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TEORIAS E TRATADOS SOBRE A ARQUITETURA

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TEORIAS E TRATADOS SOBRE A ARQUITETURA
Do início do cristianismo ao fim da Idade Média
 Pitagorismo
	O pitagorismo faz pensar que tudo o que nos encanta e atrai pode ter algumas formalidades universais, objetivas e, inclusive, mensuráveis em termos numéricos; quer dizer que a beleza possui algum modo de estrutura harmônica. Harmonia supõe uma combinação de elementos, uma unidade numa pluralidade, como organização proporcionada, matemática, de algo sensível, material, onde o prazer da alma resulta ser o reconhecimento intuitivo e inconsciente de estar conectado com a lei divina que organiza o universo.
	A alma humana caída de regiões celestes ao perceber a harmonia musical se sentiria confusamente transportada à sua feliz origem. A harmonia assumiria no homem um caráter de “expressão”, de “representação” ou “imitação” da lei básica do universo.
	“ Deus sempre matematiza”. Os números seriam a lei divina do kosmos, tendo um significado de ordem e beleza, a razão da harmonia universal. Os planetas estariam engastados em respectivas esferas situadas a distâncias bem numeradas em torno da Terra, emitindo, portanto, uma suave harmonia (não se sabia bem o que era som).
	
	Sobre Pitágoras:
Aristóteles (Metafísica)
	“Os chamados pitagóricos dedicaram-se à matemática e acreditavam que seus princípios eram os princípios de todas as coisas... E como neste saber os números é o primeiro acreditavam que neles havia (mais que no fogo, na terra e na água) muita semelhança das coisas que são e que deverão ser. Como todas as coisas pareciam modeladas segundo os números e os números pareciam o primeiro em toda a natureza, pensaram que os elementos dos números eram os elementos de todas as coisas e que o céu inteiro era harmonia e número”.
	“Os pitagóricos dizem que as coisas existem por “imitação” dos números e Platão diz que existem por participação, mudando o nome. Porém deixaram aberta a questão de que podia ser a participação das Idéias”.
	Platão
	Fedro
	“A alma que nunca viu a verdade não voltará à forma humana. Pois um homem deve ter inteligência para o que se chama Idéia, uma unidade unida pela razão a partir de muitos detalhes dos sentidos”.
	“Quem ama o belo é chamado amante porque participa dele. Pois toda alma humana tem contemplado o verdadeiro ser no modo da Natureza: tal era a condição para passar à forma humana”.
“ Porém da beleza, repito que a vimos brilhando em companhia das formas celestiais, e ao chegar à Terra as encontramos também aqui brilhando em claridade através das mais claras aberturas dos sentidos. Pois a vista é a mais penetrante de nossos sentidos corporais, mesmo que a sabedoria não é vista por ela; seu encanto seria arrebatador se houvesse uma imagem visível dela, e as demais Idéias, se tivessem correspondências visíveis, seriam igualmente encantadoras. Isto é o privilégio da beleza, que sendo a mais encantadora é também a mais sensível à vista”.
	Filebo:
	“Não entendo como beleza de forma a dos animais e as imagens como muitos esperariam, mas que, para minha argumentação, entendo linhas retas e círculos e as superfícies ou formas maciças que se formam segundo elas com regras e esquadros”.
	República:
	Sempre admitimos que toda a coisa particular que chamamos com um só nome tem uma só essência... Suponhamos que existam muitas camas e mesas...porém somente existe duas essências destes artefatos: o caráter essencial de uma cama e de uma mesa...Não deveríamos dizer que quem faz estes artefatos úteis... os faz tendo sua essência em sua mente? Pois nenhum artesão cria a própria essência do objeto.
	E, o artesão? Não faz a essência, a natureza das camas, mas somente uma cama dada. Então, não faz a realidade da cama: algo parecido, porém não a realidade...O produto é uma sombra da verdade...Então, temos três camas: uma, a cama como é na realidade, que foi feita suponho por Deus...Outra, a feita pelo carpinteiro...E outra pelo pintor”.
“Existem três artes sobre cada objeto: usá-lo, produzi-lo e imitá-lo”.
	Timeo:
	Se o mundo é belo e o Deus é bom, está claro que este mirava ao eterno”.
	“Tudo o que é bom é belo e o belo não é desproporcional. No caso de um ser vivo, também é necessária a proporção...Nenhuma proporção é mais importante que aquela que existe entre a alma e o corpo”.
	Aristóteles
	Metafísica:
	“A arte surge quando de muitas noções obtidas pela experiência se produz um único juízo universal sobre as coisas semelhantes”.
	“Da arte surgem as coisas cuja idéia está na alma”.
	“As principais formas da beleza são a ordem, simetria e claridade, que a matemática demonstra em grau especial”. outra coisa que a idéia arquitetural de que o exterior de um objeto constitui, tão somente, uma expressão sensível.
1.1Vitruvio (Marcus Vitrúvi Pollionis) – De Architectura Libri Decem (27 A.C.)
Arquiteto romano do século I da era cristã, primeiro autor de uma grande obra sobre a arquitetura: “De Architectura Libre Decem”, constituído, como seu próprio nome indica, de dez livros, ou partes, que contem valiosas e abundantes noções teóricas, estéticas e científicas sobre a arquitetura. Dos dez livros, os sete primeiros são dedicados à arquitetura dos templos e aos edifícios de caráter civil; o oitavo trata dos aquedutos; o nono refere-se à gnomônica e o décimo às máquinas. Vitruvio escreveu essa obra já com idade avançada, dedicando-a ao Imperador Augusto (27 aC.), de quem foi arquiteto.
Para Vitruvio, a arquitetura teria que ser resposta a três categorias:
Firmitas (solidez): que abrange os campos da estática, os problemas construtivos e a teoria dos materiais.
Utilitas (utilidade): refere-se ao aproveitamento espacial dos edifícios e o cumprimento de suas funções.
Venustas (beleza): os postulados estéticos amparados em seis conceitos básicos: ordinatio, dispositio, eurythmia, symmetria, decor e distributio, agrupados em três conjuntos:
Ordinatio, eurythmia e symmetria abordam os aspectos de proporcionalidade dos edifícios.
Dispositio faz referência à composição artística.
Decor e distributio aludem à justa adequação e utilização das ordens arquitetônicas e relação dos espaços com seus habitantes.
“Ordinatio est modica membrorum operis commoditas separatim, universalque ad symetriam comparatis”( A ordenação é o que dá a todas as partes de um edifício seu justo tamanho em relação ao uso, quer se considere separadamente, quer se considere a proporção ou simetria de toda a obra). A ordenação consiste em determinar a proporção das partes de uma obra em relação ao seu conjunto total, tendo como derradeiro escopo a harmonia geral. Ordinatio é a ordenação; o arranjo dos elementos entre si, de maneira a obter a harmonia do conjunto. Ordinatio é a ordenação; o arranjo dos elementos entre si, de maneira a obter a harmonia do conjunto.
“Dispositio” autem est rerum apta collocatio, elegansque in compositionibus affectus operis cum qualitate” ( A disposição é o arranjo conveniente de todas as partes, de maneira que estejam situadas segundo a qualidade de cada uma). Refere-se à composição de um projeto e à sua representação gráfica. Para se realizar a composição, conforme Vitruvio, são necessárias duas coisas: meditação e invenção. Meditação é o esforço do espírito, estimulado pelo prazer de obter êxito na pesquisa de algo (inspiração); invenção é o efeito desse esforço, esclarecendo e explicando as coisas mais obscuras. Vitruvio refere-se à ordenação antes de cogitar da composição a que chamou de dispositio, sendo esta formada pela iconographia, orthographia e scenographia. A primeira consistia no que hoje chamamos planta, a segunda o que conhecemos por fachada e a terceira a perspectiva. 
“Eurythmia est venusta species commodusque in compositionibus membrorum aspectus ( A euritmia é o conjunto harmônico e regular das partes do todo, visando tornar agradável o aspecto da obra). Verifica-se, quando à altura corresponde o cumprimento e este à largura, harmonizando-se afinal com a simetria do edifício. Portanto, para Vitruvio, chega-se à euritmiaquando o todo tem “justa dimensão”: harmonia de três dimensões e resultante de simetria. O verdadeiro conceito que Vitruvio fazia de eurythmia não pode ser atualmente garantido. Podendo ser o equilíbrio das partes com o todo, o que de fato é harmonia; como também pode ser uma escala de proporção previamente fixada.
“Symmetria est ex ipsius operis membris conveniens consensus, ex partibusque separatis ad universae figurae figurae especiem ratios partis responsus. A simetria é a relação que o todo tem com as partes, segundo a medida de certa parte). A euritmia e a simetria representam os conceitos fundamentais da estética clássica. Falando das colunas jônicas e de sua decoração, assim se expressou: “Suas simetrias deverão ser obtidas de modo tal que o comprimento da base, em todos os sentidos, seja de uma espessura da coluna com a adição de um quarto ou de um oitavo”. A symmetria constitui outra categoria vitruviana que pode ser interpretada de diversas maneiras. A mais razoável, depois da comparação que Vitruvio faz das proporções do corpo humano com a arquitetura, é de que se trata do que hoje conhecemos como proporção. Acontece que esta não pode ser confundida com proportio, usada para indicar não a proporção em si, mas a unidade de medida – o modulus – que a fixava. Daí surgindo o que se chama sistema modular vitruviano.
“Decor autem est emendatus operis aspectus, probatis rebus compositi cum autoritate.( O caráter é o que faz que seja de tal modo correto o aspecto do edifício, que tudo nele seja aprovado e baseado em alguma autoridade). Por outras palavras, é o mesmo que dizer que a um interior rico não convém a instalação de um vestíbulo pobre: como não convém à ordem jônica os triglifos dóricos. “Os olhos serão incomodados, porque estão acostumados a verem as coisas dispostas de outra maneira”, isto é, sentido de unidade. Decor é o decoro, aquilo que não resulta inconveniente: o caráter, o conveniente, a unidade de estilo.
“Distributio autem est copiarum locique dispensatio in operibus sumptus cum ratione temperatio. Distribuição é a economia ou o aspecto econômico na arte de construir). Distributio não é distribuição, como poderia parecer à primeira vista, mas a concordância da obra a ser executada com os recursos de quem a intenção de erigi-la e com o lugar que deve ocupar.
 Vitruvio define as três componentes básicas do projeto (utilitas, firmitas e venustas) como presentes e integradas num processo de união e superação das recíprocas incompatibilidades. Podemos deduzir do conceito vitruviano que o intuito da arquitetura é a integração de aspectos perenes e temporais do edifício. Estando a perenidade representada por aspectos imutáveis como a harmonia, o ritmo, a proporção e a simetria, tendo a geometria como ferramenta necessária para a manipulação e definição das formas arquitetônicas; o arquiteto deveria, partindo desses valores apriorísticos, adaptá-los à sua época, definindo um uso temporal do edifício, valendo-se de um sistema construtivo adequado à linguagem formal pretendida.
Divide a arquitetura em duas partes:
Teoria (ratiotinatio): a justa proporção que devem ter as coisas que se pretende construir.
Prática (fabrica): o que se pretende erigir, levantar, construir.
Segundo Vitruvio, a arquitetura admite duas partes: quo significatur et quod significat. Tendo-se a coisa significada, ou seja, a coisa que é e a coisa que significa (a que faz conhecer a natureza interior de uma coisa pelas suas próprias causas). Segundo a idéia, quod significat corresponde à realização objetiva da idéia. Sem dizer, Vitruvio entrosou a filosofia com a arquitetura: a idéia – que desenvolvida pode ser teoria – conjugada com a prática.
 Normas para projetar a cidade
“As muralhas devem estar traçadas não em quadro nem com ângulos salientes, mas arredondadas, o que permite ver melhor o inimigo de todos os pontos. A defesa de um reduto quadrado é mais difícil porque seus vértices protegem mais ao inimigo e assaltante do que aos habitantes e defensores da cidade. (...)
Uma vez fortificada a cidade, deve-se traçar as parcelas que ocuparão as casas e as ruas e passeios, tendo em conta as condições do clima. As ruas principais estarão bem projetadas se não estiverem na mesma direção dos ventos dominantes. Os ventos frios desagradam, os quentes enervam e os carregados de umidade são causas de enfermidade (...) A linha das fachadas das casas não deve estar voltada para os pontos de onde sopram os ventos, para que quando entrem pelas ruas dêem com os ângulos das casas e se percam e dispersem-se sem violência.(...) Traçados os passeios e as ruas, trataremos agora do modo como se elege os sítios públicos aonde serão construídos os templos, o forum e os outros sítios públicos para que sejam convenientes e apropriados para todos. Ao se tratar de uma cidade marítima, o forum será construído próximo do porto, porém se estiver no interior, ficará no centro da cidade. Quanto ao templos, os dedicados ao deus tutelar da cidade e os de Júpiter, Juno e Minerva serão elevados no sítio mais alto e do ponto que domine melhor a cidade. O de Mercurio ficará no forum, como o de Isis e Serapis no mercado, os de Apolo e Baco próximo do teatro. O de Hércules no circo, nas cidades que não tenham ginásios, nem anfiteatros. “
 A composição das construções
“O desenho do templo obedece à Simetria, cujas leis hão de observar o arquiteto rigorosamente. A Simetria depende da Proporção, em grego analogia, que é a correspondência das medidas das distintas parte do todo e do todo com a parte que se toma como norma. Daqui derivam os princípios da Simetria. Sem Proporção e sem Simetria não haveriam leis segundo as quais seriam traçados os planos dos templos, como se não houvesse relação entre seus elementos, por exemplo, entre os membros do corpo humano quando estão bem constituídos. (...) De igual modo deve-se encontrar nos templos a maior harmonia nas Proporções e relação de Simetria entre os elementos e o conjunto que formam. (...) Assim, já que a natureza fez o corpo humano de modo que os membros guardam uma proporção com as medidas totais, parece fundada a antiga norma de que no edifício perfeito os distintos elementos guardem exatas proporções com traçado geral e total.”
A distribuição dos edifícios
“Não há nada a que um arquiteto não dedique mais atenção do que às exatas proporções de seu edifício. Depois que o Módulo de Simetria foi determinado e as dimensões proporcionais foram ajustadas por meio de cálculos, vem a parte inteligente de considerar a natureza do lugar, os costumes e a beleza, modificando o plano mediante diminuições e adições, de maneira que estas diminuições e adições das relações simétricas puras possam ser vistas como determinantes.”
1.2 Plotino (205 – 270 d.C.)
Trata, nas Enéadas, sobre arquitetura. Visando a estética do conteúdo, procurou esclarecer suas próprias dúvidas, perguntando: como é que uma coisa, sendo corporal, pode ser comparada a uma coisa superior ao corpo, como é a alma? Como é que o arquiteto pode considerar belo um edifício que tem diante dos olhos em correlação com a idéia que ele possui dentro de si próprio? Para Plotino, a forma interior não é
“A beleza dirige-se principalmente à vista, porém também há uma beleza para o ouvido, como em certas combinações de palavras em toda classe de música, pois as melodias e cadências são belas e as almas que se elevam sobre o reino dos sentidos a uma ordem mais elevada se dão conta da beleza que há no modo de conduzir a vida, em ações, em caráter, nas deduções do intelecto e também estão na beleza das virtudes. Nosso discurso mostrará que outra beleza mais elevada pode haver.
	Então, o que é a beleza das formas materiais e o que leva o ouvido a perceber a doçura dos sons e qual é o segredo da beleza que há em tudo que deriva da alma?
	Há algum Princípio Único de que todos recebem sua graça ou há uma beleza particular para o corporal e outra para o incorpóreo? Finalmente um ou vários? Que seria tal princípio?
	Considera-seque algumas coisas, formas materiais por exemplo, tem sua graça não por nada inerente, mas por algo comunicado, mesmo que outras sejam atrativas por si mesmas, como por exemplo, a Virtude. Os mesmos corpos parecem às vezes belos, às vezes não; assim há grande distância entre ser corpo e ser belo...
	Voltemos à fonte e indiquemos o Princípio que outorga beleza às coisas materiais. Sem dúvida esse Princípio existe; é algo que se percebe à primeira vista, algo que a alma nomeia como por um antigo conhecimento. E ao reconhece-lo dá boas vindas e se põe a uníssono com ele. Porém, se a alma cai no Feio e se encolhe dentro de si mesma nega isto, se aparta dele, sem entrar em acorde, molestando-a”.
	“Imaginemos dois blocos de pedra, um em bruto e sem desbastar e outro trabalhado já pela arte, convertido em estátua divina ou humana; se divina de uma Graça ou de uma Musa; se humana, não de um homem qualquer, mas de um homem ideal, que formou um plano artístico reunindo a beleza de muitos. A pedra trabalhada pela arte parecerá bela, porém não por ser pedra, porque então qualquer outro pedaço de mármore teria igual virtude. Esta forma bela não a tinha a pedra, pois estava no artífice antes de passar ao mármore. E não passa inteira, mas continua na mente do artífice e no mármore não resulta pura, nem como a imaginava o artífice, mas enquanto matéria, obedecendo a arte”.
	
 Santo Agostinho (420?) Proporção, simetria, beleza
No seu tratado “De Música”, Santo Agostinho demonstra a regularidade matemática das “modulações” musicais. Na concepção de Santo Agostinho a música e a arquitetura são irmãs, ambas estão baseadas nos números, sendo eles que constituem a fonte da perfeição estética. Em seu escrito “De Libero Arbítrio”, caracteriza a forma como resultado dos números: “Formas habent, quia numeros habent”.
	“Quanto à visão, pode-se definir como belo o que tem em si uma proporção racional de suas partes. Em relação ao ouvido, quando dizemos que uma harmonia ou um canto que tem uma certa cadência estão compostos segundo a razão, dizemos justamente que são suaves. Porém, quando a cor de uma certa coisa bela nos fascina, ou quando uma corda emite um som cristalino e puro, que chega suave ao ouvido, não dizemos que são racionais. Portanto, temos que concluir dizendo que no prazer encontramos algo referente à razão somente quando existe uma certa extensão e modulação.
	E assim, considerando atentamente os elementos singulares de um edifício, nos sentimos ofendidos quando vemos uma porta colocada a um lado, outra quase no meio, porém não no justo meio. Sem dúvida, numa construção, a presença injustificada de assimetrias ofende a própria vista. Da mesma forma, no interior, três janelas, uma central e duas ao seu lado, difundem a luz com intervalos iguais de um modo que, se observamos com atenção, nos deleita e seduz nosso animo: algo de todo expontâneo e que não requer explicação”.
	“Não há nada ordenado que não seja belo”.
	“Observe o céu, a terra e o mar e todas as coisas que neles ou brilham no alto, ou rastejem abaixo ou voam ou nadam. Todas as coisas têm formas porque têm números. Todas as coisas existem porque têm números. E todos os homens que trabalham na arte com formas corporais, configuram suas obras com eles”.
	“Daí chegou (a razão) ao domínio dos olhos e observando a terra e o céu, sentiu que nada lhe dava prazer senão a beleza e na beleza as figuras, nas figuras as dimensões, nas dimensões os números”.
	“Se alguém, por exemplo, coloca-se como uma estátua numa esquina de um edifício muito grande e belo, não poderá perceber a beleza dessa construção já que é parte da mesma. Não pode um soldado na formação observar a ordem de todo o exército”. 
1.4 Isidoro de Sevilla (aprox. 560-636) – “Etymologiae”
“A construção dos edifício consta de três momentos: a planificação, a construção e a beleza.
A planificação é a delimitação do terreno, do solo e o cimento. Embelezamento	 é tudo que está incorporado ao edifício para seu ornato e decoração ...
As colunas têm esta denominação por sua largura e redondez. Nelas descansam o peso de toda a estrutura do edifício. O antigo cânone era de que a largura das colunas deveria equivaler à terceira parte da altura. As colunas cilíndricas podem ser de quatro ordens: dórico, jônico, toscano ou coríntio, diferenciando-se pela medida de sua grossura e altura. Existe uma quinta ordem, as colunas áticas, que apresentam quatro ou mais ângulos, oferecendo uma largura semelhante.
1.5 Hino siríaco sobre a catedral de Edessa ( meados do século VII)
Hino composto em meados do século VII, aproximadamente um século depois ao edifício a que se refere. A catedral de Edessa, hoje desaparecida, era considerada como uma das “maravilhas do mundo”, comparável a Santa Sofia de Constantinopla. O edifício primitivo, consagrado em 345-346, foi destruído por uma inundação e reconstruído em meados do século VI por Amidonius. Provavelmente, era um edifício de reduzidas dimensões, de planta quadrada com três fachadas idênticas e coberta com uma grande cúpula que devia dominar o conjunto. O hino é um testemunho precioso para o estudo das formas arquitetônicas cristãs do Norte da Mesopotâmia.
Oh! Tu, a Essência que reside no Templo Santo, de onde parte a glória para toda a natureza
Dá-me a graça do Espírito Santo para falar do Templo de Edessa
Bezaleel foi quem, instruído por Moisés, erigiu o Tabernáculo para que servisse de modelo
São Amidonius e Asaph e Addaï quem construíram para Ti, em Edessa, o templo glorioso
Na verdade, nele estão representados os mistérios de tua Essência e de teu Plano (de Salvação) 
E quem o observa detalhadamente admira-se ao vê-lo 
Com efeito, é algo realmente admirável que, em sua pequinês, seja tão parecido ao vasto Mundo
Não pelas dimensões mas pelo tipo: está rodeado pelas águas, do mesmo modo que o mar rodeia o Mundo
Sua cobertura estende-se como o céu: sem colunas, abobadada e fechada
Está adornada com mosaicos de ouro, como o firmamento está por estrelas brilhantes
Sua elevada cúpula é comparável ao céu dos céus
Seus arcos, altos e esplendidos, representam as quatro partes do mundo
Por outra parte, devido à variedade de cores, reúne, em si, o arco glorioso das nuvens (o arco íris )
Outros arcos o rodeiam, como se fossem rochas salientes que coroam o cume de uma montanha
É sobre eles, neles e por eles que a cobertura integra-se com os arcos
Seus mármores parecem uma Imagem não realizada pelas mãos dos homens e seus muros estão harmoniosamente revestidos
Devido à sua brancura e polidez são tão esplendorosos que absorvem, em si, a luz, como o sol 
Colocou-se plomo sobre a cobertura, para que não sofresse danos em virtude das chuvas
Não se utilizou, em absoluto, a madeira na cobertura e parece de metal, mesmo sendo de pedra
Está rodeada de magníficos pátios, com dois pórticos de colunas
Representam as tribos de Israel que rodeavam o Tabernáculo da Aliança
Em cada lado possui uma fachada idêntica, pois o tipo é o mesmo nas três
Do mesmo modo que uma é a forma da Santíssima Trindade
Ali, brilha no coro uma única luz, pelas três janelas que ali se abrem
Anunciando o Mistério da Trindade do Pai, do Filho do Espírito Santo
A luz dos três lados, entram por janelas numerosas
Representam os Apóstolos, e Nosso Senhor, e os profetas e os mártires e os confessores
No centro está colocado um pódio (ambón), ao modo do Cenáculo (a Sala Alta) de Sión
E abaixo dele há onze colunas, como os onze apóstolos que ali haviam se reunido
A coluna situada por detrás do pódio representa, por sua forma, o Gólgota
Encima dela fixou-se uma cruz luminosa, como Nosso Senhor entre os ladrões
Mais além, abrem-se para ela cinco portas, à maneira das cinco virgens
E através delas entram os fiéis com glória, como a legião esplendida das Virgens
As dez colunas que sustentam o Querubim, de seu coro, representam os dez apóstolos que
Permaneceram no momento em que Nosso Senhor foi crucificado
A forma dos nove peldaños colocados no coro, assim comoo trono, representam o Trono de Cristo e as nove ordens de anjos
Elevados são os mistérios desse Templo no que concerne aos Céus e a Terra
Nele se representa a Sublime Trindade assim como o Plano de Nosso Senhor
Os apóstolos, que são os cimentos do Espírito Santo e os profetas e mártires, estão representados neles
Que sua memória possa estar no alto, nos céus pela plegaria da bendita Mãe
Que a sublime Trindade tenha dado força aos que a uma doutrina esotérica, secretissima scientia que a chama de “Divina Proporção”.
Referindo-se às medidas e proporções do corpo humano diz, repetindo o que Platão escrevera no Timeo, que Deus ao plasmar o homem, pusera a cabeça na parte mais alta do corpo humano para que servisse de guarda de todo o edifício corporal. E acrescenta que assim como a Divindade ao formar o homem, dispusera a cabeça de maneira a servir de base para as proporções das diversas partes do corpo humano, assim, também, os antigos, levando em conta a disposição desse corpo, conformaram suas obras, mormente os templos, de acordo com as proporções do mesmo, onde encontraram as duas principais figuras geométricas, sem as quais nada é dado fazer: o circular (ou circunferência) e o quadrado. 
“Primeiro falaremos das proporções do homem – porque todas as medidas e suas denominações derivam do corpo humano e nele se encontrarão todas as proporções e relações mediante as quais Deus revela os mais íntimos segredos da natureza”.
“Depois de ter considerado a adequada disposição do corpo humano, os antigos aplicaram suas proporções em todas as suas obras, particularmente nos templos. E no corpo humano encontraram as duas figuras fundamentais sem as quais não é possível alcançar nada, a saber: o círculo e o quadrado”.
Os tratados renascentistas
Leon Battista Alberti (1404 – 1472)
	Definição de projeto arquitetônico: “Dele resulta que um traçado (lineamentum) é um desenho determinado que tem sido concebido com o intelecto, executado mediante linhas e esquadro e realizado com o coração e o intelecto de um homem instruído”.
“”Não tenho deixado de investigar nenhuma obra medianamente conhecido da Antigüidade, aonde estivesse para aprender algo dela. Assim, em nenhum lugar deixei algo sem desenhar, observar, medir, registrar mediante desenhos, para assim compreender e conhecer em sua essência o que tem sido criado com coerência intelectual”.
“A mão do trabalhador serve ao arquiteto somente como ferramente. Eu penso que arquiteto é aquele que, mediante planos e procedimentos determinados e admiráveis, tem aprendido a encontrar soluções utilizando pensamento e a intuição, como também encontrar soluções para as principais necessidades humanas, cuja satisfação e conhecimento há de contar entre seus valores mais apreciados”.
“Quando vemos a grande quantidade e variedade das edificações, descobrimos facilmente que todas elas não foram construídas somente por sua função, nem tampouco por esta ou aquela utilidade, mas que a causa de tal variedade de edifícios radica fundamentalmente nas diferenças existentes entre os homens. Se queremos conhecer os tipos de edificações e as partes destes tipos tal como temos proposto, o método de nossa investigação teria que partir da cuidadosa observação do homem – por causa dele existem tantos edifícios e por causa de suas necessidades diferenciam-se os edifícios – e determinando em que se diferenciam os indivíduos é que poderemos compreender as particularidades e tratá-los adequadamente”.
Alberti enuncia três critérios de beleza:
Número (numerus)
Relação (finitio)
Distribuição (collocatio)
A soma destes conceitos é para Alberti a justa medida (concinnitas), o conceito estético de sua teoria da arquitetura.
“Primeiro reconheceu-se, quanto ao número, que algumas coisas são pares e outras impares. Ambos foram utilizados, mas o número par encontra-se em sítios distintos que o impar. Assim pois, e seguindo a natureza, a estrutura de um edifício, isto é, as colunas, as esquinas e outras, nunca são elaboradas com quantidades impares. Deste modo, não encontrará nenhum animal que se sustente e se mova sobre um número impar de pés. Por outro lado, as aberturas nunca foram distribuídas em números impares, o que, obviamente, reconhece-se na natureza pois esta deu aos seres vivos um número par de orelhas, de olhos e fossas nasais, no centro pôs apenas uma única e ampla boca”.
O conceito de relação ( finitio), eqüivale ao conceito vitruviano de symmetria e eurythmia: “relação significa uma certa correspondência das linhas, mediante as quais medem-se as dimensões, dentre as quais uma é o comprimento, a seugnda a largura e a terceira a altura”.
“A distribuição (collocatio) é próprio da natureza, que o lado direito corresponda com absoluta identidade ao lado esquerdo”.
Da confluência de numerus, finitio e collocatio resulta para Alberti a beleza (pulchritudo. Ao invés do conceito de beleza, utiliza a “justa medida”(concinitas), em outras palavras, a beleza é, para ele, conccinitas.
“A beleza (pulchritudo) é uma espécie de concordância e harmonia das partes com o todo, levada a cabo mediante um número determinado, numa relação e uma distribuição particular, tal como o reque a justa medida, isto é, a mais acabada e suprema das leis da natureza”.
Com seu conceito de conccinitas, identifica: lei da natureza lei da belezalei da arquitetura. Conccinitas está acima da natureza, é a fórmula criadora por excelência.
Alberti declara que na aparência estética de um edifício há que se levar em conta dois elementos: a beleza e o ornamento. A beleza é a “harmonia e concordância de todas as partes, alcançada de tal maneira que não se possa acrescentar, retirar ou alterar nada”. O ornamento é “uma espécie de brilho adicional e aperfeiçoamento da beleza. A beleza é algo característico e inato, algo que imana do corpo em seu conjunto, mesmo que o ornamento seja algo acrescentado, algo que não seja próprio”.
A beleza é uma harmonia inerente ao edifício, uma harmonia que não é fruto de um capricho pessoal, mas de racionamento objetivo. Sua característica principal é a idéia clássica da manutenção de um sistema uniforme de proporções em todas as partes de um edifício.
O conceito de beleza de Alberti vai além do plano estético. Para ele esta possui uma ativa qualidade moral, é uma força protetora. “A beleza provocará inclusive que inimigos perigosos dominem sua ira e a deixem incólume; e mais, atrevo a afirmar que nada protege tanto a uma obra da violência dos homens como a nobreza e a graça das formas”.
“... Quem pode negar que não é mais cômodo habitar num edifício bem feito e adornado do que meter-se dentro de uns muros feios e depreciáveis? A própria beleza implorará graças aos injuriadores... Vou atrever a dizer isto: uma obra nunca estará mais segura frente as injúrias dos homens que quando seja digna e bela”.
“O ornamento é uma certa luz que contribui para a beleza e é quase sua realização. Contudo isto creio que a beleza é algo próprio e natural, difundido por todo o corpo, mesmo que o ornamento tenha algo de coisa fingida e acrescentada mais que natural e própria”.
“A arquitetura é um assunto de grande envergadura e não é de competência da qualquer pessoa abordar um tema tão importante. Aquele que tem o valor de chamar-se arquiteto, há de possuir um espírito elevado, uma inesgotável capacidade de trabalho, a mais rica erudição e um máximo de experiência, porém, sobretudo, há de contar com uma séria e bem fundada capacidade de juízo”.	
 Francesco di Giorgio Martini(1439-1501) – “Trattato di Architettura Civile e Militare...(1482)
“...estabeleço a arte e a ciência da arquitetura, da qual, seguindo as regras de meu pobre engenho, tento tratar suficientemente: divido a arquitetura em sete tratados principais dos quais este deve incluir a ordem dos materiais e temas principais. O primeiro deve determinar todos os princípios e normas necessárias e comuns a cada um dos outros, de acordo com a sentença de Aristóteles em relação ao princípio da Física, onde nos ensina que nasciências é necessário proceder das coisas universais às particularidades. Depois disto, posto que o primeiro edifício que o homem necessitou construir foi a casa, ou vivenda, o segundo livro deve esclarecer que partes buscam-se nas habitações cômodas e convenientes das casas e palácios; sendo o homem um animal social não pode viver comodamente se está separado.
O terceiro deve mostrar os ornamentos que coincidem em castelos e cidades, e posto que o homem naturalmente e por revelação considera-se realizado pela Primeira Razão Agente e Último Fim e à sua semelhança, para sua glória, deve edificar um templo para a congregação e dedicá-lo a Ele. E das partes constituintes desses templos deve tratar o quarto livro.
E necessitando fazer fortalezas para manter os senhores e os domínios, as quais permitam a uns poucos resistirem a muitos quando atacam, no quinto livro são descritas várias formas de muralhas de nova criação. Além do que foi exposto e sendo necessário para o homem transportar mercadorias e frutas pelo mar, de um lugar a outro, onde estão os portos necessários, no sexto livro ensina-se as partes e formas desses portos. Finalmente, definido que é necessário ao edifício mover grandes cargas, para que sem impulso a força humana é insuficiente, no sétimo e último livro mostra-se mais formas pelas quais tais efeitos são conseguidos. E com esses sete livros, parece-me que toda a matéria da arte fica perfeitamente definida”.
“As igrejas de planta redonda que é considerada as mais perfeitas; em segundo lugar as de planta regular e, em terceiro lugar, aquelas em que se combinam ambas as formas. No primeiro tipo estão incluidas todas as igrejas poligonais; ao segundo correspondem as igrejas com nave e todas aquelas cuja planta deriva do retângulo; o terceiro tipo combina com uma disposição centralizada para o cruzeiro e o coro.
Vignola (Jacopo da Barozzi) 1507-1573 
A difusão mundial do seu nome foi devida à publicação, em 1563, de sua hoje bem conhecida obra: “Regole de le cinque ordini d’architettura (Regra das cinco ordens da arquitetura). Grande conhecedor e apaixonado pela arquitetura antiga, cogitou de estabelecer matematicamente as proporções que deviam ter as diversas partes de um edifício. Baseando-se sempre nas ordens antigas, fazendo abstração completa das medidas então em uso (braças, pés e palmos), tomou como medida o módulo, ou seja, o semi-diâmetro da coluna: dividido em 12 partes iguais para as ordens toscana e dórica e em 18 para a jônica, coríntia e compósita. E no sentido de facilitar a execução de quaisquer trabalhos nunca se afastou das grandes proporções: duplo, triplo e quádruplo. Posteriormente Vignola escreveu “Le due regole della prospettiva pratica”. 
2.6 Giangiorgio Trissino (1478-1550) – L’Italia liberata daí Goti (1547)
O texto de Trissino é um fragmento que não contém mais que um projeto de tratado. Partindo de Vitruvio estabelece uma recomposição dos critérios da arquitetura. Diz em sua primeira frase: “A arquitetura é uma arte relacionada com a casa do homem, para a qual esmera-se em conseguir utilidade e prazer”. A casa é o prioritário e a tarefa principal do arquiteto é garantir ao usuário a utilità (a utilitas vitruviana) e dilettazione (prazer). 
 Alvise Cornaro (1484 – 1566) – Discorsi intorno alla vita sobria
O tratado de Cornaro dirige-se expressamente aos cidadãos como usuários da arquitetura, não aos arquitetos. Analisa exclusivamente a construção de casas, já que é a mais necessária e constitui a essência de uma cidade
“Uma edificação pode ser bela e cômoda sem ser dórica ou outra ordem qualquer ”.
Daniele Barbaro (1513 - 1570) – I dieci libri dell’architettura di M. Vitruvio tradutti e commentati da Monsignore Barbaro.)
Daniele Barbaro fez parte da mesma geração de Palladio e, do mesmo modo que Trissino, encarnou o ideal renascentista de uma ampla formação baseada na erudição clássica
Começa o seu livro com um prefácio em que apresenta uma definição filosófica das artes e arquitetura. Primeiro define as artes como um sistema geral de interesses humanos baseado nas cinco virtudes intelectuais de Aristóteles: artes, ciência, prudência, sabedoria e intelecto.
Muitas passagens demonstram que Barbaro não contempla a arquitetura como uma disciplina isolada, mas como uma das inumeráveis manifestações da mente humana, todas elas baseadas nas mesmas leis. Um exemplo é seu comentário aristotélico amparado nas seis categorias vitruvianas: ordinatio, dispositio, eurythmia, symmetria, decor e distributio. Barbaro declara que estes elementos encontram-se em muitas coisas e afirma que “estes termos são gerais e comuns e como tais sua definição está associada às ciências comuns, conhecida como metafísica. Porém quando um artista deseja aplicar um de seus elementos à sua própria profissão então adequa essa universalidade às necessidades específicas de sua própria arte”. 
“Assim como a simetria é a beleza da ordem, a eurythmia é a beleza da disposição. Não é suficiente ordenar as dimensões uma depois da outra; é necessário que tais dimensões estejam relacionadas entre si, quer dizer, entre elas deve existir algum tipo de proporção”.
“Deste modo, aonde há proporção não pode haver nada supérfluo. E assim como o mestre da proporção natural é o instinto da natureza, o mestre da (proporção) artificial é o hábito da arte, do qual se deduz que a proporção pertence à forma e não à matéria, e que aonde não há partes não pode haver proporção”.
“A proporção nasce das partes compostas e de suas relações recíprocas e como temos dito deve haver ao menos dois termos em cada relação”.
“Nunca se elogiará o suficiente o efeito da proporção, na qual reside a glória do arquiteto, a beleza da obra e a maravilha do artifício; assim é visto claramente quando falamos das proporções e revelamos os segredos desta arte, mostrando em que consiste, quais são seus termos, como são empregados e quais são seus efeitos, assim como o poder que tem para determinar a aparência das coisas”.
Para Barbaro a arte e a arquitetura estão de acordo com o princípio racional que move a natureza.
“O princípio da arte que é o intelecto humano tem grande similaridade com o princípio que move a natureza que é uma inteligência”.
A arquitetura não é uma pura imitação da natureza, mas a adoção de seu princípio rector. A arte e a arquitetura são regidas pela razão (ragione) e pela ciência (scienza). Segundo Barbaro a ciência da arquitetura encontra-se na proporção. Considera a forma como o resultado da razão aplicada, quer dizer, proporção aplicada.
Palladio ( Andrea di Pietro della Gondola) 1508-1580 – I Quattro Libri dell’architettura.
Quando o jovem escultor Andrea di Pietro entrou no círculo de Trissiano este, seguindo uma prática habitual o batizou com o nome clássico de “Palladio”, um nome cuja associação com a imagem de Pallas Atenea indica o que se esperava do jovem artista. Um exame da cronologia revela claramente que o nome foi escolhido antes para o anjo que aparece na epopéia, que possuía também consideráveis conhecimentos arquitetônicos e esta ecolha previa a posterior concessão do nome ao arquiteto.
Seu interesse pelos problemas arquitetônicos aparece num fragmento manuscrito sem data onde revela a orientação de seu pensamento. Palladio declara ter assumido a tarefa de escrever um tratado de arquitetura ao dar-se conta da enorme necessidade de clarificar as idéias nesse campo: “e depois de haver lido atentamente Vitruvio...me parece que aquelas coisas que em sua época eram muito familiares, agora são desconhecidas por completo...e que se compreende muito mal a Vitruvio...e pese que ele se esforçou em demonstrar seu perfeito conhecimento das coisas, na realidade ensina muito pouco acerca delas. Leon Battista Alberti quis seguir seus passos...porém apesar da extensão de seu tratado, creio que faltam muitas coisas e se encontram outras que são supérfluas”.
No “Quattro Libri dell’Architettura” publicado em 1570, Palladio examina todos os assuntos relacionados coma disciplina arquitetônica. O Primeiro Livro trata sobre as ordens e uma série de problemas elementais, o Segundo Livro sobre as construções domésticas, o Terceiro sobre os edifícios públicos e a planificação urbanística e o Quarto sobre os templos, “sem os quais nenhuma civilização pode existir”. Palladio contempla as “enormes ruínas (antigas) como um brilhante e sublime testemunho da excelência(virtú) e a grandeza romana”. Considerava que a arquitetura era uma importante disciplina para as artes e ciências, a união das quais encarnava o ideal de virtus
“Antes de começar a construir deve-se levar em consideração cada uma das partes da planta e das elevações do edifício. Deve-se considerar (como disse Vitruvio) três coisas em cada edifício, e estas são a utilidade ou comodidade, a durabilidade e a beleza... Haverá comodidade quando cada cômodo tiver um lugar apto e um tamanho acomodado, nem menor que a dignidade requerida nem maior que o uso que se busca e estará colocado num sitio apropriado. Haverá durabilidade quando todos os muros estiverem bem aprumados, sejam mais grossos na parte inferior que na superior e alem disto as colunas superiores deverão estar justamente acima das de baixo e todos os vazios, como portas e janelas estarão uns sobre os outros, de modo que o maciço esteja sobre o maciço e vãos sobre os vãos. A beleza resultará da boa forma e da correspondência do todo com as partes, das partes entre si e destas de novo com o todo, posto que os edifícios tem que apresentar um corpo inteiro e bem definido, onde cada membro esteja de acordo com o outro e todos os membros sejam necessários para o que se quer fazer.
“Definição de comodidade: “Porque cômoda será aquela casa que seja adequada às características de quem a habitará”.
“Para que as casas sejam cômodas para o uso das famílias...deve-se ter muito cuidado não somente com respeito às partes principais, como são os pórticos, as salas, os pátios e as amplas escadas, claras e fáceis de subir, mas que, também, as partes menores estejam em lugares adequados para servir às maiores e mais dignas. Porque assim como no corpo humano há algumas partes nobres e belas e outras bem menos nobres e feias, por outro lado vemos que aquelas possuem uma grande necessidade destas e não poderiam estar sem elas; também assim nos edifícios deve haver algumas partes importantes e honráveis e algumas menos elegantes, sem as quais as primeiras não poderiam estar livres e perderiam parte de sua dignidade e beleza. Porém, igual ao nosso Deus Bendito que ordenou estes nossos membros, de forma que os mais belos estão em lugares mais expostos para serem vistos e os menos honestos em lugares escondidos, do mesmo modo quando construímos devemos colocar as partes principais e importantes em lugares descobertos e as menos belas em lugares os mais ocultos possíveis a nossos olhos”.
“Mesmo que a variedade e as coisas novas possam agradar a todo mundo, seu uso não deve ser contrário aos preceitos da arte e da razão; assim, mesmo que os antigos apreciassem a variedade nunca se afastaram de regras artísticas universais e necessárias”.
“A beleza resulta da forma bela e da correspondência do todo com as partes, das partes entre si e de novo destas com o todo; as estruturas devem parecer um corpo inteiro e completo em cujo interior cada membro concorda com o outro, sendo todos eles necessários para o bom funcionamento do edifício”.
“As formas mais belas e mais regulares são as circulares e as quadrangulares. Palladio prefere as circulares “porque entre todas as figuras, o círculo é a única forma simples, uniforme, igual, forte e espaçosa”.
Palladio comenta que os antigos construíam os templos dedicados ao sol e à lua com forma redonda, “porque giram continuamente ao redor do mundo””; o mesmo ocorria com os templos dedicados a Vesta, deusa da Terra, “que sabemos é um corpo redondo”. Assim, a igreja é um fato que “está rodeado por uma circunferência aonde não se encontra nem princípio nem fim e não se distingue nem um nem outro; cada uma de suas partes se relaciona com a seguinte e todas elas participam da forma do conjunto; além disso todas as partes estão igualmente distantes do centro, de maneira que o edifício reflete extremamente bem a unidade, a essência infinita, a uniformidade e a justiça de Deus”.
3. Maneirismo, barroco e neoclassicismo 
 Giorgio Vasari (1511 – 1574) – Introduzione alle tre arti del disegno
Vale mencionar que Vasari, em sua “Introduzione” destaca que junto às cinco ordens conhecidas, menciona o “lavoro tedesco”, o gótico, cujo ornamento e proporções – segundo ele- são completamente diferentes daqueles apresentados na antiguidade como os do presente. Para Vasari o lavoro tedesco não é uma ordine, mas uma maniera e atribui seu desenvolvimento aos godos. Vasari postula que a forma de um bom edifício combina, de forma indissolúvel, o útil com o belo. Quanto a analogia do corpo humano com a arquitetura segue a tradição do Renascimento.
Federico Zuccari (1540 – 1609) – L’idea de’pittori, scultori et architetti
Concebe a idéia como “desenho interno, forma, ordem, regra, término e objeto do intelecto, no qual se expressam os propósitos”.
Rechaça, com veemência, as ciências, particularmente a matemática, como fundamento das artes e, deste modo, priva a arquitetura de um fundamento que não havia sido questionado desde o Renascimento primitivo. 
Zuccari considerou a arquitetura mãe e filha da pintura, chegando ao extremo de considerar inúteis as ciências.
Vincenzo Scamozzi (1548 – 1616) – L’idea della Architettura Universale”.
Diz que a arquitetura é a mais sublime e importante das ciências, pois é a única que serve ao ornato do mundo inteiro e dá ordem (ordine) a todas as coisas. Os conceitos estéticos de Scamozzi são vitruvianos, mas o princípio de uma razão todo-poderosa manifesta-se inclusive no conceito de “decoro” que se reduz a “que tudo parte somente da razão”.
Scamozzi parece ser o primeiro a reconhecer uma ambivalência política do arquiteto. Para ele a alternativa consiste em servir a um “príncipe absoluto” ou viver “na simples liberdade” e “vontade própria”. O serviço a um monarca absoluto parece correto, sempre que este seja virtuoso e generoso, porém expressa-se como um republicano ao confessar: “é muito melhor que o homem seja livre”.
Separa a arquitetura das artes plásticas. Porque estas baseiam-se na imitação da natureza, e o arquiteto cria mediante a força de seu intelecto e projeta segundo formas; portanto, a tarefa do arquiteto compara-se com a do matemático e do filosofo. Os projetos arquitetônicos devem ser sensíveis e fáceis de compreender e, sobretudo, devem estar baseado no ângulo reto, admitindo, no entanto, o uso da forma circular como também de outras formas regulares. Scamozzi vê assim a concordância com a natureza. As linhas onduladas, os planos quebrados e ângulos não retangulares são, em sua opinião, um atentado contra a natureza e contra a razão.
Segundo Scamozzi a matéria, por si mesma, não possui forma alguma. Os diferentes materiais têm propriedades (habilità) que admitem determinadas formas. Assim, não é possível conseguir todas as formas com qualquer material. A forma existe por si mesma, o material carece de forma. A matéria alcança a perfeição na forma. O arquiteto desenha formas segundo critérios científico-matemáticos, servindo-se dos materiais, levando-se em conta suas propriedades específicas.
“A arquitetura serve-se, em abstrato, do número, da magnitude, das formas, dos materiais, das palavras naturais e artificiais de de outras coisas através da expeculação, e serve-se das proporções, do mesmo modo que fazem a matemática, a física e a metafísica”.
“A arquitetura é ciência (como disse Platão), porque tem suas demonstrações certas e indubitáveis e, portanto, pode-se ensinar e demonstrar, como é costume da matemática e outras semelhantes, que são os signos do saber, como disse Aristóteles”.
GiovanniPietro Bellori (1613 – 1693) – L’idea del pittore,dello scultore e dell’architetto scelta dalle belezze naturali superiori alla Natura.
“Aquele máximo e eterno intelecto autor da natureza, ao criar sua obra maravilhosa, observando-se a si mesmo, concebeu a primeira forma chamada idéia, de modo que cada espécie foi resultado daquela primeira idéia, constituindo o admirável contexto das coisas criadas. Mais além, os corpos celestes, não sujeitos a mutações permanecem sempre belos e ordenados, tal como nas esferas comensuradas e reconhecemos o esplendor de seu aspecto perpetuamente justo e belo. “.
Bellori concebe a arte como a aproximação à idéia interior, que vem dada por Deus. A tarefa da arte é “melhorar”, neste sentido, a natureza. Porém, o homem não tem, em si, o conceito de idéia, tendo que deduzi-la da contemplação da natureza. Deus, como “bom arquiteto” criou o “mundo sensível” segundo o modelo de “mundo ideal e inteligente”.
“O arquiteto deve conceber uma Idéia nobre e estabelecer uma concepção que sirva de lei e razão, posicionando suas invenções na ordem, na disposição e na medida e euritmia do conjunto e de suas partes”.
Bellori confirma a validez da imitação da natureza e da antigüidade, por um procedimento de seleção de arquétipos naturais o artista se aproxima da Idéia e perfeição da natureza.
Teofilo Gallaccini ( 1564 – 1641) – Trattato sopra gli errori degli architetti.
“Aonde não se observa a ordem há confusão, aonde há confusão há deformidade e aonde esta se vê não reina perfeição alguma”.
Guarino Guarini (1624 – 1683) – De la Architettura Civile
Guarini reduz a quatro os seis critérios vitruvianos da arquitetura e os interpreta como critérios do desenho e não da arquitetura, assim, o projeto passa a ser o primeiro plano. Os conceitos que adota de Vitruvio são: sodezza (solidez), eurythmia ( - interpretada por Guarini como ornamento -, simmetria – entendida como proporção - e distribuzione como a disposição adequada e cômoda dos espaços. Para Guarini são decisivos os pontos construtivos e funcionais da arquitetura: “em primeiro lugar, a arquitetura está em relação com a comodidade.
Guarini afirma: A arquitetura pode corrigir as regras antigas e inventar novas”. A perspectiva permite ao arquiteto levar a cabo uma correção ótica, seja mediante a ampliação ou redução. O fato de levar em consideração o ponto de vista do observador – uma tendência decisiva para o Barroco, leva Guarini a justificar o emprego do “não finito”
Pierre Le Muet (1591 – 1669) – Sommaire discours
Repete as categorias vitruvianas, porém com nova nomenclatura: durée (Vitruvio: firmitas), aisance ou commodité (Vitruvio: utilitas), la belle ordonnance (Vitruvio: venustas) e a santé des appartements ( um aspecto parcial da utilitas).
Segundo a commodité, uma habitação de 22-24 pés de ancho há de ter uma longitud de 34-36 pés. Grandes habitações hão de estar construídas numa proporção de 1:2, os quartos pequenos devem ser quadrados. Nas habitações pequenas, a chaminé deve ser construída no meio do muro, mas a dois pés do eixo para assim deixar espaço para a colocação de uma cama.
Roland Fréart de Chambray ( 1606 – 1676) – Parallèle de l’architecture antique avec la moderne.
Abraham Bosse (1602 – 1676) – Traité de manières de dessiner les ordres de l’architecture antique.
Para Bosse, a utilitas (le commode), firmitas (le solide) e venustas (la agréable) estão submetidas à razão (raison). O aspecto funcional – sem o qual não se chega à razão – tem absoluta prioridade. A estética é tolerada, somente como la agréable, sendo vista à distância. A máxima lei da arquitetura é a razão.
3.10 Claude Perrault (1613 – 1688) 
“Toda a arquitetura tem como fundamento dois princípios dos quais um é positivo e o outro arbitrário. O fundamento positivo é o uso e a finalidade útil e necessária para a qual tem sido construído um edifício, tal como a solidez, a salubridade e a comodidade. O fundamento que eu chamo arbitrário é a beleza que depende da autoridade e do costume; mesmo quando a beleza em certo sentido também se baseie num fundamento positivo que é a conveniência razoável e a adequação que cada parte possui em relação com o uso para o qual está destinada”.
A função de um edifício (usage) passa a ser o fator decisivo da beleza: “o uso, ao qual uma coisa está destinada de acordo com a sua natureza, deve constituir uma das principais razões nas quais se funde a beleza do edifício”.
“Em francês, a palavra simetria tem outro significado: significa a relação que tem os lados direitos com os esquerdos e as partes de cima e de baixo e aquelas frontais com as de fundo, quanto ao tamanho, figura, altura, cor, número, situação e, em geral, tudo aquilo que possa assemelhar-se uma com as outras; parece estranho que Vitruvio não falou deste tipo de simetria que representa uma boa parte da beleza dos edifícios”.
As categorias construtivas para Perrault são: solidité, salubrité, commodité.
“O gosto de nosso século, no mínimo de nossa nação, é diferente daquele dos antigos e é possível que neste sentido tenha algo de gótico: temos o ar, a luz e a desenvoltura. Isto nos fez inventar uma sexta maneira maneira de dispor as colunas, que consiste em acoplá-las e uni-las de duas em duas”.
3.11 Augustin Charles D’Aviler – Dictionnaire d’Architecture (1693)
A simetria é“a relação de paridade, seja de altura, de largura ou de cumprimento das partes para compor um conjunto belo... E simetria é aquela na qual os lados opostos parecem entre si; sobre proporção: é a justa relação dos membros de cada parte de um edifício e a relação das partes com o conjunto”.
3.12 Pierre Bullet ( 1639-1716) – L’architecture pratique
“A teoria da arquitetura é um conjunto de diversos princípios que estabelecem, por exemplo, as regras de analogia ou a ciência das proporções, para compor aquela harmonia que agrada tanto a vista”.

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