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UTA C FASE II FUNDAMENTOS FILOSOFICOS DA EDUCAÇÃO CAPITULO 2

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FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO 
CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL – UNINTER 
CAPITULO 2: 
O NATURALISMO 
 
 
Naturalismo 
 
Caracterizado no período moderno: com dois autores principais, Voltaire e 
Rousseau. 
Século XVII e XVIII, procura entender o homem no seu contexto civilizatório, 
procurando entender se o homem é resultado do meio ambiente ou se era 
resultado de uma mera cultura. 
 
Principal ponto do naturalismo: relação, divisão, entre natureza e 
civilização 
O Naturalismo postula um retorno a nós mesmos, à nossa verdadeira essência 
A civilização é artificial: origem dos males morais e até físicos (VASCONCELOS, 
2011, p. 48) 
 
Desenvolvimento 
• Iluminismo (século XVIII): século do esclarecimento, da razão, a sociedade é 
uma construção artificial, é fruto de um acúmulo de costumes e regras, que nem 
sabemos de onde surgiu. Os naturalistas chegaram as conclusões que estas 
regras não são naturais. Como é que podemos formular regras melhores para a 
sociedade, daí veio a ideia de fazer regras claras. 
 
Questões centrais do Iluminismo 
O homem queria ser livre. A revolução francesa é o resultado direto das ideias 
do iluminismo. 
Ideias de se as leis não garantem a liberdade elas não são válidas. Se somos 
livres podemos decidir o que fazer. Que não devemos ter um estado que controle 
tudo que eu faço, que eu posso fazer, mas sim um estado que garanta a minha 
vontade, com prudência, com leis que garantam a liberdade. 
 
Montesquieu: em o espírito das leis diz que as leis só devem existir para garantir 
a liberdade humana. 
 
• Liberdade e compreensão da natureza humana 
 
Contextualização 
Rousseau (1712-1778) 
Rousseau escreveu um livro próprio para a educação, criticando o contexto 
educacional da época, e que consequentemente visa favorecer o nosso 
entendimento sobre o ensino, o que se entende por ensino, quais são os 
aspectos relevantes do ensino, será que só ensinar é suficiente, será que a 
educação se restringe somente a um cumprimento de regras, de formas. 
Onde está o principal ponto de apoio da educação? 
 
A natureza é essencialmente boa, o que não é possível afirmar sobre a 
civilização: nem sempre o que a civilização produz é bom. 
A ideia de propriedade privada levou o homem a se corromper. Maldito o homem 
que fincou uma estaca no chão e disse: “aqui é meu, ali é seu”. O problema não 
tanto esse, que o homem disse, o problema é que os outros homens acreditam. 
O homem que vivia na natureza, onde tudo era de todos, não havia propriedade 
privada, esse era o homem natural. 
Rousseau utilizou os dados do caso dos indígenas das américas onde não havia 
a propriedade, havia o compartilhamento da propriedade em comum e o homem 
vivia bem, porque o problema para ele era viver, se manter. 
O homem deixou de ser natural com a posse das coisas, tendo as coisas, 
começaram as trocas, que começou a corromper o homem, então o homem 
deixou de ter o cuidado consigo, deixou de cuidar de si, ter o cuidado consigo, o 
amor de si, passou a ter o cuidado com o cuidado com o que era dele o que lhe 
era próprio, passou a ter o amor próprio (de sua propriedade). 
Rousseau crítica como a sociedade se desenvolveu, não defendia que o homem 
devesse voltar a natureza, porque sabia que isso era impossível. Tínhamos que 
entender que calcada apenas na propriedade privada a convivência entre os 
homens é falsa. Sou seu amigo não porque eu gosto de você, mas sim porque 
você pode ser um indivíduo que me dê uma vantagem, cargo na empresa, possa 
compartilhar seus bens como chácara, piscina comigo, quando o indivíduo age 
assim ele está agindo corruptamente, agindo artificialmente. Para Rousseau o 
natural é o homem se relacionar porque se sente bem com o outro, compartilham 
as mesmas ideias, se sente bem na companhia, tem afinidades sem esperar algo 
em troca. 
O mérito do conhecimento não está no que você herda, mas sim do que você 
conquista. 
 
As questões filosóficas da modernidade não se restringem somente ao campo 
do conhecimento. Da problemática do conhecimento, outras temáticas também 
surgiram, como a questão da política, em autores como Locke, Kant, Robes. 
Preocupações éticas, preocupações sobre a compreensão da sociedade, 
embora seja uma preocupação política, mas preocupado em querer entender 
como a organização social em si trouxe de problemas para a convivência 
humana, com isso temos a corrente filosófica chamada naturalismo. 
A relação que está atrás deste problema de convivência, é a relação entre 
civilização (sociedade) e natureza. Esse problema não existia antes da 
modernidade, pois a sociedade era resultado do próprio contexto natural, ou seja 
o homem naturalmente é um ser político. 
Aristóteles, dizia, que o homem é um ser naturalmente político. 
 
No contexto medieval se compreendia de fato de que Deus criou o homem, para 
ser o homem que convive, a sociedade é criada por Deus, o contexto social é 
compreendido como algo natural. 
 
Somente na modernidade que se procurou compreender melhor essa questão, 
será que estes costumes, regras tem uma justificativa natural? Será que a única 
forma de organização política é com o rei? Será que as regras morais, etiquetas, 
padrões de conduta são naturais, ou são meramente artificiais que romperam 
com a ordem natural do homem? 
 
Na modernidade o homem é caracterizado de dupla forma, o homem natural e o 
homem civil. 
O homem natural é uma hipótese dos filósofos da modernidade. 
 
O Contrato Social (1762) 
Necessidade de um retorno à natureza, fundado no reconhecimento da 
igualdade dos direitos naturais dos homens 
 
Ideias da obra Emílio ou Da Educação (1762) 
a) Promover a liberdade: a educação é uma educação para a liberdade, é preciso 
deixar a criança aprenda por conta própria. Não é para restringir, mas promover 
formas diferentes de pensar, preparar a criança para ser possuidora de algo. O 
importante, o mérito não está no que você tem, mas o que você conquista, não 
está falando somente de bens, mas principalmente do conhecimento. 
 
b) Estimular a experiência sensorial: a criança deve viver a realidade, não é 
alguém falar para ela como é, é fazê-la aprender com o erro. Jamais a criança 
vai aprender com o erro de seu pai. 
 
c) O problema do castigo físico: jamais podemos pensar o castigo físico como 
educação. A própria experiência deve conduzir a criança para uma conclusão 
adequada. 
 
d) Relação entre amor de si e amor-próprio (moral ou educação negativa): amor 
de sí, são todas ações do homem visando o cuidado de si, como a preocupação 
com a saúde. Amor próprio é quando deslocamos a preocupação da pessoa para 
um bem material, uma imagem (sou o rei, sou o juiz). 
“Tudo está bem ao sair das mãos do autor das coisas; tudo degenera entre as 
mãos do homem.” (Rousseau) 
 
3- Voltaire (1694-1778) (Jean Marie Arue) 
Extremamente crítico a um problema central desta época que é a 
intolerância. 
Embora este filósofo defendia a liberdade humana, ele vivia em uma sociedade 
em que a liberdade era muito restrita, não havia muitas condições de liberdade. 
O sistema político que havia na França era o absolutismo, em que o Rei detinha 
todo o controle do estado. As leis eram para controlar o indivíduo, para fazer com 
que o indivíduo fosse súdito. Baseado no poder arbitrário do Rei, previa sérias 
punições aos que se recusassem a ser súditos. 
Daí vem a frase: “manda prender e manda soltar”. 
A sociedade vivia em constante insegurança, não havia segurança nas relações 
sociais, uma vez que os Reis cerceavam a liberdade dos indivíduos. 
O naturalismo chegou-se à conclusão de que o poder do Rei não é natural. 
 
Voltaire defendia a tolerância religiosa e a pluralidade de crenças. Qualquer 
postura, de crença, o indivíduo já era penalizado, era execrado. 
Voltaire dizia que o que gera intolerância é a ignorância, é a falta de 
conhecimento, falta desabedoria. 
Acumulo de conhecimento não é sabedoria, sabedoria é ter discernimento com 
o conhecimento. 
Intolerância ao indivíduo pensar diferente, ter orientação sexual diferente, étnica, 
origem sociocultural diferente da nossa. O indivíduo que tem essa intolerância, 
conforme Voltaire, é o que não tem esclarecimento não tem discernimento. 
Ideia da obra de Voltaire importante para a educação: “Cândido ou o 
Otimismo”: 
Obra que tem o mentor Panglós e o aluno Cândido. O mestre leva o aluno para 
vários lugares diferentes e ensina com um conhecimento já pronto, formatado, 
dado por certo. O aluno vai se questionando a todo momento a respeito dos 
conhecimentos que o mestre lhe ensina. Quando o Panglós apresenta ao jovem 
Candido uma sociedade que tem os costumes, comportamentos diferentes dos 
dele, o aluno se questiona se estes costumes, comportamentos estão certos ou 
errados. O mestre não consegue responder as questões do aluno. Não tem um 
padrão moral de origem cultural correto, tem um padrão de conduta diferente, 
naquele contexto os indivíduos se comportam e se aceitam daquela maneira, no 
nosso contexto nos comportamos a nos aceitamos de maneira diferente. Não 
quer dizer que devemos ser intolerantes com o comportamento daquela maneira. 
A obra de Cândido é uma obra do ensino para mostrar que muitas vezes o nosso 
ensino já apresenta um conhecimento já pronto, estanque, e não nos mostra que 
o principal do conhecimento não é isso que não nos tornam em sujeitos 
esclarecidos. Voltaire escreveu contra as características culturais da educação 
de sua época, que era de dar ao sujeito um padrão de conduta mais formalizado, 
até porque a educação era mais para a elite, educação formal para formar a 
etiqueta da nobreza, ao tomar um bom vinho, como se vestir, como assistir um 
teatro. A própria palavra etiqueta é um padrão, um padrãozinho, pequeno, até 
porque os padrões de etiqueta mudam de acordo com a época. 
Voltaire defendia que se eu não concordo com o que você diz, eu devo respeitar 
o direito de você dizer. 
Esclarecido não é passividade, posso respeitar mas não concordar. 
 
• dicotomia entre saber formal e realidade: 
“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas 
defenderei até a morte o direito de você dizê-las.” (Voltaire) 
 
Aplicação Prática 
Influências para a Educação 
A educação nunca foi um objeto da filosofia propriamente dito, Voltaire e 
Rousseau, se não foram os pioneiros, foram os mais marcantes filósofos, do 
resgate os fundamentos filosóficos da educação. Que iniciaram a discussão no 
tema se a educação colabora ou não colabora para o desenvolvimento das 
potencialidades humanas. A educação com sua perspectiva moral ela realmente 
torna o homem melhor, ou colabora para que o homem fique prisioneiro, restrito 
a uma visão superficial da realidade. 
A opinião desses 2 autores defende que o esclarecimento do indivíduo, a 
capacidade de melhora do indivíduo como pessoa depende exclusivamente da 
educação. 
Voltaire afirma que a educação formal não tem sentido, porque ela nos afasta 
dos problemas reais, não importa aprender como se comportar em uma mesa, 
se referindo a etiqueta, e sim importa entender o problema de como os alimentos 
chegam até a mesa, quem está por trás disto, quem produz, como chegou até 
ali, quantos que não o tem, como você tem, qual o mérito de tê-la. Essas 
questões que a educação deve chamar a atenção do indivíduo, para promover 
a igualdade, não a desigualdade. A educação da época colaborava para a 
intolerância. A educação de Voltaire tem o sentido de promover o respeito pelo 
outro, no sentido que vou tolerar as suas ideias, mesmo discordando. 
É a promoção do espaço de debate. Quando debatemos com que tem ideias 
diferentes da nossa, tende a melhorar as nossas próprias ideias, uma vez que 
isso promove o esclarecimento. 
Se eu não vejo algo diferente, eu não vejo nada diferente daquilo que eu faço, 
estou tão acostumado a fazer aquilo que eu faço, que eu não vejo porque que 
eu faço assim, eu não questiono porque que eu faço assim. Isto é algo muito 
interessante no pensamento de Voltaire. 
 
O que eu estou promovendo na sala de aula que permita ao meu aluno ter uma 
atitude de respeito em relação as ideias diferentes, posturas diferentes, o que 
que eu estou colaborando para que o meu aluno amplie a sua visão de mundo? 
Ideias essencial de Voltaire. 
 
Naturalismo: promoveu uma reflexão sobre o papel da educação, que era 
desvinculado dos problemas reais. 
Educar para não é educar para a restrição, educar é educar para a 
liberdade, educar para a multiplicidade, para que o indivíduo consiga entender o 
que é correto e o que não é correto. 
O problema na época de Voltaire era o problema da desigualdade. 
O problema da moral negativa: para Rousseau a educação deve 
proporcionar um espaço em que as crianças experimentem aquilo que é 
adequado para a convivência, (espírito colaborativo, condições de 
respeitabilidade, atitudes de solidariedade, respeitabilidade). Promover a 
educação em que se evite os vícios, como competitismo, egoísmo (propriedade 
privada). 
Rousseau sugere que a educação retire a criança do espaço social, para que ela 
se eduque fora da sociedade. Era tão problemática a educação que ela 
começava a restringir a criança desde os primeiros meses de vida (referindo-se 
aos cueiros). 
 
Síntese 
 
Questões 
Qual a importância de o homem perceber a separação entre natureza e 
civilização? 
A civilização não é algo natural, é algo artificial. O afastamento entre natureza e 
civilização foi levando a um processo de deturpação social (surgiram os 
problemas sociais). A importância é de se notar que os principais problemas 
sociais de hoje são decorrentes do distanciamento entre o homem civilizado do 
homem natural. 
 
Reflexão: • Por que houve esta separação? • Quais são as consequências? 
Esta separação houve por decisão da humanidade, como o surgimento da 
sociedade privada, no momento em que alguns começaram a adquirir alguns 
status perante os outros, o que levou o de maior status a adquirir uma posição 
intolerante perante os outros. A marca principal do naturalismo é chamar a 
atenção para a liberdade, e que a principal consequência da separação a 
natureza e a civilização é a perda da liberdade. 
Quanto mais nos afastamos da natureza, e mais entramos num processo 
civilizatório de regras, de padrões de condutas fixadas de um conjunto de 
determinações já prontas e acabadas nós perdemos a nossa liberdade. O 
homem se torna mais livre, quando ele percebe que as questões sociais é uma 
construção, é fruto de uma arbitrariedade. Se assim o for é possível ter o 
entendimento que as leis possam garantir nossa liberdade. Mas se não 
percebermos que existe este afastamento da natureza, as leis podem servir 
como algo que restringe essa liberdade. 
A educação vem como grande pano de fundo nessa situação: 
- o que que faz com que o ser humano se torne civilizado é a própria 
educação, que ele se afaste da natureza. 
- é a própria educação que fará com que esses próprios indivíduos 
desenvolvam características próprias do homem natural, como a tolerância, 
homem colaborativo, entender que o outro é igual e merece o respeito. Isto nos 
fará livres, que possibilitará uma convivência fraternal, isso é, em um ambiente 
em que um ajuda o outro. 
 
“A arte de interrogar é bem mais a arte dos mestres do que as dos discípulos; é 
preciso ter já aprendido muitas coisas para saber perguntar aquilo que se não 
sabe.” (Rousseau)

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