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Didática Sandra da Costa Lacerda Revisada por Fabio Fetz de Almeida (setembro/2012) APRESENTAÇÃO É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Didática, parte inte- grante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apre- sentação do conteúdo básico da disciplina. A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis- ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail. Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a redes de informação e documentação. Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple- mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal. A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar! Unisa Digital INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 5 1 PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA ÁREA .......................................... 7 1.1 Retrospectiva Histórica..................................................................................................................................................7 1.2 Tendências e Abordagens Educacionais .............................................................................................................10 1.3 Metodologias de Ensino ............................................................................................................................................13 1.4 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................17 1.5 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................17 2 A CONSTRUÇÃO DA INTENCIONALIDADE DOCENTE ............................................... 19 2.1 O Planejamento.............................................................................................................................................................19 2.2 Os Planos: o Registro do Processo de Planejamento ......................................................................................23 2.3 Processo de Avaliação .................................................................................................................................................27 2.4 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................28 2.5 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................29 3 A RELAÇÃO DIDÁTICA ..................................................................................................................... 31 3.1 Os Componentes da Relação Didática .................................................................................................................31 3.2 O Conceito .......................................................................................................................................................................33 3.3 A Construção de Conceitos em Sala de Aula .....................................................................................................34 3.4 O Contrato Didático .....................................................................................................................................................39 3.5 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................43 3.6 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................44 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 45 RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ..................................... 47 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................. 49 ANEXO ............................................................................................................................................................. 53 SUMÁRIO Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 5 Caro(a) aluno(a), A disciplina Didática tem por objetivo entender a dinâmica do processo de ensino a partir do foco de ação intencional do professor. Para tanto, são temas a serem abordados: os pressupostos teórico- -metodológicos da área, a construção da intencionalidade docente e a relação didática. No primeiro tema, estudaremos os seguintes tópicos: uma breve retrospectiva histórica acerca da evolução da área; e o estudo das tendências e abordagens educacionais, chegando às perspectivas atuais. Ainda neste tema, estudaremos as diferentes metodologias de ensino, à luz da concepção de edu- cação transformadora e da noção de aprendizagem significativa. Assim, esperamos que você, futuro(a) professor(a), possa compreender que a didática sofre a influência do contexto histórico em que é con- cebida. Destacamos também a importância de se compreender as diferentes metodologias existentes. No segundo, ocupar-nos-emos do planejamento e das suas implicações no processo ensino-apren- dizagem, dando especial relevância às questões do registro do processo educativo, por meio da elabo- ração do plano de ensino. Encerrando o tema, discutiremos a questão da avaliação. Ao final do capítulo, pretendemos que você saiba a importância de planejar e organizar as suas aulas, tendo em vista os resul- tados obtidos por seus alunos através das diferentes formas de avaliação. Por fim, procuraremos entender os elementos estruturantes da relação didática. A seleção desses temas traça o tênue limiar desta disciplina com a de prática pedagógica e se de- veu à relevância deles para a compreensão das escolhas metodológicas dos docentes em relação ao processo ensino-aprendizagem. Acreditamos que, como futuros educadores, os discentes necessitam compreender a importância de tais conceitos e o quanto são determinantes de suas opções didáticas. INTRODUÇÃO Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 7 Para introduzir nossos estudos, faremos uma retrospectiva histórica da Didática, a fim de com- preendermos como se estruturaram as práticas pedagógicas ao longo dos anos e como se cons- tituíram as tendências e abordagens educacionais, traçando uma perspectiva atual da área, por meio do estudo das diferentes metodologias de ensino. 1 PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA ÁREA 1.1 Retrospectiva Histórica Não se pode encarar a educação a não ser como um que fazer humano. Que fazer, portanto, que ocorre no tempo e no espaço, entre os homens, uns com os outros. (FREIRE, 1971, p. 123). Iniciamos a disciplina de Didática. Que tal viajar no tempo, procurando retomar os rumos das práticas educacionais que fizeram parte da história da educação na Europa e no Brasil? Sabemos que somos frutos de uma coloniza- ção europeia e essa será uma viagem interessante! Nessa trajetória, também não descartaremosa filosofia, pois pensamento e história caminham juntos e são construções do homem, único sujei- to capaz de produzir cultura. Entretanto, antes de entrarmos na evolução histórica e filosófica, nos conceitos e paradigmas que alteraram e influen- ciaram a educação, precisamos situar a Didática no campo educacional, pois o seu espaço e im- portância têm sido objetos de acalora- das discussões nos meios acadêmicos. A história da Didática encontra-se atrelada ao surgimento do ensino, no decorrer do desenvolvi- mento da sociedade, da produção e das ciências, como atividade planejada e intencional dedicada à instrução. Etimologicamente, instrução e ensi- no são palavras que dizem respeito à educare1 e à educere2. Enquanto a primeira refere-se à formação intelectual – formação e desenvolvimento das ca- pacidades cognoscitivas –, o segundo correspon- de a ações, meios e condições para a realização da instrução. Para Libâneo (1994, p. 23), há uma relação de subordinação da instrução à educação, uma vez que o processo e o resultado da instrução, mediante o ensino têm resultados formativos quando convergem para o objetivo educativo, isto é, quando os conhecimentos, habilidades e ca- pacidades propiciados pelo ensino se tornam reguladores da ação hu- mana, em convicções e atitudes reais frente à realidade [...] o objetivo edu- 1 Uma das formas verbais em latim da palavra ‘educação’. 2 Que diz respeito a trazer à luz, a educar, a ter cuidado na criação de alguém. DicionárioDicionário A palavra ‘educação’ nos remete a duas acepções: desenvolvimento e intervenção. A didática faz parte da segunda acepção, a intervenção. É uma in- tervenção que requer alguma exigência profissio- nal, não podendo, pois, presumir que seja apenas a ordenação de algumas operações sobre o sujeito. Trata-se de uma complexa construção, que leva em conta tanto o sujeito da intervenção e sua tríplice característica psicológica, biológica e social, quanto a cultura e a produção do saber (MARTINS, 1996). Sandra da Costa Lacerda Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 8 cativo não é um resultado natural e colate- ral do ensino, devendo-se supor por parte do educador um propósito intencional e explícito de orientar a instrução e o ensino para objetivos educativos. [...] o ensino é o principal meio e fator da educação – ainda que não o único – e, por isso, destaca-se como campo principal da instrução e da educação. Neste sentido, quando mencio- namos o termo educação escolar, referi- mo-nos ao ensino. A partir das proposições do autor, podemos avançar e afirmar que enquanto a educação é o ob- jeto de estudo da pedagogia, o que faz com que a ação educativa torne-se objeto de reflexão, no sen- tido de se explicar sua natureza, seus determinan- tes, suas formas de atuação (processos e modos), a Didática ocupa-se do trabalho docente, ou seja, do ensino – processo pedagógico que orienta a edu- cação para as suas finalidades específicas, determi- nadas socialmente, mediante a teoria e a metodo- logia da educação e instrução. Estabelecido o papel da Didática em relação à pedagogia, examinaremos, a seguir, como foi sua evolução no decorrer de nossa história. Ainda de acordo com Libâneo (1994), desde os primeiros tempos da história do homem exis- tem indícios de formas elementares de instrução e aprendizagem. Sabemos, por exemplo, que nas co- munidades primitivas os jovens passavam por um ritual de iniciação para ingressar nas atividades do mundo adulto. Podemos considerar esse ritual uma forma de ação pedagógica, embora lá não es- tivesse presente o didático como forma intencio- nal de ensino. A escola como direito de todos, como conhe- cemos hoje, surgiu somente no século XVIII, tendo como funções organizar, sistematizar e transmitir todo o conhecimento produzido pela humanidade. No entanto, desde a Antiguidade Clássica, fi- lósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles e, poste- riormente, na Idade Média, São Tomás de Aquino representaram o pensamento da época ao desen- volverem e difundirem, como filósofos e educado- res, suas concepções de mundo (DAMIS, 1990). Foi no período medieval, com o monopólio educacional exercido pela Igreja, mais conhecido como escolástica, que surgiu o tradicional concei- to de práticas pedagógicas fundadas na palavra do mestre e na disciplina. A educação dessa época objetivava a forma- ção de um homem com ideal moral elevado – cujo caráter e hábitos visariam ao domínio das paixões e ao exercício da justiça; esse homem dedicar-se- -ia, também, à busca do desenvolvimento físico, artístico e, sobretudo, intelectual, para atender a um sistema político-social-econômico conhecido como feudalismo. A visão de mundo e de homem dominante, então, era o teocentrismo, isto é, o paradigma que norteava o pensamento medieval tinha como centro as criações divinas, que concebiam o ho- mem e a sociedade como obedientes à Igreja e vol- tados para as especulações do mundo espiritual. O período seguinte remete-nos a outro pa- radigma, o antropocentrismo. Como a fênix que renasce das próprias cinzas, o homem, após o pe- ríodo influenciado pelo catolicismo, mentalidade dominante na Idade Média, ressurgiu, descobrin- do-se como se fosse um deus, centro das indaga- ções filosóficas. Isso devido ao florescimento do comércio, ao aparecimento e ascensão da classe burguesa, à desagregação da cristandade com a reforma protestante e aos avanços tecnológicos e científicos. Nesse contexto, o homem passou a en- frentar os desafios da modernidade. O período transitório entre a mentalidade medieval e a moderna, que ficou conhecido como movimento artístico e científico, é denominado re- nascimento3 (séculos XV a XVII). Esse movimento 3 Termo que causa muitas controvérsias, porém vários autores definem-no como o período de transição entre a mentalidade medieval e a moderna. DicionárioDicionário Paradigma: é a representação de um padrão a ser seguido. É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma teoria, um conhecimento que ori- gina o estudo de um campo científico; uma re- alização científica com métodos e valores que são concebidos como modelo. Didática Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 9 criaria a base conceitual e de valores que permiti- riam a valorização da razão e da ciência no século XVII. O renascimento foi rico em tratados pedagó- gicos, porém numa declarada oposição ao magister dixit4 medieval, pois se apregoava uma pedagogia liberal e destituída do autoritarismo característico do ensino escolástico. Se, no mundo medieval, a educação servia para manter viva as necessidades e os privilégios sociais do clero e da nobreza, com a ascensão da burguesia e o aparecimento do capitalismo5, a educação passou a ser defendida como um direito de todos, pois as necessidades de evolução do mo- vimento capitalista assim o exigiam. Nessa medida, a nova prática pedagógica de- veria considerar os interesses individuais de quem aprende, uma vez que as relações sociais capitalis- tas emergentes exigiam mão de obra diversificada. O professor não poderia mais se preocupar apenas com a transmissão de um conteúdo; deveria, tam- bém, tornar atraente o ensino, facilitando o apren- dizado de seus alunos. Vários foram os pensadores que influencia- ram as propostas pedagógicas transformadoras nos séculos XVII e XVIII. Entre eles, podemos desta- car João Amós Comênio6, autor da obra Didactica magna7, na qual elaborou uma proposta de rees- truturação da escola e do ensino priorizando a arte de ensinar, que ele denominou Didática. A obra de Comênio tornou-se importante na medida em que se contrapôs às ideias da nobreza e do clero. No entanto, sua obra ainda possuía al- guns ranços da velha forma autoritária de ensino.Nesse universo de transformações culturais e científicas, outros autores também deram suas contribuições, as quais mudaram definitivamen- te o rumo da educação na Europa. Os que mais se destacaram foram: Jean Jacques Rousseau (1712- 1778), Henrique Pestalozzi (1746-1827), Johann Friedrich Herbart (1766-1841), Froebel (1782-1852), entre outros. Entretanto, como a Didática está ligada às questões filosófico-históricas, outros autores fo- ram surgindo no cenário educacional, mediante as transformações dos séculos XIX e XX, (re)visitando teorias propostas ou introduzindo outras. A partir do século XIX, a Didática passou a ter, também, interfaces com uma área do conhecimento então emergente, as ciências do comportamento, espe- cialmente a biologia e a psicologia, por meio das pesquisas experimentais. Várias das tendências pedagógicas, que es- tudaremos no próximo tópico e que influenciaram a evolução do pensamento acerca do ensino no Brasil, são de autores que surgiram como críticos a seus antecessores ou que avançaram em algumas questões. Entre eles, podemos destacar John De- wey (1859-1952), que influenciou o movimento da Escola Nova na América Latina, sob a liderança do brasileiro Anísio Teixeira. No decorrer do século XX, pensadores como Piaget, Vygotsky e Wallon passaram a fazer parte do universo de estudo dos educadores. À luz de tais estudos, as questões da construção do conhe- cimento e do processo de interação professor-alu- no passaram a ter uma nova conotação na história da educação no Brasil. 4 Palavra do mestre: quando o professor determinava algo, suas determinações não podiam ser questionadas. 5 Regime econômico de uma sociedade humana caracterizado pelo desenvolvimento dos bens de produção e por trabalhadores que não são proprietários desses bens, ou seja, são expropriados dos frutos do seu trabalho. 6 Entre os reformadores educacionais de todos os tempos, João Amós Comênio merece lugar de destaque. A história de sua vida (1592-1670) foi marcada pela perseguição e ele viveu em meio ao impacto doloroso da Guerra de Trinta Anos. Nasceu em Nivnitz, como membro dos Irmãos da Moravia. Sua primeira educação foi extremamente inadequada. Aos vinte anos de idade, entrou para um seminário em Herborn, Nassau, para se preparar para o clero. 7 Publicada em 1632, tinha como princípio fundamental que aquele que se dedica ao ensino deve selecionar os métodos de modo a obter o máximo de resultado com o mínimo de esforço. Sandra da Costa Lacerda Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 10 Mas, e agora, em pleno fim do século XX, que ideal de homem nossa escola pretende formar? Esta é uma questão fundamental, para a qual precisamos encontrar uma resposta, pois, de outra forma, será infrutífera toda reforma educacional. Enquanto não se souber que tipo de ser humano precisa ser formado, qualquer tentativa de reformular a escola, seja definindo objetivos e programando conteúdos, seja criando novas técnicas, será em vão, pois o que está sendo questionado não é o como educar, mas o para que educar. Em outras palavras, o que está em jogo é o próprio sentido da educação. (HAYDT) 1.2 Tendências e Abordagens Educacionais No tópico anterior, fizemos uma retrospec- tiva de como a educação e as práticas escolares8 foram, ao longo do tempo, compreendidas e trans- formadas pelos modelos sociais, econômicos e cul- turais de cada época. No Brasil, não foi diferente. Como exemplo, podemos citar a década de 1930 e o Movimento dos Pioneiros9 da Escola Nova, cuja atuação foi decisiva na formulação da política edu- cacional, na legislação, na investigação acadêmica e na prática escolar. Durante as últimas décadas, vários autores têm se dedicado à reconstrução da história da Di- dática no Brasil, analisando as raízes de alguns mo- delos educacionais que orientaram e/ou orientam o ensino no país. Entre esses autores, destacamos a contribuição do professor José Carlos Libâneo, que classifica as tendências pedagógicas em liberais e progressistas, utilizando como critério para tal a posição que adotam em relação às finalidades da educação escolar. Apontaremos apenas algumas categorias, com a intenção de restringirmo-nos ao nosso campo direto de ação, sem que isso signi- fique que as categorias mais amplas não estejam indiretamente interligadas ao nosso agir pedagó- gico. De acordo com Libâneo, no contexto da pe- dagogia liberal, estão alocadas a pedagogia tra- dicional, a renovada progressivista, a renovada não diretiva e a tecnicista. Na pedagogia pro- gressista, estão alocadas a pedagogia libertado- ra, a libertária e a crítico-social dos conteúdos. A pedagogia liberal tem sua fundamentação na doutrina liberal, que apareceu como justificação do sistema capitalista ao defender a liberdade dos interesses individuais na sociedade, estabelecen- do, também, uma forma de organização social que tem por fundamento a propriedade privada dos meios de produção. Apesar de defender a ideia de igualdade de oportunidades, não considera a desi- gualdade de condições, quando não leva em conta a realidade das diferenças de classes. Libâneo estabelece diferenças entre as peda- gogias liberais, pois a pedagogia tradicional ca- racteriza-se por acentuar o ensino a partir da cultu- 8 Quando falamos em práticas escolares, estamos nos referindo à didática, pois esta permeia toda a ação do professor. 9 Escola Nova é um dos nomes dados a um movimento de renovação do ensino que foi especialmente forte na Europa, na América do Norte e no Brasil, na primeira metade do século XX. ‘Escola ativa’ ou ‘escola progressiva’ são termos mais apropriados para descrever esse movimento, que, apesar de muito criticado, ainda pode ter muitas ideias interessantes a nos oferecer. No Brasil, as ideias da Escola Nova foram introduzidas já em 1882, por Rui Barbosa (1849-1923). No século XX, vários educadores se destacaram, especialmente após a divulgação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (vide Anexo I), de 1932. Podemos mencionar Lourenço Filho (1897-1970) e Anísio Teixeira (1900-1971), grandes humanistas e nomes importantes de nossa história pedagógica. A Escola Nova recebeu muitas críticas e foi acusada, principalmente, de não exigir nada, de abrir mão dos conteúdos tradicionais e de acreditar ingenuamente na espontaneidade dos alunos. A leitura das obras e a análise das poucas experiências em que, de fato, as ideias dos escolanovistas foram experimentadas com rigor mostram que essas críticas são válidas apenas para interpretações distorcidas do espírito do movimento. Apesar de todo o seu sucesso, a Escola Nova não conseguiu modificar de maneira significativa o modo de operar das redes de escolas e perdeu força, sem chegar a alterar o cotidiano escolar. Hoje, quando continuamos a buscar rumos para a nossa educação, as ideias e experiências dos autores da Escola Nova, mesmo que contenham algumas concepções ultrapassadas ou ingênuas, podem continuar nos servindo como fonte de prazer literário e de inspiração pedagógica. Didática Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 11 ra geral e o aluno, nesse contexto, é educado para atingir sua plena realização como pessoa a partir do seu próprio esforço. Nessa abordagem, os con- teúdos escolares, os procedimentos didáticos e a relação professor-aluno não apresentam nenhuma relação com o cotidiano do aluno e a realidade so- cial. As regras são impostas; a palavra do professor predomina e, em relação ao conteúdo do ensino, há a certeza em um corpo de conhecimentos pron- tos e acabados a serem transmitidos aos alunos, ou seja, há a crença em uma verdade absoluta. A pedagogia liberal renovada (escolanovis- ta) também parte da cultura para o desenvolvimen- to de aptidões individuais. O ensino é orientado no sentido de desenvolver as capacidadesem função de sua utilidade para a vida em sociedade. A autoe- ducação, o aluno como sujeito do conhecimento, a ênfase na aquisição dos processos de conheci- mento em oposição aos conteúdos, a valorização da iniciativa do aluno em oposição à interferência do adulto são alguns de seus pressupostos. Libâneo, ao falar da pedagogia progressis- ta, toma emprestado o termo de Snyders, apon- tando como tendências progressistas aquelas que partem de uma análise crítica das realidades sociais e que sustentam as finalidades sociopolíticas da educação. Para o autor, a pedagogia progressista, em suas versões libertadora, libertária e crítico- -social de conteúdos, não tem como se institu- cionalizar na sociedade capitalista, daí ser ela um instrumento de luta dos professores, ao lado das práticas sociais. As versões libertadora (fundamentada nas ideias educacionais de Paulo Freire) e libertária (fundamentada nas ideias educacionais dos defen- sores da autogestão) têm em comum o antiautori- tarismo, a valorização da experiência vivida como base para a relação educativa e a ideia de autoges- tão pedagógica. Essas versões são preferidas pelos educadores das modalidades de educação popular e dão mais atenção ao processo de aprendizagem grupal do que aos conteúdos de ensino. Por outro lado, a pedagogia crítico-social dos conteúdos, sem perder de vista a atividade e a participação do aluno, atribui fundamental importância à transmis- são dos conteúdos. Em cada tendência, há um resumo dos prin- cipais aspectos contidos nas seguintes categorias: papel da escola; conteúdo de ensino; método; relação professor-aluno; pressuposto de aprendizagem; manifestação na prática escolar. O Quadro 1, a seguir, mostra, sucintamente, as concepções das tendências pedagógicas desen- volvidas e adotadas pelas escolas brasileiras. Apon- taremos apenas algumas categorias, com a inten- ção de nos restringirmos ao nosso campo direto de ação, sem que isso signifique que as categorias mais amplas não estejam indiretamente interliga- das ao agir pedagógico. Vários autores discutiram o tema acerca do qual discorremos neste tópico. Outra contribuição conhecida e discutida no meio acadêmico que gostaríamos de ressaltar é a da professora Maria da Graça Nicoletti Mizuka- mi, que parte do pressuposto de que, no Brasil, há provavelmente cinco abordagens de ensino: tra- dicional10, comportamentalista11, humanista12, cognitivista13 e sociocultural14. A autora exclui a abordagem escolanovista, por julgar que esteja in- cluída nas já citadas. 10 Ensino centrado no professor, voltado para o que é externo ao aluno, como os programas e as disciplinas. O aluno escuta o que é prescrito por autoridades, independentemente de sua vontade. Concepção educacional que persistiu no tempo e passou a fornecer um quadro referencial para o surgimento de novas abordagens. 11 Centrada na mudança de comportamento no processo de aquisição de conhecimento. A experiência é a base do conhecimento (comportamentalistas behavioristas, instrumentalistas e positivistas lógicos). Utiliza a tecnologia educacional, que libera o professor de uma série de tarefas, principalmente a de ensinar por meio de aulas expositivas, que são substituídas por materiais autoinstrutivos e recursos audiovisuais, que garantem aos alunos, considerados recipientes de informações, a autoaprendizagem dos conteúdos. 12 Centrada no sujeito; o conhecimento advém das experiências dos próprios alunos e o professor é considerado facilitador do processo. Essa abordagem dá ênfase às relações interpessoais e ao crescimento que delas resulta. No Brasil, essa abordagem foi adotada a partir de estudiosos estrangeiros e apresentou dois enfoques predominantes, fundados nas concepções de dois autores principais: Neill – classificado como espontaneísta, propõe que a criança se desenvolva sem intervenções; obra Sandra da Costa Lacerda Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 12 Quadro 1 – Tendências pedagógicas e práticas adotadas. TENDÊNCIA CONTEÚDO DO ENSINO MÉTODO RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO TRADICIONAL Prioriza conhecimentos herdados e transmitidos pela geração adulta. Expositivo: preparação do conteúdo, apresentação, associação, generalização e aplicação em exercícios e atividades. O professor: postura autoritária; é o transmissor do conhecimento. O aluno: mero ouvinte. A relação é centrada no professor. RENOVADA PROGRESSISTA A importância recai sobre as experiências vivenciadas, os desafios cognitivos e as situações-problema. O processo de aquisição de conhecimentos é menos relevante do que a metodologia aplicada. Ativo: deve-se aprender fazendo; pesquisar, trabalhar em grupo, resolver problemas, propor soluções, estudar o meio ecológico e social etc. Relação democrática: o professor é um facilitador da aprendizagem do aluno. A relação é centrada na vivência. RENOVADA NÃO DIRETIVA A ênfase é dada ao desenvolvimento das relações e das comunicações. Incentivo aos alunos para que busquem por si mesmos seu próprio conhecimento. Terapêutico: o papel do professor é o de facilitador da aprendizagem. Uso de técnicas de sensibilização e ênfase na melhoria do relacionamento interpessoal. Relações humanas: o professor não deve dirigir o aluno no que tange às atividades. A relação é centrada no aluno. TECNICISTA Voltada para a preparação técnica, a fim de que o aluno possa responder adequadamente ao sistema social global e ao mercado de trabalho. Método científico de Spencer: metodologia tecnicista e abordagem sistêmica. Uso de instrução programada, planejamento, recursos audiovisuais etc. Técnica-diretiva: relações estruturadas, objetivas, com papéis bem definidos. Professor: administrador. Aluno: ser que responde. A relação é centrada no controle das condições. LIBERTADORA Tem um caráter político que incorpora a realidade vivencial do aluno como ponto de partida para a seleção dos conteúdos da ação educativa. Dialogicidade: trabalho em grupos de discussão e conscientização. Não diretividade: os alunos são sujeitos do ato de conhecimento. Professor favorece a aproximação da consciência. A relação é centrada nas relações interpessoais. LIBERTÁRIA O conteúdo emerge dos interesses dos alunos, não sendo predeterminado. Autogestão da experiência do grupo: formas de participação e de expressão pela palavra, mediante organização e execução do trabalho. Não diretiva: o professor é o orientador e catalisador do processo e, junto ao grupo, gera reflexões. Não há centralidade. CRÍTICO- SOCIAL DOS CONTEÚDOS Há conteúdos determinados que são escolhidos a partir dos bens culturais da humanidade, com funções formativas e instrumentais. Participativo e fundamentado no saber universal: vínculo teoria e prática. Interação diretiva: trocas entre professores e alunos. Professor: mediador e intervencionista. Aluno: confronta sua experiência com os conhecimentos selecionados pelo professor. A relação é centrada nos conteúdos do ensino. Fonte: Libâneo (1994). principal: Liberdade sem medo, a experiência de Summerhill; e Rogers: proposta identificada como representativa da psicologia humanista; obra principal: Tornar-se pessoa. 13 Psicólogos que investigam os processos centrais do indivíduo, dificilmente observáveis, como a organização do conhecimento, estilo de pensamento, estilos cognitivos, comportamentos relativos à tomada de decisões. Implica em estudar cientificamente a aprendizagem como sendo mais um produto do ambiente das pessoas do que de fatores externos. Ênfase nos processos cognitivos e investigações científicas, separados dos problemas sociais contemporâneos. As emoções são consideradas em suas articulações como conhecimento. Abordagem predominantemente interacionista. 14 Advém do fenômeno da preocupação com a cultura popular, surgida após a Segunda Guerra Mundial e se liga a problemas da democratização da cultura. O movimento da cultura popular volta-se para os valores que caracterizam um povo em geral e para as camadas socioeconômicas inferiores. Uma das suas tarefas tem sido a alfabetização de adultos. Didática Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 13 [...] o processo de ensino se caracteriza pela combinação de atividades do professor e dos alunos. [...] A direção eficaz desse processo depende do trabalho sistematizado do professor que, tanto no planejamento como no desenvolvimento das aulas, conjuga objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas do ensino. (LIBÂNEO, 1994, p. 149). 1.3 Metodologias de Ensino Os métodos são fundados na relação obje- tivo-conteúdo e determinam o como alcançar, no processo de ensino, os objetivos gerais e específi- cos que são a intenção do docente, ou seja, trata- -se de uma sequência de operações com vistas a determinado resultado esperado. Por outro lado, procedimentos de ensino são ações, processos ou comportamentos planejados pelo professor, para colocar o aluno em contato direto com as coisas, fatos ou fenômenos que lhe possibilitem modificar sua conduta, em função dos objetivos previstos. Logo, “método de ensino é um procedimento didático caracterizado por certas fa- ses e operações para alcançar um objetivo previs- to.” (HAIDT, 2003, p. 144). Para efetivar o processo de ensino por meio de um método, necessita-se da apropriação de um saber fazer15, que se consolida na competência técnica16. Técnica é, portanto, a operacionalização do método. Haidt (2003) aponta que, atualmente, o ter- mo ‘estratégia de ensino’ é empregado para desig- nar os procedimentos e recursos didáticos a serem utilizados para atingir os objetivos almejados. A es- colha dos métodos e técnicas empregados no pro- cesso ensino-aprendizagem não é neutra, implica em uma opção que tem pressupostos teóricos im- plícitos. Adepto, também, dessa linha de pensamen- to, Libâneo (1994, p. 150) ressalta que [...] dizer que o professor ‘tem método’ é mais do que dizer que domina procedi- mentos e técnicas de ensino, pois o mé- todo deve expressar, também, uma com- preensão global do processo educativo na sociedade: os fins sociais e pedagógicos do ensino, as exigências e desafios que a rea- lidade social coloca, as expectativas de for- mação dos alunos para que possam atuar na sociedade de forma crítica e criadora, as implicações da origem de classe dos alu- nos no processo de aprendizagem, a rele- vância social dos conteúdos de ensino, etc. Há inúmeras maneiras de classificarmos os métodos de ensino, pois, como já afirmamos, a Didática é um campo de pesquisa que mantém interfaces com diversas áreas do conhecimento e, assim, dependendo da interface selecionada, po- demos montar diferentes classificações. Piaget (1970) propõe a seguinte classificação: métodos verbais tradicionais, cujos fundamentos advêm da epistemologia associacionista; métodos ativos, originários da aplica- ção, em educação, das conclusões que foram produto das pesquisas da psicolo- gia do desenvolvimento; métodos intuitivos ou audiovisuais, que têm por base a psicologia da forma; ensino programado, fruto da psicolo- gia comportamental. 15 Domínio de técnicas específicas em relação a um determinado campo de conhecimento. 16 Competência profissional ligada ao saber fazer. Etimologicamente, a palavra ‘método’ vem do vo- cábulo grego méthodos, que significa caminho para chegar a um fim. CuriosidadeCuriosidade Sandra da Costa Lacerda Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 14 Já Carvalho (1973) propõe outra forma de classificar os métodos de ensino: métodos individualizados de ensino: valorizam o atendimento às diferenças individuais e fazem a adequação do con- teúdo à maturidade, à capacidade inte- lectual e ao ritmo de aprendizagem de cada aluno, considerado individualmen- te; métodos socializados de ensino: valo- rizam a interação social, fazendo a apren- dizagem efetivar-se em grupo; métodos socioindividualizados: com- binam as duas atividades, a individuali- zada e a socializada, alternando em fases os aspectos individuais e sociais. Libâneo (1994) propõe uma classificação em cinco itens: método de exposição pelo professor; método de trabalho independente; método de elaboração conjunta; método de trabalho em grupo; atividades especiais. Independentemente da classificação que utilizarmos, cada método tem técnicas que lhe são pertinentes. A seguir, propomos a correlação de algumas técnicas, relacionadas a métodos de trabalho. Para facilitar a compreensão, os dados estão organiza- dos no Quadro 2, sendo que utilizaremos a classi- ficação dos métodos adotada por Carvalho (1973). Quadro 2 – Relação método-técnica (procedimento de ensino). MÉTODO TÉCNICA SUBDIVISÕES DESCRIÇÃO Métodos individualizados de ensino AULA EXPOSITIVA: o método expositivo consiste na apresentação oral de um tema logicamente estruturado. Exposição dogmática A mensagem transmitida não pode ser contestada, devendo ser repetida por ocasião das provas de verificação. Exposição aberta ou dialogada A mensagem do professor é simples pretexto para desencadear a participação da classe, podendo haver contestação, pesquisa e discussão. ESTUDO DIRIGIDO*: fazer com que os alunos estudem a partir de um roteiro elaborado pelo professor, o qual estabelece a extensão e a profundidade do estudo. Leitura de texto Ler a partir de um roteiro de questões a serem respondidas. Manipulação de materiais ou construção de objetos Busca de conclusões. Observação de objetos, fatos ou fenômenos Anotações a partir do roteiro estruturante do foco da observação. Realização de experiências Busca de generalizações. MÉTODO MONTESSORI: sua concepção de educação está baseada nos princípios biológicos do crescimento e do desenvolvimento e em um sistema didático que concebe o homem e o mundo de uma perspectiva vitalista, ou seja, que considera a vida e seu pleno desenvolvimento como o bem supremo. PRINCÍPIOS: • Liberdade; • Atividade; • Vitalidade; • Individualidade. a) A educação dos sentidos, por meio da realização de jogos sensoriais e do uso de material didático próprio; b) A educação do movimento, por meio da prática de exercícios físicos e rítmicos e do exercício de linha; c) A educação da inteligência, por meio de lições e exercícios sistemáticos; d) A prática da aula do silêncio, que visa a desenvolver a capacidade de atenção, a autodisciplina e a percepção auditiva; e) A realização de exercícios de vida prática. CENTROS DE INTERESSE: concepção também fundada na biologia; concebia a educação como manutenção e conservação da vida. PRINCÍPIOS: • Autoeducação; • Uma escola para a vida e pela vida. a) Organização de classes homogêneas, de acordo com o ritmo de aprendizagem dos alunos; b) Diminuição do número de alunos por classe; c) Consideração aos interesses naturais das crianças e às condições locais; d) Centros de interesse. Didática Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 15 Métodos socializados de ensino USO DE JOGOS: atividade física ou mental organizada por um sistema de regras; é natural do ser humano, inserindo-se na ludicidade humana e a estimulando. PRINCÍPIOS: • Mobiliza os esquemas mentais, de forma a acionar as funções psiconeurológicas e as operações mentais, estimulando o pensamento; • Integra as dimensões afetivas, motoras e cognitivas da personalidade.a) Corresponde a um impulso natural do aluno, seja ele criança ou adulto, pois o ser humano apresenta uma tendência lúdica; b) Absorve o jogador de forma intensa e total, criando um clima de entusiasmo. DRAMATIZAÇÃO (role- playing): representação, pelos alunos, de um fato ou fenômeno, de forma espontânea ou planejada. PRINCÍPIOS: • Leva o aluno a concretizar uma situação-problema; • Contribui para aumentar o nível de motivação dos alunos; • Ajuda a desenvolver a capacidade dos alunos de se colocarem imaginariamente em um papel que não é o próprio. a) Caracterização da situação; b) Representação; c) Discussão. TRABALHO EM GRUPO**: oportunidade para o diálogo, em que há troca de ideias e informações. PRINCÍPIOS: • Facilitar a construção do conhecimento; • Permitir a troca de ideias e informações; • Possibilitar a prática da cooperação para alcançar um fim comum; • Favorecer a formação de certos hábitos e atitudes de convívio social. a) Cooperar e unir esforços para que o objetivo comum seja atingido; b) Planejar, em conjunto, as etapas de um trabalho; c) Dividir tarefas e atribuições, tendo em vista a participação de todos; d) Expor ideias e opiniões sucinta e objetivamente, de forma a serem compreendidas; e) Aceitar e fazer críticas construtivas; f ) Ouvir com atenção os colegas e esperar a vez de falar; g) Respeitar a opinião alheia; h) Aceitar a decisão quando ficar resolvido que prevalecerá a opinião da maioria. Métodos sócio- individualizados ESTUDO DE CASOS: apresentação de uma citação real aos alunos, dentro do assunto estudado, para que analisem e, se for necessário, proponham alternativas de solução. PRINCÍPIOS: • Facilitar a construção do conhecimento; • Permitir a troca de ideias e informações. a) Estudo individual do caso; b) Discussão em grupos; c) Debate geral com a classe. ESTUDO DO MEIO: Técnica que permite ao aluno estudar de forma direta o meio natural e social que o circunda e do qual participa. PRINCÍPIOS: • Criar condições para que o aluno entre em contato com a realidade circundante, promovendo o estudo de seus vários aspectos, de forma direta, objetiva e ordenada; • Propiciar a aquisição de conhecimentos geográficos, históricos, econômicos, sociais, políticos, científicos, artísticos etc., de forma direta por meio da experiência vivida; • Desenvolver as habilidades de observar, pesquisar, descobrir, entrevistar, coletar dados, organizar e sistematizar os dados coletados, analisar, sintetizar e tirar conclusões. a) Planejamento; b) Execução; c) Exploração e apresentação dos resultados; d) Avaliação. Sandra da Costa Lacerda Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 16 Métodos sócio- individualizados MÉTODO DA DESCOBERTA: proposição aos alunos de uma situação de experiência e observação, para que eles formulem, por si próprios, conceitos e princípios, utilizando o raciocínio indutivo. PRINCÍPIOS: • Uso do procedimento indutivo; • Participação ativa; • Erro como fonte de aprendizagem. a) Descrição, com as próprias palavras, das observações feitas; b) Fazer generalizações; c) Elaborar conclusões. MÉTODO DA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS: apresentação ao aluno de uma situação problemática, para que ele proponha uma solução satisfatória, utilizando os conhecimentos de que já dispõe ou buscando novas informações por meio da pesquisa. PRINCÍPIOS: • Estimular a participação do aluno na construção do conhecimento; • Desenvolver o raciocínio e a reflexão; • Favorecer a aquisição de conhecimentos; • Facilitar a transferência de aprendizagem; • Desenvolver a iniciativa na busca. a) Definir o problema; b) Coletar e sistematizar os dados necessários à solução do problema; c) Propor alternativas de solução; d) Selecionar uma alternativa; e) Verificar se a alternativa escolhida efetivamente resolve o problema proposto. MÉTODO DE PROJETOS: o ensino realiza-se por meio de amplas unidades de trabalho com um fim em vista e supõe a atividade propositada do aluno. PRINCÍPIOS: • Desenvolvimento do raciocínio aplicado à vida real; • Buscar a solução de um problema; • Integração de pensamento, sentimento e ação dos educandos; • Busca de informação a partir da realidade; • Ensino globalizado. a) Escolha do projeto pelos alunos; b) Planejamento de trabalho; c) Coleta de informações; d) Execução do projeto; e) Apresentação em classe do trabalho executado; f) Apreciação e avaliação do trabalho realizado. UNIDADES DIDÁTICAS: organização e desenvolvimento do ensino por meio de unidades amplas, significativas e globalizadas de conhecimento. PRINCÍPIOS: • Promover a aquisição de conhecimentos de forma globalizada, estruturada e ordenada, permitindo ao aluno construir o saber como um todo orgânico; • Estimular o pensamento lógico e a atividade reflexiva do educando. a) Exploração ou sondagem; b) Apresentação geral da unidade; c) Assimilação; d) Organização; e) Expressão (exposição discente). MOVIMENTO FREINET: movimento de caráter comunitário e cooperativo, procurando a elaboração, pelo conjunto do grupo docente, dos próprios instrumentos de trabalho, de acordo com o meio em que está inserido e visando a aperfeiçoar a prática docente. PRINCÍPIO: • Realizar um trabalho educativo que incentive os educandos a falar e a escrever melhor e de forma mais fluente. ATIVIDADES PROPOSTAS: a) Imprensa escolar; b) Projeção de filmes; c) Biblioteca escolar; d) Uso de fichários; e) Cooperativa escolar. Obs.: * O trabalho com estudo dirigido deve mobilizar operações cognitivas, a partir de tarefas operatórias. ** Técnicas usadas pelos especialistas em dinâmica de grupo: discussão em pequenos grupos; grupos de cochicho; discussão 66 ou Phillips 66; simpósio; painel; seminário; brainstorming ou tempestade cerebral. Encerrando este tema, gostaríamos de retor- nar à questão essencial da Didática; não basta a escolha de um determinado método ou técnica se não tivermos clareza da intencionalidade de nossa ação. Métodos e técnicas são recursos, mas a edu- cação só acontece se soubermos aonde queremos chegar. Didática Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 17 Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, estudamos a trajetória da disciplina didática, analisando o seu percurso histórico. De acordo com nosso estudo, desde os primeiros tempos da história do homem, existem indícios de formas elementares de instrução e aprendizagem. Entretanto, como conhecemos hoje, a escola surgiu somente no século XVIII, tendo como funções organizar, sistematizar e transmitir todo o conhecimento produzido pela humanidade. Analisamos também as diferentes tendências pedagógicas, que compreendem, de acordo com Li- bâneo, as vertentes Liberal e Progressista. No contexto da pedagogia liberal, estão alocadas a pedagogia tradicional, a renovada progressivista, a renovada não diretiva e a tecnicista. Na pedagogia progressista, estão alocadas a pedagogia libertadora, a libertária e a crítico-social dos conteúdos. Terminada esta primeira etapa, vamos agora avaliar a sua aprendizagem. 1.4 Resumo do Capítulo 1.5 Atividades Propostas 1. Os métodos de ensino podem ser classificados de muitas formas. Piaget foi um dos estudio- sos que propôs uma classificação. Como se classificam os métodos de ensino, segundo esse pensador? 2. Como é a relação professor-aluno segundo a tendência tradicional de aprendizagem? Vá até o final deste material e cheque suas respostas! Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 19 Caro(a) aluno(a), Nesta seção, você vaientrar em contato com um conteúdo que visa a fundamentar a prática do- cente, abordando aspectos conceituais e reflexões de diferentes teóricos contemporâneos da área educacional e ampliando as visões para os tempos atuais da relevância do planejamento enquanto processo que mobiliza recursos para uma ação in- tencional e transformadora. 2 A CONSTRUÇÃO DA INTENCIONALIDADE DOCENTE 2.1 O Planejamento Vamos refletir! Qual é a importância do planejamento? Rela- cione essa questão ao texto a seguir: Uma aranha constrói sua teia com uma perfeição que nunca será atingida por um pedreiro ao construir uma casa. O que dis- tingue o pedreiro da aranha é que este é capaz de conceber sua construção ideal- mente e planejar as etapas de sua ação, enquanto a aranha repete mecanicamente um comportamento herdado de sua espé- cie. (MARX, 1994, p. 202). Vimos, anteriormente, a trajetória histórico- -filosófica da Didática e percebemos, ainda, que as práticas escolares sofrem transfor- mações ao longo do tempo. As- sim, nesta disciplina, optamos pela concepção de educação trans- formadora e a partir dela discuti- remos o conceito de planejar. Nosso segundo tema é a discussão da constru- ção da intencionalidade docente por meio do proces- so de planejar, porém não podemos deixar de escla- recer, inicialmente, a nossa concepção de educação, isto é, o enfoque que daremos a esse assunto. A concepção de práxis17 diz respeito à uni- dade dialética entre homem e sociedade em cons- tante transformação. É a partir dessa ideia que se origina a visão de educação como prática transfor- madora. Essa concepção decorre do pensamento e se funda nas obras de educadores brasileiros, como, por exemplo, Paulo Freire, em A peda- gogia do oprimido, Moacir Gadotti, em Concepção dialética Saiba maisSaiba mais A educação transformadora refere-se à ação do homem necessária para a trans- formação da sociedade a qual pertence. 17 Ribas (2000, p. 59), revelando sua concepção sobre práxis, aponta que “trata-se de uma atividade humana consciente e intencional, transformadora da realidade natural e humana. Na práxis descobrimos a racionalidade da prática, ou seja, tomamos consciência da realidade. [...] É na prática e na reflexão sobre ela que o professor consolida ou revê ações, encontra novas bases e descobre novos conhecimentos.” AtençãoAtenção A educação transformadora traz-nos, pela sua vinculação teórica, a ideia de práxis. Sandra da Costa Lacerda Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 20 da educação, e Demerval Saviani, em Escola e de- mocracia. A educação transformadora fundamenta-se na estreita relação homem-sociedade, evitando, assim, a visão fragmentada da realidade, que mas- cara a relação do homem com o mundo no qual se insere. Para sua efetivação, faz-se necessário que as ações docentes passem por um processo de or- ganização do trabalho, de forma intencional e se- quencial, constituindo-se no ato de planejar, isto é, planejar como uma atividade relevante dentro do contexto da ação docente visando, objetivamente, a ter clareza suficiente de onde se quer chegar, no que se refere à aprendizagem significativa, bem como aos problemas a serem enfrentados e superados na traje- tória do processo pedagógico. Entendemos que aprendizagens significa- tivas são aquelas realizadas pelos próprios alunos, levando-os a “aprender a aprender”, ou seja, a compreensão é garantida, para as novas aprendi- zagens, a partir dos conhecimentos prévios trazi- dos pelo sujeito. Dessa forma, a construção de sig- nificados implica a conexão ou vinculação do que o aluno já sabe com os novos conhecimentos, as- sociando o antigo ao novo, o currículo oculto do aluno. A Figura 1 demonstra as características dos conhecimentos prévios: Saiba maisSaiba mais Paulo Reglus Neves Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921, em Recife, Per- nambuco, uma das regiões mais pobres do país, onde logo cedo pôde experi- mentar as dificuldades de sobrevivência das classes populares. Trabalhou inicial- mente no Serviço Social da Indústria (SESI) e no Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife. Ele foi quase tudo o que se deve ser como educador, de professor de escola a criador de ideias e “métodos”. Figura 1 – Características dos conhecimentos prévios. Na procura da excelência da aprendizagem, Antônio Cachapuz (2000) remete-nos à reflexão crítica sobre a ampliação da visão do conceito de aprendizagem significativa. A concepção de exce- lência da aprendizagem de Cachapuz (2000) tem como base quatro pressupostos: 1º – Devemos buscar superar a sobreva- lorização que tem sido dada aos saberes conceituais, ou seja, devemos trabalhar os conceitos de forma a não esperarmos respostas mecânicas e destituídas de sig- nificado para os alunos, mas sim que de- corram de uma relação indivíduo-socie- Didática Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 21 dade-cultura, de forma crítica e reflexiva; 2º – Devemos respeitar as diferentes tra- jetórias individuais no processo de cons- trução de conhecimento, sem seguir uma “organização psicológica” (por exemplo, relação idade-conhecimento) ou algum “padrão lógico” preestabelecido por for- ças externas ao interesse individual (por exemplo, partir do mais simples para o mais complexo); 3º – Devemos enfatizar os conhecimen- tos trazidos pelos alunos, ou seja, os co- nhecimentos prévios, tanto quanto os conhecimentos a serem adquiridos no contexto escolar; 4º – Devemos incluir o processo de pro- blematização entre a aprendizagem e a formação do desenvolvimento do aluno, isto é, a aprendizagem deve decorrer da solução de “problemas” a serem propos- tos para os alunos dentro de um ambien- te interativo. Assim, devemos propor uma relação intersubjetiva dos diferentes su- jeitos do processo de aprendizagem, va- lorizando a relação solidária entre o sujei- to, o objeto de estudo e sua construção de conhecimento18, processo no qual a linguagem tem uma presença marcante, não sendo utilizada apenas para fins de comunicação. O processo educacional, na perspectiva de uma educação transformadora, não poderia ser encarado de outra forma, visto que a apropriação, construção e reconstrução dos conhecimentos de- vem ser priorizadas nos processos que valorizam a ação educativa, considerando o homem um ser pertencente ao seu mundo, em relação ao contex- to social ao qual pertence. Como afirma Morin (2000a, p. 47), “conhecer o humano é, antes de mais nada, situá-lo no uni- verso e não separá-lo dele. [...] Todo conhecimento deve contextualizar seu objeto, para ser pertinente. ‘Quem somos?’ é inseparável de ‘Onde estamos?’, ‘De onde viemos?’, ‘Para onde vamos?’.” Assim, a ação de planejar é fundamental na constituição do humano. Dessa forma, podemos refletir sobre uma questão que nos auxilia a estruturar um plano con- textualizado, isto é, considerando o meio sociocul- tural: qual é a escola que se propõe a disseminar e concretizar esses ideais educacionais? Com certeza, nos referimos a uma instituição educacio- nal que se propõe a construir, reconstruir e sociali- zar os saberes com competência, para desenvolver um amplo diálogo entre os diferentes atores sociais e sua interação permanente, estimulando a refle- xão e promovendo a consciência crítica, destituída de preconceitos de qualquer espécie – aspectos confessionais, de gênero, raça, cor etc. Ribas (2000, p. 62) ressalta e valoriza a impor- tância de o professor ser facilitador da aprendiza- gem, destacando que “é na prática e na reflexão sobre ela que o professor consolida ou revê ações, encontra novas bases e descobre novos conheci- mentos.” Esses referenciais constituem-se em ponto de partida para o processo de planejar, que prevêa aprendizagem de conteúdos, a adoção de mate- riais, o agrupamento de atividades e a proposição de normas para organização dos trabalhos em clas- se, despertando interesses e expectativas por parte dos alunos e oferecendo medidas de apoio e orien- tações necessárias. Não podemos considerar o planejamento apenas uma obrigação a cumprir, pois ele é, tam- bém, um momento agradável de trocas. Retomando o processo de planejar, lembra- mos que devemos identificar os problemas do cotidiano escolar, ter claras as ações a serem or- ganizadas, bem como ter o cuidado no processo de seleção dos procedimentos metodológicos a serem adotados e na seleção de atividades, visan- do a: 18 O conhecimento é sempre pessoal, decorrendo da construção a partir das representações contidas no cenário da vida comum, dos livros, das relações contidas nos espaços da sala de aula e da escola, articuladas a uma grande rede de significações, isto é, constituindo-se na produção da grande teia tecida por nós, que são significativos construídos por meio das relações entre outros conhecimentos, gerando ressignificações. Sandra da Costa Lacerda Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 22 O QUE FAZER? COMO FAZER? POR QUE FAZER? Percebam que esses questionamentos nos remetem à elaboração de um processo cuidadoso de planejar, cuja função primordial é a de organi- zação da ação pedagógica, que necessita de pes- quisa, organização e reflexão de forma contínua e flexível. Há algumas características fundamentais a serem observadas no processo de planejar, são elas: o envolvimento de todos os participan- tes do processo. Como afirma Masetto (1994, p. 77), “[...] esta participação cole- tiva na elaboração do planejamento traz consigo maior realismo e objetividade na identificação dos problemas, nas propos- tas apresentadas e na luta pela conse- cução das mesmas.” É preciso que todos compartilhem das decisões que envol- vem: o que fazer e como fazer; o planejamento, para constituir-se num processo eficiente da ação educativa, deve passar, constantemente, por um processo de (re)avaliação e (re)visão, vi- sando à sua adequação às novas neces- sidades que permeiam o transcorrer do trabalho docente; o planejamento deve ser flexível, facilitan- do sua adaptação a possíveis alterações, sejam elas de calendário, introdução de novos temas, novos fatos, interesses etc. A ação de planejar é muito dinâmica. Estamos sempre (re)começando novas etapas, na intenção de aprimorar nossa ação no processo de ensino. A Figura 2 nos dá uma ideia de como o processo de planejar é uma ação recursiva. Figura 2 – Processo de planejamento. Para nortear nossos trabalhos de planeja- mento, temos documentos oficiais que nos pro- põem grandes diretrizes a serem atendidas, como, por exemplo, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), formulados pela Secretaria de Educação Fundamental do Ministério da Educação (MEC). AtençãoAtenção Os PCNs representam uma referência, um ponto de partida para que se possam articular objetivos e conteúdos, recursos e procedimentos meto- dológicos, adequando-os à realidade individual, social, regional e local. Didática Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 23 Ai de nós, educadores, se deixamos de sonhar sonhos possíveis. [...] Os pro- fetas são aqueles ou aquelas que se molham de tal forma nas águas da sua cultura e da sua história, da cultura e da história do seu povo, que conhe- cem o seu aqui e o seu agora e, por isso, podem prever o amanhã que eles mais do que adivinham, realizam. Paulo Freire Caro(a) aluno(a), Antes de iniciarmos a explicitação dos ele- mentos que fazem parte do plano de ensino ou de aula, queremos salientar que, no momento em que os educadores decidem a respeito de quais ações serão tomadas ou delineadas ao longo do ano le- tivo, ou seja, quais serão as propostas de ensino para a disciplina que ministram, passam de ações planejadas a ações documentadas. Estamos fa- lando, então, da transformação do processo de planejamento em plano de disciplina ou de ensino. Planos de Disciplina ou de Ensino e de Aula Plano de ensino O processo de planejamento do ensino, a fim de ser um elemento norteador da ação, com- partilhado por todos os educadores em exercício em uma determinada instituição escolar, necessita ser registrado, o que nos remete a um documento formal, que é resultante do processo de planejar, ou seja, o plano de ensino. Este é elaborado pelos professores, contendo as propostas de trabalho de uma determinada área ou disciplina específica. Em outras palavras, trata-se, nesse caso, de documen- tar aquilo que foi previamente planejado e que será usado no decorrer do processo ensino-apren- dizagem, ou seja, é a consolidação das decisões to- madas a partir do planejamento. Vejamos os elementos para a elaboração desse documento. Apresentamos a estrutura de um plano de ensino na Figura 3, para exemplificar. É lógico que, na prática, cada instituição de ensino elabora seu próprio modelo de plano de ensino, mas os elementos aqui apresentados estão sempre presentes. 2.2 Os Planos: o Registro do Processo de Planejamento Sandra da Costa Lacerda Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 24 Figura 3 – Modelo de plano de ensino. O que queremos dizer com isso é que espe- ramos que, em um bom plano de ensino, encon- tremos a declaração dos objetivos que o docente pretende alcançar ao longo do curso da seleção organizada, coerente e contextualizada, de con- teúdos e conhecimentos com os quais irá trabalhar, considerando as especificidades do curso, série e disciplina, as características e expectativas da clien- tela e, sobretudo, a articulação com as áreas ou dis- ciplinas afins. Outros elementos19 fazem parte do plano de disciplina ou de ensino e não são menos importan- tes. Alguns itens relevantes: o plano apresenta coerência e logicidade em relação ao plano curricular proposto para o curso? está adaptado às necessidades e expec- tativas dos alunos? os objetivos propostos para as disciplinas são exequíveis e os meios e recursos fa- vorecem a execução? os conhecimentos (conteúdos) permi- tem que os objetivos propostos sejam alcançados? o tempo destinado ao desenvolvimento 19 Exemplos de outros elementos (informações) esperados no plano de ensino: identificação do professor; identificação da disciplina; curso em que será ministrada; duração/carga horária; classe e número de alunos; série ou semestre. Didática Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 25 dos conteúdos, em seus diversos níveis de complexidade, é suficiente para que sejam apreendidos pelos alunos? quanto à flexibilidade: embora tenhamos, a priori, planejadas todas as atividades da disciplina, o plano deve possibilitar a in- serção de novas questões, situações não previstas e que podem emergir no coti- diano da sala de aula. A curiosidade do aluno por situações ou problemas atuais pode se tornar um momento oportuno a análises e busca de respostas a ques- tionamentos, além de servir de possibili- dade de articulação dos conhecimentos, que vai se desenvolver com a realidade. Portanto, a curiosidade do aluno deve ser considerada e, na medida do possível, re- lacionada ao que se pretende construir; quanto à avaliação: devemos assumir postura diagnóstica, de modo a verificar o grau de satisfação e a eficácia das ações desenvolvidas, o real dimensionamento do que foi planejado. A avaliação, para se diminuir os níveis de complexidade e de arbitrariedade, precisa acontecer sob as mais diversas formas e, nem por isso, tem-se a garantia de ela ser justa, com- pleta e real. Para melhor entendimento, segue explicação de cada elemento: 1. objetivo(s) geral(is):ligado(s) às capa- cidades/habilidades que pretendemos desenvolver com os alunos ao final da disciplina. Exemplo: capacitar os alu- nos para a aplicação de...; proporcionar os conhecimentos básicos sobre... Es- ses objetivos estão estritamente relacio- nados aos conhecimentos da disciplina em questão; 2. objetivos específicos: estão em estreita relação com o que queremos desenvol- ver em nossos futuros alunos (capaci- dade cognitiva, habilidades e atitudes), a partir dos conteúdos específicos da disciplina. Exemplo: identificar as re- lações existentes entre...; estabelecer relações entre...; apontar as causas e consequências de...; apresentar os aspectos favoráveis e desfavoráveis de...; descrever os fatos...; construir... Como os objetivos específicos signifi- cam, num primeiro momento, o desen- volvimento das capacidades dos alunos, eles apontam para a escolha das ativi- dades, ou seja, a operacionalização. Os verbos (ações) direcionam as atividades e servem de critérios para a avaliação – verificar em que medida os objetivos fo- ram alcançados. Explicitando: é possível avaliar se o aluno conseguiu apresentar os aspectos favoráveis e desfavorá- veis de uma determinada situação ou contexto de conteúdo. Para isso, deve- mos planejar atividades em que os alu- nos tenham que, de fato, apresentar os aspectos favoráveis e desfavoráveis de...; 3. conteúdos: seleção, relação de conteú- dos que serão desenvolvidos em sala de aula. Comumente, são apresentados em forma de unidades sequenciais e com graus de dificuldade – dos mais simples aos mais complexos –, subdivididos nos bimestres letivos. Há um apontamento dos conteúdos/temas gerais que serão trabalhados no decorrer do processo ou período letivo; 4. estratégias: procedimentos ou critérios selecionados pelo professor e que serão utilizados no desenvolvimento dos con- teúdos. As estratégias20 devem facilitar a 20 Muitas estratégias e dinâmicas podem ser adaptadas às necessidades da sala de aula. Cabe ao futuro professor conhecê-las previamente e adaptá-las ao conteúdo que quer trabalhar, de modo a atingir os objetivos propostos, favorecer a aprendizagem de seus alunos, bem como construir uma avaliação mais real. A área de recursos humanos utiliza com bastante frequência, em seus programas de treinamento, dinâmicas, jogos e estratégias com fins educacionais. O professor em sala de aula pode e deve recorrer a esses recursos. Para tanto, precisa estar familiarizado com a estratégia ou dinâmica e se sentir à vontade para desenvolvê-la junto a seus alunos. Com o objetivo de auxiliar os futuros professores na diversificação de atividades, de estabelecer aulas mais dinâmicas e prazerosas, de embasar a prática avaliativa, entre outros aspectos próprios do processo ensino-aprendizagem, indicamos a seguinte bibliografia: Antunes (1992); Aubry e Saint-Arnaud (1978); Cunha (1991); Diaz Bordenave (1993); Fritzen (1991); Hoffmann (1991); Kirby (1995); Kothe (1977); Marcatto (1996); Minicucci (1992); Yozo (1996). Sandra da Costa Lacerda Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 26 aquisição de conhecimentos, o processo de aprendizagem. Inúmeras são as estra- tégias de ensino que podem ser adap- tadas aos conteúdos que pretendemos desenvolver. Para isso, basta que o futu- ro professor tenha domínio da estratégia e faça as adaptações necessárias, se for o caso. Precisamos pensar as estratégias de ensino com o intuito de favorecer a aprendizagem e atingir os objetivos propostos. Sucintamente, temos: aulas expositivas e dialogadas; trabalhos em grupos; seminários; simulações; recursos audiovisuais, entre outros. 5. recursos de ensino: normalmente estão relacionados às estratégias escolhidas para o desenvolvimento dos conteúdos. Sua utilização, de forma planejada, ga- rante ao futuro professor não somente o acesso aos recursos, como também a concretização efetiva daquilo que havia sido planejado, ou seja, a estratégia or- ganizada para aquela aula. Isso aumen- ta a probabilidade de o futuro professor não cair em improvisos na concretização das ações. Como recursos, podemos apontar: quadro de giz; cartaz; retropro- jetor; televisão; gravador; data show, en- tre outros. 6. estratégias de avaliação: pela comple- xidade do tema, trataremos deste assun- to em um tópico separado. Quadro 3 – Exemplo de plano de ensino. OBJETIVOS ESPECÍFICOS CONTEÚDO ESTRATÉGIAS DE ENSINO RECURSOS DE ENSINO AVALIAÇÃO • Descrever e analisar as principais características do conhecimento científico. • O conhecimento científico. • Aula expositiva dialogada; • Textos; • Pesquisas. • Retroprojetor; • Xerox; • Revistas de publicações científicas. • Observação; • Correção das atividades escritas e das pesquisas. Plano de unidade Podemos dizer que é semelhante ao plano de ensino, exigindo, porém, um maior detalhamento. O exemplo anteriormente apresentado pode ser compreendido como um plano de unidade, para isso basta a inserção dos itens dos conteúdos, resultando em algumas aulas. Os objetivos devem ser operacionais, apre- sentando claramente o que esperamos do aluno e, detalhadamente, qual(is) procedimento(s) ou critério(s) será(ão) utilizado(s) na avaliação. Veja- mos o mesmo exemplo: Didática Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 27 Quadro 4 – Exemplo de plano de unidade. OBJETIVOS ESPECÍFICOS CONTEÚDO ESTRATÉGIAS DE ENSINO RECURSOS DE ENSINO AVALIAÇÃO • Distinguir e analisar as características do conhecimento científico e suas relações com o ensino e as pesquisas científicas (domínio cognitivo); • Desenvolver uma proposta de estudo e um projeto científico a partir de algum conhecimento/ área específica do curso (domínio afetivo). • O conhecimento científico; • Características do conhecimento científico; • A importância do conhecimento científico no ensino; • O método científico. • Aula expositiva dialogada; • Leitura de textos; • Discussão em pequenos grupos; • Seleção de uma pesquisa científica; • Trabalho individual/ projeto. • Retroprojetor; • Xerox; • Revistas de publicações científicas. • Registro de observação da participação; • Correção das atividades (distinção/ análise e relação com o ensino e pesquisas científicas selecionadas); • Apreciação das discussões; • Correção da proposta/ projeto. Plano de aula O plano de unidade passa a ser, ainda, mais operacional quando transformado em plano de aula. Aqui, temos o pari passu do cotidiano de sala de aula, especificamente das ações previstas para cada conteúdo a ser desenvolvido em aula, seja in- tra ou extramuros. Longe de ser burocrático, reflete a preocupa- ção com a educação em âmbito geral e, em estrito, com aquilo que se pode construir com e no aluno. O ato de avaliar na vida cotidiana se dá, permanentemente, pela unidade imediata de pensamento e ação. Nesta unidade a pessoa precisa estar sem- pre pronta para identificar o que é para si o ‘verdadeiro’, o ‘correto’, opções que vão lhe indicar o melhor caminho a seguir, o que fazer. Vani Moreira Kenski 2.3 Processo de Avaliação Todo plano de ensino pressupõe proce- dimentos de avaliação. O futuro professor deve planejar quais serão os critérios que utilizará para acompanhar o processo de aprendizagem, sem perder de vista os objetivos específicos estabe- lecidos em seu plano, ou seja, se serão atingidos. Assim, deverá definir os critérios e selecionar os meios de avaliação compatíveis com os objetivos e, ao mesmo tempo, atentar às estratégias estabe- lecidas. Deve, portanto, verificar se todos esses ele- mentos encontram-se articulados. A avaliação ainda poderia ser feitapor meio de provas – dissertativas, testes orais etc. – ou por meio de observação do envolvimento do aluno na resolução das atividades, pesquisas, entre outros, que se julgarem necessários. Miguel (1999) faz uma análise da avaliação, apontando para a complexidade de valores que devem estar embutidos no processo avaliativo de maneira a garantir um melhor diagnóstico da reali- dade do processo de ensino-aprendizagem. Os va- lores que, segundo o autor, embasam a avaliação de qualidade são os seguintes: acadêmicos: devem contribuir para o desenvolvimento das atividades men- tais; Sandra da Costa Lacerda Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 28 estéticos: devem enfatizar a capacidade de percepção e admiração; vocacionais: devem orientar para a ca- pacidade de segurança e equilíbrio; práticos: devem relacionar-se à capaci- dade de produtividade, ordem e autodis- ciplina; espirituais: devem estar ligados ao de- senvolvimento das virtudes cristãs; morais: devem capacitar o desenvolvi- mento de princípios de justiça, integri- dade, tolerância, entre outros, de modo a proteger o cidadão; sociais: devem levar ao desenvolvimen- to de cooperação, amizade, companhei- rismo, tolerância e perdão, significando uma vida mais compartilhada; emocionais: devem suscitar sentimen- tos e emoções no sentido de demonstrar empatia, sensibilidade e gratidão, tor- nando a vida menos mecânica e burocrá- tica. Finalizando sua argumentação, Miguel (1999) propõe-nos uma relevante questão: “Diante de um elenco tão significativo de valores, [...] como agregá-los ao nosso trabalho?” Sobre essas questões, salientamos que é pre- ciso um (re)pensar por parte do professor, para que novos paradigmas de educação sejam construí- dos, rompendo com aqueles que consideram o aluno ser desprovido de capacidades, sentimentos, valores e potencialidades. 2.4 Resumo do Capítulo Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, analisamos a construção da intencionalidade docente, destacando a relevância do planejamento enquanto processo que mobiliza recursos para uma ação intencional e transformadora no campo da educação. A educação transformadora fundamenta-se na estreita relação homem-sociedade, evitando, assim, a visão fragmentada da realidade, que mascara a relação do homem com o mundo no qual se insere. O plano de ensino, elemento norteador da ação docente, apresente os objetivos que se preten- de alcançar ao longo do curso. Ele apresenta uma seleção organizada, coerente e contextualizada, de conteúdos e conhecimentos com os quais o professor irá trabalhar, considerando as especificidades do curso, série e disciplina, as características e expectativas da clientela e, sobretudo, a articulação com as áreas ou disciplinas afins. Por fim, buscando direcionar as próximas etapas do planejamento, temos a avaliação. Ela subsidia o trabalho do professor, que a partir dos resultados analisa as necessárias mudanças nos rumos da ativida- de pedagógica. Lembramos que a avaliação precisa estar profundamente ligada aos objetivos expostos no planejamento. Vamos, agora, avaliar a sua aprendizagem. Didática Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 29 1. O plano de ensino é elaborado pelos professores para registrar sua proposta de trabalho. Quais são os principais elementos que devem constar desse documento? 2. O processo de avaliação é fundamental no planejamento. O futuro professor deve planejar quais serão os critérios que utilizará para acompanhar o processo de aprendizagem, sem per- der de vista os objetivos inicialmente propostos. Miguel (1999) indica alguns valores que de- vem ser considerados quando se fala em avaliação. Quais são eles? 2.5 Atividades Propostas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 31 Os espectadores não têm sentido a não ser quando deixam de ser assis- tentes passivos para se tornarem atores transformadores de sua própria história. Bertold Brecht 3 A RELAÇÃO DIDÁTICA Caro(a) aluno(a), Vamos refletir! Você se lembra das aulas a que assistia quan- do entrou para a escola? Lembra-se positivamente de algum professor em especial? Como ele agia? O que o faz lembrar-se dele? Sabemos que o estudo da Didática é o que acontece na aula, ou seja, o ensino, por isso vamos, a partir de agora, analisar a relação didática. 3.1 Os Componentes da Relação Didática Um ou mais alunos (ou qualquer outro aprendiz): por exemplo, os alunos de uma determinada classe; Um ou mais professores (ou qualquer outro mediador): por exemplo, o titular da classe; A definição das intenções do encon- tro: por exemplo, a intenção de pôr em ordem os dados pluviométricos colhidos durante observações realizadas pelos alunos dessa série durante os meses de fevereiro e março; pode-se tratar, tam- bém, de buscar um significado para es- ses dados; Um conteúdo ou “objeto” da relação didática (em geral identificado como um “saber”, mas o “saber” não é o ob- jeto padrão da relação didática; pode ser outro): por exemplo, um procedi- mento matemático para calcular médias aritméticas, a fim de organizar os dados do levantamento pluviométrico realiza- do por esses alunos durante dois meses do ano escolar; As interações entre os alunos e o con- teúdo: por exemplo, uma série de per- guntas e de concepções desses alunos a propósito do conceito de “média” e do “procedimento de cálculo da média arit- mética”; As interações entre o professor e o conteúdo: por exemplo, a construção, pelo professor, de situações que permi- tam aos alunos, com suas concepções, abordar efetivamente o conceito de mé- dia e o procedimento de cálculo da mé- dia aritmética; AtençãoAtenção O ponto de partida de toda relação didá- tica é a intenção, alimentada por alguém (em geral, um professor), de estabele- cer as condições para que uma ou vá- rias outra(s) pessoa(s) (em geral, alunos) aprendam com êxito um conteúdo de aprendizagem (em geral conteúdos, se- jam ou não saberes, relativos a uma disci- plina escolar). Sandra da Costa Lacerda Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 32 As interações entre o professor e os alu- nos, independentemente do conteúdo: por exemplo, instruções para a organi- zação do trabalho em equipes, de modo que cada aluno tenha pelo menos uma tarefa a realizar no interior da equipe; As interações diretas entre o professor e os alunos a propósito do conteúdo: por exemplo, discussões entre o profes- sor e dois alunos a propósito dos proce- dimentos que utilizam para tratar a situa- ção que têm de enfrentar; As interações mediatizadas entre o professor, os alunos e o conteúdo: por exemplo, a utilização, pelos alunos, de fichas de manipulação preparadas pelo professor para efetuar os cálculos de mé- dia; O material didático: por exemplo, um fichário realizado pelos alunos e conten- do as fórmulas aritméticas e exemplos de situações nas quais essas fórmulas são utilizadas; Um tempo: por exemplo, o horário esco- lar dentro do qual o professor e os alunos fixaram a duração de sua atividade; Um espaço: por exemplo, um local de aula; Um contrato didático: por exemplo, a divisão de responsabilidades entre os alunos sobre as tarefas a serem realiza- das a propósito da descoberta de um procedimento para calcular uma média aritmética, mas, também, as expectativas que professores e alunos têm uns em re- lação aos outros a propósito dessa tarefa; O acaso: por exemplo, a ausência do alu- no que guardou o levantamento pluvio- métrico dos cinco primeiros dias da últi- ma semana de observação; isso exigirá calcular a média sobre uma base diária, ao invés de uma base semanal. A partir dos componentes elencados, perce- be-se que a relação didática é determinada:
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