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ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS FACILITADORAS DA APRENDIZAGEM ATRAVÉS DE ENFOQUES PSICOPEDAGÓGICOS ALUNO1 RESUMO: Este trabalho visa mostrar as práticas pedagógicas de aprendizagem sob o enfoque psicopedagógico. A escola deve se preparar para lidar com as dificuldades de aprendizagem e o psicopedagogo institucional atua no sentido de evitar a rotulação precoce de crianças com problemas de aprendizagem, sem negligenciar os alunos que podem, de fato, apresentar transtornos que precisem de intervenção. Cotidianamente, este profissional presta consultoria e auxílio aos demais que trabalham na instituição de ensino visando proporcionar melhores condições para a realização do processo ensino-aprendizagem. A realização do estudo baseou-se na revisão de literatura de artigos e livros de autores referência no assunto, como por exemplo: Libâneo, Scoz, Pain, Freire, Rubinstein, entre outros. Conclui-se, que o psicopedagogo poderá contribuir, dentro do âmbito escolar, no esclarecimento de dificuldades de aprendizagem que não têm como causa apenas deficiências do aluno, mas que são consequências de problemas escolares. PALAVRAS-CHAVE: Práticas pedagógicas; Psicopedagogo; Aprendizagem. 1 Introdução Os desafios da escola atual são enormes e, só são superados se a parceria com a família estiver baseada em alicerces de confiança mútua. A construção de um mundo melhor para os filhos depende de ações baseadas em princípios e valores sólidos, cabendo aos pais assumir e exercer seu papel de formadores e educadores, juntamente com o professor e a escola. Como mediador deste processo, o psicopedagogo institucional tem como objetivo prestar consultoria e auxílio aos profissionais que trabalham na instituição 1 Graduação em ............................., Especialização em Psicopedagogia Institucional pelo Centro ------ ----------, São Paulo, Brasil. E-mail do autor:. Orientador: 2 de ensino visando proporcionar melhores condições para a realização do processo ensino-aprendizagem. A dificuldade de aprendizagem é um tema amplamente discutido na literatura científica. Um aspecto a ser considerado, é a importância de se entender a aprendizagem ativa (baseada em estratégias criativas, que tenham significado para o aluno e que o ajudem a decidir como e o que vai integrar). E, então compreender seus principais benefícios para uma educação de qualidade e como uma alternativa para evitar o fracasso obtido com a aprendizagem passiva. A aprendizagem passiva Paulo Freire (1996), chamou de educação bancária, onde o aluno é apenas ouvinte e não participa ativamente do processo de construção de conhecimento, apenas assimila (ou não) o que o professor (detentor do saber e da verdade) tenta transmitir. Em sua Carta aos Professores, Paulo Freire deixa clara a necessidade da existência de quem ensina e de quem aprende, como fator importantíssimo no processo educacional, pois para ele: “Não existe ensinar sem aprender e com isto eu quero dizer mais do que diria se dissesse que o ato de ensinar exige a existência de quem ensina e de quem aprende”. (FREIRE, 2001, p. 259). A escolha do tema foi motivada por se saber que os educadores que tem uma reflexão psicopedagógica, identificam com mais facilidade o porquê do aluno não aprender e quais os fatores que levam o mesmo a ter dificuldades no processo de aprendizagem. E que, muitas das vezes a falta de conhecimento leva-o a estigmatizar o educando contribuindo para o agravamento das dificuldades, deixando o aluno cada vez mais desmotivado a apreender. Acreditando que o sujeito aprendente necessita se sentir parte do processo de construção do conhecimento se ser sujeito ativo e não apenas um ouvinte (como sugere Freire); este trabalho visa mostrar as práticas pedagógicas de aprendizagem sob o enfoque psicopedagógico, como potenciais instrumentos para ajudar na identificação / mediação de escolares com dificuldades de aprendizagem. É importante pontuar que não é o papel do psicopedagogo apontar um método como o “melhor” ou o “mais correto”, e sim apresentar uma alternativa eficiente para uma possível dificuldade de aprendizagem gerada pela própria metodologia da instituição educacional e não pelo aluno. Centrando-se na contribuição do psicopedagogo no contexto escolar, a realização do estudo, baseou-se na revisão de literatura de artigos e livros de 3 autores referência no assunto, como por exemplo: Libâneo, Scoz, Pain, Freire, Rubinstein, entre outros, que tiveram grande contribuição em estudos sobre o tema. 2 Desenvolvimento A dificuldade de aprendizagem é um tema recorrente e que deve ser estudado levando-se em conta todas as esferas sociais em que o aluno está incluso (família, escola, sociedade, etc). Sabe-se, que nunca há uma única causa para o problema de aprendizagem. E que, o aluno que possui este quadro não é um aluno que tem deficiência mental ou distúrbios relativos. Os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a causas físicas ou psicológicas, nem a análises das conjunturas sociais. É preciso compreendê-los a partir de um enfoque multidimensional, que amalgame fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos dentro das articulações sociais (...) (SCOZ, 1996, p. 13). Na verdade, existem aspectos fundamentais que precisam ser trabalhados para obter-se um melhor rendimento em todos os níveis de aprendizagem e conhecimento. Quando se menciona aprendizagem e conhecimento não se está referindo somente a conteúdos disciplinares, mas também a conhecimento e desenvolvimento vital que são tão importantes quanto. É como destaca Freire (2001, p. 259): O fato, porém, de que ensinar ensina o ensinante a ensinar um certo conteúdo não deve significar, de modo algum, que o ensinante se aventure a ensinar sem competência para fazê-lo. Não o autoriza a ensinar o que não sabe. É mérito da escola, ajudar o aluno a desenvolver a capacidade de construir relações e conexões entre os vários “EUS” da imensa rede de conhecimento que enreda a todos. Porém, o educador enquanto mediador do processo ensino- aprendizagem, bem como protagonista na resolução e estudo das dificuldades de aprendizagem deve obter orientações específicas para que desenvolva um trabalho consciente e que promova o sucesso de todos os envolvidos no processo. A escola é sim, um espaço privilegiado para o bom desenvolvimento da aprendizagem, pois através dela o indivíduo pode ter um convívio direto com novas perspectivas de conhecimentos e diferentes contatos com seus pares. Mas, a escola não pode ser apenas transmissora de conteúdos e conhecimentos. Muito mais que isso, ela tem a tarefa primordial de “reconstruir” o papel e a figura do aprendente, 4 deixando o mesmo de ser apenas um receptor, proporcionando a este que seja o criador e protagonista do seu conhecimento. De acordo com Bassedas e cols. (1996, p. 14-15), o indivíduo participa ativamente “na construção da realidade que conhece, e que, cada modificação ou avanço que realiza no seu desenvolvimento pressupõe uma mudança na estrutura e organização dos seus conhecimentos”. Para ele, quando a pessoa enfrenta algumas situações específicas, “a sua (...) aprendizagem dependerá, obviamente, das características dessa situação, mas será determinada também, em grande parte, pelas suas características pessoais e pela organização dos seus conhecimentos”. 2.1 Ensinar e aprender: leitura do mundo e da vida É senso comum que a aprendizagem é um termo abrangente, que permite diversas conceituações. Tornando suadefinição uma tarefa complexa. Sob este ponto de vista, neste trabalho optou-se por apresentar conceituações elaboradas por investigadores renomados na área, com o propósito de ampliar as possibilidades de compreensão desse processo assim como o seu oposto: o processo do não aprender. Existem muitas teorias sobre a aprendizagem e seus processos. O que se observa ser comum entre elas, é o fato de assumirem que indivíduos são agentes ativos na busca e construção de conhecimento, dentro de um contexto significativo. Na Tabela 01, encontram-se resumidas as características de algumas das principais Teorias de Aprendizagem. Tabela 01. Principais Teorias de Aprendizagem TEORIA CARACTERÍSTICAS Epistemologia Genética de Piaget Ponto central: estrutura cognitiva do sujeito. As estruturas cognitivas mudam através dos processos de adaptação: assimilação e acomodação. A assimilação envolve a interpretação de eventos em termos de estruturas cognitivas existentes, enquanto que a acomodação se refere à mudança da estrutura cognitiva para compreender o meio. Níveis diferentes de desenvolvimento cognitivo. Teoria Construtivista de Bruner O aprendizado é um processo ativo, baseado em seus conhecimentos prévios e os que estão sendo estudados. O aprendiz filtra e transforma a nova informação, infere hipóteses e toma decisões. Aprendiz é participante ativo no processo de aquisição de conhecimento. Instrução relacionada a contextos e experiências pessoais. Teoria Sociocultural de Vygotsky Desenvolvimento cognitivo é limitado a um determinado potencial para cada intervalo de idade (ZPD); o indivíduo deve estar inserido em um grupo social e aprende o que seu grupo produz; o conhecimento surge primeiro no grupo, para só depois ser interiorizado. A aprendizagem ocorre no relacionamento do aluno com o professor e com outros alunos. 5 Aprendizagem baseada em Problemas/ Instrução ancorada (John Bransford & the CTGV) Aprendizagem se inicia com um problema a ser resolvido. Aprendizado baseado em tecnologia. As atividades de aprendizado e ensino devem ser criadas em torno de uma "âncora", que deve ser algum tipo de estudo de um caso ou uma situação envolvendo um problema. Teoria da Flexibilidade Cognitiva (R. Spiro, P. Feltovitch & R. Coulson) Trata da transferência do conhecimento e das habilidades. É especialmente formulada para dar suporte ao uso da tecnologia interativa. As atividades de aprendizado precisam fornecer diferentes representações de conteúdo. Aprendizado Situado (J. Lave) Aprendizagem ocorre em função da atividade, contexto e cultura e ambiente social na qual está inserida. O aprendizado é fortemente relacionado com a prática e não pode ser dissociado dela. Gestaltismo Enfatiza a percepção ao invés da resposta. A resposta é considerada como o sinal de que a aprendizagem ocorreu e não como parte integral do processo. Não enfatiza a sequência estímulo-resposta, mas o contexto ou campo no qual o estímulo ocorre e o insight tem origem, quando a relação entre estímulo e o campo é percebida pelo aprendiz. Teoria da Inclusão (D. Ausubel) O fator mais importante de aprendizagem é o que o aluno já sabe. Para ocorrer a aprendizagem, conceitos relevantes e inclusivos devem estar claros e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo. A aprendizagem ocorre quando uma nova informação ancora-se em conceitos ou proposições relevantes preexistentes. Aprendizado Experimental (C. Rogers) Deve-se buscar sempre o aprendizado experimental, pois as pessoas aprendem melhor aquilo que é necessário. O interesse e a motivação são essenciais para o aprendizado bem sucedido. Enfatiza a importância do aspecto interacional do aprendizado. O professor e o aluno aparecem como os corresponsáveis pela aprendizagem. Inteligências múltiplas (Gardner) No processo de ensino, deve-se procurar identificar as inteligências mais marcantes em cada aprendiz e tentar explorá-las para atingir o objetivo final, que é o aprendizado de determinado conteúdo. Fonte: adaptado de Pozo (1998). Observa-se no quadro que as teorias de aprendizagem buscam reconhecer a dinâmica envolvida nos atos de ensinar e aprender, tentando explicar a relação entre o conhecimento preexistente e o novo conhecimento. A aprendizagem não seria apenas inteligência e construção de conhecimento. Mas, basicamente, identificação pessoal e relação por meio da interação entre as pessoas (pares). O caráter processual do conhecimento é fortemente defendido pela Teoria Sócio interacionista, que enfatiza a importância do meio social no desenvolvimento das estruturas psicológicas superiores, uma vez que “(...) o aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daquelas que as cercam”. (VYGOTSKY, 1991, p. 99). Bossa (2000, p. 11) acrescenta que a aprendizagem se inicia já nos primeiros instantes de vida do bebê, quando este aprende o que é necessário para garantir a sua sobrevivência, como mamar, andar, falar e pensar. Para a autora “a 6 aprendizagem e a construção do conhecimento são processos naturais e espontâneos na espécie humana”. Vygotsky (1991, p. 33), acrescenta que o contexto social exerce grande importância no desenvolvimento das funções superiores humanas: Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social e, sendo dirigidas a objetos definidos, são refratadas através do prisma do ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social. Tendo a aprendizagem como função “incorporar o indivíduo à espécie humana, fazendo-o sujeito de uma cultura” (FERNÁNDEZ, 1991, p. 30). Portanto, a criança necessita ser interpretada/traduzida/ensinada por outra pessoa, para que assimile e compreenda a cultura em que está inserida. Pois, O conceito de aprendizagem não restrito somente aos fenômenos que ocorrem na escola, o termo tem um sentido muito mais amplo: abrange os hábitos que formamos, os aspectos de nossa vida afetiva e a assimilação dos valores culturais (DROUET, 1995, p. 11). Considerando que os pais representam as primeiras figuras que ensinam e que exercem grande influência sobre a criança; percebe-se a importância de uma ação tolerante, paciente e amorosa por parte deles no sentido de interpretar e traduzir as expressões infantis sem atropelar ou impedir seus esforços em direção à autonomia e liberdade de pensar e sentir. Entretanto, o processo de aprendizagem acaba por se inscrever “na dinâmica da transmissão da cultura, que constitui a definição mais ampla da palavra educação” (PAIN, 1992, p. 11). Sobre isso, Snyders (1988, p. 23) já dizia: Há formas de cultura que são adquiridas fora da escola, fora de toda auto formação metódica e teorizada, que não são o fruto do trabalho do esforço, nem de nenhum plano: nascem da experiência direta da vida, nós a absorvemos sem perceber; vamos em direção a elas seguindo a inclinação da curiosidade e dos desejos; eis o que chamarei de cultura primeira. Desta maneira, a cultura primeira pode ser considerada a matriz da própria vida e, por isso, a aprendizagem é um dos principais objetivos da prática pedagógica. Dentro deste processo, um dos grandes desafios da escola atual é saber conduzir o aluno que apresenta dificuldade na aprendizagem escolar e “levar 7 em consideração que nãose aprende somente dentro da escola e que o ‘aprender’ não é efeito somente da consciência” (OTTEN, 2007). Sendo importante que o indivíduo seja autônomo no processo de aprender, tornando-o mais independente no processo de viver e definir os rumos de sua vida. Segundo Peterson & Fellton-Collins (2002), quando o indivíduo é estimulado e encorajado a seguir seus interesses, ele “se envolve no verdadeiro processo do conhecimento”, resolvendo os problemas com os quais se depara, sentindo-se motivado a buscar soluções. Visto que a compreensão do que se entende por aprender é fundamental na construção de uma nova proposta de educação mais aberta e dinâmica, originando práticas pedagógicas transformadoras; o ato de aprender a aprender é, sem dúvida, uma das principais funções da difícil tarefa de educar. E quando o educando não aprende? Já que aprendizagem é diariamente vivenciada no espaço escolar e no trabalho pedagógico do professor, a vivências de situações de não aprendizagem angustiam crianças, pais e professores. Pain (1992) considera que as dificuldades de aprendizagem representam todas as perturbações que impedem a normalidade do processo de aprender, qualquer que seja o status cognitivo do sujeito. É, também, no espaço da dimensão das interações sociais que se configura a gênese das dificuldades de aprendizagem. Devendo ser relevados os fatores que o impeçam de aprender, não permitindo o aproveitamento de suas potencialidades. Do ponto de vista de Fernández (1991), não se pode entender um processo de aprendizagem a partir do aprendente, sem recorrer ao ensinante. Ao se buscar a compreensão do processo de não aprendizagem, deve-se considerar que os problemas de aprendizagem podem ser abordados sob dois aspectos, respondendo as ordens de causa interna e externa à estrutura familiar e individual do sujeito. E, como consequência da falta de conhecimento do professor e/ou da escola, podem-se desencadear traumas no aluno, e até mesmo agravar os problemas já existentes. Reforçando no educando, uma visão negativa de si mesmo, desmotivação, desinteresse e outros mecanismos de defesa (indisciplina, rebeldia ou agressão), que pode servir de alicerce para justificar a sua incompetência diante da aprendizagem escolar. Fazendo-o acreditar que seja incapaz de internalizar esses conhecimentos. 8 Para compreender essas crianças que possuem dificuldade de aprendizagem, é preciso antes de tudo, que se dê um novo significado para o termo aprender, compreendendo que ela é um processo. Nesse sentido, entende-se a necessidade do trabalho psicopedagógico atuando de forma a acompanhar o aprendiz nos processos envolvidos na aquisição e elaboração de conhecimento, estudando condições para que isso ocorra; localizando, quando necessário, dificuldades e problemas propondo caminhos para que o aprendiz possa superá-los (SOUZA, 2011). 2.2 O Psicopedagogo no contexto escolar Como já foi intrinsecamente abordado, a psicopedagogia é a ciência que estuda o processo de aprendizagem e dificuldades, muito tem contribuído para explicar a causa das dificuldades de aprendizagem, pois tem como objetivo central de estudo o processo humano do conhecimento: seus padrões evolutivos normais e patologias bem como a influência (família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento (SCOZ, 1992). No contexto escolar, o trabalho psicopedagógico acontece na forma terapêutica e preventiva. Ou seja, sua atuação não se configura apenas no atendimento e tratamento de problemas já instalados, mas atua também em pesquisa sobre a aprendizagem e desenvolvimento, no diagnóstico de alunos, individualmente, ou diagnóstico de situações escolares, atendimento individual e atendimento em grupo (FINI, 2000). Colaborando com a escola em relação a determinados alunos que apresentam dificuldades no seu processo educativo, seja em nível de aprendizagem ou de relacionamento (BASSEDAS et al., 1996). Acompanhando junto aos professores e coordenadores o aprendizado de seus educandos, orientando-os e revendo essas relações (BOSSA, 1994, p 23). Discutindo conteúdos, formas de aprender e ensinar, as avaliações, relação família e escola e, ainda, intermediando diálogo entre profissionais que atuam de forma multidisciplinar no acompanhamento do desenvolvimento humano (neurologistas, fonoaudiólogos, psicólogos e fisioterapeutas). O comprometimento de todos os envolvidos no processo de construção de conhecimento embasa decisões da ação 9 psicopedagógica para o sucesso do acompanhamento as dificuldades de aprendizagem. Na visão de Gasparin (2007) é necessário trabalhar com o profissional que está atuando com indivíduos que não estão conseguindo aprender, os quais estão com dificuldades de aprender. Os recursos apontados por Rubinstein (1996) constituem-se em instrumentos para a realização do diagnóstico e intervenção psicopedagógica: a entrevista com a família; investigar o motivo da consulta; realizar procurar a história de vida da criança realizando Anamnese; entrevistar o cliente; fazer contato com a escola e outros profissionais que atendam a criança; manter os pais informados do estado da criança e da intervenção que está sendo realizada; realizar encaminhamento para outros profissionais, quando necessário. Fernández (1991) e Pain (1992) sugerem, ainda, para diagnóstico, o uso de jogos considerando que o sujeito através deles pode manifestar, sem mecanismos de defesa, os desejos contidos em seu inconsciente. Apresentando desafios e possibilitando observar como o sujeito age frente a eles, qual sua estrutura de pensamento, como reage diante de dificuldades. Visca (1987) elaborou instrumento diagnóstico baseado em princípios interacionistas, construtivistas e propôs as seguintes etapas na avaliação e intervenção da psicopedagogia institucional: a análise do contexto em que se desenvolve o processo de aprendizagem; a leitura do sintoma; a explicação das causas que estão engendrando o sintoma; a explicação da origem dessas causas; a análise do fenômeno (dificuldade de aprendizagem); Levantamento de hipóteses e sugestões de intervenções e atividades. A intervenção psicopedagógica, abre possibilidades de mudança a partir da diferenciação, resgatando o prazer de aprender no aluno e tornando-o único ao seu modo de ver, aos olhos de sua família e da escola (RUBINSTEIN, 1993, p. 38). Construindo estratégias para um melhor desempenho, segundo suas potencialidades e interesses. Possibilitando a interação entre as pessoas envolvidas no processo de ensino-aprendizagem das crianças, agregando a equipe pedagógica para o “aprimoramento dos processos e práticas de ensino numa perspectiva mediadora, compartilhando o pensar e o agir frente a um aluno com dificuldades para aprender”. (FONSECA et al., 2012, p. 331) 10 Brincar é aprender. Entretanto, os recursos utilizados pelos psicopedagogos são, geralmente, jogos, atividades de expressão artística, linguagem oral e escrita, dramatização, criação de maquetes simbólicas e todo tipo de recursos que facilitem o desenvolvimento da capacidade de aprender com autonomia e prazer. Ao se abrir um espaço de brincar durante o diagnóstico e o tratamento psicopedagógico, já se está possibilitando um movimento na direção da melhora. O brincar como espaço de criação, de invenção, de produção é um espaço constituinte da operação psíquica e isto é indispensável na intervenção das dificuldades de aprendizagem. 2.2.1 Estratégias pedagógicas de intervenção psicopedagógica em sala de aula A estratégia de ensino escolhida de forma equivocada provoca um desestímulo na busca do conhecimento(WEISS, 2007). Para Rossini (2005, p. 216) “há uma contribuição das próprias práticas educacionais na produção do fracasso escolar”. Assim, considera-se que cabe ao psicopedagogo juntamente com uma equipe interdisciplinar da escola intervir de forma preventiva ou corretiva para criar um ambiente propício a aprendizagem e eleger estratégias para contribuir com o sucesso escolar. Sob o olhar psicopedagógico, as mudanças de estratégias de ensino podem contribuir para que todos aprendam. Em alguns casos, as estratégias de ensino não estão de acordo com a realidade do aluno. Em sua prática, o professor precisa rever a metodologia utilizada para ensinar, através de outros métodos ou atividades ele poderá detectar quem realmente está com dificuldade de aprendizagem, evitando os estigmas, que muitas vezes, prejudicam a criança trazendo-lhe várias consequências, como a baixa-estima e até mesmo a evasão escolar. Pois, como enfatiza Coelho (1999 p.12): “O que é ensinado e aprendido inconscientemente tem mais probabilidade de permanecer”. Aprender é uma agradável aventura, onde desafios surgem diariamente e com o lúdico, com os jogos e outras tantas possibilidades nas práticas pedagógicas, pode-se criar significados e sentidos novos ao sujeito que aprende e ensina. Para Fernàndez (1991, p. 48), “a aprendizagem é um processo cuja matriz é vincular e lúdica e sua raiz corporal; seu desdobramento criativo põe-se em jogo através da articulação inteligência-desejo e do equilíbrio assimilação-acomodação”. 11 A característica lúdica dos jogos permite que a criança tenha uma atitude mais livre de exploração e entendimento das situações problema, o que nas situações mais formais da sala de aula nem sempre ocorre. Os jogos permitem o diagnóstico dos modos de pensar da criança, bem como podem ser um bom instrumento de intervenção para a compreensão e superação de dificuldades de aprendizagem (SOUZA, 2000, p. 122-123). Após leitura sobre a aplicação ferramentas pedagógicas para obter êxito no processo ensino-aprendizagem, pode-se confirmar que a estratégia de aprendizagem ativa, significativa e colaborativa é mais eficiente. Pois nesta proposta o professor faz a mediação das discussões dos grupos, corrigindo equívocos com novos questionamentos aos alunos, buscando que eles, em interação com seus pares, encontrem a solução. Cabe ao professor instigar, estimular os alunos para construírem junto um novo conhecimento, valorizando e colocando em primeiro plano as discussões dos alunos nas atividades realizadas em equipes. Desta forma, o conhecimento tende a ser tomado como importante para a vida e não só para fazer a prova. O desenvolvimento do autoconceito positivo das crianças deve ser uma outra preocupação central do professor. Se tiver uma autoimagem positiva a criança terá a necessária motivação para aprender e poderá ir adquirindo um comportamento independente. Essa é a melhor forma de preparar o aluno para sair-se bem nas situações novas com que se defronta. Já Candido (2010), refere como sendo práticas pedagógicas inovadoras de aprendizagem sob o enfoque psicopedagógico, as seguintes atividades: relacionamento com os pais; relacionamento com as escolas de origem; o olhar das professoras com relação às queixas das famílias sobre os filhos; o olhar das professoras quanto às queixas das crianças sobre os pais; planejamento das atividades pedagógicas; práticas educativas com relação à questão disciplinar e dificuldades de aprendizagem e práticas pedagógicas nas salas de reforço: inovação pela diversidade. 3 Conclusão Ao refletir sobre a aprendizagem, de a maneira como ela se concebe, pode-se dizer que, desde o momento em o indivíduo nasce, inicia-se o processo de aprendizagem. Neste processo, o ser humano constroi sua estrutura de personalidade de acordo com as relações sociais na qual está inserido. 12 A aprendizagem ocorre através da estimulação do ambiente sobre o indivíduo maturo, onde, diante de uma situação/problema, se expressa uma mudança de comportamento, recebendo interferência de vários fatores – intelectual, psicomotor, físico, social e emocional. Desde o nascimento, o indivíduo faz parte de uma instituição social organizada – a família - e depois, ao longo da vida, integra outras instituições. Nessa interação vai se construindo uma rede de saberes, onde todos os membros da sociedade são parceiros possíveis, contribuindo cada um com seus conhecimentos, suas práticas, valores e crenças. Quando o caminho é o oposto da aprendizagem, existe o desafio de compreender a complexidade dos múltiplos fatores envolvidos neste processo. A escola deve se preparar para lidar com as dificuldades de aprendizagem e o psicopedagogo é um profissional apto a auxiliar a instituição escolar e a família nesse sentido. É importante que o trabalho psicopedagógico institucional atue no sentido de evitar a rotulação precoce de crianças com problemas de aprendizagem, mas também não negligencie a pequena parcela de alunos que podem, de fato, apresentar transtornos que vão demandar ajuda especializada. Na escola, o psicopedagogo poderá contribuir no esclarecimento de dificuldades de aprendizagem que não têm como causa apenas deficiências do aluno, mas que são consequências de problemas escolares, tais como: Organização da instituição; Métodos de ensino; Relação professor/aluno; Linguagem do professor, dentre outros. Ele poderá atuar preventivamente junto aos professores: Explicitando sobre habilidades, conceitos e princípios para que ocorra a aprendizagem; Trabalhando com a formação continuada dos professores; Na reflexão sobre currículos e projetos junto com a coordenação pedagógica; Atuando junto com a família/alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, apoiado em uma visão holística, levando-o a aprender a lidar com seu próprio modelo de aprendizagem, considerando que esses problemas podem ser derivados: das suas estruturas cognitivas; de suas questões emocionais; da sua resistência em lidar com o novo ou outra derivação que possa se apresentar. O psicopedagogo tem a sua disposição várias práticas pedagógicas para detectar/acompanhar os problemas de aprendizagem. Para que isso ocorra, é 13 essencial como psicopedagoga desenvolver uma compreensão acerca do aluno enquanto sujeito singular, desvencilhando-o de rótulos e patologias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BASSEDAS, E. et al. 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