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1 Permeabilidade e Percolação Objectivos da aula � Noção dos valores mais usuais do coeficiente de permeabilidade (k) para cada tipo de solo; � Conhecer diferentes formas de estimar k; � Potencialidades dos métodos de avaliação de k; � Noção de coef. de permeabilidade equivalente e efeitos de camadas com permeabilidade extremas na percolação através de maciços estratificados. 2 Introdução � O coeficiente de permeabilidade de um solo é um dos parâmetros geotécnicos mais variável, tendo importância fundamental nas características do escoamento; � O tipo de solo fornece uma ideia qualitativa do intervalo de valores possíveis de k, mas uma estimativa precisa requer avaliação experimental (camadas finas podem ter efeitos significativos na permeabilidade de um depósito!) Estimativa do Coeficiente de Permeabilidade � O coeficiente de permeabilidade de um solo pode ser estimado, qualitativamente com base em: - intervalos qualitativos definidos em função do tipo de solo; - expressões semiempíricas, as quais são aplicáveis essencialmente a solos granulares 3 � k tem os seguintes intervalos mais comuns: Tipo de solo K (m/s) para solos sedimentares Grau de permeabilidade (Terzaghi & Peck, 1967) Cascalho limpo > 10 -2 Alto Areia Grossa 10-2 a 10-3 Areia Média 10-3 a 10-4 MédioAreia Fina 10-4 a 10-5 Areia Siltosa 10-5 a 10-6 Baixo Siltes 10-6 a 10-8 Muito baixo Argilas 10-8 a 10-10 Quase Impermeável � Existem algumas expressões semiempíricas que permitem estimar o coef. de permeabilidade, sobretudo em solos granulares. Hazen (1930) propôs uma das mais conhecidas: Outros autores sugerem valores de C mais baixos e bastante variáveis: 100 a 4200, com média de 1600 (Lambe & Whitman, 1979) 10000;,)/( 10210 ≈×= CmemDcomDCsmk 4 � Esta incerteza é típica de expressões semiempíricas, sendo agravada neste caso pela variabilidade inerente ao coef. de permeabilidade (a ordem de grandeza varia imenso…); � A expressão apresentada não é válida para solos argilosos! (recorde-se que nestes as propriedades dependem mais da composição química das partículas menores do que da sua dimensão!). Avaliação experimental de k- ensaios de campo (in situ) � Os ensaios de bombagem em poços, indicados para maciços de permeabilidade média a alta, são os mais conhecidos; � Tais ensaios consistem em bombear um Q ≈ c.te de um poço aberto na camada a caracterizar e medir a altura piezométrica em tubos instalados na envolvente do furo após ser instalada um escoamento ≈ permanente. 5 � A avaliação de k baseia-se nas seguintes hipóteses (hipóteses de Dupuit): - o gradiente hidráulico é igual à inclinação da superfície livre do escoamento; - o gradiente hidráulico é constante em profundidade. � As soluções variam consoante exista ou não uma camada superficial de baixa permeabilidade. � Se o escoamento ocorrer numa camada homogénea, sendo dito não confinado: Q hh r r k × −× = )( ln 2 1 2 2 1 2 pi 6 � Se o escoamento ocorrer num estrato confinado: Q hhd r r k × −× = )(2 ln 12 1 2 pi Avaliação experimental de k- ensaios laboratoriais � 3 tipos de ensaios são utilizados em laboratório para avaliar o coef. de permebilidade: - ensaio c/ permeâmetro de carga constante; - ensaio c/ permeâmetro de carga variável; - ensaio edométrico. � O ensaio c/ permeâmetro de carga c.te aplica-se a qq solo, usando directamente a lei de Darcy; 7 � O permeâmetro de carga variável é usado para solos com valores de k intermédios (siltes e areais finas), sendo k obtido por: − ×= final inicial inicialfinal h h tt L S sk ln � O ensaio edométrico (a analisar no próximo Capítulo), é um dos ensaios mais populares para avaliar (de forma indirecta…) a permeabilidade de solos com muito baixa permeabilidade (argilas, p.ex.). 8 Avaliação experimental de k- Comentários gerais � A caracterização rigorosa da permeabilidade de um maciço é uma tarefa difícil, dadas as incertezas envolvidas e a variabilidade de k…; � Os ensaios de campo têm como maior vantagem estimar k em condições próximas das reais (envolvem grandes volumes de solo capazes de recrear a estratificação e macrofábrica dos solos!) � Os ensaios de campo tendem a caracterizar sobretudo a permeabilidade horizontal do maciço (esta tende a ser maior, mas pode não ser a mais relevante nalguns casos..) � Os ensaios de laboratório trabalham com amostras pequenas e em geral alteradas (baixa representatividade!)… mas o controle sobre as condições de ensaio permite por vezes avaliar o efeito da anisotropia e da tensão efectiva... 9 Anisotropia de permeabilidade de maciços � Os solos exibem em geral anisotropia de permeabilidade, devido sobretudo à disposição preferencial das partículas quando sujeitos ao peso dos sedimentos superiores…; � A anisotropia de permeabilidade de maciços estratificados tende a superar a do solo presente em cada camada, devido à própria estratificação! � A anisotropia de um maciço entende-se facil/ com base no conceito de coef. de permeabilidade equivalente. � O k equivalente (khe ou kve, consoante direcção!) é o coef. de permeabilidade que teria um maciço homogéneo de espessura igual à soma das espessuras dos vários estratos que, para o mesmo gradiente hidráulico, deixaria passar igual caudal nessa direcção. 10 � Conforme soluções anterior/ seguidas, obtém-se: ∑ ∑ = = = n j j n j jhj e h d dk k 1 1 ∑ ∑ = = = n j vj j n j j e v k d d k 1 1 Exercício de Aplicação � Considere um maciço constituído por 3 camadas isotrópicas com 1 m de espessura, tendo a camada intermédia um coef. de permeabilidade de 1×10-10 m/s e as restantes um coef. de permeabilidade de 1×10-2 m/s . Determine: a) o coeficiente de permeabilidade vertical equivalente relativo a um maciço homogéneo; 11 Exercício de Aplicação (cont.) b) o coeficiente de permeabilidade horizontal equivalente relativo a um maciço homogéneo; c) conclua sobre a importância de cada camada no que se refere à permeabilidade do maciço relativa/ a percolação nas direcções vertical e horizontal; d) quais as implicações para a avaliação do coeficiente de permeabilidade de maciços naturais? Objectivos da aula � Mostrar casos reais de percolação bidimensional; � Apresentar formulação matemática de problemas de escoamento bidimensional em meios porosos; � Ilustrar o traçado de redes de percolação para resolução do problemas de percolação 2-D ; � Introduzir o uso das redes de percolação para caracterizar o problema de percolação 2-D. 12 Introdução � Várias construções humanas induzem uma percolação bidimensional em maciços terrosos. � Em escoamentos bidimensionais (i varia de ponto para ponto no mesmo solo), as caracte- rísticas da percolação repetem-se em planos sucessivos paralelos ao plano do escoamento. � A solução de escoamentos 2-D (mais complexos que os 1-D) pode ser obtida num único plano. � Exemplos de escoamentos aprox. bidimensionais determinados por construções humanas: - barragens- percolação pode ocorrer só pela fundação, em barragens de betão, mas também pelo corpo da barragem, se esta for de terra); 13 � Exemplos de escoamentos aprox. bidimensionais determinados por construções humanas: - escavações de grande desenvolvimento- a percolação dá-se do exterior para o interior, pela base da escavação (mantida seca por bombagem). NF NF NF Q Q Formulação Matemática do Problema � Considere-se um elemento de solo, de volume dx×dy×dz sujeito a um escoamento bidimensional: 14 � O caudal de água que entrano elemento é enquanto o que sai vale e como estes têm de ser iguais, pois as partículas de solo e o fluido são ambos ≈ incompressíveis: dydx vdy dzv zx ××+×× dydx z v v dy dz x v v zz x x ×× ++×× + dzdx δ δ δ δ 0 z v x v0dzdydx z v dzdydx x v zxzx =+⇒=×××+××× δ δ δ δ δ δ δ δ � A lei de Darcy, por seu lado, estabelece que, se o solo exibir isotropia de permeabilidade (k=kh=kv): PS- o sinal negativo introduzido torna a expressão matematicamente correcta, pois a carga hidráulica (h) diminui no sentido da velocidade. −= −= z h v x h v z x δ δ δ δ k k 15 � Considere-se uma função φ, a designar por função de potencial hidráulico, dada por: em que C é uma constante dependente das condições particulares do problema (condições de fronteira). Derivando a função relativa/ a x e a z, as velocidades podem ser escritas como: Czxhkzx +×−= ),(),(φ = = z v x v z x δ δφ δ δφ � Assim, a equação de continuidade pode ser reescrita como: cuja forma é a da Equação de Laplace. Esta equação rege o escoamento 2-D de um fluido incompressível através de um meio poroso incompressível com isotropia de permeabilidade. Esta equação rege outros fenómenos físicos (condução de calor, potencial eléctrico, etc) 0 z x 0 z v x v 2 2 2 2 zx =+=>=+ δ φδ δ φδ δ δ δ δ 16 � Para um valor constante de φ, φ1 por exemplo: define-se uma curva no plano (x,z) que contém pontos de igual carga hidráulica. Este tipo de curvas designa-se por equipotencial (pois apresentam valor constante para a função potencial) ( ) teckCzxhCzxhk .),(),( 11 =−=⇒+×−= φφ � Se for agora considerada uma função ψ tal que: pode concluir-se que: o que assume também a forma da eq. de Laplace. −= = ⇒ −== == 2 22 2 22 z x xxz zzx xz v zx v δ ψδ δδ φδ δ ψδ δδ φδ δ δψ δ δφ δ δψ δ δφ 0 zxxz 2 2 2 2 2 2 2 2 =+⇒−= δ ψδ δ ψδ δ ψδ δ ψδ 17 � Para um valor constante de ψ, ψ1 por exemplo, a derivada de ψ será nula, ou seja: a qual define uma curva no plano (x,z) tal que a sua tangente tem a direcção da velocidade. Ou seja, os pontos para os quais ψ é constante definem uma linha de corrente. ( ) x z v v dx dzdzdxd =−=⇒=×+×= = z x0 zx1 δ δψ δ δψ δ δψ δ δψψ ψψ � Se raciocínio idêntico for aplicado à função potencial, φ, considerando que tem um valor constante φ1 por exemplo, obtêm-se: => a tangente a uma linha equipotencial tem direcção perpendicular às linhas de corrente, dada pela direcção da velocidade de escoamento (em solos com isotropia de permeabilidade: kh=kv=k) z x v v dx dzdzdxd −=−=⇒=×+×= z x0 zx δ δφ δ δφ δ δφ δ δφφ 18 Traçado de redes de percolação (kh=kv) � Uma rede de percolação é um conjunto de linhas de corrente e de linhas equipotenciais que formam uma solução gráfica adequada para o problema de percolação bidimensional; � Uma rede de percolação tem de respeitar: - a regra da ortogonalidade entre LC e LE; - condições de fronteira do problema. � As condições de fronteira permitem a integração da equação de Laplace nas condições particulares relativas ao problema em questão. � Numa rede de percolação, que é a solução gráfica aproximada para o problema, as condições de fronteira definem a sua forma correcta. � A solução da Eq. de Laplace pode ser obtida por qualquer uma das formas (funções φ ou ψ), já que basta obter uma família de curvas para ter a outra. 19 � Tipos de condições-fronteira possíveis: - fronteira impermeável: é nulo o caudal que atravessa a fronteira, pelo que esta é uma linha de corrente; - fronteira de entrada e saída de água no maciço, ao longo das quais é constante a carga hidráulica, i.e., são linhas equipotenciais; - superfície livre de escoamentos não confinados (linha de saturação)- linha de corrente especial. � A linha de saturação, ou superfície livre, é uma linha de corrente (ψ é constante) que separa a zona saturada da não saturada do maciço e tal que: - a pressão em cada ponto é igual à pressão atmosférica (hw= 0). � Assim, a função potencial na superfície livre vale: teSL SL SL SL czkCzk .)0( =×+⇒++×−= φφ 20 ou seja, o potencial varia linearmente com a cota geométrica=> na sup. livre, a distância na vertical (∆z) entre equipotenciais relativas a igual queda de potencial (∆φ) é c.te (soluções para as traçar…) - Ex: quais as condições de fronteira neste caso? � Regras gerais para traçar redes de percolação: a) identificar as fronteiras definidas por linhas equipotenciais e de corrente; prever a superfície livre em escoamentos não confinados (mét. analíticos, programas de cálculo…); 21 � Regras gerais para traçar redes de percolação: b) traçar algumas linhas de corrente, iniciando pela região onde a velocidade é máxima (requer alguma sensibilidade prévia…): Nota- respeitar regra da ortogonalidade: ex. na entrada e na saída (Porquê?) � Regras gerais para traçar redes de percolação: c) acrescentar novas linhas equipotenciais, as quais têm de ser perpendiculares às linhas de corrente em qualquer ponto: 22 � Regras gerais para traçar redes de percolação: d) repetir os passos anteriores até atingir uma rede “adequada”. Como se verá na próxima aula, o uso da rede de percolação é muito facilitado se os elementos forem todos equidimensionais: Uso da rede de percolação � A rede de percolação permite caracterizar total/ o escoamento, permitindo calcular (próxima aula): - o caudal total percolado pelo maciço; - o gradiente hidráulico em cada ponto; - a perda de carga entre dois pontos; - a tensão neutra num ponto (e a tensão efectiva, sendo trivial o cálculo da tensão total).
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