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1 DISCIPLINA DE MÉTODOS ESPECTROMÉTRICOS IQO220 – FARMÁCIA 2016.2 MÓDULO II ESPECTROMETRIA DE MASSAS: Introdução, Fragmentação e Análise Estrutural na Ionização por Elétrons Prof. Dr. Rafael Garrett rafael_garrett@iq.ufrj.br https://www.iq.ufrj.br/ Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 2 BIBLIOGRAFIA BÁSICA USADA NAS AULAS Pavia, D. L.; Lampman, G. L.; Kriz, G. S.; Vyvyan, J. R. Introdução a Espectroscopia, 5 ed. Editora Cengage, 2016. Silverstein, R.M.; Bassler, G.C.; Morril, T.C. Identificação Espectrométrica de Compostos Orgânicos, 7 ed. Editora Guanabara, Rio de Janeiro, 2006. Dass, C. Fundamentals of Contemporary Mass Spectrometry. Wiley, 2007. Mac Lafferty, F. W. Interpretation of Mass Spectra. W.A. Benjamin, 1973 http://www3.nd.edu/~smithgrp/structure/workbook.html http://webbook.nist.gov/chemistry/ BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR Artigos, sites internet, etc... Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 3 INTRODUÇÃO Espectrometria de massas (EM ou MS em inglês) é uma técnica analítica que mede a massa molecular de compostos e átomos individuais através de sua conversão em íons carregados. É muito versátil e pode gerar informações qualitativas ou quantitativas; revelar a identidade estrutural de compostos; estudar sistemas biológicos; estudar dinâmica de reações e química de íons; calcular propriedades físicas, tais como: energia de ionização, entalpia de reação, afinidades protônicas e iônicas, etc. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 4 - 1890´s: (J. J. Thomson): Nascimento do espectrômetro de massas – análise de raios catódicos carregados negativamente e de raios positivos usando um espectrógrafo de massas. - 1940´s (II Guerra Mundial): papel principal na análise e descoberta de isótopos e na determinação de suas abundancias relativas e massas exatas. - 1942-3: Primeiro MS comercial - 1950´s: Início das aplicações na química orgânica e desenvolvimento dos equipamentos de alta resolução (foco duplo) - 1960´s: Desenvolvimento dos GC/MS e início da análise de misturas complexas por MS Aplicações voltadas para análise de compostos orgânicos; falta de aplicação no campo biológico devido a falta de técnicas de ionização de compostos não- voláteis, de alto peso molecular e/ou instáveis termicamente. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 5 Baseia-se na geração, separação e caracterização de íons na fase vapor de acordo com suas razões massa/carga (m/z) Um composto é ionizado na fonte de ionização, os íons formados são separados pelo analisador de massas com base na razão massa/carga (m/z), e o número de íons que corresponde a cada “unidade” de m/z é registrado na forma de um espectro. Na Ionização por Elétrons (Electron Ionization, EI), moléculas na fase vapor são bombardeadas por um feixe de elétrons de alta energia e os íons positivos formados são separados e detectados. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 6 PRINCÍPIOS MS lida com íons pois é possível manipular facilmente seu movimento, direção e promover sua detecção em ambientes com alto vácuo. Os 3 passos principais envolvidos numa análise são: 1. Ionização O excesso de energia pode levar à quebra de ligações Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 7 2. Separação e análise do íon molecular e seus fragmentos ou da molécula protonada/desprotonada, etc com base na sua razão massa-carga (m/z) 3. Medida da corrente iônica gerada pelos íons, sua amplificação e a geração do espectro de massas Os íons são controlados em ambiente de alto vácuo, que permite que eles se movam no espaço evitando colisões ou interações com outras espécies. Resíduos de gases da atmosfera podem produzir interferentes. Colisões levam à fragmentação e podem até produzir uma espécie diferente devido à reações íon-molécula. Esses processos reduzem a sensibilidade, aumentam a ambiguidade da medida e diminuem a resolução. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 8 amostra 1. Introdução da amostra • Sólida • Líquida • Gasosa Formação dos íons 2. Ionização • Ionização por elétrons • Ionização química • MALDI • Eletrospray • APCI • FAB • SIMS • DESI • DART • etc Analisador de massas 3. Separação de íons (m/z) • Ion trap • Quadrupolo • Tempo de voo (TOF) • Orbitrap • FT-ICR • Híbridos Detector 4. Detecção de íons Dados 5. Manipulação dos dados • Multiplicadora de elétrons • MCP Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 9Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 10 O ESPECTRO DE MASSAS A forma mais comum e simples, utilizada durante muitos anos, para formar íons na MS é através do bombardeamento de moléculas na fase gás com um feixe de elétrons de alta energia. Fragmentações podem ocorrer e o resultado é mostrado na forma de um espectro de massas. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 11 O espectro de massas é caracterizado pela região do íon molecular (íon molecular + sinais dos isótopos mais pesados) e região dos fragmentos iônicos. O íon mais abundante é conhecido como Pico Base (no exemplo, m/z 105), que é arbitrariamente assinalado com intensidade relativa de 100. A abundância de todos os outros picos no espectro é reportada como abundância relativa em relação ao pico base. A massa molecular de um composto pode ser deduzida através do valor do íon molecular, que usualmente é o pico de maior valor de m/z (fora seus isótopos mais pesados). Em algumas técnicas de ionização, o íon molecular é obtido na forma de molécula protonada [M+H]+, desprotonada [M-H]- ou cationizada. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 12 Massa molecular e atômica A massa de átomos e moléculas é expressa em termos de unidade de massa atômica (u; que é igual a 1/12 da massa do isótopo 12-C, que por sua vez possui massa = 12). Dalton (Da) é outra forma de expressar a massa atômica. Diferentes termos são usados para expressar massa molecular: Massa nominal: massa calculada a partir dos isótopos mais abundantes dos elementos (ex: 1H = 1, 12C = 12). Massa monoisotópica: massa calculada a partir da massa exata dos isótopos mais abundantes (ex: 1H = 1,007825; 12C = 12,000000) Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 13 Massa média: massa calculada a partir da massa atômica de cada elemento (ex: H = 1,00797; C = 12,01115). Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 14 Razão massa/carga (m/z) Os dados resultantes da análise por MS são apresentados como m/z, que é definido como a massa do íon (m) dividido pela sua carga (z). Íons carregados multiplamente são formados pela protonação de vários sítios diferentes, e o valor de z será > 1. Isso é comum para biomoléculas utilizando a ionização por eletrospray [M + nH]n+/n, onde n = número de prótons adicionados no processo de ionização. Logo, M e m/z irão ter valores diferentes. A unidade para m/z é o Thomson (Th), mas usualmente não se usa unidade. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 15 Já que a ionização do analito é a primeira etapa na análise de qualquer classe de composto por MS... Idealmente, uma fonte de ionização deve ter: - Alta eficiência de ionização - Alta estabilidade na formação dos íons - Baixo ruído - Baixa contaminação cruzada entre amostras sucessivas - Baixa formação de íons indesejados Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 16 A escolha da melhor técnica dependerá da natureza da amostra, sendo crucial para o sucesso da análise. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 17TÉCNICAS DE IONIZAÇÃO EM FASE GASOSA IONIZAÇÃO POR ELÉTRONS (ELECTRON IONIZATION; EI) É uma das técnicas mais antigas de ionização. Empregada para análise de compostos de baixa massa molecular (< 600 Da), voláteis e termicamente estáveis. Compostos pouco ou não voláteis e instáveis termicamente podem ser analisados após etapa de derivatização. Amostra na fase gasosa e fonte de ionização em alto vácuo. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 18 No processo de ionização, moléculas da amostra vaporizada são bombardeadas por um feixe de elétrons em ambiente de baixa pressão (~ 10-5 à 10-6 torr). Na colisão, a molécula perde 1 elétron, convertendo-se num íon positivo com número ímpar de elétrons (íon molecular ou cátion radical). Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 19 Para que a ionização ocorra, a energia cinética do feixe de elétrons deve exceder a energia de ionização das moléculas da amostra. Convencionalmente, a energia do feixe de elétrons é de 70 eV. O excesso de energia ganho pela molécula ionizada causa sua dissociação em íons fragmentos de massa menor. Alguns desses íons podem ainda ter energia suficiente para fragmentar uma segunda vez. O padrão de fragmentação é característico de cada estrutura e pode ser usado para sua identificação. Como a massa do elétron perdido pode ser negligenciada (em equipamentos com analisadores de baixa resolução), o valor de m/z do íon pode ser interpretado como uma medida direta de sua massa molecular. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 20 O valor de 70 eV representa um platô no qual pequenas variações na energia do feixe de elétrons não irá afetar drasticamente a eficiência de ionização de muitos compostos orgânicos. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 21 Esquema de uma fonte de EI Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 22 Sample Fonte de EI 2 tipos diferentes de filamentos Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 23 1 eV ≈ 23 kcal mol -1 ≈ 96 kJ mol -1 Ionização de molécula orgânica requer ~ 7 – 10 eV As ligações mais fortes em química orgânica ~ 4 eV Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 24 Facilidade de remoção dos elétrons: n > C=C (π) > C-C (σ) > C-H (σ). A carga é representada sobre o átomo quando puder ser localizada. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 25 Espectro de massas (EI) da benzamida. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 26 GC-MS: O casamento perfeito! Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 27 Análise de GC/MS: Cromatograma de íons totais e espectro de massas extraído do pico 1.7 min Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 28 Biblioteca espectral: NIST Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 29 Derivatização A priori, torna o analito mais volátil Auxilia o processo de injeção Elimina sítios polares Melhora a simetria do pico cromatográfico CG-EM: derivatização Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 30 Trimetilsililação - TMS R Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 31 N OTMS F F F N – Metil-N-trimetilsilil-trifluoroacetamida MSTFA 1969 Donike J. Chromatogr. 42, 103. O OH MSTFA 60oC/20 min O O Si Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 32 Efeito da derivatização na análise da androsterona Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 33 Vantagens e limitações da Ionização por elétrons: - Simples de usar - Possibilita utilizar uma biblioteca espectral (> 10K compostos já descritos). - Analito deve estar na forma gasosa antes da ionização: restrição quanto à compostos lábeis termicamente e não-voláteis. - Alguns compostos são pouco estáveis nas concisões de EI e fragmentam exaustivamente, impossibilitando a detecção do íon molecular. - Etapa de derivatização é mais complicada para análise de compostos em nível traço. - Derivatização pode formar compostos indesejados. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 34 IONIZAÇÃO QUÍMICA (CHEMICAL IONIZATION; CI) Considerada uma técnica de ionização branda, menos energética do que EI, e gera poucos ou nenhum fragmento. Uma opção de análise para compostos quem são pouco estáveis frente à EI, onde não se observa o íon molecular. A ionização ocorre através de reações ácido-base em fase gasosa entre as moléculas da amostra e íons do gás reagente. A geometria da fonte de CI é parecida com a de EI, porém algumas modificações são necessárias (redução de algumas aberturas, maior voltagem do feixe de elétrons, vácuo mais eficiente para remoção do gás reagente, etc). Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 35 Na primeira etapa do processo de ionização, um gás reagente é ionizado através do bombardeamento com um feixe de elétrons de 200-500 eV. Na segunda etapa, íons estáveis oriundos do gás reagente são formados através de reações íon-molécula. Na terceira etapa, as moléculas da amostra são ionizadas por reações em fase gasosa com os íons do gás reagente. A ionização das moléculas da amostra ocorrem por transferência de prótons (reações ácido-base), formando os íons [M + H]+. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 36 Esquema da ionização química (CI) Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 37Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 38 Isobutano e amônia são outros gases reagentes Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 39 A reação irá ocorrer quando a afinidade protônica da molécula do analito exceder a do gás reagente. Logo, diferentes gases possuem seletividades diferentes. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 40 Espectros EI x CI: feromônio methyl (E)-3-(2-hydroxyethyl)-4- methyl-2-pentenoate MM = 172 g/mol S. L. Lapointe et al. J. Chem. Ecol. (2012) Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 41 DETERMINAÇÃO DA MASSA MOLECULAR - É importante identificar o íon molecular pois ele fornece a massa molecular do composto. - Nem sempre é possível observá-lo devido a alta fragmentação da molécula. Uma alternativa é usar uma energia de ionização menor ou usar a Ionização Química. - A intensidade do íon molecular depende de sua estabilidade. - O pico do íon molecular corresponderá ao íon de maior massa do espectro, excluindo os picos dos isótopos. - O íon deverá ter um número ímpar de elétrons (cátion radical) Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 42 - Em geral, os seguintes grupos de compostos darão picos relativamente intensos do íon molecular: Aromáticos > Alquenos conjugados > compostos cíclicos > Sulfetos orgânicos > Alcanos de cadeia curta. - Picos que podem ser reconhecidos são usualmente produzidos no caso de: Cetonas > Aminas > Ésteres > Ácidos carboxílicos ~ aldeídos ~ amidas ~ halogenetos. - Com frequência, não se observa o íon molecular em Álcoois alifáticos, Nitritos, Nitratos, Nitrocompostos, Nitrilas e compostos muito ramificados. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 43 - A presença de picos: M-15 (perda CH3), M-18 (perda H2O) e M-31 (perda OCH3) são bons indicativos da presença de íon molecular. - Picos na faixa de M-3 a M-14 indica que o pico tomado como íon molecular está incorreto. - Perdas de fragmentos de massas 19-25 Da são incomuns. - Perda de 16 (O), 17 (OH) e 18 (H2O) indicam a presença de átomo de oxigênio. Prof.Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 44 - A regra do nitrogênio ajuda a identificar o íon molecular: • O íon molecular terá um valor de massa PAR se uma molécula possuir um número PAR de átomos de nitrogênio ou não tiver nitrogênio. • Se uma molécula possuir número ÍMPAR de átomos de nitrogênio, o íon molecular terá valor de massa ÍMPAR (válido para compostos com C, H, O, N, S, X, etc). - Regra dos 13: • Gera fórmulas moleculares possíveis para uma dada massa molecular. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 45 - Regra dos 13: • O primeiro passo é gerar uma fórmula base que contenha apenas C e H. • Divide-se a massa molecular por 13 (C+H), o que gera um numerador n e um resto r: M/13 = n + r/13 • Logo, a fórmula base: CnHn+r • Para essa fórmula, o IDH pode ser calculado: IDH = ( n – r + 2 )/2 • Para incluir átomos além de C e H, deve-se subtrair a massa de uma combinação de C e H igual a massa do átomo a ser incluído (ex: O = 16 = CH4). • Ex: MM = 94 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 46Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 47 ESPECTROMETRIA DE MASSAS DE ALTA RESOLUÇÃO (EMAR) - Quando existe uma alta resolução de picos adjacentes, o valor de m/z dos íons pode ser medido com uma maior precisão. - A massa de um íon é calculada usando as massas dos isótopos mais abundantes. - Usando a EMAR, é possível obter a fórmula molecular exata da molécula de interesse. Ex: medida com baixa resolução: 98,0 medida com alta resolução: 98,0372 C4H4NO2 98.0242 C4H6N2O 98.0480 C4H8N3 98.0719 C5H6O2 98.0368 formula correta C5H8NO 98.0606 C5H10N2 98.0845 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 48 RAZÃO ISOTÓPICA - A contribuição de isótopos mais pesados nos íons formados gera picos de massa M+1, M+2, etc. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 49 - Etano possui fórmula C2H6, logo seu íon molecular terá m/z 30 (2 x 12C) + (6 x 1H) = 30 - Entretanto, 1,11% de carbono é 13C, isto é, existe 1,11% de probabilidade de existir 13C na amostra de etano (como são dois átomos 2 x 1.11% or 2.22%). - No espectro de massas de etano espera-se um pico de m/z 31 (M+1) devido a contribuição do 13C. Este pensamento também é aplicado a outros elementos - A abundância do deutério é muito pequena comparada à do 13C, logo, sua contribuição é muito baixa para ser considerada. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 50 - Para moléculas com número alto de carbono, os picos dos isótopos se tornam mais importantes e intensos. - Para moléculas contendo Cl ou Br, os picos dos isótopos tornam-se diagnósticos de suas presenças. • A ocorrência natural do átomo de cloro é: 35Cl = 75,77 % e 37Cl = 24,23 % • A ocorrência natural do átomo de bromo é: 79Br = 50,52 % e 81Br = 49,48 % - O efeito de vários Cl e Br é aditivo M+ M+1 M+2 M+3 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 51 Espectro de massas de diferentes combinações de cloro e bromo Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 52 FRAGMENTAÇÃO: Aspectos gerais - A colisão da molécula com os elétrons de alta energia causa, além da perda do elétron da camada de valência, o aumento do estado de energia vibracional da molécula. Essa energia é dissipada através da quebra de ligações, formando os fragmentos. - Somente os íons de carga positiva são observados e os íons mais estáveis terão maior abundância relativa. - A fragmentação do íon molecular pode ocorrer por quebra homolítica ou heterolítica. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 53 - Em geral, a maioria dos fragmentos possuem massa ímpar - Íon molecular par gera fragmentos de massa ímpar por quebra simples de ligação. Fragmentos de massa par de um íon molecular par são gerados por quebra de mais de uma ligação (rearranjo). - Íon molecular ímpar possui, pelo menos, 1 nitrogênio em sua estrutura. Ele gera fragmentos de massa ímpar. Um fragmento de massa par deve conter o átomo de nitrogênio da estrutura. Exemplos: Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 54 M+. m/z 134 92 m/z 92 91 51 65 10539 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica - Na quebra homolítica, os fragmentos são um cátion com número par de elétrons e um radical com número ímpar de elétrons. - Na quebra heterolítica, um par de elétrons se desloca na direção da carga positiva. 55Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 56 Existem algumas regras gerais de previsão dos picos presentes num espectro de EI: • O pico de íon molecular tem maior altura relativa nos compostos de cadeia linear (a intensidade diminui com a ramificação). • A intensidade relativa do íon molecular usualmente diminui com aumento da massa molecular em uma série homóloga. • O processo de fragmentação é favorecido nas ligações dos átomos de carbono ramificado (quanto mais ramificado, mais provável a quebra). Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica - Ligações duplas, estruturas cíclicas e anéis aromáticos estabilizam o íon molecular (aumentando a probabilidade de formação). - As ligações duplas em cicloalcenos favorecem a quebra alílica e dão origem a carbocátions alila estabilizados por ressonância. - Anéis saturados tendem a perder as cadeias laterais na ligação alfa. 57Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 58 - Os anéis insaturados podem sofrer uma reação do tipo retro Diels-Alder - Em aromáticos alquil-substituídos, a quebra é mais provável na ligação beta ao anel para gerar o íon benzila estabilizado por ressonância ou o íon tropílio. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 59 - Ligações C-C próximas de heteroátomo frequentemente se quebram, deixando a carga no fragmento que contém o heteroátomo. - As quebras estão frequentemente associadas à eliminação de moléculas pequenas, neutras e estáveis. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 60 REARRANJOS - Os íons rearranjados são fragmentos cuja formação não pode ser descrita pela quebra simples de ligações. - São produzidos pelo rearranjo intramolecular dos átomos durante a fragmentação. Ex: rearranjo de Mac Lafferty Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 61 - Para que esse rearranjo seja possível, a molécula deve ter um heretoátomo em uma posição apropriada, um sistema π e um átomo de hidrogênio que possa ser abstraído, na posição γ (gama) em relação à carbonila. - A quebra simples (sem rearranjo) de um íon molecular de massa par dá origem a um íon molecular de massa ímpar e vice versa. - A observação de um fragmento com massa diferente da descrita acima (fragmento de massa par de um íon molecular par), indica um rearranjo de hidrogênio. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 62 ESPECTRO DE MASSAS DE ALGUMAS CLASSES QUÍMICAS Hidrocarbonetos Saturados: Alcanos - O íon molecular em n-alcanos (m/z = 14n+2) e iso-alcanos (m/z = 14n+2) possui intensidade fraca. - Como a estabilidade dos carbocátions é 3°>2°>1°, a quebra das ligações ocorrem preferencialmente nas ramificações. - A sequência de fragmentação é caracterizada por aglomerados de picos afastados por unidades de 14 Da (CH2). - Fragmentos: m/z 29, 43, 57, 71, 85, ..., 14n+1 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 63Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 64 Hidrocarbonetos Saturados: Cicloalcanos - O íon molecular (m/z = 14n) possui intensidade moderada - Cadeias laterais são facilmente perdidas -Fragmentos: 14n-1 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 65Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 66 Hidrocarbonetos insaturados: Alcenos - Íon molecular de alcenos (m/z = 14n) e alcenos cíclicos (m/z = 14n-2) possui intensidade moderada - Após a ionização, pode ocorrer a migração da ligação dupla dificultando a determinação de isômeros - Fragmentos: m/z 27, 41, 55, 69, 83, ..., 14n-1 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 67 Retro Diels-Alder Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 68Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 69 Hidrocarbonetos insaturados: Alcinos - Íon molecular possui intensidade moderada. - Alcinos terminais apresentam o íon M-1 intenso. - A fragmentação é similar a dos alcenos - Alcinos terminais formam o cátion propargila de m/z 39 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 70Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 71 Hidrocarbonetos aromáticos - O pico do íon molecular é intenso e poucos fragmentos são observados Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 72 - Quando grupos alquila estão ligados ao anel, é comum a formação do íon tropílio (m/z 91) pelo rearranjo do cátion benzílico. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 73 - Se a cadeia lateral do anel for suficientemente longa, pode ocorrer o rearranjo de Mc Lafferty M+. 134 92 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 74 Álcoois e Tióis (X = O, S) - O pico do íon molecular de álcoois 1° e 2° são pouco intensos. Já em álcoois 3° são ausentes. - O maior grupo alquila geralmente é perdido. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 75 - A desidratação (M-18) é uma forma comum de fragmentação. Como resultado, o espectro de massas corresponderá a olefina correspondente. • Eliminação-1,2 geralmente ocorre na superfície aquecida da câmara de ionização • Eliminação-1,4 resulta do processo de ionização. - Álcoois de cadeia longa apresentam picos com sucessivas perdas de H (M-1, M-2 e M-3). - Álcoois com mais de 4 carbonos pode sofrer rearranjo e gerar água (M-18) e etileno (M-28). Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 76Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 77 - Álcoois cíclicos fragmentam de forma similar • Clivagem alfa • Desidratação m/z 57 M - 18 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 78Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 79 - Álcoois benzílicos Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 80Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 81 Fenóis - O pico do íon molecular é intenso. Geralmente M-1 também é intenso. - É comum a perda de CO (M-28) e HCO (M-29). - Alquil-fenóis geram o íon tropiliol (m/z 107) Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 82Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 83 Éteres - Exibem o pico do íon molecular mais intenso do que álcoois. - O grupo alquila maior é usualmente perdido por clivagem alfa. - A perda da ligação CO para gerar carbocátion é observada, quando favorável. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 84 - Geralmente ocorre o rearranjo do íon oxônio se o carbono alfa for substituído - Éteres aromáticos, similarmente a fenóis, podem gerar o íon C6H5O + pela perda de grupo alquila ao invés de H. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 85Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 86Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 87 Aminas - Número ímpar de átomos de nitrogênio confere massa ímpar - A clivagem alfa é a reação mais importante - Perda de amônia (M-17) é incomum - Rearranjo de Mc Lafferty geralmente não é observado, mesmo para aminas de cadeia longa Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 88 - Espectro de massas de aminas cíclicas é complexo e varia de acordo com tamanho do anel - Aminas aromáticas possuem íon molecular intenso - A perda de H, seguida da expulsão de HCN é típico de anilinas Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 89 M+ 87 - Pentilamina (amina primária) 30 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 90 Halogênios - Compostos halogenados geralmente apresentam íon molecular intenso - Compostos com F e I não apresentam contribuição isotópica apreciável - Cl e Br apresentam picos M+2 intensos (para o Cl, a razão de M para M+2 é ~ 3:1; para o Br 1:1) - A principal fragmentação é a perda do halogênio, formando um carbocátion. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 91 - Perda de HX é comum - Também ocorre clivagem alfa - Em cadeias longas observa-se perda > do carbono gama Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 92 M+ 126 M+2 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 93 M+ 136 M+2 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 94Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 95 Aldeídos e cetonas - Íon molecular fraco para alifáticos e intenso para aromáticos - A clivagem alfa forma íons R+ e RCO+ - Rearranjo de Mc Lafferty é observado na presença de H-gama Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 96 - Aldeídos e cetonas aromáticas Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 97Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 98Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 99 Ésteres - Íon molecular fraco para alifáticos e intenso para aromáticos - A clivagem alfa forma íons do tipo R+, RCO+, R’O+, ROCO+ e R+ - Rearranjo de Mc Lafferty ocorre em cadeias longas Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 100Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 101 - Clivagem gama Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 102Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 103 Ácidos carboxílicos - Íon molecular fraco para alifáticos e intenso para aromáticos - A clivagem alfa envolve perda de OH (M-17), COOH (M-45) e formação de OCOH (m/z 45). Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 104 - Rearranjo de Mc Lafferty ocorre em cadeias longas - Clivagem gama ocorre em cadeias longas Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 105 M+. 102 60 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 106 M+. 136 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 107 Amidas - Aplica-se a regra de Nitrogênio - A clivagem alfa em amidas primárias gera fragmento de m/z 44. - Rearranjo de Mc Lafferty ocorre em cadeias longas Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 108 M+. 87 59 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 109 Nitrilas - Aplica-se a regra de Nitrogênio. - Observa-se a perda de H (M-1) do carbono alfa. - Perda de HCN (M-27). - Rearranjo de Mc Lafferty ocorre em cadeias longas gerando íon m/z 41. Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 110 Ex: Propionitrila M+. 55 M-1 54 - HCN Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 111 Nitro compostos - Aplica-se a regra de Nitrogênio. - Fragmentações características são perdas de oxigênio (M-16), NO (M-30),NO2 (M-46) e NO+ (m/z 30). Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 112 Nitro compostos - Nitro aromáticos apresentam os seguintes fragmentos Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 113 M+. 89 NO2 + 46 NO+ 30 43 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 114 M+. 137 107 C5H5 + 91 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 115 ANÁLISE SISTEMÁTICA DO ESPECTRO DE MASSAS I. Análise da região do íon molecular a) Intensidade do íon molecular, o que sugere? b) O íon molecular é par ou ímpar? (regra do nitrogênio) c) O perfil da região do íon molecular sugere a presenças de algum halogênio? d) Qual fórmula os dados sugerem? (regra dos treze) e) Algum pico M-1? f) Qual índice de deficiência de hidrogênio (IDH)? Cálculo IDH = C + 1 – H/2 – X/2 + N/2 Onde, C = número de carbonos H = número de hidrogênios X = número de halogênios N = número de nitrogênios Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 116 II. Análise dos Fragmentos a) A análise dos íons sugere algum processo de rearranjo ou retro Diels Alder? (íon molecular par fragmento par) b) Fragmentos eliminados com facilidade Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 117 II. Análise dos Fragmentos c) Fragmentos iônicos comuns Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 118 Exercícios resolvidos: Sugira a fórmula molecular, estrutural e rotas de fragmentação para os compostos que apresentaram os seguintes espectros de massas por EI. a) Um ácido carboxílico Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 119 FM = C4H8O2 M-28 M-15 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 120 b) Uma cetona Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 121 148 120 105 77 51 M-28 M-28 M-43 FM = C10H12O Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 122 M+. m/z 148 m/z 105 m/z 77 m/z 120 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 123 c) Uma cetona 134 91 92 65 51 43 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 124 134 91 92 65 51 43 C4H3 + FM = C9H10O Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 125 M+. m/z 134 m/z 43 m/z 119 m/z 91 m/z 91m/z 55 m/z 77 m/z 92 m/z 51 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica 126 Sugira a fórmula molecular, estrutural e rotas de fragmentação para a amida que apresentou o seguinte espectro de massas por EI. 87 72 59 44 Prof. Dr. Rafael Garrett – Departamento de Química Orgânica
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