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A pê nd ic e D Teorias sobre os sistemas de remuneração 170 C E D E R J C E D E R J 171 Seguem as principais teorias acerca dos determinantes e das conseqüências da remuneração. O estudo dessas teorias pode ser interessante caso você, como gerente de vendas, precise estruturar e implementar formas alternativas de remuneração para diferentes equipes dentro de uma mesma empresa. a) Teorias acerca dos determinantes da remuneração 1. Teoria do contrato social: o homem cooperativo A teoria do contrato social presume, resumidamente, que, a partir de certas normas de tratamento igualitário, justiça e direitos, o ser humano tenderá a comportamentos cooperativos, pois entende que o motivador é o comportamento coletivo. Espera-se, então, que os gerentes atenuem segundo os interesses coletivos, já que todos estarão afetados por eles. A remuneração no contexto do contrato social, se definida de acordo com os padrões de trabalho, de justiça e de acordo com a lei, será percebida como justa. 2. Teoria econômica: o homem movido por valores (oportunista) As teorias econômicas partem do pressuposto de que o homem é um ser econômico que se presume racional e buscará a maximização de seus ganhos e minimização de seus esforços, sendo motivado a incentivos. Note-se que, na teoria econômica, incentivos não se resumem aos financeiros. Há a crença de que o homem é movido pelo “valor” que atribui aos incentivos, que podem ser, inclusive, não-financeiros, como o tempo para o lazer, por exemplo. Esta visão de homem se contrapõe à visão subjacente à teoria do contrato social. 3. Teoria da governança corporativa A governança corporativa diz respeito aos sistemas de controle e monitoramento estabelecidos pelos acionistas controladores de uma determinada empresa ou corporação, de tal modo que os administradores tomem suas decisões sobre a alocação dos recursos de acordo com o interesse dos proprietários. A teoria da governança corporativa teve origem no enfoque contratual das relações econômicas, na teoria da agência e também nos princípios da economia dos custos de transação. A estrutura de governança deve ser definida a partir das transações e seus atributos (freqüência, incerteza, grau de especificidade) e em função de seus custos de operação e capacidades. 4. Teoria da agência: importância do controle e divisão do risco A teoria da agência alerta para o conflito oriundo da separação da propriedade do controle das organizações. Isso porque, conforme o conflito central da teoria da agência, não necessariamente o “agente” irá atuar segundo os interesses do proprietário, pois se presume que as pessoas sejam motivadas pelos seus próprios interesses. Essa teoria pressupõe, então, uma visão do homem oportunista e das relações de trabalho com conflitos de interesse, em que o controle tem o papel de minimizar o conflito e introduzir os comportamentos na direção desejada. 170 C E D E R J C E D E R J 171 5. Teoria da análise do custo de transação A teoria da análise do custo de transação preocupa-se com a delimitação entre produzir ela própria seus insumos ou adquiri-los no mercado, analisando os custos das transações econômicas. Nessa análise, são evidenciadas as questões relacionadas aos mecanismos de monitoramento e controle de atividades econômicas e dos custos envolvidos. O argumento é que, sob certas circunstâncias, o custo do monitoramento e o controle explícito da força de vendas são tão altos que a necessidade da remuneração por incentivos ganha espaço, ou, eventualmente, a sua terceirização, via representação. São tais premissas: os custos de monitorar o tempo e o esforço, a desutilidade do esforço/trabalho, o salário alternativo, os custos de monitorar a qualidade e a heterogeneidade dos trabalhadores. 6. Teoria do capital humano: o valor do trabalho A teoria do capital humano fornece uma importante explicação para o papel de escolaridade no incremento da produtividade e, conseqüentemente, para o aumento do salário. Para a teoria do capital humano, a razão da forte correlação estatística observada entre a escolaridade e a remuneração do trabalhador reside no significado da educação, particularmente na sua geração de habilidades cognitivas, para elevação da produtividade marginal. 7. Teoria dos recursos da firma: recursos como diferenciais competitivos A teoria dos recursos da firma, resumidamente, prevê que a sustentação de vantagens competitivas deriva de obter acesso preferencial e maximizar a utilidade de recursos únicos, incluindo nesses recursos humanos. Desse modo, se para uma dada organização a inovação é uma competência única, o sistema de remuneração deve ser ajustado de modo a facilitá-lo e promovê-lo, com vistas à sustentação dessa vantagem competitiva. Essa teoria pressupõe que o trabalho deixe de ser visto e utilizado exclusivamente como um componente de custos, para tornar-se, adicionalmente, fonte de recursos. Pressupõe, sobretudo, reconhecer a contribuição dos empregados. b) Teorias acerca das conseqüências da remuneração Os pressupostos das teorias a seguir podem dar substrato para que sejam analisadas as potenciais conseqüências das decisões de remuneração, posto que se ocupam do homem e sua relação com incentivos, necessidades e expectativas. 1. Contrato psicológico: expectativas humanas O contrato psicológico é implícito, não-formal, e ocorre, segundo a percepção do empre- gado, entre ele e a organização, referente às promessas de direitos e obrigações de cada uma das partes. Tem por base percepções e crenças, por parte do empregado, a respeito das promessas de obrigações mútuas, envolvendo, além da troca financeira, uma série de outras recompensas, denominadas socioemocionais. 172 C E D E R J C E D E R J 173 2. Teorias motivacionais: o homem psicossocial A literatura é vasta em teorias que procuram explicar as relações entre a motivação, o esforço e o desempenho. Visando à sua sistematização, a análise será dividida em: teorias motivacionais de conteúdo, teorias motivacionais de processo, teoria de satisfação no trabalho, estabelecimento de metas e desafios e teoria da eqüidade. 2.1. Teorias motivacionais de conteúdo Essas teorias colocam ênfase nos motivos, ou seja, nos objetivos da motivação, chamados de necessidades, em vez de explorarem o processo, ou seja, como as pessoas são motivadas. Autores dessa área enumeram mais de cem tipos de necessidades humanas. As teorias de conteúdo são a de Maslow e a de Herzberg (como visto na Aula 5). A maior diferença entre essas duas abordagens reside justamente no papel de remuneração. Em Maslow, a remuneração assume um papel motivador, já que teria a função de proporcionar a satisfação de necessidades básicas ou fisiológicas e de auto-estima. Em Herzberg (como visto na Aula 5), a remuneração assume papel “higiênico”, ou seja, deve corresponder a um nível suficiente para não causar insatisfação, mas não é entendida propriamente como um fator motivador. Entretanto, o autor salienta que a remuneração pode ser fonte de satisfação se percebida como uma forma de retribuição ou reconhecimento. 2.2. Teorias motivacionais de processo As teorias motivacionais de processo focalizam em como pessoas podem ser motivadas. A teoria das expectativas de Vroom (1964) enquadra-se nessa categoria, e a variável-chave do modelo é o nível de esforço. Segundo essa teoria, o nível do esforço a ser motivado depende de três fatores: • valência; • expectativa; • instrumentalidade. Sucintamente, a valência diz respeito ao valor que a recompensa tem para o indivíduo; a expectativa diz respeito à crença de que o indivíduo tem que o esforço adicional gerado será observado e reconhecido; finalizando, ainstrumentalidade refere-se à crença de que o indivíduo tem que a melhoria de desempenho resultará em recompensas. Presume-se que a combinação desses três fatores determinará o nível motivacional. Desse modo, utilizando-se dos parâmetros da teoria das expectativas de Vroom, estudos defendem que a motivação por incentivos financeiros é circular, ou seja, o esforço gera o desempenho, que gera as recompensas, as quais realimentam o esforço em direção ao desempenho. Nesse círculo, a manutenção das inter-relações entre os diversos elos é crucial para a perenidade, sob pena de a recompensa não gerar esforço caso exista uma quebra nos elos do círculo. 172 C E D E R J C E D E R J 173 2.3. Teorias de satisfação no trabalho Para essa teoria, o pagamento é um dos fatores que mais contribuem para a satisfação, juntamente com a satisfação pelo trabalho em si e com a supervisão. Segundo a proposta desta, a quantia efetivamente recebida é percebida não só pelo valor em si, mas também pela relação mantida com a quantia percebida por outros profissionais. 2.4. Estabelecimento de metas e desafios Essa teoria propõe que metas específicas e desafiadores, na perspectiva de quem irá desempenhar a tarefa, provocam níveis mais altos de desempenho que metas fáceis ou metas gerais. A importância é dada ao desafio em si mesmo, ou seja, independentemente da recompensa associada, visto que o motivador é o próprio desafio. Uma meta ou desafio, do ponto de vista psicológico, pode ser entendido como um compromisso com certo desempenho. O estabelecimento de meta pode ser visto, então, como uma estratégia motivacional, pois busca dirigir e manter a atenção de seu executante para um determinado objetivo a ser alcançado, e assim direcionar seu esforço e desempenho naquela direção. 2.5. Teoria da eqüidade Essa teoria sugere que os empregados alocarão esforços baseados em seus pares. Dito de outra maneira, se o empregado perceber iniqüidade (para menos) em relação ao pagamento recebido pelo seu trabalho, comparativamente a outros na mesma função ou qualificação, ele tenderá a diminuir o esforço, visando à correção dessa iniqüidade. O mesmo ocorrerá quando a percepção da iniqüidade for para “mais”: o profissional tenderá a elevar seus níveis de desempenho. 3. Teoria da competição: homem social competitivo ou cooperativo? A teoria da competição atribui maior eficiência aos incentivos financeiros em função da posição relativa entre os profissionais. Segundo esses pressupostos teóricos, os profissionais são motivados não pelo seu nível de remuneração atual, mas sobretudo pelo que se paga para os níveis superiores da carreira ou da hierarquia. Desse modo, se as diferenças relativas forem percebidas como não-significativas, isso pode afetar o desempenho. Um aspecto de relevância dessa teoria é ter dado ênfase ao efeito que a remuneração dos altos executivos pode ter no comportamento dos demais empregados. Dessa visão teórica emerge a questão referente ao estabelecimento de estruturas salariais mais comprimidas/igualitárias ou mais hierárquicas. Um fato interessante é que a diferença relativa entre o menor e o maior salário apresenta variações significativas entre culturas e países. 4. Teoria de escassez: a importância dos outros Essa teoria assemelha-se, de certo modo, à teoria da eqüidade, embora dê mais ênfase à comparação social. Essa teoria postula que se tende a decidir sobre nosso grau de escassez ou de privação não com base no próprio sentimento, mas sobretudo na comparação com demais. Daí o senso de que até os mais ricos podem se sentir pobres, desde que sejam comparados a outros.
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