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Livro base de Estudos Literários Literaturas de Língua Portuguesa I

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A LITERATURA BRASILEIRA A PARTIR DO SÉCULO XX
Pré-modernismo e Modernismo
 
Prof. Glaudistone Ferreira de Almeida
O período que antecedeu à realização da Semana de Arte Moderna (1902 – 
1922) revelava uma preocupação em denunciar a realidade brasileira por parte 
de alguns autores, descortinando um Brasil não oficial, dos marginalizados, 
abrangendo o sertão nordestino, os subúrbios cariocas e a região do Vale do 
Paraíba, em São Paulo. Os Sertões foi a primeira obra a negar o Brasil 
romantizado pelos escritores do séc. XIX. A obra, publicada em 1902, 
mostrou os contrastes entre o Brasil europeizado, litorâneo, e um outro Brasil, 
sertanejo, cheio de problemas, composto de “extraordinários patrícios”.
Numa mistura saudável de crítica, análise e humor “Triste fim de Policarpo 
Quaresma”, de Lima Barreto, publicado em 1911, traz à tona o nacionalismo – 
absurdo, porém honesto - do Major Quaresma, figura quixotesca, 
caricaturada ao extremo pelo autor, que intenciona mostrar um nacionalismo 
perigoso, quando manipulado por mãos de ferro, como as do Marechal 
Floriano Peixoto.
Monteiro Lobato, na década de 1910, é o caso típico do intelectual eclético e 
com um só objetivo: debater as desigualdades do Brasil para tentar entendê-
lo, sempre na busca de caminhos para a construção do futuro. Além da 
literatura adulta e infantil a que se dedicou, Lobato foi pioneiro na área de 
exploração de minérios.
Apesar de o Pré-Modernismo não constituir uma “escola literária”, por 
apresentar individualidades muito fortes, com estilos às vezes antagônicos – 
como é o caso, por exemplo, de Euclides da Cunha e de Lima Barreto -, 
percebem-se alguns pontos comuns às principais obras desse período.
CARACTERÍSTICAS COMUNS ÀS OBRAS PRÉ-MODERNISTAS
Denúncia da realidade brasileira: nega-se o Brasil literário herdado do 
Romantismo e do Parnasianismo; o Brasil não-oficial – do sertão nordestino, 
dos caboclos interioranos, dos subúrbios – é o grande tema do Pré-
Modernismo.
Regionalismo: monta-se um vasto painel brasileiro – o Norte e o Nordeste 
com Euclides da Cunha; o vale do Paraíba e o interior paulista com Monteiro 
Lobato; o Espírito Santo com Graça Aranha; o subúrbio carioca com Lima 
Barreto.
Tipos humanos marginalizados: o sertanejo nordestino, o caipira, os 
funcionários públicos, os mulatos.
Ligação com fatos políticos, econômicos e sociais contemporâneos: 
diminui a distância entre a realidade e a ficção. São exemplos: Triste fim de 
Policarpo Quaresma, de Lima Barreto (retrata o governo de Floriano e a Revolta 
da Armada), Os Sertões, de Euclides da Cunha (um relato da Guerra de 
Canudos), Cidades mortas, de Monteiro Lobato (mostra a passagem do café 
pelo Vale do Paraíba paulista).
Ruptura com o passado: com o academicismo; há certo caráter inovador em 
determinadas obras: a linguagem de Augusto dos Anjos, por exemplo, 
ponteada de palavras “não poéticas” (como cuspe, vômito, escarro, vermes), 
era uma afronta à poesia parnasiana ainda em vigor.
Euclides da Cunha, a denúncia de um massacre
Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha (1866-1909) formou-se em 
engenharia e fez carreira militar, ainda nos anos finais da Monarquia. 
Positivista e republicano foi expulso do Exército; mais tarde, com a 
proclamação da República, retornou para a Escola Superior de Guerra. Em 
1896, discordando dos rumos dos governos republicanos, abandonou 
definitivamente a carreira militar. Em 1897 foi enviado a Canudos como 
correspondente do Jornal O Estado de S. Paulo, na volta, escreveu Os sertões. 
Teve fim trágico: foi assassinado por motivos nunca devidamente esclarecidos, 
misturando-se vida pessoal e política.
Lima Barreto, uma crítica ao nacionalismo exagerado e aos 
preconceitos
 Afonso Henrique de Lima Barreto (1881-1922) era filho de pai 
português e mãe escrava. Chegou a cursar Engenharia na Escola Politécnica, 
mas foi obrigado a abandoná-la para cuidar de seu pai, que enfrentava 
distúrbios mentais. Mulato, pobre e socialista, vítima de toda a espécie de 
preconceitos, com o pai louco, viveu intensamente todas as contradições do 
início do século XX e passou por profundas crises depressivas. Alcoólatra, teve 
passagens pelo Hospício Nacional. Escreveu artigos para jornal em que 
defendia a Revolução Russa e o voto feminino.
Monteiro Lobato e suas metáforas de Brasil
 José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), formado em Direito, herdou 
uma fazenda de seu avô, localizada em sua região natal: o Vale do Paraíba 
paulista. Após o inverno seco de 1914, cansado de enfrentar as diversas 
queimadas praticadas por seus empregados, escreve um artigo intitulado 
“Velha Praga”, que sai publicado no jornal O Estado de S. Paulo, logo seguido 
de outro, intitulado “Urupês”. Nascia, assim, o seu primeiro livro e a figura 
simbólica de Jeca Tatu.
 Lobato foi uma figura, empreendedora em todos os sentidos: fundou a 
primeira editora nacional; impressionado com a importância do petróleo, 
fundou o Sindicato do Ferro e a Companhia Petróleos do Brasil e se dedicou à 
exploração mineral; criticou violentamente a política de exploração mineral do 
governo Getúlio Vargas, o que lhe valeu seis meses de detenção e o exílio na 
Argentina; produziu abundante literatura tanto para o público adulto como 
para o infantil. Alguns de seus personagens são verdadeiras metáforas do 
Brasil.
O Pessimismo de Augusto dos Anjos
Augusto dos Anjos foi um dos autores que mais estavam distanciados da 
proposta do Pré-Modernismo. Percebe-se profundas influências parnasianas e 
simbolistas - além de pessimistas - em seus poemas, que foram publicados, 
mas somente depois de sua morte que foram vendidos com sucesso. Em seu 
auge parnasiano, publicou a coleção de poemas Eu. Sua obra é cientificista e 
profundamente pessimista, onde a morte é sempre vista como algo de que não 
se pode escapar jamais. Trabalhou, assim como parnasianos e simbolistas, 
com sonetos e verso decassílabo. Sua visão de mundo e a interrogação do 
mistério da existência e do estar-no-mundo marcam esta nova vertente 
poética. Há uma aflição pessoal demonstrada com intensidade dramática, além 
do pessimismo. Constância da morte, desintegração e os vermes. Percebe-se, 
também, grande ausência do lirismo presente na maioria das poesias da 
época. 
PSICOLOGIA DE UM VENCIDO
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
A semana de Arte Moderna
 São Paulo, Teatro Municipal, fevereiro de 1922.
 Para entendermos a Semana de Arte Moderna e o modernismo dos anos 
1920, um bom caminho é pensar em três fatos: o melhor palco para a Semana, 
indiscutivelmente, era a cidade de São Paulo; dentro da cidade, o melhor local 
era o Teatro Municipal e o evento não poderia acontecer nem 1921, nem em 
1923 – necessariamente teria de ser em 1922.
 O ano era de comemoração do primeiro centenário da Independência; 
uma independência política e não econômica e muito menos cultural. O Teatro 
Municipal, inaugurado em 1911, idealizado para as grandes apresentações de 
óperas, era orgulho da elite paulistana. 
 São Paulo dos anos 20 era a cidade que melhor apresentava condições 
para a realização de tal evento. Tratava-se de uma próspera cidade, que 
recebia grande número de imigrantes europeus e modernizava-se 
rapidamente, com a implantação de indústrias e reurbanização.Era, enfim, 
uma cidade favorável a ser transformada num centro cultural da época, 
abrigando vários jovens artistas.
 Mário de Andrade, na conferência O movimento modernista, 
pronunciada em 1942, explicava por que só São Paulo reunia as condições 
para sediar a semana:
É só mesmo uma figura como ele [Paulo Prado e uma cidade 
grande, mas provinciana como São Paulo, poderiam fazer o movimento 
modernista e objetivá-lo na Semana.
(...)
São Paulo era espiritualmente muito mais moderna, porém, fruto 
necessário da economia do café e do industrialismo consequente. São 
Paulo estava, ao mesmo tempo, pela sua atualidade comercial e sua 
industrialização, em contato mais espiritual e mais técnico com a 
atualidade do mundo.”
ANDRADE, Mário de. O movimento modernista. In: Aspectos da literatura 
brasileira. 5. Ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1974.
A semana 
 As primeiras informações sobre a realização de uma semana de arte 
foram veiculadas pela imprensa paulista em 29 de Janeiro de 1922; nessa data, 
o Jornal Correio Paulistano noticiou a organização da Semana e relacionou 
todos os prováveis participantes do evento.
 Durante os primeiros dias de fevereiro, várias outras notícias criaram 
um clima de expectativa em torno do acontecimento; tal fato explica a enorme 
afluência de público ao primeiro espetáculo, na noite de 13 de fevereiro.
 “Ode ao burguês” é um dos poemas do livro Paulicéia desvairada, 
lançado em 1922. Mário de Andrade declamou alguns poemas no palco do 
Teatro Municipal. Em 1942, ele confessava: “Como tive coragem para participar 
daquela batalha! Mas como tive coragem para dizer versos diante duma vaia 
tão barulhenta que eu não escutava no palco o que Paulo Prado me gritava da 
primeira fila das poltronas?”.
Mário de Andrade, com suas conferências, leituras de poemas e 
publicações em jornais foi uma das personalidades mais ativas da Semana. 
 
 
 
 Ode ao burguês
 
 
 
 Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
 
 
 
 o burguês-burguês!
 
 
 
 A digestão bem-feita de São Paulo!
 
 
 
 O homem-curva! o homem-nádegas!
 
 
 
 O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
 
 
 
 é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
 
 
 
 Eu insulto as aristocracias cautelosas!
 
 
 
 Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques 
 
 
 
 zurros!
 
 
 
 que vivem dentro de muros sem pulos,
 
 
 
 e gemem sangue de alguns milréis1 fracos
 
 
 
 para dizerem que as filhas da senhora falam o 
 
 
 
 francês
 
 
 
 e tocam os “Printemps”2 com as unhas!
 
 
 
 Eu insulto o burguês-funesto!
 
 
 
 O indigesto feijão com toucinho, dono das 
 
 
 
 tradições!
 
 
 
 Fora os que algarismam os amanhãs!
 
 
 
 Olha a vida dos nossos setembros!
 
 
 
 Fará Sol? Choverá? Arlequinal3!
 
 
 
 Mas à chuva dos rosais
 
 
 
 O êxtase fará sempre Sol!
 
 
 
 Morte à gordura!
 
 
 
 Morte às adiposidades cerebrais!
 
 
 
 Morte ao burguês-mensal!
 
 
 
 ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi4!
 
 
 
 Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
 
 
 
 “- Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
 
 
 
 - Um colar... – Conto e quinhentos!!!
 
 
 
 Mas nós morremos de fome!”
 
 
 
 Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
 
 
 
 Oh! purée5 de batatas morais!
 
 
 
 Oh! cabelos nas ventas6! oh! carecas!
 
 
 
 Ódio aos temperamentos regulares!
 
 
 
 Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
 
 
 
 Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados7!
 
 
 
 Ódio aos sem desfalecimentos nem 
 
 
 
 arrependimentos,
 
 
 
 Sempiternamente8 as mesmices convencionais!
 
 
 
 De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
 
 
 
 Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
 
 
 
 Todos para a Central do meu rancor inebriante!
 
 
 
 Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
 
 
 
 Morte ao burguês de giolhos9,
 
 
 
 cheirando religião e que não crê em Deus!
 
 
 
 Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
 
 
 
 Ódio fundamento, sem perdão!
 
 
 
 Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
ANDRADE, Mário de. Mário de Andrade – poesias completas. Belo Horizonte: Villa 
Rica, 1993. P 88.
1réis: na grafia oficial, mil-réis, unidade monetária brasileira até 1942.
2Printemps(“prentan” = primavera): obra clássica do compositor francês Claude Le Jeune
(1528-1601)
3arlequinal: relativo a Arlequim, personagem de antigas comédias italianas, caracterizado por 
roupa multicolorida, geralmente feita de losangos.
4tíburi: antigo veículo de duas rodas, puxado por um cavalo.
5purée: o mesmo que purê, alimento pastoso, feito de batatas amassadas.
6ventas: nariz.
7secos e molhados: expressão que designa alimentos, respectivamente sólidos e líquidos; por 
extensão, local onde se vendem esses alimentos.
8sempiternamente: eternamente.
9giolhos: joelhos.
Manuel Bandeira, mesmo distante, provocou inúmeras reações de 
agrado e de ódio devido a seu poema "Os Sapos", que fazia uma sátira do 
Parnasianismo, poema esse que foi lido durante o evento por Ronald de 
Carvalho.
Os sapos
Enfunando os papos
 
 
 
 Em ronco que aterra,
Saem da penumbra,
 
 
 Berra o sapo-boi:
Aos pulos, os sapos.
 
 
 
 - “Meu pai foi à guerra!”
A luz os deslumbra.
 
 
 
 - “Não foi!” – “Foi” – “Não foi!”
O sapo-tanoeiro,
 
 
 
 Brada em um assomo
Parnasiano aguado,
 
 
 O sapo-tanoeiro:
Diz: - “Meu cancioneiro
 
 
 - “A grande arte é como
É bem martelado.
 
 
 
 Lavor de joalheiro.
Vede como primo
 
 
 
 Ou bem de estatuário,
Em comer os hiatos!
 
 
 
 Tudo quanto é belo,
Que arte! E nunca rimo
 
 
 
 Tudo quanto é vário,
Os termos cognatos
 
 
 
 Canta no martelo”.
O meu verso é bom.
 
 
 
 Outros, sapos-pipas
Frumento sem joio.
 
 
 (Um mal em si cabe),
Faço rimas com
 
 
 
 Falam pelas tripas:
 
Consoantes de apoio
 
 
 
 - “Sei!” – “Não sabe!” – “Sabe!”
Vai por cinqüenta anos
 
 
 
 Longe dessa grita,
Que lhes dei a norma:
 
 
 
 Lá onde mais densa
Reduzi sem danos
 
 
 
 A noite infinita
A fôrmas a forma.
 
 
 
 Verte a sombra imensa;
Clame a saparia
 
 
 
 Lá, fugido ao mundo,
Em críticas céticas:
 
 
 
 Sem glória, sem fé,
Não há mais poesia,
 
 
 
 No perau profundo
Mas há artes poéticas...”
 
 
 E solitário, é
Urra o sapo-boi:
 
 
 
 Que soluças tu,
- “Meu pai foi rei” – “Foi!”
 
 
 Transido de frio
- “Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!”
 
 Sapo-cururu
 
 
 
 
 
 Da beira do rio...
BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985. P. 158.
O modernismo e suas fases
O Brasil depois de 1922
 Na década de 1920, a economia mundial caminhava para um colapso, 
que se concretizaria com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929. 
O Brasil vivia os últimos anos da chamada República Velha, ou seja, o período 
de domínio político das oligarquias ligadas aos grandes proprietários rurais.
 O período de 1922 a 1930 também se caracteriza por definições no 
quadro político partidário: em 1922, sob o impacto da Revolução Russa, foi 
criado o Partido Comunista, que contava, entre seus fundadores, com vários 
elementos egressos das lutas anarquistas; em 1926, surgiu o Partido 
Democrático, de larga penetração entre a pequena burguesia paulista e que 
teve, entre seus fundadores, Mário de Andrade.
Manifesto da Poesia Pau-Brasil
 O manifesto escrito por Oswald de Andrade foi inicialmente publicado 
no jornal Correio da Manhã, edição de 18 de março de 1924; no ano seguinte, 
uma forma reduzida e alterada do texto abria o livro de poesias Pau-Brasil. No 
manifesto e no livro Pau-Brasil (ilustrado por Tarsila do Amaral), Oswaldo 
propunha uma literatura extremamente vinculadaà realidade brasileira, a 
partir da redescoberta do Brasil.
Verde-Amarelismo (Escola da Anta)
 Em 1926, como uma resposta ao nacionalismo do Pau-Brasil, surge o 
grupo do Verde-Amarelismo, formado por Plínio salgado, Menotti Del Picchia, 
Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo. O grupo criticava o “nacionalismo 
afrancesado” de Oswald de Andrade e apresentava como proposta um 
nacionalismo primitivista, ufanista e identificado com o fascismo, que 
evoluiria, no início da década de 1930, para o Integralismo de Plínio Salgado. 
Parte-se para a idolatria do tupi e elege-se a anta como símbolo nacional.
 Oswald de Andrade contra-ataca em sua coluna Feita das Quintas, 
publica no Jornal do Comércio, com o artigo “Antologia”, datado de 24 de 
fevereiro de 1927. Nele, Oswald faz uma série de brincadeiras, utilizando 
palavras iniciadas ou terminadas com anta. Em 1928, o mesmo Oswald escreve 
o Manifesto Antropófago, que surgiu como uma nova etapa do nacionalismo 
Pau-Brasil, ainda como resposta aos seguidos da Escola da Anta.
Alguns trechos do manifesto Antropófago:
· Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
· Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de 
todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
· Tupi or not tupi, that is the question.
· Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E 
nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. 
Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil.
· Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a 
felicidade.
· Contra o índio tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de 
Médicis e genro de D. Antônio de Mariz.
· A alegria é prova dos nove.
· Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a 
realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituição e sem 
penitenciária do matriarcado de Pindorama.
Oswald de Andrade
Em Piratininga. Ano 374 de Deglutição do Bispo Sardinha.
ANDRADE, Oswald. A utopia antropofágica. São Paulo: Globo: Secretaria da 
Cultura do Estado, 1990, p. 47.
A geração dos anos 1920
Mário de Andrade
 Mário Raul de Morais Andrade (1893-1945), o chamado “papa do 
Modernismo”, estréia em 1917 com Há uma gota de sangue em cada poema, 
sob o impacto da Primeira Guerra Mundial; são poemas que refletem influência 
parnasiana. A adesão absoluta aos padrões modernos se manifesta em 
Paulicéia desvairada, com poemas inspirados na cidade de São Paulo (o 
primeiro poema, “Inspiração”, brada: “São Paulo, comoção de minha vida.../
Galicismo a berrar nos desertos da América!”); demonstrando não ter sofrido 
influência alguma, Mário de Andrade dedica o livro a seu grande mestre, seu 
Guia, seu Senhor: ele mesmo, Mário de Andrade! Em 1928, lança a prosa 
antropofágica de Macunaíma, num estilo muito pessoal, que é um marco em 
nossa leitura.
Oswald de Andrade
 José Oswald de Sousa Andrade (890-1954) foi figura fundamental dos 
principais acontecimentos da via cultural brasileira da primeira metade do 
século XX. Homem polêmico, irônico, gozador, teve vida atribulada não só no 
que diz respeito às artes como também à política e aos sentimentos: foi o 
idealizador dos principais manifestos modernistas, militante político de 
esquerda, teve profundas amizades e inimizades, rumorosos casos de amor e 
vários casamentos (com destaque para dois: com Tarsila do Amaral e com 
Patrícia Galvão, a Pagu). 
Oswald de Andrade talvez fosse um dos artistas que melhor 
representavam o clima de ruptura que o evento procurava criar. 
Amor
humor
Oferta
Quem sabe
Se algum dia
Tiraria
O elevador
Até aqui
O teu amor
Relicário
No baile da Corte
Foi o conde d’Eu quem disse
Pra Dona Benvinda
Que farinha de Suruí
Pinga de Parati
Fumo de Baependi
É comê bebê pitá e caí
Azorrague
- Chega! Peredoa!
Amarrados na escada
A chibata preparava os cortes
Para a salmoura
Medo da senhora
A escrava pegou a filhinha nascida
Nas costas
E se atirou no Paraíba
Para que a criança não fosse judiada
Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para dizerem melhor dizem mio
Para pior pio
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
O capoeira
- Qué apanhá sordado?
- O quê?
- Qué apanhá?
- Pernas e cabeças na calçada.
ANDRADE, Oswald de. Poesias reunidas. 5. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. P. 89, 94, 95, 157, 
166.
Manuel Bandeira
 Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho (1886-1968) teve sua vida 
determinada por uma ocorrência: estudante de arquitetura em São Paulo, foi 
acometido de tuberculose, o que o levaria a afirmar que era “um tísico 
profissional”. Desde os 18 anos de idade desenganado pelos médicos, viveu 
para as letras e preparando-se para a morte.
Consoada
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável)
Talvez eu tenha medo,
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com seus sortilégios.)
Encontrará lavrando o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.
*consoada: pequena refeição noturna; a ceia de natal.
 BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985. p. 307.
Os anos 1930
A Revolução de 30, que levou Getúlio Vargas a um governo provisório, contava 
com o apoio da burguesia industrial, dos setores médios e dos tenentes 
responsáveis pelas revoltas na década de 1920(exceção feita a Luís Carlos 
Prestes, que no exílio, havia optado claramente pelo comunismo). Desenvolve-
se uma política de incentivo à industrialização e à entrada de capital norte-
americano em substituição ao capital inglês.
 Uma tentativa contra-revolucionária partiu de São Paulo, em 1932, 
como resultado da frustração dos paulistas com a Revolução de 30: a 
oligarquia cafeeira sentia-se prejudicada pela política econômica de Vargas; as 
classes médias e a burguesia temiam as agitações sociais; e, para coroar o 
descontentamento, Vargas havia nomeado um interventor pernambucano para 
São Paulo. A chamada Revolução Constitucionalista explodiu em 9 de julho, 
mas não logrou êxito.
Nos primeiros anos da década de 1930, a ideologia fascista encontra 
ressonância no nacionalismo exacerbado do Grupo Verde-Amarelo, liderado 
por Plínio Salgado, fundador da Ação Integralista Brasileira. Ao mesmo tempo, 
crescem no Brasil as forças de esquerda. Os choques tornavam-se inevitáveis, 
explodiam manifestações revolucionárias e o governo Vargas obteve um 
pretexto para endurecer o regime. Iniciou-se assim, em 1937, o Estado-Novo 
getulista, um regime ditatorial que se estendeu até 1945.
A poesia 
Carlos Drummond de Andrade
 Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) formou-se em Farmácia, 
mas vivia, em Itabira (MG), das aulas de Português e Geografia. Na década de 
1930, transferiu-se para o Rio de Janeiro e iniciou a carreira no funcionalismo 
público federal. A partir dos anos 1950, passou a se dedicar integralmente à 
produção literária; além de novos livros de poesias, contos e algumas 
traduções, intensificou seu trabalho de cronistas, tendo seus textos publicados 
nos maiores jornais do país.
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra
Carlos Drummond de Andrade© Graña Drummond www.carlosdrummond.com.br
Murilo Mendes
 Murilo Monteiro Mendes(1901-1975) estreou em 1930 e seus primeiros 
poemas apontavam a influência dos modernistas da primeira hora, 
notadamente Oswald de Andrade. Por volta de 1935, sua poética assumiu 
outroscontornos: em parceria com Jorge de Lima, voltou-se para a “poesia em 
Cristo”, sem, contudo abandonar as questões sociais que marcam esse período 
histórico; compartilhando com Ismael Nery rumos vanguardistas, produziu 
belíssimos poemas surrealistas.
Jorge de Lima
 Jorge Mateus de Lima (1895-1953) estreou na literatura em 1914, ainda 
fortemente influenciado pelo Parnasianismo, com XIV alexandrinos, o que lhe 
valeu mais tarde o título de Príncipe dos Poetas Alagoanos. Em 1926, já 
formado em Medicina, ingressou na vida política, elegendo-se deputado 
estadual pelo Partido Republicano; em 1930, por motivos políticos, foi 
obrigado a abandonar Alagoas, indo viver no Rio de Janeiro. Em 1946, com a 
redemocratização do país, elegeu-se vereador do Rio de Janeiro pela UDN. Sua 
obra apresenta duas vertentes: os poemas que refletem o Nordeste e sua 
estrutura fundiária e escravocrata; e os poemas voltados para a “poesia em 
Cristo”, em parceria com Murilo Mendes.
Essa negra fulô
Ora, se deu que chegou
 (isso já faz muito tempo)
 no bangüê dum meu avô
 uma negrinha bonitinha
 chamada negra Fulô.
 
 Essa negra Fulô!
 
 Essa negra Fulô!
 Ó Fulô! Ó Fulô!
 (Era a fala da Sinhá)
 - Vai forrar minha cama,
 pentear os meus cabelos,
 vem ajudar a tirar
 a minha roupa, Fulô!
 
 
 Essa negra Fulô!
 (...)
 Ó Fulô! Ó Fulô!
 (Era a fala da Sinhá)
 vem me ajudar, ó Fulô,
 vem abanar o meu corpo
 que estou suada, Fulô!
 vem coçar minha coceira,
 vem me catar cafuné,
 vem balançar minha rede,
 vem me contar uma história,
 que eu estou com sono, Fulô!
 
 Essa negra Fulô!
 (...)
 Fulô? Ó Fulô?
 (Era a fala da Sinhá
 Chamando a Negra Fulô)
 Cadê meu frasco de cheiro
 Que teu Sinhô me mandou?
 - Ah! Foi você que roubou!
 Ah! Foi você que roubou!
 (...)
 Ó Fulô? Ó Fulô:
 Cadê meu lenço de rendas
 cadê meu cinto, meu broche,
 cadê meu terço de ouro
 que tenho Sinhô me mandou?
 Ah! Foi você que roubou.
 Ah! Foi você que roubou.
 
 Essa negra Fulô!
 
 Essa negra Fulô!
 O Sinhô foi açoitar
 sozinho a negra Fulô.
 A negra tirou a saia
 E tirou o cabeção,
 De dentro dele pulou
 nuinha a negra Fulô
 
 Essa negra Fulô!
 
 Essa negra Fulô!
 Ó Fulô? Ó Fulô?
 Cadê, cadê teu Sinhô
 que nosso Senhor me mandou?
 ah! foi você que roubou,
 foi você, negra Fulô?
 
 Essa negra Fulô!
Lima, Jorge de. Poesia completa. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova fronteira,1980.p.119.
Cecília Meireles
 Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964) formou-se, em 
1917, na Escola Normal do Rio, dedicando-se ao magistério primário. Estreou 
um livro com Espectros (1919), sob a influência dos poetas que formariam o 
grupo da revista Festa, de inspiração neo-simbolista. Ao lado de uma 
linguagem que valoriza os símbolos e de imagens sugestivas com constantes 
sensoriais, uma das marcas do lirismo de Cecília Meireles é a musicalidade de 
seus versos.
A prosa dos anos 1930 a 1945
Manifesto Regionalista de 1926
 A partir da década de 1930, o regionalismo nordestino resultou em 
brilhantes obras literárias, com Graciliano Ramos, José Lins do Rego, José 
Américo de Almeida, Rachel de Queiroz, e Jorge Amado, no romance.
Rachel de Queiroz
 Rachel de Queiroz (1910-2003) iniciou sua carreira publicando crônicas 
em jornais cearenses em 1927. Em 1930, publicou seu primeiro romance, O 
Quinze; nos anos seguintes militou no PCB, tendo sido presa em 1937 pela 
política de Getúlio. De 1940 em diante dedicou-se à crônica jornalista, ao 
teatro e à produção de romances. Em 1964, apoiou o golpe militar e, nos 
últimos anos de sua vida, renegou seu passado esquerdista. Em 1977, quebrou 
uma tradição: tornou-se a primeira mulher a assumir uma cadeira na 
Academia Brasileira de Letras.
Jorge Amado
 Jorge Amado de Farias (1912-2001) estreou em 1931 com País do 
Carnaval. De 1931 a 1946, foram doze romances retratando ora a zona urbana 
de Salvador com seus marinheiros, meninos abandonados, malandros, ora a 
zona cacaueira do sul da Bahia (Itabuna, Ilhéus). Sua atuação política se inicia 
em 1932 quando, levado por Rachel de Queiroz, filia-se ao Partido Comunista 
Brasileiro; por suas posições políticas, vai para a cadeia e para o exílio. Em 
1946, com a redemocratização pós-Getúlio, elege-se deputado pelo PCB. A 
partir de 1958 dedica-se a uma produção metódica, o que lhe permite viver 
profissionalmente da literatura.
José Lins do Rego
 José Lins do Rego Cavalcanti (1901-1957) passou a infância num 
engenho da Paraíba. Em 1918, mudou-se para o Recife, onde cursou Direito. 
Nesse tempo, travou amizade com José Américo de Almeida, e principalmente, 
com Gilberto Freire, que muito o influenciaria. Em 1935, transferiu-se 
definitivamente para o Rio de Janeiro, onde colaborou para alguns jornais e 
exerceu cargos diplomáticos; alinhou-se com o governo Vargas. Elegeu-se 
para a Academia Brasileira de Letras em 1955.
Graciliano Ramos
 Graciliano Ramos (1892-1953), jornalista e político, chegou a exercer o 
cargo de prefeito da cidade de Palmeira dos Índios, interior de Alagoas. 
Estreou em livro em 1933, com o romance Caetés; nessa época, trabalhou em 
Maceió, dirigindo a Imprensa Oficial e a Instrução Pública, e travou 
conhecimento com José Lins do Rego, Rachel de Queiroz e Jorge Amado. Em 
março de 1936 foi preso por atividades consideradas subversivas, sem, 
contudo, ter sido acusado formalmente; após sofrer humilhações de toda sorte 
e percorrer vários presídios, foi libertado em janeiro do ano seguinte. Essas 
experiências pessoas são retratadas no livro Memórias do cárcere. Em 1945, 
com a queda da ditadura de Getúlio Vargas e a volta do país à normalidade 
democrática, Graciliano filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, o qual 
integrou até 1947, quando o partido foi novamente considerado ilegal. Em 
1952, viajou para os países socialistas do Leste Europeu, experiência descrita 
em Viagem.
 A tensão permeia toda a obra de Graciliano Ramos: evolui de Caetés até 
Vidas Secas, num crescendo que passa por São Bernardo e Angústia. Acentua-
se ainda mais na passagem da ficção à realidade, atingindo o ápice no livro em 
que relata suas experiências na cadeia, o qual, entretanto, ultrapassa o plano 
pessoal para retratar o Brasil em importante momento histórico, quando a 
convivência homem/meio social torna-se impossível.
 Graciliano Ramos é autor de enredos que envolvem a seca, o latifúndio, 
o drama dos retirantes, a caatinga, a cidade. Seus personagens são seres 
oprimidos, moldados pelo meio – Luís da Silva, pela cidade; Paulo Honório e 
Fabiano, pelo sertão. E, dentro das estruturas vigentes, não há nada a fazer a 
não ser aceitar a força do “inevitável”.
 Vidas secas – Último romance de Graciliano Ramos, publicado em 
1938, constituído, na realidade, de um conjunto de episódios da vida precária 
de uma família típica de nordestinos, castigada pela seca (Fabiano, Sinhá 
Vitória, os dois meninos), da qual também faz parte a cachorrinha Baleia, aqui 
elevada à categoria de personagem.
 A original estrutura da obra – série de quadros, praticamente 
autônomos, correspondentes aos capítulos (alguns foram publicados 
isoladamente, como verdadeiros contos) – não quebra sua unidade, como a 
crítica, sem discrepância, tem reconhecido.
 Ao contrário de outros romancistas que versaram o tema das secas, 
Graciliano Ramos não focalizou aqui os defeitos do flagelo nas populações das 
extensas áreas críticas; preferiu narrar diversas situações vividas por essa 
família, vítima não só dos rigores do tempo, mas da desonestidade do patrão e 
das arbitrariedades de uma autoridade ignorante. Os raros momentos de 
satisfação não adormecem as perspectivas sombrias de novas provações e 
sofrimentos, e o seu destino fica sujeitoà vontade do proprietário das terras e 
aos caprichos da natureza. A estória cronologicamente se desenvolve num 
período intermediário de duas estiagens, e a característica cíclica do fenômeno 
está muito bem simbolizada pelos capítulos extremos, que se denominam 
apropriadamente “Mudança” e “Fuga”. Os do meio retratam momentos da 
existência simples, sem mistério, transcendência ou grandes esperanças 
desses pobres viventes.
 MOISÉS, Massaud; PAES, José Paulo(Org).Pequeno dicionário de literatura brasileira. São Paulo: 
Cultrix, 1969. p. 261.
 
 
 
O Brasil depois de 1945
 A principal marca da poesia pós-1945 foi a pesquisa formal, a pesquisa 
estética. Os anos finais da década de 1940 e toda a década de 1950 foram 
marcados por uma incessante busca de rumos tanto para o verso discursivo, 
mais tradicional, quanto para uma poesia que promovesse uma ruptura 
radical, incorporando conceitos do poema-objeto, poema concreto, conforme 
pregação dos concretistas: “abolição da tirania do verso e proposta de uma 
nova sintaxe estrutural, na qual o branco da página, os caracteres tipográficos 
e sua disposição no papel assumam relevo, embora se mantenha ainda o 
discurso e mesmo o verso, apenas dispersado”. 
A partir de 1945 ganha corpo uma geração de poetas que se opõe às 
conquistas e inovações dos modernistas de 1922. 
Negando a liberdade formal, as ironias, as sátiras e outras “brincadeiras 
modernistas, os poetas de 45 se dedicam a uma poesia mais “equilibrada e 
séria”, distante do que eles chamam de “primarismo desabonador” de Mário de 
Andrade e Oswald de Andrade. A preocupação primordial é o 
“restabelecimento da forma artística e bela”, os modelos voltando a ser 
parnasianos e simbolistas. 
O Concretismo, movimento lançado em meados dos anos 1950, liderado por 
Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari, pregava o aproveitamento do 
espaço tipográfico, a dissolução e o reagrupamento dos vocábulos, o jogo 
semântico, visual, acústico.
Quanto à prosa, ao lado da permanência de autores consagrados, dois nomes 
roubam a cena literária brasileira: Clarice Lispector, produzindo literatura de 
caráter introspectivo, e Guimarães Rosa, que abriu novos horizontes para a 
literatura regionalista e revolucionou a linguagem da prosa.
João Cabral de Melo Neto
João Cabral de Melo Neto (1920-1999) estreou em livro no ano de 1942 
com o volume Pedra do sono, em que é nítida a influência de Drummond e 
Murilo Mendes. Em 1945 publicou O engenheiro, em que se manifestam os 
rumos definitivos de sua obra. Nesse mesmo ano, prestou concurso para a 
carreira diplomática, servindo na Espanha, Inglaterra, França e no Senegal. Em 
1969, foi eleito por unanimidade para a Academia Brasileira de Letras.
Morte e vida Severina (Auto de Natal pernambucano)
Morte e vida severina é um longo poema para “ser lido em voz alta”, como 
o define o autor. Numa sequência de cenas – ora monólogos, ora diálogos -, 
acompanhamos a caminhada de um retirante que sai de Pernambuco, nas 
proximidades da nascente do rio Capibaribe, em direção ao Recife.
O retirante explica ao leitor quem é e 
a que vai
- O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia1.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco?
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filho de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de franqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.
Lêdo Ivo
Lêdo Ivo (Maceió,AL-1924). Poeta, romancista, contista, cronista, jornalista e 
ensaísta. Em 1940, transfere-se para o Recife e, influenciado pelo ambiente 
intelectual da cidade, publica poemas e artigos na imprensa local. Três anos 
mais tarde, muda-se para o Rio de Janeiro, e estuda na Faculdade Nacional 
de Direito da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de 
Janeiro - UFRJ. Passa a trabalhar na imprensa carioca como jornalista 
profissional, colaborando com textos literários e reportagens. Em 1944, 
publica seus primeiros poemas no livro As Imaginações. Os anos 
subsequentes veem sua obra literária ganhar corpo com o lançamento de 
poesias, romances, contos, crônicas e ensaios. Em 1949, forma-se em 
direito, mas não exerce a profissão de advogado, preferindo a carreira 
jornalística e de literato. É eleito em 1986 para ocupar a cadeira número 10 
da Academia Brasileira de Letras - ABL. Em 2004 é lançada a primeira edição 
de suas obras completas, com seis décadas de poesia e prosa. Para os 
críticos e historiadores literários, Ivo filia-se à terceira geração do 
modernismo, com evidente preocupação com a linguagem e o retorno a 
sensos estéticos anteriores à fase experimental do movimento. Em 2006, doa 
seu arquivo pessoal, reunindo correspondências, manuscritos, recortes de 
jornais e fotografias, ao Instituto Moreira Salles - IMS, de São Paulo.
Ferreira Gullar
 José Ribamar Ferreira (1930-), o poeta Ferreira Gullar, estreou em livro 
em 1954 com Luta corporal (a particular distribuição gráfica de seus poemas 
resultou em desavenças com os tipógrafos) e tomou contato com o grupo 
concretista (do qual se afastaria em 1957). Em 1959 lançou o “Manifesto 
neoconcreto”. Militante de esquerda, produziu literatura engajada e participou 
de movimentos de cultura popular durante os anos da ditadura militar.
Traduzir-se
Uma parte de mim
 
 
 Uma parte de mim
é todo mundo:
 
 
 almoça e jantar:
outra parte é ninguém:
 
 outra parte
fundo sem fundo
 
 
 se espanta
Uma parte de mim
 
 
 Uma parte de mim
é multidão:
 
 
 
 é permanente
outra parte estranheza
 
 outra parte
e solidão.
 
 
 
 se sabe de repente.
Uma parte de mim
 
 
 Uma parte de mim
pesa, pondera:
 
 
 é só vertigem:
outra parte
 
 
 
 outra parte,
delira.
 
 
 
 linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?
FERREIRA GULLAR. Toda poesia(1950-1999). 9. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000. P. 335.
Guimarães Rosa
 João Guimarães Rosa(1908-1967), de uma família de pecuaristas, 
formou-se médico em Belo Horizonte e passou a trabalhar em várias cidades 
do interior mineiro, sempre demonstrando profundo interesse pela natureza, 
por bichos e plantas, pelos sertanejos e pelo estudo de línguas. Em 1934, 
iniciou carreira diplomática, prestando concurso para o Ministério do Exterior – 
serviu na Alemanha durante a Segunda Guerra e, posteriormente, na Colômbia 
e França. Sagarana, livro de contos, foi publicado em 1946; dez anos depois, 
publicou Corpo de baile e, em seguida, Grande sertão: veredas. A partir de 
então, tornou-seuma unanimidade. Foi eleito, em 1963, membro da Academia 
Brasileira de Letras; no entanto supersticioso, adiou a posse. Finalmente 
assumiu a cadeira na ABL em 19 de novembro de 1967. Morreu três dias 
depois.
O sertão, por João Guimarães Rosa
Grande sertão: veredas (fragmentos)
 O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado 
sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras 
altas, demais do Urucúia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o 
aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os 
pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar 
com casa de morador; e onde um criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do 
arrocho de autoridade. O Urucúia vem dos montões oestes. O gerais corre em 
volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o 
senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniões... O sertão está em toda 
parte.
 Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma 
mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso..
O sertão é o mundo.
O senhor sabe: sertão onde manda quem é forte, com as astúcias.
O senhor vê: existe cachoeira; e pois? Mas cachoeira é barranco de chão, e 
água se caindo por ele, retombando; o senhor consome essa água, ou desfaz o 
barranco, sobra cachoeira alguma? Viver é negócio muito perigoso...
É, e não é. O senhor ache e não ache. Tudo é e não é...
Sertão: esses seus vazios. O Senhor vá. Alguma coisa ainda encontra.
ROSA, João Guimarães. João Guimarães Rosa – ficção completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. vol. 2.
Clarice Lispector
 Clarice Lispector (1920-1977) nasceu na Ucrânia. Com dois meses de 
idade, veio com a família para o Brasil, fixando-se em Recife. Em 1937 
transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde terminou o secundário e cursou 
Direito. Estudante ainda, escreveu seu primeiro romance, Perto do coração 
selvagem, publicado em 1944. Daí em diante, consagrou-se como o nome 
mais importante da prosa brasileira da segunda metade do século XX, ao lado 
de Guimarães Rosa.
Produções contemporâneas
 Produções contemporâneas são obras e movimentos surgidos nas três 
últimas décadas e que refletem um momento histórico caracterizado 
inicialmente pelo autoritarismo, por uma rígida censura e enraizada 
autocensura, só amenizados a partir de meados da década de 1980, quando se 
verificou uma progressiva normalização da vida democrática no país. As 
condições adversas desse período não mergulharam o país numa calmaria 
cultural; pelo contrário, assistimos a uma produção cultural bastante intensa 
em todos os setores.
 Em relação aos anos que marcaram a virada do século, percebe-se a 
quase onipresença da sociedade tecnológica e do capitalismo globalizado, seja 
nos recursos utilizados, seja como matéria de reflexão.
 Na poesia, duas constantes: o aprofundamento da reflexão sobre a 
realidade e a busca de novas formas de expressão. Mantendo a tradição da 
poesia discursiva, permanecem nomes consagrados como Ferreira Gullar e 
Adélia Prado, ao lado de novos poetas que procuram aparar arestas em suas 
produções.
 Verifica-se ainda a permanência da poesia concreta. O aproveitamento 
dos espaços em branco na folha de papel e dos recursos gráficos, a 
sonoridade das palavras, as relações entre significado e significante continuam 
a desafiar tanto poetas consagrados quanto jovens talentos.
 Deve-se salientar ainda a importância da poesia marginal, que se 
desenvolve fora dos grandes esquemas industriais e comerciais de produção 
de livros.
 No romance, o regionalismo continua um filão muito rico e produtivo 
na pena consagrada de Mário Palmério, Bernardo Élis, Antônio Callado, Josué 
Montello e José Cândido de Carvalho. 
 Ainda na prosa, as últimas décadas assistiram à consagração das 
narrativas curtas – a crônica e o conto. O desenvolvimento da crônica está 
intimamente ligado ao espaço aberto a esse gênero na imprensa, não há 
grande jornal ou revista de circulação nacional que não inclua em suas páginas 
crônicas de Carlos Heitor Cony, Lourenço Diaféria e Luis Fernando Veríssimo, 
entre outros.
Referências bibliográficas
ANDRADE, Mário de. O movimento modernista. In: Aspectos da literatura 
brasileira. 5. Ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1974.
ANDRADE, Oswald. A utopia antropofágica. São Paulo: Globo: Secretaria da 
Cultura do Estado, 1990.
BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 
1985. p. 307.
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 
1999.
BRITO, Mário da Silva. História do Modernismo brasileiro: Antecedentes da 
Semana de Arte Moderna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/MEC, 1971
CADERMATORI, Lígia. Períodos Literários. São Paulo. Ática, 2000.
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia; 
São Paulo: Edusp, 1975.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura & Linguagem. São Paulo. Quíron, 1980.
COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. São Paulo: Global, 1997.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de Termos Literários. São Paulo: Cultrix, 2002.
SALLES, Fritz Teixeira de. Das coleções do Modernismo. Rio de Janeiro: 
Brasileira, 1974.
TELLES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e Modernismo brasileiro. 
Petrópolis: Vozes, 1978.

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