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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Elementos de Processo Penal Aula 1 Professor Mário Luiz Ramidoff CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa Inicial Olá! Seja bem-vindo à primeira aula da disciplina “Elementos de Processo Penal”! Neste encontro, você irá conhecer os princípios do processo penal, que orientam sua aplicação e interpretação. A partir disso, é possível entender sua importância para o desenvolvimento adequado de um processo com todas as garantias. Antes de começar, acesse o material on-line e confira a videoaula do professor Márcio! Contextualizando Um homem ficou preso 2 anos e não tinha cometido crime algum. Essa frase resume um caso real. Acessando o link a seguir você vê os detalhes dessa história e qual foi a decisão judicial em relação a ela: http://www.folhamax.com.br/cidades/juiz-manda-estado-pagar-r-100-mil-a- homem-que-ficou-2-anos-preso/78911 Acesse o material on-line e confira o vídeo do professor Márcio! Ele vai comentar o caso, analisando se o processo penal foi justo ou não. Pesquise Tema 1 – Princípio do Juiz Natural Segundo Coutinho (2000, p. 3), o Princípio do Juiz Natural tem por diretriz assegurar a garantia ao Juízo de Direito competente previamente estabelecido na organização judiciária, impedindo-se, assim, a criação de tribunais ad hoc, “de exceção ou post factum”. O Princípio do Juiz Natural impõe limites à competência jurisdicional ao mesmo tempo em que assegura ao órgão julgador legalmente competente a plenitude do conhecimento e julgamento da questão posta em discussão. Ele assegura às partes o exercício do direito à jurisdição, isto é, à CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 regular e válida instauração e desenvolvimento procedimental da relação jurídica processual específica perante o Juízo de Direito prévia e abstratamente competente para a (re)solução jurídico-legal adequada da lide. Também impõe limites à “atividade de normatização local, na tarefa de disciplinar procedimentos em matéria de processo” (STF, 2010). A orientação principiológica, de igual maneira, aplica-se aos órgãos ministeriais de execução denominando-se, assim, Princípio do Promotor Natural, com o intuito de que sejam asseguradas a autonomia e independência funcionais. As atribuições ministeriais são constitucional e legalmente estabelecidas ao órgão de execução para que possa desenvolver todas as atividades necessárias à persecução penal. Neste sentido, observa-se que o inciso LIII do artigo 5º da Constituição da República de 1988 prevê expressamente que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente” (BRASIL, 1988). A inobservância do Princípio do Juiz Natural gerará nulidade processual, em regra, sempre que for demonstrado o prejuízo concreto à parte que suscita o vício, uma vez que não se deve judicialmente decretar nulidade processual por mera presunção, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal: “independentemente da sanção prevista para o ato, podendo ser ela tanto a de nulidade absoluta quanto à relativa” (STF, 2016). Para mais informações sobre o Princípio do Juiz Natural, acesse o material on-line e confira a videoaula do professor Márcio. Tema 2 – Princípio da Inevitabilidade O Princípio da Inevitabilidade pode ser compreendido pela ideia de que a jurisdição penal é indispensável para a resolução de questões relativas à responsabilização criminal do agente a quem se tenha atribuído a prática de conduta considerada delituosa (crime). Ele é também denominado Princípio da Irrecusabilidade ou do Acesso à Justiça e encontra-se vinculado ao que dispõe o inciso XXXV do artigo 5º da CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 Constituição da República de 1988, ou seja, que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988). Portanto, os deveres legais estabelecidos, em seu conjunto, como funções destinadas ao órgão julgador constituem-se expressões da respectiva competência jurisdicional destinada, então, à resolução judicial de determinado caso concreto. Isso porque em um Estado Democrático (Constitucional) de Direito a função de julgar deve ser destacada das atribuições legais destinadas à persecução penal, assim como à acusação. Somente assim será legal e legitimamente possível tornar inevitável a intervenção estatal, de caráter vinculativo e obrigatório às partes. A autoridade da coisa julgada de uma decisão judicial, que assim transitou em julgado, torna-se de observância obrigatória e inafastável não só pelas partes, mas em relação a terceiros. Isso porque a prestação jurisdicional, enquanto um dos deveres legais do Estado (Poderes Públicos), é uma das expressões da autodeterminação dos povos (soberania), que exige reconhecimento e respeito de todos, consoante as regras do jogo democrático — observância da lei (per lege) e submissão à lei (sub lege). Para mais informações sobre o Princípio da Inevitabilidade, acesse o material on-line e confira a videoaula do professor Márcio. Tema 3: Princípio da Indeclinabilidade O princípio da indeclinabilidade é referente à atribuição legalmente destinada ao Estado para a resolução de conflitos, através exercício da jurisdição. O Estado tem o monopólio, isto é, a exclusividade do exercício da jurisdição, a qual, enquanto atribuição legal, não pode ser declinada a outro ente. Segundo Lopes Jr. (2014), esse princípio também pode ser denominado de Inderrogabilidade ou Infungibilidade do Juízo. Para o autor, a “inderrogabilidade é a garantia que decorre e assegura a eficácia da garantia CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 da jurisdição, no sentido de infungibilidade e indeclinabilidade do juízo, assegurando a todos o livre acesso ao processo e ao poder jurisdicional” (LOPES JR., 2014). Desta maneira, entende-se que, em razão do Princípio da Indeclinabilidade, o Estado — através do competente órgão jurisdicional (Poder Judiciário) — tem por atribuição legal (função) o dever de se organizar estrutural e funcionalmente para oferecer prestação jurisdicional que se destine à resolução adequada de casos concretos (legais), aqui relativos à responsabilização penal. O agente a quem se atribuiu a prática de uma conduta delituosa (crime), portanto, tem a garantia fundamental à jurisdição, a qual deve ser exclusivamente desenvolvida através de atividade estatal (atos, processos e procedimentos) que se destine à prestação de tutela jurisdicional resolutiva pertinente a sua absolvição ou a sua responsabilização criminal. É importante observar, que, apesar do Código de Processo Penal brasileiro admitir a persecução penal mediante a propositura de ação penal de iniciativa privada (queixa-crime), permanece o exercício da jurisdição como monopólio do Estado, através das atribuições legalmente reconhecidas ao Poder Judiciário. Neste sentido, segundo Coutinho (2000, p. 3): por sua face operacionalizada (competência), tem-se a jurisdição como exclusiva de quem a detém e excludente dos demais; daí por que não se admite, ademais, a prorrogação e a delegação da competência (outros dois princípios decorrentes da indeclinabilidade), sob pena de usurpação de função pública. O Princípio da Indeclinabilidade da jurisdição também é pertinente à execução penal, uma vez que orienta o acompanhamento jurisdicional do cumprimento da pena (sanção penal), então, judicialmente, determinada ao agente que cometeu um crime.Assim, por exemplo, apesar de o agente poder cumprir a sanção penal que lhe foi judicialmente imposta em prisão domiciliar, observa-se que o CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 controle da execução da pena é uma atribuição legalmente reconhecida ao Estado, em razão da indeclinabilidade da jurisdição (STJ, 2015). Para mais informações sobre o Princípio da Indeclinabilidade, acesse o material on-line e confira a videoaula do professor Márcio. Tema 4 – Princípio do Devido Processo Legal (Penal) No devido processo legal, “penal” se refere a um vetor orientativo considerado como um princípio supremo. O Princípio do Devido Processo Legal está expressamente disposto o inciso LIV do artigo 5º da Constituição da República de 1988, no qual está previsto que sem o regular e válido desenvolvimento da relação jurídica processual penal (devido processo), ninguém poderá ser privado de sua liberdade ou de seus bens a título de responsabilização criminal. Este princípio se constitui, assim, em um critério objetivo para a verificação jurídico-legal do desenvolvimento de um processo (penal) justo. Ele possui duas formas de entendimento: A primeira é no sentido material (substantivo), a qual se refere ao próprio processo legal, assegurando a razoabilidade das leis; A segunda é no sentido formal (ou processual), que trata do desenvolvimento do processo para que permaneça de forma regular. Entre as garantias desse princípio estão o acesso à justiça; a ampla defesa; o contraditório; a prova lícita; o duplo grau de jurisdição; a recursividade; a imparcialidade do juiz e o juiz natural. O procedimento administrativo (inquérito policial) e o procedimento judicial estão submetidos ao princípio do devido processo legal, uma vez que é imperiosa a observância das regras processuais e procedimentais legalmente estabelecidas para a regularidade e a validade de atos, do conjunto de atos e de operações que se destinem à persecução penal. O procedimento e o processo judicial devem ser adequados à pretensão CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 deduzida perante o Juízo de Direito competente, isto é, exige-se que o procedimento seja não só adequado ao pedido, mas também previsto em lei. Isso porque se trata de uma imposição limitativa pertinente à concepção jurídica e política de Estado Democrático de Direito, no qual os Poderes Públicos devem desenvolver as suas atribuições de acordo com a lei e se submetendo a ela. Conforme Machado (2009, p. 159) “os princípios que integram o devido processo legal, com caráter fundante, e cuja observância é condição sine qua non para a instauração e desenvolvimento do processo válido”. Em caso de violação do devido processo legal, é legitimamente possível a alegação de nulidade processual, bem como procedimental, as quais, inclusive, poderão ensejar até mesmo a declaração de inexistência de ato, conjunto de atos e/ou de operações destinadas à persecução penal. Para mais informações sobre o Princípio do Devido Processo Legal (Penal), acesse o material on-line e confira a videoaula do professor Márcio. Tema 5 – Princípio do Contraditório O contraditório — assim como a ampla defesa — pode ser considerado como consectário constitucional decorrente do Princípio do Devido Processo Legal, uma vez que integra a concepção democrática que impõe não só a observância da lei, mas também que o Estado (Poder Público) deva se submeter à lei, principalmente quando se propor a responsabilizar criminalmente uma pessoa. Esse princípio se encontra expressamente previsto no inciso LV do artigo 5º da Constituição da República de 1988, para determinar que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (BRASIL, 1988). Através desta orientação principiológica, o agente que for investigado ou acusado tem o direito de conhecer os fatos que lhe são imputados, para, então, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 somente a partir deste momento poder, em sua plenitude, exercer o seu direito de defesa mediante a utilização dos meios de prova, em Direito, admitidos. Segundo Lopes Jr. (2014): é o conhecimento completo da acusação, o direito de saber o que está ocorrendo no processo, de ser comunicado de todos os atos processuais. Como regra, não pode haver segredo (antítese) para a defesa, sob pena de violação ao contraditório. Ou seja, o não conhecimento, por parte do acusado, de todas as circunstâncias da imputação penal (acusação) que lhe for atribuída, certamente determinará o reconhecimento de vício insuperável que necessariamente resultará em nulidade processual e/ou procedimental. De acordo com Machado (2009, p. 160), o contraditório é “a ciência bilateral dos autos e termos processuais e a possibilidade de contrariá-los”. Trata-se, portanto, do conhecimento prévio das acusações e também das provas incriminatórias que venham a ser produzidas, oportunizando ao acusado a possibilidade legal de contestar e de utilizar os meios de prova, em Direito, admitidos em sua defesa. Já em relação ao exercício do contraditório no interrogatório do acusado há controvérsia, sob o fundamento de que o interrogatório seria não só um meio de prova — e, portanto, não comportaria o contraditório, haja vista o risco de transformar o acusado em um objeto da prova contra si mesmo (nemo tenetur se detegere) —, mas também um meio de defesa. Segundo Badaró (2015, p. 51) “o contraditório deixa de ser mera possibilidade para transformar em uma realidade”, tornando igual a participação das partes no processo, proporcionando de forma efetiva e plena o contraditório. Portanto, a garantia fundamental ao contraditório pode ser entendida como sendo um primado constitucional que assegura ao agente a possibilidade de se contrapor ao que lhe for imputado, utilizando-se, para tanto, de todos os meios de defesa; senão, que, de igual maneira, constitui-se em um dever legal do órgão julgador. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Para mais informações sobre o Princípio do Contraditório, acesse o material on-line e confira a videoaula do professor Márcio. Trocando Ideias Qual princípio mais chamou sua atenção, pela sua força e pelo que estabelece? Como podemos garantir que ele será respeitado sempre por todos os envolvidos no processo penal? Entre no fórum e dê sua opinião! Veja também o que seus colegas têm a dizer. Esse é o momento de trocar informações, não deixe de participar! Na Prática Um exemplo literário de grande prestígio em relação ao processo penal se encontra no livro “O Processo”, do tcheco Franz Kafka (1883–1924). No link a seguir você o encontra o texto na íntegra. Caso não consiga ler inteiro, busque ao menos um resumo para entender as angústias de um processo penal que não segue princípios. http://www.nesua.uac.pt/uploads/uac_documento_plugin/ficheiro/27ca9b82a16 4bc2cd68f5a71be15f96fbad08e90.pdf Síntese Com base nessa aula, você deve ter sido capaz de compreender não só os princípios de processo penal aqui estudados, mas também sua importância e sua aplicabilidade. Não finalize seus estudos sem antes acessar no material on-line o vídeo do professor Márcio. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Referências BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2015. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 21 jun. 2016. COUTINHO, Jacinto N. M. Introdução aos Princípios Gerais do Direito Processual Penal Brasileiro. Separata ITEC, ano 1, n. 4, jan/fev/mar 2000. LOPES Jr., Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva. 2014. MACHADO, Antônio Alberto. Teoria Geral do Processo Penal. São Paulo: Atlas. 2009. RHC n. 126.885 – Rel.: Min. Cármen Lúcia – 2ª Turma – j. em 15/12/2015 – Processo Eletrônico – DJe. n. 18 – pub. em 01/02/2016. STJ - Resp. n. 1.549.173 – RS (2015/0200366-5) – Rel. Min. Néfi Cordeiro – pub. em 26/02/2016. STF - Ag. Inst. n. 749.115 RS – Rel.: Min. Gilmar Mendes – j. em 21/10/2010 – DJe. n. 235 – pub. em 06/12/2010 – Ement. Vol. 2445-01, p. 275.
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