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Beverly Silver -Parte I (1)

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Beverly Silver – Forças do Trabalho
 
Durante as duas últimas décadas do século XX o movimento operário passou por uma crise mundial. Declínio da atividade grevista, decrescente densidade sindical, salários arrochados e maior insegurança em relação ao emprego. O enfraquecimento dos movimentos operários, para muitos, tem se estendido ao longo do século. Contudo, por volta da década de 90, os movimentos de trabalhadores que surgiam com mais força fizeram com que muitos pensassem que, na verdade, os movimentos estão se fortalecendo. Vários debates surgem a respeito do tema.
O debate a respeito do enfraquecimento estrutural do movimento operário analisa qual a influência da globalização nesta perda de expressão do movimento. A hipermobilidade de capital força a competição entre os trabalhadores em nível internacional, enfraquece o poder de barganha e piora os salários e as condições de trabalho em escala mundial. Para outros o efeito é notado de forma indireta, por meio do Estado,  já que a hipermobilidade afeta a soberania dos governos que se tornam incapazes de proteger o bem-estar e os direitos dos cidadãos. Controvérsias surgem do movimento de globalização que, apesar de ter trazido a democracia a mais países, diminuiu a força dos movimentos operários e forçou os Estados a tomar atitudes de acordo com o contexto internacional. Além da questão relacionada à mobilidade de capital, as transformações no processo de produção e do trabalho também afetam o poder dos trabalhadores. O desenvolvimento de um sistema pós-fordista, com produção flexível em comparação ao fordista, permitiu que as classes trabalhadoras fossem substituídas por terceirizados e agência de emprego temporário. Isso enfraqueceu bastante a política de esquerda e o movimento sindical.
É preciso tomar cuidado para não assumir que existe uma tendência convergente de piora das condições dos trabalhadores e do movimento operário. Houve uma movimentação de capital para áreas de baixos salários, pr volta dos anos 70 (“milagres econômicos” de Brasil, Espanha, África do Sul e Coréia do Sul) que ajudou a fortalecer a classe trabalhadora. Todavia, essas movimentações operárias foram muito importantes para o processo de democratização do final do século XX. As interrupções durante o processo produtivo podem ajudar os trabalhadores com formação deações diretas nos locais de trabalho. Este tipo de ação está bastante associado com produções just-in-time, com trabalhadores de transporte e de comunicação e com o processo de globalização da produção.
As consequências sobre os sindicatos podem ser vistas post facto, como ocorreu no fordismo quando se percebeu que ele contribuiu para fortalecer os movimentos operários. O debate se estende ainda mais, ao notar que a piora das condições dos trabalhadores e do movimento operário pode ser resultado de conflitos políticos, não econômicos que corroem a soberania dos Estados. Acredita-se que as tensões de guerra e as causadas pela recessão são de um momento de novas oportunidades políticas, que permitem uma maior agitação trabalhadora.
Por outro lado, o debate a respeito do internacionalismo operário no século XXI leva em consideração outros aspetos. A tendência é acabar com a divisão entre Norte e Sul, com a formação de uma burguesia global e um proletariado global. Este proletariado é uma classe em si, o que já é uma base objetiva para o internacionalismo operário. A produção globalizada cria uma classe global com condições de vida e trabalho em comum, às vezes empregada pelo mesmo empregador multinacional. Já que os Estados estão perdendo suas soberanias em relação aos atores supranacionais, surge a necessidade de a política operária estar orientada para este plano além da própria nação.
Novamente, é preciso cautela para não afirmar que o contexto mundial é favorável ao internacionalismo operário. Uma pesquisa sobre desigualdade de renda mostra que a desigualdade presente entre os países ainda explica a maior parte da desigualdade no mundo, ao contrário da desigualdade dentro de cada país. O movimento internacional de trabalhadores é visto por alguns como a única fonte capaz de desafiar as organizações e instituições globais. Mas para outros, que pensam que a perda da soberania dos Estados é um mito, seria mais eficaz que os trabalhadores pressionassem seus próprios governos, a fim de conseguir políticas mais favoráveis aos trabalhadores. Se, por outro ponto de vista, alguns Estados poderosos determinam os rumos da globalização, é importante que os movimentos se dirijam a eles. Neste caso, trabalhadores destas nações poderosas se encaixam em uma posição mais favorável e que permite ganhos internacionais, mas também, nacionais. O fato é que a globalização é um tema sempre presente na discussão sobre movimento operário nos dias atuais.
O poder de barganha dos trabalhadores pode vir de duas formas diferentes: da associação a que pertencem ou o poder estrutural. Este último se refere à posição dos trabalhadores no sistema econômico e é subdividido em poder de mercado (resulta de mercados de trabalho restritos) ou em poder de local de trabalho (localização estratégica em um setor industrial chave). O poder de mercado pode vir de habilidades escassas, baixo desemprego no setor ou fontes de renda alternativas. A globalização age no sentido de diminuir esse poder quando cria um exército de reserva mundial, a expansão da produção compromete fontes de renda não salariais ou quando o Estado perde sua soberania e não consegue mais garantir uma proteção social e um arcabouço legal para os sindicatos. O sistema fordista veio a fortalecer fortemente o poder de local de trabalho, mas o que seguiu a ele atuou em sentido contrário desorganizando os trabalhadores, diminuindo as habilidades necessárias, além de criar exércitos de reserva. Contudo, produções em linha de montagem ou produções de multinacionais aumentam a atuação e o poder do proletariado. Para analisar mais a fundo o poder de negociação dos trabalhadores é preciso pensar nas contradições sociais que transformam o trabalho em mercadoria e levam à insatisfação trabalhista e aos processos de acumulação de capital.
Para Marx, a luta constante é aquela entre capital e trabalho no local de produção. Para Polanyi, o trabalho revela sua natureza na criação e operação do mercado de trabalho. O caráter fictício atribuído a terra, trabalho e moeda vem do fato de que não podem ser produzidos, ou se são produzidos, não o são para venda no mercado. O aprofundamento da desregulação dos “mercados fictícios” aprofunda a proteção social pelo Estado em um contramovimento. Para Marx, o desenvolvimento do capitalismo levará naturalmente ao fortalecimento operário pela resistência à exploração. A diferença fundamental entre ambos é que Polanyi acredita na repetição das relações trabalho-capital e Marx acredita na contínua transformação. Movimentações polanyianas são aquelas respostas à expansão do mercado global auto-regulado, já as marxianas são consequência não intencional do desenvolvimento do capitalismo histórico.
Existe uma contradição básica no desenrolar capitalista, já que há uma tendência de fortalecimento do trabalho, que irá afetar a lucratividade. Por outro lado, a tentativa de manter a lucratividade pelos Estados e pelo capital leva à quebra de pactos sociais estabelecidos e à mercadorização do trabalho. Deste conflito, surge uma tendência à oscilação periódica que se relaciona bastante com uma dinâmica espacial. O conteúdo, o tipo e a quantidade de trabalhadores contemplados por seus “direitos” são influenciados profundamente pelas estratégias espaciais de quem receberá ou não os benefícios. Isto informa que há uma diferenciação, no mesmo tempo, entre regiões geográficas a respeito da mercadorização do trabalho. 
Os estudos de trabalho que não levam em conta raça, etnia, gênero e nacionalidade para a formação de classe possuem implicitamente uma crença como a de Marx. Ele acreditava que o processo de proletarização produziria uma classe trabalhadora cada vezmais homogênea e com interesses, experiências e consciências convergentes, o que serviria de base a movimentos trabalhistas unificados nacional e internacionalmente. Todavia, não é possível dizer que a homogeneização aconteça simplesmente pelo fato de capitalistas tratarem os proletários como intercambiáveis, já que eles se apegam a outras diferenciações que não a de classe para pedirem proteção. A tendência é de que os trabalhadores queiram se diferenciar uns dos outros para se mobilizarem, não que eles caminhem no sentido da homogeneização. Na maior parte das vezes, é do interesse do capital e do Estado desfazer estas diferenciações, a fim de reduzir a força do grupo, assim como as obrigações para com eles. Esta é uma tendência, o que não significa que é uma verdade absoluta, pois a diferenciação pode ser desejada pelo capital e pelo Estado em contextos específicos (apartheid na África do Sul, por exemplo). As estratégias para demarcação destas fronteiras entre os trabalhadores possuem três tipos principais: segmentação dos mercados de trabalho (implementada principalmente pelo capital), restrições à cidadania (implementada principalmente pelos Estados) e construção de identidades de classe exclusivas que não a classe social (implementada principalmente pelos trabalhadores).
A globalização contemporânea traz de novo o fato de que a movimentação trabalhista em um local, afeta a movimentação trabalhista em outro local. Contudo, outros processos de globalização já existiram, como no final do século XIX, que marcou o nascimento do movimento trabalhista moderno. Naquele período, a migração foi muito importante para aumentar a interconexão entre os países e para transmitir formas de protesto entre operários, que precipitaram em movimento polanyianos de auto proteção contra a imigração. Uma mesma experiência de proletarização pode levar a resultados diversos, que vêm da relação com outros casos de proletarização.
No século XX, a indústria automobilística assumiu um papel bastante importante na expansão da produção em massa. Em praticamente todos os locais onde esta indústria se expandiu rapidamente surgiram movimentos sindicais fortes que obtiveram ganhos consideráveis aos seus trabalhadores. A cada onda de insatisfação havia deslocamento da produção para locais com mão de obra mais barata e controlável, o que enfraquecia bastante os movimentos trabalhistas do local de onde saíram, mas fortalecia de onde chegavam. O deslocamento do capital era uma resposta às crises de lucratividade e controle e, juntamente com mudanças do processo de produção e da organização do trabalho, pretendiam adiar as crises no tempo e no espaço. A tentativa de evitar as crises também abrange deslocamentos para novos setores e linhas de produtos menos competitivas, trazendo ascensão e declínio de novos tipos de indústria. A política internacional também afeta a intensidade de movimentações operárias e apresenta a solução financeira para o capital. Essa solução propiciou o desenvolvimento de crises de superacumulação, que afetou a trajetória das manifestações no início do século XX.

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