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AULA 8 - ÉTICA E CIDADANIA

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Prof. Marcelo José Caetano
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“...é necessário admitir, não há nada de “razoável” em assumir responsabilidades, preocupar-se e ser moral. A moralidade tem apenas a ela mesma para se apoiar: é melhor se preocupar do que lavar as próprias mãos, melhor ser solidário com a infelicidade do outro do que ser indiferente, é muito melhor ser moral, mesmo que isso não faça as pessoas mais ricas nem as companhias mais lucrativas.” (BAUMAN, 2008: p. 109)
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A palavra ÉTICA é uma transliteração do vocábulo grego ETHOS que significa a morada e o lugar onde se encontra abrigo. O vocábulo define o estilo de vida e de ação no espaço do mundo e gera o costume. Além disto, pode ser compreendido como o comportamento que resulta da repetição de atos, ou seja o hábito. Tanto costume como hábito são construídos.
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A tarefa da civilização, conforme GALLO ( p. 57), “é civilizar esse animal chamado homem”. Para o autor, ela deve ser compreendida como “tudo aquilo por meio do que o homem se elevou acima de sua condição animal. Os humanos são seres de cultura. A cultura é a morada do homem. O acesso aos bens culturais produzidos em toda história é o que define esta condição humana.”
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“A tradição é o conjunto de modos de viver e de pensar, criados e transmitidos de uma geração a outra, considerados capazes de nos guiar e conduzir” 
[...]
“O critério de valor da tradição está [...] no proveito que podemos tirar dela. Isso porque importa não tanto em obedecê-la, mas experimentar, no ato de segui-la, a formação de nós mesmos. Quando houver essa coincidência, estamos na obediência e na liberdade, somos escravos e livres.” (BUZZI, 1991: p. 58 – 59)
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A política se define, conforme a acepção aristotélica, como a ciência cujo fim é o bem comum. Bem comum que encontra moradia na ética. Ética que é um modo de vida, uma autodeterminação da práxis, ou seja, uma necessidade instituída que se encontra no campo da liberdade.
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Ninguém nasce cidadão, mas torna-se cidadão pela educação. Porque a educação atualiza a inclinação potencial e natural dos homens à vida comunitária ou social. Cidadania é, nesse sentido, um processo. Processo que começou nos primórdios da humanidade e que se efetiva através do conhecimento e conquista dos direitos humanos, não como algo pronto, acabado; mas, como aquilo que se constrói. Assim como a ética, a cidadania é hoje questão fundamental, quer na educação, quer na família e entidades, para o aperfeiçoamento de um modo de vida. Não basta o desenvolvimento tecnológico, científico para que a vida fique melhor. É preciso uma boa e razoável convivência na comunidade política, para que os gestos e ações de cidadania possa estabelecer um viver harmônico, mais justo e menos sofredor. (CARVALHO, 2003: p. 6)
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O poder político é uma relação social. No entanto, tudo que existe na sociedade é uma relação social. Assim, o que importa saber é que tipo de relação social específica constitui o poder. 
O poder é uma relação social de dominação e/ou de representação que implica na existência de dominantes e dominados e/ou de representantes e representados.
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O animal político: 
O homem é um animal político (zóon poliktikon) por natureza, ou seja, é da natureza humana buscar a vida em comunidade e, portanto, a polítia não é por convenção (nómos), mas por natureza (phýsei). (Chauí, 2002: p. 463).
Política e bem comum: 
Aristóteles conclui, na abertura de sua Ética a Nicômaco, que a política é superior à ética. A política, diz o filósofo, orienta a ética, pois o homem só é verdadeiramente autárquico na polis, e orienta também as ciências produtivas para o bem de cada um e de todos. A política é aquela ciência prática cujo fim é o “bem propriamente humano” e esse fim é o bem comum. (Chauí, 2002: p. 462).
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“Só é legítimo o regime no qual o poder não está a serviço dos desejos e interesses de um particular ou de um grupo de particulares” (Chauí, 1997: p. 396-397)
Os valores políticos são medidos pela eficácia prática e pela utilidade social, ou seja, o ethos político e o ethos moral são diferentes e não há fraqueza política maior do que o moralismo que mascara a lógica real do poder. (Cf. Chauí, 1997)
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Pacto Social (Do Estado de Natureza ao Estado Civil)
“Em todos os lugares onde há igualdade de forças é a luta que resolve o conflito, mas dessa luta ninguém sairá vitorioso, e o mundo humano soçobrará inevitavelmente numa guerra universal em que a miséria se conjuga à morte. A transição da guerra para a paz só pode realizar-se por meio de uma transposição jurídica do princípio de igualdade de fato (- o pacto social: condição fundamental da paz)” (Huissman, 2001: p. 502)
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Os indivíduos, pelo contrato (social), criaram-se a si mesmos como povo e é a este que transferem os direitos naturais para que sejam transformados em direitos civis. Assim sendo, o governante não é o soberano, mas o representante da soberania popular (vontade geral). (Chauí, 1997: p. 401)
Povo – vontade geral / pessoa moral coletiva.
Perda da liberdade civil – individualidade civil/cidadania.
Cidadania – soberania/representação.
Súditos – subscrição às leis e à autoridade do soberano. 
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"Cada pessoa, mergulhada em si mesma, comporta-se como se fora estranha ao destino de todas as demais. Seus filhos e seus amigos constituem para ela a totalidade da espécie humana. Em suas transações com seus conci­dadãos, pode misturar-se a eles, sem no entanto vê-los; toca-os, mas não os sente; existe apenas em si mesma e para si mesma. E se, nestas condições, um certo sentido de família ainda permanecer em sua mente, já não lhe res­ta sentido de sociedade." Tocqueville
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“...no Brasil e no mundo, o projeto civilizatório da modernidade entrou em colapso. Não se trata de uma transgressão na prática dos princípios aceitos em teoria, pois nesse caso não haveria crise de civilização. Trata-se de rejeição dos próprios princípios, de uma recusa dos valores civilizatórios propostos pela Modernidade. Como a civilização que tínhamos perdeu sua vigência e como nenhum outro projeto de civilização aponta para o horizonte, estamos vivendo, literalmente, num vácuo civilizatório. Há um nome para isso: barbárie” (Rouanet, p.11).
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A pasteurização do real - Os veículos comunicação (mass media) fabricam imagens pasteurizadas do real. Vale o espetáculo, não a veracidade dos fatos. Banalizou-se a realidade. Pode-se assistir com o mesmo humor a um filme de terror ou a um documentário sobre o holocausto nazista;
Funcionalidade da política. Os princípios éticos básicos que deveriam orientá-la foram substituídos pela funcionalidade, pela eficiência do homem público em manipular opiniões. Desenvolveu-se política da imagem, dos efeitos visuais, do show pirotécnico.
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Narcisismo: “... o narcisismo designa a emergência de um perfil inédito do indivíduo nas suas relações consigo próprio e com o seu corpo, com outrem, com o mundo e com o tempo, no momento em que o capitalismo autoritário dá a vez a um capitalismo hedonista e permissivo (LIPOVETSKY, Giles. A era do vazio [ensaio sobre o individualismo contemporâneo]. Lisboa: Relógio d´água, 1983. p. 48). 
O homem cordial: “O homem cordial é o precipitado de uma formação social caracterizada pela hipertrofia da esfera privada e pelo primado das relações pessoais. Neste caso, os dois fatores se associam e tornam a condução da “coisa pública” um apêndice das disposições particulares de grupos familiares ou camadas dominantes.” (ROCHA, João Cezar de Castro. Literatura e cordialidade [O público e o privado na Cultura brasileira]. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998. p. 25.)
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BAUMAN, Zygmunt. A sociedade individualizada: vidas contadas e histórias vividas. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 95 - 109 (sou por acaso o guardião do meu irmão?)
BUZZI, Archangelo R. Filosofia para principiantes (a existência humana no mundo). Petrópolis: Vozes, 1991.
CARVALHO, Luis Carlos Ludovikus Moreira de. Ética e cidadania. In: http://www.almg.gov.br/educacao/sobre_escola/banco_conhecimento/index.html, acesso em 30 de setembro de 2011.
GALLO, Sílvio (coord.). Ética e cidadania (caminhos da filosofia). Campinas: Papirus, 2003.
LADRIÈRE, Jean. Os desafios da racionalidade. (o desafio da ciência e da tecnologia às culturas). Petrópolis, Vozes, 1978.
MATOS, Olgária. A escola de Frankfurt (luzes e sombras do iluminismo). São Paulo, Ática, 1993.
ROCHA, João Cezar de Castro. Literatura e cordialidade - O público e o privado na Cultura brasileira. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998. p. 25.

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