Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL NOME É a designação que identifica a pessoa na família e na sociedade. Criadores intelectuais muitas vezes se identificam pelo pseudônimo (falso nome). Nos termos do artigo 19 do CC o pseudônimo goza da mesma proteção que se dá ao nome. O nosso Código Civil coloca o nome como um direito da personalidade sendo, portanto, inalienável, imprescritível. Elementos do nome: Em regra são dois: prenome e sobrenome ou apelido familiar. Pode-‐se ter, em alguns casos, ainda, o agnome que é o sinal que distingue pessoas da mesma família. (Júnior, neto, sobrinho). PRENOME: Pode ser livremente escolhido pelos pais desde que não exponha o filho ao ridículo (art.55, parágrafo único LRP). Tanto não pode expor o seu portador ao ridículo que o art.55, p.único da LRP, permite que o Oficial de Registro Civil se recuse a registrar prenome se considerá-‐lo que expõe o portador ao ridículo. Caso os pais insistam no registro do prenome recusado, o Oficial deve suscitar a dúvida ao Juiz competente dos cartórios de registro. O prenome pode ser simples (Paulo) ou composto (Paulo Rogério). Irmãos podem ter o mesmo prenome? Não, a não ser que o prenome seja duplo estabelecendo a distinção (Paulo Rogério e Paulo Roberto). Art.63, parágrafo único LRP. Os gêmeos podem ter prenome igual? Devem ter duplo prenome ou nome completo diverso de modo que se possa distingui-‐los. Art.63 caput da LRP. SOBRENOME: é apelido de família que identifica a procedência da pessoa. Art.56 LRP, adquire-‐se com o nascimento e, portanto, não é escolhido. Tanto é verdade que se a 2 criança for só registrada com o prenome, o Oficial de Registro Civil pode lançar o sobrenome paterno de ofício adiante do prenome escolhido pelo pai. Art.55 LRP. (Hoje, em razão da igualdade constitucional entre homens e mulheres, a doutrina sustenta que o oficial poderia lançar de ofício, adiante do prenome escolhido, o sobrenome materno e paterno). Assim como o prenome, o sobrenome pode ser simples (Paes) ou composto (Paes de Barros) IMUTABILIDADE DO NOME A rigor, o nome das pessoas deve ser imutável por uma questão de segurança jurídica. Entretanto, a Lei e a jurisprudência vem admitindo a alteração do nome em determinadas situações, a saber: 1) substituição do prenome pelo prenome de uso ou apelido público notório. (art.58 LRP). Assim, o Pelé poderia substituir o Edson e passaria a se chamar Pelé Arantes do Nascimento. Antes da Lei 9708/98 que modificou o art.58 da LRP, só se podia acrescer o apelido público notório entre o prenome e o sobrenome como no caso do Luis Inácio Lula da Silva; 2) substituição do prenome pelo prenome que a pessoa é conhecida no meio social em que vive; 3) Retificação do prenome em caso de evidente erro gráfico (art.110 e parágrafos LRP); Ex. Renaldo por Reinaldo... 4) prenomes que exponham seu portador ao ridículo se este já não tiver sido impugnado pelo próprio escrivão do registro civil. Art.109 LRP. Há julgados autorizando, também, a alteração de sobrenome que expõe ao ridículo. Ex. Família Coito para sobrenome Couto. 3 5) Nos casos de adoção, pode se alterar o prenome (a pedido do adotante ou adotado) e o sobrenome. ECA, art.47 6) O art.56 LRP permite que após completar a maioridade a pessoa tem o prazo decadencial de um ano para requerer a alteração de seu nome sem prejudicar os apelidos de família. Costumam-‐se, nesse caso, acrescentar nomes intermediários como sobrenome materno, de avós etc assim como apelidos populares. (Luis Inácio Lula da Silva). Decorrido o prazo decadencial de um ano só por ação de retificação em casos excepcionalíssimos. Art.56 e 57 e 110 LRP. 7) em casos de homônimos que causem transtornos à pessoa ( O homônimo é, por exemplo, um criminoso). A clonagem de documentos não está sendo reconhecido pela jurisprudência como motivo para alteração do nome. 8) aqueles que serviram de testemunhas em crimes e correm risco de morte §7º. Art 57 LRP 9) pode se alterar o nome ainda pelo casamento, divórcio, art.57§2º.LRP. 10) enteado ou enteada pode acrescer ao seu nome o sobrenome do padrasto ou madrasta desde que tenha concordância deles e não prejudique os sobrenomes de família (§ 8º. Art.57) Vocês poderão encontrar na jurisprudência outros casos autorizando a alteração do nome como, por exemplo, transexuais, pessoas que foram abandonadas pelo pai quando crianças e querem excluir o sobrenome paterno do nomeetc. 4 PESSOA JURÍDICA A razão de ser da pessoa jurídica está na necessidade ou conveniência que os indivíduos têm de unirem esforços para a realização de objetivos comuns que ultrapassam as possibilidades individuais. São entidades que a Lei empresta personalidade, capacitando-‐as a serem sujeitos de direitos e obrigações. A principal característica das pessoas jurídicas é que elas têm personalidade distinta da de seus membros. Também chamadas de pessoas morais (França). Em Portugal de pessoas coletivas e na Argentina entes de existência ideal (designação dada por Teixeira de Freitas). REQUISTOS PARA CONSTITUIÇÃO DA PESSOA JURÍDICA 1) vontade humana criadora; 2) elaboração do ato constitutivo; 3) liceidade de seus objetivos; 4) registro do ato constitutivo no órgão competente. São quatro os requisitos para constituição da pessoa jurídica: a) vontade humana criadora (intenção de criar uma entidade distinta da de seus membros). A vontade humana se materializa no ato de constituição da pessoa jurídica que se denomina estatuto nos casos de associações (sem fins lucrativos). Contrato social em se tratando de sociedade simples ou empresária. Escritura pública ou testamento em se tratando de fundações (art.62). Para que comece a existência legal da pessoa jurídica o seu ato constitutivo deve ser levada a registro (art.45). Antes do registro não passa de mera sociedade de fato ou sociedade não personificada, equiparada por alguns ao nascituro que só adquire personalidade se nascer com vida. No caso da pessoa jurídica, só adquire personalidade com o registro de seu ato constitutivo. O registro do contrato social de uma sociedade empresária faz-‐se na Junta Comercial. Os estatutos e atos constitutivos das demais pessoas jurídicas de direito privado são registrados no Cartório de Registro Civil das pessoas jurídicas (CC art.1150 e arts.114 ss da LRP). 5 Algumas pessoas jurídicas precisam ainda de autorização ou aprovação do governo caso das seguradoras, consórcios e instituições financeiras; 2) observância das condições legais (instrumento particular ou público, registro, autorização ou aprovação do Governo) e 3) liceidade de seus objetivos (objetos ilícitos ou nocivos constituem causa de extinção da pessoa jurídica art.69); 4) Registro do ato constitutivo no órgão competente. A existência de pessoas jurídicas de direito público decorre da Lei ou de atos administrativos ou, ainda, de fatos históricos, da Constituição e de tratados internacionais sendo regido, neste último caso, pelo Direito Público. O registro das sociedades simples de advogados só se faz na OAB. (EOAB -‐ Lei 8906/94, arts.15 e 16, § 3º). Sem o registro de seu ato constitutivo a pessoa jurídica será considerada irregular, sociedade de fato, sem personalidade jurídica, ou seja, uma mera relação contratual disciplinada pelo estatuto ou contrato social. GRUPOS DESPERSONALIZADOS Mesmo não sendo pessoas jurídicas, não tendo personalidade jurídica, esses entes têm legitimidade reconhecida pela Lei para serem acionadas e acionar em juízo. Atribuí-‐se, portanto, uma capacidade processual de ser parte. Exs. Massa falida (representada pelo administrador judicial chamado antigamente de síndico), espólio (representado pelo inventariante), sociedades de fato ou irregulares (representada por seus administradores)......vide art.12 CPC. 6 CLASSIFICAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA A pessoa jurídica pode classificar-‐se quanto à nacionalidade, à sua estrutura interna e à sua função (ou órbita de sua atuação). 1) quanto à nacionalidade: nacional (1126) e estrangeira (1134); 2) quanto à estrutura interna: corporação (reunião de pessoas – universitas personarum); e fundação (reunião de bens – universitas bonorum) Distinção entre corporação e fundação: Corporação visa a realização de fins internos estabelecidos pelos sócios ou associados. As fundações, ao contrário, visam fins externos estabelecidos pelo instituidor. Nas corporações o patrimônio é elemento secundário (um meio para realização de um fim). Nas fundações o patrimônio é elemento essencial. As corporações dividem-‐se em associações e sociedades (simples ou empresárias). As associações não têm fins lucrativos, mas morais, culturais, desportivos ou beneficentes etc. As sociedades simples têm fins econômicos. São constituídas em geral por profissionais de uma mesma área (engenharia, advogados. Arquitetos, médicos). As sociedades empresárias também visam lucro. Distinguem-‐se das sociedades simples porque têm por objeto o exercício de atividade própria de empresário descrita nosartigos 966 e 967 do CC. Aplicam-‐se às sociedades simples e empresárias, no que couber e de forma subsidiária (residual), as regras das associações. (§ 2º., art.44 CC). 7 ASSOCIAÇÕES São pessoas jurídicas de direito privado constituídas de pessoas que reúnem os seus esforços para a realização de fins não econômicos. As associações não têm fins lucrativos (art.53). Trata-‐se de uma espécie de corporação, uma universitas personarum. Características das associações Não há entre os associados direitos e obrigações recíprocas, nem intenção de dividir resultados. (p.único, 53); O associado só pode ser excluído por justa causa depois de assegurado contraditório e ampla defesa em procedimento administrativo, nos termos previsto no estatuto. Art.57. Contudo, o associado pode retirar-‐se da associação a qualquer momento, cfe art.5, XX, CF/88. Os requisitos para elaboração de um estatuto de uma associação encontram-‐se no art.54 do CC. Para que a associação tenha personalidade jurídica é necessário que esse estatuto seja registrado no Registro Civil da Pessoa Jurídica. Os associados têm direitos iguais, porém o estatuto pode criar uma categoria de associados com vantagens especiais, ex. direito a voto. (art.55) A qualidade de associado é intransmissível, salvo se o estatuto dispuser de modo contrário. (56 CC). A segunda parte do 56 é criticada diante do art.5, XX, da CF/88 que dispõe: Ninguém é obrigado associar-‐se ou manter-‐se associado. 8 A circunstância de uma associação eventualmente realizar negócios para manter ou aumentar seu patrimônio sem proporcionar ganhos aos associados não a desnatura, ou seja, não tira o seu caráter de associação, desde que não ocorra a distribuição de resultados entre os associados. DISSOLUÇÃO DE UMA ASSOCIAÇÃO Em caso de dissolução da associação, os bens remanescentes serão destinados à entidade de fins não econômicos designados no estatuto ou, sendo o estatuto omisso, por deliberação dos associados, a instituição Municipal, Estadual ou Federal de fins idênticos ou semelhantes (Art.61). Poderão os associados no caso de dissolução, ainda, estabelecer que seja restituído aos associados o valor atualizado das contribuições prestadas para a formação do patrimônio da associação. Não havendo no Município, Estado ou União entidade de fins iguais ou semelhantes, o patrimônio da associação será destinado à Fazenda do Estado, do DF ou da União. FUNDAÇÕES As fundações constituem uma universalidade de bens que recebe personalidade para a realização de um determinado fim. Compõem-‐se, portanto, de dois elementos: o patrimônio e o fim (estabelecido pelo instituidor e não lucrativo). Só podem constituir-‐ se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência (art.62, par.único). Vem se entendendo que tal rol é meramente exemplificativo, abrangendo o artigo as fundações para fins científicos, educacionais, defesa do meio ambiente. FASES PARA FORMAÇÃO DE UMA FUNDAÇÃO 1) ato de dotação ou instituição – reserva de bens livres com a indicação do fim a que se destina – art.62 CC. Faz-‐se por escritura pública ou testamento; 2) Fase de elaboração dos estatutos. A elaboração pode ser direta ou própria, ou seja, feita pelo próprio instituidor ou fiduciária feita por pessoa de sua confiança. Se o 9 instituidor não elabora o estatuto nem indica quem deve fazê-‐lo,o MP pode ter a iniciativa. A incumbência de elaborar o estatuto também será do MP se a pessoa designada pelo instituidor não elabora o estatuto no prazo que lhe foi assinado ou, não havendo prazo, dentro de cento e oitenta dias. Art.65 e par.único. 3) fase da aprovação dos estatutos: são encaminhados ao MP para aprovação. O MP irá verificar se o objeto é lícito, se foram observadas as bases fixadas pelo instituidor e se os bens são suficientes. Se os bens forem insuficientes, os bens destinados a instituição da fundação serão incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante salvo se o instituidor tiver estipulado de modo diverso.Art.63. O MP pode aprovar o estatuto, promover alterações ou reprovar o estatuto. Nestes dois últimos casos pode o interessado requerer ao juiz o suprimento da aprovação.art.1201§1º.CPC. O juiz antes de suprir a aprovação pode também proceder alterações no estatuto a fim de adaptá-‐lo aos fins pretendidos pelo instituidor. Art.1201 §2º. CPC. A revogação da fundação depende de como ela foi constituída. Se por escritura pública, enquanto não for registrada poderia ser revogada. (Atenção: Parte da doutrina entende que comoela tem um fim que interessa à sociedade, a fundação não poderia ser revogada. Não nos parece a melhor interpretação). Se for constituída por testamento, enquanto a pessoa estiver viva ela pode ser revogada. Depois de morta, os seus herdeiros não poderiam revogá-‐la. Os bens de uma fundação são inalienáveis mas essa inalienabilidade não é absoluta. Com autorização judicial, após ouvido o MP, e desde que o produto da venda reverta para a fundação pode ser vendido. Os objetivos da fundação esse sim são inalteráveis mesmo que por unanimidade de votos. 4) fase do registro no Cartório de Registro Civil das pessoas jurídicas.(114, I, LRP). 10 EXTINÇÃO DAS FUNDAÇÕES 1) quando se tornar ilícito, nocivo, impossível ou inútil seu objeto (fundação para cura da AIDS e chega à cura) ; 2) se vencer o prazo de sua existência (hipótese remota uma vez que a maioria das fundações são por prazo indeterminado). Havendo a extinção da fundação o patrimônio terá o destino previsto pelo instituidor no estatuto. Se não dispuser nada a respeito o patrimônio será incorporado em outra fundação Municipal, Estadual ou Federal que tenha fim igual ou semelhante. Art.69. Classificação PJ continuação 3) quanto à função ou à órbita de sua atuação as pessoas jurídicas podem ser: a) de Direito Público Interno: União, Estados, Municípios, DF, territórios, autarquias e associações públicas e demais entidades de caráter público criadas por lei (art.41); b) de Direito Público Externo: Os Estados estrangeiros e as pessoas regidas pelo Direito Internacional Público, como a ONU, A Santa Sé a OEA etc (art.42); c) De Direito Privado: as corporações (associações, sociedades simples e empresárias, organizações religiosas (seguirão por analogia as regras das associações), partidos políticos (têm lei própria 9096/94 e natureza associativa) e as fundações particulares. Art.44 CC. Foi incorporado no ano de 2011 um inciso VI ao art.44, a saber: as empresas individuais de responsabilidade ltda. (EIRELI) Ficou estabelecido na III Jornada de Direito Civil que, tanto as organizações religiosas, quanto os partidos políticos e os sindicatos, têm natureza associativa. 11 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA Vimos que uma das principais características de uma pessoa jurídica é que sua personalidade não se confunde com a de seus membros. Isso fazia com que a pessoa jurídica pudesse ser utilizada para fins fraudulentos de modo que os bens de seus membros ficassem imunes a apreensão judicial. Foi levando tal fato em consideração que surgiu a teoria da desconsideração da personalidade jurídica (disregard theory). Por essa teoria havendo abuso de personalidade jurídica caracterizado pelo desvio de finalidade ou confusão patrimonial pode o juiz tirar o véu da pessoa jurídica que a separa de seus membros e determinar que os bens particulares dos seus administradores ou sócios respondam por suas obrigações. É o que determina o artigo 50 do CC. DESCONSIDERAÇÃO INVERSA: quando os bens da pessoa jurídica passam a responder por obrigações particulares dos sócios. Ex. um dos cônjuges adquire bem de maior valor e coloca na PJ para tirar esse bem da partilha no divórcio. EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO 1) Convencional: por vontade de seus membros conforme quorum previsto nos estatutos ou em lei; 2) Legal: em razão de motivo determinante na Lei. Ex. decretação de falência, art.1028,II; 3) Administrativa: A PJ depende de autorização do governo para funcionar e essa autorização é cassada, cancelada; (Motivo prática de atos contrários aos seus fins). 4) Natural: resulta da morte dos membros, se não ficou estabelecido que a PJ prosseguirá com os herdeiros. 5) Judicial: por ordem do juiz. 12 Enunciados importantes sobre PJ da IV Jornada de Direito Civil 281. A aplicação da teoria da desconsideração, descrita no art.50 do CC, prescinde da demonstração de insolvência da pessoa jurídica. 282. O encerramento irregular da pessoa jurídica, por si só, não basta para caracterizar abuso de personalidade jurídica. 283. É cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada “inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros. 284. As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos ou de fins não econômicos estão abrangidas no conceito de abuso da personalidade jurídica. DOMICÍLIO Como as relações jurídicas se formam entre pessoas é necessário que estas tenham um local, livremente escolhido ou determinado pela lei, onde possam ser encontradas para responder suas obrigações. Esse lugar é o seu domicílio. Domicílio é o lugar em que a pessoa atua na vida jurídica. Lugar onde a pessoa pratica habitualmente seus negócios jurídicos e responde por suas obrigações. Latim domus casa ou morada. 13 DOMICÍLIO DA PESSOA NATURAL O Art.70 do CC estabelece que o domicílio da pessoa natural é o lugar que ela estabelece sua residência com ânimodefinitivo. Há, portanto, na definição de domicílio da pessoa natural dada pelo art.70 a conjunção de dois elementos: um material/objetivo, representado pela ideia de residência e outro subjetivo/psicológico representado pelo requisito do ânimo definitivo. Como descobrir esse ânimo definitivo? Mediante a análise das circunstâncias externas que revelam a intenção da pessoa de fazer determinado local o centro de suas atividades jurídicas. O domicílio não se confunde com o conceito de residência (lugar onde habitualmente a pessoa é encontrada, que exige permanência prolongada). A residência é apenas o elemento objetivo/material do conceito de domicílio. Ela não se confunde com morada ou habitação (local que a pessoa ocupa esporadicamente). Essas duas últimas têm menor expressão que a residência. Já o de domicílio compreende o conceito de residência com o ânimo de fazer o centro de sua atividade jurídica. Portanto posso ter um só domicílio e várias residências. Porém, não posso ter uma residência e vários domicílios, pois se residência integra o conceito de domicílio, ao ter vários domicílios obrigatoriamente terei várias residências. Posso ter também vários domicílios uma vez que o Código Civil brasileiro, seguindo orientação do CC alemão, admite a pluralidade de domicílios da pessoa natural. Vide art.71. Basta ter várias residências onde alternadamente viva. A doutrina acrescenta ao art.71, a necessidade de ter também o ânimo definitivo nessas várias residências onde se alternadamente viva. 14 O art.72 trata do domicílio profissional dizendo que é também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida. Se exercitar a profissão em lugares diversos (médico), cada um deles constituíra seu domicílio profissional. § único do art.72. Domicílio ocasional ou aparente: é aquele da pessoa que não tem residência fixa ou que seja de difícil determinação. Caso dos ciganos, andarilhos, caixeiros-viajantes, considera-se domicílio dessas pessoas o lugar em que forem encontradas. Art.73 ESPÉCIES DE DOMICÍLIO 1) voluntário – estabelecido livremente pela pessoa de acordo com sua vontade e conveniência; arts.70 a 73 O domicílio voluntário pode ser: a) geral (escolhido livremente, depende somente da vontade da pessoa) e b) especial: b1) fixado com base no contrato, podendo ser nesse caso denominado de contratual (é o do art.78 – local especificado no contrato para o cumprimento das obrigações dele resultantes) e b2) de foro de eleição (escolhido pelas partes para proposituras de ações relativas às obrigações e direitos recíprocos – Art.111 CPC). 2) legal ou necessário – é aquele conferido pela lei à determinadas pessoas que se encontram em dadas circunstâncias. Exs. Incapazes (será o seu domicílio o de seu representante ou assistente), servidores públicos (o lugar onde exercem permanentemente as suas funções), militares (exército: onde está servindo; marinha ou aeronáutica – base/sede do comando a que se encontra subordinado), presos (onde cumprem sentença), e, por fim, o 15 marítimo (terá seu domicílio o lugar em que o navio estiver matriculado) Art.76. O agente diplomático que citado no estrangeiro alega extraterritorialidade, sem declinar qual o seu domicílio no território nacional, terá como seu domicílio o DF ou último ponto do território nacional onde teve seu domicílio. Vide art.77. MUDANÇA DE DOMICÍLIO – Não basta trocar de endereço. Só ocorre quando a pessoa natural altera sua residência com a intenção de transferir também seu centro de negócios. Essa intenção é aferida pela conduta da pessoa. Art.74 Prova da intenção par.único. DOMICÍLIO DA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO A PJ de direito privado não tem residência mas sede ou estabelecimento que pode ser livremente escolhido no seu estatuto ou ato constitutivo (trata-se aqui de seu domicílio especial). Não o sendo livremente escolhido, o domicílio da pessoa jurídica de direito privado será o lugar em que funcionem sua diretoria ou administração. Art 75, IV. Súmula 363 do STF: “a pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio da agência ou estabelecimento em que se praticou o ato”. Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado seu domicílio para os atos nele praticados. (pluralidade de domicílios da PJ) art.75 § 1º. Administração ou diretoria com sede no estrangeiro: Neste caso terá a PJ domicílio o lugar do estabelecimento no Brasil onde as 16 obrigações foram contraídas correspondente a cada agência (filial). Art.75 § 2º. As pessoas jurídicas de Direito Público Interno têm por seu domicílio a sede de seu governo. Assim, dispõe o art.75 CC que o domicílio: da União é o Distrito Federal; Dos Estados e territórios as respectivas capitais, Do Município onde funcione a administração municipal. LIVRO II CC – BENS Estudamos, até aqui, os sujeitos de direito, ou seja, as pessoas. Abordaremos, agora, o objeto do direito, das relações jurídicas, ou seja, os bens. A primeira informação relevante é que o Código Civil classifica os bens levando em consideração: os bens considerados em si mesmos, reciprocamente considerados (um em relação ao outro) e quanto ao titular do domínio. A palavra coisa, ainda que utilizada na técnica jurídica em certas relações como o termo bem, com ele não se confunde, pois, há bens jurídicos (são aqueles que merecem proteção do Direito), que não são coisas, como: a liberdade, a honra, a vida, o nome. Para parte da doutrina, coisa é gênero do qual bem é espécie (Silvio Rodrigues, Carlos Roberto Gonçalves, Maria Helena Diniz dentre outros). Para outra parte da doutrina bem é gênero do qual coisa é espécie (Orlando Gomes, Caio Mário da Silva Pereira, Cristiano Chaves de Faria e Nelson Rosenvald). Coisa é tudo que existe objetivamente, com exceção do homem. O homem não é considerado coisa porque é sujeito de direito. 17 Bens são coisas materiais, concretas, úteis ao homem, de expressão econômica, suscetíveis de apropriação, assim como aquilo que é de existência imaterial economicamente apreciável. Portanto, aquilo que não é possível de ser apropriado pelo homem (Ex. o ar atmosférico, a água dos oceanos, são chamados de coisas comuns e não podem ser objeto da relação jurídica. Sendo possível a sua apropriação em porções limitadas (Ex.gás comprimido, água encanada, tornam-se objeto do direito). E as coisas sem dono (res nullius) ou que foram abandonadas (res derelicta) são bens? Sim, pois podem ser apropriadas. Bens corpóreos e incorpóreos A noção de bem corpóreo e incorpóreo vem do direito romano. A nossa Lei não contempla dispositivo específico a respeito de tais bens por considerar tal distinção de pouca importância prática. Contudo, essa classificação não deixa de ter importância uma vez que os bens corpóreos se transmitem por compra e venda, permuta ou troca enquanto que os bens incorpóreos se transmitem por cessão. Bem corpóreo: é aquele que tem existência física, material, que podem ser tocados ou perceptíveis por outros sentidos (gases, vapor a eletricidade). Bem incorpóreo: é aquele que tem existência abstrata ou ideal mas valor econômico (direito autoral, direito ao crédito, know-how (conhecimento técnico de valor econômico concernente à indústria ou comércio), o software (programa de computador). 18CLASSIFICAÇÃO DOS BENS A importância de se saber a classificação de um bem implica na aplicação de regras próprias e específicas a cada bem. Pode um bem enquadrar-se em mais de uma categoria. Ex. caneta é um bem móvel, corpóreo, consumível etc. BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS 1. Móveis e Imóveis: é a mais importante das classificações. Alguns efeitos práticos da distinção entre bens móveis e imóveis: a) Os bens móveis são adquiridos, em regra, pela simples tradição (entrega do bem) enquanto que os imóveis são adquiridos por escritura pública e registro do título aquisitivo no Cartório de Registro de Imóveis; b) Os imóveis para serem alienados precisam da anuência do cônjuge (salvo se o regime de casamento for o de separação total de bens), o mesmo não se dá com os móveis. Ex. vender o carro e o meu apartamento. BENS IMÓVEIS Denominados de bens de raiz. São aqueles que não podem ser transportados de um lugar para o outro sem que sejam destruídos. Os artigos 79 e 80 do CC definem os bens imóveis. O art.79 considera como bem imóvel o solo e tudo aquilo que nele se incorporar seja natural ou artificialmente. O artigo 80 define os imóveis assim considerados pela própria lei: os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram; o direito à sucessão aberta. 19 Pelos artigos 79 e 80 do CC podemos classificar os bens imóveis em: 1) Imóveis por natureza: a rigor somente o solo, com sua superfície, espaço aéreo e subsolo é imóvel por natureza. Tudo o mais que adere a ele deve ser classificado como imóvel por acessão. 2) Imóveis por acessão natural: incluem-se nessa categoria as árvores e os frutos pendentes. E árvores destinadas ao corte? São considerados bens móveis por antecipação. E as árvores plantadas em vaso (pinheiro de natal)? Não são imóveis porque são removíveis. 3) Imóveis por acessão artificial ou industrial: (acessão é aderência): é tudo quanto o homem incorpora permanentemente ao solo (semente lançada na terra, edifícios de modo que não se possa retirar sem destruição. Portanto, não se incluem aqui as construções provisórias que se destinam a remoção ou retirada como circos e parques de diversões, barracas de feiras... O artigo 81 estabelece que não perdem o caráter de imóveis: I- as edificações separadas do solo que forem removidas para outro lugar desde que conservem sua unidade. (casas pré-fabricadas que as pessoas transportam para incorporar em outra localidade continuam imóveis para efeitos da lei); II – Os materiais separados de um prédio para nele se reempregarem (o que se tira de um prédio para nele novamente se incorporar pertencerá ao imóvel e será imóvel). Veja que o artigo 84 é coerente com essa previsão do legislador. 20 Imóveis por destinação legal (art.80): são considerados imóveis por força de lei: 1) os direitos reais sobre imóveis e as ações que os assegurem; 2) o direito à sucessão aberta. Nesse último, mesmo que todos os bens deixados pelo falecido sejam móveis. Assim se é imóvel a renúncia à herança exige escritura pública, autorização do cônjuge, cessão de direitos hereditários por escritura pública com autorização do cônjuge; BENS MÓVEIS O artigo 82 conceitua os bens móveis como sendo aqueles suscetíveis de movimento próprio ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da sua destinação econômica-social. O artigo 83 considera os bens móveis para efeitos legais. E a doutrina ainda cita os móveis por antecipação. Os móveis por natureza podem ser os semoventes: são os com movimento próprio Ex.animais. Móveis propriamente ditos: São os que admitem remoção por força alheia, sem dano, como os objetos inanimados, não imobilizados por sua destinação econômica-social. Ex. objetos de uso, ações. Móveis por determinação legal: o art.83 elenca como bens móveis para efeitos legais: I – as energias que tenham valor econômico (gás, elétrica); II – os direitos reais sobre móveis e as ações correspondentes; III – os direitos pessoais patrimoniais e as respectivas ações; A doutrina menciona, ainda, os bens móveis por antecipação. São aqueles que são incorporados ao solo mas com a intenção de separá- 21 los futuramente. (árvores destinadas ao corte e frutos ainda não colhidos). Enquadram-se aqui os imóveis velhos que são vendidos para demolição. BENS FUNGÍVEIS E INFUNGÍVEIS Bens fungíveis são aqueles que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. A fungibilidade é característica de bens móveis. Art.85. Bem fungível por excelência é o dinheiro. Bens infungíveis são aqueles que NÃO podem ser substituídos por outros de mesma espécie, qualidade e quantidade. Quadro da Monalisa. A fungibilidade decorre, em regra, da natureza das coisas, mas pode resultar da vontade das partes. Moeda é fungível. Determinada moeda para um colecionador pode se tornar bem infungível. Boi se emprestado a um vizinho para lavoura é infungível se dado para corte pode ser substituído por outro. Importância da distinção de bem fungível e infungível: empréstimo de bem fungível – contrato de mútuo; de bem infungível – contrato de comodato. BENS CONSUMÍVEIS E INCONSUMÍVEIS Bens consumíveis: são bens móveis em que o uso importa a destruição imediata de sua própria substância. Também são consumíveis os bens destinados a alienação. Art.86. Do conceito dado pelo artigo 86 do CC podemos dizer que os bens são consumíveis de 22 fato (natural ou materialmente consumíveis) e de direito (juridicamente consumíveis). Bens Consumíveis de fato ou materialmente consumíveis: São aqueles em que o uso importa destruição imediata da sua própria substância: gêneros alimentícios, giz... Bens consumíveis de Direito ou juridicamente consumíveis: aqueles destinados à alienação. Ex: casa à venda numa imobiliária, as mercadorias à venda de um supermercado. Inconsumíveis são os bens cujo uso não importa destruição de sua substância. Livros numa livraria são juridicamente consumíveis, pois destinados à alienação e na biblioteca passam a ser inconsumíveis. A consuntibilidade não decorre apenas da natureza do bem mas de sua destinação econômica-jurídica. Pode assim o bem consumível tornar-se inconsumível pela vontade das partes. Ex. comestível ou garrafa de refrigerante emprestada para uma exposição que devem ser devolvidos. Inconsumível de fato pode transformar-se em juridicamente consumível livros colocados à venda na livraria. BENS DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS Bens divisíveis são aqueles que podem fracionar-se sem que: a) percam sua substância (Ex.boi); b) tenham diminuição considerável de valor (Ex.diamante 50 quilates por 50 de um quilate – herdeiro prejudicaria os outros exigindo a divisão); c) apresentem prejuízo ao uso que se destinam (Carro). Art.87. Relógio é indivisível. 23 Art.88 diz que os bens naturalmente divisíveis podem se tornar indivisíveis pela por determinação da lei ou da vontade das partes. Conclui-se, pois, que os bens podem ser indivisíveis: a) por sua própria natureza; b) por determinação da lei; por vontade das partes (solidariedade). A divisibilidade ou indivisibilidade do bem repercute em vários ramos do direito, especialmente no que se refere aos condomínios. Se for divisível ou indivisível diferente será o procedimento para sua extinção. (1320 a 1322). BENS SINGULARES E COLETIVOS São singulares aquelesbens que se consideram por si, ainda que reunidos, independente dos demais. Quando considerados na sua individualidade. Art.89. Ex. cavalo, caneta, lápis. Árvore pode ser singular (se for considerada individualmente) ou coletivo (se agregada a outras formando uma universalidade de fato (floresta). Coletivos são aqueles bens que são considerados em conjunto, formando um todo, uma unidade. Os bens singulares podem ser simples ou compostos. Simples: suas partes estão ligadas pela própria natureza. Cavalo, boi.. Compostos: quando suas partes estão ligadas pela natureza humana. Um edifício. Os bens coletivos, chamados de universais ou universalidades, abrangem as universalidades de fato (art.90 e seu p.único – Ex. 24 rebanho, biblioteca, galeria de quadros – podem ser alienados conjuntamente ou individualmente – são aqueles reunidos pela vontade do homem) e as universalidades de direito (constituem um complexo de direito ou relação jurídica dotados de valor econômico – massa falida, herança, fundo de comércio – são aqueles considerados em conjunto pela lei). Diferença da universalidade de fato da de direito. A primeira decorre da vontade do titular a segunda decorre da lei. BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS Aqui leva-se em consideração um bem em relação a outro. Bem principal: é aquele que subsiste por si mesmo, abstrata ou concretamente. É aquele que para existir não depende da existência de outro bem. Art.92 Bem acessório: é aquele cuja existência supõe a do principal. Ex. O solo é bem principal e a árvore é acessório porque sua existência supõe a do solo onde foi plantada. Art.92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal. Consequência da distinção: Como regra, o bem acessório segue o destino do principal (Para que isso não ocorra é necessário convencionar o contrário). Ex. Venda de carro retirando rádio. 25 Regras sobre bens acessórios e principais: 1) Normalmente, a natureza do acessório é a mesma do principal. Portanto, se o solo é imóvel, a árvore a ele anexada também o é; 2) Salvo estipulação em contrário a respeito, o bem acessório acompanha o bem principal em seu destino. Assim, extinta a obrigação principal, extingue-se a acessória mas o contrário não é verdade. Extinto o contrato de locação (obrigação principal), extingue-se a fiança (obrigação acessória). 3) Geralmente, o proprietário do principal é o proprietário do acessório. Vide 237 até a tradição, pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais pode exigir aumento no preço. Classe de bens acessórios (art.95). Produtos: São as utilidades que se retiram da coisa diminuindo-lhe a quantidade, porque não se reproduzem periodicamente. Ex. carvão extraído da mina, petróleo de um poço. Distinguem-se dos frutos porque nestes últimos a colheita não diminui a substância da fonte. (1232). Frutos: São as utilidades que a coisa periodicamente produz. Ex. cria dos animais, frutas das árvores, vegetais fornecidos pelo solo...Características dos frutos: a) periodicidade; b) inalterabilidade da substância da coisa principal; c) separabilidade da coisa principal. 26 Quanto à origem os frutos dividem-se em: a) Naturais: são aqueles que se renovam periodicamente pela própria natureza. Ex. cria de animais, frutos das árvores; b) industriais: São aqueles que dependem da atuação humana. Ex. produtos manufaturados de uma fábrica; c) Civis: são os rendimentos tirados da coisa em virtude da sua utilização por outro que não seja o proprietário. Ex. juros, aluguéis... Quanto ao estado, Clóvis Beviláqua, classifica os frutos em: pendentes: aqueles que estão unidos a coisa que o produziu; percebidos ou colhidos: aqueles que estão separados da coisa que os produziu; estantes: separados e armazenados para venda; percipiendos: os que deviam ser mas não foram colhidos ou percebidos; e consumidos: os que não existem mais porque foram utilizados. Essa classificação é de suma importância quando vocês estudarem a posse. (ver 1214 e 1216). Pertenças: bens móveis que estão afetados de forma duradoura ao serviço ou ornamentação de outro bem. (93) Ex serviço: trator destinado a exploração da propriedade agrícola; ornamentação: os objetos de decoração de uma residência. As pertenças, ao contrário dos frutos, produtos e benfeitorias, não são partes integrantes do bem. 27 Art.94 Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se resultar da lei, da vontade das partes ou da circunstância do caso. O acessório segue o principal aplica-se só as partes integrantes o que não é o caso das pertenças. Ex. Mobiliário de imóvel alienado (vendido) não o acompanham, em regra, pois são considerados pertenças. BENFEITORIAS Também são considerados bens acessórios as benfeitorias que podem ser (art.96): 1) benfeitorias necessárias: aquelas destinadas a conservação do bem ou evitar que se deteriore; reforma da fachada de prédio. Também pode se qualificar de necessária uma benfeitoria que visa permitir a normal exploração do bem Ex. a adubação de uma plantação. (visa conservar o bem). 2) benfeitorias úteis: aquelas que aumentam ou facilitam o uso do bem. Ex. acréscimo de garagem em casa; São as que não se enquadram na necessária. (visa melhorar o bem) 3) benfeitorias voluptuárias: são aquelas de mero deleite ou recreio que não aumentam o uso habitual do bem ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor; Ex. jardins, fontes, cascatas, alguns piscina... (visa embelezar) A importância da distinção se dá nos efeitos da posse e no direito de retenção (1219), locação (578)... 28 Não são benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos do bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor, ou seja, aquelas que ocorrem por obras da natureza. (art.97) Alguns bens também não são considerados benfeitorias ou acessórios, como a pintura em relação à tela, escritura em relação à matéria-prima, em geral trabalhos artísticos. Bens quanto ao titular do domínio: Bens públicos e particulares Bens públicos: são aqueles pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno. Todos os outros bens são particulares independentemente da pessoa que pertencerem. (98). Os bens públicos podem ser: 1) bens de uso comum do povo: são aqueles que podem ser utilizados por qualquer um do povo. Ex. praças, mares, ruas, estradas, rios...(99,I). Se o poder público regulamentar seu uso ou cobrar pedágio nas rodovias eles não perdem essa característica; 2) bens de uso especial: são aqueles destinados à execução de um serviço público. São os edifícios onde estão instalados os serviços públicos, as secretarias, ministérios, escolas...(99,II). Uso comum e especial são inalienáveis enquanto conservarem sua qualificação de uso comum ou especial. (se são inalienáveis são imprescritíveis, impenhoráveis). Aqueles suscetíveis de valoração econômica, contudo, podem perder a inalienabilidade pela desafetação (alteração da destinação do bem) na forma que a lei determinar. (100). 29 3) bens dominicais ou do patrimônio disponível: são aqueles que integram o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público interno. Ex. bens obtidos em ações. Não estandoafetado a nenhuma finalidade pública específica, podem ser alienados por meio de institutos de direito privado ou de direito público, observadas as exigências da Lei (101). Se afetados a finalidade pública específica não podem ser alienados. Enfim, a alienabilidade dos bens dominicais não é absoluta, pois eles podem ser afetados. Os bens públicos não são passíveis de usucapião. 183 § 3º.CF e 191 CF. (inclusive os dominicais). BEM DE FAMÍLIA No bem de família eu afeto um bem para ter um destino especial que é ser a residência da família e, enquanto o for, ser impenhorável por dívidas. (posteriores à sua constituição). O bem de família incide sobre bens imóveis e móveis a estes últimos vinculados. Há duas espécies de bem de família no Direito Brasileiro: a) voluntário: aquele que é instituído pelos cônjuges, companheiros, terceiros ou pela entidade familiar. Só se verifica quando o proprietário tem dois ou mais imóveis residenciais e não deseja que a impenhorabilidade recaia sobre o imóvel de menor valor como determina a Lei 8009/90. É raramente instituído; b) involuntário, obrigatório ou legal: aquele que decorre automaticamente da Lei 8009/90 e recai sobre o imóvel de menor valor. 30 BEM DE FAMÍLIA VOLUNTÁRIO Pode ser instituído pelos cônjuges, companheiros ou pela entidade familiar (comunidade formada por qualquer um dos pais com os filhos), mediante escritura pública ou testamento. (1711). Pode também ser instituído por terceiro mediante testamento e doação, dependendo a eficácia do ato, nesse caso, à aceitação expressa de ambos os cônjuges beneficiados ou da entidade familiar beneficiada. (p.único 1711). Poderá recair sobre prédio residencial urbano ou rural destinado a domicílio familiar, incluindo suas pertenças e acessórios, desde que o seu valor não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição. 1711/1712. (Ex. tem 4 apartamentos como residência da família 100, 200, 400 e 500 mil reais – 1/3 patrimônio líquido = 1200:3=400, pode colocar o de 400 como bem de família, ou de 200 ou de 100). Se fosse o legal recairia sobre o de 100 mil, obrigatoriamente. Poderá o bem de família abranger, ainda, valores mobiliários (ações, investimentos com remuneração periódica....) cuja renda será aplicada na conservação do imóvel instituído como bem de família e no sustento da família. Ou seja, o bem de família móvel encontra-se vinculado ao imóvel, não podendo aquele existir isoladamente nem exceder ao valor do prédio convertido em bem de família. (valor de sua instituição). Art.1712/1713. Se recai sobre imóvel destinado à residência da família, não pode o bem de família recair sobre terreno, galpão industrial, loja etc.. 31 Só surte efeitos a partir do Registro de sua constituição no Cartório de Registro de Imóveis (1714), seja por escritura pública, testamento ou doação (no caso de decorrer sua instituição por terceiro sendo que aqui exige-se também a aceitação dos cônjuges beneficiados ou da entidade familiar beneficiada), ou seja, só gozará de impenhorabilidade por dívidas posteriores ao registro, salvo aquelas decorrentes de tributos ou de despesas do condomínio em que o bem de família responderá mesmo após sua constituição. (1715) O bem de família voluntário dura até enquanto viver um dos cônjuges (companheiros), ou na falta destes, até que os filhos completem a maioridade, desde que não sujeitos a curatela (1716/1722). No caso da morte de apenas um dos cônjuges, o sobrevivente poderá pedir a extinção do bem de família se for o único bem do casal. (p.único 1721). (Muito criticado pela doutrina pois poderia prejudicar os filhos, mas como o juiz deve autorizar se verificar tal hipótese deve indeferir a extinção). O Bem de família não pode ser alienado (tanto o imóvel como os valores mobiliários destinados a sua conservação e sustento da família), sem o consentimento dos interessados e ouvido o MP. (1717). Por isso entende-se que o bem de família voluntário é impenhorável e inalienável. Para parte da doutrina exige-se, ainda, na alienação a autorização judicial. Impossibilidade de manutenção: Verificando-se a impossibilidade de manutenção do bem de família nas condições em que foi instituído, poderá o juiz, a requerimento dos interessados, extingui-lo ou autorizar a sub-rogação dos bens que o constituem em outros, ouvidos o instituidor e o MP. (1720). 32 Administração do bem de família: a administração do bem de família compete a ambos os cônjuges. Se houver divergência entre eles o juiz decide. Com o falecimento deles, passará ao filho mais velho se for maior, se for menor passará ao seu tutor. BEM DE FAMÍLIA OBRIGATÓRIO, LEGAL OU INVOLUNTÁRIO Decorre automaticamente da Lei 8009/90. A Lei 8009/90, tornou impenhorável o único imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, que não responderá por qualquer dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo no caso das exceções previstas na Lei 8009/90. (art.1º. Lei). Se o casal ou entidade familiar tiver mais de um imóvel sendo utilizado como residência será impenhorável aquele de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado como bem de família voluntário nos termos do CC. (art.5, p.único lei). E o imóvel pertencente aos solteiros, viúvos ou divorciados tem a proteção do bem de família obrigatório? Sum.364 STJ. E os separados de fato têm duas proteções? Não, tem se considerado bem de família aquele em que vive a mulher com os filhos caso contrário haveria possibilidade de fraude para proteger dois imóveis bastando o casal declarar a separação de fato. Dependerá da análise do caso concreto. Além do imóvel, a impenhorabilidade abrange as plantações, benfeitorias de qualquer natureza, e todos os equipamentos (geladeiras, eletrodomésticos, telefone se possuir vários só um é 33 impenhorável 10 tvs de Lcds), inclusive os de uso profissionais e os móveis da casa, desde que quitados. Art.2º Lei. Veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos ficam fora da impenhorabilidade. Precisa de Registro no Cartório de Imóveis? Não, o instituidor é o próprio Estado. Também são considerados bem de família obrigatório, os móveis que guarnecem a residência do locatário desde que quitados. Art.2, p.único. Constituem exceções do bem de família obrigatório (art.3, Lei): 1) os créditos dos empregados domésticos e suas respectivas contribuições previdenciárias; 2) o crédito decorrente do financiamento da construção ou aquisição do respectivo imóvel; 3) créditos de pensão alimentícia; 4) impostos, taxas e contribuições devidas pelo imóvel; 5) se o imóvel foi dado em hipoteca; 6) o imóvel adquirido por produto de crime; 7) o imóvel do fiador pelos débitos de seu afiançado no contrato de locação. 34 Também não se beneficia do bem de família obrigatório aquele que, sabendo-se insolvente, adquire imóvel de maior valor para residir com sua família (desfazendo ou mantendo a moradia antiga). Art.4º. Neste caso o juiz transfere a impenhorabilidade para a residência anterior ou anula a sua venda, liberando a mais valiosa para execução. §1º. Art.4. Nos imóveis rurais, a impenhorabilidade restringe-se a sede da moradia e respectivos bens móveis. § 2º. Art.4º. E despesas condominiais? A jurisprudência tem entendidoque é exceção ao bem de família por estar incluída nas contribuições devidas pelo imóvel. É taxativo, numerus clausus? Ou posso incluir outra exceção? Taxativo. Pode ser declarada a impenhorabilidade do bem de família obrigatório de ofício pelo juiz? Sim, por tratar-se de norma de ordem pública.
Compartilhar