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AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM Alba Lúcia Gonçalves Jeanes Martins Larchert Fevereiro 2012 Universidade Estadual de Santa Cruz Reitor Prof. Antonio Joaquim da Silva Bastos Vice-reitora Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro Pró-reitora de Graduação Profª. Flávia Azevedo de Mattos Moura Costa Diretora do Departamento de Ciências da Educação Profª. Raimunda Alves Moreira Assis Ministério da Educação Ficha Catalográfica 1ª edição | Janeiro de 2012 | 476 exemplares Copyright by EAD-UAB/UESC Projeto Gráfico e Diagramação Jamile Azevedo de Mattos Chagouri Ocké João Luiz Cardeal Craveiro Capa Sheylla Tomás Silva Impressão e acabamento JM Gráfica e Editora Todos os direitos reservados à EAD-UAB/UESC Obra desenvolvida para os cursos de Educação à Distância da Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC (Ilhéus-BA) Campus Soane Nazaré de Andrade - Rodovia Ilhéus- Itabuna, Km 16 - CEPE 45662-000 - Ilhéus-Bahia. www.nead.uesc.br | uabuesc@uesc.br | (73) 3680.5458 Pedagogia | Módulo 4 | Volume 6 - Avaliação da Aprendizagem A945 Avaliação da aprendizagem : Pedagogia, módulo 4, volume 6 – EAD / Elaboração de conteúdo : Alba Lúcia Gonçalves, Jeanes Martins Larchert. – Ilhéus, BA : EDITUS, 2011. 100 p. : Il. ISBN: 978-85-7455-264-4 1. Avaliação. 2. Aprendizagem. 3. Avaliação educa- cional. 4. Professores – Formação. I. Gonçalves, Alba Lúcia. II. Larchert, Jeanes Martins. III. Pedagogia : mó- dulo 4, volume 6 – EAD. CDD 371.26 Coordenação UAB – UESC Profª. Drª. Maridalva de Souza Penteado Coordenação do Curso de Pedagogia (EAD) Drª. Maria Elizabete Souza Couto Elaboração de Conteúdo Profª. Msc. Alba Lúcia Gonçalves Profª. Msc. Jeanes Martins Larchert Instrucional Design Profª. Msc. Marileide dos Santos de Olivera Profª. Msc. Cibele Cristina Barbosa Costa Profª. Msc. Cláudia Celeste Lima Costa Menezes Revisão Profª. Msc. Sylvia Maria Campos Teixeira Coordenação Design Msc. Saul Edgardo Mendez Sanchez Filho EAD . UAB|UESC PARA ORIENTAR SEUS ESTUDOS SAIBA MAIS Aqui você terá acesso a informações que complementam seus estudos a respeito do tema abordado. São apresentados trechos de textos ou indicações que contribuem para o apro- fundamento de seus estudos. LEITURA COMPLEMENTAR Indicação de leituras vinculadas ao conteúdo abordado. PARA CONHECER Aqui você será apresentado a autores e fontes de pesquisa a fim de melhor conhecê-los. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Prezado(a) aluno(a)! Neste módulo, refletiremos juntos/as a respeito da avaliação. E, quando estudamos a avaliação da aprendizagem, não podemos deixar de lado os estudos sobre a Educação, pois é a partir do conceito e da prática de educação que conseguimos situar a avaliação. Trazemos a temática da avaliação escolar dentro de um prisma social, político e pedagógico; neste caso estamos falando de uma educação inclusiva para todas as crianças, adolescentes, jovens e adultos da nação brasileira. Pela nossa experiência enquanto professores(as) e alunos(as), podemos afirmar que a avaliação da aprendizagem, durante muitos anos, tem sido um cumprimento de tarefa burocrática para atender ao sistema escolar. Entramos em uma rotina de aferir notas ou conceitos ao final das unidades e semestres para que a escola/universidade tenha sua organização sistêmica completa e, assim, todos, pais, alunos(as), diretores e professores cumpram as etapas do ano letivo. Com o objetivo de compreender a avaliação para além da nota e da tarefa burocrática, trazemos na Unidade I a contextualização da avaliação a partir de seu histórico e de conceitos que lhe são atribuídos. Destacamos que a avaliação da aprendizagem está inserida no contexto social, político, cultural e pedagógico da escola, refletimos sobre seu campo histórico e seus diversos sentidos quando utilizada para verificar, medir e examinar. Compreendemos que o ato de avaliar requer compromisso político e conhecimento sobre Educação, por isso a Unidade II apresenta os tipos de avaliação e os instrumentos avaliativos como parte integrante do planejamento docente. Na Unidade III, refletimos sobre a avaliação na formação do professor e com especial destaque a avaliação em cursos de EAD. Esperamos que seus estudos sejam permeados de organização e disciplina, e as aprendizagens deles resultantes tenham significados para e na sua formação. Bons estudos! AS AUTORAS Profª. Msc. Alba Lúcia Gonçalves Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC. Mestre em Educação, doutoranda em Edu- cação pela Universidade Federal da Bahia - UFBA, professora do Departamento de Ciências da Educação da UESC da Área de Ensino e Aprendizagem. Centraliza seus trabalhos na área de currículo com ênfase em educação escolar e formação de professor. E-mail: albauesc@yahoo.com.br Profª. Msc. Jeanes Martins Larchert Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de San- ta Cruz - UESC. Mestre em Educação, doutoranda em Educa- ção pela Universidade Federal de São Carlos/São Paulo, pro- fessora do Departamento de Ciências da Educação da UESC da Área de Ensino e Aprendizagem. Centraliza seus trabalhos nas áreas de currículo com ênfase em diversidade cultural, tec- nologia educacional e formação de professor. E-mail: jelarchert@yahoo.com.br SUMÁRIO UNIDADE 1 PRESSUPOSTOS EPISTEMOLÓGICOS DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM .............. 13 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 15 2 O CAMPO DA AVALIAÇÃO: HISTÓRICO E CONCEITO ............................. 17 2.1 Ensinar e aprender: fundamentos da avaliação da aprendizagem. ..... 17 2.2 Avaliação: um pouco de história ................................................... 21 2.3 Discutindo conceitos de avaliação. ................................................ 25 ATIVIDADE ................................................................................................ 29 2.4 Avaliar e examinar ..................................................................... 29 2.5 Avaliação e nota ....................................................................... 30 ATIVIDADE ................................................................................................ 36 3 ABORDAGENS DE ENSINO E DA AVALIAÇÃO ......................................... 36 3.1 Abordagem tradicional ................................................................ 37 3.2 Abordagem escolanovista ............................................................ 38 3.3 Abordagem tecnicista ................................................................. 39 3.4 Abordagem interacionista ............................................................ 40 ATIVIDADES .............................................................................................. 46 4 O ATO DE AVALIAR É UM COMPROMISSO POLÍTICO ............................. 47 ATIVIDADE ................................................................................................ 48 RESUMINDO .............................................................................................. 49 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................ 49 REFERÊNCIAS ............................................................................................50 UNIDADE 2 A AVALIAÇÃO NO PLANEJAMENTO DOCENTE: CENTRO DE ENSINO E DIAGNÓSTICO DA APRENDIZAGEM ........ 53 1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 55 2 TIPOS DE AVALIAÇÃO ........................................................................ 56 2.1 A avaliação da aprendizagem ...................................................... 57 2.2 Avaliação do sistema .................................................................. 62 3 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ......................... 66 3.1 Tipos de instrumentos e critérios de avaliação ................................ 67 ATIVIDADES ............................................................................................. 74 RESUMINDO .............................................................................................. 80 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................ 80 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 81 UNIDADE 3 AVALIAÇÃO NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR ....................85 1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 87 ATIVIDADE ................................................................................................ 90 2 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO PRESENCIAL E NA EAD ............................ 90 ATIVIDADES .............................................................................................. 96 RESUMINDO .............................................................................................. 97 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................ 98 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 98 DISCIPLINA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM EMENTA OBJETIVOS Estudo da teoria da avaliação e sua extensão ao cotidiano do professor, do estudante e das instituições educativas. O confronto entre avaliação formativa e a avaliação somativa e a avaliação processual. Carga horária: 60 horas Profª. Msc. Alba Lúcia GonçalvesProfª. Msc. Jeanes Martins Larchert 1. Compreender a avaliação da aprendizagem inserida no contexto social, político, cultural e pedagógico. 2. Conhecer o campo histórico da avaliação da aprendizagem e seus diversos sentidos, quando utilizada para verificar, medir e examinar. 3. Refletir e debater sobre as práticas avaliativas a partir das abordagens do ensino, compreendendo que o ato de avaliar requer compromisso político e conhecimento sobre Educação. 4. Desenvolver uma aprendizagem crítica sobre a avaliação escolar, tendo em vista o uso pedagógico da avaliação no planejamento do professor no que se refere à escolha dos instrumentos, a observação e apreciação das aprendizagens do(a) aluno(a). 5. Compreender a avaliação para que seja capaz de planejá-la nas diversas modalidades de ensino e aprendizagem. PRESSUPOSTOS EPISTEMOLÓGICOS DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM 1ª unidade Módulo 4 I Volume 6 15UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e 1 INTRODUÇÃO A finalidade de qualquer ação educativa deve ser a produção de conhecimentos que aumenta a consciência e a capacidade de iniciativa transformadora dos grupos. Paulo Freire, 1982. Nunca se falou tanto de avaliação como atualmente. De fato, este tem sido um discurso emergente na área de educação escolar e na formação de professores e constitui uma das vertentes abordadas nos estudos realizados durante o período de experimentação da reforma educativa. Pensa-se a educação não mais como uma ação isolada, mas inserida nas pautas sociais, políticas, econômicas e culturais, ou seja, passa-se da ideia de um sujeito isolado para a ideia de um sujeito social que constrói e reconstrói seu processo de aprendizagem durante seu percurso de vida. Assim, a avaliação da aprendizagem deixa de ter seu foco no desempenho individual, onde o sujeito sozinho é responsável pela sua aprendizagem, e passa a ter seu foco na construção coletiva da aprendizagem desse sujeito. Sabemos que este debate não está suficientemente amadurecido no discurso e nas práticas profissionais, quer na compreensão de conceitos básicos, nas modalidades e funções da avaliação, quer nos aspectos da sua aplicação concreta nas situações de ensino e aprendizagem. Por isso este curso de Pedagogia destaca em seu currículo o estudo da avaliação da aprendizagem. Esperamos que, na condição de futuro pedagogo(a), você entenda e reflita que o processo 16 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem avaliativo exige uma tomada de consciência que contribuirá na construção de uma ação docente comprometida com a sua aprendizagem e, por extensão, a do aluno. Procuramos organizar este texto levando em consideração alguns conceitos básicos e analisaremos algumas situações que envolvem o uso da avaliação. Para começar, reconhecemos que um dos aspectos mais complexos e polêmicos em educação é a avaliação da aprendizagem. Sua complexidade decorre do fato de que esta não pode ser vista descontextualizada da prática social e pedagógica dos sujeitos envolvidos no processo educativo. Não podemos retirá-la de determinado contexto e debatermos de forma isolada sobre ela. Faz-se necessário refletirmos: o que é avaliação? Como deve ser realizada? Quando deve ser aplicada? Para que e por quem deve ser realizada? Para darmos continuidade ao nosso estudo, necessitamos de que você pesquise e registre neste espaço um conceito de aprendizagem e outro de avaliação. ATENÇÃO! Estes conceitos devem ser escolhidos a partir da sua compreensão e reflexão acerca da aprendizagem e da avaliação. Para tanto, lance mão de suas aprendizagens nos diversos percursos e percalços como estudante e/ou professor(a). ...................................................................................... ..................................................................................... ...................................................................................... ...................................................................................... ..................................................................................... ..................................................................................... ..................................................................................... ...................................................................................... ...................................................................................... ..................................................................................... ..................................................................................... Módulo 4 I Volume 6 17UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e 2 O CAMPO DA AVALIAÇÃO: HISTÓRICO E CONCEITO Os conceitos atribuídos à avaliação correspondem às etapas históricas da educação. Para estudarmos sobre o histórico da avaliação e seus conceitos, recorremos a algumas leituras teóricas sobre o processo de avaliação da aprendizagem que está ligado a pressupostos da produção do conhecimento a partir das décadas de 1980 e 1990. Neste período, o ato de avaliar passa por um grande debate no cenário da educação escolar, e é entendido como um processo que deve apontar para a reconstrução permanente dos conteúdos apreendidos; paradoxal à concepção de que a prática avaliativa é o instrumento de visibilidade per si de erros relativos aos conteúdosapreendidos (LUCKESI, 1997). 2.1 Ensinar e aprender: fundamentos da avaliação da aprendizagem. Para estudarmos o conceito de avaliação da aprendizagem, precisamos revisar o que entendemos por ensinar e aprender. A Pedagogia, enquanto campo de conhecimento da educação escolar, preocupa-se com o ensino e a aprendizagem das pessoas no seu processo formativo, portanto, nos estudos que você já realizou e irá realizar, através dos conhecimentos ministrados pelas diversas atividades do curso, os conceitos de ensinar e de aprender devem ser compreendidos na sua dimensão social, afetiva, política e didática. Na disciplina Didática I e II, estudamos que as concepções de ensino e de aprendizagem caminham juntas no decorrer da história da educação. Vimos que para a pedagogia tradicional e tecnicista aprender é sinônimo 18 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem de memorizar, sendo que o ensinar significa verbalizar conteúdos e tomar a lição do dia. Para essas concepções o ensino e a aprendizagem são processos paralelos, mas que não estão estreitamente relacionados. Para a pedagogia progressista, aprender é um processo complexo, reflexivo e ativo que se efetiva durante as experiências de assimilação de conhecimentos ou aquisição de competências e habilidades. Portanto o ensino é a orientação, o acompanhamento da aprendizagem do aluno. Ensinar é uma atividade incentivadora e orientadora do processo de aprendizagem dos alunos (OLIVEIRA, 1988). Leiam o texto da professora Lea Anastasiou e refli- tam mais sobre a importância dos conceitos de ensinar e de aprender para o entendimento crítico da avaliação da apren- dizagem. ENSINAR Um dos elementos básicos de discussão da ação docente refere-se ao ensinar, aprender e apreender. Essas ações são muitas vezes consideradas e executadas como ações disjuntas, ouvindo-se inclusive de professores, afir- mações do tipo: “eu ensinei, o aluno é que não aprendeu”. Isso é decorrente da idéia de que ensinar é apresentar ou explicar o conteúdo numa exposição, o que a grande maioria dos docentes procura fazer com a máxima habilidade de que dispõe; daí a busca por técnicas de exposição ou oratória, como sendo o elemento essencial para a competência docente. Historicamente sabemos que o modelo jesuítico, presente desde o início da colonização portuguesa no Brasil, já apresentava em seu manual, Ratio Studiorum - datado de 1599, os três passos básicos de uma aula: preleção do conteúdo pelo professor, levantamento de dúvidas dos alunos e exercícios para fixação, cabendo ao aluno a memorização para a prova. Nessa visão de ensino, a aula é o espaço onde o Módulo 4 I Volume 6 19UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e professor fala, diz, explica o conteúdo, cabendo ao aluno anotá-lo para depois memorizá-lo. Daí poder prescindir da presença do próprio aluno, pois se tem um colega que copia tudo, basta fotocopiar suas anotações e estudá-las, para dar conta dessa maneira de memorizar os conteúdos. Nesse caso, mesmo numa situação que tradicionalmente seja considerada uma boa aula, em geral explicita-se o conteúdo da disciplina com suas definições ou sínteses, desconsiderando-se os elementos históricos e contextuais, muitas vezes tomando suas sínteses temporárias como definitivas e desconectando- as de afirmações técnicas das pesquisas científicas que as originaram. Toma-se, assim, a simples transmissão da informa- ção como ensino, e o professor fica como fonte de saber, tornando-se o portador e a garantia da verdade. Segundo Not (1993) isso pode provocar, uma adoção da estrutura do outro, e quando se fala ao outro, inclusive, se utiliza a mesma linguagem, das mesmas palavras; principalmente na hora da prova. Ou, conforme Reboul (1982, p.27), [...] o aluno registra palavras ou fórmulas sem compreendê-las. Repete- as simplesmente para conseguir boas classificações ou para agradar ao professor [...] habitua-se a crer que existe uma ‘língua do professor’, que tem de aceitar sem a compreender, um pouco como a missa em latim. [...] O verbalismo estende-se até às matemáticas; pode-se passar a vida inteira sem saber porque é que se faz um transporte numa operação; aprendeu-se mas não se compreendeu; contenta-se em saber aplicar uma fórmula mágica... Nesse processo ficam excluídos a historicidade, os determinantes, os nexos internos, a rede teórica, enfim os elementos que possibilitaram aquela síntese obtida; a ausência desses aspectos científicos, sociais e históricos deixa os conteúdos soltos, fragmentados, com fim em si 20 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem mesmo. Embora esse tenha sido o modelo que nós, professores atuais, vivenciamos como alunos e com o qual conseguimos efetivar sínteses que nos possibilitaram prosseguir em nossa caminhada acadêmica, temos hoje dados de pesquisas que nos permitem um caminhar científico e relacionado ao quadro teórico prático atual que a Pedagogia coloca à disposição. A compreensão do que seja ensinar é um desses elementos: o verbo ensinar, do latim, insignare, significa marcar com um sinal, que deveria ser de vida, de busca e de despertar para o conhecimento. Na realidade da sala de aula, pode ocorrer a compreensão ou não do conteúdo pretendido, a adesão ou não a formas de pensamento mais evoluídas, a mobilização ou não para outras ações de es- tudo e de aprendizagem. Como outros verbos de ação, ensinar contém - em si - duas dimensões: uma utilização intencional e uma de resultado, ou seja, a intenção de ensinar e a efetivação dessa meta pretendida. Assim, se eu expliquei um conteúdo, mas o aluno não se apropriou dele, posso dizer que ensinei, ou apenas cumpri uma parte do processo? Mesmo tendo uma sincera intenção de ensinar, se a meta (a apreensão, a apropriação do conteúdo por parte do aluno) não se efetivou plenamente, como seria necessário ou esperado para o prosseguimento do caminho escolar do aluno, posso dizer que ensinei? Terei cumprido as duas dimensões pretendidas na ação de ensinar? APRENDER E APREENDER Encontramos também uma diferença entre aprender e apreender. Embora nos dois verbos exista a relação entre os sujeitos e o conhecimento, o apreender, do latim apprehendere, significa segurar, prender, pegar, assimilar mentalmente, entender, compreender, agarrar. Não é um verbo passivo; para apreender é preciso agir, exercitar-se, informar-se, tomar para si, apropriar-se... O verbo aprender, derivado de apreender por Módulo 4 I Volume 6 21UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e síncope, significa tomar conhecimento, reter na memória mediante estudo, receber a informação de... É preciso distinguir quais dessas ações estão presentes na meta que estabelecemos ao ensinar: se for apenas receber a informação de, bastará passá-la através da exposição oral. Nessa perspectiva, uma boa palestra é o suficiente para a transmissão da informação. No entanto, se nossa meta se refere a apropriação do conhecimento pelo aluno, para além do simples repasse da informação, é para isso que precisaremos estar nos organizando: é preciso superar o aprender, que tem se resumido à memorização, na direção do apreender, segurar, apropriar, agarrar, prender, pegar, assimilar mentalmente, entender, compreender. Daí a necessidade atual de se revisar o ‘assistir aulas’, pois a ação de apreender não é passiva. O agarrar por parte de aluno exige ação constante e consciente: exige se informar, se exercitar, se instruir. O assistir ou dar aulas precisa ser substituído pela ação conjunta do fazer aulas. Nesse fazer aulas é que surgem as necessárias formas de atuaçãodo professor com o aluno sobre o objeto de estudo e a definição, escolha e efetivação de estratégias diferenciadas que facilitem esse novo fazer. Fonte:<http://www.fcf.usp.br/Ensino/Graduacao/Disciplinas/Exclusivo/ Inserir/Anexos/LinkAnexos/CAP%C3%8DTULO%201%20LeaAnastasiou. pdf>. 2.2 Avaliação: um pouco de história A palavra avaliar vem do latim a+valare, que significa atribuir valor e mérito ao objeto em estudo; assim, avaliar é atribuir juízo de valor sobre uma ação ou uma matéria. Em se tratando de avaliar o processo de ensino e aprendizagem, o seu significado tem sido pautado pela lógica da mensuração, isto é, associa-se o significado de avaliar ao de medir os conhecimentos adquiridos pelos alunos. Veremos que esse entendimento é contrário a outro momento paradigmático 22 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem da educação que entende a avaliação da aprendizagem como um processo contínuo, ligado à formação dos educandos, capaz de reestruturar conhecimentos sedimentados. Para melhor compreendermos que a avaliação é um conceito complexo e acompanha o desenvolvimento da educação e suas mudanças paradigmáticas, apresentamos o texto “História da avaliação: do exame à avaliação diagnós- tica”, da professora Jussara Gabriel Santos. Pensa-se que a prática avaliativa surgiu com o pretexto de analisar a aprendizagem dos alunos na escola. Mas diante da reflexão sobre o processo histórico e a concepção da avaliação, nota-se claramente que esse termo (avaliação) é recente e seu primeiro vestígio (exame) não está relacionada com a escola. [...] A prática avaliativa foi adotada desde o seu princípio como via de controle, destinada à seleção, ou seja, a inclusão de alguns e exclusão de outros. Mas esse termo ‘avaliação’ é recente, pois por muito tempo usou-se o chamado ‘exame’. O primeiro vestígio sobre o exame se deu na sociedade chinesa nos anos de 1.200 a.C, onde não aparece como instrumento educativo, mas sim como forma de controle e manutenção social. Neste período, o exame tinha um papel mediador entre os sujeitos do sexo masculino e o serviço público. Aqui, possuía a incumbência de ‘selecionar, entre sujeitos do sexo masculino, aqueles que seriam admitidos no serviço público’ (Esteban, 2002, p.30). O exame é o ajustamento das técnicas de posição social na sociedade chinesa, pois permite a mobilidade social dos sujeitos de sexo masculino, ou melhor, o acesso à administração da coisa público. Assim, no século XVII surgem duas correntes para a institucionalização do exame: uma vem de Comenius que defende o exame como um espaço de aprendizagem e não de verificação da aprendizagem; se o aluno não aprendeu é necessário refletir sobre o método utilizado em função de promover a aprendizagem do mesmo. O Módulo 4 I Volume 6 23UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e exame para Comenius funciona como um aliado precioso em relação à prática docente. Em contraponto, La Salle defende o exame como supervisão permanente – aspecto de vigilância continua – centra-se no aluno e no exame aspectos que deveriam ser direcionados para a prática pedagógica, ou melhor, professor/aluno. Entende-se, portanto, que ao contrário do que se pensa, o exame – primeira prática avaliativa - não surge na escola, mas como um instrumento de controle e manutenção social – instrumento intermediário para a mobilidade social chinesa. Posteriormente a institucionalização do exame no século XVII, ramificado em duas vertentes – Comenius e La Salle - é que se começa a instalar na instituição-escola no século XIX, a pedagogia do exame. Os princípios da pedagogia do exame são: ‘qualida- de da educação, eficiência e eficácia do sistema educativo, maior vinculação entre sistema escolar (entenda-se currí- culo) e necessidades sociais (entenda-se modernização e/ ou reconversão industrial)’ (Esteban, 2002, p.53). Neste momento, são depositados no exame grandes esperanças para a melhoria da educação, pois através dele se consegue a promoção e a certificação da aprendizagem. A pedagogia do exame é articulada em prol da certificação e promoção dos sujeitos, colocando o exame como elemento inerente a toda ação educativa. [...] A atenção na pedagogia do exame está voltada para a promoção do estudante a série subseqüente de escolaridade. Porém, para que esse acontecimento aconteça é preciso à certificação comprovada, a nota. Portanto, ‘o aluno, por outro lado, está à procura do Santo Graal – a nota. Ele precisa dela, não importa se ela expressa ou não uma aprendizagem satisfatória; ele quer a nota. Faz conta e médias para verificar a sua situação. É a nota que domina tudo; é em função dela que se vive na prática escolar (Luckesi, 2002, p.24). Entretanto, no século XX a pedagogia deixa de se referir ao termo “exame” e o substitui pelo termo ‘teste’. 24 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem Inicia-se então, os estudos para medir a inteligência humana, através do quoeficiente intelectual (QI), ou seja, a razão entre idade mental e idade cronológica. [...] Os testes foram os instrumentos utilizados para a mensuração da inteligência dos educandos. A primeira escala de inteligência foi construída pelo pedagogo e psicólogo francês Alfred Binet, com o objetivo de medir a inteligência dos alunos com dificuldade de aprendizagem na escola da rede pública francesa no ano de 1905. Essa escala mensurava a inteligência de acordo com a idade do aprendiz, ou melhor, idade mental. Com o advento da escola nova no final do século XIX na Europa e nos EUA, um movimento educacional que carregava como pilar principal de luta, a democratização do acesso ao ensino como forma de corrigir a injustiça social. Pelo viés do darwinismo, onde apenas os melhores se adaptam e assim devem ter melhores oportunidades. Os instrumentos de mensuração – os testes – seriam capazes de fazer essa diferenciação a fim de beneficiar os melhores alunos e não cometer injustiça intelectual com os mesmos. Nesta perspectiva, a avaliação dos ‘deficientes mentais’ ou ‘anormais’ dentro da escola nas três primeiras décadas no século XX, baseava-se quase integralmente ao nível intelectual. O produto dos testes eram utilizados, para explicar a eliminação dos chamados ‘degenerados mentais’ e ‘o acesso à escola de acordo com as condições cognitivas individuais’. No entanto, o modelo científico da psicologia positivista pautado no objetivismo instigou a escola em buscar a objetividade do conhecimento do aluno e adotar as questões-teste para a avaliação do mesmo, em imitação aos testes psicológicos. Em meados da segunda metade do século XX, o termo ‘teste’ é substituído pelo termo ‘avaliação’, empregado primordialmente pela administração cientifica por ser uma palavra que expressava neutralidade, imagem acadêmica e insight de controle. Neste momento, surge a pedagogia tecnicista que se difundiu na educação como tecnicismo Módulo 4 I Volume 6 25UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e educacional. Esse movimento educacional era inspirado nas teorias behavioristas da aprendizagem e na abordagem sistêmica do ensino, buscando relacionar a educação com as exigências industriais e tecnológicas da sociedade. A avaliação neste período se limita ao campo técnico, ou melhor, a construção de livros técnicos sobre a avaliação. [...] ‘A escola brasileira opera com a verifi- cação e não com a avaliação da aprendizagem’ (Luckesi, 2002, p.93). Esse fato fica confirmado ao observar a fun- ção classificatória do educando, ou seja, o professor rotula o seu aluno como ruim e bom no desempenho escolar, quando este apresenta maior número de erros – reprova- ção – ou maiornúmero de acertos - aprovação. Em outras palavras, entende-se que as respostas erradas são sinônimas do não-saber e as respostas certas sinônimas do conhecimento construído. Essa linha de raciocínio nas práticas avaliativas, dissolve- se no seio escolar de forma autoritária, inibindo e freando as vozes dissonantes dentro de um processo de negação dos diversos estágios individuais na construção do conhecimento. Por causa da maneira autoritária que a avaliação tem sido aplicada no interior das escolas, conseqüência da sua concepção e história é urgente o resgate da avaliação formativa e processual. Essas possibilitam que o professor acompanhe e interfira dialogicamente no processo de aprendizagem do aluno, a fim de atingir os objetivos esperados. Ou melhor, ainda, não somente resgatar como prática avaliativa a função formativa e processual, mas também o processo de ‘(re) significação da avaliação’. Fonte: http://www.ic-ufu.org/anaisufu2008/PDF/SA08-20949.PDF 2.3 Discutindo conceitos de avaliação. No final dos anos 1980 e início de 1990, surgem, no Brasil, concepções mais progressistas da avaliação. Essas 26 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem Visite o site do professor Lu- ckesi e tenha boas reflexões sobre a avaliação da aprendiza- gem http://www.luckesi.com. br/apresentacao.htm Figura 1.1 – Cipriano Luckesi Fonte: http://vidaeducacao.com.br/wp-con- tent/uploads/2010/06/cipriano-luckesi.jpg concepções não são consensuais entre os autores, e para abrir a discussão sobre o conceito de avaliação escolhemos três autores que são lidos e influenciam os estudos sobre a temática no Brasil. Começamos com Cipriano Carlos Luckesi, profes- sor baiano aposentado da Universidade Federal da Bahia – UFBA, um dos nomes de referência em avaliação da apren- dizagem escolar, assunto no qual se especializou ao longo de quatro décadas. Entre seus livros, os mais indicados são Filosofia da Educação (1993) e Avaliação da aprendizagem escolar (1990), nos quais discute a avaliação escolar para além do autoritarismo, marcando uma fase no debate sobre a avaliação na educação brasileira. Para Luckesi (1997), a avaliação da aprendizagem é uma prática de investigação do professor, cujo sentido é intervir na busca dos melhores resultados do processo de aprendizagem dos nossos educandos, em sala de aula. Em seu conceito, afirma que a avaliação é um juízo de qualidade sobre dados relevantes para uma tomada de decisão. Ao discutir a avaliação escolar para além do autoritarismo no livro Avaliação da aprendizagem escolar, o professor Luckesi analisa o caráter controlador e dominante da avaliação escolar e denuncia a função autoritária que desempenha na prática educativa. Levanta em seus argumentos uma verdadeira teoria do erro. Qualifica o erro na aprendizagem, afirmando que o erro é essencial, e é parte do processo de aprender, não pode ser entendido como falha na aprendizagem, mas o início dela. Os erros, assim como as dúvidas, são eventos importantes e impulsionadores da ação de aprender. Quando iniciamos a aprendizagem, necessariamente erramos e temos dúvidas, temos dúvidas porque erramos e erramos porque temos dúvidas. No conflito cognitivo, para respondermos as nossas dúvidas, caminhamos para os acertos, para a compreensão do conhecimento, para a aprendizagem. A partir das saiba mais Módulo 4 I Volume 6 27UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e É importante que você leia os livros mais recomendados da professora Jussara Hoffmann que são Avaliação Mediadora uma prática em construção da pré-escola à universidade, e Avaliação: Mito e Desafio uma perspectiva construtivista. Vi- site seu site http://www.jussa- rahoffmann.com.br compreensões e dos novos conhecimentos, produzimos novas dúvidas e novos erros. O segundo conceito que apresentamos foi elaborado pela professora Jussara Maria Lerch Hoffmann, do Rio Grande do Sul. Na Faculdade de Educação da UFRGS, desenvolveu estudos e pesquisas em avaliação e educação infantil e, quando se aposentou como Professora Adjunta, em 1996, fundou e assumiu a direção da Editora Mediação. A autora tem hoje doze livros publicados sobre o tema, além de inúmeros artigos em revistas. O conjunto de suas obras supera a marca de 300 mil exemplares vendidos no país. Para Hoffmann (1993), a avaliação é inerente e indissociável da aprendizagem enquanto concebida como problematização, questionamento, reflexão sobre a ação. A avaliação é reflexão transformada em ação, ação essa que nos impulsiona para novas reflexões. Reflexão permanente do educador sobre a realidade, e acompanhamento passo a passo do educando, na sua trajetória de construção de conhecimento. Hoffmann (1993) afirma que um professor que não avalia constantemente a ação educativa, no sentido indagativo, investigativo do termo, instala sua docência em verdades absolutas, pré-moldadas e terminais. Com esse pensamento, defende a avaliação como mediadora do processo de ensino e de aprendizagem. A avaliação mediadora se desenvolve em benefício do educando e acontece quando o diálogo é estabelecido entre quem educa e quem é educado. Para esta concepção de avaliação, cabe ao professor informar, através do diálogo, o processo de aprendizagem do seu aluno. O diálogo pode vir em forma de conversas, de comentários escritos nos trabalhos dos alunos ou ainda nos relatórios. Não podemos confundir mediação com informação. A avaliação mediadora é muito mais que informar o desempenho do aluno, é dialogar com ele sobre seu processo de aprendizagem, discutindo sobre suas dificuldades e saiba mais Figura 1.2 – Jussara Hoffmann Fonte: http://www.jussarahoffmann.com.br/ site/curriculo.asp?m=1 28 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem Figura 1.3 – Philippe Perrenoud Fonte: http://revistaescola.abril.com. br/formacao/formacao-continuada/ entrevista-philippe-perrenoud-democra- tizacao-ensino-534507.shtml superações. Neste processo dialógico, o professor refaz seu planejamento para adequá-lo ao percurso de aprendizagem dos(as) seus alunos(as). O terceiro conceito que apresentamos é de autoria do professor Philippe Perrenoud, doutor em sociologia e antropologia e professor da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Genebra. Estudioso da evasão e das desigualdades na escola e especialista em práticas pedagógicas em instituições de ensino, é diretor do Laboratório de Pesquisas sobre a Inovação na Formação e na Educação (Life), também em Genebra. Segundo Perrenoud (1999, p. 9), A avaliação não é uma tortura medieval. É uma invenção mais tardia, nascida com os colégios por volta do século XVII e tornado indissociável do ensino de massa que conhecemos desde o século XIX, com a escolaridade obrigatória. Para Perrenoud (1999), a avaliação da aprendizagem é um processo mediador na construção do currículo e se encontra intimamente relacionada à gestão da aprendizagem dos alunos. Destacamos a observação feita pelo professor Perrenoud (1999, p.54). Na avaliação da aprendizagem, o professor não deve permitir que os resultados das provas periódicas, geralmente de caráter classificatório, sejam supervalorizados em detrimento de suas observações diárias, de caráter diagnóstico. A avaliação é um processo que deve estar a serviço das individualizações da aprendizagem. Ao discutir sobre a avaliação das competências desenvolvidas pelos alunos, Perrenoud contribui para pensarmos o currículo escolar pautado nas competências e habilidades. Para este autor, a organização pedagógica da Módulo 4 I Volume 6 29UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e escoladeve se voltar para criar estratégias e avaliações que possibilitem ao (à) aluno(a) o desenvolvimento pleno das suas competências e habilidades. Existem muitos outros autores que debatem a temática da avaliação da aprendizagem. Esperamos que você, futuro(a) pedagogo(a), pesquise e amplie seus estudos sobre o conceito de avaliação. Aproveite e faça uma pesquisa sobre a temática no portal Domínio Público, do Ministério da Educação. ATIVIDADE Agora, como síntese dos estudos realizados até aqui, redija um texto, evidenciando a relação/ complementação dos estudos acerca da avaliação, apresentados pelos professores Luckesi, Jussara e Perrenoud. Encaminhe para seu tutor e depois socialize os textos com seus colegas para alimentar um debate inicial a respeito da avaliação. 2.4 Avaliar e examinar Para entendermos com clareza a diferença entre o conceito de avaliar e o conceito de examinar, coadunamos com as ideias do professor Luckesi (1997, p.47), para quem “avaliar é o ato de diagnosticar uma experiência, tendo em vista reorientá-la para produzir o melhor resultado possível; por isso, não é classificatória, nem seletiva, ao contrário, é diagnóstica e inclusiva”. Com esta definição, a avaliação participa da lógica da política de inclusão na educação, bem diferente, da lógica classificatória que exclui os(as) alunos(as). ATIVIDADE 30 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem No Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio (2008), examinar significa submeter a exame, provar que alguém demonstra capacidade em determinado assunto. Em uma abordagem tradicional de educação, o professor é o grande e único responsável em provar que o(a) aluno(a) aprendeu os conteúdos ensinados por ele, por isso o equívoco entre avaliar e examinar. Podemos afirmar que o ato de examinar é uma das etapas do ato de avaliar. Em Luckesi (1997), examinar é classificatório e seletivo, não se destina à construção do melhor resultado possível, e sim à classificação estática e final do que é examinado. Nossos professores, em seu cotidiano, não percebem tal distinção e, quando dizem que estão avaliando, na verdade estão examinando. Em nossas escolas, praticamos mais exames do que avaliação escolar. No ato de avaliar, no entanto, o papel do professor, através de vários instrumentos, é conhecer o processo de aprendizagem do aluno, para replanejamento pedagógico, com futuras correções do ensino, das orientações didáticas e das atividades a serem realizadas pelos alunos. O que o professor deve observar com os instrumentos de exames é tão somente a identificação do percurso da aprendizagem do(a) aluno(a). Para poder orientá-lo melhor neste percurso, o exame é um meio que o professor utiliza para conhecer o que já foi ou não aprendido pelo aluno e, assim, continuar a avaliá-lo. 2.5 Avaliação e nota Historicamente, a nota é usada para representar a avaliação quantitativa e aferir o quanto o(a) aluno(a) aprendeu, ou seja, as notas têm a finalidade de medir. A concepção de ensino conservadora e positivista separa o conceito de qualidade do conceito de quantidade, acreditando que somente o número é sinônimo de exatidão. Módulo 4 I Volume 6 31UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e Confundimos, por muito tempo, a avaliação com a nota. Precisamos entender que a nota é uma parte do processo avaliativo, e que ela é aplicada, quando necessário for, a uma avaliação para verificar os conteúdos aprendidos pelos(as) alunos(as). Como estudaremos a seguir, existem outras formas de avaliar a aprendizagem que não sejam necessariamente através da verificação e da atribuição da nota. A nota tem servido na avaliação classificatória como um instrumento para rotular, selecionar e classificar as pessoas. Em Luckesi (1997, p.17), a ideia de “tirar nota para passar de ano” está tão enraizada em nossa cultura escolar que, muitas vezes, alunos e professores esquecem o objetivo principal da escola: possibilitar a aprendizagem de conhecimentos já produzidos e sistematizados pela humanidade como também a construção de novos conhecimentos, os quais, uma vez aprendidos/produzidos, contribuem para a vida do aluno e consequentemente para a sociedade em que está inserido. As notas e os conceitos são rótulos que servem para aprovar ou reprovar o(a) aluno(a); marcam sua vida escolar como bom, regular, péssimo, insuficiente, repetente etc. No exercício de uma prática avaliativa classificatória, em cujo campo discursivo os termos mais usados são medidas, notas, provas, a avaliação realiza medidas de tudo, vai das competências cognitivas às competências sociais e emocionais. Como se fosse justo e verdadeiro medir quantitativamente esses aspectos nos(as) alunos(as). Voltamos a frisar que o sistema de notas é uma exigência burocrática e não pode ser entendido como o sistema avaliativo de uma escola. As notas podem estar voltadas para uma avaliação qualitativa. É plausível que, no final de um processo de avaliação processual e mediadora, o docente de forma coerente e justa represente a avaliação em notas para atender ao sistema burocrático. 32 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem Para dar continuidade aos nossos estudos, convidamos você para fazer a leitura de parte do texto: As influências de um rio chamado avaliação escolar, de autoria dos professores Maria Claudia Reis Ferraz e Stella Maris Moura de Macedo (145 -150). Desejando transformar a avaliação, não podemos desconsiderar que um dos aspectos que tradicionalmente fazem parte da avaliação escolar é a emissão de conceitos e/ou notas, fator responsável por uma imagem difusa da escola como lugar da “prova” que “aprova ou reprova”, que hierarquiza e que divide os sujeitos, estigmatizando-os em “fortes e fracos”. Diante da pratica tradicional de quantificação e de classificação exigida da maioria dos currículos burocratizados, que ações podemos desempenhar com nossos alunos para que a lógica da exclusão (reprovação, hierarquização) embutidas nas notas e/ou nos conceitos possa ir dando espaço à criação de uma lógica da inclusão-integração? É possível que o uso das notas e dos conceitos, apesar do sentido classificatório que apresenta, atribua ao processo educativo outros sentidos que favoreçam uma aprendizagem mais significativa, servindo como instrumento de integração e auto-avaliação? Estas questões remetem-me a algumas experiências que tenho vivido enquanto avalio. Escolho uma em que muitos dos alunos e alunas demonstravam uma relação utilitária com o trabalho escolar, baseavam seu desempenho e participação nas atividades de acordo com as permutas, em termos de “pontuação”, que pudessem realizar. Era desgastante a relação com aquele grupo, e não foram poucas às vezes em que ouvia, diante de alguma proposta de trabalho: - Professora, vale nota? Vale quanto? - Se eu fizer, a senhora vai me dar quanto? A atitude de barganha era quase diária. Muitas vezes, sentia como se tivéssemos num mercado, onde o conhecimento a ser produzido e partilhado Módulo 4 I Volume 6 33UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e era visto como uma mercadoria que, dependendo da possibilidade de “lucro”, valia pena ou não “fechar negócio” e adquiri-la. A reprodução de uma lógica capitalista estava presente não só na coisificação do conhecimento, mas também, sobretudo, na interação individualista e competitiva que os alunos e alunos mantinham entre si. A dificuldade que correntemente apresentavam na realização de trabalhos coletivos parecia demonstrar a pouca experiência, durante os primeiros anos de suas vidas escolares, de situações de aprendizagem que favorecemo desenvolvimento de práticas participativas e solidárias. Suas atitudes denunciavam certas carências, na vivencia escolar, que possibilitassem a realização de atividades que potencializam o que Maturana e Varella (1995) chamam de Impulsos biológicos de cooperação. As tentativas insistentes de refletir, junto aos alunos e alunas, sobre a importância das tarefas coletivas, valorizando o aspecto positivo dos princípios que se envolvem, parecia auxiliar muito pouco uma melhor integração e socialização do grupo. O que me levava a verificar que a existência de uma determinada ordem social dá-se, ainda que de forma provisória quando os processos de comunicação entre os sujeitos que a integração consegue conferir uma significação coerentes às informações que partilham entre si. Neste sentido, alunos e alunas deixavam claro que o significado que, até aquele momento, conseguiam atribuir ao trabalho escolar era o de reafirmar a lógica da interação individualista, seletiva e competitivas presentes nas experiências de avaliação vividas por eles e elas até então. Que curso navega, no momento daquela maré, a fim de afluísse para uma reelaborarão do significado do ato de avaliar? Seria possível elaborar um procedimento avaliativo que, ao mesmo tempo, incorporasse as notas e/ou conceitos – com um código da cultura escolar reconhecido e valorizado pelos alunos/alunas -, mas que também permitisse 34 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem iniciar um processo de aprendizagem social que promovesse maior compartilhamento entre as nações? Recordo, então, um episódio no qual a experiência vivida, na realização de uma atividade em grupo, sobre as regras do uso da pontuação gráfica talvez ilustre algumas possibilidades diante de tantas incertezas que a prática avaliativa nos traz. Os alunos e as alunas foram divididos em grupos de cincos componentes. Cada grupo recebeu uma cartolina em que as regras de usos dos Sinai foram escritas, e deveriam, então, procurar e recortar, em jornais e/ou revistas, frase e/ou fragmentos de textos que, de acordo com emprego dando a pontuação, pudessem ser encaixados (colados) junto às regras. No inicio e decorrer do trabalho, apesar da dificuldade demonstrada por parte do grupo em participar do processo de elaboração de alguns critérios, tive o cuidado de rever, com alguns alunos e alunas, os itens que estariam sendo avaliados e conceituados. Para surpresa da turma, no dia seguintes os trabalhos foram afixados no mural da sala, em que cada item aparecia classificado com conceitos. O significado que costumavam a atribuir aos conceitos pôde traduzir naquele momento, para os alunos e alunas, o panorama do desempenho geral de cada grupo, e o ato de conceituar os itens 2,3,4 e 5 apresentava a oportunidade de os grupos se auto avaliarem e questionarem sua postura em relação ao trabalho desenvolvido. Mas o que pude identificar, de maneira especial foi o fato de que como as notas e conceitos representavam para os alunos e alunas um elemento do trabalho escolar bastante respeitável, vê-los aqui valoriza as ações cotidianas que para a maioria deles e delas eram consideradas secundárias, ou mesmo como algo desimportante (por exemplo, arrumar a sala e organizar o material ao final de cada trabalho), criava então, para o grupo como um todo, a possibilidade não apenas de uma nova compreensão Módulo 4 I Volume 6 35UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e e valorização dos processos de trabalho coletivo, mas também, sobretudo, da aprendizagem de princípios que podemos chamar de “cidadania social”, ou seja, uma cidadania cuja ética esta baseada no principio da responsabilidade. Essa experiência revelou-se um desafio na minha trajetória, quando me lançou a difícil e angustiante tarefa de tentar classificar e hierarquizar alguns princípios relacionais, sobretudo por considerar arbitrário todo modelo todo modelo de avaliação baseado nas notas e nos conceitos. Mas o movimento de tentar superar a aparente contradição, que muito me incomodava, de utilizar o antigo sistema de classificação no desejo de tentar elabora novos sentidos para o ato avaliativo, aos poucos me levava a perceber que, no momento, aquele talvez fosse o melhor caminho a seguir. É nessa perspectiva, a meu ver, que a experiência vivida naquele episodio tinha sido estratégica, pois me permitiu a apropriação do sentido alternativo que pudesse incorpora os princípios da comunicação: a participação e a solidariedade(Santos, 2000). Aos poucos, ia certificando-me de que o abandono do modelo seletivo e classificatório, embora não se apresentasse como uma possibilidade no contexto em que atuava, não me impedia de buscar, dentro desse mesmo modelo, por meio das ações que desempenhava, alternativas que me encaminhasse no sentido da produção de uma educação que integrasse conhecimentos e valores humanos. O trabalho que desenvolvia com aquele grupo fazia-me pensar, cada vez mais sobre o fato de que os procedimentos classificatórios, no cotidiano escolar, em muito prejudicam as relações democráticas entre os seus agentes, quase sempre negando o testemunho práticos de valores como a generosidade, justiça, alegria, solidariedade e união. Na maioria das vezes, distanciam os sujeitos, contribuído para a formação de atitudes competitivas e excludentes por meio 36 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem da seleção e hierarquização. No entanto, acredito também que a avaliação seja um recurso, dentre tantos outro, a partir do qual tendências individualistas possam ser recompensadas promovendo a integração e a segurança na partilha dos “acertos e desacerto”, não só dos alunos e das alunas, mas também de todos que estão águas revoltas do rio “avaliação escolar”, rios cujas águas são prenhes de vida, de alternativas e de possibilidades para a formação uma saber viver humanizador. No encontro das águas... Apesar de nossas experiências terem se dado em espaços diferentes, assim como um rio cujas águas transitam por afluentes distintos, mas que se entrecruzam ao longo do percurso, nossos fazeres também se encontram interligados. Escolhemos tratar de um projeto de avaliação que implica um processo coletivo, em que os relatos apresentados possibilitem trazer para o debate a necessidade de perceber e aceitar o outro na sua diferença, incorporando princípios que integrem nossas diferenças e semelhanças, nossos conhecimentos e desconhecimentos, nossas ações, nossos sonhos, nossas vidas... (grifo das autoras). ATIVIDADE Lance mão da sua memória e relate, por meio da escrita, uma experiência avaliativa vivida por você, enquanto aluno, em que considerou injusta a nota recebida. Nesta reflexão, considere: 1. seus sentimentos em relação ao acontecido; 2. sua aprendizagem acerca do conteúdo avaliado; 3. a importância deste fato na construção de sua au- toestima. Programe com seu tutor um encontro no polo para uma discussão acerca das reflexões acima. ATIVIDADES Módulo 4 I Volume 6 37UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e 3 ABORDAGENS DE ENSINO E DA AVALIAÇÃO Os diversos estudos acerca dos processos históricos em torno da avaliação nos apontam para algumas abordagens que, ao longo desse percurso, vão se constituindo como objeto de estudo. Luckesi (1997) afirma que a avaliação da aprendizagem no Brasil hoje se liga a uma pedagogia dominante, que pode ser identificada como modelo social, liberal e conservador. Nesse sentido, a tendência tradicional, moderna e tecnicista aproxima-se do projeto político pedagógico do modelo liberal, quetem como um de seus princípios a individualidade do homem, desconsiderando as mediações culturais, sociais e políticas. 3.1 Abordagem tradicional Esta abordagem ancora-se na crença de que o que vai definir a posição que cada ser humano assumirá na sociedade é o seu desempenho intelectual; e sendo assim, cabe à escola o preparo intelectual e moral dos alunos e a estes o esforço de aprender o máximo que conseguirem para individualmente definir o seu lugar. Existe uma predominância da autoridade do professor por ser este que detém o conhecimento e deverá passá-lo para o aluno, o qual deve passivamente receber, como verdade absoluta, o que acaba por excluir qualquer possibilidade de diálogo. Tal prática exige do aluno uma atitude passiva de receptor da mensagem. A retenção do conteúdo ensinado é garantido pela repetição de exercícios sistemáticos. Segundo Libâneo (1998), a avaliação da aprendizagem nesta Figura 1.4 – Pedagogia Tradicional Fonte: http://1.bp.blogspot.com/_iNpNYySaLrc/Sy0c-nV38vI/AAAAAAAACII/pcY6M8l0sng/ s1600-h/blg-pd-pl-humor-cartuns-avaliacao-escolar-orlandeli.jpg 38 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem abordagem se dá pela verificação de curto prazo e de longo prazo, tais como: interrogatórios orais, exercícios para casa, provas escritas, trabalhos etc.. O reforço será sempre negativo, por meio de notas baixas, rótulos tais como fraco, insuficiente, defasado e outros. Já o reforço positivo vem por meio de notas altas e rótulos de forte, estudioso, esforçado, interessado etc... A responsabilidade do fracasso ou do sucesso é sempre do aluno. Ele alcança ou não o mérito necessário para que ocupe posições mais elevadas na sociedade. Essa prática avaliativa, que reduz a avaliação da aprendizagem apenas ao ato de atribuir notas ou conceitos aos alunos, retira da escola a possibilidade de utilização da avaliação como ferramenta de reflexão, tanto da ação docente como também do planejamento da escola. 3.2 Abordagem escolanovista Esta abordagem ancora-se na crença de que a educação é um processo interno e não externo e, portanto, deve partir das necessidades e interesses individuais. Ela surge a partir das críticas à abordagem tradicional e ancora- se nos trabalhos de John Dewey, Carl Rogers, Maria Montessori e Jean Piaget dentre outros que estudaram a aprendizagem. Seus postulados mostram que para aprender não basta apenas ouvir. Para reter informações é necessário que o aluno estabeleça uma relação pessoal entre essas informações e suas vivências. Nesta abordagem, não existe lugar privilegiado para o professor, seu papel é auxiliar o desenvolvimento livre e espontâneo do educando. Neste sentido, os processos de ensino visam mais facilitar aos estudantes os meios para buscarem por si mesmos os conhecimentos. Aprender a aprender. Módulo 4 I Volume 6 39UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e Nesta abordagem, a avaliação da aprendizagem terá que ser fluida e eficaz, na medida em que os esforços e os êxitos são pronta e explicitamente reconhecidos pelo professor, ou seja, uma avaliação voltada para acolher e valorizar os avanços dos alunos, privilegiando-se mais a autoavaliação. 3.3 Abordagem tecnicista Esta abordagem aparece nos Estados Unidos na segunda metade do século XX e é introduzida no Brasil entre 1960 e 1970, onde proliferou o que se chamou de “tecnicismo educacional”, inspirado nas teorias behavioristas da aprendizagem e da abordagem sistêmica do ensino, buscando adequar a educação às exigências da sociedade industrial e tecnológica. Se o interesse imediato é o de produzir indivíduos competentes para o mercado de trabalho, por meio de uma formação marcada pelo uso da técnica em detrimento do conhecimento; o seu lema é aprender a fazer, executar. Não é necessário estabelecer uma relação com o mundo do conhecimento, seus processos históricos e culturais. O que importa é a memorização mecânica. Nesta perspectiva, o papel do professor é administrar as condições de transmissão da matéria, dominar as técnicas de trabalho. Segundo Libâneo (1998), o professor é apenas o elo entre a verdade científica e o aluno, cabendo a ele seguir competentemente os manuais já prescritos. O aprender fazer é uma orientação forte dessa abordagem e, sendo assim, cabe ao professor a responsabilidade pela eficiência e eficácia do ensino. Seu papel é neutro e imparcial, ele é apenas um tecnocrata. A avaliação da aprendizagem está voltada para a produtividade dos alunos, que ocorre no final do processo 40 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem para verificar se eles atingiram ou não os objetivos estabelecidos a priori. O foco da avaliação não está no sujeito que aprende nem nos seus mecanismos mentais e, sim, nos resultados já determinados. Para tanto, os alunos são testados frequentemente pela necessidade do cumprimento do estabelecido nos objetivos específicos determinados para cada etapa do ensino. Nesta perspectiva, a avaliação se reduz a um mero instrumento de controle do comportamento do aluno em relação aos conteúdos programáticos. 3.4 Abordagem interacionista Esta abordagem ancora-se na crença e defesa de que a educação é um processo de humanização dos seres humanos, inseridos em seus contextos sociais. Defende a ideia de que o conhecimento é construído pelo sujeito nas suas interações com os objetos de conhecimento e que os objetos como os sujeitos são resultados dos processos históricos, sociais e culturais e, sendo assim, não existe um sujeito findo e, sim, um sujeito em eterno movimento. Nesta perspectiva, a aprendizagem passa a ser um fenômeno que ocorre no espaço relacional e dialógico com o outro. Libâneo afirma que A escola é vista como espaço mediador entre o aluno e o mundo e o mundo social adulto e desempenha esse papel pela transmissão e assimilação dos conteúdos culturais historicamente situados. Entretanto não se trata de o aluno recebê- los passivamente, nem se acredita que a assimilação seja uma atividade espontânea; o processo de transmissão/assimilação se dá pela relação dialética entre os conteúdos culturais sistematizados e a experiência social concreta trazida pelo aluno (1998, p. 71). Módulo 4 I Volume 6 41UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e Neste sentido, a avaliação deixa de ser uma atividade classificatória e passa a ser concebida como uma atividade permanente no trabalho do professor, acompanhando passo a passo o processo de ensino e de aprendizagem. Pela avaliação é possível analisar as trajetórias de aprendizagens vivenciadas pelos alunos, e também a reflexão a respeito do trabalho pedagógico desenvolvido pela escola e, mais precisamente, pelo professor. Os resultados da avaliação, no entanto, não se resumem apenas às provas transformadas em notas para serem registradas nas atas escolares para efeito de aprovação ou reprovação dos alunos. Nesta abordagem, a avaliação deve cumprir algumas funções que atuam interdependentes: o Função pedagógico-didática: avalia o cumprimento dos objetivos gerais e específicos da educação. Comprovando sistematicamente os resultados do ensino, pode-se constatar ou não o atendimento das finalidades sociais do ensino que é o processo global de transformação social. o Função diagnóstica: muito importante, pois possibilita identificar os progressos e dificul- dades que ocorrem durante o ano letivo. o Função de controle: refere-se com que frequ- ência as verificações dos resultados qualitati- vos são analisados (bimestral, semestral), de acordo com a proposta da escola. Como podemos perceber, a avaliação deve ser utilizada, a fim de que o professor tenha um indicadorde aprendizagem que possa orientar o seu trabalho. Este movimento é o que denominamos de replanejamento, ou seja, a capacidade de se refazer o planejamento para que o mesmo possa assegurar as condições que todos os alunos 42 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem precisam para aprender determinados saberes. Para assegurar este movimento de aprendizagem, a avaliação não deve ser feita isoladamente; deve, sim, estar atrelada continuamente ao processo de ensino e aprendizagem. A verificação prévia dos conhecimentos do aluno será para possibilitar avançar ou retroceder nos planejamentos. Não cabe ao professor querer através da nota avaliar a “capacidade”, a pessoa, o ser do aluno. O importante é não deixar que a nota venha distorcer e atrapalhar o trabalho de formação do aluno por parte do professor. No endereço http://saladeaula.terapad.com, encontramos um resumo das ideias do professor Luckesi (2002) sobre as abordagens da avaliação. Vejamos: A forma como se avalia, segundo Luckesi (2002), é crucial para a concretização do projeto educacional. É ela que sinaliza aos alunos o que o professor e a escola valorizam. O autor, no quadro abaixo, traça uma comparação entre a concepção tradicional de avaliação com uma mais adequada a objetivos contemporâneos, relacionando-as com as implicações de sua adoção. Quadro 1 – Comparação entre a concepção tradicional de avaliação com uma mais adequada. saiba mais Modelo tradicional de avaliação Modelo adequado Foco na promoção – o alvo dos alunos é a promoção. Nas primeiras aulas, discutem- se as regras e os modos pelos quais as notas serão obtidas para a promoção de uma série para outra. Implicação – as notas vão sendo observadas e registradas. Não importa como elas foram obtidas, nem por qual processo o aluno passou. Foco na aprendizagem - o alvo do aluno deve ser a aprendizagem e o que de proveitoso e prazeroso dela se obtém. Implicação - neste contexto, a avaliação deve ser um auxílio para se saber quais objetivos foram atingidos, quais ainda faltam e quais as interferências do professor que podem ajudar o aluno. Módulo 4 I Volume 6 43UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e Foco nas provas - são utilizadas como objeto de pressão psicológica, sob pretexto de serem um ‘elemento motivador da aprendizagem’, seguindo ainda a sugestão de Comenius, em sua Didática Magna, criada no século XVII. É comum ver professores utilizando ameaças como “Estudem! Caso contrário, vocês poderão se dar mal no dia da prova!” ou “Fiquem quietos! Prestem atenção! O dia da prova vem aí e vocês verão o que vai acontecer...” Implicação - as provas são utilizadas como um fator negativo de motivação. Os alunos estudam pela ameaça da prova, não pelo que a aprendizagem pode lhes trazer de proveitoso e prazeroso. Estimula o desenvolvimento da submissão e de hábitos de comportamento físico tenso (estresse). Foco nas competências - o desenvolvimento das competências previstas no projeto educacional deve ser a meta em comum dos professores. Implicação - a avaliação deixa de ser somente um objeto de certificação da consecução de objetivos, mas também se torna necessária como instrumento de diagnóstico e acompanhamento do processo de aprendizagem. Neste ponto, modelos que indicam passos para a progressão na aprendizagem, como a Taxionomia dos Objetivos Educacionais de Benjamin Bloom, auxiliam muito a prática da avaliação e a orientação dos alunos. Os estabelecimentos de ensino estão centrados nos resultados das provas e exames - eles se preocupam com as notas que demonstram o quadro global dos alunos, para a promoção ou reprovação. Implicação - o processo educativo permanece oculto. A leitura das médias tende a ser ingênua (não se buscam os reais motivos para discrepâncias em determinadas disciplinas). Estabelecimentos de ensino centrados na quali dade - os estabelecimentos de ensino devem preocupar-se com o presente e o futuro do aluno, especialmente com relação à sua inclusão social (percepção do mundo, criatividade, empregabilidade, interação, posicionamento, criticidade). Implicação - o foco da escola passa a ser o resultado de seu ensino para o aluno e não mais a média do aluno na escola. O sistema social se contenta com as notas - as notas são suficientes para os quadros estatísticos. Resultados dentro da normalidade são bem vistos, não importando a qualidade e os parâmetros para sua obtenção (salvo nos casos de exames como o ENEM que, de certa forma, avaliam e “certificam” os diferentes grupos de práticas educacionais e estabelecimentos de ensino). Implicação - não há garantia sobre a qualidade, somente os resultados interessam, mas estes são relativos. Sistemas educacionais que rompem com esse tipo de procedimento tornam-se incompatíveis com os demais, são marginalizados e, por isso, automaticamente pressionados a agir da forma tradicional. Sistema social preocupado com o futuro já alertava o ex-ministro da Educação, Cristóvam Buarque: “Para saber como será um país daqui a 20 anos, é preciso olhar como está sua escola pública no presente”. Esse é um sinal de que a sociedade já começa a se preocupar com o distanciamento educacional do Brasil com o dos demais países. É esse o caminho para revertermos o quadro de uma educação “domesticadora” para “humanizadora”. Implicação - valorização da educação de resultados efetivos para o indivíduo. 44 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem Para dar continuidade aos nossos estudos, convidamos você para fazer a leitura de mais um fragmento do texto: As influências de um rio chamado avaliação escolar, de autoria dos professores Maria Claudia Reis Ferraz e Stella Maris Moura de Macedo (2003, p. 142-144). Nesta leitura chamamos atenção para o depoimento de Cleber e as reflexões que as autoras fazem do depoimento desse aluno. Numa aula em que a professora propõe que as crianças façam auto avaliação, Cleber, menino tímido de seis anos, que parecia inchado de tanta amorosidade, comunicando como vinha percebendo seu processo escolar: “eu me dou nota nove porque me esforcei muito para aprender o que sei. Quando cheguei nessa escola sabia pouca coisa, agora já sei muito.” Transpondo o conceito de excedente de visão para a sala de aula, penso-me inacabada. Cleber possibilitou que eu me percebesse, naquele momento, com uma visão incompleta de seu processo. Com sua fala, carregada de sentido, pude, em vez de me limitar a uma compreensão mais fragmentada e mais classificatória de seu processo escolar, dialogar com sua história de vida, e com sua singularidade. Essa possibilidade de diálogo anuncia a riqueza presente na busca permanente de nossa completude, que nunca estará acabada, por meio do encontro com o outro. Cleber era considerado um aluno ‘fraco’ em comparação às outras crianças do grupo. Como não refletir diante Figura 1.5. Fonte: UAB/UESC Módulo 4 I Volume 6 45UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e dessa fala tão prenhe de sentido? Como não transformar a nós mesmos? Como não repensar sobre as concepções preconceituosas e classificatórias que nos constituem, diariamente, e que se revelam em nossas ações pedagógicas com tom excludente e conservador? Na tensão entre idéias e práticas antigas e tentativas de superação e de mudanças percebemos, nesse relato, que a conservadora concepção de avaliação permanecia, e ainda permanece, subjacente a inovação que tentei implementar quando solicitei às crianças da turma de Cleber que se auto- avaliassem e que se enquadrassem dentro de faixas de notas vinculadas aos objetivosdeterminados, reduzindo assim, a avaliação à medida. Na verdade, o que teve de inovador nessa experiência foi a oportunidade de refletir acerca de idéias do aluno, que me aproximavam mais de uma concepção de avaliação emancipatória, do que as proposições que me foram possíveis até aquele momento. Os alunos e as alunas também teorizam quando têm a chance de expressar sobre o quê pensam. Ao ouvir Cleber, pude perceber que se referia às suas conquistas, que demandaram grande esforço de sua parte; não se comparava aos outros. Pautou-se em sua experiência, no que pôde fazer até aquele momento para chegar mais perto dos objetivos sendo compartilhados, dia após dia, no decorrer de nossas atividades. As crianças precisam saber o que as professoras e os professores esperam delas quando propõem algo, e nós precisamos compreender como elas interpretam nossa expectativa. A ação de compartilhar possibilita que sejam co-participes das práticas de avaliação cotidianas que as envolvem. A fala do aluno trouxe as dimensões afetiva, social e cultural. A expressão usada –‘me esforcei’- não significava, para ele, o mesmo que significava para as outras crianças da turma. Com a ajuda de Cleber, vou entendendo melhor a importância de considerar a polissemia no processo pedagógico. A palavra esforço dita por ele convidava-nos a perscrutá-la com um significado diferenciado, colocando-a em relação à sua singularidade, à sua história de vida. Cleber denunciava a impossibilidade de medir a aprendizagem 46 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem e de uniformizar parâmetros, pois os processos vividos e os resultados alcançados não podem ser destituídos da subjetividade. Dispostas a colocar em questão nossas próprias concepções, seguimos levantando algumas questões. Buscando desafiar-nos nesse modo de conhecer e de indagar, vamos perseguindo mais as falas, as perguntas, as respostas, as questões das crianças, procurando transformá- las em indicadores dos atos de repensar e de planejar o fazer pedagógico que reconstruímos a cada dia, buscando nesse fazer uma concepção que implica uma ação de avaliação mais acolhedora, dialógica e inclusiva. ATIVI Caro(a) aluno(a), a figura 05 retrata a avaliação dentro de uma concepção de educação. Observe cada detalhe da imagem e escreva os itens que indicam a concepção de avaliação da aprendizagem que representa. Encaminhe para seu tutor com uma análise dos itens observados. ATIVIDADES Figura 1.5 – Critérios de avaliação classificatória. Fonte: <http://teologiaegraca.blogspot.com/2009/08/cartoon-de-augusto-cid-nesse-breve.html>. Módulo 4 I Volume 6 47UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e 4 O ATO DE AVALIAR É UM COMPROMISSO POLÍTICO Todo conjunto de decisões tomadas pelo professor para avaliar seu aluno e seu ensino não é neutro nem arbitrário; ao contrário, a atitude de avaliar é carregada de intenções e percepções que se traduzem em modos de conceber o mundo, o homem e a sociedade. Essas intenções são orientadoras das políticas educacionais no âmbito da gestão da educação, assim como são norteadoras da prática pedagógica do professor na sala de aula. Ao analisarmos as intenções que estão por trás do ato de avaliar, podemos revelar qual o real comprometimento político desse ato; assim, enquanto professores(as), exerceremos uma prática avaliativa mais consciente no que diz respeito à organização do planejamento de ensino e da sistemática de avaliar. Temos de considerar que o ato de avaliar envolve o juízo de valor de quem está avaliando; no caso da escola, o juízo de valor que o professor faz da aprendizagem do seu aluno. Ao elaborarmos um juízo de valor sobre uma pessoa, reunimos, neste ato, diversos sentimentos e conhecimentos que carregamos na nossa vida cotidiana; desta forma, tudo o que pensamos sobre esta pessoa contribui para emitirmos o juízo de valor. No caso da avaliação da aprendizagem, este juízo de valor deve, obrigatoriamente, ser elaborado com um completo conhecimento da aprendizagem do aluno, do seu modo de aprender. Este conjunto de elemen- tos que compõe o julgamento no ato de avaliar é carregado de com- promisso com a pessoa que se está Figura 1.6 - Avaliação na diversidade humana. Fonte: UAB/UESC - Inspirada na charge de Tonucci 48 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem avaliando; por isso, avaliar requer um conhecimento amplo do aluno. Aluno e professor são pessoas que estabelecem uma relação a partir da atenção, do respeito e do interesse mútuo. Nesta relação, quem ensina exercerá o julgamento sobre quem aprende; então, o professor deverá conhecer o processo da aprendizagem do aluno para poder realizar a avaliação. Percebemos que não é simples o ato de avaliar; por- que, antes de qualquer prerrogativa de conhecimento técni- co, faz-se necessário que o professor se respalde no conhe- cimento político da educação, da escola, do seu aluno e de si mesmo como educador. Qualquer caminho é apenas um caminho e não constitui insulto algum – para si mesmo ou para os outros – abandoná-lo quando assim ordena o seu coração. [...] Olhe cada caminho com cuida- do e atenção. Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias... Então, faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta: possui esse caminho um coração? Em caso afirmativo, o caminho é bom. Caso contrário, esse caminho não possui impor- tância alguma. Carlos Castañeda (2001, p.45) Caro(a) aluno(a), depois da leitura do fragmento acima, recorra as suas experiências de avaliação às quais você “sobreviveu” e relate-as. Primeiro enquanto estudante da Educação Básica, como vítima de um sistema classificató- rio ou emancipatório. Segundo como aluno da graduação, tentando construir seus caminhos na construção da apren- dizagem em curso de Educação a Distância e, por último, se ATIVIDADE Módulo 4 I Volume 6 49UESC Pressupostos epistemológicos da avaliação da aprendizagem 1 U ni d a d e você é professor(a), relate suas experiências nos caminhos alternativos de efetivar avaliações neste sistema burocrático e classificatório da educação escolar. A partir destes relatos, você escreverá um memorial sobre suas experiências de avaliação e enviará para seu tutor. Nesta unidade, estudamos que a avaliação não é um elemento neutro e deslocado do fenômeno/situação que pretende valorar ou emitir juízo. Ela tem como referenciais os valores da sociedade, grupo social e contexto histórico em que se realiza. Sendo assim, quando avaliamos na escola, pensamos exercer uma ação particular e específica, ligada ao período escolar antecedente; e, no máximo, correlacionada ao período escolar subsequente, ou a níveis de escolaridade posteriores, mas mesmo sem o pretendermos, estamos sim, exercendo uma ação política. FERREIRA, Eduardo Luiz. Avaliação institucional e da apren- dizagem: juntas na melhoria do ensino. Disponível em <http:// www.artigonal.com/educacao-artigos/a-trajetoria-da-avaliacao- da-aprendizagem-no-brasil-1521280.html>. LIMA, João do Rosário, O processo histórico da avaliação. Em: <http://www.artigonal.com/educação. 2010>. OSÓRIO, Débora, Avaliação do Rendimento Escolar Como Ferramenta de Exclusão Social. Rio de Janeiro; Universidade Veiga de Almeida, 2002. RESUMINDO LEITURA COMPLEMENTAR 50 EADPedagogia Avaliação da aprendizagem PERRENOUD, Philippe, A avaliação no espírito da exelência e do êxito escolares. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. Site:<http://www.jussarahoffmann.com.br>. Site: <http://re- vistaescola.abril.com.br/entrevista-philippe-perrenoud- demo- cratizacao-ensino-534507.shtml> FERRAZ, Maria Claudia Reis; MACEDO, Stella Maris Moura de. ”As
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