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MAT047: Ana´lise combinato´ria Professor John MacQuarrie Os nu´meros de Catalan Uma outra sequeˆncia de nu´meros que aparece como a soluc¸a˜o de problemas combinato´rios diversos e´ a sequeˆncia dos nu´meros de Catalan Cn. Considere uma rede n× n assim (no desenho, n = 8): (0, 0) (n, n) Primeira questa˜o (fa´cil): quantos caminhos de (0, 0) a (n, n) existem na rede em quais podemos mudar ou para cima ou pra direita? Por exemplo, um caminho poss´ıvel na rede acima e´: (0, 0) (n, n) R: Para ir de (0, 0) a (n, n), temos que fazer exatamente n passos para cima e n passos pra direita, enta˜o temos que fazer 2n passos em total. Vamos marcar os passos com ∗’s: ∗ ∗ ∗ ∗ . . . ∗ ∗︸ ︷︷ ︸ 2n Para escolher um caminho, temos que escolher exatamente n das ∗’s para ser os passos para cima (C). As outras sera˜o os passos pra direita (D). No exemplo acima, o caminho corresponde a` escolha D C C D D C D D D C C C C C D D 1 Enta˜o, em total, existem exatamente( 2n n ) caminhos. Mas agora, vamos colocar a condic¸a˜o extra que nossos caminhos nunca po- deriam passar em cima da diagonal x = y. O caminho acima na˜o satisfaz esta condic¸a˜o: (0, 0) (n, n) Seja Cn o nu´mero de caminhos que nunca passam em cima da diagonal. Este nu´mero Cn e´ o n-e´simo nu´mero de Catalan. A demonstrac¸a˜o do valor de Cn usa um truque engenhoso chamado “o princ´ıpio da reflexa˜o”. Se lembre um fato ba´sico de conjuntos: Lema. A func¸a˜o α : Ω → Θ e´ bijetiva se, e somente se, existe uma func¸a˜o β : Θ→ Ω (a inversa de α) tal que as composic¸o˜es βα : Ω→ Ω , αβ : Θ→ Θ sa˜o as func¸o˜es identidades. Demonstrac¸a˜o. Vamos so´ mostrar uma direc¸a˜o: que se α possui inversa, enta˜o α e´ uma bijec¸a˜o. α injetiva: Suponha que α(x) = α(y) (x, y ∈ Ω). Enta˜o x = βα(x) = βα(y) = y logo α e´ injetiva. α sobrejetiva: Pegue z ∈ Θ qualquer. Enta˜o z = αβ(z) = α(β(z)) enta˜o α manda um elemento de Ω (nomeadamente β(z)) para z, logo α e´ sobrejetiva. Ja´ que α e´ injetiva e sobrejetiva, segue que α e´ bijetiva. Exerc´ıcio: mostre a outra direc¸a˜o – que se α e´ bijetiva, enta˜o existe uma inversa de α. 2 O princ´ıpio da reflexa˜o se manifeste na pro´xima demonstrac¸a˜o: Teorema. Temos Cn = ( 2n n ) − ( 2n n− 1 ) . Demonstrac¸a˜o. Ja´ observamos que existem exatamente ( 2n n ) caminhos de (0, 0) a (n, n) sem restric¸o˜es. Vamos contar quantos “caminhos maus”CMn existem, que passam em cima da linha y = x. Teremos Cn = ( 2n n )− CMn. Vamos mostrar que existe uma bijec¸a˜o entre os conjuntos {Caminhos maus de (0, 0) a (n, n)} ←→ {Caminhos de (0, 0) a (n− 1, n+ 1)} Funciona assim: pegue um caminho mau de (0, 0) a (n, n). Ja´ que ele passa em cima da linha y = x, marca o ponto a onde ele cruza para cima pra primeira vez: (0, 0) (n, n) • a primeira vez em cima Agora o truque: fazemos uma reflexa˜o na linha y = x + 1 de toda parte do caminho a partir deste ponto: (0, 0) (n, n) • a primeira vez em cima •(n− 1, n+ 1) 3 Observe que o caminho total (normal ate´ a)− (refletida a partir de a) e´, de fato, um caminho de (0, 0) a (n− 1, n+ 1), pois (n− 1, n+ 1) e´ a reflexa˜o de (n, n) na linha y = x+ 1. Defina a func¸a˜o α : {Caminhos maus de (0, 0) a (n, n)} → {Caminhos de (0, 0) a (n− 1, n+ 1)} por mandar o caminho mau pro caminho definido assim. Noutra direc¸a˜o, pegue um caminho de (0, 0) a (n− 1, n+ 1). Ja´ que o ponto (n− 1, n+ 1) fica em cima da linha y = x, ele tem que passar em cima da linha y = x. Seja a o primeiro ponto onde ele passa para cima. Podemos de novo fazer uma reflexa˜o da parte deste caminho saindo de a, para obter um caminho de (0, 0) a (n, n): (0, 0) (n, n) • a •(n− 1, n+ 1) Ja´ que o caminho refletido passa por a, que fica em cima da linha y = x, o caminho obtido e´ um caminho mau. Obtemos assim uma func¸a˜o β : {Caminhos de (0, 0) a (n− 1, n+ 1)} → {Caminhos maus de (0, 0) a (n, n)} . E´ fa´cil confirmar que a func¸a˜o β e´ a func¸a˜o inversa de α, pois βα e αβ sa˜o as func¸o˜es identidades (β “desfaz”o que α faz e α “desfaz”o que β faz). Logo α e´ uma bijec¸a˜o. Isto e´, o nu´mero CMn dos caminhos maus igual ao nu´mero dos caminhos de (0, 0) a (n− 1, n+ 1). Quantos caminhos de (0, 0) a (n− 1, n+ 1) existem? Ainda temos que fazer (n− 1) + (n+ 1) = 2n passos em total. Para escolher um caminho, temos que escolher as posic¸o˜es dos n− 1 passos a` direita. Enta˜o, existem ( 2nn−1) caminhos. Concluindo enta˜o, Cn = ( 2n n ) − CMn = ( 2n n ) − ( 2n n− 1 ) . 4 Podemos simplificar a fo´rmula um pouco: Corola´rio. Temos Cn = 1 n+ 1 ( 2n n ) . Demonstrac¸a˜o. E´ so´ manipular a fo´rmula do teorema. Cn = ( 2n n ) − ( 2n n− 1 ) = ( 2n n ) − (2n)! (n− 1)!(n+ 1)! = ( 2n n ) − n · (2n)! n!(n+ 1)! = ( 2n n ) − n n+ 1 · (2n)! n!n! = ( 2n n ) − n n+ 1 · ( 2n n ) = ( 1− n n+ 1 )( 2n n ) = 1 n+ 1 ( 2n n ) . Exemplo. Temos C4 = 1 5 ( 8 4 ) = 1 5 · 70 = 14. Os caminhos sa˜o: Mais um problema cuja soluc¸a˜o e´ os nu´meros de Catalan (tera´ outros na lista): 5 Exemplo. No dia de “super-promoc¸a˜o”do cineˆma, o filme custa so´ (!) 10 reais. Uns 10 pessoas querem formar uma fila para pagar. Daquelas pessoas, 5 esta˜o com uma nota de 10 reais, e as outras 5 esta˜o com uma nota de 20 reais. A caixa na˜o tem troco nenhum. Quantas filas as pessoas poderiam formar em quais todo mundo que precisar de troco vai recebe´-lo na hora de pagar? R: Denotam as pessoas com nota de dez por “D”e as pessoas com nota de vinte por “V ”. A fila 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 D V D V V D D V D V na˜o serve: pessoa 2 vai receber o troco de pessoa 1, e pessoa 4 vai receber o troco de pessoa 3. Mas depois de pessoa 4 o troco acabou, enta˜o pessoa 5 na˜o vai poder receber o seu troco de 20 na hora de pagar. A condic¸a˜o da fila e´ que em nenhum subintervalo 1, . . . , s (1 6 s 6 10) temos estritamente mais V do que D (a fila acima na˜o serve pois no intervalo 1 a 5 tem 3 pessoas V e somente 2 pessoas D). Agora, troque perspectiva: se pensamos em V sendo “mudar para cima”e D sendo “mudar pra direita”, enta˜o uma fila corresponde a um caminho de (0, 0) a (5, 5). O caminho correspondente a` fila dada sera´: D V A condic¸a˜o dada e´ equivalente a` condic¸a˜o que o caminho nunca pode passar em cima da linha y = x. Logo o nu´mero das filas poss´ıveis (de V e D) e´ igual a C5 = 1 6 ( 10 5 ) = 42. Para cada escolha de fila das V ’s e D’s, as pessoas V podem se permutar a vontade e as pessoas D podem se permutar a vontade, enta˜o o nu´mero das filas poss´ıveis e´: 42 · 5! · 5! = 604.800. 6
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