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1/7 Nome: Patrick Giuliano Taranti Nº matrícula: 11711GEO232 Disciplina: História do Pensamento Geográfico Turma: Noturno ☐ Diurno ☐ Prof. Dra Rita de Cássia Martins de Souza Referências Bibliográficas ANDRADE, Manoel Correia de. Atualidade do pensamento de Élisée Reclus. In: _____ (org.). Élisée Reclus: Geografia. São Paulo: Ática, 1985. p.7-36. Nota: Intrudução. (Grandes Cientistas Sociais; v.49) Atualidade do pensamento de Élisée Reclus “Para melhor compreender a importância da obra geográfica de Élisée Reclus, torna-se necessário situar o Autor no espaço e no tempo. Vivendo na Europa do século XIX, teria fatalmente que ser influenciado pelos acontecimentos que se desenrolaram naquele continente, no momento histórico em que viveu, quer como cientista, quer como cidadão” (p.7) O pensamento geográfico no século XIX “A contribuição de Reclus ao desenvolvimento da geografia só pode ser estudada situando-o diante do pensamento geográfico dominante na segunda metade do século XIX.” (p.7) “[...] admimite-se que a geografia formou-se como ciência autônoma [...] graças aos trabalhos desenvolvidos por dois sábios alemães, Alexander von Humboldt e KarI Ritter.” (p.7-8) “Esse conhecimento geográfico foi, então, cultivado e desenvolvido nas cortes, visando, na fase de conquista e anexação de países vencidos, obter as informações necessárias aos guerreiros ou, em época de paz, facilitar e otimizar a exploração dos recursos disponíveis.” ; “Disso decorreram a expansão comercial e o desenvolvimento das ciências naturais nos séculos XVI, XVII e XVIII, preparando as condições para o desenvolvimento das ciências sociais - uma delas a geografia – no século XIX.” ; “Tinham formações diferentes e preocupações também diferentes os dois fundadores da geografia moderna, Alexander von Humboldt e Karl Ritter. O primeiro, naturalista e homem da nobreza alemã, teve facilidade para realizar viagens pelas várias regiões do mundo, fazendo observações botânicas e climáticas que lhe permitiram escrever uma obra bem vasta.” (p.8) “No fim da vida, lecionou na Universidade de Berlim e foi conselheiro do rei da Prússia, quando este reino se preparava para realizar a unificação política da Alemanha. Ritter, 2/7 professor de História, viajou pouco pela Europa, tendo sido preceptor em casa de uma família rica; foi sobretudo professor de geografia e se tornou famoso na Universidade de Berlim, lecionando a eminentes figuras da geografia europeia da segunda metade do século XIX, como Élisée Reclus e Friedrich Ratzel.” (p.8-9) “Friedrich Ratzel, discípulo de Ritter, com grandes preocupações antropológicas, viveu mais intensamente a transformação da Alemanha em um Estado industrial, assistindo às lutas [...] para formar o Império Alemão. Politicamente conservador, solidário com a política prussiana, ele escreveu uma Antropogeografia e, em seguida, uma Geografia política em que procurou enfatizar o papel a ser desempenhado pelo Estado, sem distinguir este do povo.” ; “[...] possuía uma visão totalitária da organização social, Estado e povo se confundiam e tinham as mesmas aspirações.” ; “Ratzel dedicou-se ao estudo da extensão do território sob controle de cada Estado e sua posição geográfica, assim como ao problema da maritimidade e da continentalidade.” (p. 9) “Para justificar suas posições, Ratzel lançou mão de toda uma filosofia e de um conhecimento científico então em voga, distorcendo às vezes o pensamento de alguns escritores.” ; “Observa-se, ainda, nos geógrafos alemães do século XIX uma preocupação com a possibilidade de aplicar à geografia leis absolutas e universais que explicassem os fatos terrestres, como ocorria com as ciências naturais.” ; “Já Élisée Reclus, contemporâneo de Ratzel, não só teve uma vida bem diferente como defendeu pontos de vista divergentes dos do mestre alemão.” ; “[...] Reclus não se aliou aos interesses da burguesia francesa nem aos dos governos a ela ligados. Por isso teve de viver vários anos no exílio, onde escreveu parte substancial de sua obra, demonstrando uma posição critica em relação à política de seu país.” (p.10) “[...] ele mantém interesse pela política, mas, em lugar de colocar-se a serviço do Estado, do poder, coloca-se em posição crítica, mostrando que os interesses do povo conflitam com os das classes dominantes que controlam o Estado [...].” ; “Contrariando, desta forma, o pensamento geográfico da época, muito comprometido com o poder, muito conservador, suas posições põem-no em choque tanto com os seus contemporâneos quanto com os geógrafos que o sucederam na França e que fizeram uma verdadeira cortina de silêncio em torno de sua obra, considerando-a descritiva e de pouco interesse científico.” Élisée Reclus: vida e obra “Aos 19 anos retornaria à Alemanha para ser professor-repetidor [...], com pretensões de cursar a Universidade.” (p.11) 3/7 “Sendo aluno de Karl Ritter, em geografia, e de Schmidt, em economia política, tudo indica que sua vocação para a geografia fora despertada nessa ocasião.” (p.11-12) “Curioso e inquieto, ele viajou pela ilha (Irlanda) e procurou compreender as razões que levavam a Irlanda a uma crise econômica sem precedentes e à emigração de sua população para os Estados Unidos.” ; “Surpreendido com os compromissos da Igreja para com os proprietários de terras e de escravos, rompeu com a religião que até então professava e tornou-se ateu.” ; “Em 1855, querendo compreender a formação latino-americana, viajou para o Sul, [...] na Colômbia.” ; “Desiludido desta perspectiva, Reclus retornou à França em 1857 e passou a viver de escrever, analisando, sobretudo, os países que conhecia. Com um estilo fluente e agradável, descendo facilmente a detalhes, logo conquistou um razoável público.” (p.12) “[...] em 1870, foi candidato à Assembléia Nacional, propugnando pela derrubada do Império e pela restauração da República. Não conseguiu, porém, se eleger.” ; “Reclus, libertário, anarquista, com seus irmãos Paul e Élie, aderiu à Comuna e foi aprisionado, de armas na mão, pelas forças legais.” ; “Passou, então, momentos difíceis. Colocado inicialmente na prisão de Châtillon, foi transferido depois para a ilha de Trébéron, próximo à Bretanha.” ; “O movimento internacional em seu favor conseguiu do governo francês a comutação da pena para a de exílio por dez anos, permitindo também que ele se estabelecesse na Suíça.” (p.13) “Durante o período em que esteve na Suíça, além de participar da organização dos grupos anarquistas, Reclus escreveu para jornais que defendiam o anarquismo e propagavam a sua doutrina.” (p.16) “Seu trabalho de geógrafo foi praticamente iniciado quando regressou da Colômbia. Como dominava bem quatro idiomas - francês, inglês, alemão e russo –, foi fácil a ele penetrar nos meios intelectuais, traduzir um livro do seu mestre Karl Ritter sobre Configuration des continents e escrever a série de artigos sobre os países em que viveu ou apenas visitou.” ; “O seu livro La Terre, que muitos autores consideram um verdadeiro tratado de geografia física, o consagraria definitivamente como um grande geógrafo, [...] quando a piblicação do Traité de géographie physique, de Emmanuel de Martonne, passou a lhe conquistar espaço, embora se tratasse de dois livros bem diferentes.” (p.17) “Martonne, formado na escola de Vidal de la Blache, separava completamente a geografia física da humana e procurava analisar sobretudo os fenômenos físicos, dividindo a sua obra em três tomos: o primeiro dedicado à climatologia e hidrologia, o segundo à 4/7 geomorfologiae o terceiro à biogeografia. Reclus tinha compromisso com a análise dialética das relações homem/natureza.” ; “Já a Nouvelle géographie universelle – obra encomendada pela Hachette e escrita sob a severa vigilância do editor, a fim de evitar o extravasamento das idéias políticas do geógrafo – deveria dar uma visão horizontal do mundo, atualizando o conhecimento da superfície da Terra.” ; “Reclus usou um método descritivo que consistiu em dividir a superfície da Terra em grupos de estados e analisar cada área ou região que compunha os estados, detendo-se exaustivamente tanto nos aspectos físicos - relevo, clima, hidrografia, formação geológica, vegetação natural – quanto nos aspectos humanos, como organização do povoamento, utilização do espaço, formas de exploração econômica, relações de classe, sistemas de transporte e organização da rede urbana.” ; “[...] Reclus preocupou-se com as grandes questões sociais e, na Nouvelle géographie universelle, chamou atenção para os problemas da formação de classes sociais e da dominação de umas sobre as outras, o que leva ao estabelecimento de uma sociedade desigual e provoca uma luta de classes.” (p.18) “Enquanto Reclus tomava essa posição, os maiores geógrafos do seu tempo – como Ratzel – ou os que o sucederam – como Vidal de la Blache – ignoravam a existência das classes sociais, considerando-as categorias a serem analisadas por sociólogos e historiadores, e concentravam os seus estudos nos gêneros de vida dominantes nas sociedades primitivas.” (p.18-19) As idéias básicas de Élisée Reclus “Se deixarmos de lado os aspectos menos gerais da obra de Reclus e a sua contribuição à geografia moderna, assim como o renascimento do interesse por sua obra nos dias atuais, podemos salientar como características básicas do seu pensamento a natureza da geografia, a unidade e o comprometimento político desta ciência.” ; “A natureza da geografia está ligada ap estabelecimento de três conceitos: 1) O desenvolvimento desigual entre indivíduos [...]. 2) A divisão em classes ou castas se baseia em um equilíbrio que pode ser quebrado através de luta entre os dominadores, que procuram manter e defender os seus privilégios, e os dominados, que procuram, por meio de pressões ou de luta armada, romper o equilíbrio e ocupar a posição de classe dominante. [...] 3) A análise histórica indica que nenhuma evolução positiva pode se realizar sem esforço individual, sem o aperfeiçoamento do homem como pessoa. [...]” ; “[...] Reclus conclui seu pensamento, afirmando textualmente: ‘A luta de classes, a pesquisa do equilíbrio e a da decisão soberana do indivíduo são três ordens de fatos que nos revelam o estudo de geografia social e que, no 5/7 caos das coisas, se mostram bem constantes para que se possa dar o nome de ‘leis’. [...] É a observação da Terra que nos explica os acontecimentos da História, e estes conduzem a um estudo mais aprofundado do planeta, para uma solidariedade mais consciente do indivíduo, por sua vez tão pequeno e tão grande, como imenso universo’.” (p.20) “Uma outra característica fundamental da análise de Reclus é a manutenção da unidade da geografia.” ; “Para Reclus, a geografia era uma única ciência, e a natureza e o homem, por ela estudados, formavam um conjunto harmônico em que o meio natural exercia influência sobre o homem, provocando a sua ação, modificando-o, transformando-o e conduzindo-o à produção do espaço.” (p.21) “Para Reclus, o que mais importava era demonstrar a contribuição que a geografia poderia dar à solução dos problemas sociais – nunca falou em geografia humana, senão em geografia social – e explicar a origem desses problemas, podendo por isso ser considerado também um dos fundadores da geografia histórica.” ; “Embora nunca tivesse usado o termo geopolítica, nem mesmo geografia política, pode-se afirmar que ele fez uma geopolítica – oposta àquela desenvolvida pelos geógrafos identificados com as classes dominantes.” (p.22) “A influência de Reclus no meio universitário francês, apesar de pouco significativa, iria decrescer na segunda década do século XX, em face das novas formulações teóricas apresentadas por Vidal de la Blache, que procurou desenvolver estudos monográficos regionais, deslocando o enfoque da geografia do Estado para a região, como objeto de estudo e de pesquisas.” (p.23) “Dispondo de uma cátedra universitária e de certo apoio governamental, la Blache foi o formador de uma plêiade de geógrafos franceses que desenvolveu uma linha geográfica bastante conservadora e que, baseada no positivismo de Comte, procurou atingir ideais como o da neutralidade científica e desenvolver ao máximo linhas de especialização.” ; “Assim, Reclus, influenciado pelo positivismo evolucionista e pela dialética marxista, encarava o homem e a Terra como uma unidade, enquanto Martonne, positivista e sem receber influências dialéticas, separava a Terra do homem.” (p.24) “A II Guerra Mundial, provocando vastas destruições sobre o espaço anteriormente construído e conservado, abriu novas perspectivas aos geógrafos, que passaram a atuar no planejamento e na reconstrução.” ; “Assim, os geógrafos começaram a se aproximar e a colaborar com os outros cientistas sociais e a desenvolver, com os geógrafos, posições e atividades políticas.” (p.25) 6/7 “Em 1969, ao publicar o seu livro Histoire de la pensée géographique em France, André Meynier evocou o geógrafo libertário, chamando-o de ‘o extraordinário Reclus’, não pelo valor de sua obra, mas por ser ‘o melhor geógrafo descritivo’.” (p.26) Comentários • Localização na Biblioteca Digital Particular “Patrick Giuliano Taranti” o Chamada / Tombo: TD-002.231 Obs: obra completa Sobre o livro Os textos selecionados indicam o pensamento e a concepção de mundo segundo a visão anarquista Reclus, o qual não vislumbra dicotomia entre a ação científica e a política. Para esta a geografia estava a serviço da sociedade de forma acontribuir para solução dos problemas sociais, inclusive explicando a origem destes. Reclus rebelou-se ao pensamento e fazer geográfico de sua época, pois tinha para si que a geografia não deveria servir aos interesses do Estado, mas sim demonstra que os interesses do povo são conflitantes a este. A presente coletânea traz um apanhado panorâmico de sua produção científica e possui sua temática organizada segundo: “A natureza da geografia”, “A origem da família, do Estado e da propriedade”, “O problema colonial”, “O problema urbano” e “O Brasil nos fins do século XIX”. <<<<<>>>>> Sobre o autor Jean Jacques Élisée Reclus (1830-1905) foi um geógrafo e anarquista francês. Reclus contribuiu para inúmeros jornais, revistas e coletâneas. Tornou-se conhecido por sua obra em torno da geopolítica (“Nova Geografia Universal: a Terra e os Homens” - dividida em dez volumes, e “O Homem e a Terra” - dividido em cinco volumes) onde analisa a relação dos diferentes grupos humanos com os meios em que habitam. Não sua capacidade de observação ia além da natureza: sua pretensão de entendimento abarcava todo o planeta, que Reclus buscou descrever em todo seu espaço-tempo. Em suas obras apresentou critérios precisos de interpretação e esforçou-se para compreender as leis que, para além de uma ilustração moralizante ou lição pedagógica, estão por trás do dever coletivo das sociedades humanas. (fonte: Wikipédia) 7/7 <<<<<>>>>> Principais obras do autor • Voyage à la Sierra Nevada, 1861 • Guide des Pyrénées, 1862 • Guide de voyageur aux Landes et aux environs, 1862 • Dictionnaire des communes de France,1862 • La Terre; description des phénomènes de la vie du globe, 2 volumes, 1868-1869 • L'histoire d'un ruisseau, 1869 • Nouvelle Géographie Universalle, 19 volumes, 1876-1894 • L'évolution, la révolution et l'ideal anarchique, 1897 • Estados Unidos do Brazil: geographia, etnographia e estatística. Garnier, (p.477-478) Rio de Janeiro, DF. - BRASIL-1900 • L'Afrique australe, em colaboração com seu irmão, Onésime (Orthez 1837 / Paris 1916), 1901 • L'empire du milieu, 1902 • L'Homme et la Terre, 6 volumes, 1906
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