoidal no secundário do transformador com uma corrente aproximadamente quadrada mas simétrica, e o FUT é de 0,95, o que corresponde a uma potência aparente só 5% maior do que a potência CC a ser fornecida a carga. E verifica-se um ripple de tensão na carga V(Vl,Vlr) de 4% apenas. 4.6 Transformador Trifásico alimentando um retificador com Filtro CC na saída Esta topologia de conversor CA-CC com filtro C é a interface mais encontrada nos sistemas de acionamento de motor de indução operando com velocidade variável. O banco de capacitor colocado no link CC tem a função de dar uma característica de fonte de tensão ao inversor assim como permitir a circulação de reativo do motor de indução. Na fig.4.13 nós temos a corrente no domínio do tempo lida na entrada do inversor, cuja interface com o sistema de distribuição é formado por um retificador não controlado e tendo um filtro CC na saída. Na fig. 4.12 nós temos a forma de onda da corrente, resultado de uma simulação deste mesmo tipo de interface utilizando o software Pspice. A semelhança entre os dois já era de se esperar visto que este software tem mais de 20 anos de uso na Engenharia Elétrica com grande aceitação pelos seus resultados. Fig. 4.11 – Retificador trifásico em ponte com filtro capacitivo C VS IL 10kW VL TRANSFORMADOR RETIFICADOR FILTRO CARGA c a r g a R X R X R X IS Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br Fig. 4.12 – Resultado da simulação do retificador trifásico tipo ponte tendo como carga uma resistência com um filtro na saída Time 250ms 255ms 260ms 265ms 270ms 275ms AVG(V(VL)-V(Vr))* AVG(I(R1)) 3* RMS(I(L1))*RMS(V(Va)) 0W 10KW 15KW 20KW SEL>> S = 17,4 kVA Pcc = 10 kW V(VL)- V(Vr) AVG(V(VL)-V(Vr)) 400V 450V 500V 550V 600V (260.000m,521.109) (268.600m,506.582) (266.771m,533.099) I(L1)*5 V(Va) RMS(I(L1))*5 -400 0 400 (270.795m,310.968) Isrms = 26.3 A Ispico= 70,4 A Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveiramelo@emc.ufg.br Fig. 4.13 – Corrente de alimentação de um acionamento de velocidade variável. Um inversor alimentando um conjunto motor bomba. Oferta do Prof. Euler. Nesta simulação observa-se que a tensão já não é uma senoide pura no secundário do transformador e a corrente é um conjunto de pulsos, cujo pico atinge 70 A, e a potência aparente do mesmo é cerca de 70% maior do que a potência CC solicitada pela carga. A tensão na carga V(Vl,Vlr) é praticamente sem ripple, mas a solicitação de potência é 55% a mais do que sem o filtro na saída. Ou seja, esta interface apresenta um FUT de 0,57 Assim, para cada 1 kW de potência no lado CC teremos 1.7 kVA na lado CA. Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br 4.8 Dimensionamento de transformador alimentando retificador trifásico controlado O calculo do transformador será feito através da determinação dos parâmetros de saída do retificador controlado. Estes parâmetros são basicamente a tensão média, corrente média, tensão eficaz, e a corrente eficaz. Fig. 4.14 –Retificador trifásico controlado ∫ ( ) ∫ √ ( ) √ √ Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br Fig. 4.15 –Formas de onda de tensão na carga e correntes no tiristor e fase Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br 4.8.1 Cálculo do fator de potência do retificador controlado O cálculo do fator de potência desta carga não linear e feito com a determinação da série de Fourier da corrente do secundário do transformador e a formulação matemática expressa na norma IEEE-Std 1459-2010. Onde: Is1: valor eficaz da primeira harmônica da corrente do secundário. Is: valor eficaz da corrente do secundário e θ1: ângulo entre a primeira harmônica da corrente e a tensão de secundário. Série de Fourier da corrente do secundário do transformador. ( ) ∑( ) ( ) ( ) Para n= 1,3,5,7... e zero para n=2,4,6,8.... Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br ( ) ∑( ( ) √ Onde: Imn : é o valor máximo de cada harmônica. Assim o valor eficaz da 1 a harmônica é: √ [ 2 2 ∫ ] √ Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br 4.8.2 Cálculo do fator de utilização do transformador - FUT √ √ √ √ √ √ 4.9 Critério de cálculo mínimo para transformador Para calcular a potência aparente mínima que será solicitada de um transformador devemos observar os seguintes critérios: a) Tipo de carga que vai ser alimentada: linear, não-linear, pulsante e intermitente. b) Espectro harmônico da corrente esperada. c) Fator de potência estimado d) Topologia dos conversores CA-CC que o mesmo vai alimentar e) Levantamento de carga individualizada considerando a potência ativa, reativa e aparente. f) Corrente de neutro, devidamente calculada. g) Fator de crista considerando a maior carga. Qualidade na Energia Elétrica Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira melo@emc.ufg.br Na compra de um transformador, o preço ofertado representa 21% do custo do mesmo ao longo de sua vida útil, estimada em 20 anos, enquanto que as perdas a vazio e em carga representam, juntas, 79 % do custo [ ]. Por isto, o sobre dimensionamento terá um impacto devastador na conta de energia ao longo dos anos. Exercício Um motor de 200 cv vai ser instalado em uma fabrica. Sabe-se que o mesmo é de 380 V, rendimento de 0,94 , fp = 0,89 e que será acionado através de um inversor trifásico. Calcule qual é a potência aparente mínima que este conjunto vai solicitar do secundário de um transformador. BOA SORTE. ,
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