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DIREITO CIVIL III CONTRATOS

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DIREITO CIVIL III - CONTRATOS
1ª AULA
Apresentação da disciplina, apresentação do plano de aulas, critérios deavaliação, recomendação de bibliografia. Noções Gerais do Contrato.Princípios Fundamentais. Função Social do Contrato.
1. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS
NOÇÃO DE CONTRATO:
Para falar de contrato é forçoso relembrar a teoria dos Fatos, Atos e NegóciosJurídicos.
FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO
Corresponde a todo acontecimento NATURAL ou HUMANO capaz deCONSTITUIR, MODIFICAR, CONSERVAR ou EXTINGUIR DIREITOS eOBRIGAÇÕES na órbita jurídica.
FATOS JURÍDICOS EM SENTIDO ESTRITO
Correspondem a todos os acontecimentos produzidos EXCLUSIVAMENTE pelaforça da NATUREZA, que produzem conseqüências jurídicas.
ATOS HUMANOS
Se dividem em:
- il ícitos - aqueles praticados em desacordo com o ordenamento jurídico.Embora repercutam na esfera do direito, produzem efeitos jurídicos involuntários(independem da vontade do agente), mas impostos por este ordenamento.
- l ícitos - compreendem os Atos Jurídicos em sentido amplo - são atospraticados de acordo com a vontade do agente com a finalidade de alcançar osefeitos conferidos por lei;
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ATOS JURÍDICOS EM SENTIDO AMPLO
Correspondem aos acontecimentos praticados por ato de vontade, que produzemconseqüências jurídicas previstas em lei.
Ato jurídico Lícito divide-se em:
ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO (art. 185 CC)
Corresponde à exteriorização da vontade, ou seja, da ação humana, voluntária elícita, praticada com a intenção de obter um resultado jurídico, ou seja, formando,modificando, conservando ou extinguindo direitos - Não possui conteúdo negocial.A simples prática desencadeia o resultado pretendido.
NEGÓCIO JURÍDICO
O negócio jurídico consiste em toda manifestação de vontade, de conteúdonegocial, capaz de produzir efeitos jurídicos (criar, modificar, conservar ouextinguir direitos ou relações jurídicas).
Contrato
O contrato é considerado como a categoria mais importante dos negócios jurídicos,podendo ser traduzido como um acordo de vontades, estabelecido entre dois oumais sujeitos com interesses contrapostos ou paralelos, tendo como finalidadeconstituir, regular, manter, modificar ou extinguir direitos.
Assim, o contrato é um negócio jurídico, através do qual as partes declarantes,segundo a autonomia de suas próprias vontades, disciplinam os efeitospatrimoniais que pretendem atingir, obedecendo aos princípios da função social eda boa-fé objetiva.
OBS: Assim, podemos dizer que todo contrato é um negócio jurídico, porém, nemtodo negócio jurídico é um contrato.
Existem negócios jurídicos que não são contratos como no caso do Testamento(negócio jurídico unilateral - não depende do acordo de vontades para ter eficácia,apenas a aceitação posterior à morte do testador) e o negócio jur ídico sob aanuência de terceiro (separação, divórcio) - estes dependem da autorização ouconfirmação de terceiros (MP e Juiz de direito).
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CONTRATO E OBRIGAÇÃO
Do contrato deriva uma série de obrigações, assumidas voluntariamente pelaspartes contratantes, que deverão ser rigorosamente cumpridas nos moldesavençados, sob pena do inadimplente ser compelido a cumpri-la (quando possível)ou compensá-la, respondendo civilmente pelos prejuízos causados.
Portanto, obrigação e contrato são vocábulos que não devem ser confundidos,pois nem toda obrigação deriva de contrato, posto que este não é a única a fonteda obrigação, que pode se originar da lei (origem imediata na lei), da prática deatos ilícitos (origem imediata no comportamento humano e mediata na lei) ou daprática de negócio jurídico (origem imediata na vontade humana e mediata na lei).
MANIFESTAÇÃO DE VONTADE
Requisito de existência e validade não só dos negócios jurídicos como doscontratos, ela poderá se dar:
Expressamente;Tacitamente;Ficta ou presumidamente (silêncio) - EXCEÇÃO - somente permitidas quandocausas jurídicas anteriores autorizem tal conclusão ou quando prevista em lei.
OBJETOS DO CONTRATO
Objeto imediato - operação - o negócio jurídico em si (compra e venda, locação,etc.)
Objeto mediato - o bem da vida a que se pretende. Este bem deve ser passível devaloração econômica, pois não se é permitido dispor de direitos extrapatrimoniais.
OBS: A obrigação tem como objeto imediato a prestação e mediato o bem da vida.
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO - art. 421 CC
Ao lado dos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana a serobservado em todas as relações jurídicas (públicas e privadas), e da solidariedadesocial como objetivo a ser alcançado, consagrou-se em nosso ordenamentoconstitucional a função social, possibilitando ao Estado intervir nas relações dedireito privado, limitando a liberdade contratual.
Entende-se que determinada coisa obedece à função social quando serve deinstrumento à satisfação dos interesses da sociedade.
A função social do contrato consiste em um princípio de conteúdo jurídico
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indeterminado na medida que se reconhece como necessidade principal aimposição de limites à liberdade de contratar em prol do bem comum.
O art. 5º da LICC prescreve que ao aplicar a lei o juiz deverá atender os finssociais a que ela se destina.
"Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela sedirige e às exigências do bem comum."
Nesse sentido, por mais que um contrato se revista de todos os requisitos devalidade previstos nos arts.104 do CC, mas viole o interesse coletivo como a livreconcorrência, o meio ambiente, etc. não terá respeitado à sua função social,devendo ser rechaçado pelo Poder Judiciário.
Logo, para atingir a função social, o contrato deverá:
Respeitar a dignidade da pessoa humana;Admitir a relativização do princípio da igualdade das partes contratantes(possível somente nos contratos paritários);Consagrar a boa-fé objetiva;Respeitar o meio ambiente;Respeitar o valor social do trabalho.
Por fim, cabe lembrar que mesmo que o contrato tenha sido celebrado sob a égidedo Código Civil de 1916, estará ele sujeito aos novos preceitos estabelecidos peloCódigo Civil de 2002, conforme disciplina o art. 2.035 do CC.
"Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jur ídicos, constituídosantes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leisanteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após avigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houversido prevista pelas partes determinada forma de execução.
Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos deordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar afunção social da propriedade e dos contratos." (grifei)
Obs: Em regra vale o princípio da autonomia da vontade, respeitadas afunção social do contrato e as limitações do princípio da supremacia daordem pública que, em nome da ordem pública e do interesse social, permiteao Estado interferir nas manifestações de vontade.
Princípios fundamentais
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Princípio da autonomia da vontade: Prerrogativa conferida aos sujeitosgarantindo-lhes liberdade na estipulação do que lhes convenha, desde que sesubmetam ao disposto em lei e que seus fins alcancem a função social (art. 425CC).
O princípio da autonomia da vontade pode ser desdobrado em três ângulosprincipais: a liberdade de contratar ou não contratar, a liberdade de contrataraquilo que entender (escolher o conteúdo do contrato), a liberdade de contratarcom quem pretender, desde que não seja proibido, e atenda à função social.
Em se tratando de negócio jurídico, podemos dizer que a vontade é requisitode existência e de validade do negócio jurídico.
Relembrando: para que o negócio jurídico seja considerado existente énecessário que os sujeitos manifestem as suas vontades, logo, basta que hajavontade e que esta seja manifestada de forma expressa, tácita ou ficta (quandopermitidas por causas jurídicas anteriores que a autorizem ou quando previstaem lei).
Pode-se dizer que enquanto a vontade não for exteriorizada, ou seja, enquantoa vontade permanecer aprisionada no inconsciente
da parte, não existiránegócio jurídico, logo, não existirá contrato.
Assim, para que o negócio jurídico exista é necessário que haja aexteriorização da vontade.
Superada a existência, insta salientar que para que o negócio jurídico tenhavalidade é preciso que esta vontade seja livre e isenta de vícios.
Então, para que haja contrato deve haver a manifestação da vontade e estavontade deverá ser hábil, se livre e isenta de vícios.
A ausência de vontade livre e isenta de vícios nos contratos o torna passível deanulação por vício do consentimento (ex. coação).
Em decorrência do princípio da autonomia da vontade, essa vontade decontratar encontra sua liberdade limitada pelas normas de ordem pública, quenão poderão ser contrariadas, pois cogentes, e pelo princípio da função socialdos contratos, previsto no art. 421 CC.
O contrato não poderá ofender ao ordenamento jurídico, tampouco poderá ferirdireitos alheios, por essa razão a autonomia da vontade encontra seus limites,não constituindo mais um princípio absoluto nos contratos.
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Como limite de ordem prática situam-se os contratos necessários ouobrigatórios onde a lei impõe a obrigatoriedade de contatar, como no caso doseguro obrigatório.
Outro caso de limitação da autonomia de contatar é o do prestador de serviçopúblico que não poderá se recusar de contratar com pessoas por elesindesejadas.
Como veremos adiante, nos contratos de locação não residencial o proprietárioserá compelido pela justiça a manter o contrato de locação contra a suavontade.
Outro ponto que merece destaque diz respeito a o surgimento de contratos emmassa cujas cláusulas já se encontram predispostas, como no contrato poradesão, cujo surgimento fez muitos pensarem na "morte" dos contratos, pois talprática estaria aniquilando a autonomia da vontade de contratar.
É bem verdade que nos contratos predispostos apenas o predisponenteelabora as cláusulas contratuais, contudo, não há o que se falar sobre ainexistência da vontade de contratar, pois o aderente não deixa de manifestar asua vontade de contratar, mesmo que tal manifestação se reduza ao aceite -adesão.
Assim, mesmo nos contratos de adesão ou por adesão, a rigor, manteve-se aautonomia da vontade, visto que o aderente manifesta a sua liberdade deescolha ao que contratar nos casos de cartéis, monopólios e oligopólios e, naausência destes, terá o aderente, além da autonomia de contratar o quedesejar, poderá escolher com quem deseja contratar e a como irá contratar.
Quanto às limitações de ordem jurídica, podemos citar como exemplo ocontrato entre particulares de mútuo oneroso, regulamentado por lei paracombater a usura, onde, por mais que se observe vantagens para as partes, alivre pactuação dos juros encontra-se vedada por lei em nome da ordempública.
No sentido de buscar um equilíbrio entre as partes e proteger a parte maisfraca, o Poder Público criou normas cogentes para manter estabilizada a ordempública e o interesse social, fixando princípios e regras gerais a seremaplicados aos contratos, denominadas cláusulas contratuais gerais, com afinalidade de delimitar a autonomia da vontade das partes contratantes, paramanter o equilíbrio da relação contratual, a igualdade real e a proteção deterceiros, proibindo cláusulas abusivas.
Contudo, fora as exceções acima apontadas, a autonomia da vontadeainda pode ser considerada como princípio cardeal dos contratos,encontrando seus limites apenas na lei e na função social.
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Portanto, razões de justiça e equidade vieram a determinar a intervenção doEstado sobre as relações contratuais, em um movimento que ficou conhecidocomo dirigismo contratual. Trata-se da inserção, no ordenamento jurídico, de umasérie de normas cogentes, a delimitar os assuntos sobre os quais se podecontratar, em que limites se pode dispor de determinados direitos, e que cláusulasserão consideradas intrinsecamente abusivas e, por conseguinte, nulas.
Segundo identifica Eros Roberto Grau:"A mudança de perspectiva sobre a compreensão da autonomia da vontade é,portanto, profunda: deixa-se de considerar o indivíduo como senhor absoluto dasua vontade, para compreendê-lo como sujeito autorizado pelo ordenamento apraticar determinados atos, nos exatos limites da autorização concedida."1
O mesmo diagnóstico dessa fase de transição é realizado por Gustavo Tepedinoao afirmar:
"Com o Estado intervencionista delineado pela Constituição de 1988 teremos,então, a presença do Poder Público interferindo nas relações contratuais, definindolimites, diminuindo os riscos do insucesso e protegendo camadas da populaçãoque, mercê daquela igualdade aparente e formal, ficavam à margem de todo oprocesso de desenvolvimento econômico, em situação de ostensiva desvantagem".
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Todavia, a flexibilização da autonomia da vontade a preceitos contidos nalegislação não representa uma completa anulação desse princípio nas relaçõescontratuais. Muito ao reverso, a autonomia da vontade, e, mais especificamente, aliberdade contratual, permanecem como princípio, e sua derivaçãorespectivamente, a reger os vínculos contratuais, agora atrelada à função social docontrato, consoante o disposto no art. 421:
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da funçãosocial do contrato.
Uma constatação de que a autonomia da vontade ainda desempenha papel dedestaque na formação dos contratos pode ser encontrado no art. 425 do CódigoCivil, o qual determina que as partes poderão elaborar contratos atípicos, ou seja,contratos que não seguem os modelos de contrato tipificados na legislação:
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normasgerais fixadas neste Código.
1 Eros Roberto Grau. "Um novo paradigma dos contratos". In Revista Trimestral de Direito Civil. Rio deJaneiro: Padma, v. 5, jan/mar 2001, p. 78.
2 Gustavo Tepedino. Temas de Direito Civil. 2a edição. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 204.
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b) Princípio da igualdade formal e real - equilíbrio da relação contratual:pressupõe a existência de igualdade das partes, ou seja, que em todo contrato aspartes se encontram em equilíbrio, em paridade.
Há de se ressaltar que apenas nos contratos paritários haverá efetivoequilíbrio contratual.
Muito embora os contratos por adesão apresentem um efetivo desequilíbrioentre as partes, pois suas cláusulas são impostas aos contratantes que não tem apossibilidade de discutir o seu conteúdo, aceitando os seus termos muitas vezespor necessidade, a lei apresenta mecanismos que buscam coibir os abusos ereequilibrar as partes contratantes impondo regras de ordem pública e interessesocial, incluindo-se a função social como princípio norteador dos contratos.
Desta forma, cabe ao julgador reequilibrar as partes contratantes revendo oconteúdo da avença, a fim de que a parte em situação inferior ou vulnerável, possaobter retribuição proporcional à obrigação que contraiu.
c) Supremacia da ordem pública: significando que a autonomia da vontadeé relativa, pois se encontra sujeita ao que dispõe a lei e aos princípios da moral,dos bons costumes e da ordem pública; Este princípio permite ao Estado intervirnas relações contratuais impondo limites à atuação particular.
d) Consensualismo: decorre da moderna concepção de que o contrato resultado consenso, ou seja, do acordo de vontades convergentes ou paralelas, estandopresente mesmo nos contratos por adesão, como submissão às cláusulas pré-estabelecidas.
e) Princípio da relatividade dos contratos: funda-se na idéia de que osefeitos do contrato só se produzem em relação às partes contratantes, ou seja,não afeta terceiros;
f) Princípio da força vinculante ou obrigatoriedade dos contratos (pacta suntservanda): representa a força vinculante das convenções. Assim, o contrato queobedece aos requisitos legais, vincula as partes, obrigando-as ao seucumprimento.
Tal princípio tem por fundamentos: a necessidade de segurança dos negóciosjurídicos e da ordem pública e a intangibilidade ou imutabilidade dos contrato;
O princípio da obrigatoriedade
dos contratos somente encontra limites na forçamaior ou caso fortuito que determinam a extinção da avença.
OBS: Além do caso fortuito ou de força maior, poderá uma das partes alegar aexceção do contrato não cumprido (exceptio non adimpleti contractus) ou cumpridoparcialmente (exceptio non rite adimpleti contractus) - art. 476 CC, comojustificativa do não cumprimento de sua parte na avença.
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Outra exceção a este princípio encontra-se disposta no art. 49 do CDC quepermite a desistência da contratação do fornecimento de produto ou serviço quetenha chegado ao consumidor através de técnica de venda.
g) Princípio da revisão dos contratos (atende ao princípio da equivalênciamaterial entre as partes) - arts. 317 c/c 478 e seguintes do CC -(cláusula rebussic stantibus e teoria da imprevisão): consiste basicamente em presumir noscontratos de trato sucessivo ou de execução diferida a existência implícita de umacláusula, pela qual a obrigatoriedade de seu cumprimento pressupõe ainalterabilidade da situação de fato. Se esta, no entanto, modificar-se em razãode acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, que tornem excessivamenteoneroso para uma das partes o seu adimplemento e que isto resulte em extremavantagem para a outra parte contratante, poderá esta requerer ao juiz que a isenteda obrigação, parcial ou totalmente.
O CDC também prevê a revisão dos contratos quando o consumidor sedeparar com condição superveniente de onerosidade excessiva - art. 6º, incisoV do CDC sem exigir que tal condição provoque extrema vantagem para aoutra parte contratante e seja extraordinária ou imprevisível, basta que sejainesperado e não atribuível ao consumidor.
h) Princípio da boa fé objetiva - arts. 113 e 422 CC: exige que as partes secomportem de forma correta não só durante as tratativas, como também durante aformação e o cumprimento do contrato.
O princípio da boa-fé objetiva abrange os deveres correlatos aos negóciosjurídicos como a lealdade, a informação, a veracidade, a transparência de agir, asegurança, a mútua cooperação, etc.
Cabe lembrar que a boa-fé objetiva deve estar presente não só no ato decelebração e conclusão do contrato, como deve preceder a celebração epermanecer após a sua conclusão, como se verifica, por exemplo, no dever dofornecedor de produto ou serviço de prestar assistência técnica ao consumidor.
O inciso IV do art. 5º CDC prevê que são nulas as cláusulas ofensivas à boa-fé.
Ver arts. 413 CC e 51, IV do CDC.
2ª AULA
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Classif icação dos Contratos. Interpretação dos Contratos.
Classificação dos contratos:
I) CONTRATOS CONSIDERADOS EM SI MESMOS:
1) Quanto à natureza da obrigação:
Classificação que leva em consideração a natureza da obrigação como parâmetro,ou seja, em função da prestação pactuada
OBS: NÃO CONFUNDIR CONTRATO BILATERAL COM NEGÓCIO JURÍDICOBILATERAL.
O Negócio Jurídico pode ser unilateral (quando se aperfeiçoa através damanifestação da vontade de uma das partes - testamento) ou bilateral (seaperfeiçoa com a conjunção de vontades das duas partes - contrato).
Quanto se trata de contrato unilateral ou bilateral, leva-se em consideração oacordo de vontades, se esta criará ou não obrigações recíprocas.
a) bilaterais, plurilaterais ou sinalagmáticos: são aqueles que prevêem direitose obrigações para ambas as partes, ou seja, obrigações recíprocas de direitos edeveres criando uma dependência recíproca entre as prestações (por issodenominados como contratos sinalagmáticos ou de prestações correlatas);
Ex: contrato de compra e venda.
b) unilaterais: são aqueles que mantém as posições de credor e devedorestáticas, ou seja, prevê que uma das partes terá direitos e a outra terá deveres.
Aqui, apenas uma das partes se obriga e apenas a outra parte aufere vantagens.
Ex. contrato de depósito.
PARTE DA DOUTRINA PREVÊ A EXISTÊNCIA DE UMA CATEGORIAINTERMEDIÁRIA:
Contrato bilateral imperfeito - contrato de depósito - em um primeiro momento seapresenta unilateral, contudo, no curso da execução se mostra bilateral, visto que,em virtude de circunstância superveniente, o depositante poderá ser obrigado apagar ao depositário as despesas feitas com a coisa (arts. 643 CC).
A melhor doutrina repele a existência desta categoria intermediária. Orlando
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Gomes entende que tal situação acidental não descaracteriza a unilateralidade docontrato, uma vez que na sua conclusão irá gerar obrigações para uma parteapenas.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:
- Apenas nos contratos bilaterais pode-se adotar a exceção do contrato nãocumprido (exception non adimpleti contractus) - art. 476 CC.
Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida asua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.
Apenas nos contratos bilaterais se aplica a teoria da condição resolutiva tácita:prevê a justa causa para a resolução do contrato quando uma das partes deixa,culposamente, de cumprir a sua prestação na avença, por força dainterdependência das obrigações.
Apenas nos contratos bilaterais comutativos é aplicável a teoria dos víciosredibitórios - vícios ou defeitos ocultos da coisa passíveis de torná-la imprópriapara o uso que se destina ou que lhe diminua o valor (art.441 CC).
Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode oadquirente reclamar abatimento no preço.
onerosos: considera-se oneroso o contrato onde ambas as partes terão benefíciose sacrifícios correspondentes, ou seja benefício de uma das partes deverácorresponder ao sacrifício patrimonial da outra.
Ex. compra e venda.
gratuitos ou benéficos: são aqueles contratos onde apenas uma das partes iráauferir benefício e a outra apenas arcará com sacrifício patrimonial.
Ex: doação pura (sem encargo e comodato)
OBSERVAÇÃO:
Nos contratos gratuitos, cabe a interpretação restritiva, protegendo ocontratante onerado (art. 114 CC);Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-seestritamente.
No campo da responsabilidade civil por descumprimento da obrigação, ocontratante beneficiado responderá por simples culpa enquanto a parteonerada apenas responderá se tiver agido com dolo. Já nos contratos
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onerosos ambas as partes responderão por culpa, salvo quando aresponsabilidade for objetiva, ou seja, independente de culpa (art. 392 CC).
Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, aquem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratosonerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstasem lei.
A evicção apenas se aplica aos contratos onerosos (art. 447 CC).
Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste estagarantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.
Os contratos Onerosos se dividem em;
Comutativos: quando houver efetiva equivalência entre a prestação e acontraprestação, sendo esta de conhecimento prévio dos contratantes;
Ex: compra e venda.
Aleatórios (arts. 458/461 CC): são aqueles que expõem os contratantes à situaçãode ganho ou perda, não há certeza sobre a equivalência das prestações.Ex: jogo, aposta, contrato de seguro, etc;
OBS: CONTRATO DE COMPRA E VENDA ALEATÓRIA:
Contrato de compra e venda de coisa futura, com assunção de risco pelaexistência (art. 458 CC) - (emptio spei) o contratante assume o risco de não vira ganhar coisa alguma.
Ex: compra de safra futura, compra do lança da rede do pescador.
Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros,cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direitode receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte nãotenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir.
2) Contrato de compra de coisa futura sem assunção de risco pela existência(art. 459 CC): neste caso não haverá assunção total de riscos pelo contratante,visto que o alienante se compromete a entregar alguma coisa, devendo restituir opagamento caso não tenha como entregar
ao contratante alguma coisa.
Ex: se a safra for inferior a de costume a obrigação estará cumprida, se nãohouver safra resolve-se o contrato.
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Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando oadquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá tambémdireito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorridoculpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada.
Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e oalienante restituirá o preço recebido.
3) Compra de coisa presente mas exposta ao risco assumido pelo contratante(art. 460).
Ex: compra de mercadoria embarcada sem notícia do seu estado atual, tendo oadquirente assumido o risco delas chegarem ou não ao seu destino, pagando opreço mesmo em caso de perecimento da mercadoria.
Art. 460. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, masexpostas a risco, assumido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante atodo o preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia docontrato.
Art. 461. A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá seranulada como dolosa pelo prejudicado, se provar que o outro contratante nãoignorava a consumação do risco, a que no contrato se considerava exposta acoisa.
g) Paritários: são aqueles em que as partes se encontram em paridade denegociação, ou seja, as partes encontram-se em igualdade de condições nanegociação das cláusulas contratuais (fase de puntuação).
h) Por adesão: é aquele que se encontra predeterminado por um doscontratantes (proponente), caracterizando-se pela impossibilidade de negociaçãopor parte do oblato.
CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO DE ADESÃO:
Uniformidade: caracterizada pela identidade do conteúdo contratual, visandoatingir o maior número possível de contratantes;
Predeterminação unilateral: o contrato de adesão caracteriza-se não pelauniformidade, mas pela sua forma de constituição, ou seja, pela fixação decláusulas predeterminadas pela parte proponente, sem possibilidade dediscussão de seu conteúdo;
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Rigidez: característica marcante deste tipo de contrato, a rigidez impossibilita adiscussão das cláusulas, pois de outra forma estaríamos frente ao contratoparitário;
Posição de vantagem de uma das partes (superioridade material oueconômica): pode-se dizer que a superioridade de uma das partes permite apredeterminação de cláusulas, é o que acontece com o detentor de monopóliode exploração de determinado produto ou serviço que poderá impor a suavontade pois de outro modo o oblato não teria o produto ou serviço pretendido.
OS CONTRATOS DE ADESÃO DIFERENCIAM-SE DOS CONTRATOS-TIPOS,FORMULÁRIOS, EM SÉRIE OU EMMASSA:
PARIDADE ENTRE AS PARTES;POSSIBILIDADE DE NEGOCIAÇÃO DO CONTEÚDO DAS CLÁUSULASPREDETERMINADAS.
DIFERENTE DOS CONTRATOS OBRIGATÓRIOS:
NÃO SE ADMITE A POSSIBILIDADE DE NÃO CONTRATAR;O OBLATO APENAS TERÁ AUTONOMIA NA ESCOLHA DO CONTRATANTE.
Quanto à forma:
Leva-se em consideração a forma em que se opera (escrito, verbal) e a maneirapela qual ele é considerado finalizado.
a) Não-solenes: são aqueles que apresentam liberdade de forma, constituem aregra em nosso ordenamento jurídico (princípio da liberdade de forma), não terácabimento quando a lei exigir forma rígida.
Solenes ou formais (ad solemnitatem): são aqueles que devem se apresentarsob a forma prescrita em lei para que tenham validade - constituem exceçãoem nosso ordenamento; ex: compra e venda de imóveis cujo valor exceda ovalor legal (art. 108 CC)
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial àvalidade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência,modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trintavezes o maior salário mínimo vigente no País.
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Paralelamente aos contratos ad solemnitatem encontram-se os contratos adprobationem, que são aqueles que devem apresentar a forma escrita para efeitosde prova do negócio jurídico, mesmo quando a forma não seja essencial à suavalidade, como nos casos onde não seja admitida apenas a prova testemunhal.
Ex: contrato de fiança.
Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só seadmite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior saláriomínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados.
c) Consensuais: são aqueles que se aperfeiçoam com a simples proposta eaceitação, ou seja, se concretizam com a simples declaração de vontade. Logo, sótem cabimento quando a lei não exigir forma especial.
ex: compra e venda de coisa móvel, locação, transporte, etc.
Reais: aqueles que exigem a entrega efetiva da coisa para que sejamconsiderados existentes, ou seja, o contrato não se forma enquanto a coisa não forentregue.
ex. mútuo, comodato, depósito, penhor;
3) Quanto à disciplina legal:
Leva em conta a denominação específica do contrato celebrado.
a) Contratos Nominados ou Típicos: são aqueles que encontram nomenclaturae regulamentação prevista em lei.
b) Contratos Inominados ou Atípicos: são aqueles que não possuemnomenclatura e regulamentação legal própria, são fruto da criatividade humana.
A legislação prevê o contrato inominado para ratificar a garantia da liberdade daspartes para livremente celebrar contratos não previstos em seu texto;
c) Contratos Mistos: são aqueles formados pela fusão ou combinação de doisou mais contratos típicos
Ex. alienação fiduciária que trata da conjugação do contrato de venda com ocontrato de depósito;
4) Quanto à pessoa do contratante:
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- Quanto à pessoa do contratante podemos apontar a importância dos sujeitos docontrato para a celebração e produção dos efeitos pretendidos, classificando-seem:
a) Contratos Pessoais: são conhecidos como personalíssimos(intuitu personae)- Leva em consideração as características particulares do contratante, as quaistem influência decisiva para a celebração do contrato.
As peculiaridades do sujeito contratado constituem a razão determinante dacontratação.
Ex: contratos onde se pactue que a obrigação de fazer é infungível.
b) Contratos Impessoais: são aqueles onde o interesse se dirige meramenteao resultado pretendido, não valoriza habilidades pessoais, poderá ser cumpridopor qualquer pessoa.
OBS: Importância na distinção:
Podemos destacar a importância na distinção dos contratos pessoais e impessoaispelas seguintes consequências:
- TRANSMISSIBILIDADE: como já visto na matéria relativa ao direito dasobrigações, o contrato intuitu personae são intransmissíveis, ou seja, somentepoderão ser executados pela pessoa contratada, não podendo a obrigaçãoassumida ser cedida ou transmitida para que outrem a execute.
- ANULAÇÃO: os contratos intuitu personae poderão ser anulados caso hajaerro essencial sobre a pessoa contratada (art. 139, II do CC);
- PERDAS E DANOS: como o contrato intuitu personae não admite aprestação por terceiros, o seu descumprimento culposo somente poderá gerar opagamento de indenização por perdas e danos ou, sendo possível ou havendointeresse do credor, poderá este buscar meios coercitivos através de astreintes.
- Ainda quanto à importância da pessoa, podemos apontar a relevância daclassificação quanto ao número de sujeitos atingidos na relação contratual, ondeapresentam-se os:
c) Contratos Individuais: opera-se entre pessoas determinadas, consideradasindividualmente, mesmo que as partes se apresentem em número elevado.
d) Contratos Coletivos: são aqueles celebrados entre grupos nãoindividualizados, reunidos por uma relação jurídica ou de fato, como asconvenções coletivas das categorias profissionais.
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Também chamados de contratos normativos, os contratos coletivos apresentamcláusulas com força normativa abstrata, ou seja, possuem situação análoga aospreceitos legais, estabelecendo regras que deverão ser observadas na celebraçãoe na execução dos contratos individuais subordinados.
e) Autocontrato: não se trata de contrato consigo
mesmo. O autocontrato secaracteriza pelo negócio jurídico onde uma das partes se encontra representadapor outra pessoa que detém poderes para celebrar o contrato e que o estipulaconsigo mesmo, em vez de pactuá-lo com terceiros.
Há de se ressaltar que tal avença sempre encontrou severas resistências,apresentando o Novo Código Civil dispositivo prevendo o autocontrato, em seu art.117, que somente será permitido se autorizado expressamente por lei ou orepresentado.
Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídicoque o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigomesmo.
Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante onegócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido substabelecidos.
5) Quanto ao tempo da execução, os contratos podem ser:
a) Instantâneos: são aqueles cujos efeitos se produzem de uma só vez, emum só ato.
Ex: compra e venda de bens móveis - o contrato se consuma com a tradição(entrega) da coisa.
Os contratos Instantâneos podem ser:
i) De execução imediata, ou seja, logo após a celebração.
ii) De execução diferida, ou seja, em ato posterior, a termo.
OBS: Apenas nos contratos de execução diferida aplica-se a teoria da imprevisão,pois a execução depende de circunstâncias futuras.
Contratos de duração: também chamados de contrato de trato sucessivo,execução continuada ou débito permanente: são aqueles cuja execução dependeda prática de atos sucessivos ou reiterados, como no caso de compra e venda aprazo, o contrato de trabalho, etc.
O Contrato de duração poderá ser:
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i) contrato de duração determinada: ocorre sempre que houver menção expressade um termo final ou de condição resolutiva a limitar a sua eficácia;
ii) contrato de duração indeterminada: ocorre quando não houver mençãoexpressa de um termo final ou de condição resolutiva a limitar a sua eficácia;
IMPORTÂNCIA NA DISTINÇÃO:
- Os art. 478 a 480 do CC. tratam dos casos de onerosidade excessiva,prevendo a resolução do contrato em tais casos;
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação deuma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para aoutra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá odevedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretarretroagirão à data da citação.
Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificareqüitativamente as condições do contrato.
Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes,poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo deexecutá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.
- A declaração de nulidade ou a resolução por inadimplemento dos contratosde execução instantânea impõe a restituição das partes ao status anterior e noscontratos de execução continuada respeitar-se-ão os efeitos produzidos.
6) Quanto ao motivo determinante do negócio:
Trata de classificação que leva em consideração o motivo que determinou acelebração do contrato.
a) contratos causais: são aqueles que encontram-se vinculados a uma causaespecífica que o determinou, podendo ser considerados inválidos de a causadeterminante for ilícita, inexistente ou contra a moral.Ex: contrato de locação.
b) contratos abstratos: são aqueles que tem força independente da causa queo determinou, como por ex. os títulos de crédito, o cheque.
7) Quanto à função econômica:
Tem como parâmetro a função econômica do contrato celebrado.
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a) Contrato de troca: aquele que se caracteriza pela permuta de coisas(utilidades econômicas).
Ex: Compra e venda.
b) Contratos associativos: são aqueles que se caracterizam pela manifestaçãode vontades coincidentes ou paralelas.
Ex: Sociedade e Parceria.
c) Contrato de prevenção de riscos: são aqueles em que uma das partesassume os riscos, resguardando a possibilidade de dano futuro e eventual.
Ex: contrato de seguro.
Contrato de crédito: são aqueles que visam a obtenção de um bem que deverá serrestituído posteriormente.
Ex: mútuo feneratício.
Contrato de atividade: são aqueles que se caracterizam pela prestação de umaconduta de fato (serviço) mediante remuneração.
Ex: contrato de trabalho.
II) CONTRATOS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS:
Essa classificação toma como parâmetro a existência de uma relação dedependência ou a definitividade da avença.
8) Quanto à dependência:
a) Contratos principais: constituem a regra no sistema jurídico. São aquelesque têm existência autônoma, não dependem da existência de outro contrato paraexistirem.
b) Contratos acessórios: exceção. A existência do contrato acessóriopressupõe a existência do contrato principal ao qual servem.
Ex: contrato de fiança (acessório do contrato de locação).
Conseqüências da dependência:
- A nulidade do contrato principal provocará a nulidade do contrato acessório(art. 184 CC) mas a nulidade do contrato acessório não implicará a nulidade docontrato principal;
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Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negóciojurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade daobrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz ada obrigação principal.
- A prestação da pretensão relativa à obrigação principal induzirá à prestaçãoda obrigação acessória mas, uma vez prescrita a obrigação acessória, nãoinduzirá à prescrição da obrigação principal.
OBS: O contrato assessório não se confunde com o contrato derivado ousubcontrato que, mesmo mantendo a situação de dependência, diferem docontrato acessório por participar da própria natureza do contrato-base.Ex: sublocação.
9) Quanto à definitividade:
a) Contratos preliminares: são aqueles que tem por finalidade garantir acelebração do contrato definitivo, tornando obrigatória a celebração de um contratono futuro, ou seja, consiste em um pré-contrato, ex.: compromisso de compra evenda, são firmados com o fim de tornar obrigatória a celebração de um contratofuturo.
b) Contratos definitivos: constituem a regra em nosso sistema jurídico, sãoaqueles que visam constituir, manter, modificar ou extinguir direito patrimoniais.
A INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS
A interpretação dos contratos se mostra relevante quando há divergência entre oscontratantes acerca do real sentido de determinada cláusula contratual, casocontrário o contrato será cumprido normalmente, não haverá litígio, não haveráprestação jurisdicional.
Como bem disse Silvio Rodrigues3 "o contrato tem por mola propulsora a vontade daspartes, de maneira que, para se descobrir o exato sentido de uma disposição contratual, faz-semister, em primeiro lugar, verificar qual a intenção comum dos contratantes."
Neste sentido, o art. 112 do CC dispõe sobre a regra básica de interpretação dosnegócios jurídicos, dispondo que a intenção do agente da declaração de vontadeprevalecerá sobre o sentido literal da palavra.
"Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas
3 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil Vol.3: Dos Contratos e das Declarações Unilaterais de Vontade /
Silvio Rodrigues. 30ª Ed. atual. De acordo com o Novo Código Civil (Lei 10.406 de 10-01-2002). São Paulo:Saraiva. 2004.Pág. 49.
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consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem."
Conforme dito acima, a interpretação do contrato mostra a sua importância noscasos de divergência entre os contratantes que, por esta razão, deixam de cumpriro pactuado, levando à justiça o seu litígio.
Para dirimir a questão, o intérprete deverá analisar o contrato objetiva esubjetivamente.
No ponto de vista objetivo, o intérprete analisará as cláusulas do contrato,
No ponto de vista subjetivo, o intérprete analisará a vontade, a intenção do agentecontratante.
Ao contrário dos Códigos Francês e Italiano, o Código Civil Brasileiro não dispõede um capítulo sobre regras de interpretação dos contratos, trazendo apenasalguns dispositivos esparsos. Desta forma, tornou-se pacífica a orientação
de seutilizar os conceitos estabelecidos nas leis estrangeiras, considerados úteis,principalmente na legislação italiana, para a análise dos contratos.
Assim, cumpre o estudo dos mecanismos previstos no Código Civil Italiano, noCapítulo sobre a interpretação dos contratos, cujos dispositivos se encontramdivididos em dois grupos:
1º Grupo: traz os dispositivos de caráter objetivo, onde o contrato será analisadoatravés do exame de suas cláusulas.
Regras:
Cláusulas de duplo sentido - deverão ser analisadas de forma a gerar algumefeito (princípio da conservação dos contratos);Cláusulas ambíguas - serão interpretadas segundo os costumes locais;Expressões com mais de um sentido - devem ser interpretadas de acordo coma natureza e do objeto do contrato;Cláusulas inscritas nas condições gerais do contrato, elaboradas apenas porum dos contratantes - serão interpretadas de forma mais benéfica ao outrocontratante;Nos contratos gratuitos - a interpretação deverá ser a menos onerosa para odevedor;Nos contratos onerosos - a interpretação deverá buscar o equilíbrio das partes.
2º Grupo: traz regras de caráter subjetivo, consubstanciadas na interpretaçãosegundo a vontade das partes.
Regras:
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Prevalência da vontade das partes sobre o sentido literal da linguagem;Em caso de obscuridade ou de divergência - o intérprete deverá verificar overdadeiro intuito das partes, analisando o comportamento pré e pós contratual;Em caso de divergência de cláusulas - o intérprete deverá analisá-la conformeas cláusulas anteriores e posteriores, não devendo a cláusula em litígio seranalisada isoladamente;Quando o contrato referir sobre determinado caso a título de esclarecimento - ointérprete não deverá excluir casos abrangidos na convenção que não estejamexpressos no contrato.
OBS: A interpretação do contrato jamais poderá colidir com a cláusula dispostade forma clara, ou seja, que não admita dúvidas, em razão de se preservar asegurança das relações contratuais.
Seguem abaixo alguns dispositivos do nosso Código Civil, que estabelecem regrasde interpretação dos contratos:
Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito areserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinhaconhecimento.
Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos oautorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.
Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelasconsubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e osusos do lugar de sua celebração.
Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas oucontraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva.
FORMAÇÃO DOS CONTRATOS
Como já foi dito, os contratos consistem na manifestação convergente ou paralelade vontades dirigidas a alcançar algum fim.
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Porém, para que tais manifestações produzam algum efeito é necessário que aspartes estabeleçam as cláusulas que irão reger a relação jurídica.
O processo de formação dos contratos inicia-se com a fase de tratativaspreliminares, denominada fase de puntuação, onde as partes negociam ascláusulas até que estabeleçam a proposta definitiva e, por consequência aaceitação.
Assim, apenas considera-se formado o contrato que apresentar a proposta e aconseqüente aceitação.
PROPOSTA (proponente) CONSENTIMENTO ACEITAÇÃO (aceitante)
FASE DE PUNTUAÇÃO
A fase de puntuação não se trata de contrato preliminar, mas de fase denegociações preliminares, que precede a formação dos contratos (preliminares oudefinitivos) - fase onde as partes conciliam interesses antagônicos visando aproposta final.
Neste momento, as partes ainda não se encontram vinculadas, ou seja, ainda nãohá obrigação, pois o direito de contratar ou não é garantido pela ordem jurídica,possui natureza constitucional, o qual permite às partes o direito de negociarlivremente, ou seja, permite o direito de optar por celebrar ou não o contrato.
Lembrando que tal direito encontra limites no princípio da boa-fé objetiva. Assim,na fase de tratativas deve-se atentar para o fato de não se ter criado uma legítimaexpectativa de contratar, assim, entende-se que caso o exercício do direito de nãocontratar cause danos, estes devem ser indenizados conforme o princípio da boa-fé objetiva e dos deveres de confiança e lealdade.
FASE DE POLICITAÇÃO (PROPOSTA)
Esta fase consiste na oferta que uma parte (proponente, ofertante, policitante) fazà outra (oblato) de contratar.
Caracterizada como uma declaração receptícia de vontade, a fase de policitaçãodeverá ser concreta para vincular as partes, não devendo ser confundida com afase de puntuação.
Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se:
o contrário não resultar dos termos dela: cláusula de arrependimento (não seaplica às relações de consumo - arts. 30/35 do CDC - Princípio da Vinculação);
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da natureza do negócio: ex: ofertas ao público limitadas ao estoque da loja.
das circunstâncias do caso: condição genérica que deve ser analisada pelojulgador.
Exceções quanto ao lapso temporal:
Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio decomunicação semelhante;
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente parachegar a resposta ao conhecimento do proponente;
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazodado;
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte aretratação do proponente.
Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitosessenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dosusos.
Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação,desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada.
ACEITAÇÃO
Aquiescência, concordância, aceite à proposta de contrato, manifestada peloaceitante (oblato) ao aderir ao que lhe foi proposto.
Para que tenha validade é necessário que se respeite os requisitos de validade damanifestação de vontade, ou seja, livre e isenta de vícios, exercida por pessoacapaz ou representada ou assistida, legítima ou legitimada.
Contraproposta - não representa aceitação, pois houve modificação da proposta,ou seja, surgiu uma nova proposta (art. 431 CC).
Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações,
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importará nova proposta.
Se a aceitação chegar a conhecimento do proponente após o prazo, deverá estecomunicar tal fato ao aceitante sob pena de responder pelos prejuízos causados(art. 430 CC)
Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde aoconhecimento do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sobpena de responder por perdas e danos.
ACEITAÇÃO TÁCITA
Deve ser expressada por alguma conduta ou não for usual a aceitaçãoexpressa.
Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitaçãoexpressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato,não chegando a tempo a recusa.
RETRATAÇÃO
Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar aoproponente a retratação do aceitante.Ex: Habitualidade no fornecimento de produtos agrícolas - caso não seja dointeresse do comerciante, deverá este avisar o fornecedor sob pena de arcar comos prejuízos.
CONTRATOS ENTRE AUSENTES - FORMAÇÃO
Tratam-se dos casos de contratos formados entre pessoas ausentes,principalmente quando formados através de correspondência epistolar.
Nesse caso cumpre verificar em que momento o contrato se formou.
Na tentativa de se apontar o momento exato da formação
do contrato a doutrinacriou duas teorias explicativas, a saber:
1) TEORIA DA COGNIÇÃO:
Os adeptos desta teoria entendem que a formação do contrato se opera nomomento em que a resposta do aceitante chega ao conhecimento do proponente.Assim, não só caberia o recebimento da correspondência, mas a ciência de seuconteúdo.
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2) TEORIA DA AGNIÇÃO :
Para seus adeptos não há a necessidade de que a resposta chegue aoconhecimento do proponente, dividindo-se a doutrina:
2a) Subteoria da declaração propriamente dita: o momento da formaçãoseria aquele em que o aceitante redige a sua resposta - não precisa o momentoexato da resposta, trazendo insegurança às relações contratuais;
2b) Subteoria da expedição: o momento da formação do contrato seria aquelemomento onde o aceitante expedisse a sua resposta - tinha como adepto ClóvisBeviláqua - era adotada pelo CC de 1916;
2c) Subteoria da recepção: o momento da formação do contrato seria aqueleem que o proponente recebe a resposta. Ao contrário da teoria da cognição, nãohá aqui a necessidade do proponente tomar ciência do conteúdo da resposta,basta que ela chegue.
Pode ser provada através do Aviso de Recebimento (AR).
TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO CIVIL DE 2002:
A leitura do art. 434 do CC, passa a impressão de que o novo Codex adotou asubteoria da expedição, contudo, através de uma interpretação sistemática,compreendendo o art. 433 do CC, não se chega a outra conclusão de que oDiploma Civil adotou a subteoria da recepção, visto que admite-se a retrataçãoantes ou simultaneamente ao recebimento da resposta, além de prever que não seconsideram mais obrigatória a proposta quando a resposta não chegar no prazoconvencionado.
LUGAR DA FORMAÇÃO DO CONTRATO:
O Art. 435 do CC, dispõe que se considera celebrado o contrato no lugar em quefoi proposto.
Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.
IMPORTÂNCIA:
COMPETÊNCIA PARA AÇÕES QUE VERSEM SOBRE O CONTRATO;OBSERVAÇÃO DOS USOS E COSTUMES LOCAIS PARA DIRIMIRQUESTÕESCONTROVERTIDAS;
CONTRATOS PELA INTERNET - Domicílio do proponente/policitante.
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ESTIPULAÇÕES CONTRATUAIS EM RELAÇÃO A TERCEIROS
Como já dito, o contrato consiste em manifestação convergente ou paralela devontades visando a criação, manutenção, modificação ou extinção de direitospatrimoniais, gerando efeitos entre as partes contratantes.
Contudo, nosso regulamento jurídico estabelece uma exceção ao princípio darelatividade subjetiva dos efeitos do contrato, ou seja, dispõe que em alguns casoso contrato poderá gerar efeitos para uma terceira pessoa que não tenhaparticipado da relação contratual, prevendo a estipulação em favor de terceiro, apromessa de fato a terceiro e o contrato com pessoa a declarar.
ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO
Consiste em uma espécie de contrato onde uma das partes (credor ou estipulante)convenciona que a outra (devedor ou promitente) deverá prestar determinadaobrigação em benefício de uma terceira pessoa (terceiro ou beneficiário) estranhaà relação contratual que torna-se credora da obrigação.
EX: Seguro de Vida.
O TERCEIRO NÃO PARTICIPA DA RELAÇÃO CONTRATUAL, CONTUDO, OCONTRATO EM FAVOR DE TERCEIRO SE TORNA APERFEIÇOADO PELAVONTADE DAS PARTES CONTRATANTES POIS O TERCEIRO NÃO TOMAPARTE DA AVENÇA.
Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento daobrigação.
Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, tambémé permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, sea ele anuir, e o estipulante não o inovar nos termos do art. 438.
Desta forma, para que o terceiro obtenha o direito de exigir o cumprimentoda obrigação, isto é, incorpore ao seu patrimônio jurídico o direito de exigir aprestação, é necessário que concorde expressamente com as condições enormas do contrato, assumindo de forma inequívoca as obrigações deledecorrentes e que não tenha sido substituído pelo estipulante.
Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito dereclamar-lhe a execução, não poderá o estipulante exonerar o devedor.
O estipulante perderá o direito de exonerar o devedor se, no contrato,reservar ao terceiro o direito de exigir o cumprimento da obrigação.
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Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designadono contrato, independentemente da sua anuência e da do outro contratante.
Tal estipulação também deverá ser expressa.
Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposiçãode última vontade.
A melhor doutrina dirige severas críticas ao legislador pelo fato de ter silenciadosobre a distinção das estipulações gratuitas e onerosas em relação ao terceirobeneficiado, visto que este poderá assumir obrigações visando a obtenção dobenefício estipulado e ver-se privado de tal benefício através da exoneração dodevedor/promitente ou pela sua substituição efetivada pelo estipulante.
Nesse sentido, a doutrina aponta que apenas nas estipulações graciosas caberiaao estipulante a revogação da estipulação ou a modificação do beneficiário, umavez que este não sofreria qualquer prejuízo por não ter assumido qualquer ônus.
Por outro lado, nos contratos gratuitos o estipulante apenas perderia o direito deexonerar o devedor se tiver renunciado expressamente a este direito, conferindoao beneficiário a prerrogativa de pretender o cumprimento da obrigação.
Nas estipulações onerosas, a remissão do devedor, a revogação da estipulação ou,ainda, a substituição da pessoa do beneficiário, acarretará efetivos prejuízos aoterceiro que sujeitou-se às condições e normas do contrato, contraindo um ônus.
EFEITOS DA ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIROS
Possibilidade garantida tanto ao estipulante quanto ao terceiro de exigir aprestação por parte do promitente/devedor.
PROMESSA DE FATO A TERCEIRO
Consiste em negócio jurídico, onde a prestação avençada deverá ser cumpridanão pelo estipulante mas por um terceiro estranho à relação obrigacional.
Assim como a estipulação em favor de terceiro a promessa de fato a terceirotraduz-se em exceção ao princípio da relatividade subjetiva dos efeitos do contrato.
Contudo, tal avença se subordina a um fator eficacial que subordina aresponsabilidade civil pelo descumprimento do contrato, ou seja, se o terceiro nãotiver se comprometido diretamente ao cumprimento da obrigação, esta dele nãopoderá ser cobrada. Devendo o credor exigir a reparação civil daquele que seencontra vinculado à relação jurídica, ou seja, do contratante que tiver prometidoo fato de terceiro.
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Assim, o promitente apenas será exonerado da obrigação assumidacontratualmente caso o terceiro assuma diretamente de forma expressa aobrigação.
Contudo, o Código Civil de 2002 apresentou uma novidade no campo daresponsabilidade civil pelo inadimplemento da promessa de fato de terceiro aoexcluir a responsabilidade do estipulante quando terceiro for seu cônjuge e ocumprimento da obrigação depender de sua anuência ou recair sobre benscomuns, pois se estaria onerando o patrimônio daquele que não participou darelação obrigacional e portanto não teria responsabilidade de reparar os danoscausados.
Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas edanos, quando este o não executar.
Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge dopromitente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, peloregime do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre osseus bens.
Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, seeste, depois de se ter obrigado, faltar à prestação.
SOLIDARIEDADE
Como já visto em direito das obrigações, a solidariedade não se presume, resultada vontade da lei ou por convenção das partes. Logo, para que haja solidariedadeentre aquele que prometeu o fato de terceiro e o terceiro será necessário que hajaprevisão expressa convencionada entre ambos.
CONTRATO COM PESSOA A DECLARAR (cláusula pro amico eligendo)
Consiste em negócio jurídico, consagrado pelo atual Código Civil, semelhante àpromessa de fato de terceiro, onde o estipulante reserva a faculdade de, nomomento de conclusão do contrato, indicar uma pessoa que o substituirá narelação contratual, pessoa que irá adquirir direitos e contrair as obrigações em seulugar.
Art. 467. No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-sea faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir asobrigações dele decorrentes.
Para tanto é necessário que haja aceitação por parte do terceiro indicado, pois odesignante se afasta da relação jurídica obrigacional como se nunca tivesse delaparticipado e o terceiro nomeado passa a integrar o contrato como se tivesseparticipado de sua elaboração, ou seja, os direitos adquiridos e as obrigaçõescontraídas retroagem à data de celebração do negócio jurídico (art. 469).
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Art. 469. A pessoa, nomeada de conformidade com os artigos antecedentes,adquire os direitos e assume as obrigações decorrentes do contrato, a partir domomento em que este foi celebrado.
O designante terá o prazo decadencial de 5 (cinco) dias a contar da celebraçãopara indicar o terceiro que o irá substituir, caso não haja estipulação diversa, ouseja, no silêncio do contrato, o prazo decadencial para a indicação do terceiro seráde cinco dias.
Art. 468. Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de cinco diasda conclusão do contrato, se outro não tiver sido estipulado.
Parágrafo único. A aceitação da pessoa nomeada não será eficaz se não serevestir da mesma forma que as partes usaram para o contrato.
Para que haja a substituição será necessário que:
o designante exerça o seu direito facultativo e indique o terceiro no prazo legal;que o terceiro aceite a indicação da mesma forma em que se deu o contrato,não admitindo-se o silêncio como aceitação;se a pessoa a nomear não era, ao momento da nomeação, incapaz ouinsolvente, sendo tal fato desconhecido pelo outro contratante.
Nestes casos, a obrigação apenas terá eficácia entre aqueles que contrataram.
Art. 470. O contrato será eficaz somente entre os contratantes originários:
I - se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a aceitá-la;
II - se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o desconhecia nomomento da indicação.
Art. 471. Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento danomeação, o contrato produzirá seus efeitos entre os contratantes originários.
Ex: Compromisso de compra e venda de imóveis - o promissário compradorreserva a faculdade de indicar terceiro para figurar na escritura definitiva.
DISTINÇÃO ENTRE O CONTRATO COM PESSOA A DECLARAR E A CESSÃODE CONTRATO
Contrato com pessoa a declarar Cessão de posição contratual
- Faculdade de indicação encontra-se - Não prevê a necessidade de
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prevista no momento de celebração docontrato, podendo não ser exercida. estipulação prévia para substituição docontratante.
- o cedente cede seus créditos e débitosa um terceiro que passa a assumir aposição contratual do cedente.
- o cedente cede apenas o seu créditoou o seu débito.
VÍCIOS REDIBITÓRIOS
Instituto jurídico cuja finalidade consiste em resguardar ou garantir a possibilidadedo adquirente de determinada coisa de redibir o contrato comutativo detransferência de posse ou propriedade, ou exigir o abatimento do preço, quando acoisa adquirida apresentar vícios ocultos que a tornem imprópria ao uso a que sedestina ou lhe diminua consideravelmente o valor, aplicando-se a regra, inclusive,nos casos de doações onerosas, até o montante do encargo.
CONCEITO DE VÍCIO REDIBITÓRIO:
Tratam-se de vícios ocultos capazes de diminuir o valor ou prejudicar a utilizaçãode determinada coisa adquirida através da celebração de contrato oneroso ecomutativo.
Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitadapor vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada,ou lhe diminuam o valor.
Parágrafo único. É aplicável a disposição deste artigo às doações onerosas.
OBS: Entende-se por vício oculto aquele que não é aparente, pois se for aparentenão há o que se falar de vício redibitório.
Caio Mário define o vício redibitório como "um defeito oculto de que é portadora acoisa objeto de contrato comutativo, que a torna imprópria ao uso a que se destina,ou lhe diminua sensivelmente o valor".4
Assim, o vício redibitório permite ao adquirente a possibilidade de resolver ocontrato rejeitando a coisa adquirida com vício oculto, existente à época docontrato, que torna a coisa imprópria ao uso ou lhe diminua o valor ou de exigir oabatimento do preço.
4 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Inst ituições de Direito Civil. Vol. III. 10ª Ed., Rio de Janeiro: Forense.Pág. 71.
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ELEMENTOS DE CARACTERIZAÇÃO DO VÍCIO REDIBITÓRIO
Existência de contrato comutativo;Defeito oculto existente à época da celebração;Diminuição do valor econômico da coisa ou que a torne imprópria o uso que sedestina
FUNDAMENTOS
Orlando Gomes entende que a garantia contra os vícios redibitórios se assentafundamentalmente em três teorias:5
1) Teoria da Evicção Parcial:
Evicção: perda da propriedade de um bem, móvel ou imóvel, por força de umreconhecimento judicial ou administrativo do direito anterior de terceiro. Ou seja,ocorre a evicção quando o adquirente perde a propriedade da coisa adquirida porforça de uma decisão judicial ou administrativa que reconhece o direito anterior deum terceiro sobre a coisa.
No caso de evicção o adquirente perde a coisa adquirida para um terceiro quedemonstra o melhor direito sobre a mesma, enquanto o vício redibitório provoca arejeição da coisa ou o abatimento do seu preço por esta apresentar um vício jáexistente e oculto no momento em que foi adquirida.
Pela evicção, o adquirente prejudicado terá direito de regresso contra aquele quelhe vendeu a coisa, guardando íntima conexão com a responsabilidade civil pordescumprimento contratual, nada tendo em comum com a possibilidade deredibição ou rejeição do contrato por vício que prejudica o uso da propriedadeadquirida.
2) Teoria do Erro:
Erro: vício do consentimento capaz de anular o negócio jurídico. Possui dimensãosubjetiva, ou seja, é necessário que o contratante prove que agiu em erroessencial, sem o qual não teria realizado o negócio jurídico, para que este sejadeclarado inválido.
O erro está ligado à qualidade essencial da coisa, tendo o negócio se consumadoem razão da ignorância do adquirente, ao passo que no vício redibitório não tratada falta de qualidade essencial na coisa, mas de defeito capaz de prejudicar o seuuso ou lhe diminuir substancialmente o valor.
5 GALGLIANO,Pablo Stolze.Novo Curso de Direito Civil, volume IV: Contratos, tomo 1: Teoria Geral
/ Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. 2ª Ed. revisada, atualizada e reformada. São Paulo:Saraiva, 2006. págs.184/185.
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O vício redibitório consiste em uma garantia legal dos contratos comutativos, nãoguardando nenhuma semelhança com o erro, pois o erro vicia a vontade do agentee o vício redibitório tem natureza objetiva, o adquirente recebeu exatamente o quedesejava, contudo tal objeto apresentava defeito, não entrando no campo davalidade do negócio, mas da sua eficácia.
3) Teoria do inadimplemento contratual:
Tem como fundamento a violação do dever de garantia, ou seja, o dever queimpõe a responsabilidade ao alienante por aquilo que colocou à venda,assegurando ao adquirente que a coisa alienada encontra-se em perfeito estado eem condições de uso a que se destina.
4) Teoria do Risco:
Por esta teoria, o risco decorre por imperativo legal, obrigando ao alienante asuportar os riscos provocados por eventuais vícios ocultos existentes na coisaalienada, traduzindo uma idéia de perigo concreto de dano, induzindo à conclusãode que o alienante deve suportar a redibição do contrato por defeitosapresentados na coisa que por ele são desconhecidos, retornando a idéia degarantia contratual.
É na teoria do inadimplemento contratual
e na sua variante, a teoria do risco, que ovício redibitório encontra a sua justificativa (princípio de garantia) conforme sedepreende da leitura do art. 444 do CC.
Art. 444. A responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça empoder do alienatário, se perecer por vício oculto, já existente ao tempo da tradição.
Nesse caso, o adquirente (alienatário) terá direito à compensação devida.
CONSEQUÊNCIAS DO VÍCIO REDIBITÓRIO
Rejeitar a coisa, redibindo o contrato através de ação redibitória, podendoainda pleitear indenização por perdas e danos se cabível;
Exigir o abatimento do preço via ação estimatória ou "quanti minoris".
Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode oadquirente reclamar abatimento no preço. - através das ações edilícias (AçãoRedibitória ou Ação Estimatória / quanti minoris)
O art. 442 prevê duas pretensões, contudo o adquirente apenas poderá sevaler de uma, face o concurso de ações, ou seja, a escolha de uma exclui aescolha da outra.
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A quebra do dever de lealdade previsto no princípio da boa-fé objetiva contratual,impõe o pagamento de perdas e danos. Assim, se o alienante conhecia o vício,além de se sujeitar às ações edilícias, será chamado a responder pela indenizaçãopor perdas e danos que tiver provocado.
Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o querecebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valorrecebido, mais as despesas do contrato.
Assim, se o alienante desconhecia o vício apenas restituirá o que tiver recebido eas despesas do contrato, restituindo o estado anterior a celebração do contrato.
Prazo decadencial para a propositura das ações edil ícias:
Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preçono prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado daentrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido àmetade.
§ 1o Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazocontar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento eoitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis.
Enunciado 174 aprovado durante a III Jornada de Direito Civi l do Conselhoda Justiça Federal e do Superior Tribunal de Justiça: "Em se tratando devício oculto, o adquirente tem os prazos do caput do art. 445 para obterredibição ou abatimento de preço, desde que os vícios se revelem nosprazos estabelecidos no parágrafo primeiro, fluindo, entretanto, a partir doconhecimento do defeito" .
§ 2o Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultosserão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais,aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regrasdisciplinando a matéria.
Art. 446. Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusulade garantia; mas o adquirente deve denunciar o defeito ao alienante nos trinta diasseguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência.
Logo, adquirida a coisa com cláusula de garantia, o prazo da garantia legal porvício redibitório, visando a redibição ou o abatimento do preço, terá início apósescoado o prazo dado em garantia contratual, contudo, para que o adquirente nãoperca a garantia legal, deverá informar ao alienante o aparecimento do vício
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redibitório no curso da garantia contratual no prazo previsto (30 dias) sob pena dedecadência.
EVICÇÃO
Trata-se da perda da coisa adquirida onerosamente, por força de decisão judicialou administrativa que a atribui a outrem, reconhecendo o direito preexistente aocontrato.
Ocorre a evicção quando o adquirente vem a perder a coisa adquirida, total ouparcialmente, através de uma decisão judicial ou administrativa, fundamentada emdireito de terceiro, anterior ao contrato.
O instituto da evicção visa resguardar o direito do adquirente da coisa vendida poraquele que não é o seu titular (alienação a non domino), uma vez que ao alienantenão cabe apenas o dever de transferir o domínio ou a posse da coisa alienada,deve também garantir o uso e o gozo pacífico da mesma, resguardando oadquirente de eventuais pretensões reivindicatórias de terceiros.
Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste estagarantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.
Assim, caso ocorra a evicção, terá o adquirente (evicto) o direito à restituição dovalor pago, das despesas do contrato e com o processo (custas e honorários),além da indenização pelos frutos que tiver de restituir, além do ressarcimento detodos os prejuízos que resultarem diretamente da evicção.
Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituiçãointegral do preço ou das quantias que pagou:
I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamenteresultarem da evicção;
III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído.
Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa,na época em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso deevicção parcial.
SUJEITOS DA EVICÇÃO
Alienante;Adquirente (evicto);
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Terceiro (evictor).
FUNDAMENTOS
A evicção constitui garantia legal (não necessita de cláusula expressa no contrato)que visa o ressarcimento do adquirente pela perda da posse ou da propriedade dacoisa, evitando-se o enriquecimento sem causa.
Contudo, não há como afastar o princípio da boa-fé objetiva como fundamento daevicção, pois não há como não se apresentar a quebra do dever de lealdadenecessário aos contratos, até porque seus efeitos não alcançam o adquirente quetinha conhecimento da evicção e assumiu o risco - art. 457 CC.
Art. 457. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa eraalheia ou litigiosa.
CLÁUSULA GERAL DE GARANTIA
A evicção constitui uma garantia legal, presente em todo contrato oneroso,translativo de posse, uso ou propriedade, prescindindo de cláusula expressa.
Contudo, a responsabilidade do alienante poderá ser afastada, desde que deforma expressa.
Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar (impondo a devoluçãodo preço em dobro), diminuir (permitir a devolução de parte do valor) ou excluir aresponsabilidade pela evicção.
É necessário que se atente ao fato de que o reforço não deverá superar o prejuízoexperimentado pelo evicto, devendo o reforço ser fixado com cautela, evitando-seque a evicção se transforme em negócio lucrativo desfigurando a sua naturezaindenizatória, o que seria contrário aos princípios da boa-fé e do enriquecimentosem causa.
CLÁUSULA DE NÃO-EVICÇÃO OU DE IRRESPONSABILIDADE
Para que a cláusula de irresponsabilidade produza efeitos, é necessário que oadquirente seja informado sobre a probabilidade da evicção e assuma o risco deperder a coisa, renunciando expressamente a garantia.
Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se estase der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se nãosoube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.
Assim, se ao celebrar o contrato o adquirente não sabia dos riscos ou, seinformado, não assumiu o risco da evicção, mesmo presente a cláusula de
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irresponsabilidade, terá ele direito à restituição do preço da coisa, porém, oalienante estará dispensado de restituir as demais verbas previstas no art. 450 doCC.
Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituiçãointegral do preço ou das quantias que pagou:
I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamenteresultarem da evicção;
III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído.
Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa,na
época em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso deevicção parcial.
REQUISITOS
Aquisição onerosa da propriedade, uso ou posse de coisa por contrato ouem hasta pública;
Posterior perda da posse ou da propriedade por decisão judicial ouadministrativa;
Ignorância, pelo adquirente, que a coisa encontra-se em lit ígio;
Direito anterior do evictor (terceiro);
Denunciação à lide do alienante (art. 456 do CC c/c arts. 70, I e 76 do CPC).
DIREITOS DO EVICTO:
I- Restituição integral do preço ou das quantias que pagou:
II - Indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
III - Indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamenteresultarem da evicção;
IV - Ressarcimento da custas judiciais e aos honorários do advogado por eleconstituído.
Art. 451. Subsiste para o alienante esta obrigação, ainda que a coisa alienadaesteja deteriorada, exceto havendo dolo do adquirente.
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Art. 452. Se o adquirente tiver auferido vantagens das deteriorações, e não tiversido condenado a indenizá-las, o valor das vantagens será deduzido da quantiaque lhe houver de dar o alienante.
Art. 453. As benfeitorias necessárias ou úteis, não abonadas ao que sofreu aevicção, serão pagas pelo alienante.
Art. 454. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido feitaspelo alienante, o valor delas será levado em conta na restituição devida.
A EVICÇÃO PODERÁ SER TOTAL OU PARCIAL
Art. 455. Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto optar entre arescisão do contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao desfalquesofrido. Se não for considerável, caberá somente direito a indenização.
Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirentenotificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando ecomo lhe determinarem as leis do processo.
Parágrafo único. Não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendomanifesta a procedência da evicção, pode o adquirente deixar de oferecercontestação, ou usar de recursos.
Atualmente predomina o entendimento de que a denunciação à lide énecessária, apenas, para garantir ao evicto o direito de regresso contra oalienante nos próprios autos da ação reivindicatória.
Art. 457. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa eraalheia ou litigiosa.
Extinção do Contrato. Resil ição Contratual. Resolução Contratual
FORMAS DE EXTINÇÃO DOS CONTRATOS
EXTINÇÃO NATURAL
Regra: a extinção natural se dá pela execução espontânea da prestação avençada,que pode ocorrer de forma instantânea, diferida ou continuada, satisfazendo-se odireito do credor.
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Lembrando de direito das obrigações, o pagamento da obrigação se comprovapela quitação fornecida pelo credor na forma do art. 320 do CC.
EXTINÇÃO PORDESCUMPRIMENTO CONTRATUAL
Nem sempre o contrato é extinto da forma que se espera, ou seja, através do seucumprimento. Algumas vezes o contrato é extinto sem ser adimplido.
O inadimplemento podem decorrer de causas anteriores ou contemporâneas àformação do contrato ou por causas supervenientes.
CAUSAS ANTERIORES OU CONTEMPORÂNEAS QUE PROVOCAM AEXTINÇÃO DO CONTRATO
Decorrem de:
Defeitos decorrentes da falta de algum dos requisitos subjetivos, objetivos ouformais essenciais aos contratos provocando a sua invalidade por nulidade ouanulação;
Implemento de cláusula resolutiva (pacto comissório - resolução porinadimplemento - art. 475 CC);
Exercício do direito de arrependimento convencionado.
CAUSAS SUPERVENIENTES QUE PROVOCAM A EXTINÇÃO DO CONTRATO
Decorrem da:
Resolução por inadimplemento voluntário, involuntário ou por onerosidadeexcessiva;
Resilição pela vontade de um ou de ambos os contratantes;
Morte de um dos contratantes nos contratos intuitu personae;
Rescisão - modo específico de extinção de certos contratos.
RESOLUÇÃO
A extinção do contrato por resolução pressupõe sempre a inexecução ou odescumprimento do contrato por algum dos contratantes, ou seja, tem semprecomo origem a inadimplência.
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A resolução é consiste em um direito de romper judicialmente o vínculo contratual,concedido por lei à parte lesada pelo inadimplemento voluntário ou involuntário docontrato.
INADIMPLEMENTO VOLUNTÁRIO - CULPOSO
O inadimplemento voluntário decorre do comportamento culposo do contratanteinadimplente, causando prejuízo à outra parte.
Resolução em contratos de execução instantânea:
A resolução neste caso produzirá efeitos ex tunc, obrigando o inadimplente, alémda restituição do que foi pago, ao pagamento de indenização por perdas e danos,da cláusula penal estipulada, conforme arts. 475, 409 a 411 do CC.
Resolução em contratos de execução sucessiva:
A resolução produzirá efeitos ex nunc, não havendo restituição das prestaçõescumpridas. Ex: locação.
EXCEÇÃO DE CONTRATO NÃO CUMPRIDO - exceptio non adimpleticontractus.
Prevista no art. 476 do CC, consiste na possibilidade de um dos contratantesdefender-se de ação de execução, argüindo o direito de recusar-se a prestaçãoque lhe cabe enquanto a outra parte não cumprir a sua prestação.
A exceção de contrato não cumprido somente poderá ser argüida em contratosbilaterais (sinalagmáticos - prestações recíprocas) de execução simultânea.
É de se ressaltar que tal exceção apenas dá ao contratante o direito de nãocumprir a sua parte enquanto a outra parte não cumpre a sua, ou seja, a defesa serestringe ao direito de uma das partes se recusar ao cumprimento de suaobrigação enquanto não satisfeita a obrigação da outra parte. Logo, não há defesade mérito, ou seja, não se discute aqui a existência ou não da obrigação contratual- a parte não nega que não cumpriu a sua obrigação, apenas justifica a suaoposição em cumpri-la por descumprimento da outra parte.
Assim, uma vez cumprida a obrigação por uma parte, não poderá a outra valer-seda exceção de contrato não cumprido para recusar-se a cumprir a sua obrigação.
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A mesma regra se aplica à exceção de contrato parcialmente cumprido - exceptionon rite adimpleti contractus.
OBS: Podem as partes convencionar a cláusula solve et repete ou exceptiosolucionis obrigando-se ao cumprimento do contrato independentemente doadimplemento da outra parte, renunciando a exceção do contrato não cumprido oucumprido parcialmente, resignando-se ao direito de pleitear posteriormente aindenização por perdas e danos.
GARANTIA DE EXECUÇÃO DA OBRIGAÇÃO A PRAZO
Procurando acautelar os interesses da parte que deve cumprir a sua parte nocontrato em primeiro lugar, o art. 477 do CC prevê que, em caso de alteraçãopatrimonial do outro contratante capaz de comprometer ou tornar duvidosa a suaprestação, o devedor poderá recusar-se a cumprir a sua obrigação até que a outraparte satisfaça a sua ou apresente garantia de satisfazê-la.
DESCUMPRIMENTO POR INEXECUÇÃO INVOLUNTÁRIA
Por ação de terceiros;
Caso fortuito;
Força maior.
A inexecução involuntária se opera por fatores supervenientes à formação docontrato, caracterizando-se pela impossibilidade de cumprimento do contrato,impondo-se a sua resolução.
REQUISITOS:
A impossibilidade deve ser objetiva - fatos alheios à vontade do devedor;
A impossibilidade deve ser total, se parcial poderá o credor ter interesse naprestação parcial;
A impossibilidade deve ser definitiva, caso contrário autoriza apenas asuspensão do contrato.
A inexecução involuntária não acarreta ao devedor o dever de indenizar o credorpor perdas e danos, visto que a inadimplência decorreu de fatos alheios à suavontade, ou seja, não houve culpa (requisito da responsabilidade civil) de suaparte, salvo estipulação expressa obrigando-se a ressarcir o credor dos prejuízos
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resultantes de caso fortuito ou força maior (arts. 393 e 399 do CC).
A sentença declaratória de resolução por inadimplemento involuntário visa arestituição do que foi pago pelo credor e seu efeito é retroativo, pois visa restituiras partes ao estado anterior ao contrato.
RESOLUÇÃO POR ONEROSIDADE EXCESSIVA - Princípio

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