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Scheila Maria 2017 INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO INTRODUÇÃO Ocorre quando há microorganismos colonizando e se multiplicando no TU (lembrar que a urina deve ser estéril) Causa mais comum de infecção nosocomial (40% das infecções de internados) Geralmente causada por bactérias Gram negativas (principal: E. coli) Incidência: 50% das mulheres Idosos: 10% dos homens e 20% das mulheres apresentam bacteriúria após 65 anos. Jovens: falta de circuncisão risco de infecção por cepas uropatogênicas de E.coli. Cálculos e ITU estão altamente relacionados O principal fator de risco é um quadro de infecção urinária prévia. *Acomete 1 - 2% da população pediátrica: < 1 ano mais comum em meninos e, > 1 ano, em meninas. ITU baixa: cistite | uretrite | prostatite | epididimite ITU alta: pielonefrite aguda, crônica, enfisematosa | abscessos renais. *Sondagem de alívio pode levar a infecção do TU em 1-2% dos casos *Sonda de demora: 100% de bacteriúria em 3-4 dias (10-20% de ITU). Obs: Em homens a prevalência de bacteriúria é baixa, mas tende a aumentar em virtude das alterações prostáticas e pala manipulação do TU. Na maioria das vezes se relaciona a presença de anormalidades anatomofuncionais. CONCEITOS Bacteriúria: presença de bactéria na urina em qualquer concentração. Lembrar que nem sempre bacteriúria é infecção. De acordo com a concentração deve-se diferenciar bacteriúria assintomática, infecção ou contaminação da amostra. Bacteriúria significativa: > 100.000 colônias/ml Mulher sintomática + 10² bactérias/mL = infecção Homem sintomático + 10³ bactérias/mL = infecção Pacientes com cateteres urinários + 10² bactérias/mL = infecção Bacteriúria assintomática: presença de bacteriúria significativa (> 100.000 UFG/ml em 2 amostras colhidas com intervalo superior a 24h) em pacientes sem sintomas. Comum nas gestantes*, imunodeprimidos e idosos. ITU simples: não apresenta alterações anatômicas ou doenças associadas ITU complicada: há anormalidades estruturais ou funcionais | nosocomial Recorrência ou recidiva: Nova infecção pelo mesmo microorganismo (resistência, uso inadequado de ATB). Reinfecção: Nova infecção por microorganismo diferente, após intervalo e erradicação de infecção prévia. Obs: o método de coleta influencia na definição de bacteriúria. Na punção supra-púbica qualquer quantidade de bactéria é considerada significativa. Já na urina de jato médio uma pequena quantidade de bactérias sem associação com sintomas não é considerada, apenas exige observação. * Gestante com bacteriúria assintomática precisa de profilaxia, pelo risco de trabalho de parto prematuro. PATOGÊNESE Via de infecção ascendente: mais comum, pela flora fecal do próprio indivíduo. Vias menos comuns: hematogênica (abscessos renais) | linfática | fístula vesicoenteral | direta (fístulas vesicovaginais ou vesicointestinais) Determinantes da infecção: Fatores bacterianos (virulência): fímbrias, adesão bacteriana, cepas nefrogênicas, citotoxidade. Fatores do hospedeiro: refluxo, gestação, cateterismo, HPB. Mecanismos de defesa: pH baixo, osmolaridade, secreção prostática, concentração de ureia, micção, hidratação, estrógenos, defesa imunológica, peristalse ureteral. *Fatores de risco: bexiga neurogênica, ureterocele, constipação, duplicação do TU, refluxo vesicoureteral, presença de corpos estranhos (cálculos, cateter de demora), gestação, diabetes mellitus ( risco e leva a mais complicações) Fatores que podem reduzir bacteriúria (mascarar): uso de ATB, contaminação com detergente, bactérias com baixa replicação, hiper hidratação na coleta. Obs: Pode-se alterar o pH do paciente aumentando a ingestão de água e repondo estrógenos. Estrógenos causam aumento dos lactobacilos que degradam glicogênio aumentando ácido lático e reduzindo o pH local facilitar mecanismos de defesa. PRINCIPAIS AGENTES ITU esporádica não complicada. O principal agente é a E. coli (80-85% dos casos) O segundo agente é S. saprophyticus (10-15%) Klebsiella, Proteus e Enterobacter - pequena parcela ITU recorrente ou ITU complicada Enterococcus, Pseudomonas e Serratia e outros Gram-negativos entéricos. ITU nosocomial A E.coli continua sendo a principal causa Fungos como Candida ssp. – diabéticos e naqueles em uso de corticóide Pseudomonas – imunodeprimidos Agentes virais podem causar cistite hemorrágica. ITU na infância E. coli e P. mirabilis Obs: S. epidermidis faz parte da flora urovaginal e por isso não é um causador de infecção. ETIOLOGIAS Refluxo vesicoureteral (*fator de risco) Fluxo anormal de urina da bexiga para o trato urinário superior. Achado isolado ou associado a outras má formações. Causas: imaturidade da junção vesicoureteral Complicações: infecção do TU recorrente | IR Classificação internacional do RVU Grau I: Ureter não dilatado Grau 2: Ureter, pelve e cálices não dilatados Grau 3: Sistema coletor com dilatação discreta a moderada Grau 4: Refluxo para: (1) ureter tortuoso com dilatação discreta a moderada; (2) pelve com dilatação moderada; (3) cálices com alteração da morfologia Grau 5: Sistema coletor com dilatação acentuada *Diagnóstico: uretrocistografia miccional | medicina nuclear | USG Síndrome de Prune-Belly Praticamente exclusiva do sexo masculino Causa desconhecida Tríade: ausência do mm. reto abdominal + criptorquidia + alterações do TU. Pose estar associada a outras má formações. Alterações no TU: dilatação de bexiga e uretra, ectasia do ureter, pelve e cálices, refluxo vesicoureteral e displasia renal. Estenose da JUP Principal causa de hidronefrose em neonatos Massa palpável em flanco | hematúria | infecção urinária | pelve renal dilatada USG obstétrico: pelve > 7mm após 33 semanas. USG pós-natal: 5-7 dias pós nascimento Megaureter primário Alteração idiopática do ureter distal Ureter e sistema coletor com dilatação em grau variado Refluxo vesico-ureteral em 10% Classificação: refluxivo ou não | obstrutivo ou não | refluxivo e obstrutivo. Válvula de uretra posterior Sexo masculino Lesão obstrutiva mais comum da uretra Alterações vesicais | ureterohidronefrose Diagnóstico: USG + cistoscopia Duplicação renal e ureteral Inserção ectópica do ureter Associada a incontinência urinária Alterações renais associadas a ectopia Ureterocele Dilatação cística do segmento intravesical do ureter 75% associada a duplicação ureteral USG: massa cística intravesical Urografia excretora: falha de enchimento em cabeça de cobra CLASSIFICAÇÃO E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ITU superior x inferior: A diferenciação geralmente é fácil, sendo dificultosa apenas em crianças, comatosos e pacientes com quadros abortados. Crianças < 1 ano: sintomas inespecíficos (febre, vômito, diarreia, urina fétida) Crianças > 1 ano: dor abdominal, polaciúria, disúria, hematúria. Idosos: assintomáticos (camuflada) ITU INFERIOR Cistite aguda: Mais comum no sexo feminino: 25-30% das mulheres adultas terão Tríade: disúria, polaciúria e dor supra-púbica; Hematúria; Homens: sintomas obstrutivos; Maioria autolimitada Diagnóstico: clínico + exame de urina Uretrite: Agentes: N. gonorrhoeae, HSV e C. trachomatis; Sintomas com longa duração; Prostatite: 50% dos homens apresentam sintomas ao longo da vida; Três entidades principais: prostatite bacteriana aguda | prostatite bacteriana crônica | síndrome da dor pélvica: inflamatória ou não-inflamatória (agentes: mesmos da itu hospitalar) Prostatite bacteriana aguda: 20 - 40 anos | Febre alta, calafrios e sint. obstrutivos | Toque retal cuidadoso; Prostatite bacteriana crônica: Sintomas menos intensos que a aguda | Homens mais velhos com ITU recorrentes | Toque retal. Síndrome da dor pélvica: Dor perineal | Disúria e polaciúria. Epididimite: Dor e edema nos testículos; Uretrite associada; Sinal de Prehn; ITU SUPERIOR Pielonefrite aguda: infecção do rim e pelve renal Quadro clínico: febre alta, calafrios e dor lombar, quedado estado geral. Sinal de Giordano + 30% dos pacientes com ITU alta desenvolvem sintomas de ITU baixa; Sintomas clássicos em 60% dos pacientes; Hemograma: leucocitose com desvio a esquerda, VHS , PCR Complicações: abscessos intra-parenquimatosos e perinéfricos | sepse Pielonefrite enfisematosa: infecção causada por patógenos formadores de gás que resulta na necrose aguda do parênquima renal. Mais comum em diabéticos. Patógeno mais comum: E. coli. O quadro clínico é semelhante ao da aguda, porém com toxemia intensa. Pielonefrite xantogranulomatosa: rara, mais comum em mulheres, etiologia incerta, associada à litíase. Apresenta rim aumentado de volume e geralmente não funcionante. Quadro inclui dor crônica, perda de peso, sintoma urinário. Pielonefrite crônica: quadro mais assintomático, difícil diagnóstico, vai causando atrofia renal silenciosamente. Abscessos renais| perinefréticos: coleção de material purulento no parênquima renal ou espaço perinefrético, vistos nos exames de imagem. O tratamento inclui ATB e drenagem. ITU em crianças: Sinais clássicos ausentes em neonatos e lactentes; Combinações variadas; Variações da temperatura; Urina com odor fétido; Pré-escolares e adolescentes: quadro semelhante ao adulto; Uma das principais causas de dor abdominal crônica de origem orgânica; DIAGNÓSTICO Exames inespecíficos: Hemograma | Proteína C reativa | EAS Sumário de urina: Piúria > 8 leucócitos/campo (mulher) | > 5 leucócitos/campo (homem) Teste do nitrito: detecção de Gram (-) entéricos. Hematúria microscópica: pode ser observada em alguns casos. Proteinúria: pode ocorrer, porém < 2g/24h. Testes químicos: Confirmação diagnóstica: Urinocultura quantitativa: exame mais utilizado. Urinocultura do aspirado suprapúbico: Padrão-ouro. Outros métodos diagnósticos: USG | urografia excretora | TC | radioisótopos | cistoscopia | cistouretrografia. Leucocitúria pode apresentar falso-positivos: contaminação | doenças inflamatórias no TU ou próximo | febre com infecção fora do TU. Testes de localização da ITU: indiretos (PCR, IgG e IgA, níveis séricos e urinário de IL-6) | diretos (cateterismo uretral, lavagem da bexiga) Em crianças: Sempre realizar investigação por imagem COMPLICAÇÕES Imediatas: pielonefrites (aguda, enfisematosa, xantogranulomatosa) | abscessos renais | orquiepididimite | bacteremia Tardias: litíase urinária | hipertensão arterial | atrofia renal e IRC TRATAMENTO O tratamento da ITU se baseia na antibioticoterapia Infecções sintomáticas: sempre tratar Infecções assintomáticas: crianças, gestantes e pré-op, diabéticos. Pielonefrite aguda: 14 dias de tratamento Infecções complicadas: 1-2 meses de tratamento Infecções não complicadas: dose única de tratamento Maioria das infecções responde muito bem ao tratamento Gestantes: não tratar com dose única | não aguardar cultura para iniciar tto | tto empírico com derivados da penicilina | sempre fazer cultura controle | internar em caso de pielonefrite. Escolha do antibiótico Muitos são eficazes Infecção comunitária X resistentes Principais agentes costumam ser sensiveis a: fluoroquinolonas, nitrofurantoina, fosfomicina, amoxilina, ampicilina e cefalosporinas de 1ª geração. Todos esses se hiperconcentram na urina Destaque para as fluoroquinolonas Gestantes: nitrofurantoina, penicilinas, cefalosporinas, eritromicina Tratamento da cistite e uretrite Antibioticoterapia: 3-7 dias + antiespasmódicos, analgésicos e AINEs Mulher não gestante – fluoroquinolona (não há necessidade de urinocultura) Na gestante – solicitar urinocultura com antibiograma No homem – solicitar urinocultura com antibiograma, Gram e exame clínico da próstata. medicamentos: norfloxacina | nitrofurantoína | cefalexina Na gestante: cefalexina | amoxicilina Tratamento da pielonefrite Indicações absolutas para internamento: sepse, vômitos persistentes, obstrução do TU, diagnóstico incerto, progressão de iTU não complicada, hipotensão. Indicações relativas para internamento: > 60 anos, imunodeprimidos, anormalidades do TU, condições socioeconômicas e leucograma. Critérios de alta: afebril > 48h + leucograma normal TTO ambulatorial: analgésicos + ATB (7-14 dias) Medicamentos: quinolonas, SMZ + TMP, cefalosporinas, aminoglicosídeos. Esquema inicial empírico enquanto se aguarda o resultado da urinocultura Gestante: tratar com cefalosporina de 3ª Urinocultura de controle é mandatória (após 2 a 4 semanas) e quando positiva, suspeitar de complicação (indica-se uma USG) Sempre descartar obstrução 10-30% apresentarão recorrência Tratamento cirúrgico: obstrução do trato urinário, pionefrose, abscesso renal. Outros tópicos: * fístula vesico-urinárias ou enterovesicais: pacientes que fizeram radio. * fatores de risco para ITU * o que significa hemácias dismórficas: pesquisar doenças renais * biopsia em paciente com hematúria: não é indicada inicialmente * o que significa cristais de oxalato no sumário de urina: comum em doenças renais * agente mais frequente em pacientes com vida sexual ativa: saprofítico * Incidência de infecção em sonda de demora. * cistite intersticial x síndrome da bexiga dolorosa * leucocitúria: não é patognomônico.
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