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Carla Fernanda Biomedicina - UFPE ETIOPATOGÊNESE GERAL DAS LESÕES As causas de lesões e doenças, denominadas agressões ou agentes lesivos, são numerosas. Qualquer estímulo da natureza, dependendo de sua intensidade, do tempo de ação e da constituição do organismo (capacidade de reagir), pode produzir lesão. As causas de lesão podem ser divididas em 2 grupos: 1) Exógenas: relacionadas ao meio ambiente; são representadas por agentes físicos, químicos, biológicos e pelos desvios de nutrição. 2) Endógenas: relacionadas ao próprio organismo = patrimônio genético, resposta imunitária e fatores emocionais. Toda agressão desencadeia respostas adaptativas locais ou sistêmicas destinadas a melhorar as condições para escapar da agressão ou para eliminá-la. Quando, porém, ultrapassam certos limites, tais respostas podem se constituir em um verdadeiro desastre para o indivíduo. O agente lesivo age sobre inúmeros alvos: inibe enzimas, quebra macromoléculas, altera sua conformação espacial, exerce ação detergente sobre membranas, etc. No entanto, a maioria dos agentes lesivos produz lesão por mecanismos indiretos, seja porque perturbam o fornecimento de oxigênio às células ou interferem com os mecanismos de produção e inativação de radicais livres, seja porque desencadeiam respostas locais ou sistêmicas capazes de causar lesão celular ou tecidual. Carla Fernanda Biomedicina - UFPE HIPÓXIA E ANÓXIA Hipóxia e anóxia são causas muito frequentes e importantes de lesões e doenças. Diversas causas produzem obstrução vascular que leva à redução do fluxo sanguíneo ou a sua parada; dependendo da intensidade e da duração do fenômeno e da suscetibilidade à privação de O2 e nutrientes, as células degeneram ou morrem. Agentes agressores que inibem a utilização de O2 na respiração celular provocam lesões semelhantes àquelas decorrentes da cessação de seu fornecimento por obstrução vascular. Uma célula submetida à hipóxia apresenta modificações metabólicas progressivas, dando origem a lesões reversíveis ou, dependendo da intensidade e duração, irreversíveis. As principais alterações da redução no fornecimento de oxigênio à célula são: Diminuição da síntese do ATP: diminuindo sua síntese, há também diminuição da síntese proteica, diminuindo também a produção de enzimas que mantém a célula viva. A redução na síntese de ATP mitocondrial, não compensada totalmente pela produção de ATP em nível de substrato no citosol (glicólise), reflete-se rapidamente nas bombas de eletrólitos das membranas celulares: há redução na atividade da ATPase Na+/K- dependente, aumento de Na+ no citosol e diminuição do bombeamento de eletrólitos na membrana do retículo endoplasmático; há passagem de Na+ e de H2O para o interior do retículo endoplasmático, dilatando suas cisternas; há alteração dos mecanismos de permeabilidade aos eletrólitos na membrana mitocondrial, levando à passagem de Ca++ para o citosol. As sínteses celulares diminuem; redução do pH intracelular e condensação da cromatina. Aumento de síntese de triglicerídeos, surgindo no citosol acúmulos de microgotículas (esteatose). Essas alterações descritas são reversíveis, caso o estímulo seja cessado. Caso a hipóxia persista, as perturbações eletrolíticas passam a agredir a membrana citoplasmática e as organelas, agravando as condições celulares, fazendo com que o estímulo torne-se irreversível, matando a célula. Do ponto de vista funcional, uma lesão irreversível é caracterizada por: Hipóxia: redução do fornecimento de oxigênio às células. Anóxia: parada total do suprimento de oxigênio às células. Carla Fernanda Biomedicina - UFPE 1) Depleção acentuada de ATP; 2) Cessação da glicólise anaeróbia com acúmulo de H2, lactato e outros metabólitos; 3) Conversão de grande quantidade de nucleotídeos em nucleosídeos e bases orgânicas. EFEITOS DA REPERFUSÃO Lesões induzidas pela deficiência de O2 podem ser reversíveis se não atingiram o chamado ponto crítico ou de não retorno. Porém, tecidos mantidos em anóxia ou hipóxia (geralmente de moderada à leve), quando reoxigenados (por exemplo, após restabelecimento do fluxo sanguíneo), apresentam agravamento da lesão. Isso ocorre devido à formação de radicais livres de oxigênio a partir das primeiras moléculas de O2 que chegam aos tecidos após o restabelecimento do fluxo sanguíneo. Outros mecanismos podem estar envolvidos na lesão após a reperfusão: Maior captação de cálcio pelas células anóxicas, em virtude da volta do fluxo sanguíneo, aumentando a quantidade do eletrólito nos tecidos; Produção de radicais livres pelos leucócitos na parede dos vasos, prontos para exsudar; Chegada súbita de plasma, produzindo choque osmótico na célula. Esse choque leva à tumefação súbita da célula e ruptura de suas membranas, favorecendo a irreversibilidade do processo. Lesões produzidas por anóxia duradoura são pouco alteradas após reperfusão, mas com a reoxigenação ocorre ampliação da lesão nas suas margens. RADICAIS LIVRES São moléculas muito reativas, capazes de lesar células, pois podem reagir com lipídeos, proteínas e ácidos nucléicos. Radicais livres agem em proteínas que formam canais iônicos, inibindo, por exemplo, os canais de troca Na+/H+ e abrindo os canais de K+ ATP-dependentes na membrana mitocondrial. Em consequência, há redução de Na+, manutenção do pH e diminuição de Ca++ nas mitocôndrias, o que favorece a resistência da célula à hipóxia.
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