Buscar

Semana 2 Prática Simulada.


Continue navegando


Prévia do material em texto

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA XXX VARA CÍVEL DA COMARCA DE SALVADOR / BA. (ART. 319, I do CPC)
FREDERICO, brasileiro, casado, (profissão), portador da carteira de identidade n° XXXX, expedida pelo XXX, inscrito no CPF/MF sob o n° XXXXX , (endereço eletrônico), residente e domiciliado XXXXX Fortaleza / CE, por seu advogado, com endereço profissional XXX, para fins dos artigos 77 e 106, inciso I do CPC, vem a este Juízo, propor
AÇÃO DE ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO
pelo procedimento comum, artigo 318 do CPC, em face de GEOVANA, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portadora da carteira de identidade n° XXX, expedida pelo XXX, inscrita no CPK/MF sob o n° XXX, (endereço eletrônico), residente e domiciliada XXX Salvador / BA, pelas razões de fato e de Direito que passa a expor.
I - DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO
Requer o Autor que seja designada audiência prévia de conciliação ou mediação na forma do artigo 319, inciso VII do CPC.
II - DOS FATOS
O autor no mês de janeiro de 2014 teve sua filha sequestrada, sendo surpreendido com uma ligação dos sequestradores que exigiram um pagamento no valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) pelo resgate de sua filha. A situação desesperadora para o Autor se agravou no dia 13 de janeiro de 2014, quando recebeu em sua residência um pedaço da orelha de sua filha e a ameaça de morte dela, caso não fosse efetuado o pagamento do resgate.
Transtornado com o fato e aflito com o assassinato de sua filha, após ter arrecadado somente o valor de R$ 220.000,00 ( duzentos e vinte mil reais), o Autor vendeu seu ÚNICO imóvel pelo valor de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) para a Ré, sua prima.
Entretanto, o imóvel vendido no valor de oitenta mil reais trata-se de uma ampla casa com quatro quartos, piscina, duas salas, sauna, localizado no município de Fortaleza / CE, com valor de mercado avaliado na importância de R$ 280.000,00 (duzentos e oitenta mil reais). O contrato foi celebrado por um valor irrisório de aproximadamente 29 % (vinte e nove por cento) do valor real do bem.
O negócio jurídico em questão somente foi celebrado em decorrência do estado de perigo em que se encontrava a filha do Autor, este fato foi o único motivo a qual levou o Autor a celebrar tal negócio, pois estava desesperado para salvar sua filha.
A Ré, prima do Autor, por conviver e fazer parte da família, possuía amplo conhecimento do sequestro da filha do Autor, e da sua necessidade em arrecadar o dinheiro necessário para efetuar o pagamento do resgate, agindo de forma desleal, se aproveitando do momento de maior fragilidade do Autor para se beneficiar da situação fática.
Tal negócio jurídico foi contaminado desde a sua celebração pelo vício do estado de perigo, visto que este foi a única causa da celebração do contrato, e era conhecido preliminarmente pela parte Ré.
Passados sete dias da celebração do negócio jurídico, a filha do Autor foi encontrada com vida pela polícia, antes de ter sido efetuado o pagamento pelo resgate.
O Autor por não ter utilizado o valor do contrato para efetuar o pagamento do resgate, tentou junto a Ré, sua prima, o desfazimento do negócio celebrado, entretanto não obteve êxito, sendo a prestação jurisdicional do Estado a única forma possível para a solução do conflito.
III - DOS FUNDAMENTOS
O Artigo 156 do Código Civil conceitua o que é estado de perigo:
"Art. 156 C.C. - Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa." 
É indubitável a caracterização do estado de perigo conceituado pelo art. 156 do C.C. no caso concreto. O Autor premido da necessidade de salvar sua filha, assumiu uma obrigação extremamente onerosa, vendendo seu único imóvel por um valor aquém do valor de mercado. Se configura o vício pelo conhecimento antecipado do estado de perigo pela parte Ré, antecedente a celebração do negócio.
A Ré, agiu com o dolo de aproveitamento, que é necessário para a convalidação do vício do estado de perigo. A Ré sabia de toda situação sofrida pelo Autor e sua filha, e se aproveitou da situação fática para conseguir uma vantagem econômica exorbitante e totalmente desleal, ferindo gravemente um dos princípios norteadores do Código Civil que é a boa-fé contratual.
O caso concreto se enquadra perfeitamente na lição do professor Flávio Tartuce sobre a matéria de direito material em questão, presente em sua obra "Manual de Direito Civil", volume único, 4ª ed. , 2014, páginas 236 e 237:
"De acordo com o art. 156 do CC, haverá estado de perigo toda vez que o próprio negociante, pessoa de sua família, ou pessoa próxima estiver em perigo, conhecido da outra parte, sendo este a única causa para a celebração do negócio." 
O jurista Flávio Tartuce também cita em sua obra um ensinamento da professora Maria Helena Diniz, que também se adéqua ao caso em questão:
"Cita a professora o caso de alguém que tem pessoa da família sequestrada, tendo sido fixado o valor de resgate em R$ 10.000,00 (dez mil reais). Um terceiro conhecedor do sequestro oferece para a pessoa justamente os dez mil reais por uma jóia, cujo valor gira em torno de cinquenta mil reais. A venda é celebrada movida pelo desespero da pessoa que quer salvar o filho. O negócio celebrado é, portanto, anulável."
O art. 171 do Código Civil em seu inciso II deixa claro, sem dúvidas, que o negócio jurídico contaminado com o vício do estado de perigo é ANULÁVEL:
Art. 171 C.C. - Além dos casos expressamente declarados em lei, é anulável o negócio jurídico:
I - (...)
II - Por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.
(grifo nosso)
IV - DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer:
A) A designação de audiência de conciliação ou mediação e a consequente citação da Ré para comparecer em audiência, ficando ciente de que não havendo acordo, iniciará o prazo para contestar, na forma da lei. (art. 334 do CPC)
B) Que seja julgado procedente o pedido para anular o negócio jurídico celebrado pelas partes.
C) Que seja expedido ofício ao cartório responsável para pré-notação da lide na matrícula do imóvel.
D) Que seja julgado procedente os pedido para condenar a Ré nos ônus da sucumbência. (arts. 82/85 do CPC)
V - DAS PROVAS
Requer a produção de todas as provas em direito admitidas, na amplitude dos arts. 369 e seguintes do CPC, em especial a prova documental, testemunhal e o depoimento pessoal da Ré.
VI - DO VALOR DA CAUSA (art. 292 do CPC)
Dá-se à causa o valor de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais).
Nestes Termos.
Pede Deferimento.
Local e Data.
Nome do Advogado.
OAB / (Sigla do Estado).