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Crimes Contra a Fé Pública

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Crimes Contra a Fé Pública:Falsificação de documento público, Falsificação de documento particular, Falsidade Ideológica e Falsidade de atestado médico.
Falsificação de documento público, Falsificação de documento particular, Falsidade Ideológica e Falsidade de atestado médico
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Publicado por Carmem Ramos
ano passado
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ANÁLISE DE CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
Falsificação de documento público, Falsificação de documento particular, Falsidade Ideológica e Falsidade de atestado médico. 
ARTIGOS 297, 298, 299 E 302, CP.
1. Introdução
Os crimes de falsificação de documento público, documento particular, cartão; falsidade ideológica e de uso de documento falso estão presentes no título X, da parte especial do Código Penal que, por sua vez, referem - se aos crimes contra a fé pública. Estes crimes mencionados encontram-se respectivamente nos artigos 297; 298; 299 e 302; capítulo III do Código Penal. 
Crimes Contra a Fé Pública são aqueles que possuem como sujeito passivo (ou vítima), o coletivo, pois não há necessariamente uma vítima em específico, pode - se dizer, então, que estes crimes atuam diretamente contra o Estado. Para a configuração deste crime deve haver a existência do dolo e a alteração ou imitação da verdade. 
A expressão “Fé Pública” significa confiança na legitimidade de alguma coisa, sendo necessária à vida social. É o alicerce do mecanismo de autenticação e legitimação de atos, negócios ou fatos jurídicos humanos, ou de certificação sobre acontecimentos naturais. Proveniente do tabelião e do registrador, delegados da lei, qualifica os atos jurídicos a eles submetidos com a presunção legal de veracidade.
Para os crimes de falsificação, Sylvio do Amaral, no livro “Falsidade Documental” aponta os fatores universalmente reconhecidos pela doutrina, essenciais à caracterização do crimen de falsi, que assim se definem: a) alteração da verdade sobre o fato juridicamente relevante; b) imitação da verdade; c) potencialidade de dano; d) dolo. 
2. Falsificação de documento público:
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
A função do documento é: de perpetuidade, de garantia e probatória. Pois deixa gravado de forma escrita, garantindo a vontade ou pensamento de alguém ou coisa, provando a existência de fato juridicamente relevante. Como disposto no artigo 232, do CPC: 
Art. 232, CPP - Consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares.
Parágrafo único. À fotografia do documento, devidamente autenticada, se dará o mesmo valor do original.
Documento público é um escrito efetuado por uma autoridade ou um funcionário público no exercício de suas funções públicas, escrito, assinado e com conteúdo jurídico, ou seja, conter as formalidades legais necessárias. Como exemplo, podem ser citados: carteira nacional de habilitação (CNH), registro geral (RG), certificado de pessoa física (CPF), etc. 
Vale lembrar, também, a existência dos documentos emitidos por particulares que são equiparados a documentos públicos, como: testamento particular, ações de sociedades comerciais, documentos emanados por entidades paraestatais, livros mercantis e título de crédito ao portador ou transmitido por endosso, previstos no § 2º. 
O artigo ainda menciona sobre a causa de aumento de pena. Ocorrendo quando há a falsificação cometida por funcionário público, prevalecendo – se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte (§ 1º). Porém, vale ressaltar que se este não falsificar o documento, ou seja, atender aos requisitos, mas falsificar o conteúdo, responderá por falsidade ideológica, não se tratando da falsificação material, a qual seria falsificar o instrumento em si, criar ou alterar fisicamente o documento. 
O § 3º se refere à falsificação de documento público previdenciário:
§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: 
I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;
III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado.
A conduta citada como “inserir” ocorre quando própria pessoa inclui dados, enquanto a conduta “fazer inserir” ocorre quando uma pessoa age para que outra inclua dados. O § 4º trata da omissão do nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços dos documentos dispostos no § 3º. 
No que tange à classificação doutrinária do crime de falsificação de documento público, considera-se: crime comum (não exige qualidade especial do sujeito ativo e nem do passivo); formal (não exige produção de resultado); apresenta conduta dolosa – elemento subjetivo (há vontade) – não se admite culpa; forma livre e forma vinculada presente nos §s 3º e 4º. Sobre o que diz respeito aos sujeitos do crime, tem-se: o ativo, qualquer pessoa ou funcionário público (pena aumentada) e o passivo, o Estado e a pessoa prejudicada pelo delito. 
Referente ao bem juridicamente tutelado corresponde a fé pública, sendo o objeto material o documento público falsificado. E a consumação do crime dar – se – á com a falsificação do documento público, mas por ser um crime plurissubsistente, admite – se tentativa. Pressupõe um comportamento comissivo do agente, mas omissivo próprio no § 4º. No quesito de ação penal, a prevista nesse caso é ação pública incondicionada. 
3. Falsificação de documentos particulares
Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
O documento particular é considerado todo aquele que não reúne as condições de documento público ou equiparado a ele, além de serem firmados por particulares, sem a intervenção de um oficial público. O crime de falsificação de documento particular e o crime de falsificação de documento público possuem a mesma estrutura jurídica, como exposto por Fragoso, em sua obra “Lições do Direito Penal”. 
Inclusive vale ressaltar que documento público nulo, por falta de formalidade legal, pode ser considerado documento particular. E, além disso, celebrado um contrato de compra e venda entre particulares, a priori, trata-se de documento particular, porém, a partir do momento que esse documento é levado em cartório para se reconhecer a firma, ele se torna documento público, pois nele haverá a chancela do cartorário dando fé às assinaturas das partes.
Há distinção entre a falsificação material e a ideológica, enquanto a primeira está prevista no artigo 298 do CP, a ideológica é regida pelo artigo 299, CP. Assim abordado por Sylvio do Amaral, no livro “Falsidade documental”, a falsificação material é a alteração de documento verdadeiro, a qual incide sobre a “integridade física do papel escrito, procurando deturpar suas características originais através de emendas ou rasuras, que substituem ou acrescem no texto letras ou algarismos”; ou falsificação em sentido puro, na qual consiste “na criação, pelo agente, do documento falso quer pela imitação de um original legítimo, quer pelo livre exercício da imaginação do falsário”.
Com relação à classificação doutrinária do crime de falsificação de documento particular, prevê que é: crime comum, pois não exige qualidade especial do sujeito ativo e nem do passivo; formal por não exigir produção de resultado; apresenta conduta dolosa – elemento subjetivo (há vontade) – não se admite culpa; forma livre. É cabível a colocação de D’Ávila quando se trata sobre a probabilidade de dano ao bem jurídicoencontrando como critério extremo a “possibilidade”, sendo “o limite objetivo da noção de perigo não poder ser outro, senão a possibilidade de dano ao bem jurídico”.
Quanto ao objeto juridicamente tutelado busca – se proteger com a tipificação deste delito de falsificação de documento particular, a fé pública. Sendo o objeto material é o documento particular falsificado, no todo ou em parte, ou o documento particular verdadeiro que foi alterado pelo agente.
Por ser o objeto do crime é essencial que haja relevância jurídica em seu conteúdo, deve ser escrito e legível e não ser anônimo e segundo Celso Delmanto, seu conteúdo deve expressar manifestação de vontade ou exposição dos fatos. 
A respeito dos sujeitos do crime, tem-se: o ativo, qualquer pessoa (o artigo não exige nenhuma qualidade ou condição especial do agente) e o passivo, o Estado e a pessoa prejudicada pelo delito. 
Sobre a consumação do crime, dar – se – á quando nele se reunirem todos os elementos previstos na sua definição legal. De acordo com o caput do artigo, a consumação se dá na falsificação (fabricação ou alteração), no todo ou em parte, de do documento particular. Por se tratar de um crime em regra plurissubsistente, admite-se a forma tentada. E pressupõe um comportamento comissivo por parte do agente.
Nesse crime não há aumento de pena previsto, o que se diferencia do crime de falsificação de documento público, no qual ocorre aumento de pena caso seja praticado por funcionário público. Mas apresenta semelhança para com este último no quesito da ação penal prevista ser a pública incondicionada. 
4. Falsidade ideológica 
Art. 299, CP - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.
Por muitas razões, é importante observar a distinção que existe entre o falso material e o falso ideológico. Na falsidade material, o que se frauda é a própria forma do documento, que é alterada, no todo ou em parte, ou é forjada pelo agente, que cria um documento novo. Na falsidade ideológica, ao contrário, a forma do documento é verdadeira, mas seu conteúdo é falso, isto é, a idéia ou a declaração que o documento contém não corresponde à verdade. (DELMANTO; 1991, p. 298). 
A falsidade ideológica acontece toda vez em que for inserido um dado falso em documento verdadeiro, ou seja, o crime se consuma quando o agente alegar fato diverso da realidade ou omiti-lo (comissivo ou omissivo). É preciso que ocorra em um documento, podendo ser público ou particular.
Além disso, é necessário que possua o elemento subjetivo especial: prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Na ausência de qualquer destes requisitos, o agente não responderá pelo art. 299.
Podem-se classificar as falsificações em: falsidade imediata que ocorre quando o próprio agente omite declaração que deveria ser apresentada ou profere declaração falsa ou diversa e a falsidade mediata que ocorre quando o agente faz inserir declaração falsa ou diversa por meio de um terceiro.
Esse crime segundo a classificação doutrinária, diz-se: crime comum; formal; doloso; de forma livre; comissivo e omissivo próprio; plurissubsistente. Sendo o seu sujeito ativo: qualquer pessoa, o art. 299 do Código Penal não exige nenhuma qualidade ou condição especial do agente e seu sujeito passivo: o Estado, bem como a pessoa prejudicada pelo ilícito penal.
Busca-se proteger com a tipificação deste delito de falsificação de selo ou sinal público, a fé pública. Tendo como objeto material o documento particular falsificado, no todo ou em parte, ou o documento particular verdadeiro que foi alterado pelo agente. 
Consuma-se o crime quando nele se reúnem todos os elementos previstos na sua definição legal. Ou seja, a consumação se dá na omissão de declaração em documento público ou particular, que devia constar (é crime omissivo próprio e não admite tentativa), ou nele inserir ou fazer inserir (é crime comissivo e admite tentativa), com o intuito de prejudicar direito, bem como criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.
Admite-se tentativa, por se tratar de um crime em regra plurissubsistente. O elemento subjetivo do crime é o dolo, não há previsão para a modalidade culposa. A ação penal nesse caso é a pública incondicionada. 
Em se tratando de causa de aumento de pena vem descrito no §único, ocorrendo quando o agente é funcionário público, prevalecendo-se do cargo: 
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.
Atentar – se para o crime de falso atestado de trabalho para fim de remissão, neste caso configura o art. 299, CP e não o art. 301 (crime de falso atestado), por conta do art. 130, LEP: 
Art. 130, LEP - Constitui o crime do artigo 299 do Código Penal declarar ou atestar falsamente prestação de serviço para fim de instruir pedido de remição.
5. Falsidade de atestado médico
Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso:
Pena - detenção, de um mês a um ano.
Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.
O crime de falsidade de atestado médico consiste no médico dar uma declaração de conteúdo falso, algo diverso daquilo que foi observado por ele no exercício de sua profissão e que tenha relevância jurídica. Por se tratar de falsidade no conteúdo do documento, notando que este atende todos os requisitos, é considerado falsidade ideológica. Quando se diz médico, refere - se a todos aqueles formados em medicina e com registro no conselho regional correspondente. 
Além disso, sendo sua consumação, ou seja, o fornecimento do atestado, possível somente pelo médico, trata – se de crime próprio (sujeito ativo exige qualidade específica). Mas vale lembrar que a participação de outras pessoas pode acontecer na forma de induzimento, instigação ou auxílio da falsificação. O sujeito passivo é novamente o Estado e o eventual prejudicado (se for o caso), como nos crimes citados acima. A tentativa é admitida. 
O elemento subjetivo é o dolo direto ou eventual. Não há previsão para a modalidade culposa. O bem juridicamente tutelado ainda é a fé pública e o objeto material é o atestado falso. 
A ação penal que deve ser efetuada é a pública incondicionada. A competência para processar e julgar a ação é do juizado especial criminal, pelo fato da pena não ultrapassar um ano.
É importante ressaltar que se o médico for funcionário público, as penas que serão aplicadas serão as do artigo 301, § 1º do Código Penal. Este artigo aborda sobre o tema de falsidade material de atestado ou certidão: 
Art. 301, § 1º - Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certidão, ou alterar o teor de certidão ou de atestado verdadeiro, para prova de fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem.
Como mencionado no parágrafo único, envolvendo fim lucrativo implica pena cumulativa de multa, apresentando dolo específico. Caso não haja esse fim, o dolo é genérico.
6. Jurisprudências – Ementas 
6.1 Falsidade de atestado médico
0002242-63.2012.8.26.0663 Apelação / Uso de documento falso
Relator (a): J. Martins
Comarca: Votorantim
Órgão julgador: 7ª Câmara de Direito Criminal
Data do julgamento: 16/10/2014
Data de registro: 04/11/2014
Ementa: FALSIFICAÇÃO E USO DE DOCUMENTO PARTICULAR ATESTADO MÉDICO FALSO PARA JUSTIFICAR AUSÊNCIA NO TRABALHO MATERIALIDADE COMPROVADA PELOS ATESTADOS MÉDICOS APRESENTADOS E INFORMAÇÃO DA SECRETARIA DA SAÚDE ATESTANDO A FALSIDADE SUFICIENCIA NÃO REALIZAÇÃO DE EXAME PERICIAL IRRELEVÂNCIAHIPÓTESE: Comprovada a materialidade do delito de falsificação e uso de documento falso quando presente nos autos os documentos falsificados e ofício da instituição informando a falsidade dos documentos, corroborados pela prova oral, é irrelevante a não realização de exame pericial, suprido pelas demais provas produzidas. AUTORIA E MATERIALIDADE DEMONSTRADAS ABSOLVIÇÃO - IMPOSSIBILIDADE: Comprovada a materialidade e a autoria, pela uníssona versão acusatória, que não foi rechaçada pela defesa, impossível se torna a pretendida absolvição.
6.2 Falsificação de documento público
0021287-54.2009.8.26.0050 Apelação / Falsificação de documento público
Relator (a): Nelson Fonseca Junior
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 1ª Câmara Criminal Extraordinária
Data do julgamento: 20/08/2015
Data de registro: 26/08/2015
Ementa: FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO - Pretensão de absolvição por insuficiência de provas - Impossibilidade - Confissão judicial corroborada pelas demais provas dos autos - Condenação mantida - Recurso parcialmente provido a fim de substituir a sanção corporal por penas alternativas, com correção, de ofício, do cálculo da pena, por evidente erro material.
6.3 Falsificação de documento particular
0014239-06.2010.8.26.0019 Apelação / Falsificação de documento particular
Relator (a): Zorzi Rocha
Comarca: Americana
Órgão julgador: 3ª Câmara Criminal Extraordinária
Data do julgamento: 11/09/2015
Data de registro: 15/09/2015
Ementa: Apelação. Crimes de falsificação de documento particular e de corrupção ativa. Absolvições. Impossibilidade. Prova suficiente. Sanções penais sem alterações. Não provimento aos recursos.
6.4 Falsidade ideológica 
0104652-35.2011.8.26.0050 Apelação / Falsidade ideológica
Relator (a): Grassi Neto
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 8ª Câmara de Direito Criminal
Data do julgamento: 20/08/2015
Data de registro: 25/08/2015
Ementa: Falsidade ideológica – Agente que é pessoalmente identificado e autuado por infração de trânsito em razão de estar conduzindo veículo automotor em estado de embriaguez – Posterior entrega de formulário previamente assinado a terceiro no qual foram em seguida inseridos os dados de outro condutor – Remessa do documento público ao Detran visando à transferência dos pontos –

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