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Embasamento legal do uso da força 
pelo policial militar 
 
 
 
Eduardo Moreno Persson 
 
1º Tenente da Polícia Militar de Santa Catarina Bacharel em Segurança Pública. Pós graduado em Direito Penal e 
Ciências Criminais 
 
 
RESUMO 
Tema: Embasamento Legal do Uso da Força pelo Policial Militar. Problema: Qual o embasamento legal 
para o emprego da força pelo policial militar? Justificativa: O Estado tem como principal característica o caráter 
disciplinador e normativo, com a finalidade de manter o convívio social harmônico, onde o indivíduo é capturado por 
uma rede de poder que o torna "útil e dócil". Neste sentido a força pública, mostra-se fundamental. Para atingir tais 
objetivos, os agentes públicos utilizam-se do poder de polícia, conferido pelo Estado. Dentre um dos atributos deste 
poder de polícia encontra-se a coercitividade, que permite o uso da força pelo policial militar quando no objetivo de 
garantir a preservação da ordem pública. A fim de garantir que a utilização desta força, esteja dentro do que se espera 
pela sociedade, a qual se manifesta através da legislação vigente, mostra-se pertinente o estudo sobre o 
embasamento legal do uso da força pelo policial militar. O conhecimento do tema mostra-se relevante não somente aos 
operadores do direito, policiais, advogados, membros do ministério público ou judiciário, mas à sociedade que 
clamando por profissionais qualificados, necessita deter o conhecimento sobre os limites legais de sua atuação, assim 
como os agentes públicos que irão exercer tais atividades atinentes a segurança pública. Objetivo Geral: Conhecer o 
respaldo legal da atuação policial militar frente à necessidade do uso da força. Objetivos Específicos: Identificar a 
competência legal da Polícia Militar, através do esclarecimento doutrinário sobre os conceitos apresentados pela 
Constituição da República Federativa do Brasil; Discorrer sobre o "Poder de Polícia", sob enfoque do uso da força na 
atividade policial militar; Apresentar os modelos de uso da força indicados para atividade policial, baseando-se nos 
direitos humanos; Explicitar a legislação vigente, relativo às excludentes de ilicitude, aplicadas a atividade policial 
militar bem como, exemplos práticos. Métodos: abordagem dedutiva, partindo de argumentos gerais para noções 
específicas. A pesquisa baseou-se na bibliografia e seguiu o caráter exploratório, abrangendo leitura de doutrinas de 
direito, artigos e trabalhos científicos, além da legislação pertinente. Resultado: o segundo capítulo introduz os 
conceitos necessários para compreender a legislação que aborda a missão constitucional da Polícia Militar. Tratando-
se de estudo específico sobre a atuação policial militar, não poderia iniciar a obra sem esclarecer ao leitor a 
abrangência da atividade exercida por este agente público. No terceiro capítulo de desenvolvimento do trabalho inicia-
se o estudo sobre a utilização da força na perspectiva dos direitos humanos para atuação policial militar. O conceito de 
"uso progressivo da força" bem como, modelos de uso progressivo da força são explicitados. O quarto capítulo do 
trabalho aborda especificamente a legislação brasileira e uso progressivo da força, elencando aspectos doutrinários 
referente às excludentes de ilicitude presenciadas na atividade policial militar. Conclusão: A coercibilidade, atributo do 
poder de polícia, esboçado na pesquisa, somado a atuação condizente com alguma excludente de ilicitude, elencada 
na legislação, embasa a atuação policial militar frente a necessidade do uso da força. 
Palavras-chave: Polícia Militar. Uso da Força. Poder de Polícia. 
ABSTRACT 
Theme: Legal Foundation of the Use of Force by the Military Police. Problem: What’s the legal foundation 
for the use of force by military police? Justification: The State has the main feature the disciplinarian and normative 
character, in order to maintain harmonic social contact, where the individual is captured by a network of power that 
makes it "useful and docile". In this sense law enforcement, has proven crucial. To achieve these goals, the public 
utilize the police power, conferred by the state. Among the attributes of a police power is the coercivity, which allows the 
use of force by Military Police while in order to ensure the preservation of public order. To ensure that the use of force, 
is within the expected by society, which manifests itself through legislation, appears to be relevant the study on the legal 
foundation of the use of force by Military Police. The knowledge of the topic shows to be relevant not only to law 
enforcement officers, police, lawyers, public prosecutors or the judiciary, but the society that calling for skilled 
professionals, need to hold the knowledge about the legal limits of its performance, as well as public officials who will 
carry out such activities relating to public safety. General Objective: To know the legal support of police action against 
the necessity of the use of force. Specific Objectives: To identify the legal jurisdiction of the Military Police, through the 
doctrinal clarification on the concepts presented by the Constitution of the Federative Republic of Brazil; Talking about 
the "Police Power", focus on the use of force in Military Police activity; Present the models by use of force indicated to 
police activity, based on human rights; Explain the legislation concerning the unlawful exclusionary, as applied to 
military police activities, as well as practical examples.Methods: A deductive approach, starting from general arguments 
for particular notions. The research was based on literature and followed the exploratory, covering reading doctrines of 
law, articles and scientific papers, and relevant legislation. Result: The second chapter introduces the concepts needed 
to understand the legislation that addresses the constitutional mission of the Military Police. Being specific study of work 
on military police, could not start work without the reader to clarify the scope of activities performed by military police. In 
the third chapter of the development work begins the study on the use of force in a human rights perspective to military 
policing. The concept of "progressive force using" as well as progressive force using models are presented. The fourth 
chapter of the work deals specifically with the Brazilian laws and use of the force, listing on the doctrinal aspects of any 
unlawful act witnessed military police activity. Conclusion: The coercivity, an attribute of police power, outlined in the 
research, coupled with a performance befitting with any unlawful act, listed in the legislation, underlies police action 
against the necessity of the use of force. 
Keywords: Military Police. Use of Force. Police Power. 
 
Lista de Ilustrações 
Ilustração 1: Ciclo de Polícia. 
Ilustração 2: Modelo Canadense de uso progressivo da força. 
Ilustração 3: Situation Management Model. 
Ilustração 4: Modelo básico de uso progressivo da força. 
Ilustração 5: Pirâmide de Emprego da Força 
 
Sumário: 1 Introdução. 1.1 Tema. 1.2 Problema. 1.3 Justificativa. 1.4 Objetivos. 1.4.1 Objetivo Geral. 1.4.2 Objetivos 
Específicos. 1.5 Metodologia .1.5.1 Método. 1.5.2 Método de Pesquisa. 1.5.3 Técnica de Coleta de Dados. 1.6 
Organização dos Capítulos. 2 LEGISLAÇÃO REFERENTE Á MISSÃO CONSTITUCIONAL DA POLÍCIA 
MILITAR.. 2.1Análise Constitucional. 2.1 Análise Doutrinária. 2.2.1 Polícia Ostensiva. 2.2.2 Poder de Polícia. 2.2.3 
Preservação da Ordem Pública. 2.2.4 Competência Residual. 3 O Uso da Força na Perspectiva dos Direitos Humanos 
para Atividade Policial Militar. 3.1 Direitos Humanos e a Atividade Policial. 3.2 Uso da Força na Atividade 
Policial. 3.3 Uso Escalonado da Força na Atividade Policial - Modelos deUso Progressivo da Força. 4 Legislação 
Brasileira e o Uso da Força na Atividade Policial Militar. 4.1 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 4.2 
Código Penal – Excludentes de Ilicitude. 4.2.1 Legítima Defesa – Conceito e Exemplos Fáticos. 4.2.2 Estado de 
Necessidade – Conceito e Exemplos Fáticos. 4.2.3 Estrito Cumprimento do Dever Legal e Exercício Regular de Direito 
– Conceito e Exemplos Fático. 4.2.4 Excesso Puníve. . 4.3 Código de Processo Penal e Processo Penal Militar. 4.4 Lei 
4.898/65 – Abuso de Autoridade. 5 Conclusão. Referências 
 
1 Introdução 
A Polícia Militar, instituição cuja missão constitucional é preservar a ordem pública e exercer a polícia 
ostensiva possui uma ampla responsabilidade social. Policiais militares, no intuito de cumprir seu dever, possuem 
diversos poderes conferidos pelo Estado, dentre eles o poder de polícia. O poder de polícia, dotado de atributos 
peculiares, dentre eles a coercibilidade, garante que o agente público imponha uma ordem legal ao administrado, sem 
a necessidade de autorização do poder judiciário, podendo inclusive utilizar-se do uso proporcional da força. 
Tratados internacionais orientam que a força deve ser empregada tecnicamente, orientando os países 
signatários a disponibilizar aos agentes públicos acesso a treinamento e instrução. Pesquisadores da área de 
segurança pública e direitos humanos de diversos países produziram modelos de emprego da força pelo agente 
público conforme a reação do infrator (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006). A análise destes modelos baliza o uso da 
força pelo agente público, policial militar. 
O cotidiano da atividade de preservação da ordem pública é muito variado. O policial militar encontra em 
sua atividade desde atuações puramente preventivas, como comunicar autoridades responsáveis sobre alguma 
sinalização inadequada, ou auxiliar alunos na travessia de vias públicas, até ações repressivas, logo após o 
cometimento de delitos, como confrontos com assaltantes de estabelecimentos comerciais, rixas em estádio de futebol, 
vias de fato entre ébrios em bares e boates, dentre outras ocorrências. 
Diante desta variabilidade de situações, o policial militar, agindo em nome da sociedade, necessita utilizar 
da força em prol do interesse coletivo. Agindo assim afronta direitos fundamentais do cidadão, como o direito de ir e vir, 
de manter sua integridade física, ou mesmo o direito a vida, que pode ser tolhido diante de situações graves. 
Há diversas considerações que devem ser destacadas referentes a esta pesquisa, como a ampla 
competência atribuída às Polícias Militares desde a alteração na Constituição Federal de 1988. Sobre o tema 
destacam-se ainda os mais variados problemas sociais, que transcendem a atuação meramente policial, porém afetam 
diretamente o serviço executado pela polícia ostensiva, cabendo a esta "solucioná-los", muitas vezes mediante o uso 
da força. 
Os princípios de direitos humanos, internacionalmente reconhecidos, e defendidos pela legislação vigente 
no Brasil, fundamentam a função pública, e merecem relevância nesta pesquisa. Esta complexibilidade da missão 
constitucional das Polícias Militares, atrelada a eventual necessidade do uso da força coercitiva, justifica a iniciativa do 
presente estudo. Este trabalho tem como objetivo principal explicitar o embasamento legal da atuação coercitiva do 
policial militar frente à necessidade de uso da força a fim de conter resistência de agente infrator. 
1.1.Tema 
Embasamento Legal do Uso da Força pelo Policial Militar. 
1.2.FORMULAÇÃO DO Problema 
A fim de garantir a ordem pública, o Estado, através das Polícias Militares, e seus agentes, utiliza-se do 
poder de polícia. Porém, em muitas circunstâncias, o administrado não concorda com a atuação do Estado, e impõe 
resistência a execução da atividade estatal, necessitando assim do uso da força por parte do agente público ora 
suscitado. 
Nesta situação, o Policial Militar, agindo sob a égide da Constituição Federal, para garantir a preservação 
da ordem, mesmo que diante da recusa do administrado, necessita empregar a força coercitivamente. 
De acordo com o apresentado, pergunta-se "Qual o embasamento legal para o emprego da força pelo 
policial militar? 
1.3.Justificativa 
Para Focault apud Danner e Oliveira (2010, p.02), o Estado tem como principal característica o caráter 
disciplinador e normativo, com a finalidade de manter o convívio social harmônico, onde o indivíduo é capturado por 
uma rede de poder que o torna "útil e dócil". Neste sentido a força pública, mostra-se fundamental. 
No Brasil, a Polícia Militar, é responsável pelo exercício da polícia ostensiva e da preservação da ordem 
pública. Para atingir tais objetivos, os agentes públicos utilizam-se do poder de polícia, conferido pelo Estado. Dentre 
um dos atributos deste poder de polícia encontra-se a coercitividade, que permite o uso da força pelo policial militar 
quando no objetivo de garantir a preservação da ordem pública. 
A fim de garantir que a utilização desta força, esteja dentro do que se espera pela sociedade, a qual se 
manifesta através da legislação vigente, mostra-se pertinente o estudo sobre o embasamento legal do uso da força 
pelo policial militar. A sociedade, clamando por profissionais qualificados, necessita deter o conhecimento sobre os 
limites legais de sua atuação, assim como os agentes públicos que irão exercer tais atividades atinentes a segurança 
pública. 
O conhecimento do tema mostra-se relevante não somente aos operadores do direito, policiais, advogados, 
membros do ministério público ou judiciário, mas à sociedade que a partir da noção dos limites legais de atuação do 
agente público pode, por exemplo, cobrar com exatidão atitudes verdadeiramente legais e profissionais por parte dos 
policiais militares. 
1.4.Objetivos 
1.4.1.Objetivo Geral 
Conhecer o respaldo legal da atuação policial militar frente à necessidade do uso da força. 
1.4.2.Objetivos Específicos 
a)Identificar a competência legal da Polícia Militar, através do esclarecimento doutrinário sobre os conceitos 
apresentados pela Constituição da República Federativa do Brasil. 
b)Discorrer sobre o "Poder de Polícia", sob enfoque do uso da força na atividade policial militar. 
c)Apresentar os modelos de uso da força indicados para atividade policial, baseando-se nos direitos 
humanos. 
d)Explicitar a legislação vigente relativo às excludentes de ilicitude, aplicadas a atividade policial militar bem 
como, exemplos práticos. 
1.5.Metodologia DA PESQUISA 
1.5.1 Método 
Segundo Markoni e Lakatos (2006, p. 83), método "é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais 
que, com maior segurança e economia permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros -, traçando o 
caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista". Os autores colocam ainda que 
qualquer ciência exige o emprego de métodos científicos. 
Corroborando com os autores anteriormente citados, Fachin (2001 p. 27) afirma que método, em sentido 
mais genérico, "[...] é a escolha de procedimentos sistemáticos para descrição e explicação do estudo". A autora afirma 
que durante a realização da pesquisa os métodos utilizados podem variar. 
O método utilizado foi o dedutivo, que segundo Fachin (2001, p. 30), se caracteriza por ser um "[...] 
procedimento do raciocínio que, a partir de uma análise de dados gerais, se encaminha para noções particulares". 
Diferencia-se do método indutivo, pois deste se obtém uma conclusão a partir de suas proposições, dos aspectos 
particulares para os aspectos gerais. 
1.5.2 Método de Pesquisa 
Utilizou-se a pesquisabibliográfica e documental. Segundo Markoni e Lakatos (2006) a pesquisa 
documental caracteriza-se pela fonte de coleta de dados estar restrita a documentos, escritos ou não, chamados fontes 
primárias. 
Os mesmos autores afirmam que a pesquisa bibliográfica, abrange a bibliografia referente ao tema do 
estudo, já tornada pública, desde boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, 
etc.; além de meios de comunicação orais como: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais, filmes e televisão. 
Fachin (2001, p. 125) aponta como pesquisa bibliográfica, o "conjunto de conhecimentos humanos reunidos 
nas obras". Fachin (2001, p. 125) afirma, ainda, que a "pesquisa bibliográfica constitui o ato de ler, selecionar, fichar, 
organizar e arquivar tópicos de interesse para pesquisar em pauta". 
1.5.3.Técnica de Coleta de Dados 
Técnica segundo Markoni e Lakatos (2006, p. 176) é o "conjunto de preceitos ou processos de que se 
serve uma ciência ou arte; é a habilidade para usar esses preceitos ou normas, a parte prática". 
Para realização deste trabalho foram realizadas fichas bibliográficas, que segundo Fachin (2001, p. 130) é 
"um dos recursos mais comuns à realização de pesquisa bibliográfica [...]". 
Foram feitos levantamentos bibliográficos, no material primário e secundário, referente ao assunto. 
Fundamentou-se na leitura de obras referentes à instrução policial militar, bem como na doutrina atinente à legislação 
brasileira, além da pesquisa documental nas cartas legais vigentes. 
1.6 Organização dos Capítulos 
Inicialmente, o capítulo segundo da pesquisa abordará a incumbência da Polícia Militar diante do previsto 
na Constituição Federal de 1988, utilizando-se da doutrina concernente ao assunto. 
Há diversos instrumentos legais que orientam e delimitam a faculdade do uso da força pelos agentes 
responsáveis pela segurança pública. A legislação que será apontada nos capítulos dois e três destaca tal situação 
como exceção, não podendo o policial militar, utilizar-se deste atributo indiscriminadamente. Tratados internacionais 
orientam inclusive que a força deve ser empregada tecnicamente, orientando os países signatários a disponibilizar aos 
agentes públicos acesso a treinamento e instrução. Tais instrumentos legais, bem como, modelos de uso da força, 
serão apresentados no capítulo três, intitulado, "O Uso da Força na Perspectiva dos Direitos Humanos para Atividade 
Policial Militar". 
O capítulo quatro abordará as causas chamadas excludentes de ilicitude, onde o policial militar, agindo em 
conformidade com o exposto nos capítulos anteriores, poderá atingir tais direitos garantidos pela Constituição Federal 
aos cidadãos, sem contudo estar agindo em desconformidade com a lei. 
2 LEGISLAÇÃO REFERENTE À MISSÃO CONSTITUCIONAL DA POLÍCIA MILITAR. 
Este capítulo da pesquisa aborda a missão constitucional da Polícia Militar. Tanto a Constituição da 
República Federativa do Brasil como a Constituição do Estado de Santa Catarina, são destacadas na primeira seção. 
Os conceitos apresentados nestas duas normas cogentes são esmiuçados pela doutrina nas seções seguintes. Tais 
conceitos são: polícia ostensiva, poder de polícia, preservação da ordem pública, bem como, a competência residual 
das Polícias Militares. 
2.1.Análise Constitucional 
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, em seu artigo 13º, parágrafo 4º, instituía o 
seguinte: 
§ 4º - As polícias militares, instituídas para a manutenção da ordem e segurança interna nos Estados, nos Territórios e no 
Distrito Federal, e os corpos de bombeiros militares são considerados forças auxiliares, reserva do Exército. (Brasil, Constituição da 
República Federativa do Brasil de 1967, art. 13) 
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no Título V, Da Defesa do Estado e Das 
Instituições Democráticas, Capítulo III, Da Segurança Pública, responsabiliza o Estado e a sociedade como um todo, 
além de distinguir cinco órgãos policiais responsáveis pela segurança pública em seu artigo 144: 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da 
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
I - polícia federal; 
II - polícia rodoviária federal; 
III - polícia ferroviária federal; 
IV - polícias civis; 
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. (Brasil, Constituição da República Federativa do Brasil, 2011) 
Depreende-se da referida norma constitucional que a Polícia Militar, apontada no caput do art. 144, inciso 
V, é um dos órgãos responsáveis pela segurança pública, juntamente com a Polícia Federal, Polícia Rodoviária 
Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis e Corpos de Bombeiros Militares. 
A devida competência da Polícia Militar, bem como dos Bombeiros Militares é definida no § 5º do mesmo artigo: 
[...] 
§ 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, 
além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. (Brasil, Constituição da República Federativa 
do Brasil, art. 144) 
O ato Complementar número quarenta de 1968, modificou o § 4º da Constituição de 1967, mas o cerne da 
missão permaneceu a mesma até 1988. (BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, art. 13) 
Percebe-se que a principal diferença entre as duas normas, quando trata sobre a competência 
constitucional das Polícias Militares, está na alteração do termo "manutenção da ordem" para "preservação da ordem" 
e na inclusão da terminologia "polícia ostensiva", ambas como competência exclusiva destas instituições militares. As 
Polícias Militares permanecem como forças reservas do exército, porém agora, tal competência encontra-se no 
parágrafo 6º do mesmo artigo. 
Seguindo a Constituição da República Federativa do Brasil, a Constituição do Estado de Santa Catarina, no 
Título V, Da segurança Pública, Capítulo III, Da Polícia Militar, artigo 107, coloca o seguinte: 
Art. 107. À Polícia Militar, órgão permanente, força auxiliar, reserva do Exército, organizada com base na hierarquia e 
na disciplina, subordinada ao Governador do Estado, cabe, nos limites de sua competência, além de outras atribuições estabelecidas 
em Lei: 
I – exercer a polícia ostensiva relacionada com: 
a) a preservação da ordem e da segurança pública; 
b) o radiopatrulhamento terrestre, aéreo, lacustre e fluvial; 
c) o patrulhamento rodoviário; 
d) a guarda e a fiscalização das florestas e dos mananciais; 
e) a guarda e a fiscalização do trânsito urbano; 
f) a polícia judiciária militar, nos termos de lei federal; 
g) a proteção do meio ambiente; 
h) a garantia do exercício do poder de polícia dos órgãos e entidades públicas, especialmente da área fazendária, 
sanitária, de proteção ambiental, de uso e ocupação do solo e de patrimônio cultural; (grifou-se) (Santa Catarina, Constituição do Estado 
de Santa Catarina, art. 107) 
2.1.Análise Doutrinária 
2.2.1 Polícia Ostensiva 
Observando a doutrina referente à terminologia "polícia ostensiva" segundo Hipólito (2005), é nova e 
segundo Lazzarini (1999), amplia a dimensão da atividade policial militar. Moreira Neto (1989, p. 60), lembra os 
ensinamentos do mestre Lazzarini: 
A polícia ostensiva, afirmei, é uma expressão nova, não só no texto constitucional, como na nomenclatura 
da especialidade. Foi adotada por dois motivos: o primeiro, já aludido, de estabelecer a exclusividade constitucional e, 
o segundo para marcar a expansão da competência policial dos policiais militares, além do ‘policiamento’ ostensivo. 
Para bem entender esse segundo aspecto, é misterter presente que o policiamento é apenas uma fase da atividade de 
polícia. 
O Parecer GM-25 (2001), da Advocacia Geral da União, baseando-se no Decreto-lei 667 (BRASIL, 2011) e 
Decreto Federal 88.777 (BRASIL, 2011) bem como sustentado ainda pelos doutrinadores: José Afonso da Silva; Álvaro 
Lazzarini; Diogo de Figueiredo Moreira Neto; entre outros, indica que a modificação do termo policiamento ostensivo 
para polícia ostensiva, na Carta Magna, visa dar exclusividade constitucional às Polícias Militares bem como, expandir 
sua competência policial, pois policiamento é apenas uma das fases da atividade de polícia, esta exercida pelo Estado 
através do uso do poder de polícia. 
2.2.2 Poder de Polícia 
Alexandrino e Paulo (2010, p. 219), utilizando a explicação do Prof. José dos Santos Carvalho Filho, 
referem-se aos poderes administrativos, dentre eles o poder de polícia, como "o conjunto de prerrogativas de direito 
público que a ordem jurídica confere aos agentes administrativos para o fim de permitir que o Estado alcance seus 
fins". Em sua obra, tratam sobre os principais poderes descritos pela doutrina, quais sejam: poder vinculado, poder 
discricionário, poder hierárquico, poder disciplinar, poder regulamentar e poder de polícia. 
Sobre o poder de polícia, Caio Tácito apud Büring (2003, p. 6), coloca que "é fundamentalmente uma 
limitação administrativa a um direito ou liberdade, a um benefício, de um interesse qualificado em lei, e supõe uma 
norma expressa de competência, ou seja, a ninguém é lícita a auto promoção do poder de polícia". 
Mukai (1999, p. 89), traz como poder de polícia a "faculdade, inerente à Administração Pública, que esta 
detém, para disciplinar e restringir as atividades, o uso e gozo de bens e de direitos, bem como, assim as liberdades 
dos administrados, em benefício da coletividade". 
Odília Oliveira apud Büring (2003, p. 79), refere-se ao termo poder de polícia como de origem norte 
americana, o chamado police power. Nos Estados Unidos da América, esta expressão possui caráter legislativo, de 
fazer leis que limitem as atividades individuais em prol do bem estar coletivo. No entanto, em território brasileiro, esta 
expressão segue o modelo europeu, onde o poder de polícia é eminentemente administrativo, infralegal, desdobrando-
se em "atos normativos de caráter regulamentar e atos individuais de efeitos concretos" realizados buscando atingir o 
objetivo das leis que limitam os administrados. 
André da Silva apud Meirelles (2006, p.4), assim como Buring (2003, p.79), refere-se ao poder de polícia 
como police power,salientando ser um sistema total de regulamentação interna, onde o Estado além de buscar a 
ordem pública, visa manter uma relação harmoniosa entre o gozo do direito próprio, "até onde for compatível com o 
direito dos demais". 
André da Silva (2006, p.2) afirma que o poder de polícia tem o objetivo de propiciar uma convivência social 
harmoniosa, evitando e atenuando conflitos entre os indivíduos, com fulcro no interesse da população como um todo. 
O poder de polícia, segundo Meirelles (2005, p. 131), "[...] é a faculdade de que dispõe a administração 
pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais em benefício da coletividade 
ou do próprio Estado". Pode-se dizer que este é um mecanismo que o Estado dispõe para conter os abusos dos 
direitos individuais. 
Alexandrino e Paulo (2010, p. 239) seguem o conceito proposto por Hely Lopes Meirelles, considerando 
este mais restrito. Segundo os autores, alguns doutrinadores, analisam o poder de polícia com uma acepção mais 
ampla, abrangendo não só a aplicação das leis, mas também a edição destas, desempenhada pelo poder legislativo. 
Exemplo de doutrinador que segue esta linha de pensamento é a Profª. Maria Silvia Di Pietro. 
Miguel (2006, p. 20), cita a obra de Mayer, datada de 1951, o qual já propunha um conceito similar ao 
descrito atualmente como "[...] a atividade do Estado que visa defender, pelos meios do poder da autoridade, a boa 
ordem da coisa pública contra as perturbações que as realidades individuais possam trazer". 
Meirelles (2005, p. 131) afirma ainda sobre a importância de distinguir os tipos de polícia: polícia 
administrativa, judiciária e de manutenção da ordem pública. 
A polícia administrativa é inerente à administração pública, enquanto que a polícia judiciária e a de 
manutenção da ordem pública referem-se a outros órgãos, como a Polícia Civil, ou corporações, como a Polícia Militar. 
No Brasil a atividade de polícia judiciária nos Estados é exercida pelas Polícias Civis, que neste aspecto 
encarregam-se de apurar as infrações penais e cumprir as determinações das autoridades judiciárias, atuando assim 
no chamado pós-delito. 
Por outro lado, a chamada polícia administrativa, para Alexandrino e Paulo (2010, p. 239) tem por objeto a 
prevenção do ilícito penal e não penal, e é poder exercido pelas policias Federal, Rodoviária Federal, Ferroviária 
Federal e Policiais Militares dos Estados. 
Vertente desta polícia administrativa, Carneiro, Pontes e Ramires apud Di Pietro e Lazzarini (2009) 
destacam a polícia de Segurança Pública, que tem como atribuição prevenir a criminalidade relacionada à vida, à 
incolumidade das pessoas, à propriedade e à tranquilidade pública e social. Esta atividade é exclusiva das policiais 
militares. 
Os autores elucidam de forma bem didática os limites da atribuição da polícia administrativa e da polícia 
judiciária através do seguinte esquema: 
 
Ilustração 1: Ciclo de Polícia. 
Fonte: Ministério da Justiça. Aspectos Jurídicos da Abordagem Policial, 2009. 
Meirelles (2005) afirma que a polícia administrativa, modernamente, distingue-se ainda em administrativa 
geral e especial. Aquela cuidando genericamente da segurança, da salubridade e da moralidade públicas, e esta de 
setores específicos que afetam interesses coletivos, tais como água, construção, alimentos, comércio de 
medicamentos, etc. 
Estes conceitos doutrinários encontram-se em nossa legislação, valendo citar o Código Tributário Nacional, 
de 1966, em seu art. 78, inverbis: 
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse 
ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à 
ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou 
autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. (Brasil, Código 
Tributário Nacional, 2011) 
Miguel (2006, p.20), explicando a diferenciação proposta por Meirelles, sobre poderes políticos e 
administrativos, classifica o poder de polícia como um poder administrativo. 
Para esse consagrado autor, o poder de polícia não é poder político, é um dos poderes administrativos. É 
exercido pela Administração Pública sobre todas as atividades e bens que afetam ou possam afetar a coletividade. Por 
derradeiro, o ato de polícia é um ato administrativo e subordina-se ao ordenamento jurídico que rege as demais 
atividades da Administração Pública, sujeitando-se ao controle de legalidade pelo Poder Judiciário. 
Meirelles (2005), ensina ainda que o poder de polícia administrativa possui características específicas, 
peculiares ao seu exercício, como: discricionariedade, auto-executoriedade e coercibilidade. 
Discricionariedade é a margem de livre escolha da Administração Pública, baseando-se na oportunidade e 
conveniência, de exercer o poder de polícia, aplicar sanções e empregar os meio necessários para proteger algum 
interesse público. Meirelles (2005, p. 136), destaca que o " atode polícia, um ato administrativo, é discricionário, no 
entanto passa a ser vinculado quando a norma legal determinar o modo e a forma de sua realização". 
Auto-executoriedade é a faculdade da Administração de decidir seus atos sem a intervenção do Judiciário. 
Coercibilidade é a imposição coativa da Administração, ao seu administrado, de seus atos. Meirelles (2005, 
p. 138), coloca a seguinte afirmação em sua obra: 
O atributo da coercibilidade do ato de polícia justifica o emprego da força física quando houver oposição do infrator, mas 
não legaliza a violência desnecessária e desproporcional a resistência, que em tal caso pode caracterizar o excesso de poder e o abuso 
de autoridade nulificadores do ato praticado e ensejadores de ações civis e criminais para reparação do dano e punição dos 
culpados.(grifou-se) 
Alexandrino e Paulo (2010, p. 249), sobre o atributo da coercibilidade, corroboram com o conceito proposto 
por Meirelles (2005). Os autores apontam como a possibilidade da administração pública, impor-se coativamente aos 
administrados, podendo utilizar inclusive a aplicação da força, quando o particular resiste, independentemente de 
autorização judicial. 
Meirelles (2005), afirma que o policial pode utilizar-se da força quando em atitude de oposição do cidadão a 
uma ordem dada pelo agente público. No entanto, ensina que a força empregada deve ser proporcional, podendo 
caracterizar excesso de poder e abuso de autoridade tornando nulo o ato administrativo do agente. 
Um ato de polícia, como uma ordem para que o cidadão fique onde está, reveste-se destes atributos. O 
policial ao determinar tal atitude ao cidadão o faz sem consultar o Judiciário. Impõe sua determinação, explicitando o 
caráter coercitivo do ato administrativo. Escolhe, ainda, o momento correto e a circunstância ideal para que possa 
executar sua decisão, demonstrando o caráter discricionário do ato. 
Lazzarini (1999, p. 103), referindo-se sobre as fases do poder de polícia, distingue a atuação do Estado no 
exercício do seu poder de polícia em quatro fases: ordem de polícia, consentimento de polícia, fiscalização de polícia e 
sanção de polícia. 
O Parecer GM-25 (2001) utiliza-se dos ensinamentos do mestre Lazzarini, distinguindo também as fases do 
poder de polícia em: ordem de polícia, o consentimento de polícia, a fiscalização de polícia e a sanção de polícia. 
A ordem de polícia é necessariamente advinda de um preceito legal, pois se trata de uma reserva legal, 
podendo ser enriquecida através da discricionariedade da administração, como no ato exemplificado anteriormente. 
Consentimento de polícia, segundo o Parecer GM-25 (2001, p. 9), "quando couber, será a anuência, 
vinculada ou discricionária, do Estado com a atividade submetida ao preceito vedativo relativo, sempre que satisfeitos 
os condicionamentos exigidos". 
Fiscalização de polícia é a verificação do real cumprimento da ordem ou a "regularidade da atividade já 
consentida por uma licença ou uma autorização". Leva o nome de policiamento quando exercida pela polícia de 
preservação da ordem pública. 
A sanção de polícia é a forma auto-executória da atividade administrativa do poder de polícia, visando a 
repressão do ato infracional. O constrangimento pessoal, direto, e imediato nas devidas medidas é o esgotamento 
desta atividade, para restabelecer a ordem pública. 
Segundo Teza (2006, p. 03), a Polícia Militar deve exercer sua missão constitucional, a "polícia ostensiva" e 
a "preservação da ordem pública" através de "ações que comportem todas as fases do poder de polícia dando por 
conseguinte, poderes para que participe do "antes" e do "depois" do policiamento ostensivo". 
Dessa forma, percebemos que o policiamento é apenas uma das fases do poder de polícia, qual seja a 
fase de fiscalização. 
O poder de polícia é a ferramenta utilizada pelos agentes públicos, representantes do Estado, dentre eles o 
policial militar, para restringir ou condicionar, de maneira geral, os direitos individuais em prol do coletivo. Possui 
atributos específicos, e dentre estes, cabe destacar a coercibilidade, base para justificação do emprego da força física, 
pelo agente público, para concretização de uma ordem ou mesmo de uma sanção de polícia. 
2.2.3 Preservação da Ordem Pública 
Buscando esclarecimento quanto à expressão "preservação da ordem pública" o Parecer GM-25 (BRASIL, 
2001), encomendado à Advocacia Geral da União pelo excelentíssimo senhor Presidente da República à época, 
Fernando Henrique Cardoso, quanto ao termo "preservação", coloca que a Carta Magna ao inseri-lo, quis dar ênfase à 
atividade preventiva. No entanto, acredita ser a terminologia suficientemente elástica para conter a atividade 
repressiva, desde que de imediato. 
A manutenção da ordem, termo utilizado pela Constituição anterior, segundo o Regulamento para as 
Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, R-200, (1983, p. 3), aprovado pelo Decreto nº. 88.777, de setembro 
de 1983, é o exercício do poder de polícia, na segurança pública, manifestado por ações eminentemente ostensivas, 
visando "prevenir, dissuadir, coibir e reprimir eventos que violem a ordem pública". 
Lazzarini (1999, p. 105) afirma ter sido "feliz" o legislador constitucional, ao alterar o termo manutenção por 
preservação na Carta Magna, pois é mais amplo e mais apropriado. "A preservação abrange tanto a prevenção quanto 
a restauração da ordem pública". 
Lazzarini (1999, p. 52) afirma ainda que a ordem pública compreende três aspectos: segurança pública, 
tranqüilidade pública e salubridade pública. Moreira Neto apud Lazzarini (1999, p. 53) diz ser segurança pública 
"conjunto de processos, políticos e jurídicos que visam garantir a ordem pública, sendo essa o objeto daquela". 
A obra "Instrução Modular da Polícia Militar de Santa Catarina" (2002, p. 169) observa que a preservação 
da ordem pública dá-se em duas fases distintas: a primeira quando a ordem já esta assegurada através de ações 
preventivas e dissuasivas, e a segunda quando ocorre a quebra da ordem e esta deve ser retomada através de ações 
repressivas e imediatas. 
Sobre o conceito de ordem pública pode-se trazer a baila o conhecimento de alguns doutrinadores. 
Hipólito (2005, p. 36) reflete sobre a dificuldade de se definir o conceito de ordem pública. 
Brodeur apudHipólito (2005, p. 37) coloca que "A desordem, embora não seja fácil de definir, é algo que os moradores 
locais vão reconhecer quando virem ou ouvirem". 
Machado e Vicenzi (2009, p. 1) corroboram com Hipólito sobre a dificuldade de se conceituar a ordem 
pública. Os autores utilizam as palavras de outros estudiosos a fim de tentar aclarar a conceituação proposta. 
Primeiramente, para demonstrar tal dificuldade, destacamos que há linha de entendimento doutrinário que 
tende a conceituar a Ordem Pública como a tradução do sentimento de toda uma nação (DOLINGER, 1997); e que há 
também outros pesquisadores, que entendem que a Ordem Pública está intrínseca no sistema jurídico de um Estado 
Soberano (GRECO FILHO, 1978), de modo que uma situação notadamente estranha à cultura jurídica, à Constituição, 
ao interesse social e aos direitos mais basilares de um povo seria contrária à Ordem Pública (PUCCI, 2007). 
Cavalheiro Neto (2004) afirma que diversas doutrinas e operadores do direito buscam conceituar ordem 
pública. Alguns, conforme a posição que ocupam no processo, defensores ou acusadores, buscam estender a 
abrangência do conceito enquanto outros buscam restringi-lo. Nem mesmo a jurisprudência escapa desta celeuma, em 
algumas vezes firmando posição mais rigorosa e em outras mais abrandadas. 
Mirabette (1995, p. 377) leciona como conceito de ordem pública: "não se limita a prevenir a reprodução de 
fatos criminosos, mas também acautelaro meio social e a própria credibilidade da justiça em face da gravidade do 
crime e sua repercussão". 
O Regulamento para as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares R-200, (1983, p. 3) traz como 
conceito de ordem pública o seguinte: 
[...] conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações 
sociais de todos os níveis, do interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica, fiscalizado pelo Poder 
de Polícia, e constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem comum; 
O mesmo instrumento destaca ainda o conceito de "perturbação da ordem", que abrange todas as ações 
que possam comprometer o "exercício dos poderes constituídos, o cumprimento das leis e a manutenção da ordem 
pública" contra a população e as propriedades públicas e privadas. 
Nesse sentido, além destes ilustres doutrinadores, estudiosos do assunto entendem que o legislador de 
1988, ao modificar o texto constitucional, trocando "manutenção da ordem pública" por "preservação da ordem 
pública", buscou ampliar a competência das Polícias Militares para além do policiamento. Chama-se policiamento a 
fiscalização exercida pela polícia de preservação da ordem pública, conforme o Parecer GM-25 (2001). 
2.2.4 Competência Residual 
Ainda referente à competência das polícias militares, o Parecer GM-25 (2001, p. 10), determina que cabe 
às polícias militares a chamada competência residual, ou seja o "exercício de toda atividade policial de segurança 
pública não atribuída aos demais órgãos", englobando inclusive: 
[...] a competência específica dos demais órgãos policiais, no caso de falência operacional deles, a exemplo de greves ou 
outras causas, que os tornem inoperantes ou ainda incapazes de dar conta de suas atribuições, funcionando, então, a Polícia Militar 
como um verdadeiro exército da sociedade. 
Sardinha (2007, p. 74), Capitão PM da Paraíba, sobre a amplitude da atividade de polícia ostensiva, 
leciona: 
[...] a extensa competência da Polícia Militar, engloba, inclusive, a competência exclusiva dos demais órgãos policiais ou 
de Estado, quando da área do sistema jurídico-policial, no caso de desvirtuamento de atividade por parte destes conforme podemos 
citar os períodos de greve de agentes penitenciários, onde os Governos Estaduais não hesitam em convocar as suas Corporações 
Policiais Militares para assumir efetivamente os estabelecimentos prisionais, em face da iminente quebra da tranqüilidade pública. 
Lazzarini (1999, p. 104), sobre a competência residual da Polícia Militar, afirma: 
A exegese do art. 144 da Carta, na combinação do caput com o seu § 5º, deixa claro que na preservação da ordem pública 
a competência residual de exercício de toda atividade policial de segurança pública, não atribuída aos demais órgãos, cabe à Polícia 
Militar. 
Percebe-se que é ampla a atribuição da Polícia Militar. Diversos doutrinadores demonstram que tanto a 
"preservação da ordem pública" como a "polícia ostensiva" ampliam a margem de situações, de atividades em que a 
Polícia Militar possa atuar. A citada competência residual, reconhecida através do parecer encaminhado a presidência 
da República, também demonstra a vasta amplitude da atividade policial militar. 
3 O Uso da Força na Perspectiva dos Direitos Humanos para Atividade Policial Militar 
Neste capítulo, o foco será a o estudo da força aplicada pelos agentes públicos, responsáveis pela 
preservação da ordem pública, quando no exercício de sua atividade constitucional. Inicialmente será contextualizada a 
atividade policial e os direitos humanos, o qual será a base para seção seguinte que tratará sobre o uso da força, 
apresentando os principais modelos de uso progressivo da força, norteadores da atividade policial militar. 
3.1 Direitos Humanos e a Atividade Policial 
Sobre direitos humanos, a Instrução Modular da Polícia Militar de Santa Catarina (2002, p. 146) conceitua 
como sendo: 
[...] os direitos fundamentais inerentes a todo ser humano, tais como: direito à vida, à liberdade, à segurança, à educação, 
ao repouso, à liberdade de opinião e expressão...- independente de sua condição socioeconômica, política, cultural, ética, profissional, 
sem qualquer restrição ao espaço geográfico que a pessoa se encontre. 
Após a segunda Guerra Mundial, meados do século XX, a concepção de direitos humanos passou a atingir 
a esfera internacional. Neste entendimento, Wilson (2007, p.02), afirma que "diversos instrumentos, introduzindo 
princípios gerais, passaram a ser produzidos buscando proteger os direitos do homem". 
O século XX, um dos períodos mais marcantes e intensos da humanidade, é o mais referenciado quando o 
assunto são direitos humanos. No entanto, os princípios humanísticos têm origem há muitos séculos. Durante este 
período, duas grandes guerras foram travadas, marcando episódios de crueldade, atrocidades, xenofobia, racismo, 
tortura e genocídio. Uma grande mobilização mundial formou-se com intuito de reprimir quaisquer possibilidades destes 
acontecimentos virem a ocorrer novamente. Assim, em 1945 foi criada uma organização mundial e internacional com a 
intenção de manter a paz e a segurança internacional, chamada ONU (ROVER, 1998, p.12). 
A ONU, Organização das Nações Unidas, visa somente regulamentar situações que envolvam países 
diferentes. No entanto, diversas vezes, teve que atuar em conflitos internos de Estados, que agiam contra seus 
cidadãos, atacando princípios inerentes a pessoa humana. Assim, para inibir possíveis arbitrariedades e violações aos 
direitos humanos, a ONU, através de assembléias ratificadas por seus países membros, sancionou convenções 
visando inibir tais condutas. (CUNHA, 2004, p. 30) 
Em 1948, segundo Amnesty International (2003), foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, na assembléia geral 217 A (III). Esta declaração, segundoOffice of United Nations Hight Commissioner for 
Human Rights (2005, p. 1) visa: 
[...] atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os orgãos da sociedade, tendo-
a constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por 
promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efectivos 
tanto entre as populações dos próprios Estados membros como entre as dos territórios colocados sob a sua jurisdição. 
É sobre este viés que as polícias militares devem atuar. Não vivemos mais em um Estado onde as policiais 
eram apenas o braço armado do Estado. Hoje o policial deve assumir papel de "parceiro da sociedade e promotor dos 
direitos humanos". (SECRETARIA ESPECIAL DOS DIREITOS HUMANOS, 2008). 
Seguindo a diretriz proposta pela referida secretaria, para Instrução Modular da Polícia Militar de Santa 
Catarina (2002), a atividade policial deve seguir os preceitos fundamentais dos direitos humanos, valorizando a vida, a 
dignidade humana e a harmonia individual e coletiva. O manual reforça também a necessidade de técnica policial 
aprimorada, além de grande habilidade dos policiais, devido à alta complexibilidade de sua atividade rotineira, lidando 
com interesses individuais e coletivos, naturais ou positivos de pessoas e grupos sociais. 
Araújo (2006, p. 1), sobre estes tratados de direitos humanos internacionais, afirma o seguinte: 
Certamente as diversas "Declarações Internacionais de Direitos Humanos" foram estabelecendo limites às diversas 
ideologias justificadoras de atrocidades, mas, sobretudo, obtiveram o êxito de consagrar um ponto e referência internacional, um padrão 
mínimo tolerável de direitos humanos que foi absorvido aos poucos pelos diversos países signatários, mediantesuas legislações, enfim, 
de seu direito positivo. 
Os direitos e garantias fundamentais da dignidade da pessoa humana servem como verdadeiros parâmetros de limitação 
dos agentes do Estado na consecução de suas atribuições. Apesar de ainda controverso o conceito de tal terminologia perante a 
doutrina, a idéia central consiste na possibilidade de assegurar um mínimo existencial, moralmente e materialmente, a pessoa humana 
(CARNEIRO, PONTES e RAMIRES, 2009, p. 20) 
Gonet apud Carneiro, Pontes e Ramires (2009, p. 15) justifica a prevalência destes direitos e garantias 
citando características do conjunto de regras e princípios que tutelam a dignidade da pessoa humana: 
- Universais – Pois atingem todos os seres humanos, sem distinção alguma; 
- Absolutos – Gozam de prioridade absoluta, sobre qualquer outro interesse estatal ou coletivo; 
- Inalienáveis – São intransmissíveis, inalienáveis e inegociáveis por essências; 
- Indisponíveis – Mesmo sendo motivo de renúncia por parte do indivíduo o Estado deve primar por sua 
efetivação; 
- Consagrados na ordem jurídica – Decorrentes da evolução humana, servem de traço distintivo em face 
dos direitos humanos. O Estado os reconhece como essenciais e fundamentais, para a existência do próprio Estado. 
- Limitativos dos poderes constituídos - Na medida em que nenhuma determinação legal possa olvidar das 
diretrizes impostas por ele; 
- De aplicabilidade imediata – Sendo desnecessário norma infraconstitucional para que possam ser 
efetivados. 
A previsão destes direitos fundamentais na Constituição, vincula portanto qualquer atuação do Estado. Diz-
se que tais direitos e garantias são "cláusulas pétreas", ou seja, jamais poderão ser objeto de deliberação em emenda 
constitucional no sentido de lhes abolir. A própria Constituição Federal evidencia tal exceção, em seu art. 60: 
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: 
[...] 
§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: 
[...] 
IV - os direitos e garantias individuais. 
Obviamente, a fim de que se possa conviver em sociedade, tais direito e garantias fundamentais não 
assumem feição absoluta, permanecendo constantemente intangíveis ou intocáveis, segundo Carneiro, Pontes e 
Ramires (2009, p. 19). Do contrário, pessoas poderiam utilizar-se de tais direitos e garantias com a finalidade de 
esquivar-se de responsabilidades civis, pecuniárias, penais, após a prática de ilícitos. Assim Carneiro, Pontes e 
Ramires (2009, p. 19), utilizando as palavras de Alexandre de Moraes, ensina que o ser humano existe e convive de 
forma pacífica em sociedade pois o direito impõe limites na prática de condutas, no exercício de direitos, é o que 
chamamos de princípio da relatividade ou convivência das liberdades públicas. Resumindo, o direito próprio termina 
quando inicia o direito alheio. 
Havendo então, conflito entre direitos e garantias fundamentais, individuais e coletivos, o policial militar, 
com intuito de cumprir seu mister constitucional deve valer-se do princípio da proporcionalidade, que na lição de 
Carneiro, Pontes e Ramires (2009, p. 22) compreende três critérios: adequação, exigindo que as medidas aplicadas 
pelo agente público sejam adequadas ao objetivo visado; necessidade, onde o meio menos gravoso deve ser o 
escolhido pelo agente público na execução de sua atividade; e proporcionalidade em sentido estrito (razoabilidade), 
onde efetivamente vai haver o juízo definitivo entre o resultado a ser alcançado, ponderando-se a intervenção aplicada. 
Esta ponderação não é fácil de ser exercida pelo agente público, que muitas vezes deve tomar a decisão em 
momentos de estresse e agitação. 
Mesmo os agentes públicos tendo o dever legal de reger suas condutas baseando-se no que foi até então 
apresentado podem ocorrer desvios de conduta. Justificando tais irregularidades, Araújo (2006) afirma que os agentes 
policiais são originados da própria sociedade, possuindo as mesmas características e defeitos. Condutas criminosas 
realizadas por policiais despreparados, corruptos, causam constrangimentos inclusive aos policiais corretos. Luiz 
Gilmar da Silva apud Araújo (2006, p. 2) afirma que "ser ‘policia’, no Brasil, é quase sinônimo de ‘marginalização’ e o 
"prestigiamento’ dependerá das simpatias que conseguir angariar à seu favor [...]". Araújo (2006) afirma que a violência 
policial é pratica em todos os países, inclusive nos países desenvolvidos. 
3.2.Uso da Força na Atividade Policial 
Como viu-se anteriormente, segundo Meirelles (2005, p. 138) "o atributo da coercibilidade do ato de polícia 
justifica o emprego da força física". Tratando da força física desempenhada pelo agente público o artigo terceiro do 
Código de Conduta para Encarregados da Aplicação da Lei, da ONU (1979), reflete sobre uso gradual dessa força pela 
polícia: 
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a força quando estritamente 
necessária e na medida exigida para o cumprimento do seu dever. 
Segundo Pinto e Valério (2002), no intuito de preservar as garantias, os direitos humanos, foi criada através 
da resolução 34/169 da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 1979, o Código de Conduta para Encarregados da 
Aplicação da Lei – CCEAL, para orientar a conduta dos responsáveis pela segurança pública nos Estados. Este código 
não tem força de tratado porém busca padronizar práticas da aplicação da lei baseando-se em disposições básicas dos 
direitos e liberdades humanas. 
Cunha (2004, p. 7), referindo-se ao Código de Conduta para Encarregados da Aplicação da Lei, ONU 
(1979), diz que "esse código visa regulamentar o uso da força pela polícia e estabelecer parâmetros e limites efetivos 
para a ação policial". Cunha (2004, p. 7) afirma ainda: 
A intenção do Código é estabelecer normas que evitem o uso da força excessiva e atenuem o potencial de 
abuso presente no desempenho da atividade policial, dever de equipar e treinar os policiais no uso de armas não-letais 
e munições especiais, de forma a garantir que o uso da força letal só se dará após esgotados todos os demais 
recursos. Existe, ainda, a previsão expressa de acompanhamento psicológico para os policiais envolvidos em situações 
em que tenham sido utilizadas a força e as armas de fogo. 
Em 1990 o 8º Congresso para Prevenção do Crime da Organização das Nações Unidas, com intuito de 
garantir a implementação do CCEAL, adotou, por meio da Resolução 45/166, os "Princípios Básicos para o Uso da 
Força e das Armas de Fogo pelos Policiais" – PBUFAF. O instrumento além de outras orientações destaca o uso da 
arma de fogo como sendo uma "medida extrema". Responsabiliza os governos a punir, de acordo com a legislação, o 
uso arbitrário da arma de fogo como delito criminal. (ONU, Princípios Básicos sobre o Uso da Força e da Arma de 
Fogo, caderno 10). 
Para Cunha (2004), o CCEAL e o PBUFAF, buscam determinar o mais claramente possível, as 
possibilidades dos agentes utilizarem-se da força ou da arma de fogo. Afirma ainda que tais instrumentos reconhecem 
a impossibilidade do policial decidir sobre situações juridicamente complexas, nos momentos de confronto, tais como: a 
legítima defesa e o estrito cumprimento do dever legal, conceitos apresentados no capítulo seguinte. O Guia de 
Direitos Humanos, editado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos (2008), segue a mesma lógica de 
pensamento de Cunha, inclusive citando os mesmo instrumentos legais. 
Somente em extrema necessidade deve-se aplicar a força e na medida certa. Neste sentido o uso da arma 
de fogo, da força letal, é a última instância. Corroborando, Pinto e Valério (2002, p. 50), acrescentam ainda que 
"Devem-se fazer todos os esforços no sentido de excluir a utilização de armas de fogo [...]". Emgeral, só se deveriam 
"utilizar armas de fogo quando o suspeito oferecer resistência armada", ou, de outra maneira, quando por "em risco as 
vidas alheias e não são suficientes medidas menos extremas para dominar ou deter o delinqüente suspeito". 
Na apostila Uso legal da Força, confeccionada pelo Ministério da Justiça (2006, p. 15), ocorre a seguinte 
reflexão: 
Ao fazer o uso da força o policial deve ter o conhecimento da lei, deve estar preparado tecnicamente, através da formação 
e do treinamento, bem como ter princípios éticos solidificados que possam nortear sua atuação. Ao ultrapassar qualquer desses limites 
não se esqueça que você estará igualando-se às ações de criminosos. Você deixa de fazer o uso legítimo da força para usar a força e 
se tornar um criminoso. 
A obra Instrução Modular da Polícia Militar de Santa Catarina (2002, p. 148), afirma que a Anistia 
Internacional preparou regras básicas destinadas aos agentes responsáveis pela aplicação da lei. A Anistia 
Internacional, segundo a Amnesty International (2003), foi criada a partir uma situação, ocorrida em 1961, onde 
estudantes portugueses foram presos, apenas por gritarem "Viva a Liberdade!" em via pública. Segundo a Amnesty 
International (2003, p. 01), a Anistia Internacional visa "organizar uma ajuda prática às pessoas presas devido às suas 
convicções políticas ou religiosas, ou em virtude de preconceitos raciais ou lingüísticos" A regra básica número três diz 
o seguinte: "Não usar a força ou armas de fogo, a não ser que seja estritamente necessário, de acordo com as 
circunstâncias". 
O uso da força ou da arma de fogo são "medidas extremas", e portanto faz-se necessário a utilização de 
meios não violentos antes de recorrer ao emprego da força letal. 
A regra básica número cinco (ONU, Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação 
da Lei, pag. 3) também se refere ao emprego da força, principalmente ao uso da força letal: "Não se deve usar a força 
com conseqüências letais, a não ser que seja estritamente necessária para proteger a sua própria vida ou a vida de 
outros". 
O CCEAL, Código de Conduta dos Encarregados da Aplicação da Lei, da ONU (1979), em seu artigo 
terceiro afirma que "Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a força quando tal se 
afigure estritamente necessário e na medida exigida para o cumprimento do seu dever". Neste sentido, admite o uso da 
força, no entanto coloca-o como exceção, e somente autoriza-o respeitando-se o princípio da proporcionalidade. 
Nesse caso fica mais evidente que o uso da força letal, por exemplo, de armas de fogo, deve ser feito 
quando todos os outros meios foram ineficazes. A obra Instrução Modular da Polícia Militar de Santa Catarina (2002) 
destaca ainda diversas observações para quando o uso de armamentos letais for necessário como: identificação prévia 
do agente policial e do pretenso uso da arma de fogo, verificar o tipo de armamento e de munição do policial para que 
seja o menos letal possível, além do controle absoluto de sua distribuição e investigação total de quando foi utilizado. 
Dessa forma destaca-se a necessidade de preparo dos agentes públicos, estaduais ou federais, enfim, 
policiais responsáveis pela segurança pública, quando no uso da força sobre os cidadãos. Nesta seara, o Código de 
Conduta dos Encarregados da Aplicação da Lei, fornecido pela ONU (1979), preocupou-se com a formação dos futuros 
encarregados de aplicação da lei: 
20. Na formação dos policiais, os Governos e os organismos de aplicação da lei devem conceder uma 
atenção particular às questões de ética policial e de direitos do homem, em particular no âmbito da investigação, às 
alternativas para o uso da força ou de armas de fogo, incluindo a resolução pacífica de conflitos, ao conhecimento do 
comportamento de multidões e aos métodos de persuasão, de negociação e mediação, bem como aos meios técnicos, 
visando limitar a utilização da força ou de armas de fogo. Os organismos de aplicação da lei deveriam rever o seu 
programa de formação e procedimentos operacionais à luz de casos concretos. 
Cunha (2004) afirma que as disposições contidas no Código de Conduta e nos Princípios Básico para Uso 
da Força são garantias ao policial. Em casos concretos, conceitos subjetivos como uso da força, legítima defesa e 
estrito cumprimento do dever legal, poderiam ser facilmente explicados e compreendidos, utilizando-se dos 
conhecimentos passados por tais instrumentos. 
3.3.Uso Escalonado da Força na Atividade Policial - Modelos de Uso Progressivo da Força 
Cunha (2004, p. 11) afirma que "na atual conjuntura não se admite uma Força Policial não possuir diretrizes 
de ação pautadas pelos preceitos do Uso da Força: Legalidade, Necessidade e Proporcionalidade". O policial para ser 
profissional deve saber usar moderadamente a força e proporcionalmente a gravidade do delito cometido. 
Moreira e Correa apud Cunha (2004, p. 12) conceituam o Uso Progressivo da Força como sendo "a 
seleção adequada de opções de força pelo policial em resposta ao nível de submissão do indivíduo suspeito ou infrator 
a ser controlado". A presença ostensiva do policial inicia o nível de utilização da força, podendo chegar até a utilização 
de armas de fogo, ou emprego letal da força. 
Segundo a apostila Uso Legal da Força fornecida pelo Ministério da Justiça (2006, p. 2), "força é a 
intervenção ‘compulsória’ sobre alguém ou sobre algumas pessoas a fim de reduzir ou eliminar sua capacidade de 
auto-decisão". 
A apostila Uso Legal da Força, do Ministério da Justiça (2006), afirma ainda que objetivando delimitar estas 
graduações do uso da força para orientar policiais, a partir das reações de pessoas flagradas cometendo um delito ou 
mesmo em atitudes suspeitas, foram criados modelos de uso progressivo da força. Geralmente os modelos criados 
recebem o nome daqueles que o criaram. 
O Ministério da Justiça (2006), lista alguns destes modelos, bem como sua origem: 
- Modelo Flect, aplicado pelo Centro de Treinamento da Polícia Federal de Glynco, na Geórgia, Estados 
Unidos da América; 
- Modelo Gillespie, presente no livro Police – Use of Force – A line officer’s guide, 1988; 
- Modelo Remsberg, presente no livro The Tactical Edge – Surviving High – Risk Patrol, 1999; 
- Modelo Canadense, utilizado pela Polícia Canadense; 
- Modelo Nashville, utilizado pela Polícia Metropolitana de Nashville, EUA; 
- Modelo Phoenix, utilizado pelo Departamento de Polícia de Phoenix, EUA. 
Segundo o Ministério da Justiça (2006), na apostila Uso Legal da Força, três modelos podem ser utilizados 
pela polícia brasileira, por possuírem conteúdo completo e reproduzirem a realidade operacional, são eles: Flect, 
Gillespie e Canadense. No entanto, o modelo canadense é considerado um dos modelos mais apropriados, pela 
facilidade de aprendizagem e riqueza de conteúdo em sua formulação gráfica. A referida apostila traz a representação 
gráfica deste modelo, resumidamente adaptada e traduzida. 
 
Ilustração 2: Modelo Canadense de uso progressivo da força. 
Fonte: Ministério da Justiça. Apostila de Uso legal da Força, 2006. 
Buscando no sítio do Serviço Correcional do Canadá, Correctional Service of Canada (2004), que relata ao 
Ministério da Segurança Pública do Canadá assuntos referentes à segurança pública encontramos a seguinte 
referência quanto ao modelo: "O modelo requer o uso de medidas menos restritivas para assegurar a segurança de 
todas as pessoas envolvidas". 
Além da teoria sobre a aplicação do uso da força, orientações sobre como o agente público deve agir 
nestas situações, ocorre também a representação gráfica do modelo apresentado na apostila Uso Legal da Força, do 
Ministério da Justiça (2006), porém em sua formatação original:Ilustração 3: Situation Management Model. 
Fonte: Correctional Service of Canada, 2004. 
O modelo proposto pela Apostila Uso da Força em seu módulo 2, do Ministério da Justiça (2006), é 
semelhante ao descrito anteriormente, porém com as devidas traduções destacando apenas o escalonamento do uso 
da força. 
Persson (2007, p. 36-37), indica ainda dois outros modelos de uso progressiva da força, chamados Flect e 
Remsberg. Salienta ainda os aspectos técnicos apresentados em cada modelo, enfatizando o uso de artes marciais, 
em detrimento de armas letais. Segundo o autor op. cit. (2007), os modelos priorizam uma escala de uso da força, 
colocando a utilização de armamentos letais apenas em último caso, e destacando a importância do conhecimento de 
técnicas de defesa pessoal, de artes marciais. 
A apostila de Uso Legal da Força, fornecida pelo Ministério da Justiça (2006), após analisar diversos tipos 
de modelos de uso da força, e recomendar o modelo canadense, propõe a adoção de um modelo básico de uso 
progressivo da força: 
 
Ilustração 4: Modelo básico de uso progressivo da força. 
Fonte: Apostila de Uso legal da Força, 2006. 
Percebe-se que o modelo proposto pela apostila Uso legal da Força do Ministério da Justiça (2006), similar 
ao modelo Flect, possui também, em seus níveis de aplicação do uso progressivo da força, 60% do gráfico, ou seja, 
três dos cinco níveis apresentados, diretamente ligados às técnicas desenvolvidas com a prática de artes marciais. 
Todos os modelos de uso progressivo da força apresentados destacam a utilização de técnicas menos 
agressivas antes da utilização da arma de fogo. Os modelos apresentados, inclusive o recomendado (Modelo 
Canadense) e o proposto (Modelo Básico) pelo Ministério da Justiça (2006), apresentam e enfatizam formas de 
aplicação do uso da força relacionada a técnicas desenvolvidas através da prática de artes marciais. 
A Polícia Militar de Santa Catarina, recentemente criou um modelo de uso progressivo da força, baseado 
nos modelos apresentados anteriormente, o qual foi apresentado durante o Curso de Uso Progressivo da Força (2010). 
 
Ilustração 5: Pirâmide de Emprego da Força (Curso de Uso Progressivo da Força, p.11) 
Adaptado do Modelo de FLETC (GRAVES & CONNOR , 1994,: p. 8) 
Não sendo a intenção da pesquisa o aprofundamento no estudo das técnicas necessárias para emprego do 
uso da força, mas apenas a contextualização deste emprego dentro da perspectiva legal, fica neste capítulo uma 
amostra da normatização do emprego coercitivo da força durante a atuação policial militar. 
4 Legislação Brasileira e o Uso da Força na Atividade Policial Militar 
O capítulo quatro conclui a obra, enfatizando a legislação infraconstitucional que trata sobre a aplicação da 
força por parte dos agentes públicos responsáveis pela segurança pública. Inicialmente a Lex Mattter é discutida sob o 
ponto de vista dos direitos e garantias ligados ao uso da força pelo Estado contra o administrado. O Código Penal, 
Decreto-Lei 2.848/1940, na segunda seção deste capítulo, aponta as excludentes de ilicitude como elementos 
indispensáveis para o embasamento legal do uso da força pelos policiais militares. Alguns exemplos fáticos, 
explicitados pela doutrina, são apresentados, visando melhor ilustrar a temática abordada. 
4.1 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 
Pinto e Valério (2002) afirmam que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 direciona a 
prioridade ao respeito à integridade física, moral e psicológica do cidadão, às liberdades individuais e coletivas, sendo 
assim a vida como bem maior tutelado pelo Estado. Reforçam ainda a necessidade de respeitar tais direitos, 
consagrados na Constituição da República Federativa do Brasil, mesmo que seus propósitos confrontem-se com a 
realidade social de violência e barbárie daqueles que desconhecem qualquer regra de convivência social. 
Os princípios de justiça, liberdade e igualdade, consagrados pela Carta Magna (BRASIL, Constituição da 
República do Brasil, art.1º, 3º e 5º) são especificados em seus primeiros artigos: Título I, Dos Princípios Fundamentais, 
Título II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, e Capítulo I, Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos. Segue os 
artigos que identificam os princípios acima descritos: 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, 
constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: 
[...] 
II – a cidadania; 
III – a dignidade da pessoa humana; 
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
[...] 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de 
discriminação. 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; 
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; 
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; 
[...] 
Segundo Beauchamp e Childress apud Goldim (1998, p. 1), o princípio da justiça é a expressão da justiça 
distributiva, veja-se: 
Entende-se justiça distributiva como sendo a distribuição justa, equitativa e apropriada na sociedade, de acordo com 
normas que estruturam os termos da cooperação social. Uma situação de justiça, de acordo com esta perspectiva, estará presente 
sempre que uma pessoa receberá benefícios ou encargos devidos às suas propriedades ou circunstâncias particulares. 
Goldim (1998, p. 1), traz a tona ainda a proposta de Aristóteles sobre a justiça formal, a qual "os iguais 
devem ser tratados de forma igual e os diferentes devem ser tratados de forma diferente". 
Ainda sobre o princípio da justiça, Rawls apud Almeida et al (2007) afirma que os cidadãos estando sob o 
mesmo nível de ignorância ficam em situação equitativa, por isso propõe uma idéia de justiça como 
equidade.Rawlsapud Almeida et al (2007, p. 216) afirma que "cada pessoa deve ter um direito igual ao mais amplo 
sistema total de liberdades básicas iguais que seja compatível com um sistema semelhante de liberdade para todos", 
bem como as dificuldades sociais e econômicas devem ser distribuídas simultaneamente, onde os maiores benefícios 
devem ser aos menos favorecidos. Dessa forma, paraRawls apud Almeida et al (2007), a teoria da justiça redunda em 
três princípios básicos, o princípio da liberdade, da oportunidade justa, e da diferença. 
Perelman et al apud José Afonso da Silva (2001), diz ser a justiça formal um princípio de ação, onde seres 
da mesma categoria devem ser tratados igualmente. José Afonso da Silva (2001) acrescenta ainda que tal princípio 
identifica-se com a igualdade formal. Perelman et al apud José Afonso da Silva (2001, p. 216), coloca magnificamente 
a seguinte frase: "tratar de maneira igual os iguais e de maneira desigual os desiguais". 
Relativo ao princípio da igualdade, André da Silva (2006, p. 214) afirma ser "o signo fundamental da 
democracia". Não permite privilégios nem distinções. André da Silva (2006) afirma ainda que as constituições admitem 
o sentido jurídico-formal que refere-se a igualdade perante a lei. A Constituição da República Federativa do Brasil de 
1988 busca reduzir as desigualdades sociais e regionais, repulsa discriminação, universaliza a seguridade social, 
garante saúde, acesso a educação, tudo isso visando a igualdade material.O princípio da liberdade, segundo Almeida et al (2007) tem prioridade dentre os restantes, além de que 
todos os indivíduos em uma sociedade justa se beneficiam das mesmas liberdades básicas.Rawls apud Almeida et 
al (2007) inclui nestas liberdades básicas a liberdade política, liberdade de expressão e de reunião, liberdade de 
consciência e de pensamento. Inclui também as liberdades da pessoa que segundo o autor refere-se à proibição contra 
agressões e prisões arbitrárias. SegundoRawls apud Almeida et al (2007, p. 217), quanto ao princípio da liberdade: 
Rawls defende que não se pode violar as liberdades básicas dos indivíduos de modo a alcançar vantagens 
económicas e sociais. Por exemplo, não se pode suprimir a liberdade de expressão com o objectivo de obter uma 
melhor distribuição da riqueza. No entanto, nenhuma das liberdades básicas é absoluta. Qualquer uma pode ser 
limitada para que assim se obtenha uma maior liberdade para todos. Por exemplo, em algumas circunstâncias pode 
justificar-se limitar a liberdade de expressão – proibindo, suponhamos, a difusão de ideais políticos ou religiosos 
extremamente intolerantes – de modo a proteger a liberdade política. 
Segundo André da Silva (2006, p. 236), o conceito de liberdade é a "possibilidade de coordenação 
consciente dos meios necessários à realização da felicidade pessoal". Outro princípio interessante que também deve 
ser levado em consideração quando no uso da força é o da dignidade da pessoa humana. Para o autor este princípio 
serve como unificador de todos os direitos fundamentais. Dessa forma a ordem econômica deve ter por finalidade 
assegurar à todos a existência digna, a ordem social, a realização da justiça social, a educação, o desenvolvimento e 
preparo da cidadania da pessoa, visando a dignidade da pessoa humana. A respeito do princípio constitucional da 
dignidade humana bem define Sarlet, (2001, p. 89): 
A dignidade da pessoa humana engloba necessariamente respeito e proteção da integridade física e emocional (psíquica) 
em geral da pessoa, do que decorrem, por exemplo, a proibição da pena de morte, da tortura e da aplicação de penas corporais bem 
como a utilização da pessoa para experiências científicas. 
Farias apud Martins (2006) esclarece que a arquitetura constitucional é baseada no princípio da dignidade 
da pessoa humana. Este princípio dá valor e consistência aos direitos fundamentais. Serve como respaldo para 
possíveis "direitos novos" surgidos através de tratados internacionais aos quais o Brasil seja signatário, ou mesmo em 
decorrência de direitos implícitos em princípios contidos na própria Constituição da República Federativa do Brasil de 
1988. O princípio da dignidade da pessoa humana é critério imperativo do inteiro ordenamento constitucional. 
4.2 Código Penal – Excludentes de Ilicitude 
Baseando-se nos princípios supracitados, o Código Penal Brasileiro (BRASIL, 2011) em seus artigos 23, 24 
e 25 busca definir as excludentes de criminalidade, ou seja, conforme Pinto e Valério (2002, p. 57), "as causas de 
justificação que tornam um ato antijurídico excluso de ilicitude", tornando o próprio delito excluído. 
Capez e Prado (2008, p. 62), de maneira muito didática, ensinam que pela teoria bipartida, crime é todo 
fato típico e ilícito, excluindo portanto a culpabilidade. Ilicitude é a "contradição entre a conduta e o ordenamento 
jurídico" podendo ser comissiva (ação) ou omissiva (omissão), tornando-a ilícitas. Assim, toda conduta penalmente 
ilícita é típica, porém o contrário não ocorre, pois pode haver situações que haja a incidência das excludentes de 
ilicitude, quais sejam: 
Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: 
I – em estado de necessidade; 
II – em legítima defesa (própria ou de terceiros); 
III - em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular do direito. 
Parágrafo único: O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo". 
(CÓDIGO PENAL, BRASIL, 2011) 
O artigo 24, do Código Penal trata, especificamente, sobre o estado de necessidade e o artigo 25, sobre a 
legítima defesa: 
Art. 24.Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua 
vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, ou circunstâncias, não era razoável exigir-se[...] 
§ 1°Não pode alegar o estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. 
§ 2° Embora seja razoável exigir-se o sacrifício, do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. 
(CÓDIGO PENAL, BRASIL, 1940) 
Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, 
atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. (CÓDIGO PENAL, BRASIL, 1940) 
O Código Penal Militar (BRASIL, 2011), também citado pela apostila Uso Legal da Força, do Ministério da 
Justiça (2006), traz em seu artigo 42, a exclusão de crime, artigo análogo ao do Código Penal comum. 
Art 42 Não há crime quando o agente pratica o fato: 
I – em estado de necessidade; 
II – em legítima defesa; 
III – em estrito cumprimento do dever legal 
IV – em exercício regular de direito 
Capez e Prado (2008, p. 62) destacam ainda que há outras causas de exclusão da ilicitude ao longo da 
Parte Especial do Código Penal, exemplificando: aborto de necessário ou aborto no caso de gravidez resultante de 
estupro, art. 128, I e II e a injúria ou difamação, quando praticadas nas situações previstas no art. 142, I, II e III, in 
verbis: 
Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível: 
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; 
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou 
difamar; 
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de 
dever do ofício. 
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade. (CÓDIGO 
PENAL, BRASIL, 1940) 
Andreucci (2008, p. 64), tratando também sobre as excludentes de ilicitude, afirma ser esta sinônimo de 
antijuridicidade. O referido autor conceitua as excludentes de ilicitude como "causas de justificação da prática" de um 
fato típico, tornando-o jurídico, ou seja, não proibido ou vedado pela legislação. As causas de exclusão da ilicitude são 
também chamadas de descriminantes, causas de exclusão do crime, eximentes ou tipos permissivos. 
4.2.1 Legítima Defesa – Conceito e Exemplos Fáticos 
Para Capez (2004), legítima defesa é uma excludente de ilicitude onde o agente repele injusta agressão, 
atual e iminente, a direito próprio ou alheio, usando os meios necessários de maneira moderada. O autor diz que pela 
falta de proteção do Estado aos cidadãos em todos os momentos e lugares, através desta excludente de ilicitude, 
permite que o cidadão se defenda, quando não houver outro modo. Como requisitos o autor relaciona: agressão 
injusta, atual e iminente, contra direito próprio ou alheio, repulsa com meios necessários e uso moderado, além do 
conhecimento da situação justificante. 
Pinto e Valério (2002, p.58) corroboram com Capez (2004) e exemplificam com um caso de uma pessoa 
que ao ser atacada com facadas numa tentativa de roubo, consegue sacar uma arma de fogo e matar o agressor. 
Tratando-se de uma obra de cunho policial militar, Pinto e Valério (2002, p.60), listam requisitos para que o 
policial possa alegar legítima defesa: 
a)Que haja agressão injusta, ou seja, objetivamente ameaçadora à lesão de um direito legítimo (pessoal ou 
impessoal); 
b)Que esta seja atual, esteja acontecendo ou iminente, prestes a ocorrer;

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