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trabalho de historia do direito brasileiro

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INTRODUÇÃO
 O principal enfoque neste cap. 19 é estudar os fundamentos do bacharel em direito no século XIX, partindo do pressuposto de que o ensino jurídico foi à via eleita no momento da formação do estado Brasileiro. De tal sorte que os bacharéis se identificaram com o Estado, induzindo a fabricação de uma homogeneidade ideológica a fim de evitar o aprofundamento dos conflitos intra-elite.
 Os estudantes de Direito eram imprescindíveis para a formação do Estado Nacional, isso porque os cursos de âmbito jurídico foram os primeiros propagadores das idéias novas no Brasil. “A primeira influência na formação do Direito moderno brasileiro foi o Liberalismo, com base na universalidade iluminista e nos valores convergentes aos Interesses da classe burguesa em ascensão desde o século XVII em contraposição a estrutura dominante do Feudalismo europeu (WOLKMER, 2001, p.38)”
 O autor Sérgio Buarque de Holanda diz em seu livro o significado que podemos obter a partir da mudez das instituições, “Todo o afeto entre os homens funda-se forçosamente em preferências. Amar alguém é amá-lo mais do que a outros. Há aqui uma unilateralidade que entra em franca oposição com o ponto de vista jurídico em que se baseia o liberalismo.” (HOLANDA, 2002, p. 1082).
 Nesta época os estudantes não buscavam um conhecimento interessado para a atividade profissional. Seu principal objetivo era a sua inserção na sociedade, que mesmo assim não dependia, e muitas vezes passada ao largo de sua formação profissional. A partir desta premissa o curso de direito tinha como finalidade ser o centro de sistematização e irradiação do liberalismo.
2. ESTADO PATRIMONIAL E PASSADO ESCRÁTICO
O período colonial, como experiência, nos traz elementos chaves para que possamos entender o aspecto do Estado de um Brasil, “descoberto” fruto de “aventura” portuguesa, considerando que só obteve independência no século XIX. Raymundo Faoro em seu livro Os dono do poder escreve sobre a origem do Estado português descrevendo com qualidade desde o descobrimento do Estado brasileiro ate 1930. Colocou em evidencia a classe detentora do poder, recusando a visão liberal- prepotente que se anuncia de forma clara a iniciativa privada na construção das riquezas nacionais. 
 O estado brasileiro foi tipificado como patrimonialista, herança da colonização portuguesa, colocando em destaque a participação dos estamentos burocráticos. Portugal teria vivenciado uma monarquia patrimonial onde o rei, dono de toda a riqueza era cercado por seus servidores, onde havia 
uma relação de dependência. O estamento formava-se por “recrutamento extrapatrimonial”, onde se reconhecia o favoritismo e o clientelismo. Ou seja, o rei era o único proprietário e o quadro administrativo era formado por pessoas de confiança. Sugeriu o autor concluir por patrimonialismo estamental.
De fato, como resultado de nossa estruturação sob a influência do patrimonialismo português, falta-nos ainda um estado racional e despersonalizado, onde há a distinção entre o publico e privado e a precariedade da segurança do individuo. Assim dinamizando a teoria verifica-se a superposição do estado a sociedade civil desarticulada. A incompatibilidade brasileira com o capitalista-liberal conclui-se com Buarque de Holanda:
Na verdade, a ideologia impessoal do liberalismo democrático jamais se naturalizou entre nós. Só assimilamos efetivamente esses princípios até onde coincidiu com a negação pura e simples de uma autoridade incômoda, confirmando nosso instintivo horror às hierarquias e permitindo tratar com familiaridade os governantes. A democracia no Brasil foi sempre um lamentável mal-entendido.
 Diferentemente da colonização das zonas temperadas, a colonização dos trópicos fez-se a exploração mercantil, capitania hereditária, arrecadação de tributos; tudo em nome do Rei, como convém ao patrimonialismo, a origem de latifúndios e da administração privada da justiça e a característica principal da formação da sociedade e da cultura brasileira, a economia baseada na exploração do trabalho escravo.
Conforme Caio Prado, a adoção da mão de obra escrava constituiu fato circunstancial da evolução natural da civilização ocidental, uma involução cujas consequências fez-se de forma pesada na historia dos povos, constituindo uma aberração do ponto de vista ético-moral. A lógica do liberalismo econômico de Adam Smith funda-se na mão de obra assalariada. A escravidão moderna incorporada a experiência colonial marcou a formação social, influindo no caráter do brasileiro. 
 Gilberto Freyre usa de análise sociológica a experiência patriarcal e escravista, o autor qualifica como sistema patriarcal de escravidão.
Interessa ao contexto a submissão do índio e especialmente do negro ao trabalho forçado por dois motivos referidos pelos autores estudados: a forma culturalmente desvalorizada do trabalho, de modo geral do trabalho manual; a distinção com grande vigor de ocupações superiores e inferiores.
 Com o desdobramento natural, assumida a visão histórica- determinista inevitável desse quadro salienta-se o abolicionismo e a própria Republica. Segundo reinado, acentuou-se a participação desses movimentos de bacharéis tanto brancos como mulatos. 
3. DOS JESUÍTAS AOS CURSOS DE DIREITO
 De acordo com Luiz Antônio Cunha, o ensino no Brasil resumiu-se, até a fuga da família real para o Brasil, às experiências jesuíticas da companhia de Jesus, com primeiro colégio estabelecido na Bahia, em 1550, enquanto que na América espanhola o ensino superior foi implantado desde o início de sua colonização, com a primeira Universidade de São marcos, em 1551, e a do México, 1553. A formação centralizada pretendida pela metrópole, a cultura 
inferior aqui encontrada- em comparação aos maias, incas e astecas- a falta de recursos docentes presente em Portugal podem ser os fatores que contribuíram para esta situação. 
 A experiência pedagógica oferecida pelos jesuítas foi a causa concorrente para a formação do espirito “acadêmico” que disseminaria na colônia, ainda mais que, a partir de 1555, os jesuítas estavam a frente do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. A pedagogia jesuítica inspirava-se na sistematização de regras padronizadas (ratio studiorum), dando ênfase à retorica e privilegiando poucos autores com Aristóteles e Tomás de Aquino. As transformações ocorridas na Europa com o Renascimento, impulsionadas pela Contra Reforma, não influenciaram, inicialmente, o Estado português que manteve distância das novas ideias e técnicas trazidas pelo iluminismo que apresentavam novas concepções educacionais favorecendo o desenvolvimento do capitalismo industrial. Observa-se ai, as influencias de uma cultura retórica e formalista que se derramaria sobre os bacharéis brasileiros, que também seriam inspirados pelas perspectivas dos “padres iracundos”- para utilizar a expressão empregada por Darcy Ribeiro-, à parte própria influenciada “alma portuguesa”. Quanto a Platão lhe é atribuída à responsabilidade pela divulgação da ideia na qual o trabalho manual é “degradante, indigno do homem livre”. 
 A vinda da corte para o Brasil, em 1808, representou transformar a colônia em um lugar apropriado para a instalação da Corte, inaugurando a faculdade de medicina e cadeira de artes militares, na Bahia e no Rio de Janeiro respectivamente, evidenciando-se, assim, os significativos avanços. Contudo, era necessário manter a colônia controlada, e ideologicamente também, portanto, dessa forma, a instalação da corte não se resumiu em preocupar-se com a formação de quadros para ocupar os cargos e funções do Estado- leia-se bacharéis.
	A formação de militares e as áreas técnicas como engenharia, economia e medicina foram as representantesdo ensino superior da época. Embora se possa dizer que, lato senso e por sua extensão, estas ultimas áreas tenham produzido bacharéis, no contexto de ensino superior, o vocábulo reserva-se a formação humanística e, destacadamente, aos formados nas academias de direito.
 Desta forma, somente em 1827, depois da declarada independência e com a necessidade de se construir um Estado Nacional que se implantaram os cursos jurídicos no Brasil. Em Recife e em São Paulo que se iniciaram em 1828 as atividades jurídicas. As faculdades de direito implicou a distribuir o status necessário para á ocupação de cargos públicos formados por uma elite intelectual razoavelmente coesa e preparada. Além dos cargos públicos, da ascensão social consideram-se alguns argumentos se que se buscavam também, no curso de direito, uma cultura geral, desinteressada, oferecida nesses cursos penetrados de filosofia e de letras e apropriadas para o exercício de outras atividades e ocupações. Para a aquisição de “cultura geral” o caminho mais adequado, dada a qualidade do ensino e o empenho dos professores seria o das viagens e bibliotecas.
4. O BACHARELISMO: RETÓRICA, FORMALISMO E ABSTRAÇÃO.
 Entende-se por bacharelismo a situação caracterizada pela predominância de bacharéis na vida política e cultural do país. Diversamente do que se poderia depreender sem mais aquelas, não se trata de invenção tupiniquim. Historicamente, é uma espécie de fenômeno político-social que, entre nós, diretas raízes em Portugal, tendo sido significativa a participação de juristas nos Conselhos da Coroa desde os primeiros passos da estruturação do Estado português.
 “ninguém foi mais bacharel nem mais doutor neste País que Dom Pedro II”. Com efeito, em nítido contraste com a figura do pai, algo impulsivo e belicoso, com traços mais para militar que para bacharel, Dom Pedro II cultivava esmeradamente o espírito, incentivando as letras, a música e a cultura clássica em geral, inspirado, quem sabe, pelas vocações superiores que devem norte ar os desígnios de um imperador. Durante o seu reinado, iniciado quando ainda menino, cercou-se de bacharéis moços, que se renovavam nos gabinetes, na condução dos negócios do Estado, sob sua proteção e vontade. Em termos de legislação nacional de maior envergadura, foram produzidos o Código Penal, o Código de Processo Criminal, o Código Comercial e o Regulamento 737 (Código de Processo Civil e Comercial). Nada obstante as ascensões do bacharel tipicamente brasileiro, que trouxe conseguem os ideais do Iluminismo, o que se verifica é que não houve, nem poderia haver a conformação do Estado, efetivamente, às ideias liberais, o que, em outras palavras, poderia significar a substituição do modelo tradicional por uma forma de dominação de tipo racional, nos moldes weberianos.
 A partir das interpretações de Buarque de Holanda e de Raymundo Faoro, já incorporadas à historiografia brasileira, toma-se empreendimento relativamente fácil. De início, há que se considerar que esses movimentos fizeram-se de cima para baixo, como convém à boa ordem patrimonial, sob a inspiração de ideias e ideais trazidos das experiências de outros países, colhidos em livros ou VIII viagens, principalmente à França. 
 Históricas e culturais em que foram engendrados os princípios liberais. Assim, sendo fácil discursar e escrever sobre ideias que convençam a razão, enquanto exercício de abstração, consideravelmente mais árduo é incorporar uma prática cotidiana nova, buscar o convencimento íntimo, ainda mais sem vivenciar a perspectiva da experiência histórica c tendo-se em conta o prejuízo aos nossos interesses mais imediatos. Quem, afinal, dá o passo à frente, dispondo-se a cortar a própria carne para realizar uma “abstração” que, bem analisada, fica melhor nos livros, nos jornais e nos discursos? Ora, a realidade social... A hipótese era mais que possível: a cultura literária, erudita, abstrata, é o próprio cerne do bacharelismo. Nas palavras de Gilberto Freyre, “inexaurível erudição à margem dos fatos e das coisas”, “preocupados mais com o espírito que com o fundo dos problemas”.
 Para arremate, outro fato que é importante assinalar é que, à parte a contribuição para a construção das instituições jurídico-políticas nacionais, o bacharelismo manifestou-se amplamente, fora dos gabinetes políticos e dos cargos públicos, 45 notadamente na produção literária e jornalística, o que deve ser creditado basicamente às possibilidades oferecidas pela vida acadêmica. 
5. CONCLUSÃO 
 Concluímos que em 1827 fundaram-se duas faculdades ou cursos de direito: Em São Paulo e em Olinda, a cultura jurídica nacional formou-se a partir dessas duas faculdades. Os cursos jurídicos surgem num contexto sócio-político, jurídico e administrativo em observância as diretrizes emanadas da Igreja Católica.
 A retórica tornou-se a insígnia que convinha ostentar e que, mais que isso,  compreendida dentro de um fenômeno sociocultural e psicológico, impregnou-se no discurso do bacharel, ligando-o a uma forma desprovida de conteúdo, o que, às vezes, decorria da própria insustentabilidade do discurso e da ausência de conteúdo defensável.
 Por outro lado, em muitas ocasiões o discurso jurídico prestava-se a ocultar o objeto ao invés de revelá-lo como a indicar um despreparo técnico-jurídico socorrido por uma “cultura literária”, com citações de fragmentos supostamente definitivos, fora do contexto, colocando-se uma “frase lapidar”, a que se refere Sérgio Buarque de Holanda.
 Finalizando José Wanderley fala do “estilo bacharelesco”:
“Enfim, considerando-se que ser bacharel era um bom negócio, podendo render algum prestígio ou distinção, verificou-se certo estímulo, especialmente entre as classes intermediárias, à prática do bacharelismo formal. Falar difícil, vestir-se adequadamente, ostentar uma cultura literária e mesmo o conhecimento de textos legais tornou-se prática verificável fora do currículo restrito dos bacharéis”.

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