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Sumula 219 e 329

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Os Honorários Sucumbenciais sob a ótica do novo Código de Processo Civil na Justiça do Trabalho e da Instrução Normativa nº 39
1. Introdução
Esse artigo não tem a pretensão de esgotar o tema, mas apenas de fazer uma breve análise sobre o instituto dos honorários sucumbenciais e sua (não) aplicação na Justiça do Trabalho, haja vista a notória especialização dos processos trabalhistas e a evolução tecnológica, que dificultam o exercício do jus postulandi.
Além disso, o novo Código de Processo Civil – CPC/2015 (Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015), a recente alteração na Súmula 219 e a IN39 aumentam a responsabilidade dos advogados atuantes no processo, pois demanda maior estudo, técnica e dedicação por parte dos operadores do direito como um todo. Na medida em que o novo CPC passa a ser utilizado na esfera trabalhista de forma subsidiária e supletiva, nada mais justo que os benefícios dados aos advogados de outras áreas se estendam aos da seara trabalhista. Por isso, geramos essa reflexão, ressaltando julgados e doutrinas específicas.
Tendo em vista tratar-se de um assunto bastante controvertido, consideramos que, à luz do texto constitucional vigente – e da interpretação sistemática, racional e teleológica –, é plenamente possível a concessão de honorários sucumbenciais na Justiça do Trabalho, conforme será explanado a seguir.
Diante das alterações legais surgidas com novo Código e da atual insegurança jurídica que possa decorrer do tema, ressalta-se a importância dos honorários sucumbenciais na Justiça do Trabalho.
2. Os honorários advocatícios, origem e conceituação
A palavra “honorário” vem do latim honor, que significa honra, estima, consideração (SANTOS FILHO, 1998, p.32)
Os honorários têm origem no Direito Romano, no governo do imperador Cláudio (41 d. C. A 54 d. C.), em que foi estabelecido o direito a honorários para os advogados, dentro de certos limites, pelas ações em que atuassem. Contudo, o causídico era obrigado se inscrever (matrícula) na corporação criada pelo mesmo imperador, cujo nome era Colégio ou Corporação Advocatícia.
Segundo Orlando Venâncio dos Santos Filho, (1998, p. 34) “Antes do governo do imperador romano Cláudio, a regra geral era que as próprias partes arcassem com as despesas decorrentes do litígio, sem considerar o êxito da demanda”.
A Constituição de Zenão, em 487, prescreveu que o magistrado condenaria, na sentença, a parte vencida ao pagamento das custas processuais, sendo esse diploma legal o grande marco que inspirou a disciplina dos honorários de sucumbência tal como é atualmente (SANTOS FILHO, 1998, p. 32).
No Brasil, antes do código processual de 1939 (CPC/1939, Decreto-lei nº 1.608, de 18 de setembro de 1939), não existia nos Tribunais brasileiros um critério uniforme com relação à condenação da parte vencida aos honorários. Os artigos 63 e 64 consagraram o princípio da sucumbência com natureza jurídica de pena, pois estava condicionado à ocorrência de culpa ou dolo da parte derrotada, sendo essa exigência suprimida pela Lei nº 4.632, de 18 de maio de 1965 e, posteriormente, pelo art. 20 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (CPC/1973).
Os honorários conceituam-se como a remuneração por serviços prestados em cargo facultativo, de qualificação honrosa, tal como o de médico, o de advogado, dentre outros. Constituem a contraprestação pelo trabalho do advogado, podendo ser subdividido em contratuais e sucumbenciais.
Interessa-nos os honorários de sucumbência, que são devidos pela atuação processual e contenciosa do procurador. No caso trabalhista, na maioria das vezes, o patrono tem de elaborar petições iniciais que contém, verbi gratia, a cumulação de pedidos, matéria fática, legislação subsidiada, concentração de atos em audiência, etc. Vale lembrar que o advogado pode e deve desempenhar suas tarefas na seara consultiva e judicial, contudo, só será devida a verba sucumbencial quando atuar nesta última.
3. Natureza jurídica e caráter alimentar dos honorários
Conforme nos ensina o mestre Cassio Scarpinella Bueno (2009, p.3) “a sobrevivência é um dos direitos fundamentais da pessoa humana e para isso ela precisa de condições materiais básicas para prover o seu próprio sustento”. O meio natural e adequado de se alcançar esse objetivo, em regra, é através do trabalho.
Dentro desse contexto, por serem os honorários, por excelência, a remuneração do trabalho desenvolvido pelo advogado, merece a tutela do ordenamento jurídico e é correta sua qualificação como verba de natureza alimentar, eis que vitais ao desenvolvimento e à manutenção (necessarium vitae) do profissional.
Essa questão já foi amplamente discutida em nossos tribunais pátrios e, diante de tanta celeuma, finalmente foi aprovada a Súmula Vinculante nº 85, em sessão extraordinária do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), em 27 de maio de 2015:
Os honorários advocatícios incluídos na condenação ou destacados do montante principal devido ao credor consubstanciam verba de natureza alimentar cuja satisfação ocorrerá com a expedição de precatório ou requisição de pequeno valor, observada ordem especial restrita aos créditos dessa natureza.
Destaque-se que referida súmula antecipou o art. 85, § 14 CPC/2015, que merece ser transcrito:
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.
[...]
§ 14. Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso de sucumbência parcial.
Além disso, a recentíssima IN39 do TST, em seu artigo 3º, XXI, que trata do artigo 916 e parágrafos do novo CPC, antigo 745-A do CPC/73, entendeu perfeitamente aplicável que o executado continue podendo efetuar o parcelamento da dívida, devendo ser acrescida à execução as custas e os honorários, trazendo importante substrato para corroborando a nossa assertiva, ser devido os honorários sucumbenciais ao advogado Trabalhista.
Tendo ainda em vista que o artigo 15 do novo CPC informa que “Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente” (grifo nosso), acreditamos que esse dispositivo é um grande passo em direção à regulamentação dos honorários sucumbenciais na Justiça do Trabalho.
4. O cabimento dos honorários sucumbenciais na Justiça do Trabalho e o jus postulandi como fator impeditivo dos honorários de sucumbência
Em que pese o respeitável entendimento de alguns doutrinadores e magistrados, de que não cabem honorários sucumbenciais na Justiça do Trabalho, acreditamos que essa motivação esteja ultrapassada e se restrinja a determinadas localidades.
Ressalte-se que os institutos da gratuidade de justiça e da assistência judiciária gratuita não se confundem. O primeiro consiste na dispensa da parte miserável juridicamente das despesas decorrentes do processo judicial.
Já o segundo instituto consiste no direito de assistência por um profissional qualificado (artigo 5º, LXXIV da CRFB/88) para aqueles que não possuem condição de arcar com os custos da contratação de advogado particular.
No Direito Processual do Trabalho é assegurado o denominado jus postulandi (artigo 791 e 839, a, ambos da CLT), ou seja, a possibilidade da arte postular sem advogado.
O fundamento legal para a negativa de honorários está no art. 791 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943) e na Lei nº 5.584, de 26 de junho de 1970. Mas, analisando modernamente o artigo 791 da CLT: “Os empregados e os empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final”, destacamos a dificuldade atual de se monitorar o processo eletrônico sem o conhecimento técnico do advogado.
As demandas não são mais reduzidas “a termo” nos cartórios, como na época da publicação da CLT. Inviabilizar os honorários não só desacredita e desvaloriza o advogado trabalhista, como demonstra
uma depreciação quanto às outras áreas, que remuneram o advogado responsável pela tese vencedora.
Em artigo publicado em 17 de dezembro de 2012[3], os desembargadores do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região trataram do tema e acertadamente concluíram que:
[...] a realidade das relações de trabalho, e o aumento da consciência social. [...] É de conhecimento geral que, hoje, grande parte das ações que tramitam na Justiça do Trabalho envolvem questões como responsabilidade civil do empregador por danos à saúde (acidentes de trabalho, doenças causadas ou agravadas pelo trabalho), danos físicos e psíquicos, danos materiais e extra-patrimoniais (danos morais, estéticos, assédio moral, sexual, e outros danos), decorrentes da relação laboral. Podemos citar, os pedidos de diferenças de aposentadoria complementar privada (e interpretação dos respectivos regulamentos), e também as ações movidas contra diversos reclamados, no ambiente de terceirização, com condenações solidárias ou subsidiárias, e assim por diante.
[...]
Neste cenário, o jus postulandi na Justiça do Trabalho na prática não existe mais, salvo raras situações localizadas em poucos Estados.
Quando ocorre a atermação da reclamatória, ou há acordo na primeira audiência, ou a parte constitui seu advogado para o prosseguimento do feito. Inviável, em face da atual complexidade material e processual que a ação tenha sua tramitação, com todos os recursos inerentes, sem a presença do procurador habilitado. Esta é a realidade (BARBOSA; VARGAS; TELESCA; FRAGA, 2012).
Frisamos que o “fechar dos olhos” do Tribunal Superior do Trabalho (TST) atravanca e dificulta maior especialização dos profissionais do ramo do Direito do Trabalho. Além disso, a abordagem da matéria é obsoleta, haja vista a falta de adequação à realidade fática vivenciada nos tribunais.
Alguns doutrinadores já defendiam os honorários sucumbenciais desde a Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004 (EC nº 45/2004), conforme ensinamento de Francisco Antônio de Oliveira (1999, p;89):
A capacidade postulatória das partes na Justiça do Trabalho é ranço pernicioso originário da fase administrativa e que ainda hoje persiste em total discrepância com a realidade atual. E o Direito do Trabalho constitui hoje, seguramente, um dos mais, senão o mais dinâmico dentro do ramo do Direito e a presença do advogado especializado já se faz necessária.
Afinal, o artigo 133 da Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988 dispõe que o advogado é indispensável para a administração da Justiça, o que, por si só, já teria o condão de conferir os honorários sucumbenciais ao advogado.
Outro entendimento bastante controvertido na seara trabalhista é a aplicação do art. 20 do CPC/1973 (art. 85 no CPC/2015). A sua incidência no processo trabalhista é impedida pela Lei nº 5.584/1970, que regulamenta os honorários advocatícios somente nos casos específicos do art. 16, quando se tratar de sindicato assistente.
Cabe, nesse caso, a mesma indagação feita pelo magistrado Alexandre Roque Pinto em artigo publicado na Revista Jus Navegandi, Teresina, ano 14, nº 2066, em 26/02/2009 “estaria este dispositivo disciplinando inteiramente os honorários advocatícios em toda e qualquer situação no processo do trabalho ou apenas nos casos em que o autor é assistido pelo sindicato?”. Indubitavelmente, a segunda resposta seria a correta, e o uso do CPCadequado para todas as outras situações, conforme disciplina o art. 769 da CLT.
Por oportuno, frise-se que essa segunda corrente minoritária é a mais coerente, demonstrando a intenção do legislador de que, após a promulgação da Constituição Federal – em função do art. 133 e a edição da Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994 (art. 1º, I)– não estaria mais em vigor o artigo 791 consolidado.
Contudo, sabemos que a jurisprudência não pendeu para esse lado. Felizmente, o direito não é monolítico e estanque, mas aberto e dinâmico, buscando sempre evoluir em prol da sociedade e de seus defensores.
O doutrinador e processualista Renato Saraiva (2013, p. 207/215), também faz importante explanação sobre o instituto dos honorários advocatícios:
Após a emenda constitucional 45/2004, que ampliou a competência da Justiça do Trabalho, distribuída na Justiça do Trabalho uma ação que envolva relação de trabalho diversa da relação de emprego, passou a admitir o TST a condenação do vencido em honorários advocatícios de sucumbência. Todavia, se a lide decorrer de relação de emprego, a condenação de honorário, para o TST só será possível nos exatos termos das súmulas 219 e 329.
Outrossim, não podemos concordar com o entendimento do TST, que recentemente alterou a Súmula 219, e, portanto, poderia corrigir o equívoco, contudo, novamente foi silente, visto que a limitação da condenação em honorários de sucumbência nas lides decorrentes da relação de emprego apenas beneficia o empregador mau pagador.
A IN 27/2005 só veio agravar ainda mais a situação, podendo ocasionar injustiças. Imaginemos a hipótese de duas ações trabalhistas distribuídas na Justiça do Trabalho sem a assistência sindical. Uma ação promovida por um arquiteto autônomo, famoso e rico, cobrando eventuais honorários não recebidos por um cliente. Outra lide, distribuída por em trabalhador desempregado e que foi dispensado sem receber suas verbas trabalhistas. A ação movida pelo arquiteto ensejará a condenação do vencido em honorários advocatícios. Já a reclamação trabalhista do trabalhador não ensejará o pagamento de quaisquer honorários (SARAIVA, 2013, p. 210)
Em outras palavras, a condenação em honorários não deve estar condicionada à assistência judiciária prestada pelo sindicato profissional, mas decorrer da simples sucumbência, conforme já acontece nas outras esferas do Poder Judiciário.
Ademais, se não bastassem as divergências explícitas dos dispositivos da Lei nº 5.584/1970 com as normas constitucionais e infraconstitucionais vigentes, pode-se afirmar que posteriores alterações legislativas revogaram os seus artigos 14 a 19.
A Lei nº 10.288, de 20 de setembro de 2001 revogou tacitamente a norma anterior relativa à assistência judiciária, ao inserir o parágrafo 10 no art. 789da CLT, que tratou expressamente da matéria. Posteriormente, a Lei nº 10.537, de 27 de agosto de 2002 novamente alterou o art. 789 consolidado, dando-lhe nova redação, sem, contudo repetir o parágrafo 10, ou norma com o mesmo conteúdo.
Portanto, não tendo a nova lei regulado a assistência judiciária sindical (apenas revogado a anterior), não se pode entender que houve repristinação da Lei nº 5.584/70, visto que o nosso sistema jurídico não prevê a hipótese, de acordo com o art. 2º, § 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB (Decreto-lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942).
Assim, mesmo que se entenda que a Constituição Federal de 1988 não retirou a vigência da Lei nº 5.584/1970, é certo que as alterações legislativas mencionadas acabaram por fazê-lo, de modo que se convive com súmulas do TST, ainda hoje, cujos textos se fundamentam em lei não mais em vigor. Inclusive a jurisprudência dos Tribunais Regionais do Trabalho de diversas regiões do país (notadamente 2ª, 3ª, 4ª, 9ª e 15ª, apenas para destacar alguns) tem relevado os efeitos das Leis nº 10.288/2001 e nº 10.537/2002.
Ainda segundo o artigo publicado pelos desembargadores da 3ª Turma do TRT da 4ª Região:
O Processo Judicial Eletrônico encontra-se em fase de implantação em todo o país, e exige certificação digital do advogado para propor a ação, apresentar defesas, recorrer, enfim para a prática de todos os atos processuais. Neste cenário, o jus postulandi na Justiça do Trabalho na prática não existe mais, salvo raras situações localizadas em poucos Estados.
A Justiça do Trabalho brasileira, na sua atual maturidade e grandeza, necessita atualizar-se com relação a este tema tão relevante, que diz respeito ao seu funcionamento harmônico, porque decisivo na própria relação entre advogados, partes e judiciário. O novo caminho sugere o cancelamento pelo TST das
Súmulas 219 e 329, abrindo as portas da dignidade para a advocacia trabalhista, além de sinalizar para o estabelecimento de regras mais equilibradas e justas com relação aos jurisdicionados quanto à contratação de seus advogados, sem prejuízo do jus postulandi das partes, mas lançando luzes para o futuro: um processo trabalhista à altura do que espera e merece toda a sociedade brasileira. (BARBOSA; VARGAS; TELESCA; FRAGA, 2012).
Dados estatísticos relativos ao processo eletrônico demonstram que, dos vinte e quatro Tribunais Regionais do Trabalho (todos já usuários do sistema PJ-e), quinze já contam com 100% (por cento) das varas com processo eletrônico implantado, totalizando 82% (por cento) das 1.283 varas do trabalho.
Em um ano, de acordo com as estatísticas colhidas no sítio do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), não haverá mais distribuição de processos físicos, ou seja, mais do que nunca será imprescindível a especialização e valorização do advogado trabalhista.
Conforme Mauro Schiavi (2016, p.334) “O TST, em 2009, fixou entendimento de ser necessária a presença de advogado para postular junto ao TST”, confirmando sua indispensabilidade, que traz fortes argumentos para a tese ora defendida.
Vale trazer à discussão o entendimento do processualista Carlos Henrique Bezerra Leite (2015, p. 423):
[...] é importante atentar para a súmula4255 do TST, que ao não mais permitir o jus postulandi na ação rescisória, na ação cautelar, no mandado de segurança e nos recursos para o TST, acaba admitindo, implicitamente, a condenação em honorários advocatícios pela mera sucumbência.
Conforme já consignado, inexiste lei específica que esgote o tema concernente aos honorários sucumbenciais na Justiça do Trabalho. Assim, poder-se-ia aplicar o conceito da reparação integral da vítima, consubstanciada nos artigos 389, 404 e 944 do Código Civil (CC, Lei nº 10.406, de 11 de janeiro de 2002), perfeitamente, compatível com o processo laboral, consoante as seguintes decisões:
DESPESAS COM HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. RESSARCIMENTO. Procede a pretensão de ressarcimento dos gastos com advogado, pela aplicação no campo trabalhista, do princípio da restitutio in integrumincorporado em diversos dispositivos do nosso ordenamento jurídico (artigos 389, 404 e 944 do Código Civil). A indenização por perdas e danos repara os prejuízos do autor, advindos do dispêndio com os honorários do causídico contratado, com suporte no caput do art. 404 do CC. Isto se dá, porque os honorários, na prática, são extraídos do montante dos créditos da condenação, resultando em evidente redução dos títulos a que faz jus o reclamante. [...]
Por fim, embora não se trate aqui de aplicar a sucumbência, afasta-se o argumento (equivocado, diga-se) de que no âmbito trabalhista, há Lei própria regulando estritamente a incidência de honorários (Lei nº 5.584/70). Em verdade, constata-se que houve revogação do art. 14 dessa Lei, com a edição da Lei nº 10.288/01, por sua vez revogada pela Lei nº 10.537/02, que passou a regulamentar o disposto nos arts. 789 e 790 da CLT, não havendo em nosso ordenamento jurídico o efeito repristinatório tácito. (TRT 2ª Região, 4ª Turma, RO 0150300-65.2009.5.02.0005, Ac. 2011/1134018, Relator: desembargador do trabalho Ricardo Artur Costa e Trigueiros, publicado em 9/9/2011, no DOESP).
Entendeu a maioria da turma julgadora que, porque teve o autor despesas com a contratação de advogado para pleitear judicialmente a reparação dos seus direitos violados, merece ser indenizado por perdas e danos, com arrimo nos artigos 389 e 404 do CC, de aplicação subsidiária ao processo do trabalho, sendo que a reparação deve incluir, além de juros e atualização monetária, o valor correspondente aos honorários advocatícios contratados, para que assim seja prestigiado o princípio da restituição integral das perdas.
(TRT 5ª Região, 2ª Turma, RO 0000579-91.2010.5.05.0014, Relatora: desembargadora do trabalho Luíza Aparecida Oliveira Lomba, julgado em 14/9/2011 e publicado em 19/9/2011, no DEJTBA).
Por fim, no mesmo sentido o entendimento consubstanciado no enunciado nº 79 aprovado na 1ª Jornada de Direito Material e Processual na Justiça do Trabalho, realizada pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho - ANAMATRA, juntamente com o Tribunal Superior do Trabalho (TST), com a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENAMAT) e com o apoio do Conselho Nacional das Escolas de Magistratura do Trabalho (CONEMATRA), nos dias 21 a 23 de novembro de 2007:
“79. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS DEVIDOS NA JUSTIÇA DO TRABALHO.
I – Honorários de sucumbência na Justiça do Trabalho. As partes, em reclamatória trabalhista e nas demais ações da competência da Justiça do Trabalho, na forma da lei, têm direito a demandar em juízo através de procurador de sua livre escolha, forte no princípio da isonomia (art. 5º, caput, da Constituição da Republica Federativa do Brasil) sendo, em tal caso, devidos os honorários de sucumbência, exceto quando a parte sucumbente estiver ao abrigo do benefício da justiça gratuita.
II – Os processos recebidos pela Justiça do Trabalho decorrentes da Emenda Constitucional 45, oriundos da Justiça Comum, que nesta esfera da Justiça tramitavam sob a égide da Lei nº 9.099/95, não se sujeitam na primeira instância aos honorários advocatícios, por força do art. 55 da Lei 9.099/95 a que estavam submetidas as partes quando da propositura da ação”.
5. Projetos de Lei nº 3.392/2004 e nº 5.101/13
Recentemente, a Justiça do Trabalho vem peregrinando no sentido de aceitar os honorários advocatícios em razão da mera sucumbência.
Existem projetos de lei no Congresso Nacional como, por exemplo, o Projeto de Lei da Câmara dos Deputados nº 3.392, de 30 de abril de 2004, elaborado pela ex-deputada Clair da Flora Martins, que estabelece honorários de sucumbência na Justiça do Trabalho e ainda considera indispensável a atuação do advogado nessa esfera.
A redação final do projeto já foi aprovada em 21/5/2013 pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, com a remessa para o Senado Federal em 28/5/2013, aguardando votação, para posterior sanção pela Presidência da República.
Uma vez sancionado o projeto, será uma grande conquista para a classe trabalhista e jurídica no todo, haja vista o reconhecimento do profissional da advocacia, que fará jus aos honorários sucumbenciais que já são arbitrados nas demais áreas do Judiciário.
Outro projeto de lei que versa sobre o tema é o de nº 5.101/23, do deputado Laercio Oliveira que tem o escopo de regular a condenação em honorários na Justiça do Trabalho no caso de reclamações de pequeno valor.
6. Conclusão
Diante das considerações trazidas, da recente Instrução Normativa nº 39 expedida pelo TST, e da revisão da Súmula 219, é necessário que o leitor reflita e debata sobre o verdadeiro significado dos honorários sucumbenciais. Os advogados existem para defender a sociedade, e nada mais justo que o exercício da advocacia seja valorizado e respeitado por ela.
Foram feitas as distinções dos institutos da gratuidade de justiça e da assistência judiciária gratuita no texto acima é possível concluir que eles são distintos e independentes, razão pela qual equivocado o entendimento dominante no sentido de que o deferimento de honorários advocatícios em sede do Processo do Trabalho é obstado pelo jus postulandi.
Afinal, o patrono diminuído é o sinônimo de cidadãos enfraquecidos, de lesão a direitos trabalhistas e cíveis, bem como aos direitos humanos (de 1ª, 2ª e 3ª gerações), que foram conquistados com muita luta e que estão previstos em nossa Carta Magna. Isso demonstra a importância do advogado à justiça e a toda coletividade.
Evidenciam-se os processos eletrônicos, a necessidade de especialização por parte dos juristas, a falta de praticidade do jus postulandi e o novo Código de Processo Civil, que trouxe mais um argumento para a viabilização da cobrança de honorários sucumbenciais na Justiça do Trabalho, uma vez que aplicado suplementar e subsidiariamente.
Considerando que todos os cidadãos desejam ser bem recompensados pelo bom trabalho exercido e que a natureza jurídica dos honorários é alimentar, revela-se dentro dos parâmetros da razoabilidade e justiça que o causídico receba justa remuneração quando representa a parte vencedora, devendo ser ultrapassada qualquer medida que tente amainar a importância do advogado trabalhista.

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