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1 Música, Musicoterapia, Estresse e Sistema imunológico Music, Music Therapy, Stress and Immune System Aluno: Cruz GLa Orientador: Leite SJSb a: Greco Lacerda Cruz - Faculdades Metropolitanas Unidas b: Prof. MS. Sandro José da Silva Leite - Faculdades Metropolitanas Unidas Resumo: Os benefícios da música para a saúde, em especial, examinando seus efeitos psicológicos e neurológicos, já têm sido bastante documentados, mas a relação entre música, emoção, estresse e o sistema imunológico e qual o papel da Musicoterapia nessa interface, ainda carece de estudos. Objetivo: Este trabalho se propõe a pesquisar livros, estudos e publicações que evidenciam: (1) a influência das emoções ao afetar o equilíbrio dos hormônios relacionados ao aumento ou diminuição do estresse, como DHEA e Cortisol, por exemplo; (2) a associação da música com respostas imunes; (3) as modulações existentes entre os sistemas nervoso, endócrino e imunológico ao serem estimulados por música, tanto em processo musicoterapêutico quanto fora deste; (4) variabilidade de atividades que envolvem a música como agentes em processos terapêuticos; (5) a gama de áreas em que a Musicoterapia pode ser útil como estímulo positivo ao sistema imunológico; (6) a urgência e a possibilidade abertas para que musicoterapeutas busquem especialização na área da imunologia. Os objetivos elencados aqui, além de aventarem desafios para pesquisas posteriores, salientam a conexão entre música, emoções e sistema imunológico e evidenciam a Musicoterapia como Ciência que pode aliar conhecimentos de diversas áreas em benefício da imunidade natural em pacientes que estão passando por quadros patológicos em que a elevação do estresse se torna um agente nocivo na recuperação. Palavras-chave: Emoções, Estresse, Hormônios, Música, Musicoterapia, Sistema Imunológico Abstract: The benefits of the music for health, in particular, examining its psychological and neurological effects, it have already been well documented, but the relationship between the music, emotion, stress and the immune system and what the role of Music Therapy in this interface, still lacks studies. Objective: This work of search aims to investigate bibliographies, studies and reviews that show: (1) the emotions’ influence by affecting the balance of hormones related to increase or decrease the stress, as DHEA and Cortisol, for example; (2) the association of music with immunological responses; (3) the modulations existing between the nervous, endocrine and immune systems when stimulated by music in a music therapy process and out of it; (4) variability of activities that involves music as an agent in therapeutic processes; (5) the range of areas in which music therapy may be useful as a positive stimulus to the immune system; (6) the urgency and open possibility for that music therapists search specializations in the immunology field. The objectives listed here, in addition to presenting challenges for future researches, emphasizes the connection between music, emotions and immune system and evidence Music Therapy as a science that can combine knowledge of several areas in benefit of the natural immunity in patients who are going through pathological states where the elevation of stress becomes a harmful agent in the recovery. Keywords: Emotions, Hormones, Immune System, Music, Music Therapy, Stress. 2 1. Introdução: O desequilíbrio, a supressão da atividade imunológica e o aumento das células anormais resultam no crescimento de doenças como o câncer, doenças autoimunes e doenças psicossomáticas, dentre outras. É sabido, como veremos, no decorrer deste trabalho, através de estudos neuropsicológicos, que o estresse e a depressão causam supressão da atividade imunológica pelo desequilíbrio emocional e hormonal. Esse trabalho se propõe a demonstrar que a Musicoterapia, como destaca Berrocal (2008, p. 128) [...]também pode influir positivamente no sistema imunológico humano, entre outras razões, por sua capacidade de relaxamento e ser um bom antídoto contra o estresse. Sabe-se que este aumenta a produção de cortisol, adrenalina e noradrenalina, os quais reprimem o sistema imunológico. Primeiramente, a pesquisa aqui proposta tem interesse em estimular pesquisadores, principalmente na área da Musicoterapia, a considerar a urgência de novas e rigorosas pesquisas de âmbito experimental que possam corroborar com o crescimento desta Ciência como coadjuvante importante das modulações neuroimunoendocrinológicas e pretende abrir a reflexão sobre a especialização de musicoterapeutas nesta área. Para isso, é relevante que se faça uma comparação e análise daquilo que já tem surgido no universo científico, de forma que seja possível selecionar quais estudos são mais importantes como base para a musicoterapia se firmar, ainda mais no terreno clínico, estabelecendo a principal diferença entre musicoterapia e música-medicina: “a condução de um processo terapêutico por um terapeuta que tem o domínio das ferramentas sonoro-musicais.” (Gattino; Sorrentino; Vaccaro, 2010, p. 124). Em segundo lugar, observemos que a Musicoterapia teve seus primórdios como Ciência justamente quando, ao levarem músicos da comunidade, tanto amadores como profissionais, para tocar para os veteranos que sofreram traumas físicos e emocionais das guerras, os médicos perceberam respostas físicas e emocionais notáveis dos pacientes expostos à música e isso levou-os a solicitar a contratação de músicos pelos hospitais. Atualmente, as Neurociências e as pesquisas com música e musicoterapia apontam com evidências que essa melhora nos quadros patológicos se deve, como sugerem Davis, Feller e Thaut (2008), à relação que a geração de neurotransmissores têm com o sistema imunológico. Desta forma, quando se escuta a música adequada, pode ocorrer a melhora na imunidade. Berrocal (2008) cita diversos estudos científicos que demonstram a incidência da música e da musicoterapia no sistema imunológico. 3 No decorrer do presente texto, procura-se explicitar, com base nos estudos das Neurociências, os efeitos que a música e a Musicoterapia exercem sobre as emoções e quais as implicações disto com relação à diminuição do estresse e a melhora do Sistema Imunológico. O farto material neurocientífico relacionando a música à sua ação no cérebro tem servido como base para vários dos estudos que serão aqui abordados. 2. Metodologia Com base nisso, in loco, foi proposto uma busca de publicações impressas em bibliotecas e indexadas nas bases de dados LILACS, American Association for Music Therapy, ScIELO, HeartMath Institute, Journal of Music Therapy (Oxford University Press), Medline, COCHRANE, Research Gate, Elsevier, Google Acadêmico, dentre outros, segundo os descritores: "music therapy", "music", “music therapy and immune system”, "immunology" e "immunologic". Como resultado, foram selecionados 24 estudos correlacionados com os objetivos traçados e que, além disso, trazem bases da psiconeuroimunologia que corroboram com o processo musicoterapêutico. O tema vigente neste projeto poderá servir como base para outras pesquisas, tanto bibliográficas quanto experimentais, que poderão sedimentar a Musicoterapia como recurso clínico plenamente estabelecido através das práticas musicoterapêuticas, com vistas ao estímulo do sistema imunológico para acelerar o processo terapêutico de pacientes em plena recuperação. 3. O Sistema Imunológico Humano e o Estresse: 3.1 O que é o Sistema Imunológico? “A palavra imunologia é derivada do Latim immunis ou immunitas cujo significado é ‘isento de carga’. O status de uma resistência específica a umadeterminada doença é chamado de imunidade.” (Silva, 2001, p. 7). O sistema imunológico é responsável pela defesa e limpeza do organismo. Isso acontece porque alguns tipos de vírus e seres vivos podem atuar como patógenos, ou seja, podem causar prejuízos ao organismo humano. Conforme Kawamoto et al (2012), é possível encontrar o Sistema Imune em qualquer e todo lugar no corpo, já que é formado por células imunes especializadas que se encontram distribuídas através da corrente sanguínea, mas há lugares no corpo em que estas células estão particularmente concentradas, são os linfonodos e o baço. 4 É no baço e nos linfonodos que o Sistema Imune lança uma resposta quando se tem uma infecção. O Sistema Imunológico tem a finalidade de manter a Homeostasia do organismo. De acordo com Teva, Fernandez e Silva (2010), a imunologia é uma ciência recente. Sua origem é atribuída, por alguns autores, a Edward Jenner que, em 1796, verificou proteção induzida pelo cowpox (vírus da varíola bovina) contra a varíola humana, nomeando tal processo de: vacinação. No entanto, é sabido que, na Antiguidade, os chineses já inalavam o pó das crostas secas das pústulas de varíola ou as inseriam em pequenos cortes na pele, em busca de proteção. 3.2 Neuroimunoendocrinologia A Neuroimunoendocrinologia resulta da integração de três disciplinas: a neurociência, a endocrinologia e a imunologia. Tem como finalidade a investigação e compreensão das interações entre o sistema nervoso, endócrino e imune para a manutenção da homeostase corporal e para o seu restabelecimento durante condições patológicas (Lourenço, 2016). Evidências experimentais demonstram que o sistema nervoso central (SNC) interfere na resposta imunológica e que o sistema imune exerce influência sobre o SNC. Assim, há uma comunicação e interação entre tais sistemas envolvendo uma modulação recíproca. A resposta neuroendócrina controla a inflamação em nível sistêmico pelo eixo hipotálamo – hipófise – adrenal (HHA), que em geral possui um efeito anti-inflamatório dos glicocorticóides secretados pelo córtex da adrenal; pelo eixo hipotálamo – hipófise – gonadal (HHG) através dos hormônios secretados pelas gônadas; e pelo eixo hipotálamo – hipófise – tireóide através dos hormônios tireóideos. Estímulos estressores nos afetam, agindo por meio da relação entre esses três sistemas. O conhecimento dessa relação pode facilitar o entendimento de como a Musicoterapia pode ser útil na redução do estresse e, consequentemente, na recuperação do equilíbrio homeostático. A música, como ferramenta principal da Musicoterapia, desempenha um importante papel no sistema nervoso e, por extensão, nos sistemas endócrino e imunológico, como pode ser visto, atualmente, em diversos estudos que veremos mais abaixo. 3.3 O Estresse De acordo com Lourenço (2016), o estresse é constituído por um conjunto de eventos desencadeados por estímulos internos ou externos ao organismo, denominados estressores, que perturbam o equilíbrio homeostático e se forma pela percepção do estímulo, processamento; e resposta do SNC. Os estímulos considerados estressores podem afetar o ser humano de diversas formas, sendo: tóxicos (exposição a substâncias químicas ou 5 radiação); infecciosos; lesões físicas por trauma; condições adversas (frio, calor excessivo, atividade física intensa, perda de sono); ou estressores psicológicos. A resposta ao estresse envolve vários eventos fisiológicos e comportamentais para que seja restabelecida a homeostase. Tal resposta se inicia com a ativação do sistema nervoso autônomo (SNA) e do eixo hipotálamo – hipófise – adrenal (HHA). Existem estudos relevantes sendo desenvolvidos no sentido de demonstrar o impacto que as emoções desempenham no sistema imunológico, visto que estas podem interferir no funcionamento do eixo HHA, levando ao desequilíbrio hormonal. A razão principal deve-se aos resultados de alguns desses estudos que demonstram alterações no equilíbrio dos hormônios relacionados ao aumento ou diminuição do estresse, como DHEA e Cortisol, por exemplo. Besel (2006), comentando sobre o trabalho de vários pesquisadores, reitera que no setor de cuidados intensivos e do hospital, de um modo geral, a ansiedade é referida como um estado emocional desagradável associada com os numerosos fatores de estresse que bombardeiam o paciente constantemente. Segundo o autor, os trabalhos que pesquisou indicaram a relação entre ansiedade e alterações no tônus autonômico e diminuição da resposta imune, o aumento da carga de trabalho do miocárdio, e aumento da coagulação. Além disso, foi encontrado um aumento da morbidade e mortalidade em pacientes criticamente doentes ansiosos. Veremos mais adiante como a música e a Musicoterapia podem se inserir como coadjuvantes, já que são poderosos agentes emocionais na redução dos níveis de estresse, com o que concorda Bruscia (2016, p. 36) ao salientar que a Musicoterapia “também é utilizada em tratamentos anti-estresse” e, consequentemente, na estimulação benéfica do sistema imunológico. 4. Música e sistema imunológico: 4.1 Os efeitos psiconeuroimunológicos da música: Nos últimos anos, as neurociências têm trazido um grande enriquecimento para as pesquisas sobre os efeitos da música no ser humano, ao evidenciar que a melhora nos quadros patológicos dos pacientes expostos a sua ação se deve às modulações ocorridas entre o sistema nervoso central, o sistema endócrino e o sistema imunológico, ou seja, a escuta da música adequada pode trazer a melhora na imunidade (Davis, Feller e Thaut 2008). 6 Fancourt, Ockelford e Belai (2014) iniciaram a primeira tentativa de rever sistematicamente publicações sobre a psiconeuroimunologia da música. Além dos sessenta e três estudos publicados nos últimos vinte e dois anos, uma variedade de efeitos da música sobre neurotransmissores, hormônios, citocinas, linfócitos, sinais vitais e imunoglobulinas, bem como avaliações psicológicas foram relacionados pelos autores. A pesquisa destaca o papel principal das vias de estresse ao vincular música a uma resposta imune. A importância desse estudo se deve ao fato de que, ao empreender a pesquisa, observaram a presença de vários desafios e, por isso, apresentaram um novo modelo que fornece um quadro para o desenvolvimento de uma taxonomia de variáveis musicais relacionadas ao estresse no projeto de pesquisa, rastreando assim as grandes vias que estão envolvidas na sua influência sobre o corpo. Esse estudo, inclusive, ajudou a nortear o desenvolvimento do presente artigo e, além disso, pode ser um bom guia para que pesquisas posteriores, nesta área, evoluam em termos de planejamento, organização e minuciosidade. Recentes interesses sobre os efeitos químicos e biológicos da música foram resumidos em duas avaliações. Chanda e Levitin (2013) apresentaram uma visão geral dos efeitos neuroquímicos da música, fazendo referência às alterações imunológicas. A pesquisa ganhou atenção na imprensa popular como prova evidente de que a música pode impulsionar o sistema imunológico e tem a chave para o bem-estar. No entanto, devido à falta de uma organização sistemática e tendo como foco especificamente as respostas neuroquímicas, apenas metade dos estudos de avaliação relativos à psiconeuroimunologia da música, e ao que se refere a um terço dos biomarcadores imunes, foram testados no que diz respeito à música. É importante salientar que, mesmo que o foco principal não tenha sido os biomarcadores imunes, houve resultados que corroboram que a música pode ser um fator importante a se considerar no estímulo dos sistemasenvolvidos na homeostase corporal e, especificamente, no fortalecimento do sistema imunológico. Kreutz et al (2012, p. 457) trazem uma visão geral sobre os efeitos psiconeuroendocrinológicos da música, a fim de testar a hipótese "de que os processos psicológicos associados com experiências musicais podem levar a mudanças nos sistemas hormonais do cérebro e do corpo”. O estudo examinou o impacto da música em apenas cinco biomarcadores (cortisol, ocitocina, testosterona, beta-endorfina e imunoglobulina A). Em nenhum dos estudos discutidos, observaram-se achados fisiológicos ou psicológicos paralelos. Isto levou Kreutz et al. (2012, p. 471) a concluir que "muito mais esforços de investigação devem ser realizados para 7 determinar os padrões emergentes de alterações que foram relatados na literatura disponível". Estes estudos abrangem importantes aspectos da psiconeuroimunologia, mas uma revisão sistemática abrangente sobre música e psiconeuroimunologia é oportuna. Esta teria como objetivo consolidar as principais conclusões obtidas nos estudos já realizados, comparar teorias sobre os mecanismos por trás dos efeitos da música e destacar as lacunas no conhecimento atual, ajudando a orientar o foco de estudos futuros. Em particular, uma revisão sistemática pode identificar quaisquer desafios que hoje impedem o progresso da pesquisa e, através da apresentação de um novo modelo, ajudar a ultrapassar estes obstáculos, que é o que se propõe o estudo de Fancourt, Ockelford e Belai (2014), citado anteriormente. Estes mesmos autores afirmam que a música, como um termo, pode ser utilizada amplamente para se referir aos materiais e abordagens utilizadas em uma série de diferentes intervenções, e que são relevantes para definir alguns dos seus parâmetros mais especificamente. Isso ocorre porque o estilo de música, a forma como é apresentada e as atitudes pessoais para com ela podem ser variáveis cruciais com potencial para alterar as respostas psiconeuroimunológicas. Considerar essas variáveis em relação a estudos específicos, é útil para o esclarecimento na discussão de estudos posteriores. 4.2 Respostas Imunológicas Leardi et al (2007), ao investigarem o papel da musicoterapia em aliviar o estresse durante o dia da cirurgia, constataram que musicoterapia no período perioperatório mudou a resposta ao estresse neuro-hormonal e imune para o dia da cirurgia, especialmente quando o tipo de música foi escolhida pelo paciente. Eles propuseram a avaliação, a partir de três grupos de 20 pacientes cada, sendo que o grupo 1 ouviu new age e o grupo 2 ouviu uma música escolhida a partir de quatro estilos dados. Estes grupos ouviram música antes e durante a cirurgia e o grupo 3, de controle, somente os sons normais da sala. Os resultados demonstraram que os níveis de cortisol plasmáticos diminuíram durante a operação em ambos os grupos de pacientes que ouviram a música, mas aumentaram no grupo controle. Os níveis de cortisol no pós-operatório foram significativamente maiores no grupo 1 do que no grupo 2. Os níveis de células natural killer diminuíram durante a cirurgia nos grupos 1 e 2, mas aumentaram no grupo controle. Durante o período intra-operatório os níveis de células natural killer foram significativamente menores no grupo 1 do que no grupo 3. Fancourt, Ockelford e Belai (2014) identificaram oito estudos que relataram a investigação de citocinas, embora em um deles não foi encontrado nenhum resultado devido à quebra de citocinas no plasma antes que pudessem ser analisados. Dos sete estudos restantes, a 8 interleucina-6 apresentou os maiores níveis de resposta, mudando significativamente em quatro dos cinco estudos em que foi testada. Quando investigaram imunoglobulinas e outras respostas imunes, constataram que treze estudos examinaram o efeito da música nas imunoglobulinas. A imunoglobulina A (IgA) foi o anticorpo mais pesquisado (n = 12). Destes estudos, oito relataram um aumento no nível de IgA após uma série de intervenções musicais com uma ampla variedade de estilos e géneros. Em outro estudo, houve aumento de IgA quando a música foi apreciada e quando os participantes estiveram ativamente envolvidos na sua produção. É necessário que estes resultados sejam replicados, pois existe necessidade de uma investigação mais aprofundada. 4.3 Humor positivo e sistema imunológico Uma linha de pesquisa interessante remete o uso da música como estímulo para evocar o humor positivo. Nessa linha, Koelsch et al (2016) conseguiram resultados promissores ao observar como o impacto do estresse agudo age sobre hormônios e citocinas, e como a sua recuperação é afetada pela música, evocando o humor positivo. O procedimento de indução de humor positivo neste estudo desempenhou um papel causal para a modulação dos níveis de cortisol após o teste de esforço, fornecendo a primeira evidência de que a indução de humor positivo leva a respostas mais adequadas ao estresse, como refletido nos níveis de cortisol expostos nos resultados colhidos. Os dados mostraram que o estresse agudo (CO2) afeta funções endócrinas, imunes e metabólicas em seres humanos, e que o humor desempenha um papel causal na modulação de respostas ao estresse agudo. McCraty et al (1998) fornecem evidências para apoiar a hipótese de que mudanças favoráveis no sistema nervoso autônomo e funções imunológicas derivam de modulações positivas produzidas no humor e estados emocionais dos sujeitos. Este estudo investigou tensão, humor e clareza mental diante do impacto de diferentes tipos de música em indivíduos. Um total de 144 adultos e adolescentes completaram um perfil psicológico antes e depois de ouvir por 15 minutos quatro tipos de música: rock grunge, clássica, new age e designer music (música “Speed of Balance”, um tipo especial de música criada especialmente para aumentar as emoções positivas em terapias). A música “rock grunge” produziu aumentos significativos na hostilidade, cansaço, tristeza e tensão e levou a significativas reduções de afeto, relaxamento, clareza mental e vigor. Em contraste, a designer music produziu significativos aumentos em todas as escalas positivas: 9 afeto, relaxamento, clareza mental e vigor. Diminuições significativas foram produzidas em todas as escalas negativas: hostilidade, cansaço, tristeza e tensão. Ambos os adultos e adolescentes foram afetados negativamente pela música rock grunge e positivamente pela designer music, com pouca diferença entre as respostas dos dois grupos. Os resultados para new age e música clássica foram variados. Kreutz et al (2004) demonstraram a diferença dos efeitos psicofisiológicos entre cantar num coral e ouvir música coral. Encontraram diferentes padrões de mudanças para S-IgA (secretory immunoglobulin A), cortisol e estado emocional dos indivíduos no que diz respeito às duas condições experimentais. O canto levou a uma diminuição no humor negativo e um aumento no humor positivo e S-IgA, mas não afetou as respostas de cortisol. A escuta, por outro lado, levou a um aumento no humor negativo, uma diminuição no cortisol, sem mudanças significativas no humor positivo e S-IgA. Estes resultados suportam a hipótese de que canto coral influencia emoções positivas, bem como funções imunológicas em seres humanos. 5. Musicoterapia e Sistema Imunológico: Com relação à intervenção musicoterapêutica, é importante observarmos que, dado o crescimento das pesquisas em Musicoterapia, ampliaram-se as áreas de investigação dessa ciência mas, apesar disso, há um déficit de pesquisas relacionadas ao sistema imunológico. Constatamos que essa carência é maiorquando se trata de literatura científica em língua portuguesa, no entanto é possível encontrar estudos relevantes, em outros idiomas, que indicam que a musicoterapia é um importante aliado no fortalecimento do sistema imunológico. Para isso, é preciso mantermos em mente aquilo que foi exposto no capítulo um, com relação aos sistemas envolvidos em situações de estresse. Em um estudo desenvolvido por Le Roux, Bouic e Bester (2007), é possível analisar os efeitos da música de coral durante o tratamento de fisioterapia respiratória sobre: a) o estado emocional, b) respostas neuroendócrinas, c) as funções imunológicas e d) funções pulmonares de pacientes com doenças que causam infecção pulmonar. Eles afirmam que doenças pulmonares infecciosas são frequentemente associadas com as emoções negativas que se desenvolvem devido a mudanças fisiológicas, enquanto que o Magnificat in D major de J. S. Bach, por exemplo, comunica não só uma emoção positiva de felicidade, mas também o comportamento motivacional. Através da neuroimunoendocrinologia, é possível observar como a ação hormonal dos eixos hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA) pode ser negativamente afetada por emoções de raiva e depressão. Isto irá resultar numa perturbação da interação mente-corpo. Música, portanto, pode exercer uma influência poderosa com benefícios 10 terapêuticos, alterando o estado psicológico e as funções imunoendócrinas. Apesar deste estudo ter sido conduzido por outros profissionais da área de saúde, esse tipo de prática se encaixa naquilo que Bruscia (2016) chama de prática aumentativa de nível auxiliar, se referindo aos níveis existentes nas áreas práticas da Musicoterapia. Os resultados mostraram que a diferença entre o grupo experimental e de controle foi estatisticamente significativa em relação ao cortisol. O cortisol é conhecido por ter atividade imunossupressora sobre o funcionamento das células brancas do sangue. Isso implica que, após a intervenção com música e tratamento de fisioterapia, o grupo experimental teria melhorado mais drasticamente quando comparado com o grupo de controle. Outros parâmetros que fundamentam a observação acima incluem os resultados do cortisol em relação ao DHEA no grupo experimental, em que essa proporção foi significativamente reduzida no final da experiência, ao passo que no grupo-controle essa proporção havia aumentado. A diferença também foi estatisticamente significativa. Novamente, o aumento do cortisol em relação ao DHEA (como observado no grupo de controle), tanto implica um aumento do cortisol quanto um decréscimo no nível de DHEA, ou ambos. Isto, indiretamente, indica uma maior supressão no estado imune do paciente, uma vez que o DHEA contrabalança a atividade de supressão imunológica de cortisol. Além disso, o parâmetro imune das células T CD4/CD8, em proporções de células, revelou uma diferença significativa entre o grupo experimental no terceiro dia de tratamento, ao passo que a proporção no grupo de controle tinha diminuído durante o mesmo período de tempo. A diferença entre os grupos foi estatisticamente significativa. Mais uma vez, um aumento na razão entre as células T CD4 e CD8 implica um estado menos suprimido e este é clinicamente relevante para o resultado de um estado infeccioso. Este estudo indica que as nossas emoções, sistema imunológico e sistema nervoso, conceitualmente, formam um todo indivisível, e isso também demonstra a comunicação entre o corpo, mente e emoções. Os resultados da pesquisa fornecem comprovação suficiente para concluir que a modulação imunológica através da música funcional específica é capaz de fornecer uma ação emocional positiva e melhor função pulmonar. Os dados da pesquisa confirmam o valor curativo da música dentro de ambos os aspectos psicossociais e biomédicos das doenças pulmonares infecciosas. Com respeito à musicoterapia, Ferreira (2003) analisa vários autores que dão indicativos da música como meio de expressão emocional, o que nos dá evidências de que a eficácia da expressão emocional, por meio da música, se concretizará tanto para os sentimentos negativos quanto para os sentimentos positivos, ambos podendo resultar em energia 11 revigorada, que por sua vez implicará fortalecimento do sistema imunológico da criança portadora de câncer. A partir do exposto, a autora comenta ser possível introduzir um modelo Corpo/Mente de recuperação, através de intervenções musicoterapêuticas: Anteriormente, acreditava-se que o sistema imunológico respondia somente ao sistema autônomo. Entretanto, Lourenço (2016) comenta que ele responde também ao sistema nervoso e ao sistema endócrino. Como consequência, os eventos ambientais anteriormente respondidos somente pelo sistema nervoso e o sistema endócrino, agora podem extrair respostas do sistema imune. Apoiada nesta premissa, foi feita uma pesquisa realizada por Silva (2008) com adolescentes portadores de câncer que, ao serem questionados sobre os efeitos da música em suas vidas, os pacientes relataram que a música lhes proporciona bem- estar físico e emocional, bem como momentos de distração. Cabe ressaltar que essas sensações se fazem necessárias e devem ser mantidas durante a hospitalização, já que podem proporcionar um fortalecimento do indivíduo, durante a situação vivenciada. No decorrer desse estudo, a autora discorre sobre as bases de que a música pode ser entendida como uma atividade que pode minimizar a ansiedade, o medo e a angústia, melhorando o sistema imunológico, visto que, como comenta Lima (2014), os pacientes oncológicos passam por vários níveis de estresse e angústia emocional, o que provoca a degradação da qualidade de vida. A pesquisa de campo teve duração de três meses, com um total de 16 sessões grupais. Fizeram parte do estudo 28 pacientes com faixa etária variando entre 12 e 19 anos e 4 membros da equipe de enfermagem. Lima (2014, p. 82) reitera as premissas da pesquisa feita por Silva, ao salientar que “a música pode diminuir o estresse, aumentar a autoestima, transformar o alívio imediato da dor em algo mais duradouro, facilitando o tratamento de crianças e adultos com câncer.” Conrad et al. (2007) demonstraram que, em comparação com um grupo-controle, a aplicação de música (neste caso, os movimentos lentos de sonatas para piano de Mozart) agiu como um redutor expressivo da quantidade de sedativos que, normalmente, são necessários para atingir um estágio satisfatório de sedação em pacientes críticos. Outro fato importante é que no sangue dos pacientes expostos aos estímulos musicais houve um aumento do hormônio do crescimento, redução dos níveis de interleucina-6 e epinefrina. A queda detectada nos níveis hormonais sistêmicos do estresse associou-se com um nível expressivamente mais baixo da pressão arterial e da frequência cardíaca. Estes pesquisadores, dessa forma, apresentaram uma via neuroimunoendocrinológica por meio da qual a música pode exercer 12 seu efeito sedativo. Há uma interação entre o eixo hipotálamo-hipófise e medula adrenal através de mediadores do sistema imune inespecífico. Os cientistas também têm pesquisado os efeitos de grupo de canto, e os resultados mostram benefícios para o humor, os níveis de estresse, e até mesmo o sistema imunológico. Pesquisadores na Alemanha usaram questionários e amostras de saliva, antes e depois, para comparar os efeitos de cantar música coral em relação a apenas ouvi-la. Eles descobriram que o canto elevou o humor e estimulou a atividade do sistema imunológico (Wong, Gaab e Schlaug, 2015). Pauwels et al (2014), ao se referirem à audição musical, comentam que a música pode modular a respostaimune, entre outras coisas, evidenciada pelo aumento da atividade de células natural killer, linfócitos e interferon-γ. O que é uma característica interessante é que muitas doenças estão relacionadas a um sistema imunológico desequilibrado. Muitos destes estudos clínicos, no entanto, sofrem de insuficiências metodológicas. No entanto, neste momento, existem provas moderadas, embora não completamente convincentes, de que ouvir música conhecida e do gosto pessoal ajuda a reduzir o peso de uma doença e melhora o sistema imunológico, modificando de situação de estresse para estabilidade homeostática. A audição musical é uma das atividades que faz parte da experiência receptiva, conforme reiterada por Bruscia (2016) e pode atuar como redutor de estresse ou tensão, além de outros benefícios relacionados com a melhora do humor de pacientes em situações patológicas críticas. Em um texto, pertinente, da Revista Peruana de Pediatria, Cabrera (2005), discorrendo sobre Musicoterapia, na unidade pediátrica de cuidados intensivos, comenta sobre a melhora do sistema imunológico. O texto apresenta a Musicoterapia como um suporte emocional que permite ao paciente prover-se de um espaço e um tempo onde tem a oportunidade de expressar-se. A música como agente relaxante e por sua função comunicativa, dará ao paciente a oportunidade dele comunicar suas emoções em um contexto em que se sinta ouvido, facilitando seu processo de adaptação a sua nova realidade. O efeito relaxante diminui indiretamente a percepção dolorosa e o estresse. O controle da dor e da ansiedade terá um efeito positivo sobre o sistema imunológico, melhorando o estado biológico do paciente. Avers, Mathur e Kamat (2007) concordam com Cabrera quando comentam que a Musicoterapia tem sido usada principalmente como uma intervenção para controlar estados emocionais, na gerência da dor, processamento cognitivo e gestão do estresse. Estresse está associado com aumento da produção de cortisol, hormônio do estresse, que é conhecido por suprimir as respostas imunes. Segundo eles, diversos estudos nas últimas décadas têm 13 demonstrado um efeito positivo da Musicoterapia na redução do estresse ou para aumentar as respostas imunes, ou ambos. Musicoterapia, portanto, deve ser considerada como uma adição valiosa ao padrão de modalidades terapêuticas farmacológicas por melhorar a resposta imune e por reduzir os níveis de estresse em tais condições. Em relação à modulação da emoção e seus efeitos no sistema imunológico, Koelsch (2009) salienta que estudos utilizando neuroimagem funcional mostraram que a música pode modular a atividade de todas as principais estruturas do cérebro límbico e paralímbico, isto é, de estruturas crucialmente envolvidas na iniciação, geração, manutenção, cancelamento, e modulação das emoções. O autor reitera que estas conclusões têm implicações para abordagens musicoterapêuticas no tratamento de transtornos afetivos, como depressão, ansiedade patológica e transtorno de estresse pós-traumático (PTSD), porque esses distúrbios são, em parte, relacionados à disfunção de estruturas límbicas, tais como a amígdala, e estruturas paralímbicas, tais como o córtex órbito frontal. Esse fator também está intimamente ligado a efeitos fisiológicos periféricos: Emoções sempre têm efeitos sobre o sistema vegetativo (ou autônomo) nervoso, o sistema hormonal (endócrino) e o sistema imunológico. O conhecimento sistemático dos efeitos que o ouvir música e o fazer música têm sobre esses sistemas ainda carece de estudos mas, por causa do poder da música para evocar e modular emoções, é concebível que a Musicoterapia possa ser usada para o tratamento de doenças relacionadas com disfunções e desequilíbrios dentro desses sistemas. O autor comenta sobre a importância de acrescentar que os processos emocionais sempre têm efeitos sobre o sistema nervoso vegetativo, bem como sobre o sistema hormonal, o que, por sua vez, modula a atividade do sistema imunológico. Todos estes efeitos são potencialmente relevantes para aplicações de processos musicoterapêuticos porque abrem a possibilidade de utilização de música para conseguir o efeito benéfico em pacientes com doenças autonômicas, endócrinas, ou (auto) imunológicas. No entanto, a investigação sistemática dessas possibilidades está em defasagem. Koelsch et al (2016), em um estudo mais recente, argumentam que vários estudos laboratoriais com participantes saudáveis relataram reduções de cortisol em resposta à música (sem um estressor), em comparação com um grupo-controle. Em geral, parece que uma diminuição no cortisol é mais provável durante música tranquilizante, com uma redução no humor negativo, e em ambientes de Musicoterapia, enquanto que um aumento nos níveis de cortisol é mais provável quando a música é percebida como vitalizante, ou quando os indivíduos estão fisicamente ativos. Além disso, vários estudos mediram os níveis de cortisol na saliva após um estressor. O autor destaca que dois estudos observaram níveis mais baixos de cortisol em um grupo de música de escuta (em relação ao grupo silêncio) e um estudo 14 relatou níveis mais altos de cortisol pós-estressor em um grupo de música (em comparação com um grupo escutando o som de água ondulando). Assim, os efeitos de humor (evocados por música), em respostas de cortisol ao estresse, não são bem compreendidos, pelo menos, não no contexto de estudos laboratoriais. Em contextos clínicos, ouvir música antes, durante e depois das intervenções médicas tem sido relatado para correlação com os níveis mais baixos de cortisol, associados com reduções de ansiedade (Chanda e Levitin, 2013 e Bradt, Dileo e Shim, 2013). No que diz respeito a parâmetros imunes, há escassez de estudos de música investigando os efeitos da música sobre citocinas (Fancourt, Ockelford e Belai 2014), e, segundo Koelsch et al (2016), apenas dois estudos com um design de grupo-controle investigaram efeitos da música sobre Imunoglobulina A. Os autores acrescentam que sua pesquisa visa a esclarecer mais sobre os efeitos da música em relação às funções imunológicas e interações entre cortisol e parâmetros imunes. Insights sobre os mecanismos psicológicos associados com a função imune são particularmente relevantes em relação aos transtornos do humor, como depressão, e no que diz respeito a doenças somáticas com componentes afetivos, como doenças crônicas do sistema imunológico. Okada et al (2009), relatam que Musicoterapia (MT) tem sido utilizada em hospitais de cuidados geriátricos, mas não houve uma investigação extensa sobre se realmente possui efeitos benéficos em pacientes idosos com doença cerebrovascular (DCV) e demência. Os autores comentam os efeitos da MT sobre o sistema nervoso autônomo e citocinas plasmáticas e níveis de catecolaminas em pacientes idosos com DCV e demência, uma vez que estes estavam relacionados ao envelhecimento e doenças crônicas geriátricas. Também investigaram os efeitos da MT sobre eventos de insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Oitenta e sete pacientes com DCV pré-existentes foram incluídos no estudo. Os pacientes foram distribuídos em um grupo de MT (n = 55) e grupo de não-MT (n = 32). O grupo de MT recebeu MT pelo menos uma vez por semana durante 45 minutos mais de 10 vezes. A atividade autonômica cardíaca foi avaliada pela variabilidade da frequência cardíaca (VFC). Foram medidas as citocinas plasmáticas e os níveis de catecolaminas no grupo de MT e grupo de não-MT. Foi comparada a incidência de eventos ICC entre estes dois grupos. No grupo de MT, os parâmetros rMSSD, pNN50, e HF foram significativamente aumentados por MT, enquanto que LF/HF foi ligeiramente diminuída. Nogrupo não-MT, não houve significativas alterações em quaisquer parâmetros de VFC. Entre as citocinas, interleucina-6 (IL-6) do plasma, no grupo de MT, foi significativamente menor do que aqueles no grupo não-MT. Níveis plasmáticos de adrenalina e noradrenalina foram significativamente menores no grupo MT do que no grupo não-MT. Eventos ICC foram menos frequentes no grupo MT do que no grupo não-MT. Estes achados sugerem que MT reforçou atividades parassimpáticas e diminuiu o ICC, através da redução dos níveis de citocinas plasmáticas e catecolaminas. 15 A evolução da Musicoterapia como ciência e a busca por novas alternativas terapêuticas que demonstrem eficácia como coadjuvantes no fortalecimento das defesas naturais do corpo, têm levado ao aumento do interesse em recentes pesquisas relacionadas à música e à Musicoterapia, como vistas aqui, não só com relação a pacientes geriátricos, mas com vários tipos de pacientes, assim como salientam Yamasaki et al (2012), ao discorrer sobre as influências da música no metabolismo humano, por exemplo, em como conseguir uma melhor compreensão das variações em função do sexo na resposta metabólica. A música tem implicações importantes para a utilização diferenciada de Musicoterapia em populações de pacientes distintos. O campo da música, Musicoterapia e da medicina está fazendo pertinentes avanços em direção a uma apreciação mais profunda da música e os mecanismos fisiológicos, através do qual ela tem seu efeito. Na investigação contínua do potencial da música para induzir e restaurar respostas metabólicas, há muito a ser entendido para criar um caminho para a utilização eficaz das intervenções musicais na prática clínica e urge a compreensão de como o processo musicoterapêutico pode contribuir para melhorar o funcionamento do sistema imunológico. Estudos que investiguem, por exemplo, se há diferença dos efeitos causados no sistema imunológico por instrumentos de cordas em relação a instrumentos de percussão. Rodas de tambores foram parte de rituais de cura em muitas culturas em todo o mundo, desde a Antiguidade. Apesar das rodas de tambores estarem ganhando crescente interesse como uma estratégia terapêutica complementar na arena de medicina tradicional, existem limitados dados científicos documentando benefícios biológicos associados com atividades de percussão. Em um estudo, Bittman et al (2001) se propuseram a determinar o papel do grupo de percussão na Musicoterapia, como uma atividade composta com potencial para a alteração de hormônios relacionados ao estresse e aprimoramento de medidas imunológicas específicas associadas à atividade das células natural killer e imunidade mediada por células. Para isso, foi realizada uma intervenção experimental de avaliação única, com grupos de controle. O grupo de percussão resultou em índices de aumento das células natural killer, e aumento da atividade das células natural killer ativadas por linfocina sem alteração na interleucina 2 plasmática ou interferon-gama, ou na Escala de Ansiedade Beck e a Escala II de Depressão de Beck. A conclusão do estudo é que o grupo de percussão é uma intervenção complexa composta com o potencial para modular os parâmetros neuroendócrinos e neuroimunes específicos numa direção oposta à esperada com a resposta ao estresse clássico. 16 Na importante pesquisa de Fancourt, Ockelford e Belai (2014) sobre psiconeuroimunologia da música, citada no capítulo anterior, foram selecionados sessenta e três estudos publicados nos últimos 22 anos. Dentre estes estudos, alguns se referem à aplicação da música em um processo musicoterapêutico além de uma gama de efeitos da música sobre os neurotransmissores, hormônios, citocinas, linfócitos, sinais vitais e imunoglobulinas, bem como a avaliações psicológicas. Lembramos que, na pesquisa, eles analisaram o papel central das vias de estresse em associar a música a uma resposta imune. No entanto, os autores relataram diversos desafios para esta pesquisa, conforme anotados a seguir: (1) existe muito pouca discussão sobre os possíveis mecanismos pelos quais a música está alcançando seu impacto neurológico e imunológico; (2) os estudos tendem a examinar biomarcadores isoladamente, sem levar em consideração a interação entre os biomarcadores em questão com outras atividades fisiológicas ou metabólicas do corpo, levando a uma clara compreensão do impacto que a música pode estar tendo; (3) os termos não estão sendo definidos de forma suficientemente clara, tais como distinções não estão sendo feitas entre os diferentes tipos de estresse e 'música', sendo usado para englobar um amplo espectro de atividades, sem determinar quais aspectos do envolvimento musical são responsáveis por alterações nos biomarcadores. Neste contexto, eles apresentaram um novo modelo que fornece uma estrutura para o desenvolvimento de uma taxonomia das variáveis musicais relacionados ao estresse no projeto de pesquisa e traçando os caminhos amplos que estão envolvidos na sua influência sobre o corpo. Os autores trazem uma visão que pode ajudar a planejar os estudos que virão posteriormente nessa área mas, além disso, trouxe, também, uma grande contribuição no sentido de termos um panorama geral sobre como andam as pesquisas que relacionam música, Musicoterapia, estresse e sistema imunológico e quais descobertas já foram feitas no sentido de reforçar a aplicação do processo musicoterapêutico para melhora e potencialização do sistema imunológico diante de quadros patológicos leves ou, até mesmo, graves. Como podemos observar, a Musicoterapia é um recurso terapêutico para o estresse e outros estados psicopatológicos e fisiológicos, já que se apresenta como uma nova forma de enfrentamento. Com base no que já foi exposto anteriormente, a Musicoterapia pode corroborar estreitamente para o equilíbrio psicofisiológico, com o que concorda Pol (2010). 6. Considerações finais: Após os levantamentos feitos pela análise dos trabalhos explorados nessa pesquisa, o que se configura aqui é que já existe material documental suficiente para que se compreenda a importância da Música e das experiências musicoterapêuticas no contexto clínico e 17 biopsicossocial. Apesar dessa premissa, é evidente que os estudos que têm surgido geram outros problemas que precisam ser solucionados, mas o caminho está aberto para que surjam mais especialistas preocupados em trazer novas soluções para o progresso da ciência musicoterapêutica no campo da imunologia. Sabe-se, conforme comenta Berrocal (2008), que a música é capaz de modificar nossos ritmos fisiológicos, de alterar nosso estado emocional e de mudar nossa atitude mental. Os estudos aqui apresentados delineiam-se apenas para apresentar a ponta do iceberg, já que, como vimos, há resultados relevantes, mas também existem muitas dúvidas e lacunas a serem sanadas. A metodologia apresentada demonstrou ser satisfatória para que tenhamos um panorama geral do que já existe em termos de trabalhos científicos que relacionam música, Musicoterapia e sistema imunológico. É possível vislumbrar um amplo caminho a percorrer em busca de mais entendimento dos variados efeitos musicais e de como eles podem corroborar para o aperfeiçoamento dos processos musicoterapêuticos. Resta, agora, o empenho em aperfeiçoar métodos, organizar procedimentos para que nenhum parâmetro deixe de ser observado e atentar para não se perder o senso crítico. É necessário seriedade nas análises pois, do contrário, pode-se incorrer no erro de cair nas armadilhas místicas e esotéricas, visto que a música está ligada aos processos invisíveis do inconsciente e pode, presumivelmente, pela má interpretaçãode alguns, levar a visões equivocadas que não trazem nenhuma relevância para o progresso da Musicoterapia como Ciência. Referências: 1. BERROCAL, J. A. J. Música y neurociencia: la musicoterapia sus fundamentos, efectos y aplicaciones terapéuticas. 1. ed. Barcelona: Editorial UOC, 2008. 155 p. Bibliografia comentada: p.128. ISBN 978-84-9788-762-5. 2. GATTINO, G. S., SORRENTINO, J. M., VACCARO, T. S., Evidências dos efeitos da musicoterapia no Sistema imunológico humano. In: Encontro de Pesquisa Em Musicoterapia, 10., out. 2010, Salvador-BA. Anais do X ENPEMT. Salvador: Assossiação Baiana de Musicoterapia, 2010. p. 124-130. 3. DAVIS, W., FELLER G., THAUT M. An introduction to music therapy theory and practice. 3 ed. 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