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EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE DA PESSOA NATURAL

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Prof. Wesley Monteiro
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De acordo com o que menciona o artigo 6º. do CC, a personalidade natural termina com a morte. 
A doutrina classifica a morte em algumas espécies, quais sejam, a morte presumida, a morte simultânea ou comoriência, a morte real e a morte civil.
 
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A morte Civil existiu na idade média, para os condenados a penas perpétuas e para os que seguiam a profissão religiosa. As pessoas que se enquadravam nestas situações eram consideradas mortas para o mundo, sendo privadas de seus direitos civis.
Com a modernização do Direito, a morte civil foi se extinguindo aos poucos, sendo muito raras disposições legais que a autorizam.
O ordenamento jurídico brasileiro traz um resquício da morte civil, em seu artigo 1816 do CC. Esse dispositivo do Código Civil, trata os afastados da herança como se mortos fossem, entretanto, seus descendentes herdam normalmente. A morte civil não faz com que o indivíduo perca os direitos da personalidade, pois na verdade ele é declarado morto somente naquela questão sucessória.
Também há disposições neste sentido no Direito Militar, onde, em algumas hipóteses, a família do indigno do oficialato, que perde o posto e respectiva patente, possa receber pensões como se ele fosse falecido. (dec-lei 3038/41). 
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A morte real é apontada pelo artigo 6º. do CC, que dispõe que a existência da pessoa natural termina com a morte. Assim com a morte termina a personalidade jurídica, por isso que é importante estabelecer o momento da morte ou fazer sua prova para que ocorram os efeitos inerentes ao desaparecimento jurídico da pessoa humana, como a dissolução do vínculo matrimonial, o término das relações de parentesco, a transmissão da herança, os contratos personalíssimos, etc.
Entretanto, a morte não significa o aniquilamento completo da pessoa, porque, apesar do morto não possuir mais os direitos da personalidade, não significa dizer que o ordenamento jurídico deixa de protegê-lo, garantindo a ele o respeito ao seu cadáver (existem dispositivos que prevêem crimes atos cometidos contra o cadáver do morto – artigo 209 a 212 do CP), garante também que sua vontade seja respeitada, nos casos, por exemplo, do testamento, etc. 
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A prova da morte se dá com o atestado de óbito. Em algumas situações, no entanto, tendo em vista a família não possuir o cadáver da pessoa morta, fica impossível conseguir lavrar o assento do óbito sem recorrer ao Judiciário, são os casos da morte presumida, que ocorre quando se tem a certeza da morte da pessoa, apesar de não se ter encontrado o corpo dela, são os casos, por exemplo, das catástrofes, dos incêndios, das inundações, dos naufrágios, desde que se tenha certeza que a pessoa se encontrava no local no momento do desastre. 
Nestas situações a família ajuíza ação declaratória de morte presumida, sem decretação de ausência ou justificação de óbito, e o juiz então declarará a morte do indivíduo. O art. 88 da Lei dos Registros Públicos (Lei no 6.015/73) permite uma modalidade de justificação judicial de morte, "para assento de óbito de pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para exame”.
 
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Conforme já relatado anteriormente, é importante estabelecer o momento da morte do indivíduo, não só para fazer dissolver os vínculos conjugais, de parentesco e contratuais, mas, também, para permitir a transmissão da herança etc.
Em algumas situações, tendo em vista o desaparecimento injustificado de alguma pessoa por vasto período de tempo, ou ainda, o conhecimento de que o indivíduo se encontrava no local onde ocorreu alguma catástrofe, donde houveram muitos óbitos, necessário se faz declarar a morte do indivíduo, para se poder administrar seus bens e dissolver alguns vínculos que ele possuía em vida.
Para se obter a declaração de óbito sem o cadáver do indivíduo, o ordenamento jurídico prevê duas possibilidades, a declaração de morte presumida, e a declaração de ausência. 
 
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O art. 8o do Código Civil reza que, "se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos".
O assunto é de vital importância, já que a pré-morte de um casal, por exemplo, tem implicações no direito sucessório. Se faleceu primeiro o marido, transmitiu a herança à mulher; se ambos não tivessem descendentes ou ascendentes e a mulher falecesse depois, transmitiria a herança a seus herdeiros colaterais. 
O oposto ocorreria se se provasse que a mulher faleceu primeiro. A situação prática pode ocorrer em catástrofes, acidentes ou mesmo em situações de coincidência, não precisa necessariamente que os dois estejam no mesmo local.
 
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Na dúvida sobre quem tenha falecido anteriormente, o Código presume o falecimento conjunto.
O principal efeito da morte simultânea é que, não tendo havido tempo ou oportunidade para a transferência de bens entre os comorientes, um não herda do outro. 
Assim, se em um acidente marido e mulher morrem juntos, um não herda do outro, e se não tiverem filhos, serão seus respectivos ascendentes que herdaram suas heranças. 
 
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Tal qual o momento do nascimento, o momento da morte é de vital importância. Vimos antes o aspecto que atine à declaração judicial de morte presumida. Hoje, defrontamo-nos com o problema científico do diagnóstico do momento exato do passamento. 
Modernamente, a morte será diagnosticada com a paralisação da atividade cerebral, circulatória e respiratória. 
Mas uma pergunta, inelutavelmente, deve ser feita pelo jurista: já não terá ocorrido a morte quando toda a atividade cerebral esteja paralisada, mantendo-se um simulacro de vida, inviável, mercê de um sem-número de aparelhos altamente sofisticados? A crônica de nossos jornais está repleta de exemplos nesse sentido.
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A resposta há de ser afirmativa. Quando a atividade cerebral se mostra irremediavelmente perdida, não se pode negar que exista morte. Pode o jurista considerá-la como tal? Ao que parece a pergunta ainda levará algum tempo para ser respondida, mas inclina-se pela afirmativa.
Em que pese a morte tudo findar, há incontáveis conseqüências jurídicas que dela decorrem: apenas como exemplo, podemos citar que, pelo art. 354, a legitimação dos filhos falecidos aproveita a seus descendentes no sistema do Código anterior; o art. 948 (antigo, art. 1.537) prevê a indenização em caso de homicídio, e o art. 951 (antigo, art. 1.545) manda que os médicos satisfaçam ao dano sempre que agirem com culpa.
Além de tudo, a honra dos mortos é protegida em prol dos vivos, seus parentes, em homenagem a sentimentos com relação às pessoas caras.
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Há que se distinguir a ausência decretada (o ser ausente, a pessoa juridicamente ausente) da simples ausência ( o estar ausente, a pessoa faticamente ausente). A primeira supõe, além do fato da ausência e da a falta de notícias, como decorre do art. 1.163 do CPC (“sem que se saiba do ausente”), a decretação da ausência, com a arrecadação de bens do ausente e a nomeação de curador que os administre. 
Mesmo nas leis, quando se fala em ausência, quase sempre é da segunda que se trata, ou seja, da ausência simples, decorrente do fato de não se encontrar a pessoa em seu domicílio.
Da decretação da ausência tratam os artigos 22 a 39 do Código Civil e 1.159 e seguintes do Código de Processo Civil.
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A morte pode ser declarada, por presunção, sem decretação de ausência: 
I – se for extremamente provável a de quem estava em perigo de vida; 
II – se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o termino da guerra. 
A declaração da morte presumida, nesses casos, somente pode ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo
a sentença fixar a data provável do falecimento (Código Civil, art. 7º, parágrafo único). 
A declaração de morte presumida autoriza o cônjuge a contrair novo casamento. 
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Distinguem-se três fases: a da curadoria dos bens do ausente, a da sucessão provisória e a da sucessão definitiva. A cada uma corresponde processo próprio. 
Na primeira fase, procede-se à arrecadação dos bens do ausente e se lhe nomeia curador. A sentença, que se profere, é constitutiva da curatela. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou três anos, havendo ele deixado representante ou procurador, podem os interessados requerer a abertura da sucessão provisória. 
Transitada em julgado a respectiva sentença, tem início a segunda fase. Procede-se à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens do ausente, como se falecido, imitindo-se os herdeiros em sua posse, mediante caução de os restituir, dela dispensados os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, provada a sua qualidade de herdeiros. 
Decorridos dez anos, ou cinco anos sem notícia de ausente octogenário, tem início a fase da sucessão definitiva, levantando-se as cauções prestadas. A sentença que se profere é constitutiva da sucessão definitiva.
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O Código Civil estabelece: “ Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador” (art. 22).
“Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes” (art. 23).Arrecadam-se os bens do ausente, providência que o juiz pode determinar de ofício. 
Procede-se à arrecadação da mesma forma que a da herança jacente (CPC, art. 1.160).É nomeado curador o cônjuge, desde que não separado judicialmente ou, de fato, por mais de 2 anos; em sua falta, o pai, a mãe ou os descendentes, precedendo os mais próximos os mais remotos (Cód. Civil, art. 25).
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A sentença deve ser registrada no Registro Civil de Pessoas Naturais (Lei 6.015/73, art. 29, VI), no cartório do domicílio anterior do ausente, produzindo os mesmos efeitos do registro de interdição (Lei cit., art. 94). 
Feita a arrecadação, publicam-se editais, reproduzidos de dois em dois meses, anunciando a arrecadação e chamando o ausente a entrar na posse de seus bens (CPC, art. 1.161). 
A curadoria cessa, por sentença averbada no livro de emancipação, interdições e ausência (Lei 6.015/73, art. 104): a) comparecendo o ausente, seu procurador ou quem o represente; b) sobrevindo certeza da morte do ausente; c) sendo aberta a sucessão provisória (CPC, art. 1.163).
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Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou três anos, havendo ele deixado representante ou procurador, podem requerer a abertura da sucessão provisória o cônjuge não separado judicialmente; os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte, como o nu-proprietário e o fideicomissário de bens de que o ausente seja, respectivamente, usufrutuário ou fiduciário; os credores de obrigações vencidas e não pagas. 
Requerida a abertura da sucessão provisória, citam-se pessoalmente os herdeiros presentes na comarca, bem como o curador e, por edital, os demais (CPC, art. 1.164). Também devem ser citados o cônjuge e o Ministério Público.A citação dos herdeiros faz-se para que ofereçam artigos de habilitação, isto é, para que comprovem sua qualidade de sucessores do ausente. A habilitação obedece ao processo do artigo 1.057 do Código de Processo Civil (CPC, art. 1.164).
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Passada em julgado a sentença que determinou a abertura da sucessão provisória, procede-se à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens. Não comparecendo herdeiro ou interessado que requeira o inventário, a herança será considerada jacente (CPC, art. 1.165 e parágrafo único).
Ainda que concluído antes o inventário, os bens somente são entregues ao herdeiro cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa a sentença que determinou a abertura da sucessão provisória. Esse o sentido do artigo 28, primeira parte, do Código Civil.A sentença deve ser averbada no Registro Civil, no assento de ausência, com referência especial ao testamento do ausente, se houver, e indicação de seus herdeiros habilitados (Lei 6.015/73, art. 104, parágrafo único).
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Cumpre aos herdeiros, imitidos na posse dos bens do ausente, prestar caução de os restituir (CPC, art. 1.166).  São, porém, dispensados de prestá-la os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua qualidade de herdeiros (Cód. Civil, art. 30, § 2º). 
Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarão representando ativa e passivamente o ausente, de modo que contra eles correrão as ações pendentes e as que de futuro àquele forem movidas (Cód. Civil, art. 34). Se durante a posse provisória se provar a época exata do falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa data, aberta a sucessão em favor dos herdeiros, que o eram àquele tempo (Cód. Civil, art. 35).
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A sucessão provisória cessa pelo comparecimento do ausente. 
Converte-se em definitiva: 
I – quando houver certeza da morte do ausente; 
II - a requerimento dos interessados, dez (10) anos depois de passada em julgado a sentença de abertura da sucessão provisória, com o levantamento das cauções prestadas; 
III – provando-se que o ausente conta 80 (oitenta) anos de nascido, e que de 5 (cinco) datam as últimas notícias suas (Cód. Civil, arts. 37-8; CPC, art. 1.167). Autorizada a abertura da sucessão definitiva, presume-se a morte do ausente (Cód. Civil, art. 6º). 
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A conversão não é desde logo tão definitiva quanto a denominação dá a entender.
Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo (Cód. Civil, art. 39, caput).
Depois de dez anos, esse direito se extingue, por decadência.

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