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Direito do Trabalho II - Rafael Medeiros Arena da Costa - UNIGRAN 85 Aula 06 1 ESCOPOS DA JURISDIÇÃO A jurisdição, ou poder jurisdicional, podem ser conceituados, grosso modo, como o poder-dever de dizer o direito material das partes em litígio, que é concentrado nas mãos do Estado, que o exerce de forma descentralizada e hierarquicamente sistematizada. Os escopos da jurisdição são finalidades pretendidas pelo próprio poder jurisdicional, assim são comuns a todos os ramos do Direito Processual, podem ser divididos em: a) social; b) político; c) jurídico. • escopo SOCIAL: a finalidade da jurisdição é a composição dos conflitos sociais, com vistas a atingir a paz social e garantir a segurança jurídica das pessoas de que aquela discussão chegou a um fim (deriva imediatamente do atributo da DEFINITIVIDADE das decisões judiciais); • escopo POLÍTICO: do ponto de vista político a jurisdição se revela um instrumento de democracia direta, pois garante a interferência dos cidadãos no exercício de um dos poderes do Estado (o poder jurisdicional no qual os cidadãos interferem como parte), além disso o processo justo também assegura um Estado Democrático de Direito; • escopo JURÍDICO: a jurisdição é o instrumento de concretização da vontade manifesta do ordenamento jurídico, ou seja, é a forma de se garantir a tutela dos Direitos Materiais garantidos pelo ordenamento jurídico (é sob esse ponto de vista, um instrumento de força do Estado, pelo qual ele dá concretude às regras de Direito Material estabelecidas); Direito do Trabalho II - Rafael Medeiros Arena da Costa - UNIGRAN 86 2 FUNÇÕES DOS PRINCÍPIOS A doutrina aponta ao menos quatro funções essenciais dos princípios em todo o ordenamento jurídico: • função INFORMATIVA: também chamada de função pré-jurídica ou política. Os princípios informam o legislador na hora da criação das Leis, indicam qual caminho deverá seguir, de modo que seja criada uma legislação que se ajuste ao ordenamento jurídico principiológico existente; • função INTERPRETATIVA: os princípios servem para indicar ao exegeta a melhor forma de se interpretar aquela regra, ou seja, a regra jurídica deverá ser interpretada conforme determinado princípio que também norteou a criação dessa mesma regra, consoante seu efeito informativo. A função interpretativa é a função mais clássica e recorrente da utilização dos princípios; • função INTEGRATIVA: os princípios atuam como fontes formais supletivas do Direito, assim os princípios são aplicados ao caso in concretu sempre que o ordenamento jurídico for lacunoso em regrar aquele caso; Embora a função integrativa seja menos usual do que a função interpretativa (graças ao enorme número de Leis em nosso ordenamento jurídico), é a única função dos princípios que está expressamente prevista em Lei. LER: art. 8º, da CLT, art. 4º da LICCB e art. 126 do CPC. CLT: Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público. • função NORMATIVA CONCORRENTE: trata-se de uma construção da doutrina contemporânea, que busca fortalecer a importância da matiz principiológica do Direito; Não faz sentido reconhecer que o princípio seja informador da criação das Leis, vetor interpretativo dessa mesma Lei, mas que nada possa ser feito quando existirem Leis que afrontem diretamente o conteúdo principiológico daquele ordenamento jurídico. De fato, se o legislador, malgrado a orientação que os princípios aplicáveis lhe sinalizam, criar uma Lei contrária à essa carga principiológica, haverá incompatibilidade da função interpretativa (a Lei foi criada contrária ao princípio, logo não poderá por ele ser interpretada) e integrativa (afinal há Lei, não existe lacuna). Direito do Trabalho II - Rafael Medeiros Arena da Costa - UNIGRAN 87 Para esses casos é que a doutrina reconhece a função normativa concorrente dos princípios, para Godinho: Isso significa que o caráter normativo contido nas regras jurídicas integrantes dos clássicos diplomas jurídicos (constituições, leis e diplomas correlatos) estaria presente também nos princípios gerais de Direito. Ambos seriam, pois, norma jurídica, dotados da mesma natureza normativa.1 Isso permitiria, no conflito entre lei e princípio, relegar a aplicação do primeiro em função da aplicação concorrente do segundo. Godinho vê com reservas essa possibilidade, para ele: É claro que a prevalência dos princípios sobre as regras legais, defendida por diversos desses autores, é ‘relativa’, sob pena de criar-se total insegurança na ordem jurídica e meio social regulado. Na verdade, parece-nos mais adequado sustentar que, em vez de função normativa própria, específica, autônoma, verifica-se que os princípios atuam como ‘comandos jurídicos instigadores’, tendo, no fundo, uma ‘função normativa concorrente’. Trata-se de papel normativo ‘concorrente’, mas não autônomo, apartado do conjunto geral e a ele contraposto.2 Exemplo da aplicação da função normativa-concorrente dos princípios: parágrafo único do art. 442 da CLT ceder espaço, no caso concreto, ao primado da primazia da realidade sobre a forma. 3 PRINCÍPIOS UNIVERSAIS DO TRABALHO São princípios do trabalho estabelecidos no âmbito internacional, estimulados pela OIT. A OIT faz sua conferência anual em Genebra na Suíça, e nos anos 80 se percebeu o desinteresse de países membros em ratificar suas convenções internacionais, e com isso a OIT se reinventou novamente para se adequar à essa nova realidade, com isso fez uma revisão de toda sua normatividade identificando as disposições fundamentais para preservação do Direito do trabalho, e assim em 1989 a OIT adotou a declaração dos princípios fundamentais do Direito do trabalho: a) proibição do trabalho forçado (tratados nas convenções: 29, 105); b) erradicação do trabalho infantil (tratados nas convenções: 138, 182); c) combate à discriminação ao acesso e manutenção do trabalho 1 DELGADO, Mauricio Godinho, op. cit., p. 190. 2 DELGADO, Mauricio Godinho, op. cit., p. 191. Direito do Trabalho II - Rafael Medeiros Arena da Costa - UNIGRAN 88 (tratados nas convenções: 100, 111); d) negociação coletiva e liberdade sindical (tratados nas convenções: 87, 98); Torna-se obrigatória que os países membros da OIT aplique a declaração dos princípios fundamentais do Direito do Trabalho, o simples fato de se pertencer à OIT implica a aceitação desses princípios como valores fundantes do Direito do Trabalho desses países membros. Além disso, as normas votadas nas convenções da OIT devem ser adotadas em sua integralidade, quer dizer, diferentemente das demais convenções internacionais, as convenções da OIT não admitem a ratificação parcial, só a total. 3.1 TRABALHO FORÇADO – CONVENÇÃO 29 E 105 DA OIT A OIT não utiliza a denominação “trabalho escravo”, mas sim trabalho forçado, que significa qualquer trabalho para o qual o trabalhador não se ofereceu espontaneamente. Não constitui trabalho forçado o trabalho prestado para fins militares..., desde que se trate de trabalho efetivamente militar... Em Miamar (antiga Birmânia) há freqüente uso do trabalho forçado militar para obrigação à trabalho em pontes e rodovias e etc... O trabalho forçado no Brasil mais comum acontece no meio rural, porém no ambiente urbano é comum a exploração do trabalho de estrangeiros... Regime de barracão: nomenclatura para designar o modelo de exploração de trabalho forçado no Brasil, onde ocorre a contrataçãopor meio de “gatos” que contratam para trabalho em locais longínquos... Há uma crítica muito grande ao tipo penal do art. 129 do CP (redução à condição análoga à de escravo) por ser muito aberto... Para Lélio Bentes: o trabalho no corte de cana não deveria demandar a remuneração por produção..., o valor pago por tarefa vem minguando ao longo do tempo, de modo a exigir que o empregador trabalhe até o limite de sua capacidade física..., nesse caso a intervenção do Estado é justificável para proteção do direito à vida... Para Lélio Bentes: pessoalmente é a favor da competência penal da Justiça do Trabalho, porém mediante E.C..., é preciso a E.C que estabeleça a perda da propriedade que explora o trabalho forçado... 3.2 LIBERDADE SINDICAL – CONVENÇÃO 87 Trata-se de uma norma definidora de direitos humanos, aliás, um dos Direito do Trabalho II - Rafael Medeiros Arena da Costa - UNIGRAN 89 mais importantes direitos humanos, a liberdade sindical e da própria liberdade de expressão. A ratificação da convenção 87 tem sido entendida à luz de sua inconstitucionalidade diante do primado da unicidade sindical assegurada no art. 8º, da CF. Porém é possível admitir sua ratificação na forma do atual §3º do art. 5º, CF, e neste caso seria a hipótese de revogação da unicidade sindical e outros dispositivos do art. 8º da CF. Embora a Convenção 87 já tenha sido ratificada por um número elevado de países, ainda não a ratificaram: Brasil, Índia, China e USA, quer dizer, uma parcela significativa da classe trabalhadora do mundo. É curioso como o discurso da liberdade total rapidamente se transformou no discurso da imediata proteção do capital... Para Lélio Bentes: em um contexto de crise, como atualmente, é muito mais importante a ratificação da convenção 87... é necessário que nesse meio de crises, os trabalhadores também tenham condição de tentar se salvar... e essa tentativa de se salvar vem por instrumentos que assegurem aos trabalhadores essa tentativa... a unicidade sindical tem implicado na ausência de legitimidade da representação sindical de atualmente... vivemos “a bagunça de fato, sob as vestes cartorial organizada...” A convenção 98 da OIT consagra o princípio da boa-fé, pelo qual não pode haver negociação coletiva se a empresa não fornecer as informações sobre sua real condição econômica... A CF reconhece o poder da Justiça do Trabalho ditar as condições coletivas que irão reger os direitos das categorias conflitantes e inconciliáveis... O TST tem entendido que o comum acordo tem que ser invocado pela parte adversa..., com o que não concorda Lélio Bentes... O Comitê de Liberdade Sindical da OIT esta analisando a validade do art. 522 da CLT (limitação dos dirigentes sindicais à 07 diretores)..., e já sinalizou que não é compatível com as convenções 87 e 98... A Confederação Nacional dos Metalúrgicos do RS denunciou na OIT caso de sindicato amarelo (aquele patrocinado empregador)... O Comitê de Liberdade Sindical pode verificar a violação da liberdade sindical ainda que os países não tenham ratificado as convenções 87 e 98 da OIT. A lei 11.648/2008 (que enquadra a central sindical no modelo sindical do Brasil) é curiosa quando analisa sob a luz da unicidade sindical, porquanto há centrais sindicais que exercem representatividade de idênticas categorias em um mesmo espaço territoral... Direito do Trabalho II - Rafael Medeiros Arena da Costa - UNIGRAN 90 3.3 TRABALHO INFANTIL – CONVENÇÃO (138, 182) Arrumar a cama, pequenos deveres do lar não são consideradas modalidades de trabalho infantil à luz da convenção 128 da OIT, o que não se confunde com a criança (irmã mais velha, criança do interior, etc...) que assume os trabalhos da casa... Mesmo o trabalho leve não pode comprometer o acesso e o sucesso na escola. 3.4 DISCRIMINAÇÃO – CONVENÇÃO 100 E 111 DA OIT Asseguram o direito à um tratamento eqüitativo, sem preconceitos por qualquer fator discriminatório, tanto no ambiente do trabalho, como no acesso ao trabalho. Vivemos em um país que prega a ausência de discriminação racial. Segundo o IPEA: a mulher branca tem em média três anos a mais de estudo que o homem branco, porém recebe 30% menos que esse... Muitas vezes a discriminação se dá de forma indireta (p.ex.: processo discutido no TST: Plano de Demissão Voluntária –PDV– onde as mulheres teriam acréscimo de 40% para aderir ao PDV, o que revelava uma discriminação indireta) Na Holanda a licença maternidade pode ser combinada entre a mãe e o pai... Na Grécia era proibida o ingresso de mulheres no poder militar, daí se estabeleceu um sistema de cotas, que no início é bom por se tornar uma quebra de paradigmas..., porém com o tempo acaba se tornando um limitador... A criação de requisitos para acesso ao trabalho que nada tenham a ver com a função desempenhada, significam modalidades de discriminação indireta. 4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO TRABALHO São princípios que valorizam o trabalho humano, especialmente o trabalho regulado formal sob o vínculo empregatício. Embora não sejam aplicáveis somente no plano trabalhista (pois repercutem em várias outras searas jurídicas), é inegável sua forte aplicabilidade no ramo trabalhista. São eles: Princípio da VALORIZAÇÃO DO TRABALHO: tamanha a sua importância que foi repetido diversas vezes no texto Constitucional (LER: art. 1º, IV; Direito do Trabalho II - Rafael Medeiros Arena da Costa - UNIGRAN 91 6º; 170, caput; 193, todos da CF). Assim o valor social do trabalho desponta como um dos princípios cardeais da ordem democrática brasileira. Ao relevar o trabalho ao patamar de direito social, a Constituição reconhece que o trabalho não é um simples fator da produção, mas um direito da sociedade proletária. Talvez o instrumento jurídico de maior afirmação da cidadania, pois é através do trabalho que o homem se afirma no plano individual, familiar e social. Através do trabalho se garante um mínimo de poder social, de distribuição de riquezas à grande massa da população. Deve-se ter em mente, todavia, que o “trabalho” valorizado pela Constituição é o trabalho formal, que no Brasil é regulado pelo contrato de emprego, assim quando se fala em valorização do trabalho humano, quer se falar em valorização do trabalho regulado, e não simplesmente de qualquer trabalho informal. Isso acontece porque a simples oferta de trabalho no mercado capitalista, tende a não gerar para o prestador dos serviços vantagens econômicas e proteções jurídicas significativas, salvo se induzidas ou impostas tais proteções e vantagens pelas normas jurídicas interventoras, como acontece no contrato de emprego em que é garantido um patamar civilizatório mínimo, um feixe de Direitos imanentes a qualquer empregado. (LER: art. 170, VIII da CF). Princípio da JUSTIÇA SOCIAL: Também se trata de um princípio repetido em diversas oportunidades do texto Constitucional (LER: art. 3º, I e III; art. 170, caput, III, VII, VIII; art. 193, todos da CF). A Justiça Social dispõe que, independente das aptidões, talentos e virtudes individualizadas, todas as pessoas humanas possuem Direito ao acesso à utilidades essenciais e existentes na comunidade. A idéia de Justiça Social se contrapõe/confronta ao ideário do Estado liberal capitalista em que as relações sociais e de trabalho são livres e somente o mercado econômico deve cuidar da realização individual, material e social das pessoas. Reconhecido o caráter distributivo do Direito do Trabalho, a Justiça Social age como um dínamo instigar do desenvolvimento desse ramo especializado. Princípio da SUBMISSÃO DA PROPRIEDADE À SUA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL: a função socioambiental da propriedade é abstraída dos comandos do art. 5º, XXII e XXIII, c.c art. 170, III, c.c art. 200, VIII, c.c art. 225, caput3, todos da CF (LER).Significa dizer que embora nosso Estado tenha 3 O art. 225, caput, da CF, ao assegurar à todos o Direito a um “meio ambiente ecologicamente equilibrado” inclui o Direito ao meio ambiente do trabalho hígido, pois insere-se no conceito de meio ambiente, a espécie do meio ambiente do trabalho. Como seja, classifica-se o meio ambiente em quatro espécies: a) meio ambiente natural: constituído por solo, água, ar atmosférico, flora e fauna; b) meio ambiente artificial: compreendido pelo espaço urbano construído, Direito do Trabalho II - Rafael Medeiros Arena da Costa - UNIGRAN 92 adotado o modelo capitalista de mercado (LER: art. 1º, IV, CF), admitindo a propriedade privada, restringiu essa à consecução de sua função social, aqui incluída a função social do meio ambiente de trabalho. Diante disso se exige que o trabalho seja realizado de forma digna e que agregue valor aos seres humanos, à convivência e aos valores da sociedade, à higidez do meio ambiente geral e especialmente o meio ambiente do trabalho. Princípio da DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: princípio fundante de nossa república (LER: art. 1º, III da CF), verificado por alguns como o maior de todos os princípios do nosso ordenamento jurídico, seria o vértice concêntrico do qual irradiam todos os demais princípios de nosso ordenamento jurídico. Significa que o valor central das sociedades, do Direito e do Estado contemporâneos é a pessoa humana em sua sigeleza, independente de seu status econômico, social, político ou intelectual. A dignidade da pessoa humana releva não apenas o caráter meramente de salvaguarda da integridade física e psíquica do homem, mas também sua afirmação social, e neste ponto, o trabalho formal sob o vínculo de emprego, é o principal garantidor dessa inserção social, é inegável que o trabalho influencia na realização pessoal e social do indivíduo, seja pela sua falta, seja quanto ao seu excesso. Colha-se a lição doutrinária acerca do princípio da dignidade da pessoa humana: O valor da pessoa humana é o fundamento de toda a ética, no vértice de um sistema moral está a concepção de que a pessoa humana é um fim e não um meio, que tem um valor e não um preço; (Immanuel Kant). A doutrina aponta outros princípios constitucionais também influentes no Trabalho humano (p.ex.: proporcionalidade, da não-discriminação, inviolabilidade do direito à vida, etc), todavia por ora importa verificarmos apenas esses já vistos. 4.1 PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO Também chamado de princípio tuitivo, ou protetivo, ou tutelar, ou tutelar- protetivo, e não possui previsão legal (Sérgio Pinto Martins defende de forma consistente no conjunto de edificações (chamado de espaço urbano fechado), e pelos equipamentos públicos (espaço urbano aberto); c) meio ambiente cultural: integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, que embora artificial, em regra, como obra do homem, difere do anterior (que também é cultural) pelo sentido de valor especial; d) meio ambiente do trabalho: local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, sejam remuneradas ou não. Está baseado na salubridade do meio e na a ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independente da condição que ostentem. Direito do Trabalho II - Rafael Medeiros Arena da Costa - UNIGRAN 93 isolada que o art. 7º, “caput” da CF, no que afirma “além de outros mais benéficos” seria a base legal do princípio da proteção). É apontado pela doutrina pelo maior de todos os princípios trabalhistas. O princípio protecionista consiste basicamente em estabelecer um rol de proteções jurídicas à parte mais fraca da relação de emprego (o trabalhador), tendentes a atenuar no plano jurídico, o desequilíbrio fático inerente ao contrato de trabalho. O princípio da proteção implica reconhecer que as regras de Direito Processual do Trabalho devem ser confeccionadas e interpretadas da maneira mais benéfica ao trabalhador. O maior ou menor poder econômico das partes constitui fator de influência no proclamo do Direito, não do ponto de vista da valoração do justo, mas sim no âmbito de levante e orquestramento dos meios de atuar frente a atividade jurisdicional (p. ex.: o empregador produz a melhor prova ao escolher suas testemunhas dentre os seus subordinados, suporta com menos dissabores a demora do processo). Desse modo, o Direito Processual do Trabalho é informado pelo princípio da proteção, eis que o escopo é de proteger a parte hipossuficiente, dando-lhe maiores condições de atuar seu Direito Material, no mesmo nível de defesa do empregador. Busca corrigir no plano jurídico uma desvalia derivada da relação socioeconômica. Existem várias normas que atendem o princípio da proteção no tramitar do processo do trabalho, a saber: Dispensa do pagamento de custas para o empregado; Assistência judiciária gratuita concedida ao empregado através de sindicato; Inversão do ônus da prova em casos específicos; Ação ex officio nos casos de execução; Arquivamento que possibilita nova propositura da ação (art. 844 da CLT -LER); Propositura da ação no último local onde trabalhou; O professor SERGIO PINTO MARTINS entende que o princípio da proteção é o único princípio específico do processo do trabalho. 4.2 PRINCÍPIO DA BUSCA DA VERDADE REAL É derivado do princípio do Direito Material do Trabalho conhecido como princípio da primazia da realidade (ou do contrato realidade), pelo qual o Juiz deve observar a prática concreta e não a declaração de vontade manifestada, importam os fatos e não a roupagem jurídica de que se revestiram. Direito do Trabalho II - Rafael Medeiros Arena da Costa - UNIGRAN 94 Ora, se no âmbito do Direito Material o juízo deve se pautar pela realidade concreta e não pela roupagem jurídica de que revestem, o princípio da busca da verdade real vem justamente servir como instrumento para o encontro dessa verdade concreta dentro do processo. A admissão do princípio da busca da verdade real pelo processo do trabalho, não bastasse evidentemente ser uma decorrência lógica do princípio da primazia da realidade, é reforçada pelo art. 765 da CLT –LER: CLT: Art. 765 - Os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas. No processo civil também se aplica tal princípio (art. 131,CPC). 4.3 PRINCÍPIO DA CONCILIAÇÃO O princípio da conciliação estava previsto desde as constituições de 1946, 1967 e 1969, e na redação primitiva do art. 114 da CF/88, que estipulava ser competência da Justiça do Trabalho “conciliar e julgar”, mas a nova redação dada pela E.C 45/04 aduz apenas “processar e julgar”. Malgrado a retirada do princípio conciliador do texto constitucional, e a sua presença nos demais ramos do processo, o mesmo subsiste presente com força no processo do trabalho, graças a previsão da norma infraconstitucional, ver art. 764, 846 e 850 da CLT. CLT: Art. 764 - Os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação. (...) Art. 846 - Aberta a audiência, o juiz ou presidente proporá a conciliação. Art. 850 - Terminada a instrução, poderão as partes aduzir razões finais, em prazo não excedente de 10 (dez) minutos para cada uma. Em seguida, o juiz ou presidente renovará a proposta de conciliação, e não se realizando esta, será proferida a decisão. No processo sumaríssimo a qualquer tempo (art. 852-E, CLT). Até antes da E.C 45/04 a jurisprudência trabalhista era forte no sentido de que a não realização das propostas conciliatórias ao tempo devido, implicavam em causa de nulidade do processo do trabalhista, a retirada da conciliação do texto constitucionalcolocou em dúvida esse entendimento. Havendo acordo entre as partes, esse transita em julgado logo após a sua homologação, daí em diante só será atacável por meio de ação rescisória, ver Direito do Trabalho II - Rafael Medeiros Arena da Costa - UNIGRAN 95 parágrafo único, art. 831, CLT e súmula 100, V, do TST. CLT: Art. 831 - A decisão será proferida depois de rejeitada pelas partes a proposta de conciliação. Parágrafo único. No caso de conciliação, o termo que for lavrado valerá como decisão irrecorrível, salvo para a Previdência Social quanto às contribuições que lhe forem devidas. Súmula 100, inciso V: AÇÃO RESCISÓRIA. DECADÊNCIA (...) V - O acordo homologado judicialmente tem força de decisão irrecorrível, na forma do art. 831 da CLT. Assim sendo, o termo conciliatório transita em julgado na data da sua homologação judicial. OBS: Este trabalho compreende um estudo/síntese de propriedade intelectual de Wander Medeiros Arena da Costa e não pode ser utilizado para qualquer fim comercial sem autorização expressa. BIBLIOGRAFIA DA AULA BRANCO, Ana Paula Tauceda. A colisão de Princípios Constitucionais no Direito do Trabalho. Ed. LTr, São Paulo: fevereiro/2007. DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 4ª ed., Julho/2005. DELGADO, Maurício Godinho, Princípios de Direito Individual e Coletivo do Trabalho, 2ª ed., ed. LTr, São Paulo:2004. LEITE, Carlos Henrique Bezerra, Curso de Direito Processual do Trabalho, 5ª edição, 1ª tiragem, Editora LTr, São Paulo: fevereiro/2005. MARTINS, Sérgio Pinto, Direito Processual do Trabalho, 19ª edição, São Paulo: 2003, ed. Atlas. SIMM, Zeno, Os Direitos Fundamentais e a seguridade social, ed. LTr, São Paulo: 2005. SCHIAVI, Mauro, Manual de Direito Processual do Trabalho, Ed. LTr 71- 02, 2ª ed, São Paulo, Fevereiro: 2009. . LUTA, Teu dever é lutar pelo direito, mas, se acaso um dia encontrares o direito em conflito com a justiça, luta pela justiça. Decálogo do advogado (Eduardo Couture).
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