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Bem de Família

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BEM DE FAMÍLIA 
 Carmen Fernandez
 Mariana Caleffi
 Rosvita Martins
 Salvador Cavalcante
 Valéria Nagy
BEM DE FAMÍLIA
Conceito
Histórico – Homestead 
Bem de família no Direito brasileiro
CONCEITO 
 Bem – “que é útil à existência e à conservação*
 Bem Jurídico – abrange tudo o que satisfaz a necessidade humana, amparado pelo direito 
 Bem de Família – “imóvel utilizado como residência da entidade familiar”**
 Art. 226, CF/88 e Art. 1.712, CC/02
*Álvaro Villaça Azevedo, pág. 19
**Flávio Tartuce, pág. 636
Álvaro Villaça Azevedo: “Primitivamente, a casa era, além de abrigo da família, verdadeiro santuário, onde se adoravam os antepassados como deuses, verdadeiras propriedades de família”
Álvaro Villaça Azevedo, pág. 21
Idade Média
No Direito Romano, considerava-se uma desonra a venda de bens herdados dos antepassados
Álvaro Villaça Azevedo, pág. 21
 
 HOMESTEAD
 I – Estados Unidos – crise econômica 
 II – República do Texas
 III – Lei Homestead de 1839
Álvaro Villaça Azevedo, pág. 29 à 30
BEM DE FAMÍLIA NO DIREITO BRASILEIRO 
 Inicialmente, o bem de família foi precariamente regulado, em apenas 4 artigos, no Livro da Parte Geral do Código Civil de 1916
Medida Provisória nº 143 de 1990 – Lei 8.009/90
Código Civil de 2002 – Arts. 1.711 à 1.722
Duarte, Guido Arrien. A evolução histórica do bem de família e a sua disciplina no ordenamento jurídico brasileiro. Conteúdo Jurídico, Brasília/DF; 23/12/2014. Disponível em <https://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.51700> acesso em: 30/10/2017
 - O bem de família poderá ser: 
 Convencional ou Legal
BEM DE FAMÍLIA CONVENCIONAL OU VOLUNTÁRIO
Pode ser instruído por ambos os cônjuges, pela entidade familiar ou por terceiro mediante escritura pública ou testamento, não podendo ultrapassar a reserva de um terço do patrimônio mínimo de quem faz a instituição – Art. 1711 CC/02. 
O bem de família voluntário, além de impenhorável, é também inalienável.
Flávio Tartuce, 638
Rodrigo da Cunha Pereira diz que as entidades familiares são “numerus clausus” (ou seja, o máximo de indivíduos que podem ser admitidos em uma instituição), portanto, devem ser consideradas também as entidades unipessoais (ex: família anaparental – que é constituída por parentes que não são nem descendentes nem ascendentes; famílias homoafetivas – aquelas constituídas por pessoas do mesmo sexo) (Flávio Tartuce, 638)
Para que haja a proteção prevista na lei, o imóvel deve, necessariamente, ser imóvel residencial (urbano ou rural) e inclui todos os acessórios que o compõem – Art. 1712 CC/02. (Flávio Tartuce, 639)
 Os valores mobiliários não poderão exceder o valor do prédio instituído, conforme prevê o art 1.713 CC/02, podendo somente gozar da proteção do bem de família, se houver previsão expressa no ato de instituição. 
A instituição do bem de família convencional, deve ser feita por escrito, no Cartório de Registro de Imóveis, do local em que se situa o imóvel. 
Flávio Tartuce, 639
EXCEÇÃO À INALIENABILIDADE
• O imóvel, objeto do bem de família convencional, só poderá ser alienado mediante consentimento dos interessados (membros da entidade familiar), ou de seus representantes, ouvido o Ministério Público. Assim sendo, a possibilidade desta alienação depende de autorização judicial. Não preenchidos os requisitos legais, esta alienação é nula, caracterizando fraude à lei imperativa – Art. 166, VI, CC/02. (Flávio Tartuce, pág. 640)
 Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: 
 [...]
 VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
A administração do bem de família cabe a ambos os cônjuges, sendo possível a intervenção judicial, nos casos em que houver divergências – Sintonia com a igualdade, consagrada no Art. 226 CF/88.
 A instituição dura até que ambos os cônjuges faleçam. 
No caso de falecimento dos cônjuges e haver filhos menores, a instituição perdurará, mesmo que falecidos os pais, até que todos os filhos atinjam a maioridade, conforme disposto no Art. 1716 CC/02. 
A administração do bem de família convencional caberá ao filho mais velho, se este for maior. Caso seja menor, a administração caberá ao seu tutor – Art. 1720 CC/02. (Flávio Tartuce, 640)
A dissolução da sociedade conjugal (independente se for ocasionada por separação, divórcio, morte, inexistência, nulidade ou anulabilidade) não extingue o bem de família convencional.
Extingue-se, o bem de família convencional, com a morte de ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos (desde que não sujeitos à curatela).
 LEMBRANDO QUE: esta extinção não impede a aplicação da proteção estabelecida na Lei 8.009/90.
Flávio Tartuce, 640
 BEM DE FAMÍLIA LEGAL 
 
 Introdução
 Lei 8.009/90 – Arts. 1º e 2º
BEM DE FAMÍLIA LEGAL - Introdução
 Bem de família convencional: Código Civil 2002 X bem de família legal: Lei específica 
 O bem de família legal torna o imóvel do casal ou da entidade familiar impenhorável, portanto, não responde por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges, pelos pais ou pelos filhos, sejam eles proprietários ou que nele residam, salvo nas hipóteses previstas em lei. 
 É uma proteção ao bem de família e à dignidade da pessoa humana (princípio constitucional – Art. 1º, III, CF/88: “Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III – a dignidade da pessoa humana [...]”)
(BRASIL. CF/88. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constitucional/constituição.htm - acesso em 03/11/17)
 Segundo Maria Berenice Dias, “O Código Civil prevê somente o bem de família instituído voluntariamente, remetendo à lei especial a impenhorabilidade do imóvel residencial (Art. 1.711, CC/02). É a Lei 8.009/90 que cumpre essa função: dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família. Institui o bem de família legal (ou involuntário) imóvel e móvel, em defesa da célula familiar. Trata-se de lei de nítido caráter protetivo. Garante o mínimo necessário à sobrevivência da família. O Estado, ao ser o instituidor do bem de família, chama para si o dever de proteção que antes era deixado ao arbítrio o chefe de família. Nessa lei emergencial, conforme lembra Álvaro Villaça Azevedo, não fica a família à mercê de proteção por seus integrantes, mas é defendida pelo próprio Estado, de que é fundamento.
Maria Berenice Dias, pág. 592
 Para Flávio Tartuce, “A Lei 8.009/90 traça as regras específicas quanto à proteção do bem de família legal, [...]. Trata-se de importante norma de ordem pública que protege tanto a família quanto a pessoa humana”
Flávio Tartuce, 641
 “Sendo instituidor dessa modalidade o próprio Estado, que impõe norma de ordem pública em defesa do núcleo familiar, independe de ato constitutivo e, portanto, de registro no Registro de Imóveis. Nada obsta a incidência dos benefícios da lei especial se o bem tiver sido instituído, também na forma do Código Civil”, no que diz Carlos Roberto Gonçalves ao citar Caio Mário Pereira, em sua obra Instituições, V.5, p. 564.
Lei 8.009/90
Dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família
Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável
e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou pelos filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo hipóteses previstas nesta lei.
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados.
Art. 2º Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos
Parágrafo único. No caso de imóvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos bens móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam de propriedade do locatário, observado o disposto neste artigo,
[...]
Segundo Flávio Tartuce:
“Bem de família indireto: “A questão consolidou-se de tal forma que, em 2012, foi editada a Súmula 486 do STJ, in verbis: “É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia de sua família’. Entendeu-se, ainda, que a premissa igualmente vale para o caso de único imóvel do devedor que esteja em usufruto, para destino de moradia de sua mãe, pessoa idosa (STJ, Resp 950.663/SC, 4ª turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10.04.2012). No último decisum, além da proteção da moradia, julgou-se corretamente com base no sistema de tutela constante do Estatuto do Idoso”.
Flávio Tartuce, pág. 643
Segundo Flávio Tartuce
 “Bem de família vazio”: “Na mesma esteira, igualmente dando uma interpretação extensiva à tutela da moradia, entende o Tribunal da Cidadania (STJ) que o fato do terreno encontrar-se desocupado ou não edificado são circunstâncias que sozinhas não obstam a qualificação do imóvel como bem de família, devendo ser perquirida, caso a caso, a finalidade a este atribuída (tese nº 10, publicada na ferramenta Jurisprudência em Teses, edição n.44)”
Flávio Tartuce, pág. 643
Segundo Flávio Tartuce
 Vaga de garagem: “[...] os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos estão excluídos da impenhorabilidade (Art. 2º). Em complemento à previsão dos veículos de transporte, o STJ editou no ano de 2010 a Súmula 449, prevendo que ‘A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora’. A ementa merece críticas, pois, diante do princípio da gravitação jurídica (o acessório segue o principal), se a impenhorabilidade atinge o imóvel, do mesmo modo deve atingir a vaga de garagem”.
Flávio Tartuce, pág. 645
JURISPRUDÊNCIA 
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO. PENHORA DE IMÓVEL. BEM DE FAMÍLIA. LOCAÇÃO A TERCEIROS. RENDA QUE SERVE A ALUGUEL DE OUTRO QUE SERVE DE RESIDÊNCIA AO NÚCLEO FAMILIAR. CONSTRIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. LEI Nº 8.009/90, ART. 10. EXEGESE. SÚMULA Nº7 STJ.
A orientação predominante no STJ é no sentido de que a impenhorabilidade prevista na Lei 8.009/90se estende ao único imóvel do devedor, ainda que este se ache locado a terceiro, por gerar frutos que possibilitam à família constituir moradia em outro bem alugado.
Caso, ademais, em que as demais considerações sobre a situação fática do imóvel encontram obstáculo ao seu reexame na Súmula nº 7 STJ
Agravo Improvido.
*Súmula nº 7/ST: Processo Civil. Súmula 7 – a pretensão de simples reexame de prova não enseja Recurso Especial. (Súmula 7, Corte Especial, julgado em 28/06/90. DJ 03/07/90)
Disponível em: www.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?ordem=@SUB acesso em: 03/11/17
Lei 8.009/90
Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal ou da entidade familiar é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou pelos filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
Art. 226 – A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado
Parágrafo 3º Para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar a sua conversão em casamento.
Parágrafo 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer de seus pais e seus descendentes
Flávio Tartuce
“(...) decorrente do casamento, união estável, entidade monoparental ou outra manifestação familiar, protegido por previsão legal específica”
Maria Berenice Dias
“(...) manifestação da afetividade recíproca e da ajuda mútua, como a união do homem e da mulher com os filhos das uniões anteriores de cada um, dos avós com os netos, da mãe solteira com seu filho”
Flávio Tartuce, pág. 636
Maria Berenice Dias, pág. 587
Súmula 364 do STJ
 O conceito de impenhorabilidade de bem de família, abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.
(Súmula 364, Corte Especial, julgado em 15/10/08, Dje 03/11/08)
 PROCESSUAL. EXECUÇÃO. IMPENHORABILIDADE. IMÓVEL. RESIDÊNCIA. DEVEDOR SOLTEIRO E SOLITÁRIO. LEI 8.009/90
A interpretação teleológica do Art. 1º, da Lei 8.009/90, revela que a norma não se limita ao resguardo da família. Seu escopo definitivo é a proteção de um direito fundamental da pessoa humana: o direito à moradia. Se assim ocorre, não faz sentido proteger quem vive em grupo e abandonar o indivíduo que sofre o mais doloroso dos sentimentos: a solidão.
É impenhorável, por efeito do preceito contido no Art. 1º da Lei 8.009/90, o imóvel em que reside, sozinho, o devedor celibatário.
(STJ, Resp 182.223/SP, 6ª Turma, Rel. Min. Vicente Cernicchiaro, j. 18/08/99 – grifou-se)
 AGRAVO INTERNO EM TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA. DEFERIMENTO DO PEDIDO. CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO ESPECIAL. IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA. POSSIBILIDADE DE CARACTERZAÇÃO DE DUPLICIDADE DE ENTIDADE FAMILIAR. AGRAVO QUE NÃO É CAPAZ DE INFORMAR OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. AGRAVO PROVIDO.
1. (...)
2. No caso em exame, em análise perfunctória, entendeu-se demonstrado o requisito periculum in mora, ante a possibilidade de alienação do imóvel em hasta pública, que havia sido designada para os dias 16/11/16 e 21/11/16. Ademais, vislumbrou-se a presença da plausibilidade do direito invocado, pois a tese de impenhorabilidade, com respaldo no art. 1º da Lei nº 8.009/90, do bem imóvel no qual o ora agravado reside com sua atual esposa é razoável, diante da possível caracterização de entidade familiar, advinda da inicial separação de fato, que é, inclusive, anterior à execução, e posteriormente formalizada pelo divórcio e do subsequente casamento do executado
3. A não observância pelo acórdão proferido pelo Tribunal estadual da impenhorabilidade do bem de família, pertencente à segunda entidade familiar induz à caracterização, a princípio, de ilegalidade, por descumprimento ao disposto no Art. 1º da Lei nº 8.009/90.
4. (...)
(STJ, AgInt no Pedido de Tutela Provisória nº 18/SP (2016/0290065-0), 3ª Turma, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 04/04/17 – grifou-se)
 Para que seja reconhecida a impenhorabilidade do bem de família, de acordo com o Art. 1º da Lei nº 8.009/90, basta que o imóvel sirva de residência para a família do devedor, sendo irrelevante o valor do bem.
(STJ, Resp. 1.178.469/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Massami Uyeda, j. 18/11/10 – grifou-se)
Fávio Tartuce
 “Consigne-se que o STJ tem entendimento reiterado, segundo o qual é irrelevante o valor do bem para a devida proteção. Todavia, conclui-se pela possibilidade de penhora parcial do imóvel em casos de bem de alto valor, desde que possível o seu desmembramento”.
Flávio Tartuce, pág. 1196.
PENHORA. Bem de Família. Contrição sobre parte ideal do imóvel onde o devedor confessadamente não reside. Admissibilidade, visto não incidir a proteção de que trata o Art. 1º da Lei nº 8.009/90 – Hipótese, ademais, em que a entidade familiar a que alude
o referido dispositivo legal, é aquela resultante da união estável de homem e mulher, que não contraíram matrimônio. Impenhorabilidade afastada. Embargos à execução improcedente. Recurso improvido.
(1º TACSP, Ap 692.669, 4ª Cam. Extraordinária, Rel. Juiz Celso Bonilha, j. 19/06/97 – grifou-se)
Lei nº 8.009/90
Art. 1º (...)
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarneçam a casa, desde que quitados.
Art. 2º (...)
Parágrafo único. No caso de imóvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos bens móveis quitados que guarneçam a residência e que seja de propriedade do locatário, observado disposto neste artigo.
PROCESSUAL. IMPENHORABILIDADE. LEI 8.009/90. ÚNICO TELEVISOR. EXISTÊNCIA DE VÁRIOS TELEVISORES.
A Lei 8.009/90 foi concebida para garantir a dignidade de funcionalidade do lar. Não foi propósito do legislador, permitir que o pródigo e o devedor costumaz se locupletem, tripudiando sobre seus credores;
 Na interpretação da referia lei, não se pode perder de vista seu fim social;
 A impenhorabilidade não se estende a objeto de natureza suntuária;
4. Se a residência é guarnecida com vários utilitários da mesma espécie, a impenhorabilidade cobre apenas aqueles necessários ao funcionamento do lar. Os que excederem o limite da necessidade, podem ser objeto de constrição. 
Se existirem, na residência, vários aparelhos de televisão, a impenhorabilidade protege apenas um deles. 
(STJ, Resp. 103.351/RS (96/0061635-3) Corte Especial, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 01/07/97 – grifou-se)
A IMPENHORABILIDADE DA PEQUENA PROPRIEDADE RURAL
A Carta Magna brasileira oferece proteção a pequena propriedade Rural, conforme Art. 5º, XXVI “a pequena propriedade, assim definida em Lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamentos de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento”
 A prof.ª Maria Berenice Dias escreve: “A constituição atenta à função social da propriedade, isenta da penhora a pequena propriedade rural, assim definida em lei, com referência aos débitos decorrentes da atividade produtiva desempenhada pela família (Art. 5º, XXVI CF/88). Trata-se da impenhorabilidade relativa, condicionada a três pressupostos cumulativos: a) o bem deve ser identificado como pequena propriedade rural; b) é indispensável que seja trabalhado pela família ; c) a dívida deve ter sido contraída em razão da atividade produtiva. A inda que não se encontre regulamentado, tal dispositivo constitucional, não há como negar vigência em face da determinação de eficiência imediata das garantias fundamentais (Art. 5º, parágrafo 1º).
A Lei 8.009/90 concedeu uma nova dimensão à impenhorabilidade do imóvel rural, mesmo que restrinja à sede da moradia. (Lei 8.009/90, Art. 4º, parágrafo 2º), não a condiciona à natureza do débito.
Maria Berenice Dias, pág. 596.
 Carlos Roberto Gonçalves escreve que o Art. 4º, parágrafo 2º “quanto a residência familiar constituir-se em imóvel rural, a impenhorabilidade restringir-se-á à sede da moradia, com os respectivos bens móveis e, nos casos do Art. 5º, inciso XXVI CF/88, à área limitada como pequena propriedade rural” 
Carlos Roberto Gonçalves, pág. 610
 E cita que para Ricardo Arcoverde Credie, a pequena propriedade rural, não pode ultrapassar quatro módulos fiscais do município onde estiver situada, é totalmente imune a penhora, por preceito constitucional (Art. º, XXVI CF/88 que se repete no Art. 833, inciso VIII/ NCPC, antigo Art. 649/CPC), desde que seja trabalhada pela família do produtor e a dívida executada esteja relacionada com a própria indústria rural exercida no imóvel. O residir no terreno então, passa a ser mero acidente, pois “a casa de moradia nele eventualmente existente, será inexecutável, muito antes de considerar-se bem de família, pela própria imunidade à apreensão que a norma constitucional assegura. A jurisprudência tem reconhecido, por consequência, a não exequibilidade da pequena propriedade rural mesmo quando a família que nela labora, não tem condições fiscais ou econômicas de habitá-la, vivendo, portanto, em centro urbano próximo.
Carlos Roberto Gonçalves apud Ricardo Arcoverde Credie, pág. 610
Para Flávio Tartuce, a norma restringindo a impenhorabilidade à sede de moradia, com os respectivos bens imóveis e, nos casos do Art. 5º, inciso XXVI, CF/88, à área limitada como pequena propriedade rural, visa a punir aquele que age de má-fé, preservando a proteção da pequena propriedade rural.
Flávio Tartuce, pág. 498.
Definição da pequena Propriedade Rural
 A Constituição Federal não trás a definição da chamada “pequena propriedade rural”
Para Maria Berenice Dias “existe toda uma discussão que envolve a identificação do que se deve chamar de pequena propriedade rural”, cabendo invocar, por analogia, o conceito de propriedade familiar do estatuto da terra, que identifica o que é chamado de módulo rural (Lei 4.504/64, ART. 4º, II e III): “imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico”
Maria Berenice Dias, pág. 499.
 Módulo fiscal é uma unidade de medida, em hectares, cujo valor é fixado pelo INCRA para cada município, levando-se em conta: a) o tipo de exploração predominante no município (hortifrutigranjeira, cultura permanente, cultura temporária, pecuária ou florestal); b)a renda obtida no tipo de exploração predominante; c) outras explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam expressivas em função da renda ou da área utilizada; d) o conceito de “propriedade familiar”. O valor do módulo fiscal no Brasil varia de 5 a 110 hectares.
(http://www.embrapa.br/código-florestal/área-de-reserva-legal-arl/modulo-fiscal)
EXCEÇÕES A IMPENHORABILIDADE DO BEM – Art. 3º da Lei 8.009/90
 A – Créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias. (Deve incluir: os empregados domésticos e empregados da construção civil, caso a área construída do imóvel seja aumentada, desde que haja vínculo de emprego) (Flávio Tartuce, 490)
“Processual Civil. Bem Impenhorável. Art. 3º, inciso I da Lei 8.009/90. Mão-de-obra empregada na construção de obra. Interpretação extensiva. Impossibilidade. A impenhorabilidade do bem de família, oponível na forma da lei à execução fiscal previdenciária, é consectário do direito social à moradia. Consignada a sua eminência constitucional, há de ser restrita e exegese da exceção legal. Consectariamente, não se confundem os serviçais da residência, com empregados eventuais que trabalham na construção ou reforma do imóvel, em vínculo empregatício, como o exercido pelo diarista, pedreiro, eletricista, pintor, vale dizer, trabalhadores em geral. A exceção prevista no artigo 3º, inciso I da Lei 8.009/90, deve ser interpretada restritivamente. Em consequência, na exceção legal de “penhorabilidade” do bem de família não se incluem os débitos previdenciários que o proprietário do imóvel possa ter, estranhos às relações trabalhistas domésticas (STJ, REsp 644.733/SC, Rel. Min. Francisco Falcão, Rel. p/ acórdão Min. Luiz Fux, 1ª Turma, j. 20.10.2005, DJ 28.11.2005, p.197)”
 B – Pelo titular do crédito decorrente de financiamento destinado à construção ou aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos decorrentes do contrato.
 C – Pelo credor de pensão alimentícia, seja ela decorrente de alimentos convencionais, legais (Direito de Família) ou indenizatórios (Art. 948, II, CC/02) (Flávio Tartuce, 491)
 Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:
 [...] 
 II - na prestação de alimentos às pessoas
a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.
 D – Para a cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em relação ao imóvel familiar. O STF entendeu que deve-se interpretar de maneira declarativa, não extensiva. 
 “Bem de família. Despesas condominiais e penhorabilidade. A turma negou provimento a recurso extraordinário em que se sustentava ofensa aos artigos 5º, XXXVI e 6º, ambos da CF, sob a alegação de que a penhorabilidade do bem de família previsto no Art. 3º, IV da Lei 8.009/90. Entendeu-se que, no caso, não haveria que se falar em impenhorabilidade do imóvel, uma vez que o pagamento de contribuição condominial (obrigação propter rem) é essencial à conservação da propriedade, isto é, à garantia da susbsistência individual e familiar – dignidade da pessoa humana. Asseverou-se que a relação condominial tem natureza tipicamente de uma relação de comunhão de escopo, na qual os interesses dos contratantes são paralelos e existe identidade de objetivos, em contraposição à de intercâmbio, em que cada parte tem por fim seus próprios interesses, caracterizando-se pelo vínculo sinalagmático” (STF, RE 439.003/SP, Rel. Eros Grau, j. 06.02.2007, Informativo 455, 14 de fevereiro de 2007).
 E – Para a execução de hipoteca sobre o imóvel, oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar. 
 “Agravo regimental. Bem de família. Impenhorabilidade. Dívida contraída pela empresa familiar. A exceção do inciso V do Art. 3º da Lei 8.009/90 deve se restringir às hipóteses em que a hipoteca é instituída como garantia da própria dívida, constituindo-se os devedores em beneficiários diretos, situação diferente do caso sob apreço, no qual a dívida foi contraída pela empresa familiar, ente que não se confunde com a pessoa dos sócios.” (STJ, AgRg no Ag 597.243/Go, Rel. Min. Fernando Gonçalves., 4ª Turma, j. 03.02.2005, DJ 07.03.2005, p. 265).
F – No caso de o imóvel ter sido adquirido como produto de crime ou para a execução de sentença penal condenatória de ressarcimento, indenização (inclusive por ato ilícito ou abuso de direito) ou perdimento de bens. 
 G – Por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação de imóvel urbano, exceção que foi introduzida pelo Art. 82 da Lei 8.245/91 – Lei da Locação. (Flávio Tartuce, 492)
Referências Bibliográficas
- Gonçalves, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, 6ª edição, Saraiva, 2016, pág. 610
- Dias, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, 7º edição, 2015, pág. 596
- Tartuce, Flávio. Direito Civil, V. 5, 12ª edição, 2017, págs. 438 à 1196
Azevedo, Álvaro Villaça. Bem de família com comentário à Lei 8.009/90, 4ª edição, 1999, pág. 29 e 30
Duarte, Guido Arrien. A evolução histórica do bem de família e a sua disciplina no ordenamento jurídico brasileiro. Conteúdo Jurídico, Brasília/DF; 23/12/2014. Disponível em <https://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.51700> acesso em: 30/10/2017
BRASIL. CF/88. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constitucional/constituição.htm - acesso em 03/11/17
www.ambito-jurídico.com.br/site/artigo&jU12nkH

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