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Professor Daniel Roman Romero Mateljan e Colaboradores: Amanda Selvátici dos Santos, Anna Caroline Leão de Souza, Arlindo Gonzaga Branco Júnior, Ingrid Evellen Franco Lima, Moisés Samuel Gonçalves Oliveira e Poliana Maziero Monge, Grupo de Estudos em Semiologia e Clínica (GESEC), Editora UNISL, 2017. SSEEMMIIOOLLOOGGIIAA DDOO AABBDDOOMMEE SEMIOLOGIA DO ABDOME SUMÁRIO Capítulo 1: Anamnese, ectoscopia e sinais vitais ............................................................. 04 Capítulo 2: Sinais e sintomas gastrointestinais e Inspeção e Ausculta do abdome ........... 13 Capítulo 3: Percussão e Palpação do abdome..................................................................... 21 Capítulo 4: Doenças do Esôfago ........................................................................................ 37 Capítulo 5: Doenças do Estômago e do Duodeno .............................................................. 41 Capítulo 6: Doenças Inflamatórias Intestinais .................................................................... 48 Capítulo 7: Hepatopatias .................................................................................................... 58 Referências ......................................................................................................................... 70 4 AMANMESE Ingrid Evellen Franco Lima Aspectos gerais Compreender que a anamnese é a parte mais importante da medicina, e sem dúvidas, imprescindível. Pois, é devido à mesma que a relação médico-paciente se estabelece, resultando em uma boa investigação a cerca de possíveis problemas de saúde do paciente. A anamnese tem a finalidade de gerar hipóteses diagnósticas e condutas terapêuticas corretas. Porém, se mal coletada nem a ampla série de exames complementares resolverá o problema do paciente, levando ao erro diagnóstico e tornando a qualidade do trabalho médico reduzida. Ao conversar com o paciente, o médico tem como objetivo reconstruir fatos e resgatar lembranças que contribuam para a investigação da saúde do paciente. No diálogo o médico precisa realizar uma triagem, buscando encontrar situações anormais à saúde do individuo entrevistado. Objetivos da anamnese - Estabelecer a relação médico-paciente; - Investigar determinantes epidemiológicos do paciente que influenciam no processo saúde-doença; - Fazer a história clínica do problema de saúde atual do paciente, de forma detalhada e cronológica; - Avaliar com detalhes os sintomas de cada sistema corporal; - Avaliar o estado de saúde passado e presente do paciente; - Avaliar aspectos pessoais, familiares, ambientais, socioeconômicos, culturais e hábitos de vida que contribuem no processo saúde-doença do paciente. Semiotécnica da anamnese Elementos que fazem parte da anamnese: 1. Identificação Dados sociodemográficos, individuais e coletivos do paciente. A palavra anamnese tem o significado de trazer de volta à mente todos os fatos que correlacionem à doença e o indivíduo. 5 2. Queixa Principal (QP) É o motivo principal da procura ao atendimento médico. A QP pode ser uma breve frase contendo, geralmente, um sinal ou um sintoma. Sendo anotada de acordo com as expressões usadas pelo paciente, usando entre aspas para indicar que se trata das palavras exatas citadas pelo mesmo. 3. História da Doença Atual (HDA) Consiste em uma descrição detalhada e cronológica do problema atual da saúde do paciente. Deve-se escolher um sintoma guia (sinal ou sintoma que facilite na montagem da história), comumente é utilizado o relato da queixa principal como sintoma guia. A HDA deve ser anotada com termos médico, não mais de acordo com a fala do paciente. Tudo que o paciente citar a cerca do sintoma deve ser anotado, dedicando-se em fazer uma história coerente. Exemplo de HDA: Paciente refere que há 3 dias iniciou tosse produtiva com expectoração inicialmente esbranquiçada, que se tornou amarelada, abundante e fétida. A tosse melhora com “chás caseiros” e piora com o tempo de frio. Relata febre diária (não medida) e dor torácica difusa associada. Nega dispneia. Refere que os sintomas pioraram há 1 dia e que não consegue trabalhar. Início Duração Fator desencadeante Localização Intensidade Irradiação Agravantes Atenuantes Concomitantes Evolução Situação atual Esquema para avaliar sintoma. Cada sintoma tem suas características semiológicas. 6 4. Interrogatório Sintomatológico da Doença Atual (ISDA) Consiste em realizar uma revisão dos sistemas, com a finalidade de complementar a HDA. No ISDA são anotadas: a presença ou ausência de sintomas relevantes a cada um dos principais sistemas corporais. Esquematização proposta para analisar o ISDA Exemplos Sintomas gerais Febre, astenia, sudorese, cãibras. Pele e fâneros Alterações na pele e fâneros. Cabeça e pescoço Alterações em olhos, ouvidos etc. Tórax alterações da forma do tórax, nódulos na mama, dispneia, edema. Abdome Diarreia, esteatorreía, hemorragia digestiva, distensão abdominal Sistema Geniturinário Alterações miccionais, cor da urina Sistema hemolinfopoético Astenia, hemorragias, adenomegalias Sistema endócrino Alterações no desenvolvimento físico, sexual, hiperfunção, hipofunção Coluna vertebral, ossos, articulações e extremidades. Deformidades ósseas, limitação de movimentos. Músculos Fraqueza muscular, atrofia muscular, cãibras, espasmos musculares Arterias, veias, linfático e microcirculação Alterações de temperatura da pele, alterações tróficas, edema, alterações de sensibilidade. Sistema nervoso Distúrbios da consciência, amnésia, distúrbios de marcha, distúrbios do sono, Exame psíquico e avaliação das condições emocionais Consciência, orientação, pensamento, memória, inteligência, sensopercepção. 7 5. Antecedentes Pessoais e Familiares Avalia o estado de saúde passado e presente do paciente. Investiga também os fatores pessoais e familiares que influenciam no processo saúde – doença. 6. Hábitos de vida Listar hábitos de vida e comportamentos do paciente: Antecedentes Pessoais FISIOLÓGICOS Gestação e nascimento - Como decorreu a gravidez - Uso de medicamentos - Condições de parto - Ordem do nascimento - Número de irmãos 4. 5. Desenvolvim ento psicomotor e neural 6. Desenvolvim ento sexual Antecedentes Pessoais FISIOLÓGICOS Desenvolvimento psicomotor e neural - Dentição - Engatinhar e andar - Fala - Desenvolvimento físico - Controle dos esfíncteres - Aproveitamento escolar 1. 2. Desenvolvim ento psicomotor e neural 3. Desenvolvim ento sexual Antecedentes Pessoais FISIOLÓGICOS Desenvolvimento sexual - Puberdade - Menarca (1ª menstruação) - Sexarca (1ªrelação sexual) - Menopausa - Orientação sexual 7. 8. Desenvolvim ento psicomotor e neural 9. Desenvolvim ento sexual Antecedentes Pessoais PATOLÓGICOS - Doenças sofridas pelo paciente (na infância e fase adulta) - Alergias - Cirurgias - Traumatismo - Transfusões sanguíneas - História obstétrica - Vacinas -Medicamentos em uso Antecedentes Familiares -Estado de saúde de familiares - Caso de falecimentos - Doenças hereditárias - Alimentação; - Atividade física; - Ocupação profissional (ocupação atual e anteriores); - Consumo: tabaco, bebidas alcoólicas, substâncias e drogas ilícitas. 8 7. Condições socioeconômicas e culturais Avaliar condições de habitação do paciente, vínculos familiares, condições financeiras, atividades de lazer, religião e escolaridade. SINAIS VITAIS Os sinais vitais expressam o funcionamento e as alterações dos órgãos e/ou sintomas mais relacionados com a manutenção da vida. Quando o examinador for avaliar os sinais vitais, deve analisar algumas condições que podem causar anormalidades durante a coleta dos sinais vitais. Condições do equipamento Calibrados e adequados ao pacientes Condições ambientais Condições pessoais Temperatura Tensão emocional, alimentação e exercício físico Se houver anormalidades, é preciso levar em consideração o evento ocorrido de cada situação. São considerados como sinais vitais o pulso, o ritmo e a frequência respiratórios, a pressão arterial e a temperatura corporal. 1. PULSO O aparelho circulatório e o próprio funcionamento do coração podem ser avaliados pela análise das pulsações arteriais, venosas e capilares. Em geral faz-se a análise do pulso radial, mas pode palpar o pulso carotídeo, braquial, femoral, poplíteo, tibial anterior, tibial posterior e pedioso. 1.1 CARACTERÍSTICAS SEMIOLÓGICAS DO PULSO Estado da parede arterial Achados normais Achados anormais Parede lisa Sem tortuosidades Deprime-se facilmente Parede endurecida Tortuosa Irregular Frequência Adultos Valor de referência Taquisfigmia 60 a 100 batimentos por minuto (bpm) >100 bpm 9 Bradisfigmia <60 bpm Crianças Valor de referência 80 a 120bpm Bebês Valor de referência 100 a 160 bpm Lactentes Valor de referência 120 a 130 bpm Ritmo *Avaliar sequência das pulsações. A irregularidade do pulso indica arritmia. Intervalos iguais Intervalos variáveis Ritmo regular Ritmo irregular Amplitude ou magnitude *É avaliada pela sensação captada em cada pulsação. Amplo Mediano Pequeno Tensão ou dureza *Avalia-se pela compreensão progressiva da artéria. Pulso Mole Compreensão para interromper as pulsações for pequena ou suave. Pulso Duro Compreensão para interromper as pulsações for grande ou forte. Pulso de tensão mediana Compreensão intermediária Tipos de onda Pulso normal Pulso célere Pulso parvus Pulso filiforme Pulso alternante Pulso paradoxal 10 2. RITMO E FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIOS Ritmo e frequência respiratórios normais caracterizam-se pela sucessão regular de movimentos respiratórios, com amplitude de profundidade de 16 a 20 incursões por minuto (IRPM), em pessoas adultas, situação denominada eupneia. Existem fatores que podem alterar a frequência respiratória, como: Drogas, doenças crônicas pulmonares, estresse, sexo, posição, idade e exercícios. Ritmos respiratórios anormais: Respiração dispneica: Respiração desconfortável. Respiração de Cheyne-Stokes: Ritmo regular com alternância de apneia e hiperventilação. Respiração de Biot: Respiração com frequência variável, com presença de apneia. Respiração de Kussmaul: Inspirações profundas seguidas de pausas e Expirações curtas seguidas de pausas. Respiração supirosa: Inspiração mais profunda seguida de uma expiração mais demorada. Frequências normais Recém nascidos 40 a 45 irpm Lactentes 25 a 35 irpm Pré escolares 20 a 35 irpm Escolares 18 a 35 irpm Adultos 16 a 20 irpm Irpm = incursões por minuto 3. PRESSÃO ARTERIAL (PA) Consiste na força exercida pelo sangue sobre as paredes dos vasos. Está relacionada com o trabalho do coração, o débito cardíaco, a elasticidade da parede dos grandes vasos, a resistência periférica, a volemia e a viscosidade sanguínea. A pressão arterial é medida em milímetros de mercúrio (mmHg). O primeiro número, de maior valor, corresponde à pressão sistólica, enquanto o segundo, de menor valor, corresponde à pressão diastólica (a Pressão Arterial sistólica é registrada entes da diastólica). Não há um valor preciso de pressão normal, mas, em termos gerais, diz-se que o valor de 120/80 mmHg é o valor considerado ideal para um adulto jovem, entretanto, medidas até 140 mmHg para a pressão sistólica e 90 mmHg para a diastólica também podem ser aceitas como normais. 11 Durante a contração do ventrículo esquerdo a pressão está no seu valor máximo, sendo chamada pressão sistólica ou máxima. Durante o relaxamento do ventrículo esquerdo a pressão está no seu valor mínimo ou basal, sendo chamada pressão diastólica ou mínima. O local mais comum de verificação da pressão arterial é no braço, usando como ponto de ausculta a artéria braquial. Contudo a pressão também pode ser aferida na perna. Os equipamentos usados são o esfigmomanômetro e o estetoscópio. Medição da Pressão Arterial de acordo com a Sociedade Brasileira de Hipertensão: 1. Obter a circunferência aproximadamente no meio do braço. Após a medida selecionar o manguito de tamanho adequado ao braço. 2. Colocar o manguito, sem deixar folgas, 2 a 3 cm acima da fossa cubital. 3. Centralizar o meio da parte compressiva do manguito sobre a artéria braquial. 4. Estimar o nível da pressão sistólica pela palpação do pulso radial. O seu reaparecimento corresponderá à pressão sistólica. 5. Palpar a artéria braquial na fossa cubital e colocar a campânula preferencialmente ou o diafragma do estetoscópio sem compressão excessiva. 6. Inflar rapidamente até ultrapassar 20 a 30 mmhg o nível estimado da pressão sistólica, obtido pela palpação. 7. Proceder à deflação lentamente (velocidade de 2 mmhg por segundo). 8. Determinar a pressão sistólica pela ausculta do primeiro som (fase I de Korotkoff), que é, em geral, fraco seguido de batidas regulares, e, após, aumentar ligeiramente a velocidade de deflação. 9. Determinar a pressão diastólica no desaparecimento dos sons (fase V de Korotkoff). 10. Auscultar cerca de 20 a 30 mmhg abaixo do último som para confirmar seu desaparecimento e depois proceder à deflação rápida e completa. 11. Se os batimentos persistirem até o nível zero, determinar a pressão diastólica no abafamento dos sons (fase IV de Korotkoff) e anotar valores da sistólica/diastólica/zero. 12. Sugere-se esperar em torno de um minuto para nova medida. 13. Informar os valores da pressão arterial obtido para o paciente. 14. Anotar os valores exatos sem “arredondamentos” e o braço em que a pressão arterial foi medida. Hipotensão postural: queda da PA sistólica > 20mmHg na posição ereta. - PA Convergente: a sistólica e a diastólica têm valores próximos; - PA Divergente: a sistólica e a diastólica têm valores afastados. 12 4. TEMPERATURA A temperatura do interior do corpo permanece quase constante, em uma variação de no máximo 0,6 ºC, mesmo quando exposto a extremos de frio ou de calor, graçasao aparelho termorregulador. A temperatura da parte externa do corpo, ao contrário, está sujeita às variações das condições ambientais. A temperatura corporal é regulada pelo sistema nervoso (hipotálamo) por meio do equilíbrio entre produção e perda de calor. Há diferentes locais para se medir a temperatura corporal: Temperatura axilar: 35,5 a 37ºC, com média de 36º C a 36,5ºC Temperatura bucal: 36ºC a 37,4ºC Temperatura retal: 36ºC a 37,5ºC (0,5ºC maior que a temperatura axilar). 4.1.FEBRE Corresponde à temperatura corporal acima da faixa da normalidade. Tendo em vista a intensidade, a febre pode ser classificação como: Febre leve ou febrícula: até 37,5 ºC Febre moderada: 37,6 a 38,5ºC Febre alta ou elevada: acima de 38,6 ºC Padrões de febre: Contínua ou sustentada: constante, variações até 1º C. Remitente: constante, variações > 1º C. Sem apirexia. Intermitente: picos de febre espaçados com níveis de temperatura normal (em 24h). Recorrente: episódios febris espaçados por valores aceitáveis (> 24 horas). 13 SINAIS E SINTOMAS GASTRINTESTINAIS, INSPEÇÃO E AUSCULTA DO ABDOME Poliana Maziero Monge 1. SINAIS E SINTOMAS GASTRINTESTINAIS Esôfago Disfagia: Refere-se à dificuldade na deglutição. É classificada como orofaríngea ou alta quando há a dificuldade na saída do alimento da cavidade oral, podendo ocorrer aspiração traqueobrônquica deste. É classificada como esofágica ou baixa quando há a sensação de parada do bolo alimentar no esôfago, podendo ocorrer a partir de uma obstrução de natureza orgânica ou alteração motora. Odinofagia: É a dor que surge com a ingestão de alimentos. Tem localização retroesternal, sendo ora mais alta e ora mais baixa, podendo ser relatada como ardente, em punhalada, constritiva ou espasmódica. Está presente na pirose, na esofagite péptica e na herpética, na candidíase esofágica e na actínica e nas ulcerações agudas produzidas por medicamentos. Pirose: Vulgarmente conhecida como azia ou queimação, é sintoma patognomônico do refluxo gastresofágico. Comumente tem localização retroesternal e é percebida ao nível do apêndice xifoide, podendo propagar-se para outras regiões. Sua causa está na irritação ou inflamação da mucosa esofágica devido ao refluxo gastresofágico, o qual, por sua vez, associa-se comumente a doença péptica e à estase gástrica. Dor Esofágica: É a dor que não depende da ingestão de alimentos, como na odinofagia, podendo ser provocada por mudança do pH intraluminal decorrente do refluxo gastresofágico, atividade motora anormal e processos inflamatórios ou neoplásicos da parede do esôfago. Pode ser facilmente confundida com a dor da isquemia miocárdica, sendo que nem sempre é fácil diferenciá-las. Regurgitação: Significa o retorno do alimento ou secreções contidas no estômago para a cavidade oral, diferenciando-se do vômito pela ausência de náuseas e da participação dos músculos abdominais. Suas causas podem ser mecânicas (estenoses, neoplasias, divertículo faringoesofágico, e obstrução da luz do esôfago por alimento) ou motoras (megaesôfago chagásico, acalasia idiopática e o espasmo difuso do esôfago). Sialose, Sialorreia ou Ptialismo: Produção excessiva de secreção salivar, sendo observada nas esofagopatias obstrutivas de modo geral e no esôfago chagásico. 14 Hematêmese: É a denominação dada ao vômito com a presença de sangue, caracterizando hemorragia digestiva alta. A causa mais comum de sangramento esofágico é o rompimento de varizes, sendo normalmente volumoso e com sangue não digerido. Pode ocorrer também em neoplasias e úlceras esofágicas. Estômago Dor: É o sintoma mais frequente das doenças estomacais. A dor epigástrica costuma aparecer em doenças inflamatórias ou neoplásicas que acometem a camada serosa do estômago, como a úlcera péptica, a gastrite aguda e o câncer gástrico. Quando estruturas retroperitoneais são acometidas, a dor pode ser percebida também na região dorsal do tronco. Dispepsia: Refere-se a um conjunto de sintomas do TGI superior, sendo portanto tratada como uma síndrome. A síndrome dispéptica é composta por dor ou desconforto epigástrico, acompanhado de empanzinamento, sensação de distensão abdominal por gases, pirose, saciedade precoce, náuseas, vômitos, intolerância a alimentos gordurosos e eructações. Conforme o quadro clínico, pode ser classificada em 3 tipo: tipo refluxo, tipo úlcera e tipo dismotilidade. Náuseas e Vômitos: Frequentemente estão associados à dor em portadores de úlceras ou gastrite, a bile está ausente ou presente em pequena quantidade e os alimentos presentes foram ingeridos recentemente. Quando há grande quantidade de bile, pensa-se em obstrução intestinal alta. Presença de grande quantidade de alimentos ingeridos horas antes indica estase gástrica. Intestino Delgado Diarreia: É definida como o aumento do teor líquido das fezes e da quantidade de evacuações (mais de três em 24h). Para o raciocínio diagnóstico, informações sobre as características clínicas da diarreia são essenciais: se a queixa se trata realmente de diarreia; a duração da diarreia; o volume, a consistência e o aspecto das fezes; a frequência das evacuações; a presença ou ausência de gases ou cólicas abdominais associadas; o cheiro das fezes; se há a presença ou ausência de sangue, restos de alimentos que normalmente são digeríveis ou gordura nas fezes. A partir deste tipo de informação, pode-se definir se a diarreia é predominantemente alta, ou seja, principalmente do intestino delgado, ou predominantemente baixa, ou seja, principalmente do intestino grosso. A diarreia alta normalmente apresenta dejeções de grande volume, grande teor líquido aparente, frequência 15 moderadamente aumentada e ocasionalmente com a presença de alimentos normalmente digeríveis ou gordura. Esteatorreia: É o aumento da quantidade de gorduras excretadas nas fezes. Assim, elas se tornam volumosas, amareladas ou acinzentadas, fétidas e, algumas vezes, espumosas. Indica a presença de defeito nos processos de digestão e absorção. Na maioria das vezes associa-se à diarreia, a qual tem as características de diarreia alta. Mesmo com a ausência de diarreia, as fezes passam a ser volumosas, brilhantes e lustrosas, com tendência a clareamento e muitas vezes flutuam na água, devido ao aumento do conteúdo gasoso, frequentemente presente. Dor: É importante caracterizar bem a sua localização: quando tem origem exclusiva no intestino, sem comprometimento peritoneal, sua localização é em geral imprecisa, no centro do abdome, próximo da linha média, ou periumbilical; quando há peritonite restrita, a localização da dor depende da sede do processo patológico; e quando há peritonite generalizada, a dor pode ser difusa e por todo o abdome. Deve-se investigar a presença de irradiação e se houve ou não variações do local da dor na evolução do quadro clínico. A intensidade da dor varia de acordo com as características de cada paciente, e deve ser quantificada por eles. Não se deve esquecer na avaliação da dor abdominal a sua qualidade ou caráter, a duração dos episódios, os fatores agravantes e de alívio, os sintomas digestivos associados e a influencia na alimentação. Distensão abdominal e flatulência: Decorrentes de aumento do conteúdo gasoso do tubo digestivo. A principal queixa é a repleção abdominal, associada a aumento do volume e da tensão das paredes do abdome. Ocorre também o aumento da eliminação de gases, evidenciada pelo maior número de flatos. Devem ser investigados os sintomas associadosaos flatos e à distensão, tais como a diarreia, esteatorreia, dor abdominal e obstipação intestinal. As causas desses sintomas vão desde a intolerância à lactose até a obstrução intestinal. Hemorragia Digestiva: É definida ela passagem de sangue do ambiente intravascular para o lúmen do tubo gastrintestinal, sendo eliminado pelo vômito (hematêmese) ou pela defecação (enterorragia e melena). Suas manifestações clínicas dependem da localização do sangramento, sua magnitude, o volume, a velocidade e sua duração. A melena sugere hemorragia ao nível do intestino delgado, uma vez que há digestão do sangue extravasado, e quase sempre apresenta aspecto em “borra de café” e odor pútrido. Outra forma de sangramento do intestino delgado é a enterorragia, onde é eliminado sangue vivo pelo ânus, e sugere sangramento que ocorreu próximo à válvula ileocecal, perda sanguínea rápida e intensa ou presença de fatores que aceleram a velocidade do trânsito intestinal. De forma 16 muito mais rara, o sangramento do intestino delgado pode resultar em hematêmese. Doenças que frequentemente cursam com esse sintoma são: doença de Crohn, linfomas, tuberculose e estrongiloidíase. Cólon, reto e ânus Dor: A dor perineal pode ser investigada diretamente pela palpação e inspeção, e muitas vezes é originada de lesões dessa região, como hemorroidas, abscesso e fissuras. O tenesmo é a dor acompanhada de desejo imperioso de defecar, onde há a impressão de que as fezes serão abundante, mas elimina apenas pequena quantidade de fezes ou muco. A dor abdominal é de interpretação mais difícil, dependendo de uma anamnese cuidadosa. A dor pode ser aguda ou crônica. Além disso, para esquematizar a dor, a melhor forma é enquadrá- la nos quadrantes abdominais. Diarreia: A diarreia baixa compreende as formas aguda e crônica. Dentre as principais causas da aguda estão a retocolite ulcerativa inespecífica, as colites amebianas, as colites e retites actínicas e a doença de Crohn. O câncer do intestino grosso pode causar diarreia em algum fase de sua evolução. Obstipação Intestinal: Considera-se como ritmo intestinal normal o intervalo de 3 evacuações ao dia até uma evacuação a cada dois dias. Quando há retenção fecal por mais de 48h, fala-se que há obstipação intestinal. É importante considerar também a consistência das fezes, que podem ser apenas um pouco mais duras, ressecadas ou em cíbalos. Fatores alimentares, hormonais, mecânicos, medicamentosos e psicológicos podem afetar o ritmo intestinal. Sangramento anal (enterorragia): Na maioria das vezes é causado pela presença de hemorroidas, porém outras doenças, como a doença diverticular difusa dos cólons, os pólipos, os processos inflamatórios e até mesmo o câncer do reto e do cólon, podem ser a causa. Prurido anal: Refere-se à coceira na região anal. Suas causas estão relacionadas à má higiene, enterobíase, doenças anorretais cutâneas (fissuras, eczemas, dermatite seborreica, psoríase, dermatite de contato) e algumas doenças sistêmicas (diabetes e hepatopatias crônicas). Fígado, vesícula e vias biliares Dor: Localiza-se no quadrante superior direito do abdômen. A dor originária do fígado normalmente tem sua causa na distensão rápida da cápsula de Glisson, a qual recobre o parênquima do órgão, ocorrendo principalmente na congestão passiva do fígado, na hepatite 17 aguda viral e na hepatite alcoólica. A dor do abscesso hepático tende a ser intensa e localizada. Quando originada nas vias biliares, a dor pode apresentar-se em cólica biliar, sendo em cólica, de início súbito, de grande intensidade, normalmente sem irradiação e podendo acompanhar-se de vômito e icterícia, ou colecistite aguda, sendo contínua, podendo irradiar-se e apresentando sinal de Murphy positivo. Icterícia: É a coloração amarelada da pele e das mucosas, causada pela impregnação dos tecidos por pigmentos biliares. Pode ocorrer em intensidades diferentes, devendo-se também investigar a sua duração, a evolução do quadro, a cor da urina e das fezes, e a presença ou ausência de prurido. A icterícia pode ser de origem hemolítica, hepática ou obstrutiva. Suas causas mais comuns são: hepatite infecciosa, hepatopatia alcoólica ou medicamentosa, cirrose hepática, leptospirose, malária, anemias hemolíticas, coledocolitíase, pancreatite crônica e neoplasias pancreáticas ou das vias biliares. Náuseas e Vômitos: As náuseas podem ou não precederem os vômitos, sendo definida como uma sensação desagradável na região epigástrica. Os vômitos ocorrem em um largo espectro de doenças intra-abdominais, sendo comuns em afecções hepatobiliares. 2. INSPEÇÃO DO ABDOME Na inspeção devem-se observar lesões elementares da pele, circulação venosa colateral superficial, a coloração da pele, a presença de estrias, manchas hemorrágicas, a distribuição dos pelos e a eventual existência de soluções de continuidade da parede, representada pela diástase dos músculos retos abdominais e pelas hérnias. Para a investigação das soluções de continuidade da parede abdominal, coloca-se o paciente em decúbito dorsal e pede-se que contraia a musculatura abdominal, seja elevando as duas pernas estendidas ou levantando a cabeça sem movimentar o tórax. Hérnias inguinais e crurais podem ser visualizadas quando o paciente faz força, como quando sopra com força o dorso da mão sem deixar o ar escapar. Forma e Volume do Abdome Variam de acordo com a idade, o sexo, o estado nutricional do paciente e a presença ou ausência de patologias. Abdome Atípico ou Normal: Varia bastante de indivíduo para indivíduo, tendo como principal característica a simetria. 18 Abdome Globoso ou Protuberante: Apresenta-se globalmente aumentado e com predomínio do diâmetro anteroposterior sobre o transversal. Pode ser observado em casos de ascite, gravidez avançada, distensão gasosa, obesidade, pneumoperitônio, obstrução intestinal, grandes tumores policísticos do ovário, e hepatoesplenomegalia volumosa. Abdome em Ventre de Batráquio: Aquele em que há visível predomínio do diâmetro transversal em relação ao anteroposterior quando o paciente está em posição de decúbito dorsal. Pode ser observado nas ascite em fase de regressão. Abdome Pendular ou Ptótico: Aquele em que as vísceras pressionam a parte inferior do abdome e produzem uma protrusão, quando o paciente está em pé. Causado mais comumente pela flacidez abdominal, como no puerpério. Abdome em Avental: Encontrado em pessoas com obesidade de grau elevado. Causado pelo acúmulo de gordura na parede abdominal, a qual pende “como um avental” sobre as coxas do paciente. Abdome Escavado (Escafóide ou Côncavo): Há uma retração da parede abdominal. É próprio das pessoas muito emagrecidas, geralmente de portadores de doenças consuntivas. Cicatriz Umbilical Normalmente apresenta-se plana ou levemente retraída. Sua protrusão é normal se ocorrer durante a gestação, ou pode indicar a existência de uma hérnia umbilical ou acúmulo de líquido nessa região. Em infecções do umbigo (onfalites), pode haver secreção serosa ou seropurulenta. Abaulamentos ou Retrações Localizadas Normalmente o abdome apresenta forma regular e simétrica, sendo comum apenas uma leve proeminência na sua parte média e inferior. Abaulamentos e retrações em uma determinada região indicam alguma anormalidade, melhor investigadas com o auxílio da palpação. As principais causas são hepato ou esplenomegalia, útero grávido, tumores, retenção urinária, aneurisma de aorta abdominal e megacólon chagásico. Veias Superficiais A circulação da parede abdominal normalmenteé pouco visível, e quando se torna visível pode indicar circulação colateral, a qual é consequência da dificuldade do retorno venoso ao 19 coração pelas veias principais. Cicatrizes da Parede Abdominal A extensão, localização e forma das cicatrizes podem ajudar com informações sobre cirurgias anteriores do paciente. Flanco direito: colecistectomia; Flanco esquerdo: colectomia; Fossa ilíaca direita: apendicectomia, herniorrafia; Fossa ilíaca esquerda: herniorrafia; Hipogástrio: histerectomia, cesárea; Linha média: laparotomia; Região lombar: nefrectomia; Linha vertebral: laminectomia. Movimentos Podem ser de três tipos: Movimentos respiratórios: Em condições normais, são observados no andar superior abdominal, principalmente no sexo masculino, caracterizando a respiração toracoabdominal. Costumam desaparecer em processos inflamatórios do peritônio e nas afecções dolorosas do andar superior do abdome, quando o abdome adquire rigidez e o tipo respiratório passa a ser puramente torácico, como nas mulheres. Pulsações: Podem ser vistas e palpadas principalmente em pessoas magras. Quase sempre refletem pulsações da aorta abdominal, principalmente nos aneurismas, e podem também ocorrer no epigástrio por hipertrofia do ventrículo direito. Movimentos peristálticos visíveis ou Ondas peristálticas: podem ser vistas em pessoas magras na ausência de qualquer anormalidade, devendo-se correlacionar esse achado ao quadro clínico do paciente. Movimentos peristálticos visíveis indicam obstrução em algum seguimento do tubo digestivo, devendo-se analisar a sua localização e direção. Nas obstruções pilóricas localizam-se na região epigástrica e proximidades, com direção de cima para baixo e da esquerda para a direita; nas do intestino delgado localizam-se na região umbilical e próximo a ela, podendo ocorrer mais de uma ao mesmo tempo e sem direção constante; nas do colo, são mais observadas no colo transverso e da direita para a esquerda. 20 3. AUSCULTA DO ABDOME É importante que seja realizada antes da palpação e percussão, pois estas podem estimular o peristaltismo e ocultar a hipoatividade intestinal. A ausculta fornece informações sobre a movimentação de líquidos e gases nos intestinos, importantes, por exemplo, diante da suspeita de íleo paralítico ou oclusão intestinal. Utiliza-se o estetoscópio para a realização da ausculta. Em condições normais, são audíveis ruídos de timbre agudo a cada 5 a 10 segundos, com localização variável e com estreitamento da luz aparecimento imprevisível. Tais sons são denominados ruídos hidroaéreos e resultam da movimentação do conteúdo intestinal. Em casos de diarreia ou oclusão intestinal (na fase inicial, a de luta) os sons são mais intensos devido ao maior peristaltismo, sendo denominados borborigmos. No íleo paralítico ocorre o contrário devido o desaparecimento do peristaltismo intestinal, dizendo-se que há um silêncio abdominal. Podem ser ouvidos mais raramente sopros sistólicos ou sistodiastólicos, indicando de um vaso (artérias renais ou aorta abdominal) ou existência de uma fístula arteriovenosa. A partir do quinto mês de gestação, podem ser ouvidos com o estetoscópio obstétrico os batimentos fetais e o sopro placentário. ANOTAÇÕES 21 PERCUSSÃO E PALPAÇÃO DO ABDOME Anna Caroline Leão de Souza 1. PALPAÇÃO A palpação ou percussão são dois procedimentos de devem ser realizados após a ausculta do abdome. Sendo a palpação complementar da inspeção e vice-versa. É por intermédio da palpação que se percebem modificações de textura, espessura, consistência, sensibilidade, volume, dureza, além da percepção de frêmito, reconhecimento de flutuação, elasticidade, verificação da presença de edema e outros diversos fenômenos. É imprescindível a correta higienização das mãos antes do exame, assim como recomenda-se que o examinador aqueça suas mãos friccionando uma contra a outra antes de qualquer palpação. Como norma básica, efetua-se a palpação do abdome com a paciente em decúbito dorsal e o examinador posicionado à direita do paciente. Objetivos da palpação abdominal: Avaliar o estado da parede abdominal Reconhecer as condições anatômicas de vísceras abdominais e detectar alterações de sua consistência Explorar a sensibilidade abdominal A palpação sistemática do abdome compreende quatro etapas que devem ser cumpridas sucessivamente: 1. Palpação superficial 2. Palpação profunda 3. Palpação de fígado 4. Palpação de baço e de outros órgãos 5. Manobras especiais de palpação 1.1 PALPAÇÃO SUPERFICIAL Compreende o estudo da parede e das vísceras que podem alcançar a parede abdominal. Na palpação superficial investigam-se a sensibilidade, a resistência da parede, a continuidade a parede abdominal, as pulsações e o reflexo cutâneo-abdominal. 22 1.1.1 Sensibilidade A técnica consiste em palpar de leve ou apenas roçar a parede abdominal com objeto pontiagudo. Se esta manobra despertar dor é porque existe hiperestesia cutânea. Cumpre ressaltar que a dor sentida na parede abdominal pode originar-se no local da palpação, ou em outras estruturas, sejam localizadas no abdome, órgãos torácicos ou mesmo na coluna vertebral. Pontos dolorosos: Áreas na parede abdominal cuja compressão, ao despertar sensação dolorosa, pode indicar comprometimento do órgão ali projetado. Pontos gástricos: Ponto xifoidiano: Localiza-se logo abaixo do apêndice xifoide. A presença de dor nesta área é observada na cólica biliar e nas afecções de estômago e duodeno que incluem principalmente as úlceras e as neoplasias. 23 Ponto epigástrico: Localiza-se no meio da linha xifoumbilical. É sensível aos processos ulcerosos, tumorais e principalmente inflamatórios do estômago (gastrite). Ponto cístico biliar: Localiza-se no ângulo formado pela reborda costal direita e a reborda externa do músculo reto abdominal. Ao se comprimir, pede-se ao paciente que inspire profundamente. Neste momento o diafragma abaixará o fígado fazendo com que a vesícula biliar alcance a extremidade do dedo que está comprimindo a área. Sinal de Murphy: Nos casos de colecistite aguda tal manobra desperta uma dor inesperada que obriga o paciente a interromper subitamente a inspiração (não é sinal patognomônico das afecções das vias biliares). Ponto apendicular ou de McBurney: Localiza-se geralmente na extremidade dos dois terços das linhas que une a espinha ilíaca ântero-superior direita ao umbigo. Sinal de Blumberg: Quando se suspeita de apendicite aguda esse ponto deve ser comprimido progressiva, lenta e contínua, Dando continuidade ao exame, descomprime-se bruscamente a região, com o que se determina um estiramento rápido do peritônio, o qual, se estiver inflamado, despertará uma dor aguda e intensa. A presença de tal dor à descompressão brusca constitui o sinal de Blumberg. Ponto esplênico: Localiza-se logo abaixo da reborda costal esquerda no início de seu terço externo. O infarto esplênico provoca dor neste local. Pontos ureterais: Localizam-se na borda lateral dos músculos retos abdominais em duas alturas: na intersecção na linha horizontal que passa pelo umbigo e no cruzamento da linha que passa pela espinha ilíaca ântero-superior. A palpação destes pontos deve ser feita com as mãos superpostas. Dor nos pontos ureterais aparece nos pacientes com cólica renal e traduz quase sempre a migração de um cálculo renal pelos ureteres.1.1.3 Resistência da parede abdominal Em condições normais, a resistência é a de um músculo. Quando se encontra a musculatura contraída, a primeira preocupação do examinador é diferenciar a contratura voluntária da contratura involuntária. Faz-se cessar uma contração voluntária desviando-se a atenção do paciente por meio de alguns expedientes tais como conversar, solicitar que respire profundamente ou pedir para flexionar as pernas. 1.1.4 Continuidade da parede abdominal Avalia-se deslocando a mão que palpa por toda a parede e, ao encontrar uma área de menor resistência, tenta-se insinuar uma ou mais polpas digitais naquele local. 24 É possível se conhecer as diástases, que consiste na separação dos músculos retos, quer abaixo, quer acima da cicatriz umbilical, sendo possível insinuar um ou dois dedos entre eles. Quando o paciente se põe de pé e faz esforço, uma porção do intestino penetra pela abertura. Já as hérnias, são caracterizadas pela existência de uma solução de continuidade por onde penetram uma ou mais estruturas intra-abdominais. Quase sempre se tratam da produção do grande epiploo ou e alças intestinais através de defeitos congênitos ou adquiridos da parede abdominal. À inspeção, observa-se tumefação na região da hérnia e à palpação escolher o orifício ou a área da parede abdominal. Os tipos mais comuns de hérnia são a epigástrica, a umbilical, a inguinal, a femoral ou crural e a incisional. 1.1.5 Pulsações As pulsações podem ser visíveis e palpáveis, ou apenas palpáveis. Dados semióticos essenciais são a localização e as características táteis das pulsações. As pulsações epigástricas podem ser a transmissão das contrações do ventrículo direito hipertrofiado ou pulsações da aorta abdominal. Em pessoas magras, as pulsações da aorta costumam ser facilmente percebidas. 1.2 PALPAÇÃO PROFUNDA Investigam-se os órgãos contidos na cavidade abdominal e eventuais massas ou tumorações palpáveis. Em condições normais não se consegue distinguir o estômago, o duodeno, o intestino delgado, as vias biliares e os cólons ascendente e descendente, ao passo que o ceco, o transverso e o sigmoide são facilmente palpáveis. A presença de alterações estruturais é o que torna aqueles órgãos reconhecíveis à palpação. 25 O encontro de massas palpáveis obriga o examinador a analisaras seguintes características: localização, forma, volume, sensibilidade, consistência, mobilidade e pulsatilidade. Localização: Em relação às divisões clínicas do abdome; Forma e volume: Recorre-se a designações comparativas; Sensibilidade: Refere-se à dor, é fundamental dados como intensidade, localização, irradiação, característica; Consistência: Sensação tátil despertada pela massa. Pode ser cística, borrachosa, dura ou pétrea; Mobilidade: Se ocorre em função os movimentos respiratórios ou se depende apenas da palpação; Pulsatilidade: Diferenciar pulsações próprias de pulsações transmitidas. 1.2.1 PALPAÇÃO DO FÍGADO Método de Mathieu (método das mãos em garra) O examinador posiciona-se à direita, em pé e voltado para os pés do paciente. A seguir, pede ao paciente que inspire profundamente e expire em seguida. Ao final da expiração, o examinador pressiona seus dedos para baixo do rebordo costal direito e mantém a pressão, pedindo ao paciente que inspire novamente. Nesse momento, a borda hepática inferior pode ser sentida com facilidade, vindo de encontro aos dedos do examinador. 26 Método Lemos-Torres (método da mão estendida) O procedimento fundamental para o exame do fígado consiste em palpar o hipocôndrio direito, o flanco direito e o epigástrio, indo do umbigo à reborda costal. Examinador fica posicionado do lado direito, voltado para a cabeça do paciente. A mão esquerda do examinador deve pressionar o ângulo lombocostal direito do paciente para cima, enquanto a mão direita palpa o fígado da seguinte forma: os dedos ficam paralelos ao abdome, apontando para o rebordo costal direito com ângulo de 90 graus. Novamente, a mão direita é pressionada contra o abdome ao final da expiração, aguardando a inspiração do paciente sem se movimentar, percebendo a borda inferior do fígado quando vier de encontro aos dedos do examinador. As informações clínicas são tiradas da análise da borda e da superfície do fígado. Distância da reborda costal, a ser referida em centímetros ou, como é usual, em dedos transversos. Por meio deste dado, é possível formar uma ideia do volume do fígado. Toda hepatomegalia é palpável, mas nem todo fígado palpável está aumentado de volume. 27 - Pequenas hepatomegalias: fígado pouco ultrapassa (até dois dedos) a reborda costal no final da inspiração; - Médias hepatomegalias: o fígado dista em torna de quatro dedos transversos; - Grandes hepatomegalias: a borda da víscera situa-se a mais de quatro dedos e pode alcançar a cicatriz umbilical ou o quadrante inferior direito. Espessura: fina ou romba - Superfície: lisa ou irregular. Quando nódulos presentes, anotar as características quanto a números, consistência (dura ou cística) e a sensibilidade; - Consistência: Normal, diminuída ou aumentada; - Sensibilidade: indolor ou dolorosa A sensibilidade dolorosa da superfície hepática é provocada por condições que estiram, aguda e rapidamente, a cápsula de Glisson. Causas mais frequentes de hepatomegalia: Insuficiência cardíaca direita, colestase extra- hepática de etiologia benigna, colestase extra-hepática de etiologia maligna, a cirrose, fibrose esquistossomótica, hepatite, esteatose, neoplasias e os linfomas. 1.2.2 PALPAÇÃO DA VESÍCULA BILIAR A vesícula biliar normalmente não é identificada pela palpação e só se torna palpável em condições patológicas. É necessário que ocorra alteração na consistência de suas paredes, como no câncer vesicular, ou que haja aumento de tensão no seu interior por dificuldade de escoamento de seu conteúdo em consequência de obstrução do ducto cístico ou do colédoco. Sinal de Courvoisier-Terrier: A presença de uma vesícula biliar palpável indolor associada a síndrome ictérica é sugestiva de neoplasia maligna pancreática que, na maioria das vezes, se localiza na cabeça do pâncreas. Sinal de Murphy: Na colelitíase e na colecistite crônica, embora a vesícula não seja palpável, é frequente o paciente acusar dor quando se exerce compressão sobre a reborda costal direita durante a inspiração profunda. 28 1.2.3 PALPAÇÃO DO BAÇO O baço normal não é palpável e apresenta mobilidade respiratória, assim como o fígado. Pode-se realizar a palpação do baço através de suas técnicas: 1. O paciente assume o decúbito dorsal, e o examinador posiciona-se ao seu lado direito. A mão esquerda é colocada na altura do gradeado costal esquerdo, pressionando-o para cima. Ao mesmo tempo a mão direita com os dedos estendidos é posicionada sobre a parede abdominal, apontando para o rebordo costal esquerdo. Em seguida, o examinador pressiona sua mão direita ao final da expiração e solicita ao paciente que inspire profundamente, procurando sentir a borda inferior do baço ao final da inspiração. 2. Utiliza-se também outro recurso que consiste em fazer a palpação deste órgão com o paciente na posição de Schuster. Esta posição consiste em decúbito lateral direito, estando o paciente com a perna direita estendida e a coxa esquerda fletida sobre o abdome em um ângulo de 90º; ademais, o ombro esquerdo é elevado, colocando-se o braço correspondente sobre a cabeça. O examinador fica posicionado do lado esquerdo do paciente, voltadopara os pés do paciente, procurando palpar o baço com os dedos das mãos dispostos em garra e 29 colocados ao longo do rebordo costal esquerdo. A palpação, nesse caso, deve também ser feita de forma harmônica com a respiração do paciente, pressionando os dedos sobre o rebordo costal esquerdo no final da expiração e procurando sentir a borda inferior do baço no final da inspiração seguinte. A característica semiológica principal é a distância entre a reborda costal e a extremidade inferior do baço, medida em centímetros ou em dedos transversos, tomando-se como referência a linha hemiclavicular esquerda. Em geral, palpar este órgão significa que seu volume está aumentado, ou seja, há esplenomegalia. Normalmente, o baço não é percutível. Todo baço aumentado de tamanho é percutível, mas nem sempre é palpável. Assim, é essencial realiza-se uma percussão adequada do espaço de Traube, e não confiar apenas na palpação. É necessário também prevenir-se contra o engano relativamente comum de confundir a última costela, que é flutuante, com o baço. Principais causas de esplenomegalia: Hipertensão portal, Hepatite por vírus, Mononucleose infecciosa, Malária, Doença de Chagas (fase aguda), esquistossomose, Anemias hemolíticas, policitemia vera, leucemias agudas, Linfoma de Hodgkin e não-Hodgkin, doenças de depósito, Artrite reumatoide, Lúpus eritematoso sistêmico, entre outras causas. 1.2.4 PALPAÇÃO DO CECO O ceco pode ser reconhecido com facilidade na fossa ilíaca direita. Efetua-se sua palpação deslizando-se a mão palpadora ao longo de uma linha que une a cicatriz umbilical à espinha ilíaca ântero-superior. Ao alcançar a borda interna do ceco, percebe-se uma súbita elevação; ato contínuo, as polpas digitais do examinador vão se deslocando sobre a face anterior do ceco até alcançar a espinha ilíaca. Sem retirar a mão deste local, o examinador encurva ligeiramente seus dedos e repete a manobra em direção oposta, procurando deslocar o ceco para dentro com a finalidade de investigar seu grau de mobilidade. A manobra deve ser repetida mais de uma vez. Ao deslizar-se a mão sobre 30 esta víscera, produzem-se ruídos hidroaéreos conhecidos como “guargarejos”. Havendo dificuldade na palpação desta víscera, recorre-se a uma manobra auxiliar, que consiste em palpar com a mão direita enquanto a mão esquerda exerce pressão sobre o cólon ascendente a fim de se obter maior repleção do ceco. 1.2.5 PALPAÇÃO DO CÓLON TRANSVERSO Para se palpar o cólon transverso, desliza-se uma ou, de preferência, ambas as mãos, de cima para baixo e de baixo para cima no abdome. Sua localização é variável, sendo percebido geralmente na região mesogástrica como uma corda de direção transversal, que rola sob os dedos do examinador. 1.2.6 PALPAÇÃO DO SIGMÓIDE A alça do sigmoide situa-se no quadrante inferior esquerdo e assemelha-se a uma corda de consistência firme e pouco móvel. Nos casos de megassigmóide, a alça se alonga, deixa a sua topografia normal e de desloca para a direita e para cima, sendo palpável em outras regiões do abdome. Se contiver fezes, sua consistência varia de pastosa a pétrea. 31 1.2.7 PALPAÇÃO DOS RINS Com o paciente em decúbito dorsal, a palpação do rim é feita de preferência pelo método bimanual, com uma das mãos aplicada transversalmente na região lombar enquanto a outra se apoia longitudinalmente sobre a parede abdominal, à altura do flanco. A mão palpadora é homônima do lado que se palpa, de modo que o rim direito será palpado com a mão direita do examinador e o rim esquerdo com a mão esquerda. O paciente deve respirar tranquila e profundamente e a cada inspiração procura-se sentir sob as pontas dos dedos a descida do rim, cujo pólo inferior é reconhecido por sua superfície lisa, consistência firme e contorno arredondado. A mão esquerda exerce pressão suave na região lombar direita com a finalidade de projetar o rim para frente, tornando-o mais acessível à palpação. Ao final da inspiração e início da expiração, intensifica-se a pressão exercida por ambas as mãos, ocasião em que se percebe o deslocamento súbitos do rim em direção ascendente. A isso de denomina “captura do rim”. Outra manobra utilizada para a identificação de um rim palpável é a do choque lomboabdominal: com a extremidade dos dedos da mão que comprime a região lombar, realizam-se ao nível do ângulo costovertebral sucessivas e rápidas impulsões, em direção à mão palpadora, que recebe a sensação de choque do rim quando este é impelido para frente. A palpação bimanual pode também ser realizada com o paciente em decúbito lateral sobre o lado oposto ao que se vai examinar e com os membros inferiores em semiflexão. Tal como foi descrito para o decúbito dorsal, os movimentos respiratórios auxiliam na palpação do rim nesta posição. Nos casos de: nefroptose, tumor renal, hidronefrose, malformações congênitas ou ectopia renal, os rins podem ser palpáveis mesmo sem o uso das manobras de palpação renal descritas. 32 MANOBRAS ESPECIAIS PALPAÇÃO BIMANUAL PARA AVALIAR DEFESA LOCALIZADA DA PAREDE ABDOMINAL Deve ser realizada sempre suspeitar de maior resistência em determinada área da parede abdominal. O examinador coloca as mãos longitudinal e paralelamente no sentido craniocaudal e, enquanto uma das mãos palpa a região suspeita, a outra examina a região homóloga com seguidos movimentos alternados, isto é, quando uma das mãos comprime a parede, a outra não o faz. Confirmando-se a presença de defesa localizada, é justo levantar a hipótese de uma afecção na própria parede ou na cavidade abdominal (peritonite localizada). MANOBRA DO RECHAÇO Com a palma da mão comprime-se com certa firmeza a parede abdominal, e com a face ventral dos dedos e polpas digitais provoca-se um impulso rápido na parede, retornando-se os dedos à posição inicial sem afrouxar a compressão da parede abdominal. Existe rechaço quando, imediatamente após a impulsão, percebe-se um choque na mão que provocou o impulso. Isso traduz a presença de órgão ou tumor sólido flutuando em um meio líquido, representado por ascite. Esta palpação é própria para a palpação de abdome globoso em decorrência de ascite de grande volume. MANOBRA DA DESCOMPRESSÃO BRUSCA Comprime-se vagarosamente e progressivamente um determinado local do abdome que durante a palpação geral mostrou-se dolorido. Durante a execução da manobra, o examinador vai indagando e observando as reações do paciente. Diz-se que é positiva se a dor apresentar nítida exacerbação no momento em eu se faz a descompressão. PESQUISA DE VASCOLEJO Pode ser efetuada de duas maneiras: 1. Prende-se o estômago com a mão direita, movimentando-o de um lado para o outro, ao mesmo tempo que se procura ouvir ruídos hidroaéreos nele originados. 2. Repousa-se a mão sobre a região epigástrica e executam-se rápidos movimentos compressivos com a face ventral dos dedos e as polpas digitais, tendo-se o cuidado de não deslocar a palma da mão. Quando se ouvem ruídos de líquidos sacolejando, diz que há vascolejo. Esta manobra costuma-se ser chamada de patinhação. O sinal o vascolejo denuncia a presença de líquido no interior do estômago, e este achado não é necessariamente anormal. No entanto, o vascolejo permite levantar a suspeita de estase líquida em um estômago atônico ou quando existe estenose pilórica. Resta assinalar 33 que o sinal de vascolejo desaparece quando o paciente vomita. Sinal de Gersuny: É encontrado nos casos de fecaloma. Sua pesquisa consiste palpar o “tumor fecal” na topografia do sigmoide. Quandopositivo, ouve-se ligeira crepitação decorrente do ar interposto entre a parede intestinal e o fecaloma. Percussão A posição fundamental do paciente é o decúbito dorsal. Contudo, outras posições são necessárias na pesquisa de ascite. Podem ser encontradas os seguintes tipos de sons no abdome: timpanismo, hipertimpanismo, submacicez e macicez. O som timpânico indica a presença de ar dentro de uma víscera oca. Em condições normais, é percebido em quase todo o abdome, porém, é mais nítido na área de projeção do fundo do estômago (espaço de Traube). As variações do timbre do som timpânico nas várias regiões abdominais decorrem das diferentes quantidades de ar contido nos segmentos do trato digestivo; quando aumenta a quantidade de ar, tal como acontece na gastrectasia, no meteorismo, na obstrução intestinal, no volvo, no pneumoperitônio, fala-se em hipertimpanismo. Menor quantidade de ar ou superposição de uma víscera maciça sobre uma alça intestinal origina o som submaciço. A ausência de ar dá origem ao som maciço, como se observa nas áreas de projeção do fígado e no útero gravídico. Tumores, ascite e cistos contendo líquido originam som maciço. DETERMINAÇÃO DO LIMITE SUPERIOR DO FÍGADO Percute-se o hemitórax direito ao nível da linha hemiclavicular direita desde sua origem na clavícula até o 4º ou 5º espaço intercostal; a partir daí, desvia-se para fora, de modo a fugir do plastrão formado pelas cartilagens das últimas costelas. Lembre-se que é 34 impossível contar os espaços intercostais sobre o plastrão. De início, obtém-se som claro pulmonar. A seguir, em condições normais, na altura do 5º ou 6º espaço intercostal, observa-se som submaciço. Esse ponto corresponde ao limite superior do fígado. O limite superior do fígado abaixo do 5º ou 6º espaço intercostal direito significa ptose hepática ou diminuição do volume do fígado. DETERMINAÇÃO DA ÁREA DE MACICEZ HEPÁTICA Continuando-se a percussão para dentro, para baixo ou para fora, consegue-se delimitar com facilidade a área de macicez hepática. Tal procedimento é imprescindível em algumas situações práticas, destacando-se a punção-biópsia intercostal do fígado e a colangiografia transparieto-hepática. O não-encontro da macicez hepática ocorre quando há acentuada atrofia hepática, interposição de alça intestinal entre o fígado e parede costal e pneumoperitônio. Sinal de Jobert: desaparecimento da macicez hepática, dando lugar ao timpanismo decorrente de pneumoperitônio que tem como causa frequente a perfuração do tubo gastrintestinal. PESQUISA DE ASCITE A percussão é o método mais seguro para reconhecimento de ascite. Para sistematizar esta técnica, é necessário levar em conta a quantidade de líquido na cavidade abdominal. Pesquisa de ascite de grande volume: Percussão por Piparote Além do aspecto globoso do abdome, em consequência de 1.500ml ou mais de 35 volume líquido e do aumento da resistência da parede abdominal, a cicatriz abdominal torna-se plana ou protrusa e o dado semiótico principal é obtido através da percussão por Piparote. No qual o paciente adota o decúbito dorsal e ele próprio ou um auxiliar coloca a borda cubital da mão sobre uma linha mediana do abdome, exercendo uma ligeira pressão de modo a impedir a transmissão pela parede abdominal do impacto provocado pelo piparote. O examinador coloca-se do lado direito do paciente e repousa a mão esquerda no flanco do outro lado. Passa-se então a golpear com o indicador a face lateral do hemiabdome direito. Se houver líquido em quantidade suficiente na cavidade peritoneal, a mão esquerda apta os choques das ondas líquidas desencadeadas pelos piparotes. Pesquisa de ascite de médio volume: Pesquisa de macicez móvel Quando o piparote é negativo, pode se lança mão de outra técnica, a macicez móvel, no qual a primeira etapa consiste em percutir todo o abdome com o paciente em decúbito dorsal. Este procedimento permite a identificar macicez em flancos e som timpânico na parte média do abdome, o que levanta a hipótese de haver uma certa quantidade de líquido na cavidade peritoneal. Coloca-se o paciente em decúbito lateral direito e percute-se todo o abdome; havendo ascite, encontra-se timpanismo no flanco esquerdo e macicez no flanco direito. A seguir, paciente adota o outro decúbito lateral, percutindo-se de novo todo o abdome. Se, de fato, houver ascite, o resultado desta percussão será o contrário do obtido na etapa anterior da manobra. No caso, se apresentará timpânico no flanco direito e maciço em flanco esquerdo. 36 Pesquisa de ascite de médio volume: Semicírculos de Skoda Percute-se o abdome a partir do epigástrio, radialmente em direção aos limites do abdome. Observa-se a transição entre o som timpânico para o som submaciço e, posteriormente para maciço, no sentido craniocaudal. A junção de pontos de transição formam semicírculos. Pesquisa de ascite de pequeno volume Considera-se pequeno volume o acúmulo na cavidade peritoneal de menos de 500 ml de líquido. Nestas condições fazer o reconhecimento pode ser difícil, sendo a ultrassonografia o método ideal para o diagnóstico e ascite de pequeno volume. ANOTAÇÕES 37 DOENÇAS DO ESÔFAGO Arlindo Gonzaga Branco Junior Caro leitor, neste capitulo, o tema a ser abordado serão as patologias do esôfago comumente atendidas no ambulatório de Gastroenterologia. Neste, veremos que a história clínica é extremamente importante no diagnostico das doenças do esôfago, portanto é necessário realizar uma boa anamnese para descobrir a possível causa do sintoma que levou o paciente ao ambulatório. Boa Leitura. A DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO 1. INTRODUÇÃO Refluxo é a vinda do que esta no estomago para o esôfago. Este conteúdo pode ser o ácido estomacal, alimentos, a bile dentre outros. O refluxo do conteúdo gástrico ocorre de forma fisiológica após as refeições, acompanhado frequentemente de eructação, porém, quando este conteúdo começa a lesar a mucosa do esôfago, definimos como doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). A DRGE é uma das afecções mais frequentes na prática médica. Gonçalves, Pimenta & Neto (2004) baseados no I Consenso Brasileiro de Doença do Refluxo Gastroesofágico, caracterizam a DRGE como uma afeção crônica decorrente do fluxo retrógrado de conteúdo gastroduodenal para o esôfago terminal e órgãos adjacentes a ele, acarretando um espectro variável de sintomas e sinais esofágicos ou extraesofágicos, associados ou não a lesões teciduais. A afecção acomete em proporções semelhantes ambos os gêneros, embora as complicações sejam mais frequentes no masculino. Idade superior a 45 anos constitui fator de alto risco. A doença se relaciona, ainda, com fatores genéticos, obesidade (IMC >30) e infecção por Helicobacter pylori (KEARNEY et al., 2003). A barreira da junção esofagogástrica (JEG) impede que haja um refluxo constante do conteúdo gastroduodenal para o esôfago. São necessárias ações de quatro componentes básicos: integridade do esfíncter inferior do esôfago; ligamento frenoesofágico; compressão anatômica diafragmática e presença da angulação de His na JEG. O conjunto é diretamente responsável pela competência do obstáculo funcional (GONÇALVES; PIMENTA & NETO 2004). 38 1.1. SINAIS E SINTOMAS Os sintomas da DRGE ocorrem devido ao ácido estomacal. Pode ocorrer refluxo de alimentos, mas o refluxo do ácido clorídrico é que ocasionará os sintomas. Isso ocorre, pois o epitélio do esôfago não está preparadopara o ácido clorídrico ocorrendo então acontece à lesão deste. O que o paciente começa a apresentar? Esofagite. Qual a tradução clínica para esofagite? Queimação. O ácido vem vindo, ocorre à queimação retroesternal também conhecida como: pirose. Então a principal manifestação clínica do refluxo é a pirose (GALVÃO-ALVES, 2012). O ácido pode voltar, chegando à boca acarretando em aftas, desgaste do esmalte dentário (ai o dentista pode ser essencial no diagnostico). O ácido pode ir da boca para o pulmão acarretando na rouquidão, pigarro principalmente ao amanhecer. Esses sintomas podem ocorrer devido ao paciente passar a noite deitado. A Figura 1. lista os principais sintomas na DGRE, sendo os típicos, de alarme, atípicos e outros sintomas. Figura 1. Sinais e Sintomas na DRGE segundo a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia 1.2. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da DRGE deve ser baseado inicialmente na história clínica do paciente, valorizando os sintomas típicos de pirose e regurgitação, avaliando sua intensidade, duração e frequência, bem como seus fatores desencadeantes. Algumas vezes, tais sintomas podem estar ausentes ou mesmo acrescidos dos sintomas atípicos, citados anteriormente, podendo dificultar um pouco mais o diagnóstico (DEVAULT & CASTELL, 1995). Na anamnese devem-se excluir outras patologias, sendo elas pulmonares e cardíacas bem como verificar os sinais de alarme (anemia, disfagia, sangramento ou perda de peso) (GALVÃO- ALVES, 2012). Exames complementares podem ser solicitados como: Esôfagomanometria; Raio X contrastado; PHmetria e cintilografia (ótimo exame mais caro). A Esôfagomanometria avalia a pressão do esfíncter que normalmente é 15mmHg, caso 39 menor pode ocorrer refluxo. O raio X contrastado o paciente engole um contraste (bário) e após 5 minutos faz-se a radiografia e após 10 minutos novamente. Irá se observar o refluxo do contraste na radiografia. PHmetria avalia o PH através de um cateter que passa pelo nariz. Se o PH for ácido pode ser refluxo. A endoscopia digestiva Alta não da diagnostico de DRGE, mas observamos as complicações do refluxo. 1.3. TRATAMENTO O tratamento objetiva o alívio dos sintomas, cicatrização das lesões, prevenção das recidivas e complicações. Cerca de 10% dos pacientes com DRGE procuram tratamento médico (NUNES; PIMENTA & REZENDE NETO, 2005). Inicia-se o tratamento caso todos os sinais de alarmes (anemia, disfagia, sangramento ou perda de peso) estejam negativos e sem indicativo de malignidade inicia-se o tratamento empírico com bombas de prontos em dose única por 6 a 8 semanas além de medidas comportamentais a serem seguidas pelo paciente como: Evitar refeições volumosas; evitar bebidas gasosas; evitar deitar logo após as refeições; evitar alimentos gordurosos, chocolate, café, chá; abolir o fumo e bebidas alcoólicas além de e a cabeceira da cama ao deitar cerca de 30 à 35º (ALVES, 2012; CURY et al., 2003). Alves (2012) destaca que além destas recomendações, deve-se individualizar a dieta dos pacientes, levando em consideração as queixas individuais com relação a cada alimento. Tais medidas melhoram a relação médico-paciente e aumentam a adesão ao tratamento. A terapia farmacológica baseada no uso de agentes antiácidos ou alcalinos, bloqueadores de receptores H2 da histamina, inibidores da bomba de prótons e procinéticos (NUNES; PIMENTA & REZENDE NETO, 2005). De maneira geral, estes fármacos, visam a neutralização ou eliminação do ácido refluído ou, ainda, a melhoria dos distúrbios motores já que acompanham esta enfermidade (BARBUTI & MORAES-FILHO, 2003). As drogas de primeira escolha para o tratamento de DRGE são os inibidores de bombas de prótons (IBPs), proporcionando rápido alívio dos sintomas e cura das lesões da mucosa esofágica em cerca de 80%-90% dos pacientes. Quando estes não estão disponíveis, podem ser utilizados os bloqueadores H2, o sucralfato e o alginato (MENDEL & DAGGY, 2000). A Tabela 1. apresenta os principais fármacos utilizados na terapêutica da DRGE segundo Galvão-Alves (2012). 40 Quadro 1. Fármacos utilizados no tratamento de DRGE com sua dose convencional. Inibidores de bombas de prótons Bloqueadores H2 de histamina Sal Dose Convencional Sal Dose Convencional Omeprazol 20mg/dia Cimetidina 200 a 800mg/dia Lansoprazol 30mg/dia Ranitidina 150 a 600mg/dia /dia Pantoprazol 40mg/dia Nizatidina 300 a 600mg Rabeprazol 20mg/dia Famotidina 20 a 40mg/dia No caso de complicações ou quando o clínico achar necessário, conforme a historia do paciente, pode ocorrer o tratamento cirúrgico com a fundoplicatura de Nissen. O tratamento cirúrgico visa restabelecer a competência do EEI. Está indicado quando há recidiva frequente da esofagite ou quando não é verificada melhora do quadro com seis meses de tratamento adequado (LUNDELL et al., 2009). ANOTAÇÕES 41 DOENÇAS DO ESTÔMAGO E DO DUODENO Amanda Selvátici dos Santos 1. DOENÇA ULCEROSA PÉPTICA Define-se úlcera como uma ruptura da mucosa com um tamanho maior ou igual a 0,5 cm e com profundidade que vai até a camada submucosa. O termo Doença Ulcerosa Péptica inclui tanto úlceras gástricas quanto úlceras duodenais. A doença ulcerosa péptica é mais frequente no sexo masculino (2/3 ocorrem em homens) e tem como fatores de risco a infecção pela bactéria Helicobacter pylori, o uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e o tabagismo. 1.1 Defesa da mucosa gastroduodenal A mucosa gástrica é constantemente agredida por inúmeros agentes nocivos tanto endógenos (ácido clorídrico, pepsinogênio/pepsina e sais biliares) como por agentes exógenos (álcool, certos medicamentos e bactérias). Para defender o epitélio gástrico de possíveis lesões e reparar qualquer lesão que possa ter ocorrido pela ação dos agentes já citados, existe um complexo sistema biológico de defesa da mucosa. Muco: em condições normais o muco é constantemente produzido pelas células epiteliais superficiais gastroduodenais e consiste principalmente em água (95%) e mucina, que é uma mistura de fosfolipídios e glicoproteínas. Quanto maior a distensão gástrica e produção de prostaglandinas, mais espessa é a camada de muco. Por outro lado, uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e N-acetilcisteína faz com que a produção de muco seja reduzida. Bicarbonato: é produzido de forma regular pelas células epiteliais foveolares e forma um gradiente de pH que varia de 1 a 2 na superfície luminal do estômago e alcança pH em torno de 7 ao longo da superfície das células epiteliais (mucosa). Dessa forma, a produção de bicarbonato é essencial para a defesa da mucosa gástrica e duodenal contra a acidez, uma vez que o duodeno também recebe ácido vindo do estômago e também necessita proteção. Prostaglandinas: são fundamentais na defesa e reparo do epitélio gástrico. Regulam a produção de muco e bicarbonato pela mucosa, são importantes na manutenção do fluxo sanguíneo e na recomposição do epitélio gástrico. São produzidas a partir do ácido aracdônico pela ação da enzima ciclooxigenase (COX). 42 Obs.: A isoforma COX-1 é constitutiva de vários tecidos como estômago, plaquetas, rins e células endoteliais. No caso do estômago a COX-1 é importante por manter a integridade da mucosa. A COX-2 está relacionada com estímulos inflamatórios e se expressa em macrófagos, leucócitos, fibroblastos e células sinoviais. Dessa forma, o efeito benéfico dos AINEs está na inibição da COX-2 e a inibição da COX-1 reflete a toxicidade dessesmedicamentos (disfunção renal e úlceras gástricas). A rápida renovação celular na mucosa também é um fator protetor, pois substitui as células danificadas evitando a progressão da lesão. A ampla vascularização da mucosa gástrica e duodenal é um fator que favorece na nutrição do epitélio e retirada de produtos metabólicos tóxicos. Óxido nítrico: é importante na manutenção da integridade da mucosa gástrica. O óxido nítrico é produzido pela enzima NO-sintetase e possui efeito protetor semelhante ao das prostaglandinas, estimulando: aumento do fluxo sanguíneo, da produção de bicabornato e da produção de mucina. Secreção gástrica Glândulas Oxínticas: - Células parietais (também chamadas de células oxíndicas): liberam ácido clorídrico (HCl) e fator intrínseco (FI); - Células pépticas (principais): liberam pepsinogênio; - Células mucosas: muco Glândulas pilóricas: liberam gastrina. O ácido clorídrico é liberado pelas células parietais por ação da bomba de prótons (H + / K + ATPase). A secreção basal de HCl ocorre em ritmo circadiano, com níveis maiores durante a noite e menores durante o dia. A secreção ácida estimulada ocorre principalmente em 3 fases: cefálica, gástrica e intestinal. - Fase cefálica: visão, cheiro e gosto dos alimentos, por meio do nervo vago, estimulam a liberação de acetilcolina. Esta, por sua vez, age principalmente estimulando as células enterocromafim-like (ECL) a liberarem histamina. 43 - Fase gástrica: quando o alimento penetra no estômago os nutrientes como aminoácidos e aminas estimulam as células G a liberarem gastrina, que por sua vez estimulam as células parietais por mecanismos diretos (receptores de gastrina na célula parietal) e indiretos (estimulando a produção de histamina nas células ECL). A distensão gástrica também leva à liberação de gastrina e ácido clorídrico. - Fase intestinal: ocorre quando o alimento chega ao intestino, quando há distensão do lúmen intestinal e assimilação dos nutrientes. Simultaneamente a essas fases ocorrem mecanismos de inibição da produção de ácido como a liberação de somatostatina, fatores neurais centrais e periféricos e fatores humorais. A célula parietal expressa, em sua membrana, receptores para vários tipos de substâncias capazes de estimular a secreção de HCL como a histamina (H2), gastrina, e acetilcolina. Helicobacter pylori Bactéria Gram-negativa, forma espiralar, coloniza apenas a mucosa gástrica e tem afinidade pelas células do antro gástrico. A transmissão ocorre de pessoa a pessoa via fecal-oral. A infecção pelo H. pylori está presente em 95% dos pacientes com úlcera duodenal e70 - 80% dos pacientes com úlcera gástrica. A produção da enzima urease permite que essa bactéria resista à acidez da mucosa gástrica, pois converte a ureia (presente no conteúdo do estômago) em bicarbonato (neutraliza a acidez) e amônia (substância muito tóxica para as células epiteliais). 1.2 Úlcera duodenal Ocorre principalmente na primeira porção do duodeno. Geralmente é ≤ 1 cm de diâmetro ( 3 a 6 cm = úlcera gigante) e com maior frequência localiza-se na primeira porção do duodeno. Dos pacientes com úlcera duodenal 80 – 95% estão infectados pela bactéria H. pylori. Uma infecção crônica por esse microrganismo faz com que haja inibição da secreção de somatostatina pelas células D. Com a redução desse fator inibitório, há maior estimulação para liberação de gastrina e, consequentemente, hipercloridria. Além disso,a bactéria também inibe a secreção de bicarbonato pela mucosa duodenal. O duodeno, ao receber essa maior carga ácida, sofre uma metaplasia (muda o epitélio de intestinal para gástrico) o que permite a infecção da bactéria também no bulbo duodenal causando uma duodenite, seguida de úlcera. O fumo e o uso de AINEs também contribuem para a formação de úlceras. As manifestações clínicas serão discutidas mais a frente neste capítulo. 44 1.3 Úlcera gástrica Como nas úlceras duodenais, a maioria das úlceras gástricas está associada à infecção pelo H. pylori (65 – 95%). Os AINEs também são fatores de risco. Existem quatro tipos de úlcera gástrica que são classificadas de acordo com sua localização (Figura-1) , associação ou não com úlceras duodenais e diferem também na patogênese. Classificação de Johnson: Tipo I: úlcera da pequena curvatura Tipo II: úlcera de corpo gástrico associada a úlcera duodenal Tipo III: úlcera pré-pilórica Tipo IV: úlcera de parte alta, próximo à junção gastroesofágica. Os tipos II e III estão relacionados à hipercloridria com patogênese semelhante a da úlcera duodenal, já as úlceras classificadas como tipo I e IV estão relacionadas, mais comumente, à hipo ou normocloridria. Figura 1. Anatomia do estômago e localização das úlceras pépticas. 1.4 Manifestações Clínicas Síndrome Dispéptica (dispepsia): epigastralgia, azia (queimação epigástrica), náuseas, sensação de plenitude pós-prandial Na úlcera duodenal o quadro sugestivo é de dor em queimação em epigástrio 2 a 3 horas após as refeições, dor noturna (entre 24h e 3h), pode ser aliviada pelo uso de antiácidos e ingesta de alimentos e que tipicamente irradia para o dorso. Por outro lado, a úlcera gástrica costuma ser desencadeada pelo alimento, então o quadro será de epigastralgia logo após as refeições, náuseas e pode haver perda de peso. No entanto, a sintomatologia não é suficientemente confiável para diferenciar a localização da úlcera. 45 1.5 Diagnóstico A Endoscopia Digestiva Alta (EDA) é o exame padrão-ouro para diagnóstico de úlcera péptica. SEMPRE que descoberta uma úlcera gástrica deve-se retirar várias amostras (mínimo sete) para biópsia e pesquisa de tecido neoplásico, pois aquela massa ulcerada pode ser na verdade um câncer gástrico. A conduta inicial diante de um paciente com dispepsia deve ser a pesquisa do H. pylori por métodos não invasivos (sorologia, teste da uréase respiratória). Se positivo iniciar tratamento para erradicação da bactéria. Todo paciente que tem úlcera deve ser investigado para H. pylori que pode ser tanto por métodos invasivos, quanto não invasivos, dependendo da situação clínica. Testes Invasivos - Teste rápido da uréase do fragmento biopsiado: teste de escolha para pacientes submetidos à endoscopia digestiva alta. Amostras de fragmentos biopsiados da mucosa são colocadas em meio contendo ureia e um marcador de pH. Na presença da bactéria, esta produzirá a enzima uréase degradando a ureia em bicarbonato e amônia, o que leva a uma mudança do pH e pode ser observada pelo marcador. - Histopatológico: geralmente feito com 2 a 3 amostras de biópsia de antro gástrico. - Cultura: método menos utilizado para diagnóstico. Testes Não Invasivos - Sorologia: ELISA para IgG anti- H. pylori - Teste Respiratório da Ureia (TRU) - Pesquisa do antígeno fecal Obs.: A queixa de sintomas dispépticos não requer a realização de EDA, exceto para aqueles com idade maior que 45 anos, sangramento digestivo e outros sinais de alarme para câncer gástrico, história família de câncer ou refratariedade do tratamento clínico. 46 1.6 Tratamento - Medida Gerais: evitar alimentos que causem os sintomas, não fumar, evitar bebidas alcoólicas. -Farmacológico: tem como objetivos reduzir a acidez do conteúdo gastrointestinal e erradicar a bactéria H. Pylori quando presente. Inibidores da bomba de próton (IBPs): são os antissecretores de primeira escolha, atuam inibindo diretamente o mecanismo
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