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Apostila de Recursos Cíveis Parte 1 Teoria Geral

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Apostila de Recursos Cíveis
Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
APOSTILA DE RECURSOS CÍVEIS
Parte 01 – Teoria Geral
Lúcio Flávio Siqueira de Paiva
SOBRE O AUTOR:
Lúcio Flávio Siqueira de Paiva é advogado, sócio do escritório GONÇALVES, MACEDO, PAIVA E RASSI. Mestre em Direito, Rel. Internacionais e Desenvolvimento pela PUC/GO, Especialista em Direito Empresarial pela FGV. Professor Efetivo de Direito Processual Civil da PUC/GO, da Escola da Magistratura do Estado de Goiás e do Axioma Jurídico.
Contato: 
www.gmpadvogados.com.br
lucioflavio@gmpadvogados.com.br
Escritório: Rua 99, n◦ 69, St. Oeste, Goiânia, Goiás – fone: 3252-10-12
TEORIA GERAL DOS RECURSOS CÍVEIS
1 – CONCEITO
	De acordo com o Professor José Carlos Barbosa Moreira, recurso “É o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de uma decisão que se impugna”. Às palavras do emérito processualista, acrescentaríamos, ainda, que o manejo do recurso também tem o condão de evitar a preclusão e / ou a formação da coisa julgada.
2- PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
2.1.- DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO
	Para o prof. Nelson Nery o princípio é garantia fundamental de boa justiça e, por isso, deve ter lugar de destaque em toda a ordem jurídica. Os ordenamentos modernos dos povos ocidentais têm adotado tal princípio em suas Constituições.
	No Brasil, discute-se se a Constituição Federal prevê, ou não, tal princípio. Aqueles que entendem que sim, o fazem com o argumento de que a CF/88, quando estabelece que os tribunais do país terão competência para julgar causas originariamente e em grau de recurso, está a prever o princípio do duplo grau de jurisdição.
	Parcela considerável da doutrina, entretanto, entende que a Constituição não prevê o duplo grau como princípio expresso. Assim, não seria inconstitucional uma norma legal que confine em um só grau jurisdicional o julgamento de uma causa ou que outorgue competência ao tribunal para julgar alguma outra, ainda não julgada pelo juiz inferior. Parece-nos que a segunda corrente é a mais adequada, inclusive à luz do próprio ordenamento legal, que sem a pecha da inconstitucionalidade, prevê o julgamento do mérito em única instância, por exemplo, nos casos do §3◦ do art. 515 do CPC.
2.2.- DA TAXATIVIDADE
	Do referido princípio decorre que, somente são recursos aqueles expressamente determinados, em numerus clausus, e regidos por lei federal (art. 22, I, CF). Tratando-se de matéria processual, somente a lei federal é que pode criar recursos. No CPC eles vêm previstos no art. 496, existindo outros previstos em lei federal, como por exemplo, os embargos infringentes, disciplinados pelo art. 34 da Lei 6.830/1980 – Lei de Execução Fiscal; do recurso inominado contra sentenças proferidas nos juizados especiais cíveis – Lei 9.099/1995, art. 41 – LJE-.
2.3.- DA SINGULARIDADE OU DA UNIRRECORRIBILIDADE OU DA UNICIDADE
	Segundo o qual, para cada ato judicial recorrível há um único recurso previsto pelo ordenamento, sendo vedada a interposição simultânea ou cumulativa de mais outro visando a impugnação do mesmo ato judicial. O CPC estipulou um determinado recurso para os atos decisórios do juiz. Apura-se a natureza do ato judicial a ser atacado, para saber-se qual o recurso adequado para aquele tipo de decisão judicial.
	Há, todavia, caso específico que representa exceção a esse princípio, qual seja, a interposição simultânea de RE e REsp contra acórdão duplamente fundamentado.
2.4.- DA FUNGIBILIDADE
	Regra geral, a interposição do recurso inadequado acarreta o seu não conhecimento, em virtude do seu não cabimento. Todavia, algumas situações podem ocorrer em que não se tenha bem certeza sobre qual o recurso adequado para atacar determinado pronunciamento judicial, ou ainda em que se é induzido em erro pela lei, pela doutrina ou por entendimento jurisprudencial. Assim, ocorrendo dúvida objetiva a respeito do recurso cabível e inexistindo erro grosseiro é de se aplicar o princípio da fungibilidade, permitindo-se o recurso inadequadamente interposto como se o correto houvesse sido interposto. Parte da doutrina e jurisprudência exige que o prazo em que foi interposto o recurso seja o correto para a interposição do recurso adequado.
2.5.- DA DIALETICIDADE
	O recurso deve ser discursivo, ou seja, o recorrente deverá declinar o porquê do pedido de reexame da decisão. A exposição dos motivos de fato e de direito que levaram o recorrente a interpor o recurso, bem como o pedido de nova decisão em sentido contrário ao decidido. São requisitos indispensáveis ao conhecimento do recurso.
2.6.- DA VOLUNTARIEDADE 
	A vontade da parte recorrer deve ser induvidosamente manifestada. Portanto, ocorrendo, por exemplo, algum fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer (v.g., renúncia ao direito de recorrer), faltaria a vontade inequívoca de recorrer.
2.7.- DA IRRECORRIBILIDADE EM SEPARADO DAS INTERLOCUTÓRIAS
	Segundo esse princípio, a interposição de um recurso contra uma decisão interlocutória não a carreta à paralisação do processo. O que define a questão é a locução em separado, que significa impugnação com a suspensão do processo. Todavia, em casos excepcionais, conforme autoriza o art. 558, do CPC, deve ser conferido efeito suspensivo ao recurso de agravo, o que configura temperança à esse princípio. 
2.8.- PRINCÍPIOS DA CONSUMAÇÃO E DA COMPLEMENTARIEDADE
	No regime recursal cível não se permite que a parte interponha o recurso e posteriormente apresente as razões que fundamentam o pedido de nova decisão, sob pena de ocorrer preclusão consumativa – princípio da consumação. Decorre desse princípio que o recorrente poderá complementar a fundamentação de seu recurso já interposto, se houver alteração ou integração da decisão, em virtude de acolhimento de embargos de declaração. 
2.9.- DA PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEJUS (ou da personalidade dos recursos)
	Objetiva evitar que o tribunal ad quem possa decidir de modo a piorar a situação do recorrente, ou porque extrapole o âmbito de devolutividade fixado com a interposição do recurso, ou, ainda, em virtude de não haver recurso da parte contrária. Trata-se de princípio diretamente ligado ao efeito devolutivo dos recursos, que será estudado adiante.
3 - CLASSIFICAÇÃO
3.1 - QUANTO AO FIM COLIMADO: 
a) de reforma: busca-se uma modificação na solução dada à lide, visando obter um pronunciamento mais favorável ao recorrente;
b)de invalidação: pretende-se apenas anular ou cassar a decisão, para que outra seja proferida em seu lugar;
c) de esclarecimento ou integração: busca-se afastar a falta de clareza ou imprecisão do julgado, ou suprir alguma omissão do julgador.
3.2 - QUANTO AO JUIZ QUE OS DECIDE:
a) devolutivos ou reiterativos: a questão é devolvida pelo juiz da causa a outro juiz ou tribunal ( juiz do recurso). Exemplos: apelação, Recurso Especial ou Extraordinário;
b) não devolutivos ou iterativos: a impugnação é julgada pelo mesmo juiz que proferiu a decisão recorrida. Exemplo: embargos de declaração;
c) mistos: o reexame cabe, em primeiro lugar, ao juízo a quo e, em um segundo momento, em caso de não exercício do juízo de retratação, passa ao juízo ad quem. Exemplo: Agravo.
3.3 - QUANTO À MARCHA A CAMINHO DA EXECUÇÃO: 
a) suspensivos: impedem o início da execução. Exemplo: apelação, como regra geral.
b) não suspensivos: os que permitem a execução provisória. Ex.: art. 497 do CPC (Recurso Extraordinário e Especial).
3.4 - QUANTO À EXTENSÃO DA MATÉRIA IMPUGNADA:
a) totais; e
 b) parciais: Cumpre lembrar que o art. 505 do CPC estabelece que “a sentença pode ser impugnada no todo ou em parte”. Na prática, a impugnação será total ou parcial de acordo com o “tamanho”da sucumbência experimentada pelo recorrente.
3.5.- QUANTO Á FUNDAMENTAÇÃO:
a) recursos de fundamentação simples: Qualquer que seja o vício ou defeito, será sempre cabível aquele recurso (p.ex., recurso de apelação).
b) recursos de fundamentação vinculada: A lei exige a presença de determinados tipos de vícios ou defeitos na decisão, para que o recurso seja cabível (p. ex., o recurso especial e extraordinário).
3.6.- QUANTO AO DIREITO TUTELADO:
a) recursos extraordinários ou excepcionais – tutelam o direito objetivo. Não buscam a correção da injustiça da decisão, mas, apenas, averiguar se a lei foi corretamente aplicada ao caso concreto. Por tal razão, não comportam a discussão da matéria fática ou probatória. Possuem um juízo de admissibilidade diferenciado e mais complexo que os demais (v.g., recurso extraordinário, recurso especial e os embargos de divergência previstos no art. 546 do CPC).
b) recursos ordinários – tutelam o direito subjetivo do recorrente, buscam a correção da injustiça da decisão. É permitida uma ampla revisão da matéria fática e probatória.
4 – FUNDAMENTOS
PSICOLÓGICO: reação natural do homem que não se sujeita a um único julgamento;
APRIMORAMENTO DO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL: possibilidade de exclusão de erros das decisões judiciais; bem como afastar a possibilidade de arbítrio das decisões a partir do controle do exercício da atividade jurisdicional de um órgão por outro.
5 - NATUREZA JURÍDICA
	Predomina o entendimento de que se trata de simples aspecto, elemento ou modalidade do próprio direito de ação exercido no processo. Apresenta-se o recurso como ônus processual.
6 – ATOS SUJEITOS A RECURSO.
	O art. 162 do CPC estabelece que são atos do juiz as sentenças (v. nova definição de sentença -Lei n. 11.232/2005, §1º, art. 162), as decisões e os despachos. As sentenças e as decisões são sempre recorríveis. Dos despachos não cabe recurso (art. 504, CPC, com nova redação dada pela Lei n. 11.276/2006). Importa notar que os despachos proferidos erradamente e que possam causar prejuízos, gravames ou ônus desafiam agravo (Teresa Arruda Alvim Wambier, O Novo Regime do Agravo, p. 68).
	Sobre o conceito de sentença, decisão interlocutória e despachos, confira-se o item seguinte.
6.1. – Os Atos do Juiz: Conceitos
	Dispõe o CPC em seu artigo 162:
Art. 162. Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos.
§1◦ Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei.
§2◦ Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente.
§3◦ São despachos todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma.
§4◦ Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e vista obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessário.
	A cabeça do artigo 162 do CPC conduz o intérprete menos atento a uma conclusão que encerra uma realidade incompleta acerca dos atos do juiz. Isto pois, a despeito de aparentemente completa, o artigo preocupou-se em elencar apenas um gênero de ato judicial: os chamados atos de provimento ou pronunciamento. Deixou, contudo, de fora outro gênero de atos, igualmente praticados pelo magistrado, qual seja, o gênero denominado atos reais.[1: Sobre a distinção exposta no texto, EGAZ MONIZ DE ARAGÃO, Comentários..., pág. 36. No mesmo sentido, ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, Lições ..., p. 248.]
	São atos de provimento aqueles em que o juiz se manifesta no processo e, assim como dispõe o artigo 162, de fato são três: despachos, decisões interlocutórias e sentenças.
	Por sua vez, são atos reais aqueles que se manifestam materialmente e não em forma de pronunciamentos, tais como oitiva das partes e inquirição de testemunhas, inspeção judicial etc. Tais atos, a despeito de fugirem da divisão tripartida do artigo 162, são atos praticados pelo juiz.
	Dito isso, é pertinente aprofundar na análise do dispositivo, que carrega as definições dos três atos judiciais ali expostos. O estudo dessas definições legais é importante, principalmente, por força dos reflexos diretos que causa na grade recursal, uma vez que por força dos princípios da congruência e da unirrecorribilidade, para cada tipo de ato judicial será cabível uma única espécie de recurso – como o tradicional binômio sentença/apelação, decisão interlocutória/agravo.
	Assim é que, logo no parágrafo primeiro, encontra-se a definição de sentença: “sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos art. 267 e 269 desta Lei”.
	O dispositivo, pois que objeto de recente alteração legislativa, merece extremos cuidados em sua análise.
	Até a reforma instaurada no CPC por força da lei 11.232/05, considerava-se que a sentença tinha a força de extinguir o processo, tal como dispunha a tradicional redação do art.162, § 1o. Contudo, mesmo antes da reforma citada, a doutrina já pontuava que, na verdade, a relação processual nunca se encerra com a simples prolação de uma sentença, porquanto, com a sentença, ocorreria a mera apresentação da tutela jurisdicional por aquele órgão jurisdicional, perante o qual fluía o processo, sem necessariamente encerrá-lo. Já se alertava, à época, que a interposição de recurso, por exemplo, impedia a extinção do processo, pois que promovia o alongamento do procedimento e do estado de litispendência.
	Com a edição da lei 11.232/05, que veio regular o novo procedimento da execução por quantia certa dos títulos judiciais, denominado pelo legislador de Cumprimento de Sentença, a clássica definição desse ato judicial foi modificada, agora para atender ao novo modelo sincrético de processo, em que a sentença serve para encerrar a fase cognitiva do procedimento e dar início à fase subseqüente, qual seja, a execução, tudo isso no mesmo processo.[2: Por sincretismo processual se pode entender a mistura, em uma única base procedimental, de técnicas cognitivas e executivas (e até cautelares!), o que não era admitido no modelo autonomista assumido inicialmente pelo CPC.]
	O objetivo do legislador foi claro: a sentença, pelo menos a seguir-se a letra fria da lei, não mais tem o efeito de encerrar o processo.
	A modificação, contudo, aparentemente pontual, deve ser interpretada com cuidado, sob pena de causar verdadeiro efeito borboleta e bagunçar a grade recursal brasileira, pois que a atual redação exacerba de tal modo a aproximação dos conceitos de sentença e decisão interlocutória, que no caso concreto pode se tornar tormentosa a escolha entre o agravo e apelação para desafiar determinadas decisões judiciais.[3: Efeito borboleta é um termo que se refere às condições iniciais dentro da teoria do caos. Este efeito foi analisado pela primeira vez em 1963 por Edward Lorenz. Segundo a teoria apresentada, o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo]
	NELSON NERY JUNIOR captou essa perigosa sutileza e, com maestria, ensina: “Antes da Lei 11.232, de 22.12.2005, que alterou inúmeros artigos do CPC, a pedra de toque estabelecida pelo CPC para classificar os pronunciamentos do juiz de primeiro grau era somente a finalidade do ato, seu objetivo, seu sentido teleológico, sua conseqüência. Se a finalidade do ato fosse extinguir o processo, seria sentença; se seu objetivo fosse decidir, no curso do processo, sem extingui-lo, questão incidente, seria decisão interlocutória; se sua finalidade fosse a de apenas dar andamento ao processo, sem nada decidir, seria despacho.(...) Com o advento da Lei 11.232/05 (...) houve modificação de rótulo, mas não de essência, pois referida lei manteve inalterado o conceito de decisão interlocutória (...). Da mesma forma, o sistema mantém vivo o instituto da extinção do processo (CPC, 475-M, §3◦). .Essas são as razões pelas quais não se pode definir sentença apenas pelo que estabelece o CPC, 162, § 1◦, literal e isoladamente, mas sim levando-se em conta o sistema do CPC, isto é, considerando-se também o CPC 162 §§ 2◦ e 3◦, 267caput, 269 caput, 475-H,475-M, §3◦, 504 (alterado pela L 11276/06), 513 e 522. O pronunciamento do juiz só será sentença se a) contiver uma das matérias previstas no CPC 267 ou 269 (CPC 162, §1◦) e, cumulativamente b) extinguir o processo ((CPC 162,§2◦, a contrario sensu), por que se o pronunciamento for proferido no curso do processo”, isto é, sem que se lhe coloque termo, deverá ser definido como decisão interlcoutória, impugnável por agravo (CPC 522), sob pena de instaurar-se o caos em matéria de recorribilidade desse mesmo pronunciamento”.[4: NERY & NERY, Código de Processo Civil Comentado ..., pág. 372.]
	Em resumo, pode-se afirmar que, nada obstante ter a lei suprimido a antiga idéia de sentença como ato que extingue o processo, esse efeito prossegue – pelo menos quanto à extinção da fase ou módulo cognitivo - sendo relevante para que se possa qualificar um ato como sentença. Poder-se-ia dizer, finalmente, que se antes da lei 11.232/05 o critério para definir a sentença era apenas finalístico (colocar termo ao processo), passou agora o CPC a adotar um critério misto, adicionando também uma questão de conteúdo: implicar em uma das situações previstas nos arts. 267 e 269.
	Noutro giro, o parágrafo segundo do mesmo artigo define: “decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente”. O conceito exposto aproxima sentenças e interlocutórias em um aspecto: ambos veiculam conteúdo decisório. A diferença básica, já apontada antes, é enquanto essa – a decisão interlocutória – resolve questão no curso do processo, aquela – a sentença – decide questão encerrando a fase processual cognitiva e veiculando matéria ou do art. 267, ou do art. 269 do CPC.
	O critério discriminante de sentenças e decisões interlocutórias, antes exposto, ajuda a solucionar casos tormentosos no dia-a-dia do foro e permite afirmar que são autênticas decisões interlocutórias (portanto passíveis de agravo), apesar de veicularem matérias elencadas nos arts. 267 e 269: a) decisão que exclui um dos litisconsortes do processo, por ilegitimidade; b) indeferimento liminar de reconvenção; c) indeferimento liminar de ação declaratória incidental; d) indeferimento liminar de oposição, denunciação à lide e chamamento ao processo; e) indeferimento parcial da petição inicial quando, em havendo pedidos cumulados, se reconhece que sobre um ou mais deles ocorreu a decadência ou a prescrição.
	A seu turno, o §3◦ define despacho: “são despachos todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabeleça outra forma”. 
	Nada obstante opinião doutrinária em contrário, despacho é todo ato ordinatório do juiz, destinado a dar impulso ao processo sem, contudo, decidir o que quer que seja. Nesse diapasão, ante a inexistência de conteúdo decisório, os despachos são, por natureza, irrecorríveis, porquanto impassíveis de gerar lesão a interesse de quem quer que seja. Se o despacho causa gravame, uma única conclusão há: não se trata de simples despacho, mas sim de autêntica decisão interlocutória.[5: MONIZ DE ARAGÃO, Comentários..., pag. 45 e seguintes.]
	Finalmente, o § 4◦ do mesmo artigo 162 regula os chamados atos meramente ordinatórios. São atos tendentes a movimentar o processo e, dada a sua simplicidade, dispensam o acompanhamento mais próximo do magistrado, que conserva, porém, o dever de revisá-los quando necessário. É dispositivo elogiável pois evita constantes e desnecessárias conclusões, imprimindo ao feito a necessária celeridade de tramitação.
7 - DISTINÇÃO ENTRE ERROR IN JUDICANDO e ERROR IN PROCEDENDO
	O vício de atividade (errores in procedendo) ocorre quando o juiz desrespeita norma de procedimento provocando gravame à parte. Segundo Liebman, ele ocorre quando não existir observância (ou mesmo descumprimento) às normas que regulamentam a forma e a modalidade do ofício prestado pelo juiz. O vício é de natureza formal (e não de conteúdo). Desde que o erro seja de molde a comprometer a forma ou o conteúdo dos atos do processo, deverá ser invalidado.
Já os errores in judicando ou erros de juízo, consistem na errônea valoração feita pelo magistrado, de modo que ou avaliou mal o fato ou aplicou erroneamente o direito. O vício é de natureza substancial, de conteúdo, de fundo, o que provoca a injustiça da decisão. Vale destacar, todavia, que a despeito do afirmado, nem todo error in judicando decorrerá da aplicação do direito material, havendo casos em que esse se configura em razão da aplicação do direito processual. Exemplo claro é quando o juiz, ao analisar as condições da ação, tem por ilegítima parte que, na verdade, é legítima; essa má aplicação do regime das condições da ação, a despeito de resultar de aplicação do direito processual ao caso, será típico error in judiciando.
	Ocorrendo o error in procedendo o recorrente deverá pleitear a anulação da decisão, já diante de error in judicando deverá pleitear a sua reforma.
8- DISTINÇÃO ENTRE JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E JUÍZO DE MÉRITO 
	Está sujeito o recurso a um duplo exame. Primeiro verifica-se se estão presentes as condições impostas pela lei processual civil, para que o órgão julgador possa examinar o mérito do recurso. Após passa-se a examinar o fundamento da impugnação, para acolhe-la ou rejeita-la. A doutrina denomina o exame desses requisitos de admissibilidade de juízo de admissibilidade, já o exame do recurso pelo seu fundamento, denomina-se juízo de mérito. Na linguagem forense se utilizam às expressões “conhecer” ou “não conhecer” do recurso, que significam o juízo de admissibilidade, e “dar provimento” ou “negar provimento”, significando o juízo de mérito do recurso.
	O juízo de admissibilidade dos recursos no direito brasileiro, em regra, é exercido em 02 (duas) fases: A primeira é exercida pelo juízo que proferiu a decisão recorrida e a segunda pelo órgão ad quem quando do julgamento efetivo do recurso (exceção - o recurso de agravo de instrumento, que é interposto diretamente perante o órgão com competência para julga-lo). O órgão ad quem não fica vinculado ao resultado do julgamento dos requisitos exercidos pelo juízo a quo.
	O juízo de mérito é feito, regra geral, pelo juízo ad quem. Todavia, em alguns casos o juízo a quo pode apreciar o mérito recursal. Ex. a apelação na hipóteses de indeferimento da inicial, art. 296, CPC. A Lei n. 11.277/2006, acrescentou o art. 285-A que dispõe: "Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada". O seu §1º permitiu que: "Se o autor apelar, é facultado ao juiz decidir, no prazo de 5 (cinco) dias, não manter a sentença e determinar o prosseguimento da ação". Caso entenda em manter a sentença, deverá ordenar a citação do réu para responder o recurso (§2º).
9 - REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS
	Constituem objeto do juízo de admissibilidade os pressupostos de admissibilidade dos recursos ou aqueles requisitos necessários para o conhecimento do mérito dos recursos, que são os seguintes: o cabimento, a legitimação para recorrer, a tempestividade, o preparo, a regularidade formal e a inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer.
	A doutrina brasileira tem utilizado basicamente 02 (dois) critérios para a classificação desses requisitos. Uma corrente iniciada por Seabra Fagundes faz a divisão em requisitos subjetivos e requisitos objetivos. Estes dizem respeito ao próprio recurso, em si mesmo considerado; enquanto aqueles, à pessoa do recorrente. Assim, os requisitos subjetivos são a legitimidade e o interesse em recorrer e os objetivos são a adequação, tempestividade, preparo e motivação. 
Outro critério para classificação foi desenvolvido por Barbosa Moreira e que divide os requisitos de admissibilidade em requisitos intrínsecos e extrínsecos. Os intrínsecos são aqueles concernentesà própria existência do poder de recorrer (são eles: o cabimento, a legitimação para recorrer e o interesse em recorrer) e os extrínsecos são aqueles relativos ao modo de exercê-lo (são eles: a tempestividade, a regularidade formal, a inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer e o preparo).
9.1.- REQUISITOS INTRÍNSECOS
a) Cabimento do recurso – É composto por 02 (dois) fatores: a recorribilidade e a adequação. Daí que, a decisão que se pretende impugnar deve ser passível de ser atacada em tese por algum recurso (recorribilidade) e o recurso interposto para aquela decisão, que em tese é recorrível, deve ser o recurso certo, adequado e próprio (adequação).
b) Legitimidade para recorrer – Nos termos do art. 499, do CPC, podem interpor recurso as partes do processo, o Ministério Público e o terceiro prejudicado pela decisão impugnada.
c) Interesse em recorrer – Consiste no binômio: necessidade + utilidade. Deve o recorrente ter necessidade de interpor o recurso, como único meio para obter, naquele processo, o que pretende contra a decisão impugnada. Já à utilidade está ligada ao conceito de sucumbência, tanto que o CPC fala em parte vencida. Diz o prof. Nelson Nery, que há sucumbência quando o conteúdo da parte dispositiva da decisão judicial diverge do que foi requerido pela parte no processo; ou, quando a decisão judicial coloca a parte ou terceiro em situação jurídica pior daquela que tinha antes do processo; ou, ainda, quando a parte não obteve no processo tudo aquilo que poderia ter obtido.
9.2.- REQUISITOS EXTRÍNSECOS
a) Tempestividade - O recurso há de ser interposto no prazo legal, sob pena de se operar a preclusão e, via de conseqüência, a coisa julgada. Esgotado o prazo, não se conhece do recurso. O termo a quo do prazo para a interposição do recurso é previsto no art. 506 do CPC, sendo, pois, tal prazo contado: I – da leitura da sentença na audiência; II – da intimação às partes, quando a sentença não for proferida em audiência; III – da publicação do dispositivo do acórdão no órgão oficial (nova redação dada pela Lei n. 11.276/2006). 
 b) Regularidade formal – O código traz regras específicas quanto a alguns recursos, mas, de um modo geral, se exige a interposição por meio de petição, na qual devem constar as partes, os fundamentos de fato e de direito e o pedido. A forma da apelação vem descrita no art. 514, CPC; a do agravo de instrumento no art. 523, CPC; a dos embargos infringentes no art. 536, CPC; para os recursos especiais e extraordinários, art. 541, CPC. No direito processual civil brasileiro se exige a forma escrita para a maioria dos recursos, à exceção do agravo retido que pode ser interposto oralmente em audiência. A inexistência das razões ou do pedido de nova decisão acarreta juízo de admissibilidade negativa: o recurso não é conhecido. Também não se admite a apresentação das razões posteriormente á interposição do recurso, já que terá se operado a preclusão consumativa.
c) Preparo – Consiste no pagamento prévio, que deve ser feito pelo recorrente, das custas relativas ao processamento do recurso. A matéria é regulada nos termos do art. 511, CPC. Instituiu-se, como regra geral, a do preparo imediato. Daí que deve o recorrente comprovar, no ato da interposição do recurso, o pagamento do preparo e do porte de retorno. No §1º, art. 511, CPC, foram dispensados do preparo o Ministério Público, a União, os Estados e Municípios, bem como suas respectivas autarquias e os que gozam de isenção legal (v.g., o beneficiário da assistência judiciária, arts. 3º, II, e 9º, lei 1.060/1050). O §2º, art. 511, CPC, permite que o recorrente complemente o preparo feito “a menor” dentro de 05 (cinco) dias a contar da intimação para esse fim específico. 
Existe a possibilidade do juiz relevar a pena de deserção quando existir justo impedimento (art. 519, CPC). O apelante deve comprovar o justo impedimento, sendo que sobre isto deve haver decisão expressa do juiz. Esta decisão é irrecorrível, cabendo ao tribunal apreciar-lhe a legitimidade (parágrafo único, art. 519, CPC).
d) Inexistência de fatos impeditivos ou extintivos do poder de recorrer – Para parcela considerável da doutrina esse seria um requisito de admissibilidade intrínseco (Luiz Guilherme Marinoni e Flávio Cheim), todavia, como esses fatos não dizem respeito à decisão que se pretende impugnar, adota-se a classificação proposta pelo prof. Nelson Nery Júnior. Consistem nas atitudes tomadas pelo recorrente que impedem que o seu recurso seja admitido. São eles renúncia ao recurso, aquiescência à decisão; desistência do recurso ou da ação, reconhecimento jurídico do pedido, a renúncia ao direito sobre o qual se funda a ação.
A desistência ocorre quando, após a interposição do recurso, a parte manifesta a vontade de que o mesmo não seja julgado. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso (art. 501, CPC).
	A renúncia, por sua vez, ocorre quando a parte vencida abre mão previamente do seu direito de recorrer (Barbosa Moreira). A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte (art. 502).
10 – ACEITAÇÃO EXPRESA OU TÁCITA DA SENTENÇA.
	O art. 503 diz que a parte, que aceitar expressa ou tacitamente a sentença ou a decisão, não poderá recorrer. A aceitação é expressa quando a parte, por escrito, ou mesmo oralmente em audiência, manifeste ao juiz a vontade de não recorrer, aceitando o teor da decisão. Já a tácita é um ato incompatível com a vontade de recorrer, ocorrendo o que se denomina de preclusão lógica. Assim, por exemplo, se a parte cumpre o julgado e postula a extinção do processo, não há mais interesse processual no recurso.
1l - EFEITOS DOS RECURSOS
	A interposição de um recurso em um determinado processo faz com que o mesmo sofra diversos efeitos jurídicos. É corrente a afirmação de que os recursos são dotados de 03 (três) efeitos: o obstativo, o devolutivo e o suspensivo.
1l.1.- Impedir ou retardar preclusões – Ao recorrer a parte evita que o pronunciamento judicial recorrido adquira desde logo firmeza e imuninade a questionamentos futuros, ou seja, os recursos têm o efeito de adiar ou retardar a preclusão.
1l.2.- Alongamento da litispendência – Quando o ato recorrido é uma sentença, que ordinariamente poria fim ao processo, a interposição do recurso de apelação tem o efeito de mantê-lo “vivo”.
11.3.- Abertura do procedimento recursal – Após a interposição do recurso, inicia-se, no mesmo processo, um novo procedimento, dito procedimento recursal.
11.4.- Efeito devolutivo – Devolver significa transferir. Quando um recurso é interposto, o julgamento da causa ou de uma demanda incidente é devolvido ao órgão superior, ou transferido a ele o poder de re-julgar a matéria impugnada. O efeito devolutivo é o que atribui ao exame do tribunal ad quem o exame da matéria que havia inicialmente sido analisada pelo órgão a quo. 
Dimensões da devolução – Todo recurso é limitado por uma dimensão horizontal (ou extensão), estabelecida pela matéria em relação à qual nova decisão é pedida (abrange a matéria impugnada - tantum devolutum quantum appellatum - art. 515, caput, CPC); por uma dimensão vertical (ou profundidade), representada pelo conjunto de questões suscetíveis de serem apreciadas (todas as questões relacionadas com o fundamento do pedido e da defesa – fundamento do recurso); e por uma dimensão subjetiva, representativa dos sujeitos a serem possivelmente beneficiados ou prejudicados pelo novo julgamento. O art. 515, CPC, apesar de situado no capítulo da apelação, é regra de aplicação geral.
a) Dimensão horizontal (extensão) – Leciona José Miguel Medina que “À situação exposta a doutrina dá o nome de extensão do efeito devolutivo (CPC, art. 515, caput): o conhecimento da matéria será delimitado pelo recorrente, que poderá impugnar a decisão recorrida total ou parcialmente. Sob esse prisma, através do recurso se determinará a matéria compreendida na decisão recorrida e que poderá ser conhecidapelo juízo ad quem”. Assim, exemplificando, se peço uma reintegração de posse cumulada com perdas e danos e o juiz me nega ambas, posso apelar em relação aos 02 (dois) pedidos, ou seja, ao capítulo que julgou improcedente o pedido de reintegração e ao que julgou improcedente o pedido de indenização, mas também posso apelar somente quanto a um deles. Nesse caso, a apelação é parcial só devolvendo ao órgão ad quem aquele capítulo da sentença objeto da apelação, não lhe sendo lícito apreciar o outro pedido negado pela decisão a quo, mas que não foi objeto de impugnação. Pode-se afirmar que, com a ressalva do § 3º, do art. 515, os recursos ordinários não devolvem ao órgão ad quem o conhecimento de matéria estranha ao âmbito de julgamento do juízo a quo. A extensão da matéria impugnada não pode ser maior do que a da decisão recorrida e do que o inconformismo do recorrente.
 Previsão contida no § 3º, do art. 515, CPC – Tradicionalmente, a ordem processual limita a devolução possível na apelação interposta contra sentenças terminativas, impedindo que o tribunal ad quem, ao lhe dar provimento, julgue o mérito da causa. Assim, ao reformar uma sentença terminativa, deve determinar o retorno dos autos à primeira instância para que o juiz profira o seu julgamento. A jurisprudência do STJ indicava uma exceção que era quando a sentença, apesar de concluir pela carência do direito à ação ou pela intempestividade dos embargos de devedor, efetivamente apreciar o mérito da demanda, ocasião em que o tribunal poderia apreciar o mérito da causa.
Entretanto, tal sistemática foi sensivelmente alterada pelo parágrafo introduzido pela Lei 10.352/2001 ao artigo em estudo. Reza tal parágrafo: § 3º. Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento”. Trata-se de instituto que tem recebido o nome de julgamento per saltum da apelação.
A maioria da doutrina pátria entende ser constitucional o dispositivo em tela. Quanto a ser necessário o pedido do apelante para que o tribunal utilize o § 3º, as opiniões doutrinárias se divergem. Para Arruda Alvim, Gleydson Kleber, Estevão Mallet e Bedaque, o julgamento imediato do mérito, em caso de reforma de sentença terminativa, não depende de requerimento do recorrente, sendo a vontade do litigante irrelevante, já que o que importa é a necessidade ou não de realização de provas. 
A adoção dessa tese pode conduzir, inclusive, à reformatio in peius. Eis o que pode acontecer: 1) o tribunal aprecia somente a questão processual; 2) ou, pode o tribunal julgar o mérito da causa favoravelmente ao recorrente; 3) ou, ainda, pode o tribunal julgar improcedente o pedido, ou seja, desfavoravelmente ao recorrente, hipótese em que ocorre uma reforma para pior.
Por isso, Cruz e Tucci entende que deve haver pedido pelo apelante, no afã de salvaguardar o direito das partes, mormente do litigante que vier a sucumbir. Humberto Theodoro Júnior crê na necessidade do pedido do apelante “...o julgamento de mérito, no entanto, deverá ser pleiteado pelo recorrente, para que se torne objeto da devolução operada pela apelação ao tribunal ad quem. O tema pertence à extensão da devolução e não à sua profundidade”. Para Flávio Cheim o pedido é requisito intransponível para aplicação do dispositivo, sob pena de violação ao art. 2º do CPC.
Exige-se, para sua concessão, que a questão seja de direito e que a causa esteja em condições de imediato julgamento, ou seja, que a causa esteja madura. Entretanto, a despeito da disposição legal, não só quando a questão seja só de direito se mostra possível a aplicação do julgamento per saltum, mas também quando, a despeito de trazer questão de fato e direito – o que é o mais comum – a questão fática estar sobejamente provada nos autos, o que acontece, por exemplo, quando a matéria fática é comprovada por prova documental. Por isso mesmo, parte considerável da doutrina vem entendendo que o dispositivo legal enfocado deve ser estudado à luz do art. 330, inc. I, do CPC, ou seja, a matéria pode ser de direito e de fato, desde que não haja necessidade de maior dilação probatória (oral ou pericial). Nesse sentido: Arruda Alvim, Gleydson Kleber, Dinamarco. Também quando os fatos da causa são incontroversos, isto é, aceitos por ambas as partes, que litigam somente com relação à tese jurídica a ser aplicada pelo juiz, pode-se falar em questão exclusivamente de direito (cf. esclarece Eduardo Cambi). Para Estevão Mallet, melhor seria se o legislador houvesse deixado claro que o imediato julgamento do mérito depende apenas da inexistência de qualquer obstáculo, seja por não ter havido controvérsia sobre os fatos no juízo recorrido, seja por já haverem sido produzidas todas as provas necessárias ao deslinde da controvérsia.
Quanto à prescrição e decadência, apesar de serem, tecnicamente, questões prévias da espécie prejudicial, foram consideradas pela legislação matérias de mérito. Por isso, o entendimento majoritário na doutrina é o de que, afastado o reconhecimento de prescrição ou de decadência em sede de apelação, o tribunal pode apreciar imediatamente o mérito da causa, desde que haja condições para o respectivo julgamento (cf. Ada Pellegrini Grinover, Eduardo Arruda Alvim; Gleydson Kleber Lopes de Oliveira, Nelson Nery e Rosa Andrade Nery).
O STJ vem se manifestando, através de suas Turmas, no sentido de: A 3ª Turma entende que se o tribunal rejeitar a alegação de prescrição, deve prosseguir no exame da causa. Já a 1ª Turma tem entendido que se o tribunal afastar a prescrição acolhida na sentença não deve antecipar o julgamento da ac ao, em homenagem ao princípio do duplo grau de jurisdição, como também pelo limite de que se deve apreciar somente a matéria impugnada. No mesmo sentido vem decidindo a 2ª Turma. A 4ª Turma já decidiu não poder continuar na análise do mérito da controvérsia, argumentando que a causa pode não estar devidamente debatida e instruída e que, portanto, deve retornar ao primeiro grau de jurisdição. Mas, também que, se o juízo de primeiro grau acolhe a argüição de prescrição após concluída a instrução do processo, pode o Tribunal, estando a lide em condições de ser apreciada, afastar a prescrição e prosseguir no exame dos demais pontos postos em debate, julgado procedente ou improcedente a ação. Já a 6ª Turma decidiu que afastada a alegação de prescrição acolhida na sentença, o Tribunal deverá prosseguir no exame da causa. 
Recentemente, através de sua Corte Especial, o STJ, ao julgar os embargos de divergência no Recurso Especial 89240/RJ, decidiu que “PROCESSO CIVIL. PRESCRIÇÃO AFASTADA NO 2º GRAU. EXAME DAS DEMAIS QUESTÕES NO MESMO JULGAMENTO. POSSIBILIDADE, DESDE SUFICIENTEMENTE DEBATIDA E INSTRUÍDA A CAUSA. DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL. EXEGESE DO ART. 515, CAPUT, CPC. PRECEDENTES DO TRIBUNAL E DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. LEI N. 10.352/2001. INTRODUÇÃO DO §3º DO ART. 515. EMBARGOS REJEITADOS. I – Reformando o tribunal a sentença que acolhera a preliminar de prescrição, não pode o mesmo ingressar no mérito propriamente dito, salvo quando suficientemente debatida e instruída a causa. II – Nesse caso, encontrando-se ‘madura’ a causa, é permitido ao órgão ad quem adentrar o mérito da controvérsia, julgando as demais questões, ainda que não apreciadas diretamente em primeiro grau. III – Nos termos do §3º do art. 515, CPC, introduzido pela Lei n. 10.352/2001, ‘o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento’” (EREsp 89240/RJ, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ. 10.03.2002, p. 76).
Como bem observado por Humberto Theodoro Júnior, após a Lei 10.352/2001, se até no caso de decisão terminativa, o julgamento da apelação pode avançar sobre o mérito ainda não julgado no juízo de origem, com muito mais razão será possível faze-lo diante da reforma de sentença baseadas em prejudicial de prescriçãoe decadência, que já pertencem ao mérito da demanda.
Caso interessante que envolve a aplicação do julgamento per saltum foi analisado pelo STJ, no julgamento do Recurso Ordinário em Mandado de Segurança n◦ 27.368-PE. Tratava-se de mandado de segurança impetrado contra ato de juiz de direito que fora extinto sem resolução de mérito pelo juízo a quo, no caso, o Tribunal de Justiça (pois que se tratava de MS contra ato de juiz). Nessa hipótese entendeu o STJ que, a despeito de o MS estar devidamente instruído e, portanto, amoldar-se a hipótese ao §3◦ do art. 515 do CPC, não poderia o Superior Tribunal de Justiça julgar desde logo o mérito da causa, sob pena de usurpar competência privativa do tribunal a quo, que no caso seria apreciar o ato apontado como coator praticado pelo juiz de direito. Confira-se o julgado, trazido no Informativo STJ n◦ 387, de 16 a 20 de março de 2009.
RMS. ART. 515, § 3º, CPC. 
Trata-se de mandado de segurança impetrado pelo Estado-membro que se sentiu atingido pela sentença que isentou de IPVA a instituição financeira, em ação de busca e apreensão na qual o credor fiduciário pleiteia a recuperação de veículo alienado a devedor fiduciante, pois deixou de pagar as prestações de operação de compra e venda com alienação fiduciária em garantia. A Turma entendeu que, não intimado do acórdão, não se poderia exigir do Estado o conhecimento da referida ação e, consequentemente, a interposição de recurso contra a sentença. Logo, aplica-se o Súm. n. 202 do STJ. Entendeu, ainda, que, quanto ao mandado de segurança devidamente instruído e extinto sem julgamento de mérito, não pode este Superior Tribunal, após afastar a extinção, continuar a julgar a causa e apreciar o mérito da ação mandamental, pois, se assim o fizesse, atrairia para si a competência do Tribunal estadual, uma vez que compete a ele processar e julgar o mandado de segurança contra ato tido por ilegal do juiz de primeiro grau. Assim, não se aplica o art. 515, § 3º, do CPC ao recurso ordinário em mandado de segurança, pois se trata de competência constitucional. Precedente citado do STF: EDcl no RMS 24.309-DF, DJ 30/4/2004. RMS 27.368-PE, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 17/3/2009.
	Há, ainda, outro caso interessante envolvendo o julgamento per saltum do mérito, igualmente extraído da recente jurisprudência do STJ. Esse tribunal, por sua Terceira Turma, em REsp de relatoria da Min. Nancy Andrighi, entendeu ser cabível o recurso de Embargos Infringentes contra acórdão não unânime que reforme sentença terminativa e adentre o mérito da própria lide discutida, ou seja, o STJ passou a admitir o manejo de Embargos Infringentes contra acórdão não unânime que resulte da aplicação do §3◦ do artigo 515, ora em comento. Esse entendimento restou exposto no Informativo 326 do STJ, do período de 1◦ a 10 de agosto de 2007. Confira-se:
EMBARGOS INFRINGENTES. APELAÇÃO. REFORMA. SENTENÇA. 
Cinge-se a controvérsia em saber se cabem embargos infringentes contra acórdão do Tribunal a quo que, por maioria, reformou sentença extintiva da ação por ilegitimidade da parte e adentrou o julgamento de mérito. Explicou a Min. Relatora que a atual redação do art. 530 do CPC, dada pela Lei n. 10.352/2001, passou a fazer referência expressa à reforma de “sentença de mérito” e uma análise isolada indicaria a intenção do legislador de excluir do rol de acórdãos suscetíveis de embargos infringentes aqueles decorrentes de apelações contra sentenças terminativas. Aduziu, ainda, nesse sentido, que, a teor do que estabelece o art. 268 do CPC, o trânsito em julgado de uma sentença terminativa não impede a parte de retornar a juízo com igual pretensão, assim não haveria violação do direito de acesso à Justiça ou negativa de prestação jurisdicional. Ressaltou a Min. Relatora, entretanto, que nem sempre é meramente terminativo o acórdão que julga apelação contra sentença terminativa, pois nos termos do § 3º do art. 515 do CPC, redação dada também pela citada lei, é possível o tribunal decidir apelação na sentença de extinção de processo sem julgamento do mérito (art. 267 do CPC), sentença terminativa, adentrar na análise do mérito e, por via de conseqüência, produzir coisa julgada material, impedindo a parte de retornar em juízo com a mesma pretensão. Nessa circunstância, restaria prejudicado o critério de dupla sucumbência adotado pelo próprio art. 530 do CPC, conforme previsto na exposição de motivos da referida lei. Ainda por esse critério, a parte vencida por julgamento não-unânime em apelação não terá direito aos embargos infringentes se houver sido vencida duas vezes (na sentença e na apelação). Por isso, para a Min. Relatora, em respeito ao devido processo legal, o art. 530 deve ser interpretado harmoniosa e sistematicamente com o restante do CPC, em especial como o §º 3º do art. 515, inclusive para fazer valer a vontade do próprio legislador, o qual, na justificativa do projeto da referida lei, afirmou ser conveniente manter os embargos infringentes quando “a divergência tenha surgido em matéria de mérito, não simplesmente em tema processual”. Sendo assim, concluiu a Min. Relatora que há de se admitir os embargos infringentes opostos contra acórdão que, por maioria, reforma sentença terminativa e adentra a análise do mérito da ação. Outrossim, a natureza da sentença, se processual ou de mérito, é definida por seu conteúdo, seja na fundamentação ou na parte dispositiva, e não pela mera qualificação ou nomen juris atribuído ao julgado. Afirmou, ainda, que se aplica à hipótese a teoria da asserção segundo a qual, se o juiz realizar cognição profunda sobre as alegações contidas na petição, após esgotados os meios probatórios, terá, na verdade, proferido juizo sobre o mérito da questão. Com esse entendimento, a Turma determinou o retorno dos autos ao Tribunal de origem a fim de que se proceda ao julgamento do mérito dos embargos infringentes. REsp 832.370-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 2/8/2007.
§4º do art. 515, incluindo pela Lei n. 11.276/2006 - Foi estabelecido que: "Constatando a ocorrência de nulidade sanável, o tribunal poderá determinar a realização ou renovação do ato processual, intimadas as partes; cumprida a diligência, sempre que possível prosseguirá o julgamento da apelação.
Para Cássio Scarpinella Bueno, não há propriamente uma faculdade do julgador, mas um dever. Constatada a existência de nulidade sanável, o julgador deverá criar condições para aquele defeito seja eliminado. Lembram Luiz Wambier, Teresa Wambier e José Medina, que o prosseguimento do processamento da apelação, somente será possível nos casos em que a nulidade processual reconhecida não implicar a anulação de outros atos processuais, que devam ser repetidos ou retificados perante o juízo de primeiro grau.
b) Dimensão vertical (profundidade) – Delimitada a matéria a ser julgada avalia-se em seguida o material que poderá ser utilizado pelo tribunal ad quem no julgamento do recurso. A profundidade do efeito devolutivo, especificamente dos recursos ordinários, é regulamentada pelos §§ 1º e 2º do art. 515, CPC. Ambos os dispositivos permitem que o Tribunal, quando do julgamento dos recursos ordinários, fique em idêntica situação a que se encontrava o órgão a quo quando da prolação da decisão recorrida. 
O § 1º, do art. 515, CPC, manda que se reputem devolvidas ao tribunal “todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha resolvido por inteiro”. Assim, o tribunal poderá utilizar-se de todo o material que dispunha o órgão a quo para a elaboração da decisão impugnada, ou seja, poderá avaliar todas as questões, todos os fatos, todas as provas, todos os fundamentos das partes, enfim, tudo aquilo que poderia ser utilizado pelo julgador a quo. Como bem observa Cândido Dinamarco, “eventual omissão do juiz quanto a uma delas não impede sua devolução e conhecimento pela instância superior, ainda quando a parte não haja oposto embargos de declaração destinados a tirar o juiz do silêncio. 
É de se observar que as questões que já seencontravam preclusas antes da decisão recorrida manterão essa característica. E que, havendo revelia, não poderá o tribunal conhecer de questões novas, argüidas apenas no recurso de apelação, exatamente porque a respeito delas o juízo a quo não poderia fazer nenhuma apreciação.
Já o § 2º, do art. 515, CPC, considera incluídas na devolução não só as questões cuja solução houver sido favorável ao vencedor (e criticadas pelo vencido ao apelar), como também aquelas que hajam sido solucionadas contra ele (mas sem o poder de impedir a conclusão favorável)” (cf. Dinamarco, in Aspectos polêmicos e Atuais dos Recursos Cíveis, vol. 05, p.41). 
A doutrina exemplifica: 1) Julgado procedente um pedido de rescisão, com base em falta de pagamento, nada impede que o tribunal, quando do julgamento do recurso de apelação, negue provimento a esta, julgando ter havido utilização indevida do imóvel, fundamento este expressamente afastado pelo juízo a quo e não referido no recurso de apelação; 2) O autor pretende a declaração de nulidade de certidão de dívida ativa, porque constituída irregularmente e por inconstitucionalidade do tributo. Acolhida a pretensão pelo primeiro fundamento, a apelação do réu permite ao Tribunal o exame do segundo; 3) Se o autor propõe ação de reparação de dano em face do réu, alegando que o mesmo estava em alta velocidade e embriagado. O juiz julga procedente o pedido, visualizando a alta velocidade. O tribunal poderá analisar também a questão da embriaguez ao volante.
Como se vê, a profundidade do efeito devolutivo da apelação do vencido é suficiente para provocar ampla atividade cognitiva do Tribunal sobre as questões debatidas em primeiro grau.	
Tendo em vista que a parte vencedora não tem o poder de provocar novo julgamento da causa mediante a interposição de recurso, já que lhe falta interesse, pode repropor ao tribunal os fundamentos que invocara em primeiro grau, ainda quando algum deles não haja sido apreciado ou tenha sido rejeitado.
Fatos novos na seara recursal – Conforme se depreende do art. 517, CPC, somente excepcionalmente, diante da existência de força maior, é que o recorrente poderá lançar mão em seu recurso ordinário de questões de fato novas, não deduzidas em primeiro grau. A razão do dispositivo é o respeito ao duplo grau de jurisdição, daí que se devolve ao tribunal ad quem o conhecimento da causa tal qual foi apreciada pelo juiz singular. Para caracterização da força maior é imprescindível que a parte não tenha agido desidiosamente na demonstração de todos os fatos no processo.
11.5.- Efeito suspensivo – É uma qualidade do recurso que adia a produção dos efeitos da decisão impugnada, qualidade essa que perdura até que transite em julgado a decisão sobre o recurso ou seja proferida decisão que venha a ser atacada por outro recurso, desta feita desprovido de efeito suspensivo (caso em que será cabível execução provisória, nos termos do art. 475-O do CPC). Ou seja, pelo efeito suspensivo, a execução do comando emergente da decisão impugnada não pode ser efetivada até que seja julgado o recurso (cf. Nelson Nery Júnior, in Teoria Geral dos Recursos, p. 445). Para Dinamarco o efeito suspensivo, de que alguns recursos são dotados e outros não, consiste em impedir a pronta consumação dos efeitos de uma decisão interlocutória, sentença ou acórdão, até que seja julgado o recurso interposto”. Durante o prazo para a interposição do recurso, já existe o efeito suspensivo que se prolongará até o julgamento do recurso efetivamente interposto, ao qual a lei confira efeito suspensivo. Aliás, por esse motivo, alguns doutrinadores preferem denominar esse efeito de obstativo, pois que mesmo antes do efetivo manejo do recurso, a ineficácia da decisão se verifica. Assim, o efeito suspensivo do recurso tem início com a publicação da decisão impugnável por recurso para o qual a lei prevê efeito suspensivo, e termina com a publicação da decisão que julga o recurso. Para Liebman a eficácia executiva da sentença de primeira instância permanece suspensa se vier a ser interposta apelação e mesmo antes, enquanto pende o prazo para esta.
O juiz não tem poder de subtrair o efeito suspensivo que o recurso tem segundo a lei, e a sua decisão, nesse momento, é meramente declaratória de uma situação anterior e, por isso, portadora de eficácia ex tunc.
11.6.- Efeito translativo 
	Há casos que o sistema processual autoriza o órgão ad quem a julgar fora do que consta das razões ou contra-razões do recurso, sem que se possa falar que houve julgamento extra, ultra ou infra petita. Isso ocorre, normalmente, com as questões de ordem pública, que devem ser conhecidas de ofício pelo juiz e a cujo respeito não se opera a preclusão. 
	Ao contrário do efeito devolutivo, que depende de expressa manifestação da parte, já que somente se devolve ao conhecimento do tribunal a matéria impugnada, o efeito translativo se opera mesmo sem expressa manifestação de vontade do recorrente. Como esses temas devem ser examinados pelo juízo em qualquer tempo e grau de jurisdição, fica o tribunal autorizado a conhecer desses temas de ordem pública, ainda que não tenha havido argüição do tema anteriormente (cf., Nelson Nery Júnior).
	Segundo doutrina majoritária, opera-se o efeito translativo nos recursos ordinários, mas não nos recursos excepcionais, entendimento com o qual um dos autores dessa apostila nunca concordou. Nada obstante, já se percebia nos tribunais superiores (STF e STJ) uma tendência de admitir o efeito translativo também em RE e REsp, tendência essa que restou expressamente assumida no julgamento do REsp 1.011-401-RS, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, conforme Informativo STJ n◦ 384, de 16 a 27 de fevereiro de 2009. Confira-se:
RESP. QUESTÕES. ORDEM PÚBLICA. 
Em agravo de instrumento interposto para apenas decidir sobre a suspensão da execução de pré-executividade que fora negada pelo juiz, o Tribunal a quo apreciou o próprio mérito do incidente contra o recorrente. Diante disso, o Min. Relator afirma que, nesse caso, houve duplo error in procedendo: o julgamento extra petita e a reformatio in pejus, o que acarreta a nulidade. Explica, ainda, que, após superado o juízo de admissibilidade, o REsp comporta efeito devolutivo amplo ao Superior Tribunal para julgar a causa, nos termos do art. 257 do RISTJ (aplicar o direito à espécie) e da Súm. n. 456-STF. Assim, se necessário, cabe, no REsp, enfrentar a matéria prevista no art. 267, § 3º, e no art. 301, § 4º, ambos do CPC. Em outras palavras, a devolutividade do REsp, em nível vertical, engloba efeito translativo consistente na possibilidade atribuída ao órgão julgador de conhecer de ofício as questões públicas, embora, na espécie, o recorrente, nem nos embargos de declaração nem no REsp, não se deu conta do duplo error in procedendo. Diante do exposto, a Turma conheceu do REsp para declarar, de ofício, a nulidade do acórdão recorrido, devolvendo os autos ao TJ para que ele renove o julgamento do agravo de instrumento. Precedentes citados: REsp 609.144-SC, DJ 24/5/2004; REsp 641.904-DF, DJ 6/2/2006, e REsp 814.885-SE, DJ 19/5/2006. REsp 1.011.401-RS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 17/2/2009.
11.7.- Efeito substitutivo 
	Segundo o art. 512, CPC, a decisão a respeito do mérito do recurso substitui integralmente a decisão recorrida. Portanto, haverá efeito substitutivo do recurso quando: a) em qualquer hipótese (error in iudicando ou in procedendo) for conhecido e negado provimento ao recurso; b) em caso de error in iudicando, for conhecido e dado provimento ao recurso.; c) com a edição da Lei n. 10.352/2001, que acrescentou o §3º, ao art. 515, do CPC, em caso de error in procedendo, for dado provimento ao recurso e aplicado o referido dispositivo. Noutro giro, não há que se falar em efeito substitutivo quando: a) o recurso não for conhecido; b) conhecido e provido para acolher alegação de error in procedendo, pois que nesse caso a decisão recorrida será anulada, voltando os autos ao juízo a quo para a prolação de outra decisão.11.8.- Efeito expansivo
	Esclarecem Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart que o efeito expansivo tem vinculação com a própria noção dos atos processuais, daí que a modificação ou mesmo a anulação de uma decisão judicial, por deliberação em instância recursal, pode determinar, em cadeia, o desfazimento de outros atos, dependentes daquele primeiro, na seqüência do processamento (in Manual do Processo de Conhecimento, p. 523).
	O efeito expansivo pode ser objetivo ou subjetivo, interno ou externo.
a) efeito expansivo objetivo interno – se dá relativamente ao mesmo ato impugnado.
Ex.: quando o tribunal, ao apreciar apelação interposta contra sentença de mérito, dá-lhe provimento e acolhe preliminar de litispendência. O reconhecimento da existência de litispendência faz com que a mesma sentença impugnada seja atingida pelo resultado do provimento do recurso.
b) efeito expansivo objetivo externo – se dá relativamente a outros atos praticados no processo, e não apenas em relação ao mesmo ato impugnado.
Ex.: No caso de ser provido recurso de agravo de instrumento. Como esse recurso, em regra, não tem efeito suspensivo, provido o agravo, todos os atos processuais praticados depois de sua interposição, que com a nova decisão sejam incompatíveis, devem ser renovados.
c) efeito expansivo subjetivo – É o caso, por exemplo, do recurso interposto por apenas um dos litisconsortes sob o regime da unitariedade.
12 – RECURSO ADESIVO
	O recurso adesivo, na verdade, não é uma espécie recursal. Trata-se sim de uma forma especial de interposição de apelação, embargos infringentes, recurso extraordinário e no de recurso especial, desde que satisfeitos os seguintes requisitos: a) sucumbência recíproca e b) observância do prazo das contrarrazões.

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